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Favelas e cracolândias que ninguém vê

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O que favelas e cracolândias têm em comum?Ambas sofrem do mesmo mal: são definidas usualmente por meio de estereótipos e transformadas em bodes expiatórios, em escudos contra a assunção de responsabilidades diante de problemas sociais que não se quer enfrentar. Mais do que isso, visões preconceituosas das favelas e cracolândias acabam autorizando formas desrespeitosas e truculentas de lidar com as pessoas que habitam esses espaços.

No caso das favelas e periferias das grandes cidades, a imagem corrente é de moradias inacabadas e condições urbanas precárias, onde prevalecem a miséria, a ilegalidade e a violência. Enxergar as favelas apenas dessa perspectiva significa ignorar o universo social e cultural produzido por seus moradores, a vida pulsante que corre diariamente por suas ruas e vielas, a rede de sociabilidade e solidariedade ali construída. Significa ignorar uma história de organizações e de lutas, e tudo o que os moradores de favelas representaram e representam para a construção do país.

Com relação às cracolândias, existe a crença generalizada de que são espaços povoados por “zumbis”, por pessoas de comportamento imprevisível, violento e repugnante, por autômatos guiados unicamente pelo desejo da droga, sem capacidade de discernimento. No entanto, basta ter a coragem de visitar uma cracolândia real, como fizemos numa das favelas do Complexo da Maré, para enxergar sujeitos usando crack, sim, ingerindo bebidas alcoólicas e eventualmente brigando, mas também compartilhando alimento, afeto e solidariedade. Homens e mulheres cujas vidas viraram de cabeça para baixo num piscar de olhos: perda de emprego, desestruturação familiar, abandono. E que encontraram nas ruas, entre os usuários de crack, o apoio necessário para sobreviver. Ao contrário do que se acredita comumente, muitos desses indivíduos não chegaram ali por causa do crack, e sim por numerosos outros motivos pessoais, econômicos e sociais. O crack é o que hoje lhes proporciona os poucos momentos de prazer que ainda têm na vida.

Vimos na cracolândia algumas dezenas de pessoas miseráveis, morando em minibarracos improvisados e cercados de montes de lixo, sem a atenção dos mais elementares serviços públicos. Mas, mesmo assim, capazes de construir arranjos de convivência e de auxílio mútuo, de refletir sobre suas histórias e sua situação atual, de tomar decisões e de formular demandas.

Nada disso implica negar a existência dos graves problemas decorrentes do uso abusivo do crack. Mas não é com estereótipos que se poderá enfrentá-los adequadamente. Pelo contrário, as imagens estereotipadas servem ora a uma estratégia avestruz para sequer enxergá-los, ora à aceitação de “soluções” truculentas, por trás das quais se escondem muitas vezes interesses pecuniários escusos, como os de certas “comunidades terapêuticas” a quem favorece enormemente a política de internação compulsória financiada pelos cofres públicos.

O abandono a que as favelas foram historicamente relegadas é o mesmo que hoje se observa em relação às chamadas “cracolândias”. É a tendência a lidar com esses espaços por meio de rótulos preconcebidos que geram medo, desconfiança e desrespeito. Se a visão da favela como antro de bandidos justificou por décadas ações violentas e ilegais da polícia, no lugar de políticas públicas para integrar esses espaços ao tecido urbano, a imagem da cracolândia como antro de “zumbis” vem dando força a medidas também violentas e discriminatórias, em vez da assistência devida ao atendimento das reais necessidades dos usuários.

Carl Hart é professor da Universidade de Columbia, Eliana Sousa Silva é diretora da ONG Redes da Maré, Julita Lemgruber é socióloga e coordenadora do Cesec/Ucam

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For the original by Carl Hart, Eliana Sousa Silva and Julita Lemgruber in Portuguese in O Globo click here.

What do favelas and ‘cracolândias’ (‘crack lands’) have in common? Both suffer the same problems: they are de?ned through stereotypes and made into scapegoats, preventing the attribution of responsibility for social issues that no one wants to face. More than this, prejudiced views of favelas and cracolândias end up justifying disrespectful and violent ways of approaching the people who live in these spaces.

In the case of the favelas and suburbs of large cities, the popular image is of un?nished houses and precarious living conditions, where poverty, lawlessness and violence prevail. Seeing the favela just from this perspective ignores the social and cultural universe produced by its residents, the vibrant life that ?ows daily through its streets and alleys, and the networks of sociability and solidarity built there. It means ignoring a history of organization and struggles, and all that favela residents have represented and represent in the construction of the nation.

With regard to cracolândias, there is the widespread belief that they are spaces populated by ‘zombies,’ by violent and repugnant people with unpredictable behavior, by automatons guided only by the desire for the drug, with no capacity for discernment. However, it only takes the courage to visit a real cracolândia, as we did in one of the favelas of the Complexo da Maré–to see people using crack, yes, drinking alcohol and eventually arguing–but also sharing food, affection and solidarity. Men and women whose lives have been turned upside down in the blink of an eye: job loss, family breakdown, abandonment. And what they found in the streets, among crack users, was the necessary support to survive. Unlike what is commonly believed, many of these individuals did not come here for crack, but for numerous other personal, economic and social reasons. Crack is what today offers them the small moments of pleasure they still ?nd in life.

In the cracolândia we saw dozens of miserable people, living in makeshift shacks surrounded by piles of trash, unattended by the most basic public services. Yet even like this, they are capable of building arrangements for co-living and mutual support, of re?ecting on their stories and their current situation, of making decisions and formulating demands.

This is not to deny the existence of the serious problems resulting from abuse of crack. But we can’t confront these problems with stereotypes. On the contrary, the stereotypical images sometimes serve as an ostrich-like strategy, as with the acceptance of hostile ‘solutions’ behind which are often hidden vested interests, such as those of certain ‘therapeutic communities’ which promote compulsory hospitalization policies ?nanced with public funds.

The abandonment that favelas have historically faced is the same that can be observed today in relation to the so-called ‘crack lands.’ There is a tendency to deal with these spaces using prejudiced labels that generate fear, distrust and disrespect. If the image of the favela as the den of bandits justi?ed decades of violent and illegal action on the part of the police, rather than public policy to integrate these spaces into the urban fabric, the image of cracolândias as a den of ‘zombies’ gives strength to similarly violent and discriminatory measures, in place of appropriate support to meet the real needs of users.

Carl Hart is a professor at Columbia University, Eliana Sousa Silva is director of the NGO Redes da Maré, Julita Lemgruber is a sociologist and coordinator of Cesec/Ucam

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MARÉ DE NOTÍCIAS #53

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[toggle title=”Pioneiro do Parque União”]

Por Beatriz Lindolfo

Em tempos de ocupação, o Capitão Brasil pode ser confundido com um militar, mas ele é morador das antigas e um patriota que chama a atenção por onde passa.

Antônio Fernandes de Freitas, mais conhecido como Capitão Brasil, tem 83 anos e mora no Parque União há 50. Nasceu em Guarabira, município localizado no estado da Paraíba, e resolveu vir para o Rio de Janeiro trabalhar na construção do estádio do Maracanã. Assim que chegou, sua função era preparar a comida para os operários da obra. Inicialmente, morou em Laranjeiras e depois veio para cá. Assim que chegou já existiam algumas casas de taipa (barro) e alvenaria. A comunidade era coberta por barro e não havia saneamento básico.

“Escolhi morar no Parque União porque quando passei pela Av. Brasil e vi que do outro lado já existiam casas, resolvi fazer a minha por aqui também”, conta ele. Pioneiro por aqui, ele deu nome a diversas ruas do P.U (sigla usada pelos moradores para se referir à comunidade).

Um fato curioso do Capitão é estar sempre de terno, carregando a bandeira do Brasil. Em tem pos de ocupação da Maré pelas Forças Armadas, algum desavisado pode confundi-lo com militar, o que ele não é. Ele é, de fato, um patriota. “Essa bandeira não tem preço, ela é de todos os bravos guerreiros do nosso amado Brasil”, exalta.

À frente da seleção de 1994

 Uma situação divertida lembrada por muitos vem da Copa de 1994, quando o ônibus que transportava os jogadores vitoriosos da seleção brasileira passava pela Av. Brasil. O Capitão fez uma escolta à frente do cortejo, com a sua bicicleta e seu capacete personalizados. Quem assistiu a essa cena não se esquece. Hoje em dia, em função da idade, ele não anda mais de “magrela”.

Ele fala emocionado de sua vontade de ter participado da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Porém, segundo ele, não foi possível por ter nascido apenas com dois dedos em cada mão. Assim, ele se tornou um pesquisador da Segunda Guerra. Além disso, criou a associação brasileira dos direitos sociais dos deficientes.

Sua esposa Maria Auxiliadora, com quem é casado há 48 anos, quer levá-lo para morar em Campos, no norte do estado do Rio, mas Capitão diz que vai morrer na comunidade que está marcada em sua vida e principalmente em seu coração. Ele segue com a ideia de viver até o seu último segundo no seu tão amado Parque União.

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[toggle title=”É devagar, devagarinho…”]

Por Beatriz Lindolfo

Cariocas estão gastando o dobro do tempo para se locomover por causa das obras na cidade

 O trânsito no Rio de Janeiro não está fácil para ninguém. O Maré de Notícias foi até os pontos de ônibus e de vans localizados próximos à passarela 10 da Av. Brasil, nos dois sentidos. Ouvimos a opinião dos cariocas sobre as obras que estão ocorrendo e sobre o tempo gasto ultimamente nos deslocamentos pela cidade. Todos os entrevistados relataram que estão gastando no trânsito, no mínimo, o dobro do tempo do que levavam há um ano.

Intervenções como a Transcarioca e o Porto Maravilha, além da derrubada do elevado da Perimetral, estão sendo experimentadas pela população como obras de “imobilidade” urbana. A proibição pela prefeitura da circulação de vans ligando as zonas norte e sul já tinha piorado o cotidiano das pessoas.

Luana Galvão é moradora da Nova Holanda e trabalha em Botafogo. É obrigada a pegar duas conduções para chegar ao trabalho. Antes, o tempo gasto até seu destino ficava entre 1h e 1h30; hoje, com as obras, passou para três horas. Luana considera a ida pior, pois de manhã o trânsito é mais intenso. “Está atrapalhando todo mundo, espero que na conclusão aconteça uma melhora nesses engarrafamentos”, afirma Luana, que não perdeu o otimismo.

Cariocas descrentes sobre futuro

 Para muitas pessoas essas obras nem deveriam estar acontecendo. A opinião é de que há outras prioridades que deveriam estar à frente de investimentos de bilhões de reais em mudanças associadas aos megaeventos Copa e Olimpíada.  Amanda Wolf, moradora de Campo Grande, trabalha na Barra da Tijuca. Foi encontrada por nós aguardando condução na Av. Brasil. Antes das obras, ela gastava 30 minutos para chegar ao trabalho e hoje leva o dobro do tempo. “Essas obras são gastos desnecessários, são melhorias só para certos eventos. Deveriam investir em educação, saúde, em segurança nas ruas e nos transportes públicos”, ressalta.

André Luiz, motorista da van 818, que faz o trajeto Av. Brasil x NorteShopping, contou que gastava 40 minutos para completar seu itinerário, mas agora está levando entre 1h30 e 2h. “Para nós moradores da Maré está muito ruim esse trânsito, vai melhorar para quem trabalha na Barra”, opina. Antes, ele costumava fazer em um dia até 12 voltas. Este número caiu para sete, no máximo. O motorista mudou até o seu horário devido aos engarrafamentos, deixando de trabalhar na parte da manhã e preferindo tarde e noite, quando a situação é menos pior.

Glauber Nascimento, morador da Maré, trabalha em Del Castilho e para chegar ao seu destino está demorando uma hora, antes o tempo era de 30 minutos. “Para mim essas obras são só aparência”, diz. As maiores dificuldades para ele são a lotação e o tempo que fica dentro do ônibus.

Outra mudança sentida pelos entrevistados refere-se aos fins de semana. Os dias de sábado e domingo já foram mais tranqüilos, sem o incômodo dos engarrafamentos. Hoje em dia não se pode dizer o mesmo.

Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, a cidade viverá intervenções com impacto no trânsito até os Jogos Olímpicos de 2016. A Transcarioca, ao menos, estará pronta em breve, antes da Copa.

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[toggle title=”Agora vai, CEDAE?”]

Por: Silvia Noronha

Cedae anuncia de novo o início das obras no sistema de esgoto

 A Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae), do governo do estado, voltou a anunciar investimentos na Maré, que deveriam ter sido iniciados em março do ano passado. O presidente da Cedae, Wagner Victer, informou que serão investidos quase R$ 450 milhões no sistema integrado de tratamento final de esgoto da Maré e de todas as comunidades que têm rejeitos lançados no Rio Faria Timbó e na Baía de Guanabara, pela Sub-Bacia do Canal do Cunha.

A licitação CN 44/2013 está em andamento, porém a companhia aguarda o ok final do Tribunal de Contas da União para receber as propostas. Uma parcela dos recursos é do governo do estado e outra um empréstimo da Caixa.

Estão previstos a ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Alegria, no Caju, para onde serão levados os rejeitos orgânicos da região; a implantação de troncos coletores; e também a revisão da rede existente na Maré.

Questionado se a situação atual vai melhorar para os moradores e não apenas para a qualidade das águas da Baía de Guanabara, Victer garantiu que sim. “Claro que vai melhorar porque na realidade aquelas seis elevatórias muito antigas da Maré, que são as principais razões dos problemas, serão desativadas e colocada uma grande elevatória moderna”, afirmou ele, após se reunir com os dirigentes das Associações de Moradores, em 5 de maio, na Baixa do Sapateiro.

Victer garantiu ainda que haverá melhoria da rede coletora de esgoto. “Muitas redes que estiverem assoreadas ou abatidas (quebradas) vão sofrer intervenções. Eventualmente se tiver abatido pode abrir (a rua) ou botar um equipamento que a gente tem, que importamos dos Estados Unidos agora, chamado Topeirinha, que entra e desobstrui a rede”, explicou ele.

Segundo anunciado na reunião, os trabalhadores da futura obra serão contratados na própria comunidade. Em breve será feita uma campanha educativa para que moradores e comerciantes não joguem objetos na rede de esgoto, como lixo e entulho. Outra ação a ser avaliada em breve é o recadastramento dos imóveis, em função dos problemas já detectados na entrega da conta nas comunidades onde há cobrança de tarifa social da Cedae.

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[toggle title=”Dia de São Jorge é dia de…Feijoada!”]

Por: Rosilene Miliotti

Evento promovido pelo Boca de Siri já se tornou tradicional e este ano reuniu 400 pessoas

 “Vou acender velas para São Jorge / A ele eu quero agradecer / E vou plantar comigo-ninguém-pode / Para que o mal não possa então vencer” (trecho da música Pra São Jorge, composição de Pecê Ribeiro, interpretada por Zeca Pagodinho). Para todo bom devoto de São Jorge, 23 de abril é dia de passar pela igreja – ou pelo terreiro – pela manhã; rezar, agradecer, pedir e depois saudar o santo com feijoada e samba no pé. Não foi diferente no Parque Roquete Pinto, na Maré. Pelo quarto ano, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Boca de Siri promoveu uma feijoada em homenagem ao santo.

O evento reuniu cerca de 400 pessoas, a maior parte de fora da comunidade. Eufrasio Gomes Junior, tesoureiro da agremiação, aproveita para convidar os moradores para os próximos eventos. “Infelizmente a comunidade ainda não aderiu. A comunidade comparece para desfilar, mas todos os eventos feitos por nós têm muito mais pessoas de fora do que moradores do entorno”, lamenta ele. Devoto de São Jorge, Eufrasio diz que a feijoada foi criada após a escolha do enredo que homenageava o santo.

O evento tem o objetivo de arrecadar fundos para ajudar no desfile da agremiação. Com o feijão bem temperado e samba do bom, os participantes não se limitam a um prato apenas. Na feijoada do Boca de Siri você come o quanto quiser. São cerca de 40 quilos de carnes e 15 quilos de feijão.

O artesão Ubirajara Cardoso de Moura, o Bira, conta que conheceu o Boca ainda quando era bloco. “Ajudo a escola doando meus artesanatos para sorteios”, diz. Para ele, o fato de os moradores não aderirem aos eventos da escola não é exclusividade do Boca de Siri. “Na Mangueira têm moradores que não participam de nada que a Escola promove, mas aparecem para desfilar na ala da comunidade. Aqui a cerveja custa R$ 3, mais barato que no bar. Comprem pelo menos a cerveja aqui para ajudar”, brinca.

Fé e feijoada

 A devoção ao santo acontece no mundo inteiro. Padroeiro de Portugal, Inglaterra e da Catalunha, dos soldados, militares, ferramenteiros e ferroviários, São Jorge enfrentou e venceu seus inimigos e dragões, que hoje, fazendo um paralelo, poderiam ser nossos problemas.

No Brasil, a devoção cresceu pelos escravos que, proibidos de adorar seus Orixás, passaram então a fazer seus pedidos, cultos e rituais fora das igrejas, associando a imagem de São Jorge a Ogum. Ogum é o Orixá da guerra, do fogo e da tecnologia.

E por que feijoada? Na cozinha afrodescendente há pratos que chegaram dos terreiros e foram para as mesas das casas, feiras e restaurantes. Isso aconteceu com a feijoada gorda. Já na feijoada à baiana, base para a de Ogum /São Jorge, o feijão torna-se sagrado e integra-se ao calendário das festas em muitos terreiros. Comer este prato é uma forma de manter o sentido religioso da festa.

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MARÉ DE NOTÍCIAS #52

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[toggle title=”TRANSCAOSRIOCA”]

Por: Hélio Euclides

Quem passa pela Avenida Brasil percebe, além do  engarrafamento, uma enorme obra que atravessa  a via na altura do acesso a Ilha do Governador. A intervenção faz parte do BRT Transcarioca, para construção de um arco estaiado, ou seja, uma ponte suspensa por cabos.

Para isso, a prefeitura fechou a pista lateral da Av. Brasil, sentido Zona Oeste, e fez um desvio com retorno próximo a Ilha do Fundão. E a outra pista lateral, sentido Centro, está com passagem para apenas um veículo. Moradores da Maré reclamam dos motoristas de ônibus que estão passando da pista lateral para a central para fugir do retorno obrigatório em direção à Zona Oeste. Do outro lado é a mesma coisa. Surpreendidas com a mudança irregular do itinerário, as pessoas estão descendo do ônibus na pista central e atravessando a Av. Brasil a pé, com risco de serem atropeladas. Segundo a Secretaria Municipal de Obras, as obras do arco serão finalizadas até maio, quando as pistas interditadas da Brasil serão reabertas.

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[toggle title=”BRTs na berlinda”]

Por: Sergio Ricardo, ecologista, gesto e planejador ambiental

Para a construção da Transcarioca, além de provocar a remoção e despejo de centenas de moradores e do comércio, foram derrubadas dezenas de árvores plantadas pelos próprios moradores na Avenida dos Campeões, em Ramos. Além do valor afetivo, ajudavam a amenizar o calorão da região e a capturar gases poluentes como o monóxido de carbono lançados pelos milhares de automóveis que passam diariamente na Avenida Brasil. Ingressamos com moradores de Ramos na Justiça, sem sucesso neste caso.

As Transcarioca, Transoeste e Transbrasil estão na contramão da história, já que enquanto o Rio de Janeiro opta por fortalecer o modelo rodoviarista, controlado por um cartel de empresas de ônibus – já que suas pistas serão utilizadas exclusivamente para circulação de ônibus –, as grandes cidades do mundo buscam investir cada vez mais em outros modais de transporte, como o veículo leve sobre trilhos (VLT, espécie de aeromóvel que é uma alternativa metroferroviária menos poluente), trem, metrô e ciclovia.

Considero um crime o fato de o trajeto da Transcarioca ter abandonado o projeto da linha seis do metrô, que ligaria a Barra da Tijuca, Madureira, Vicente de Carvalho e Ilha do Governador. Além disso, a Transcarioca inviabiliza o projeto da Supervia de 2008, que pretendia levar uma conexão de trens de Bonsucesso a Ilha do Governador, ou seja, teríamos uma linha direta do Centro da cidade, passando pelo maior campus universitário do Rio, no Fundão.

Além disso, a construção das Trans custarão aos cofres públicos, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cerca de R$ 5 bilhões e serão, após construídas, repassadas para administração de cartel de empresas de ônibus sem estar previsto o ressarcimento das verbas públicas. O que provoca prejuízos ao cofre público, conforme constatou auditoria técnico-financeira do Tribunal de Contas da União (TCU). Uma mamata brutal de dinheiro público para a iniciativa privada.

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[toggle title=”Não é cruzado, tostão nem cruzeiro. É o Real Maré”]

Por: Hélio Euclides

Um sonho que se tornou realidade,  afirma o presidente do clube Real Maré, Sidnei Alves, sobre o time. No início era um grupo de peladeiro que depois partiu para oficializar o clube junto a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é mostrar que existe qualidade na favela, com pessoas que não esquecem as origens e representam a Maré. O nome “Real” remete a realidade de crianças e adolescentes que hoje são atletas.

Tudo começou há 16 anos e hoje são cerca de 180 jogadores na Maré e outros 150 no núcleo do Caju. As dificuldades são imensas. Natan Alves, por exemplo, já ficou sem treinar por falta de chuteiras. “Isso acontece, mas aqui há muito incentivo e conselho, o que não me faz parar”, afirma o garoto.

O grupo dribla os percalços e vem participando de diversos campeonatos. “O que muitas vezes falta é apoio para as viagens longas”, conta Sidnei. Esse ano o clube recebeu a proposta de participar de jogos na Argentina para o sub 17 e em Portugal para o sub 13, mas até o momento não há patrocínio. “Temos dificuldades, mas somos incansáveis”, rebate o presidente. Para amenizar, hoje o clube recebe apoio da Lei de Incentivo ao Esporte, federal e estadual. Além disso, os diretores buscam oferecer aos garotos café da manhã e cesta básica, o que ajuda na alimentação.

A entrada de novos jogadores é a partir dos sete anos. Depois a criança pode seguir em outras categorias do Real: pré-mirim (sub 11), mirim (sub 13), infantil (sub 15), juvenil (sub 17) e juniores (sub 20). “Aqui é uma família, fora a minha essa é a segunda”, comenta o atleta Everton Mateus Pereira, o Mineirinho.

Em Minas e também no exterior

Um dos momentos marcantes do Real Maré foi jogar em Minas Gerais e no Paraguai. “A família é primordial. Na viagem ao Paraguai algumas pagaram a passagem do filho e ainda ajudaram a quem não podia. Eles abraçam a ideia”, elogia Sidnei.

O presidente do clube não deseja que seus alunos passem pelo que ele vivenciou. “Joguei na Portuguesa, mas por dificuldades financeiras tive que abandonar meu sonho. Lembro a eles para aproveitarem, pois na minha época não tinha essa oportunidade”, afirma. O funcionário da 30ª RA, Antonio de Pádua, incentiva o trabalho. “Acompanhei a equipe desde a criação. Vi o Sidnei com os ofícios para solicitar apoio, com dificuldades. Então sempre tentamos ajudar”, relata.

Os treinos acontecem às segundas-feiras na Vila Olímpica da Maré; e às terças e quintas na Praça do 18, na Baixa do Sapateiro, de 9h as 11h30 e de 13h as 16h, nos dois locais. Neste momento, estão abertas as inscrições para sub 15 e sub 17. Quem se interessar, deve comparecer a um dos treinos.

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[toggle title=”Tem break na Maré”]

Por: Fabíola Loureiro

Douglas Barreto da Silva Alves, 24 anos, morador da Nova Holanda, é B-boy, nome dado aos meninos que praticam o breakdance, e já participou de várias batalhas de break. Na adolescência, Douglas conta que tinha dificuldade em interagir com a galera, pois curtia músicas que não eram populares, como as de James Brown, cantor de soul norte-americano.

Quando Douglas assistiu a apresentação de um antigo grupo que havia na Maré, o Ataque Brasil Break, logo se identificou, pois essa galera dançava justamente ao som de Brown, famoso pelas músicas que Douglas sabia de cor.

“O break desenvolveu minha mente e despertou minha curiosidade até para fazer outras atividades e me trouxe disciplina. Além de ser meu trabalho, é meu hobby e minha válvula de escape. Vivo, respiro a dança, é uma filosofia. Minha vida ficou mais saudável”, conta Douglas.

O break é um estilo de dança de rua e foi implantado na Maré no ano de 2001 pelos b-boys Luck e Felipe Reis, que faziam parte do Grupo de Break Consciente da Rocinha (GBCR). Ambos já tinham vivência no hip hop e foram referência para Douglas e outros meninos na época.

Depois de algum tempo, o pessoal foi parando de treinar na Maré. Vendo a necessidade de manter a cultura hip hop, em 2008 foi feito um evento no Morro do Timbau para divulgar e fazer com que a galera voltasse a treinar. No final do evento surgiu o grupo Ativa Breakers, do qual Douglas participa. Entre 2008 e 2009 o grupo ganhou vários campeonatos, em diversos lugares do Rio de Janeiro. Atualmente o grupo tem 11 integrantes, com idades entre 12 e 24 anos e apenas um não é morador da Maré.

Break também é lugar de meninas

 Amanda Baroni Lopes, 20 anos, moradora do Timbau, é a única menina do Ativa

Breakers. Quando mais nova, ela não se sentia bem ao usar roupas curtas e ouvir pagode para se enturmar. Hoje entende que sua identidade são as roupas largas e o boné, bem ao estilo hip hop. Em 2013, Amanda viajou bastante para participar de competições e um dos lugares por onde passou foi o Chile.

“Eu danço porque foi uma atividade que me trouxe amadurecimento, uma profissão e uma autoestima que eu não tinha. Vejo as batalhas como uma forma de avaliação de quanto meu treino está bom ou não. Ser B-girl é uma realização pessoal e uma diversão. Aprendi a lidar com as pessoas e a ser mais tolerante”, diz Amanda, para quem a vida é um constante desafio.

Para este ano, a meta do grupo é estar mais presente na Maré, promovendo eventos e mostras de dança nas comunidades.

História do Break

O breaking nasceu do hip hop, na década de 1970, nos subúrbios negros e latinos de Nova Iorque, em festas produzidas pelo DJ jamaicano Kool Herc, que ficou conhecido como o fundador da cultura hip hop. Nessas festas, chamadas Block party, Kool percebeu que quando chegava a parte instrumental das músicas, a garotada começava a dançar nesse espaço de tempo (break em inglês significa dar uma pausa). Nesse contexto, nasceram diferentes manifestações artísticas de rua, formas próprias dos jovens ligados àquele movimento de se fazer música, dança, poesia e pintura. Com o tempo começaram a organizar as batalhas, que consistiam em uma competição artística entre diferentes gangues. O break é um dos quatro pilares da cultura hip hop. Os outros três são o graffiti, o rap e o DJ.

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OCUPAÇÃO NA MARÉ: SEGURANÇA AOS MORADORES OU REGIME DE EXCEÇÃO?

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Por: Eliana Sousa Silva e Jailson de Souza e Silva

As forças policiais estão realizando a ocupação bélica da Maré, o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, onde residem 130.000 pessoas, em 16 localidades distintas e assistimos a isso com um misto de esperança e apreensão. Afinal, essa intervenção ocorre numa data emblemática: exatamente há 50 anos, as Forças Armadas feriram os pilares da democracia e impuseram mais de duas décadas de ditadura ao país.

As democracias têm como pressupostos garantir direitos fundamentais como a liberdade de expressão, a proteção legal com igualdade, a participação plena na vida política, econômica e cultural a todos os cidadãos. As ditaduras, ao contrário, submetem os interesses dos cidadãos ao arbítrio, censura e interesses do Estado autoritário. O desafio que vivemos aqui na Maré é identificar qual a face do Estado que nela se fará presente.

Com efeito, a noção de um Estado Republicano, a serviço de todos os cidadãos e da garantia de seus direitos individuais e de sua dignidade humana ainda está longe de ser uma realidade no Brasil. A maior expressão desse déficit republicano, no caso do Rio de Janeiro, foi a inação do Estado no cumprimento de seu papel de regulador do espaço público. Como se sabe, nas favelas e periferias, esse papel passou a ser cumprido ? especialmente a partir da década de 80 ? por grupos criminosos de milicianos e traficantes de drogas. O direito à vida e à segurança pública de uma imensa parcela da população carioca foram ignorados.

No processo de afirmação da estratégia da “guerra às drogas” como prioridade de combate à criminalidade, a iniciativa seguinte do Estado foi transformar as favelas em uma arena de guerra, tratando os criminosos como inimigos a serem exterminados. Outra vez, as maiores vítimas do processo, além dos jovens traficantes e policiais, foram os moradores das favelas. Estes, perplexos, viram seus direitos fundamentais massacrados e seu cotidiano transformado em caos em função dos desejos e vontade dos “senhores da guerra”.

Foi criado um Território de Exceção nas favelas, um espaço onde a Constituição e as leis brasileiras não são levadas em conta. Devido a isso, as forças policiais e o próprio poder judiciário naturalizam e admitem, por exemplo, a invasão de todas as casas da Maré em busca de armas, drogas e criminosos (indivíduos estes que representam uma parcela ínfima daquela população), em ato de afronta ao Estado Democrático de Direitos.

O enfrentamento da criminalidade deve ter como premissa a garantia do direito à segurança pública dos moradores e não pode servir como justificativa para o seu sequestro. Assim, mais do que nunca, a Maré, nesse momento, é uma metáfora e um exemplo concreto de para onde queremos caminhar como sociedade.

Fonte: O Globo 

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O Globo Newspaper

ELIANA SOUSA SILVA, DIRECTOR OF THE MARÉ DEVELOPMENT NETWORKS, AND JAILSON DE SOUZA E SILVA, DIRECTOR OF NGO OBSERVATÓRIO DE FAVELAS

03/31/2014 –  7:10 PM

Maré occupation: safety to residents or state of exception?

NGO directors fear that police action infringes the rights of residents

The police are conducting a warlike occupation at Maré, the largest group of shantytowns in Rio de Janeiro, home to 130,000 people in 16 different locations, and we watch this with a mixture of hope and apprehension. After all, this intervention takes place an emblematic date: exactly 50 years ago, the military struck the pillars of democracy and imposed more than two decades of dictatorship in the country. Democracies have as assumptions the assurance of fundamental rights, such as freedom of expression, legal protection with equality, and full participation in political, economic and cultural life to all citizens. Dictatorships, by contrast, submit the interests of citizens at will, censorship and interests of the authoritarian State. The challenge that we live here Maré is to identify which face of the state will be present in it.

Indeed, the notion of a Republican State, at the service of all citizens and ensuring their individual rights and their human dignity, is still far from being a reality in Brazil. The greatest expression of this Republican deficit, in the case of Rio de Janeiro, was the State’s inaction in the fulfillment of its role as a regulator of public space. As is known, in the slums and suburbs, this role has to be fulfilled – especially from the 80’s onwards – by criminal gangs of militiamen and drug traffickers. The right to life and public safety of a huge portion of the Rio population were ignored.

In the process of affirming the strategy of the “war on drugs” as a priority to fight crime, the following initiative of the State was to transform the slums in a war arena, treating criminals as enemies to be exterminated. Again, the main victims of the process, in addition to young drug traffickers and police officers, were slum residents. Overwhelmed, they saw their fundamental rights massacred and their daily lives thrown into chaos due to the wims and will of the “warlords.”

A Territory of Exception was created in the slums, a space where the Constitution and the Brazilian laws are not taken into account. Because of this, the police and even the Judiciary itself make seem natural and admit, for example, the invasion of all Maré homes in search of weapons, drugs and criminals (these individuals represent a tiny portion of that population), an act that goes against the Democratic State of Rights.

Tackling crime should have the basis of guaranteeing the right to public safety of residents and cannot serve as justification for its abduction.

So, more than ever, Maré, at this time, is a metaphor and a concrete example of where we want to walk as a society.

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MARÉ DE NOTÍCIAS #51

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[toggle title=”Com quantas tábuas se faz uma passarela?”]

Por: Hélio Euclides

As passarelas da Avenida Brasil são sempre tema do Maré de Notícias. O ponto de ônibus que  fica em frente ao Conjunto Esperança, sentido Centro, já virou  discussão duas vezes: nas edições 16, de abril de 2011, e 27,  de março de 2012. O problema é que o ponto fica muito longe da passarela 6, o que causa um enorme transtorno.

Para solucionar o problema, a prefeitura instalou uma passarela provisória, metálica com piso de madeira, próximo ao ponto. Porém, usuários da passarela reclamam porque a construção temporária virou permanente e a prefeitura ameaça solucioná-la somente durante as obras da Transbrasil, corredor de ônibus expresso prometido para 2016.

“Essa passarela foi uma boa, mas precisa de melhorias. Vejo que as senhoras têm muito medo ao usar. Deveriam fazer igual à da Escola Bahia. Se olhar para baixo, dá para ver os carros, por isso fico com o olhar para frente”, comenta Daiana dos Santos. As opiniões são muito parecidas. “Sentimento de medo, pois sinto que posso cair a qualquer momento”, afirma Mário Moreno.

Com o piso feito de tábuas de madeira, algumas pessoas passam mal quando estão no meio do caminho. “É péssima, dá muito medo, pois há madeiras soltas. Eu já passei mal, tive tontura”, conta Sueli Alves, entrevistada dias antes da manutenção realizada pela prefeitura em fins de fevereiro, que fixou as tábuas. A solução está na ponta da língua dos pedestres. “É preciso fazer uma passagem com segurança”, ressalta Aline França.

O diretor da Associação de Moradores do Conjunto Esperança, Waldir Francisco da Costa, revela que a passarela deve passar por manutenção constante a partir de agora. “Estava a ponto de um acidente. A pedido das Associações de Moradores da Vila do João e do Conjunto Esperança, junto com a 30ª Região Administrativa (R.A.), a passarela passou por uma obra de manutenção, ao final de fevereiro. A promessa da prefeitura é de que toda sexta-feira haverá revisão”, conta ele.

Outra só depois do BRT Transbrasil

O administrador da R.A., Hildebrando Gonçalves, o Del, destaca uma triste novidade: a solução vai demorar mais. “Segundo informações da Secretaria de Obras, não teremos uma (passarela) definitiva, até porque neste local será construído um dos maiores pontos de BRT da Transbrasil. Quanto à manutenção, todos os degraus foram reformados”, afirma ele.

A Secretaria Municipal de Obras reconhece que a passarela é provisória. Por ser de estrutura tubular com piso em madeira há a necessidade de manutenção constante, o que não vinha ocorrendo. Com isso, as madeiras estavam frouxas. Segundo representantes da secretaria, a estrutura vem sendo fiscalizada periodicamente e não há risco para os pedestres. A travessia só será substituída durante as obras da Transbrasil, que ainda estão no papel, conforme noticiamos na Ed. 49, de janeiro (leia em www.redesdamare.org.br). Os usuários pedem uma solução para já.

Moradora grávida relata pânico na passarela

 “Sempre tive medo de ponte de madeira, desde a época em que tínhamos de passar em troncos sobre os valões da comunidade. Isso já faz tanto tempo… Contudo, em pleno 2013 eu ainda tinha a possibilidade de passar por uma passarela de madeira que fizeram como paliativo para uma obra mal planejada. Porém, mesmo grávida e tendo de andar muito mais para pegar um ônibus, eu me recusava a passar por aquela passarela. Até que um dia meu marido (o jornalista Hélio Euclides) me convenceu a passar por ela. Perdi meu dia. Já na subida, aqueles degraus muito espaçados e aquela estrutura toda à mostra foi me dando pânico. Quando cheguei na parte reta, aquelas madeiras moles e espaçadas que nos fazem ver a pista lá embaixo me fizeram paralisar. Minha voz sumiu e só a graça de Deus me fez chegar ao outro lado. Estava extremamente cansada. Parecia que tinha andado por horas e desatei a chorar. Só consegui voltar a conversar horas depois. Não estou contando essa história para que tirem essa passarela, mas para que eles façam uma passagem decente para nós moradores, pois precisamos dela agora e não quando um dia vier uma trans ou linha disso ou daquilo.”

Viviane Couto, 34 anos, professora, moradora da Vila do Pinheiro, que nunca mais passou pela passarela de madeira.

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[toggle title=”Oprimido, eu ?!”]

Por: Beatriz Lindolfo

Os jovens da Maré estão convidados para participar das oficinas do Teatro do Oprimido, previstas para começar em abril em diversas comunidades do bairro. Para se inscrever basta ter entre 15 e 29 anos, ser morador ou ter algum vínculo local.

 O projeto tem como objetivo potencializar uma rede de parceiros que mobilize, debata e apresente alternativas para os problemas da juventude no Complexo da Maré, inclusive com propostas de políticas públicas. “A idéia desse projeto é se expandir pela Maré inteira. Estamos fazendo reuniões com as associações de moradores de várias comunidades da Maré, tentando chegar a lugares onde ainda não passamos, como Marcílio Dias e Piscinão de Ramos”, conta Helen Sarapeck, coordenadora artística do projeto e do Centro Teatro do Oprimido (CTO-Rio).

Após a realização das oficinas (20 ao todo), serão formados três grupos de Teatro do Oprimido, com os participantes que se interessarem pela proposta. Cada grupo iniciará um processo de produção de espetáculo de teatro-fórum, técnica baseada em fatos reais, no qual personagens oprimidos entram em conflito. O oprimido fracassa e o público é convidado a entrar em cena, substituindo o protagonista e buscando alternativas para resolver o problema.

O CTO iniciou oficinas na Maré em 1996, quando foi formado o MarÉarte e logo em seguida o Arte Vida, grupos compostos por jovens moradores que fizeram espetáculos dentro e fora da Maré. Atualmente continua a existir por aqui o Grupo Teatro do Oprimido (GTO-Maré). O novo projeto é patrocinado pela Petrobras.

“Nossa proposta é mostrar que o teatro é um dom do ser humano, e que é essencial para a nossa compreensão no mundo, para entender onde estamos inseridos porque, quando encenamos a nossa realidade, vemos de outro ângulo, do lado de fora”, explica Helen.

O diretor de teatro Augusto Boal, falecido em 2009, foi o fundador desta metodologia internacionalmente conhecida que entende o teatro como instrumento de emancipação política. Qualquer pessoa pode participar, porque a metodologia não se baseia no teatro como algo para quem tem dons especiais.

Augusto Boal é um nome conhecido na Maré, não apenas pelo projeto mas também porque ele foi homenageado pela Clínica de Saúde da Família que leva seu nome.

Segundo o dicionário Houaiss, oprimido é aquele que se sente sufocado, sobrecarregado (com ônus, obrigações), onerado; torturado.

Como se inscrever e checar os locais das oficinas

 Ligue para: 2232-5826 / 2215-0503 ou envie e-mail para: [email protected].

Para saber mais sobre o Centro de Teatro do Oprimido, visite o site  ou curta a página do projeto no Facebook: CentroTeatroOprimido.

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[toggle title=”A ver navios”]
A Secretaria Estadual do Ambiente (SEA) ficou de instalar três píers aqui na região: na Vila do Pinheiro, Parque União e Vila Residencial, essa última no Fundão. A licitação foi vencida pela empresa Fleming, que deu início às obras em outubro, mas interrompeu o trabalho em seguida. No Pinheiro, a obra sequer começou. No Parque União, a situação é visivelmente desoladora. “Para piorar ainda quebraram nossa rampa que liga o mar à terra, para manutenção dos barcos”, denuncia o pescador do Parque União, Samuel dos Santos.

“Já são cinco meses de pindaíba, pois quebraram rápido, mas não construíram nada. Abandonaram nossa rampa. E com ficam os barcos para reforma? Não sabemos como tirar do mar”, questiona o presidente da Colônia de Pescadores do Parque União, Reinaldo Coelho.

A construção dos píers e reforma do entorno nas colônias teve o recurso do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano. A SEA informa que a construção do píer da Vila Residencial foi concluída em 11 de março e entregue aos pescadores. As obras do Parque União estão previstas para serem retomadas na segunda-feira, 17 de março. Já a construção do píer Vila Pinheiro está sendo reavaliada pela Secretaria.

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[toggle title=”Cartografia das escolas da Maré”]

O Programa Criança Petrobras na Maré (PCP Maré), desenvolvido pela Redes da Maré, está realizando uma pesquisa nas 16 escolas da rede municipal de ensino que atendem moradores das comunidades que formam nosso bairro. O objetivo é realizar um levantamento de informações socioeducacionais das escolas. Nesta pesquisa estão sendo coletadas informações sobre a história das escolas e a situação atual de cada uma delas, como o perfil docente e discente (professores e alunos), avaliação de desempenho, jornada escolar, dentre outros. Os dados serão publicados em um catálogo escolar para que as informações sejam disseminadas.

A primeira escola que participou da pesquisa foi também a primeira unidade da região: a Escola Municipal Bahia. Inaugurada em 12 de março de 1938 pelo prefeito Pedro Ernesto, a escola, para sua época, tinha o prédio considerado como sendo de arquitetura moderna, amplo, funcional, com auditório e refeitório e distribuído em dois andares, como permanece até os dias de hoje.

Em 21 de junho de 1990, a escola foi tombada como patrimônio da cidade. Nessa unidade cheia de histórias e curiosidades estudaram e trabalharam personalidades famosas como a poetisa Cecília Meireles, ex-diretora da escola, e o cantor Naldo. Aguardem que em breve divulgaremos dados de outras escolas.

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Maré de Notícias #50

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[toggle title=”Maré na França”]
Thaina Farias, uma das 13 jovens do Núcleo 2 da Escola Livre de Dança da Maré (ELDM) relata a emoção da viagem à França, onde o grupo – todos moradores – esteve em intercâmbio com a Escola Municipal Artística de Vitry-sur-Seine, de 28/11 a 8/12.

“Embora eu tenha revisto a cena em filmagem, lembraria ainda assim como se fosse ontem a reação que todos tivemos ao sair de um dos portões do aeroporto, assim que chegamos. O frio não conseguiu ser maior que a emoção que tivemos ao sentirmos que a ficha estava caindo e estávamos mesmo na França; que aquela nossa primeira viagem juntos teria tudo para ser especial. Embora cansados, estávamos todos curiosos, olhando para todos os lados, tirando fotos e filmando o caminho de Paris a Vitry (cidade nos arredores de Paris, onde o grupo ficou hospedado). Já nos comentários, comparamos o caminho com a Linha Amarela daqui e eu fiquei impressionada com a quantidade de grafites.

Chegamos a Vitry e tudo era novidade. Desde o início fomos muito bem cuidados e logo visitamos o Theatre Jean-Villard, onde encontramos pessoas com sorrisos enormes para nos receber. E foi aí que começamos a perceber que essa história de que os franceses eram frios era mentira. Conhecemos o teatro, os alunos do núcleo de dança de lá e tudo foi tão novo e divertido que eu já começava a pensar que ir embora ia ser realmente difícil. Tive certeza desse meu pensamento no dia em que passamos a tarde com os jovens de lá e dançamos juntos. Fizemos aula e mantivemos um contato tão profundo que mesmo que a língua não fosse a mesma e não ajudasse muito na comunicação, tudo fluía.

O amor pela dança cresceu com esse contato e troca que tivemos. Vimos que nos tornamos amigos, mas amigos mesmo, como se tivéssemos nos conhecido há muito tempo. Conversávamos e pensávamos muito nessa relação com eles, os novos amigos franceses, enfatizando que o melhor de termos ido à França era ter conhecido as pessoas que conhecemos e termos vivido a experiência de dançar para um teatro lotado de gente que nunca tinha ouvido falar do nosso trabalho ou tinha ouvido falar muito pouco.

As respostas foram positivas. Pessoas vinham nos abraçar em resposta a tudo o que viram e ouviram durante o “Exercício M, de movimento e de Maré” (coreografia criada durante a formação do Núcleo 2 e encenada 18 vezes no Brasil, em diferentes locais). Algumas choravam e muitas comentaram da nossa força, da potência que éramos juntos, enfatizando as nossas diferenças que contribuíam muito para um trabalho rico. E aquela foi, sem dúvida, uma das melhores noites da minha vida e acredito que foi assim para todos nós.

E sobre os passeios e sobre nossa estada em Vitry, tenho a dizer que nos vimos como uma família. Aprendemos a conviver e a respeitar a opinião de todos para a harmonia do grupo. Foram dias que nos renderam lindas experiências, lindas fotos e vídeos bem engraçados. Estar na França nos fez ver a valorização que lá eles dão a arte, perceber o que falta no Brasil, o que precisamos buscar como estudantes de dança e futuros profissionais da área, quem sabe.

Aqueles dias ficaram marcados, assim como o rosto de cada um daqueles que nos receberam tão bem e acreditaram em nós. Voltei para o Brasil com o coração cheio de expectativas, metas e ideias, um desejo muito grande de voltar e também de receber nossos novos amigos aqui. Foram intensos dias de muita dança e muita troca de energia!”

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[toggle title=”Samba no salto 18″]

Por: Rosilene Miliotti

Pequena no tamanho, mas gigante no samba, Nega mede 1,55m e pesa 52kg, mas quando coloca o salto 18 e começa a sambar, vira uma gigante.

Nascida no mundo do samba, a passista Cremilda Lima, conhecida como Nega, 44 anos, entende do riscado desde criança, mas só aos 19 começou a desfilar como passista. Na Unidos da Tijuca, escola de coração, ela dedicou 14 anos da sua vida e fez shows no Rio de Janeiro e em São Paulo.

“Há três anos parei de desfilar por causa da tuberculose e não quis mais voltar à rotina de ensaios, mas tenho a minha vaga lá. Escola de grupo especial é marcação, tem que ensaiar durante a semana e eu não aguento mais. Trabalho o dia todo como copeira em um escritório, à noite vou para minha lanchonete e ainda tenho encomendas de doces e salgados. Agora me dedico só ao Gato de Bonsucesso, outra escola de coração, onde já fui rainha de bateria”, conta ela. Ela lembra que antigamente desfilava em uma escola, corria, trocava de fantasia e desfilava em outra e assim fazia todos os dias do carnaval.

Nega tem três netos e a menor já samba. O marido, Ronaldo Souza, é só elogios a ela. “Ela trabalha fora e ainda mantém a casa em ordem. Isso é uma máquina”, declara. Nega não pode escutar um batuque que começa se balançar. “Carnaval pra mim deveria ser o ano todo. Apesar de desfilar há muito tempo, todo ano parece a primeira vez”, revela ela, que mora na Nova Holanda.

Loucuras de carnaval

“Já tive bolhas nos pés e tenho algumas marcas no corpo por causa do esplendor (adereço que carrega nas costas, em geral cheio de plumas e paetês). No primeiro ano que desfilei pela Unidos da Tijuca, a bota estava com o salto mole. Eu chorava porque queria sambar. Aí o presidente falou pra eu ir só me mexendo. Mas como sambo na ponta do pé, quando eu entrei na avenida comecei a sambar, esqueci o salto mole e quando dei por mim sambei assim mesmo”, lembra.

Para Nega, as passistas são guerreiras. “Não ganhamos dinheiro para desfilar. E por mais que a gente vá direto do trabalho para o ensaio, a gente se monta, coloca um sorriso no rosto e samba a noite toda. Sou muito vaidosa e por isso eu trabalho muito para sustentar minha vaidade. Fico maquiada o dia todo. Quando vou trabalhar sem maquiagem, as pessoas não me reconhecem”, brinca.

Nega sonha em criar uma escola de passistas mirins para incentivar a continuidade do carnaval. Este ano ela só vai desfilar no Gato de Bonsucesso, “mas sempre pode aparece uma vaga em uma escola em cima da hora”, acrescenta ela.

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[toggle title=”Garotada da Maré na Sapucaí”]

Os pais que quiserem levar seus filhos de 6 a 17 anos de idade para desfilar na Sapucaí podem procurar o Tadeu Ribeiro, do Parque União. Ele está organizando um grupo para integrar a Escola de Samba Mirim Ainda Existem Crianças de Vila Kennedy.

O desfile será no dia 4, terça-feira de carnaval. Os dois ônibus que levarão a garotada sairão da Maré às 16h. Para participar, ligue para o Tadeu: 99881-0754 (Vivo) / 99164-3932 (Claro). Os responsáveis precisam autorizar a participação das crianças e adolescentes. Até 2012, Tadeu levava a garotada para a Inocentes da Caprichosos.

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[toggle title=”Por que Maria do Buraco Fundo?”]

Em visita à nossa redação, Tadeu Ribeiro nos contou a origem do apelido de Maria do Buraco Fundo, antiga moradora, já falecida, que fez história no Parque União. “Era porque ela morava num buraco. Ela cavou um buraco e cobria com chapas de lata suspensas por umas estacas.

Isso no início, bem improvisado mesmo, mas não minava água dentro quando chovia não. Ela descia o buraco por uma escada de madeira. Depois arrumaram uma casa para ela morar. As pessoas ajudavam, o mercado, os feirantes davam sobra de comida para ela manter as crianças”, revela Tadeu.

Leia sobre a história de vida de Maria do Buraco Fundo na pág. 3 da edição 48, de dezembro passado, clicando aqui:  Maria do Buraco Fundo

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