Cidade do Rio tem índice de mortes por 100 mil habitantes maior que o de alguns países vizinhos
A América Latina finaliza a semana com mais de oito milhões de casos confirmados. Até quarta-feira, a média diária de casos da região estava em 67.173, de acordo com contagem realizada pela Reuters. Dentre os casos da América Latina, mais de 4,2 milhões são brasileiros que foram infectados pelo novo coronavírus, mais de 43,7 mil nas últimas 24h. O país é o terceiro no mundo em números de casos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e Índia.
Nesta sexta-feira (11), o Brasil registrou 874 novas mortes nas últimas 24h, ultrapassando 130 mil mortes, de acordo com o Ministério da Saúde. A taxa de contágio do novo coronavírus nesta semana é de 1 para 1, significando que cada pessoa infectada pode transmitir o vírus para uma pessoa.
Covid-19 no Rio
A cidade do Rio ultrapassou a marca e 10 mil óbitos pelo novo coronavírus nesta quinta-feira (10), de acordo com painel da prefeitura. Proporcionalmente, a capital tem 48,5 mortes a cada 100 mil pessoas, segundo levantamento feito pela Universidade John Hopkings. Se fosse um país, o Rio teria o pior índice do mundo, tendo mais mortes por 100 mil habitantes que os vizinhos Peru (93,71 mortes), Bolívia (62,51 mortes), Chile (62,37) e Equador (62,20). O estado registrou nesta sexta-feira, dia 11 de setembro,
Na Maré são 587 casos confirmados e 91 mortes por covid-19, de acordo com o painel Rio Covid-19. Na última semana foram 20 novos casos confirmados nos últimos sete dias, de acordo com a 19ª edição do boletim De Olho no Corona!, já disponível para leitura no site da Redes da Maré.
Volta às aulas
Em decreto de 19 de agosto, o governo do estado orientava o retorno das aulas, mas ficaria à critério dos municípios a definição da data. Com a aproximação do dia 14, o governo do estado lançou uma cartilha de recomendações e cuidados, entre elas:
Uso de máscaras;
Manter o distanciamento de 1m a 1,5m entre carteiras;
Manutenção dos aparelhos de ar condicionado;
Janelas das salas sempre abertas.
Especialistas da UFRJ desaconselham retorno de aulas, que estava prevista para o dia 14 de setembro na rede privada de ensino e no dia 05 de outubro na rede pública para alunos sem acesso à internet em casa. Em nota pública, o Grupo Técnico Multidisciplinar para o Enfrentamento da Covid-19 avaliou que “ o retorno presencial das atividades escolares ainda representa grande risco à saúde pública devido ao aumento da vulnerabilidade de grande número de indivíduos da população associada às dificuldades de preparação e resposta a esta situação emergencial”. A nota está disponível para leitura aqui.
A Justiça do trabalho, entretanto, concedeu liminar na quinta-feira (10) que suspende o retorno às salas de aula de escolas e universidades particulares até que haja vacinação ou que seja feito algum estudo que o retorno é seguro para alunos, professores e funcionários.
Distribuição Maré de Notícias
Ao longo desta semana, a 116ª edição do jornal Maré de Notícias foi distribuída pela Maré, após cinco meses de produção apenas virtual. Na edição deste mês, o jornal trouxe questões importantes sobre o impacto da pandemia no território: precariedade do saneamento básico e abastecimento de água; atuação dos produtores culturais; proibição das operações policiais nas favelas e muito mais. Conheça mais sobre o jornal no texto de Thaís Cavalcante lendo aqui.
Dicas culturais
O Festival Coala vai fazer uma versão virtual com apresentações de Gilberto Gil, Gilsons, Mariana Aydar, Mestrinho e Novos Baianos no canal do Youtube do festival. As apresentações começam a partir das 14h do sábado.No próximo dia 12 de setembro, às 20h, vai acontecer a apresentação Numa terra estranha – 12 respirações, montagem de Sidney Santiago Kuanza. Para assistir, basta se inscrever no site do Teatro Vivo para garantir o ingresso gratuito.
Pausa no impresso durou cinco meses e jornal digital foi alternativa nesse período
Thaís Cavalcante
A rotina de passar um café quentinho de manhã, abrir o portão e receber na Caixa de Correio o jornal Maré de Notícias está de volta. Desde o dia 08 de setembro que o Maré de Notícias retomou sua circulação para as mais de 47 mil casas das 16 Favelas da Maré depois de cinco meses apenas on-line, em decorrência da pandemia. As notícias da edição 116 levantam questões fundamentais sobre o impacto do novo coronavírus no território: precariedade do saneamento básico e abastecimento de água; atuação dos produtores culturais; proibição das operações policiais nas favelas e muito mais.
Devido aos cuidados com a higienização e a necessidade do distanciamento social motivados pela pandemia, a decisão de pausar temporariamente a entrega dos exemplares foi necessária para proteger os distribuidores, a equipe do jornal e os moradores da Maré. A volta é igualmente importante para ampliar o acesso à informação e foi feita com segurança e os protocolos necessários. Para garantir a saúde de todos, além do uniforme e de máscaras de proteção, os distribuidores realizaram o teste de covid-19 antes de iniciar as entregas.
Jonathan da Cruz, distribuidor do jornal, gosta da proximidade que é levar as notícias de porta em porta. Depois desse período de pausa, está empolgado com o retorno. “Está sendo muito bom estar de volta à distribuição do jornal, para que nós, distribuidores, andemos juntos com os moradores em prol da comunidade”, declara.
Distribuidores do Jornal Maré de Notícias durante entrega da edição 116 – Foto: Dani Moura
Comunicação local como disputa de narrativa
O impresso é o único que circula gratuitamente pelas ruas, becos e vielas da Maré, valorizando a história de cada mareense, a memória do território e informando o que acontece de mais importante, mês a mês. É o jornalismo comunitário crítico e cidadão que potencializa a luta da favela desde a primeira edição, em dezembro de 2009.
Auricer da Silva Guimarães, morador da Nova Holanda, já recebeu o seu exemplar. “Eu acho muito importante o jornal porque muita gente não sabe o que tem na comunidade. Como sou criado aqui há 46 anos, desde que começou a entregar eu sempre pego. Quando termino de ler, passo para os vizinhos”, conta.
Quem também faz parte da história do impresso é o jornalista Hélio Euclides. “A vida de luta e união do José e da Maria, por exemplo, é destaque para nós. Acho que o jornal comunitário tem esse papel de lembrar quem são as pessoas que lutaram lá atrás, para que a juventude tenha a mesma garra e continue lutando. A palavra é mobilização. Mobilizar os moradores hoje para conquistar as políticas públicas que a Maré tanto almeja”, observa.
Sobre a volta do impresso, Euclides completa: “É importante o jornal voltar a circular porque a internet na favela é muito ruim. Com a circulação, a gente tem a certeza de que o morador vai ler. Já pela internet, toda a cidade pode ler, o Brasil e o mundo, mas às vezes, a própria Maré não tem esse acesso”.
A circulação dos 50 mil exemplares do Maré de Notícias é maior que a tiragem de cinco grandes jornais comerciais do país: Valor Econômico (SP), Correio Braziliense (DF), Estado de Minas (MG), A Tarde (BA) e O Povo (CE). Eles vendem, em média, de 10 mil a 26 mil exemplares. O levantamento feito pelo veículo Poder 360/Drive justifica a queda dos impressos no país em 2019 devido ao aumento de assinantes em suas versões digitais.
Já no jornalismo local carioca, a tendência em garantir a sustentabilidade de veículos com assinaturas individuais caminha lentamente, mas isso não impede que o jornalismo digital aconteça. Diariamente é possível consumir conteúdos e notícias sobre as favelas e periferias em diferentes portais de notícias, podcasts, plataformas de vídeo e, claro, em páginas e perfis nas redes sociais.
Um deles é o Maré de Notícias Online, um dos canais de comunicação que complementa o impresso de mesmo nome. Aqui é possível acessar os textos do jornal e outros conteúdos que são publicados apenas no portal, como a Ronda Coronavírus, que surgiu em meio à pandemia para dar notícias mais específicas sobre o impacto da covid-19 no Rio de Janeiro e na Maré. Em média, são mais de 4 mil visitas no site todo mês. Diante desse cenário, o Maré de Notícias segue como um dos maiores jornais comunitários do Brasil e uma importante ferramenta local de disputa de narrativa sobre a favela, que impacta e transforma dentro e fora da Maré.
Fique por dentro
As edições de 111, 112, 113, 114 e 115 – produzidas apenas em versão on-line – estão disponíveis no site para leitura.
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Projetos e produtores culturais redirecionaram suas forças para criar conteúdos on-line e ajudar a diminuir os impactos da pandemia, mesmo sem o apoio do Estado
Maré de Notícias #116 – setembro de 2020
Flávia Veloso
O ano de 2020 tem sido um pesadelo vivo para todo o Mundo.
No Brasil, a taxa de desemprego atingiu 13,3% da população, no segundo
trimestre de 2020 – o terceiro pior número já registrado no histórico de
pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fora dos
números oficiais ainda estão aqueles que trabalham informalmente, sem carteira
assinada, como diaristas, pedreiros, comerciantes e muitas outras categorias,
inclusive a dos trabalhadores da Cultura.
Dito como um dos primeiros setores a parar e um dos
últimos a ser retomado, a realidade dos produtores culturais não tem sido de
paralisação. Com as atividades presenciais suspensas, a forma de se consumir
Cultura migrou para os meios virtuais. Segundo dados do YouTube informados à
Revista Exame, a procura por conteúdos ao vivo cresceu 4.900%, durante o
período de isolamento social.
Artistas locais e independentes encontraram nas lives e em plataformas, como Instagram,
Facebook e YouTube, uma maneira de continuar produzindo e, principalmente,
manter contato com o público. É o caso do ator, palhaço, músico, escritor e
poeta Jujuba Cantador. Com todas as
suas atividades presenciais paralisadas desde o início da pandemia, Jujuba tem
feitos lives, semanalmente, em suas
redes sociais. Mas ter visualizações não é sinônimo de ganhar dinheiro.
“Quem faz Cultura não é quem está na grande mídia, mas o cara que está na esquina, na favela, no interior, batucando pandeiro, tocando cavaquinho, dançando no baile (…). Estes são os verdadeiros fazedores de Cultura.” Jujuba Cantador, artista.
Fazer Cultura dá trabalho – e
trabalho tem de ser pago
A renda de 88,6% dos trabalhadores diminuiu durante a
pandemia, devido à suspensão e cancelamento de contratos, diminuição de
jornadas de trabalho e demissões, como informa pesquisa realizada pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV), que analisou efeitos da crise causada pela COVID-19.
Nem quem tinha dinheiro certo para receber do Estado,
recebeu. A Lei Municipal de Incentivo à Cultura Carioca, conhecida também como
Lei do ISS, seleciona – anualmente – centenas de produtores e projetos
culturais para serem financiados, mas muitos pagamentos estão atrasados, em
2020.
De acordo com Jujuba Cantador, que faz parte da
mobilização SOS Cultura Carioca e ainda não recebeu a verba para seu projeto
inscrito, 40% dos aprovados não receberam um centavo sequer da quantia até o
fechamento dessa matéria, enquanto outros ainda não receberam integralmente o
valor prometido.
O SOS Cultura Carioca é um movimento que nasceu a partir das demandas dos espaços de Cultura e artistas em relação à pandemia. Ele tem como objetivo garantir o pagamento de editais já aprovados pela Prefeitura, manutenção de contratos em vigor entre organizações da sociedade civil e a Prefeitura, e medidas que auxiliem na renda dos trabalhadores do setor.
Como é feito o
repasse do ISS?
Empresas que pagam Imposto Sobre Serviço de
Qualquer Natureza (ISSQN) podem se cadastrar a cada ano, como contribuinte da
Lei de Incentivo, e escolher um projeto cultural para apoiar. Ao recolher os
impostos das empresas cadastradas, a Prefeitura do Rio de Janeiro repassa 1%
(que já foi 0,35%) aos projetos aprovados para que recebam a verba. É a maior
Lei de Incentivo à Cultura em âmbito municipal, do País.
Uma Lei para todos, mas que pode
não chegar a todos
Outra medida tomada, desta vez para todo o País, é a Lei
de Emergência Cultural Aldir Blanc – em homenagem ao escritor e compositor
Aldir Blanc, autor da canção “O bêbado e a equilibrista”, que morreu de
COVID-19, em maio, aos 73 anos de idade. A Lei pretende repassar R$3 bilhões de
reais a estados e municípios, distribuídos em renda mensal de R$600 reais por,
pelo menos, três meses, a trabalhadores da economia criativa, subsídio mensal
para espaços culturais, ao menos 20% do total para ações de incentivo (como
editais, chamadas públicas, prêmios e outros) e linhas de crédito com condições
especiais para pagamento.
Na cidade do Rio, o cadastro para pessoa física e espaços
ficou disponível entre 29 de junho e 31 de agosto. Durante o mês de agosto, a
Prefeitura realizou fóruns com profissionais e moradores da Zona Oeste, Zona
Norte, Zona Sul e Centro, para dialogar sobre a aplicação da Lei no município.
Ainda não há informações sobre como e a partir de quando os recursos serão
liberados.
Outros pontos da Lei Aldir Blanc que estão gerando reclamações são a obrigatoriedade de os equipamentos culturais prestarem contas, mensalmente, de como o dinheiro foi gasto em prol da produção artística e a preocupação se o subsídio chegará a quem mais precisa (artistas e técnicos periféricos e de regiões do interior).
A Lona da Maré foi um dos espaços que migrou as atividades para o on-line – Foto: Douglas Lopes
Equipamentos de Cultura e pandemia
Durante a pandemia, muitos espaços estão sendo usados para
ações de combate ao novo coronavírus, o que dificulta a produção de conteúdo
artístico. É o caso do Centro de Artes da Maré (CAM), equipamento de Cultura
que funciona na Nova Holanda. O CAM, que até poucos meses atrás, era palco de
projetos artísticos, passou a abrigar cestas básicas e virou uma das
referências de enfrentamento à pandemia na Maré.
Para Junior Perim,
fundador do Circo Crescer e Viver – que tem direcionado suas forças para o
combate à COVID-19, assim como o Centro de Artes da Maré – e ex-secretário de
Cultura do município do Rio, todo o setor cultural, periférico ou não, deveria
ter sido direcionado para mitigar os impactos da pandemia. “Como cidadão, eu
esperava mais de instituições culturais, mais do que reclamar a proteção da sua
existência. O que precisa ser protegido num momento como este é aquilo que tem
vitalidade, gera emprego e coloca sua infraestrutura à disposição de mitigar os
impactos da pandemia”, observa.
O ex-secretário ainda cita como exemplo a experiência da
favela da Maré. “[Os produtores e espaços de Cultura da Maré], por exemplo,
pegaram seu capital social, capital simbólico, e se lançaram à tarefa de
diminuir os impactos da pandemia sobre a população que vive no território onde
atuam. O centro do Rio está tomado por populações de rua, pessoas em
vulnerabilidade social, e é o lugar onde há mais equipamentos de Cultura na
cidade. O que esses locais fizeram? O setor se colocou em uma luta corporativa
para si mesmo. A Cultura não vem estabelecendo uma força no imaginário popular,
não vem se colocando importante para a população brasileira. Se ela não for
importante para a população, dependendo da orientação ideológica dos governos
vigentes, eles não vão olhar para o setor”, completou.
Jujuba também destaca a falta do olhar do Estado sobre a
Cultura popular, que pode acabar de fora dos investimentos da Lei Aldir Blanc:
“O problema dos governantes em relação à Cultura é exatamente como eles a
enxergam e administram os mecanismos que possam favorecer o enriquecimento e
reconhecimento da importância que a Cultura tem no nosso País. Quem faz Cultura
não é quem está na grande mídia, mas o cara que está na esquina, na favela, no
interior, batucando pandeiro, tocando cavaquinho, dançando no baile, fazendo
capoeira, dançando maracatu, dançando ciranda… Estes são os verdadeiros
fazedores de Cultura.”
Na contramão da falta de investimentos públicos,
procurando dar suporte às artes e aos artistas periféricos, vieram iniciativas
como a “Chamada pública: novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas
favelas”, da Redes da Maré, que dará bolsas para projetos artísticos e de
comunicação favelados, e o Programa de Incentivo à Cultura, do Instituto
Moreira Salles, voltado para trabalhos artísticos diversos, procurando atender
a demandas como diversidade de raça, gênero, regionalidade, contexto social e
cultural.
Vítimas foram atendidas em hospital na Ilha do Governador e já estão em casa
Andressa Cabral Botelho
Na última segunda-feira (7/9), o assistente de cozinha Francisco Saturnino (40) e Fernanda Marques (03) foram atropelados por dois homens que estavam numa moto na Rua Roberto da Silveira, no Parque União. Francisco caminhava carregando a criança no colo quando foram atingidos. O momento do atropelamento foi registrado pelas câmeras do Globocop, da Rede Globo. Com o baque, Francisco caiu desacordado. Tanto o assistente de cozinha quanto a menina foram socorridos por moradores e levados para o Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador e passam bem.
Francisco ficou com algumas escoriações no corpo e Fernanda está com o rosto machucado. Ela foi atendida pela Clínica da Família da região numa visita domiciliar. A criança também está sendo acompanhada pelo Conselho Tutelar de Bonsucesso que aferiu que ela e a família seguem recebendo acompanhamento social e não foi configurada nenhuma violação de direitos, mas sim um acidente de trânsito.
Trânsito seguro é um direito de todos
Em termos de mobilidade urbana, a Lei nº 12.587/2012 prevê acesso universal à cidade por meio da organização do transporte, serviço e infra-estrutura que possa garantir deslocamento seguro para a população no território do município. Entretanto, essa organização universal, assim como a aplicabilidade da lei de trânsito (Lei nº 9.503/97) não acontece na favela, onde é visível o descaso com uma questão que vai se tornando cada vez mais importante no dia-a-dia dos moradores de favelas e periferias. Não apenas pela dificuldade de locomoção devido às vias estreitas, mas também, pela falta de estrutura e necessidade constante de reparos nas vias esburacadas, além da separação devida entre calçada e rua.
É fundamental pensarmos nessa questão como um direito da população e, também, reconhecermos que vivemos numa mesma cidade, onde a Prefeitura deveria controlar e garantir que as leis valessem para todos os cidadãos.
Esclarecendo sobre um fato
Recebemos aqui na redação do Jornal “Maré de Notícias” a solicitação de esclarecimento sobre um acidente de moto que ocorreu na Avenida Brasil no mesmo dia do ocorrido no Parque União. Esse acidente não tem nenhuma relação, como compartilhado nas redes sociais, a imagem de um acidente com moto dizendo ser do responsável pelo ocorrido com Francisco e Fernanda. E não era.
A moto que aparece nas redes é, na realidade, do barbeiro Claudinei Rodrigues, morador da favela Rubens Vaz. Ele sofreu um acidente e acabou falecendo. Ainda segundo as postagens, o barbeiro teria sido morto como punição devido o ocorrido no Parque União e a família teria criado a cena do acidente na via, o que não é a verdade. O barbeiro não tem nenhum envolvimento com o atropelamento. Seu corpo foi velado em sua barbearia.
STF suspende operações policiais durante a pandemia e o uso do helicóptero como plataforma de tiro, além de restringir ações policiais próximas a escolas
Maré de Notícias #116 – setembro de 2020
Jéssica Pires
No último dia
17 de agosto, segunda-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão
unânime, aprovou a ADPF 635 (Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental). Conhecida como ADPF das Favelas, a ação encaminhou pedidos
ao STF que pretendiam, de maneira geral, reduzir a letalidade e as violações de
direitos em operações policiais nas favelas do estado do Rio de Janeiro.
“O
significado da construção coletiva da ADPF é o sinal de que união de forças é o
único caminho possível para a defesa de direitos humanos”, afirma Daniel Loyola, defensor público e
subcoordenador do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública
do Estado do Rio de Janeiro.
Avanços
A decisão
proíbe operações policiais durante pandemias; uso do helicóptero como plataforma
de tiro; operações policiais próximas a escolas e uso das instituições de
ensino como base operacional. Também foi decidida a preservação da cena de
crime e proíba a remoção dos corpos, que o Ministério Público passe a
investigar homicídios cometidos por policiais, priorizando casos de crianças, e
que a redução de letalidade policial se torne indicador de qualidade para
gratificação de policiais.
É importante
destacar o que estes avanços representam para a luta pelo direito à vida nas
favelas: das 34 mortes em operações policiais na Maré, em 2019, 62% ocorreram
em operações com o uso de helicóptero, o que evidencia a capacidade letal deste
instrumento. Além disso, 25 das 34 mortes tiveram a cena do crimes desfeita,
sendo quase impossível se estabelecer investigações, conforme destaca o Boletim
Direito à Segurança Pública na Maré 2019.
Para a
pesquisadora do Eixo Segurança Pública e Acesso à Justiça, Shyrlei Rosendo, a conquista é muito importante para a Maré: “O
avanço da ADPF está em reconhecer os moradores como sujeitos de direitos; que
as favelas e periferias fazem parte da cidade e que somos tão cidadãos como os
outros moradores do restante da cidade. Os sistemas de Justiça precisam cumprir
seu papel junto aos moradores, sem distinção.”
As determinações
passam a valer assim que o governo do Estado do Rio de Janeiro for notificado
pelo STF. Diferentemente da decisão que suspendeu as operações policiais no Rio
durante o período de distanciamento social, as medidas concedidas não estão
associadas estritamente ao período da pandemia da COVID-19.
“O Estado brasileiro tem uma dívida histórica
com pessoas negras, pobres e periféricas do País. Os dados da violência
institucional nesses territórios são incompatíveis com o Estado de Direito e a
postura de diversos agentes públicos contribuiu para que a situação chegasse a
esse ponto. Não restou alternativa que não a mobilização e a busca do STF para
fazer valer a Constituição e o direito à vida, um passo importante foi dado e a
luta agora é pela efetividade da decisão”, informou
ao Maré de Notícias, Gabriel Sampaio,
da ONG Conectas.
As organizações que construíram a ADPF seguem atentas e mobilizadas para que não haja retrocessos no processo. Mas é importante que a sociedade esteja atenta a toda e qualquer violação de direitos. “O engajamento dos moradores e das organizações da sociedade civil é imprescindível. A ADPF é, talvez, a principal esperança, atualmente, de uma política de Segurança Pública que respeite os moradores de favelas como cidadãos e merecedores de proteção estatal igualitária”, reforça o defensor do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria.
Moradores reclamam constantemente de alagamentos e de ruas esburacadas
Maré de Notícias #116 – setembro de 2020
Hélio Euclides
Há 50 anos, o homem chegava à Lua e
constatou que a superfície lunar é composta por crateras. Mas para moradores da
Maré, não é preciso olhar para o céu, à noite, para ver buracos. Andando pela
favela é fácil encontrar ruas com um, dois ou até mais buracos. Para os
moradores, os motivos são a ausência de escoamento rápido da água da chuva e a
falta de manutenção.
Os presidentes das associações de
moradores se sentem esquecidos pela Secretaria Municipal de Conservação e Meio
Ambiente (SECONSERMA). “A favela está cheia de buracos no asfalto. O problema é
que a demora de um ano sem asfalto só faz aumentar as crateras”, conta Cláudia Lúcia, presidente da Associação
de Moradores do Parque Ecológico, que reclama principalmente da estrutura da
Via C/4.
Na ponte que fica na Rua Tancredo Neves há um grande buraco. Para evitar acidentes, moradores improvisaram advertências. “Coloquei um galho e tábuas para ninguém se machucar. É necessária uma manutenção rápida, que não acontece”, lembra André Luiz, morador da Baixa do Sapateiro. Para João Bergher, morador do Salsa e Merengue, é preciso realizar um conjunto de ações, além do recapeamento das ruas. “A gente deseja uma melhoria na coleta de lixo, que os buracos das ruas sejam tampados e que haja saneamento básico”, comentou.
Galhos, caixotes e cones são usados para indicar buracos nas ruas – Foto: Douglas Lopes
Um
rio em plena rua
Muitos buracos da favela são causados
pelas inundações. Na Vila dos Pinheiros, em frente ao Ciep Ministro Gustavo
Capanema, a Via A/1 já ficou diversas vezes com grande bolsões de água. A vias
B/3 e B/4 também sofrem com alagamentos. “Essas lagoas após a chuva são uma
pouca-vergonha, sofremos com o acesso, lodo e água podre”, comenta Tainara Cabral, moradora da Vila dos
Pinheiros. Renata da Silva, moradora
da Vila dos Pinheiros tem de driblar a água. “Isso é horrível, chega a ser
nojento. É preciso melhorar a Maré”, aconselha.
Parte de Marcílio Dias também sofre
com os mesmos problemas. Ana Cunha,
presidente da associação de moradores, reclama dos buracos nas ruas. O local
também padece com alagamentos na área mais pobre, com moradores chegando a
perder móveis. No Parque Maré, moradores reclamam que ruas mais baixas ficam
alagadas. “Quando chove é um desespero. O esgoto vive entupido e a drenagem das
chuvas é ruim. Na Rua Nova e becos, as casas têm proteção na porta para evitar
a inundação e perda de móveis”, observa Severina
de Souza.
Fabiana Silva Jorge é moradora do Parque União há mais de um ano e, assim como outros moradores, relatou que basta chover para ficar inviável sair de casa. “O beco onde moro vira um rio de esgoto. E a gente tem de pôr o pé, porque precisa sair de casa para trabalhar e levar os filhos para a escola”, observou. A moradora alerta que problemas de esgoto entupido são constantes onde ela mora.
Severina mostra batente que evita inundação em sua casa em dias de chuva – Foto: Douglas Lopes
O
asfalto distante da favela
Heitor Pereira,
administrador regional da 30ª Região Administrativa (RA) disse que, por motivos
alheios à vontade da RA, a Maré ficou um período sem receber esse material, mas
que já retornou. Ressaltou que há grande quantidade de buracos, por isso pede
paciência à população. Ele garantiu que a qualidade do asfalto colocado na Maré
é igual ao restante da cidade.
Quanto
às ruas mais atingidas pelos temporais, ele informou que, na Vila dos
Pinheiros, a Secretaria Municipal de Obras realiza a troca de 300 metros de
manilhas. Já na Bento Ribeiro Dantas, em frente à Clínica da Família Augusto
Boal, foi realizada a limpeza dos ralos pela Comlurb.