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Maré de Notícias #44

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[toggle title=”Grafite nos nossos muros”]

Jovens moradores que zeram um curso de Consciência Cidadã, em parceria com o Luta pela Paz, estão gra tando 20 muros da Nova Holanda e Rubens Vaz, entre os dias 3 e 17 de agosto. O grupo criou o projeto Cara Nova, com o objetivo de deixar a Maré mais bonita e  ainda mais consciente de seus direitos.

Os  grafites escolhidos, alguns incluindo frases simbólicas, têm como tema os direitos humanos, os protestos que tomaram conta das cidades do país e o desenvolvimento pessoal. “Nossa ideia é continuar o projeto”, conta Orlando João Lira, líder de comunicação do Cara Nova.

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[toggle title=”Jornada traz estrangeiros para a Maré”]

Muitos peregrinos caram hospedados em casas de moradores, durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho. Além disso, a Maré recebeu a visita de centenas de estrangeiros. No dia 18, 220 jovens moradores da Inglaterra, mas de várias nacionalidades, estiveram na Baixa do Sapateiro. Eles zeram uma reunião na Praça do 18 e depois seguiram para a Paróquia Jesus de Nazaré, na Rua Ivanildo Alves. Os jovens eram de um grupo da Igreja Católica intitulado Caminho Neocatecumenal.

Valdir Alves, integrante do grupo, fez questão de negar a polêmica sobre a suposta decisão da Igreja de proibir que peregrinos cassem hospedados na Maré, por ser área de risco. “Nós estamos com o espírito de acolher e temos pessoas em nossas casas”, afirmou ele, na semana do evento.

Após o encerramento, a Maré recebeu ainda cerca de 200 croatas, que zeram uma evangelização no muro da Real.

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[toggle title=”Esperança na urbanização”]

Com dois anos de mandato, a diretoria da Associação de Moradores do Conjunto Esperança vem modificando o espaço urbano. As obras de construção de quadra, reformulação de salão de festa, criação de parquinho, preservação da arborização, nova iluminação e pintura de blocos e muros são alguns pontos de mudança. A limpeza do canal e das ruas só foi possível através dos garis comunitários que trabalham todos os dias da semana. Para debater as demandas, a comunicação é primordial na transformação. Por isso, os diretores da associação costumam fazer reuniões trimestrais com síndicos e moradores.

Uma das novidades é a conservação da Rua José Moreira Pequeno, que ganhou grafites nos muros, latões de lixo e placas sobre como manter o espaço limpo. “Aqui estava abandonado. A região administrativa iniciou as melhorias, logo em seguida veio a associação e completou os avanços”, conta o comerciante Oberdan Teixeira.

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[toggle title=”Palha Italiana”]

Receita enviada por Fabíola Loureiro

Ingredientes:
1 lata de leite condensado
8 colheres de sopa de chocolate em pó
1/2 colher de sopa de margarina
1 pacote de biscoito maisena

Modo de preparar:
1- Pique o biscoito em pedaços pequenos e reserve;

2- Faça um brigadeiro com o leite condensado, a margarina e o chocolate em pó;

3- Assim que o brigadeiro começar a soltar do fundo da panela, misture o biscoito picado até formar uma massa;

4- Retire do fogo e coloque a massa numa fôrma;

5- Deixe esfriar, corte em quadradinhos e passe no açúcar re nado (nesta foto, faltava ainda colocar o açúcar);

6- Sirva à vontade.

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Maré de Notícias #43

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[toggle title=”Coleta seletiva na Maré”]

Por Hélio Euclides

Os Conjuntos Pinheiro e Esperança terão coleta seletiva de lixo doméstico e reaproveitamento dos resíduos sólidos e orgânicos. Para isso, foi desenvolvido o Programa Rever, do Núcleo de Ação Comunitária e Desenvolvimento Social (Nacodes). As duas comunidades da Maré foram escolhidas em função da logística dos blocos, que facilita a implantação da coleta seletiva.

O programa tem como prioridade fomentar reflexões e discussões sobre o ambiente, saúde, educação, integração, gestão autônoma e sustentabilidade inovadora. Participam as duas associações de moradores, os síndicos dos prédios, o grupo de idosos Amor Maior e os Jardineiros Comunitários.

“A base do trabalho é rever conceitos, pois é significativo termos um novo olhar sobre o lixo”, explica um dos organizadores, Sebastião da Silva Rodrigues. “É muito bom unir forças para beneficiar os moradores”, afirma a presidente da Associação de Moradores do Conjunto Pinheiro (Amacovipi), Eunice Cunha.

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[toggle title=”UPA Maré tem nova administração”]

Por Hélio Euclides

Viva Rio assumiu gestão prometendo diálogo com comunidade

Ao completar seis anos, a Unidade de Pronto Atendimento da Maré (UPA), na Vila do João, mudou a equipe gestora. Antes o atendimento era feito por profissionais do Corpo de Bombeiros, e desde janeiro passou para o Viva Rio Saúde, num contrato de terceirização do serviço.

“O pediatra é um diferencial e agora estamos acabando com a lacuna. Já estamos com dois profissionais”, afirmou o coordenador Roberto Simões, após uma reunião com as lideranças comunitárias do bairro, em junho. A falta de pediatra era uma das reclamações dos moradores.

Ele lembrou que, mesmo fora do horário do pediatra, é importante que o morador leve a criança doente até a UPA para uma avaliação e encaminhamento ao local adequado, se necessário com o uso da ambulância.

O Viva Rio Saúde já administra seis centros municipais de saúde localizados nos Cieps da Maré, uma unidade na Vila do João, outra no Parque União e a Clínica da Família Augusto Boal.

Equipe da UPA Maré: 4 médicos clínicos, 2 pediatras*, 1 dentista, 1 técnico de saúde bucal, 5 enfermeiros, 11 técnicos de enfermagem, 1 assistente social, 1 técnico de radiologia, 1 farmacêutico, 1 auxiliar de farmácia, 1 maqueiro, 1 enfermeiro especialista em infecção, além do quadro de apoio.

* O plantão pediátrico é de 19h de segunda até as 19h de quinta. Está aberto o processo de seleção para contratação de mais um pediatra. Informações: 2334-7830 / 2234-7832 / 2234-7834.

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[toggle title=”Fuzil: no centro da cidade não, mas na favela sim?!”]

Por Eliana Sousa Silva – Diretora da Redes da Maré e da Divisão de Integração Universidade Comunidade PR-5 – UFRJ

“Fuzil deve ser utilizado em guerra, em operações policiais em comunidades e favelas. Não é uma arma para se utilizar em área urbana”.

Este comentário foi feito pelo consultor de segurança pública Rodrigo Pimentel, durante o telejornal RJ TV 1ª edição de 18 de junho. Ele foi feito de forma natural, ao analisar a imagem de um policial militar com uma metralhadora atirando para o alto, mas na direção de manifestantes que praticavam ações violentas em frente à Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Ele ressalta o despreparo do profissional da segurança pública, chamando a atenção para o fato de que “o tiro, do mesmo jeito que vai para o alto, desce e pode atingir de maneira letal qualquer pessoa.”

A observação do atual comentarista da área da segurança pública da Rede Globo demonstra o pensamento de parte significativa da nossa sociedade, com ênfase para os governantes, sobre como as políticas públicas são idealizadas e efetivadas a partir de uma visão hierarquizada da cidade e dos cidadãos. No caso da reportagem, a afirmação de que a metralhadora não poderia ser utilizada numa cena urbana de protestos, mas na favela ou em situação de guerra sim, ilustra como o valor a vida na nossa cidade vai depender do território ou das pessoas das quais estamos falando. Afinal, o que define a diferença fundamental para o uso do fuzil, quando estamos falando de cidadãos da mesma cidade? E, ressaltese, no caso das favelas, temos cidadãos que não têm garantido o direito elementar no campo de segurança pública.

É triste precisar afirmar algo tão óbvio: que não se justifica em passeatas ou nas favelas a utilização de armas pesadas, tampouco as violências policiais características das últimas manifestações pelo país afora, e historicamente nas favelas.

Rodrigo Pimentel entrou aos 18 anos para a Polícia Militar do Rio de Janeiro. Trabalhou como capitão do Bope, durante 5 anos e ganhou notoriedade pela participação no documentário “Notícias de uma Guerra Particular” e outros filmes vinculados à favela e aos  grupos criminosos. Deixou a polícia para se dedicar ao trabalho profissional de analista de segurança pública.

O que estarrece é o fato de serem as opiniões e análises desse profissional consideradas um bom parâmetro para se entender o que acontece na segurança pública do Rio de Janeiro. É a partir de visões como a apresentada por Rodrigo Pimentel que se sedimentam juízos perversos e estereotipados sobre as favelas e quem ali reside.

Quando realizei pesquisa de doutorado em 2009 no campo da segurança pública, tive como motivação entender as práticas dos policiais militares nas favelas, especificamente na Maré. As questões ali propostas, e várias ainda me acompanham, se relacionam de maneira direta com a fala do citado comentarista.

O meu intuito e desejo como alguém que cresceu e se socializou na favela era o de construir um quadro interpretativo das práticas cotidianas presentes na Maré, em especial as violentas, que permitisse ir além das representações hegemônicas no mundo social carioca e brasileiro sobre a violência estabelecida nas favelas do Rio de Janeiro. Dessas, duas estão diretamente relacionadas com a fala de Pimentel: “Quais seriam as representações, valores, princípios e regras que têm orientado as práticas dos profissionais da segurança pública, quando se trata do trabalho junto às populações mais pobres da cidade do Rio de Janeiro?” e “As experiências e representações dominantes nas organizações do Estado, na mídia, na população em geral, estão centradas na idéia de que a única possibilidade de enfrentamento dos grupos criminosos passa, necessariamente, por uma opção sustentada em práticas também violentas?”

A fala daquele comentarista é simplesmente a expressão de uma lógica perversa, violenta e irracional disseminada na sociedade e nas forças do Estado, que enxergam a sociedade civil e as populações das favelas como “problemas” a serem eliminados e não como sujeitos de direitos que devem ser reconhecidos e respeitados.

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[toggle title=”Cursos de capacitação”]

A instituição Banco da Providência está com inscrições abertas para vários cursos gratuitos de capacitação: Cabeleireiro, Mega-hair e Entrelace; Corte e Costura, Modelagem, Costura em Malha e Lycra; Lancheiro (Doces e Salgados) e Bolos e Tortas; informática (Windows e Word, Excel, Power Point e Internet, Básico em Montagem e Manutenção de Micro Computadores. Ao final, a instituição encaminha para a agência de empregos.

As aulas ocorrerão do dia 29 de julho até 23 de agosto, às terças e quintas, de 9h às 11h30, em Realengo, mas a instituição pagará o transporte. As inscrições podem ser feitas na capela da Paróquia São José Operário, na Vila Pinheiro, na Via A1 nº120 A, às terças e quintas, com a assistente social Vânia de Carvalho Pinto (tel.: 8578-0628).

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Maré de Notícias #42

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[toggle title=”O último barraco construído no Parque Maré”]

Moradora conta vários episódios vividos por ela, até mesmo do tapa que levou do então marido. Ela revidou bravamente, mas acabou passando uns dias na cadeia

Por Fabíola Loureiro

Maria Luiza Souza da Silva, de 78 anos, nasceu no Espírito Santo e veio para o Rio de Janeiro com dois anos de idade, indo morar em Pureza, distrito de São Fidélis, no norte do estado. A capixaba conta que já adulta morou um tempo em Manguinhos com o marido, Realino Lucas, e na década de 1960 mudou-se para a Maré. “Quando cheguei aqui, logo comecei a trabalhar como empregada em casa de família para ajudar na renda mensal. Aqui não tinha casa de tijolos, apenas barracos de madeira, uns maiores e outros menores, mas tinha bastante morador”.

Quem organizava a favela nessa época era o mineiro Manuel Virgílio, líder da Associação do Parque Maré, conhecido como Manuel da Foice por sempre estar com uma foice amarrada na cintura. Ele liberou um espaço para o casal construir um barraco de madeira. Segundo Maria Luiza, este barraco foi o último a ser erguido, pois logo em seguida começou a construção da Nova Holanda.

Um episódio marcante na vida de Maria Luiza foi quando seu marido lhe deu um tapa no rosto e ela revidou, fazendo-lhe um pequeno corte com um canivete. Seu Realino foi para o hospital e ela passou oito dias presa. Depois disso eles se separaram, o marido vendeu o barraco e foi embora levando seus dois filhos juntos. Passado algum tempo, Maria conheceu Antônio Pereira da Silva, que era cunhado de uma vizinha sua. Com ele teve sete filhos e se casou depois de estarem 24 anos juntos. Após o casamento ficaram mais oito anos juntos até Antônio falecer, em 1997. “Entre mortos e feridos, tive quase uns vinte filhos”, conta.

Mudança no nome

Outra história curiosa é que, ao nascer, Maria Luiza, na verdade, recebeu o nome de Cionilia, escolhido por sua mãe. Porém, ao crescer, ela não gostava desse nome porque as pessoas não conseguiam falar corretamente.Aos 8 anos, Maria Luiza perdeu sua mãe e conta que foi trabalhar como escrava numa fazenda em Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio. Ela lavou louça e limpou o chão em troca de comida durante cinco anos, até conseguir fugir, recebendo abrigo na casa de um casal italiano. Já adolescente, gostava de sair para pescar com as amigas: “Na roça minha vida era pescar. Eu adorava e só pescava peixe grande!”.

Como não tinha sido registrada quando criança, foi preciso preparar a documentação para poder se casar com Antônio. Assim, ela teve a oportunidade de sugerir o nome que gostaria de ser chamada: Maria Luiza.

Há 53 anos na Maré, ela conta que, ao chegar aqui, encontrou o problema da falta d’água. Somente na década de 1980 é que a água encanada chegou para todos. “Tinha uma bica na Teixeira Ribeiro aonde todos os moradores iam com a lata para encher de água. O presidente da associação responsável por providenciar isso foi o Manolo. Ele foi de casa em casa saber quem queria ter água encanada. Lembro que fui a primeira a receber a água. Foi num dia de sábado de Aleluia”, lembra, orgulhosa.

Maria Luiza é uma das entrevistadas pelo Núcleo Memória e Identidade da Maré (Numim), projeto da Redes que lançará em breve o segundo volume da Série Tecendo

Redes de Histórias e Memórias da Maré. O primeiro foi sobre a Nova Holanda. Este será sobre o Parque Maré e sobre o Morro do Timbau. Um dos princípios do projeto é valorizar a história da comunidade a partir da vivência dos moradores (para saber a data do lançamento, acompanhe o facebook da Redes: /redesdamare ou o site: www.redesdamare.org.br).

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[toggle title=”O Troca de vivências”]

Seminário de Educação na Maré contribuiu para ampliar o debate pela valorização da escola pública nas 16 comunidades locais

Por Aramis Assis

Debates sobre qualidade do ensino, educação integral, segurança pública, além de muita troca de experiências, marcaram o III Seminário de Educação da Maré: Compartilhando Saberes e Vivências, que aconteceu em 25 de maio, no Campus da UFRJ (Ilha do Fundão). O evento reuniu professores, diretores, coordenadores pedagógicos, profissionais da área de educação, além de moradores e demais interessados. O objetivo comum dos 130 participantes é contribuir para a valorização da escola pública no conjunto de favelas da Maré.

 O seminário, que ocorre desde 2009, vem contribuindo para a ampliação de debates necessários para a construção do enfrentamento, de maneira partilhada, dos desafios presentes na nossa realidade educacional.

Julia Ventura, uma das coordenadoras gerais do Programa Criança Petrobras na Maré (PCP Maré), que promoveu o evento, ressaltou como aspecto positivo a qualidade dos debates e o envolvimento dos participantes. “O seminário deixou claro que existe um forte potencial reflexivo e de ação entre os profissionais de educação atuantes na Maré. Este é um potencial que precisa ser constantemente incentivado e aproveitado, diante do desafio de construir uma educação pública de qualidade na região. Por isso, para as próximas edições do evento, precisamos estabelecer estratégias que tornem possível a participação de um maior número de professores, num contínuo desenvolvimento deste processo da mobilização coletiva destes atores”, avaliou Julia.

A programação contou com diversos profissionais convidados, entre eles Ana Maria Cavaliere (UFRJ) e Marcelo Burgos (PUC-Rio). Ana ampliou a concepção da educação integral ao explicar a sua não relação, necessariamente, com o tempo integral, já que o real significado desse termo está no preparo do aluno para todas as experiências socioculturais da vida.

Eduardo Fernandes, coordenador da IV Coordenadoria Regional de Educação,(CRE), da Secretaria Municipal de Educação(SME), participou da abertura do seminário e falou sobre o problema de segurança pública nas escolas locais, que têm sofrido com a falta de aulas e incursões policiais abusivas devido às operações Pré-UPP. Eduardo afirmou que a CRE interfere quando as incursões policiais atrapalham o andamento das escolas. “Foi pedido para que as operações não acontecessem nas escolas ou pelo menos não no horário de aula. A polícia disse que atenderia nosso pedido e realmente durante um período não aconteceu, mas depois as operações voltaram a acontecer nas escolas e reincidiu a parada do caveirão na porta delas”, explicou.

O seminário contou ainda com apresentações culturais, com o espetáculo Tempo Vago, da Cia de Teatro Balões, e do Marefestação, do PCP Maré. Professor há apenas três meses na Maré, pelo projeto Educação pela Paz, Maxwill Braga disse ter se sentido motivado com a apresentação do Tempo Vago, que expôs as frustrações dos alunos dentro de sala de aula. “O aluno deve ter espaço para construir a aula junto com o professor”, defendeu ele.

A troca de experiências e o contato entre os atores educacionais foram os aspectos mais valorizados pelos participantes, para que se possa construir uma escola preparada a pensar a educação, seus alunos, suas famílias e sua vizinhança – uma escola que pense o coletivo e o aluno como sujeito de sua história. Muitos dos presentes defenderam a continuidade de encontros que gerem novas possibilidades de ações e discussões, para que cada vez mais profissionais sejam envolvidos, juntamente com o apoio da IV CRE.

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[toggle title=”O lado A e o lado B da UPP”]

Pesquisador da Uerj avalia os aspectos positivos das UPPs e os muitos desafios existentes

Por Thais Herdy / Anistia Internacional

O coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e (LAV-Uerj), Ignacio Cano, tem uma ampla visão do processo de instalação das UPPs. Ao liderar a pesquisa “Os donos do morro: uma avaliação exploratória do impacto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro”, ele teve acesso aos índices que determinam sucessos e dificuldades, desafios e possibilidades, do que ele chama de “projeto” das UPPs. Para ele, o sucesso global do projeto passa pela transformação das políticas de segurança, saindo da visão de que estamos em uma “guerra” para uma visão da polícia como prestadora de serviços.

Maré de Notícias: Gostaria que o senhor destacasse os principais pontos do estudo?

Ignacio Cano: Um fator a se destacar é que há uma redução muito importante no número de homicídios nas áreas onde as UPPs foram instaladas. Houve uma diminuição drástica das mortes violentas, uma redução dos roubos e um aumento dos registros de crimes não letais, como ameaças, lesões, estupros, desaparecimentos etc.

Maré: E a que são atribuídos esses resultados?

Ignacio: A diminuição das mortes a gente atribui ao fim da disputa pelo território. A própria polícia não faz mais operações nos moldes tradicionais, tanto é que, de todas as ocorrências, a que mais cai é justamente a morte por intervenção policial. O aumento do registro de outros crimes é atribuído a dois fatores. Primeiro, as pessoas que nunca denunciaram um crime na delegacia porque tinham medo, agora fazem isso. Segundo, a ausência da figura do “dono do morro”, que era uma autoridade violenta e que punia com a morte ou com expulsão qualquer pequeno crime, também pode estar contribuindo para o aumento desses outros crimes menos graves. Além disso, há um impacto na redução da criminalidade no entorno das comunidades.

Maré: Ainda existem muitos desafios?

Ignacio: Quando você avalia o projeto das UPPs em seu conjunto, você obviamente verifica muitos desafios a serem superados. O sucesso global do projeto passa por dois elementos: um é a possibilidade de transformar as políticas de segurança, mudar a tradição de “guerra ao crime” e “guerra ao tráfico” para uma política de polícia como serviço. É um desafio muito grande. A outra possibilidade, e é uma recomendação que fazemos em nosso relatório, é de que as próximas UPPs sejam criadas em áreas com alta letalidade. Mas não foi isso que aconteceu. As áreas mais violentas do estado, como a Baixada Fluminense e a Zona Oeste, ficaram em segundo plano até agora. O projeto privilegiou as áreas centrais, de classe média alta.

Maré: E a relação da polícia com os moradores?

Ignacio: Nós detectamos que a relação entre polícia e comunidade em geral melhora com a instalação da UPP, mas há muita diferença entre uma e outra, não é linear. Em algumas UPPs a relação é boa, em muitas há certa distância.

Maré: E por que, em sua avaliação, a polícia continua agindo desta maneira?

Ignacio: Existem setores dentro e fora da corporação que ainda acreditam que policiamento se faz trocando tiros, que tem que fortalecer a guerra contra o tráfico, contra o crime. Mudar isso é difícil. Os policiais em geral acham que o policiamento comunitário não é policiamento de verdade. Há resistência no mundo inteiro, muito mais aqui que nós temos esse histórico da polícia voltada para a guerra. A UPP ainda é um projeto de fora para dentro e de cima para baixo, e os moradores não sentem, com toda razão, que a UPP seja a polícia que eles desejam.

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Maré de Notícias #41

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[toggle title=”Com o pé na porta”]

Ações da polícia geram prejuízo aos moradores

Por:  Silvia Noronha

As incursões policiais, que ocorrem quase diariamente na Maré desde março, atingem sobretudo o direito de ir e vir dos moradores e trabalhadores locais. Uma das principais consequências recai sobre crianças e adolescentes, que vêm ficando sem aulas a cada operação. No dia 2 de maio, uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque fez moradores reviverem o terror de ter suas casas invadidas pelos próprios policiais.

Em pelo menos quatro casas, os moradores tiveram prejuízos materiais, entre eles o fotógrafo Ubirajara Carvalho, o Bira, que é cadeirante e teve sua câmera fotográfica destruída, e o professor de geografia da Redes, Bruno Paixão. Os demais preferiram não se identificar; um deles sofreu agressões físicas. Os casos foram denunciados e, no dia seguinte, um perito e um delegado da 21ª DP estiveram na Maré para averiguar os fatos. A Corregedoria da Polícia Militar ficou de investigar os policiais denunciados e a Defensoria Pública deve entrar com ação contra o Governo do Estado.

Na casa de Bruno, quando ele disse aos policiais que a ação dentro de sua casa, sem mandado de busca e apreensão, era ilegal, o PM respondeu que isso era “discurso de direitos humanos”.

Esse tipo de atitude, ainda comum, foi uma das razões que levou ao desenvolvimento da campanha “Somos da Maré e Temos Direitos”, pela Redes da Maré, Observatório de Favelas e Anistia Internacional. A campanha continua nas ruas, com a distribuição de material informativo sobre os direitos dos moradores e como proceder em caso de violação.

As três instituições também decidiram acompanhar a fase Pré-UPP na Maré, por meio de registros do que vem ocorrendo. Leia essas matérias do site da Redes: www.redesdamare.org.br, na aba: Maré Pré-UPP.

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[toggle title=”Atividades no Centro social do Parque União”]

O Centro Social Tecno Boxe, que funciona no antigo escritório da Tecno Calha, fábrica de telhas, no Parque União, oferece a alunos dos 7 aos 18 anos aulas de jiu-jitsu, MMA, luta livre, capoeira, teatro, break dance e violão. Para a terceira idade, há dança de salão e ginástica. Há ainda uma academia de musculação para os jovens.

“Fui lutador amador; o esporte mudou a minha vida e pode mudar a de muitos. É por isso que desejo o projeto ainda maior, incentivando os jovens para um futuro através do esporte”, diz o presidente do centro, Francisco Braz, que reclama apenas da falta de patrocínio. A renda vem de um estacionamento no subsolo e de pequenos comerciantes que abraçaram a ideia. As aulas são gratuitas, menos a musculação (de R$ 35 a R$ 40). Fica na Av. Brigadeiro Trompowski, 200. De 2ª a 6ª feira, de 18h às 23h. Tel: 7833-7084 e 9610-4518.

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[toggle title=”Xô vans na zona sul”]

Passageiros ficam sem transporte alternativo

Por:  Hélio Euclides

Desde 15 de abril, a cidade do Rio de Janeiro ficou sem um meio de ligação direta entre as zonas norte e sul. A prefeitura proibiu a circulação de vans e kombis pelos bairros da zona sul, deixando muitos passageiros sem transporte direto, precisando pegar dois ônibus para chegar ao trabalho.

“Não temos condução; só há ônibus para a zona sul bem cedo e ficamos abandonados durante o restante do dia. Só nos resta a baldeação”, conta Michele Santana. Segundo o coordenador da linha 484 do Parque União, Amilton Gomes, a decisão afetou mais de 4.000 passageiros que circulavam nessas 21 vans.

O transporte alternativo era a única possibilidade de ligação do Parque União para Copacabana e bairros próximos. Moradores e trabalhadores de Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré também utilizavam as vans. De dentro da Vila do João também existia uma linha até Copacabana. Desde abril, os moradores precisam andar muito até a Avenida Brasil e lutar para conseguir um lugar no ônibus, que costuma passar lotado nos horários de rush.

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Maré de Notícias #40

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[toggle title=”A segurança com a qual sonhamos”]

Atila Roque – Diretor Executivo, Anistia Internacional Brasil

O sistema de segurança e justiça no Brasil permanece profundamente marcado por uma noção de controle social voltada basicamente para a criminalização das populações pobres e negras, em particular dos jovens meninos e adolescentes residentes nas favelas e periferias de nossas cidades. Para esses jovens, o encontro com o agente de segurança quase sempre resulta em violência e, muitas vezes, em morte.

Os dados de homicídios provocados por policiais no Brasil se encontram entre os mais altos do mundo. A superação desse estado de coisas e a promoção de uma reforma profunda no sistema de segurança brasileiro permanece como uma das tarefas inacabadas da transição democrática.

O déficit de confiança existente entre as polícias e as populações das favelas corrói a legitimidade do Estado e precisa ser enfrentado em toda a sua complexidade, se quisermos dar um salto de qualidade no sentido da construção de uma política de segurança que seja expressão de um pacto efetivo para a realização de direitos e não instrumento de sua violação. Para isso é essencial a plena participação dos moradores e um diálogo amplo com o restante da cidade.

A ocorrência cada vez mais frequente de conflitos e mortes nas favelas ocupadas pela polícia tem deixado bem claro que a janela de oportunidade aberta com a experiência das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) começa a se fechar muito rapidamente. As práticas policiais nas favelas “pacificadas” não estão conseguindo superar um conceito original de “ocupação” profundamente marcado por uma concepção de cidade que não inclui a favela como parte de uma comunidade de direitos a ser compartilhada integralmente por todas as pessoas que nela residem, sem exceção.

O que temos visto é a persistência de uma narrativa de guerra que demarca os territórios de favelas como espaços a serem retomados de um exército inimigo (o tráfico), ocupados pela polícia e pacificados. As populações seriam, nessa versão, expectadores passivos desse esforço “liberador”, testemunhas “bestializadas” da história, como se disse uma vez do povo em relação a Proclamação da República.

A perspectiva de instalação, em breve, de uma UPP no conjunto de favelas da Maré deu origem à parceria inovadora entre a Redes da Maré, o Observatório de Favelas e a Anistia Internacional, com o objetivo principal de garantir o protagonismo dos cidadãos e cidadãs residentes neste território, na garantia de seu direito fundamental à segurança pública.

A campanha “Somos da Maré e Temos Direitos” é um resultado importante nessa colaboração e deu prosseguimento a um processo de reflexão que já vinha em curso sobre o papel da cidadania ativa, especialmente das populações de favelas, na construção de uma política de segurança consistente com os princípios fundamentais dos direitos humanos. É preciso aproveitar o momento atual para ampliar a conversação sobre a segurança pública com a qual sonhamos para o Brasil e para o Rio de Janeiro. As favelas não constituem territórios de “exceção” de direitos, conflagrados”, onde tudo é permitido em nome da “pacificação”.

As pessoas que aqui vivem exigem ser protagonistas plenos de um projeto de cidade que tenha a segurança pública como um direito fundamental de todas as pessoas, sem distinção do lugar onde residem. Um sistema de segurança pública que provoque orgulho nos profissionais que nele atuam e confiança nos cidadão e cidadãs que dele se beneficiam.

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[toggle title=”Prefeitura volta a dialogar com associações de moradores”]

Por Silvia Noronha

O vice-prefeito do Rio, Adilson Pires, assumiu o compromisso de retomar os encontros com os presidentes das associações de moradores, para dialogar e estabelecer prazos de execução das demandas locais. Em 25 de março, Adilson participou da reunião do coletivo A Maré que Queremos, na Nova Holanda. O projeto reúne os presidentes das 16 associações, em parceria com a Redes da Maré.

Em maio do ano passado, o prefeito Eduardo Paes já havia participado de uma reunião do grupo. Na ocasião, ele recebeu o documento elaborado pelo coletivo com propostas estruturantes para a melhoria da qualidade de vida nas favelas do bairro.

“Proponho retomar o documento para apresentar o prazo das ações e assumir um compromisso com data, com prazo para as coisas acontecerem aqui”, declarou o atual vice-prefeito. O coletivo ficou de atualizar as propostas para marcar uma nova reunião ainda neste mês de abril. “A prefeitura tem entendimento da importância da Maré no contexto da cidade”, frisou Adilson.

Mais garis nas ruas

Um dos problemas estruturais já discutidos na reunião foi a coleta de lixo. O diretor de Serviços da Comlurb, Luis Guilherme Gomes, adiantou que irá aumentar gradativamente o efetivo da companhia na Maré. Segundo ele, atualmente são 36 garis da Comburb e 72 comunitários, sendo 68 na ativa e quatro de licença.

De acordo com ele, o número ideal é um gari para cada mil habitantes. Na Maré, portanto, deveria haver um total de 130, se considerarmos o Censo do IBGE, que indicou a existência de 130 mil moradores. Entretanto, o Censo Maré, cujos dados estão sendo tabulados, deve revelar uma população local maior.

Luis Guilherme lembrou que a contratação de garis comunitários foi questionada pelo Ministério Público do Trabalho. Mesmo contrariada, a prefeitura deverá ser obrigada a substituí-los.

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[toggle title=”Plantando o futuro na escola”]

Crianças do Ciep da Vila do Pinheiro preparam horta e debatem sustentabilidade

Por Aramis Assis

Temas como água, lixo, saúde alimentar, agricultura urbana, energia e sustentabilidade são abordados com pais e alunos do Ciep Ministro Gustavo Capanema, na Vila do Pinheiro, primeira escola da Maré a receber a oficina de educação ambiental do Programa Criança Petrobras na Maré (PCP Maré).

Coordenada por Julia Rossi e Renato Paquet, a oficina foi inaugurada coletivamente, no final do ano, com a preparação de uma horta, instalada no espaço ao lado do refeitório da escola. O local está sendo utilizado como ambiente didático para os alunos explorarem a sensibilidade por meio do manejo da terra e do cheiro das plantas, além de estimular o debate sobre alimentação saudável.

Todos os envolvidos participam da manutenção da horta, cuja produção será utilizada nas refeições preparadas no Ciep. O material orgânico não aproveitado, como as cascas, será depositado em um minhocário para a produção de húmus.
Julia Rossi explica que “o trabalho busca a transformação social, pretendendo aguçar os sentidos dos alunos para transformações sustentáveis dentro dos seus espaços, como a casa e a escola”.

Outras ideias sustentáveis serão colocadas em prática. A proposta de construir um bosque na escola, por exemplo, reforça o desejo de Fernanda da Silva, de apenas 7 anos. “A escola tem pouca árvore, pouca sombra; tem que plantar mais árvores e flores”, defende.

O Ciep Gustavo Capanema já possui um histórico de trabalho com os temas ambientais. Há alguns anos a escola tem se mobilizado para conscientizar a comunidade acerca da questão do lixo, que era abundantemente depositado nos entornos da instituição. O movimento envolveu toda a comunidade, produziu bons resultados e desde então o tema foi integrado no programa da escola.

Assim, a entrada da oficina no Ciep está sendo muito bem recebida, como afirma Gisa Gonçalves, coordenadora pedagógica da escola: “A oficina vem como um grande apoio e um complemento ao nosso plano pedagógico”.

Educação ambiental nas escolas

Desde a Lei nº 6938, de 1981, diversas propostas tentam estabelecer a educação ambiental como disciplina a ser ministrada em todos os níveis de ensino. A lei, no entanto, nunca foi efetivada. Com a Rio + 20 – Conferência de Meio Ambiente, realizada no ano passado, no Rio –, a discussão sobre capacitação e percepção das crianças e jovens para as causas ambientais se tornou mais comum. É nesse contexto que a oficina quer atuar, por meio de metodologias que contribuam para futuros jovens e pais mais críticos e

atuantes em prol das causas ambientais.

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[toggle title=”Cultura e educação que atravessam a cidadania”]

De 13 de abril a 23 de junho acontece a segunda edição da exposição de arte contemporânea “Travessias”. O público, além de visitar a exposição, poderá participar de oficinas e encontros com personalidades de diversas áreas para discutir arte, cultura e vida contemporânea.

Por Rosilene Miliotti

O projeto “Travessias” tem o objetivo de incorporar a favela da Maré e seus moradores no mapa das artes visuais, evidenciando o papel do artista e da arte contemporânea em um processo de integração urbana e estética. “O Travessias é mais do que uma exposição de arte, é um projeto educacional. Cultura e educação são a base para a construção da cidadania”, explica Felipe Scovino, um dos curadores da exposição, crítico de arte e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Realizada pelo Observatório de Favelas e pela Automática, com patrocínio da Petrobras e da Secretaria Municipal de Cultura e parceria da Redes da Maré, a exposição tem como curadores Felipe Scovino e o artista plástico Raul Mourão, que reuniram dez artistas pela qualidade de suas obras e pelo poder de transformação: Arjan Martins, Cadu, Carlos Vergara, Ernesto Neto, Daniel Senise, Lucas Bambozzi, Luiza Baldan, Marcelo Silveira, Ratão Diniz e Vik Muniz.

“Participar dessa exposição enriquece tanto o público quanto os artistas. Todos estão muito felizes com o convite. Há uma expectativa do lado dos artistas sobre quem vai ver suas obras, se vão gostar ou não. Os trabalhos que serão expostos são inéditos ou significativos”, comemora Felipe.
O único artista da Maré é o fotógrafo Ratão Diniz, do Imagens do Povo. Felipe diz que ele é um ótimo artista. “Sempre desejei expor as produções fotográficas nas favelas que acompanho de perto, ainda mais aqui na Maré, minha casa. Essa é uma forma de eu dar o retorno aos fotografados. Nesse sentido, o Travessias caiu como uma luva”, comenta Ratão.

As fotos que estarão expostas são uma tentativa de traduzir um pouco do cotidiano da favela, representado através da cultura popular. “O que pretendo mostrar é a busca pela minha identidade, o reencontro de muitos momentos que fizeram parte da minha infância. Quero muito dialogar com o público, discutir assuntos que envolvem nosso cotidiano, mas cada um terá sua visão a partir da sua necessidade, seu posicionamento político, seu olhar; assim é a arte”, explica Ratão.

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Maré de Notícias #39

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[toggle title=”Jorginho é bom”]

Músico da Maré faz sucesso por todo o Rio

Por Fabíola Loureiro

José Jorge Teixeira, de 57 anos, o Jorginho de Bonsucesso, é um sambista nato. Quando era pequeno, sua mãe cantava nos coretos das praças em Minas Gerais e Jorginho fazia paródias e poesias na escola, o que deixava sua antiga professora de Português admirada.

Aos 12 anos, Jorginho veio para o Rio de Janeiro, onde morou em um barraco na Rua Almirante Tamandaré, no Parque Maré, e atualmente vive na Vila do João. Seu primeiro CD foi com o Grupo Comunicasamba e contou com a participação do pandeirista Merildo Peçanha e outros bambas do samba, todos moradores da Maré. Além de cantor, Jorginho toca cavaquinho e há 30 anos é compositor da GRES Estação Primeira de Mangueira.

Durante a semana, o cantor trabalha como torneiro mecânico, mas nos fins de semana sempre faz shows. Costuma marcar presença nas rodas de samba dos grupos Já é e Lá Samba, na Maré, dando uma “canja”. Nas noites de quinta-feira canta no Sublime Relicário, que fica na Lapa; e às sextas, no restaurante Severina, em Laranjeiras.

“Meu estilo musical é o samba e minhas músicas falam do dia-a-dia da população. Tenho feito show todas as sextas no Severina e lá são vendidos os meus CDs. Sambista eu sou desde sempre, mas com 13 anos eu comecei a escrever letras de músicas e não parei mais. O meu terceiro CD está bem eclético, com sambas homenageando a Mangueira, músicas que falam do nosso cotidiano e uma até que fala sobre a Região dos Lagos. Também já está sendo vendido, mas estou vendo um local para fazer o lançamento oficial”, conta o sambista.

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[toggle title=”Da lata para o livro”]

Fotografia e literatura são os fios condutores do projeto Mão na Lata, que lança seu segundo livro. A obra reúne fotos e textos produzidos por 15 jovens da Maré

Por Rosilene Miliotti

Uma lata com um pequeno furo, fita isolante e histórias para ler e narrar. Fonte de inspiração, os contos de Machado de Assis serviram de base para compor o ensaio fotográfico e as narrativas próprias. O resultado é uma leitura particular do Rio de Janeiro de hoje e o Rio de Janeiro que um dia abrigou Machado e suas histórias no livro “Cada dia meu pensamento é diferente”.

Jonas Willami Ferreira, 15 anos, responsável pela frase-título do livro, diz que “cada dia não sou eu, sou eus. Cada dia eu me sinto único. Quando abro os olhos pela manhã, ouço o silêncio dos meus pensamentos”.

“Queríamos um título capaz de ressaltar a qualidade cambiante do pensamento reflexivo, conquistado pelos alunos, após um prolongado processo de  criação”, explica a fotógrafa e designer Tatiana Altberg, coordenadora do projeto Mão na Lata.

Além de registrar em fotos os locais citados na obra de Machado de Assis, o projeto une literatura, fotografia, geografia urbana, história, pesquisa e arte, dando ao leitor a oportunidade de viajar no tempo e no espaço e conhecer a dinâmica de uma cidade e de uma sociedade que se desenvolvem em ritmo acelerado.

“Os meninos vão aprendendo a pensar as histórias e a gostar de seus personagens, sem se dar conta disso. Construir imagens faz com que eles se envolvam de tal maneira que a resistência em relação à leitura é quebrada aos pouquinhos, e nesse lugar nasce o gosto pela criação, ao invés do medo da prova”, comemora Tatiana.

“Machado de Assis trabalha de um modo imperceptível, como uma formiguinha, não entrega tudo”, diz Juliana de Oliveira, 14 anos. Já Nicole Cristina da Silva, 12 anos, define sua experiência com a fotografia dizendo que “o bom da câmera é que a gente escolhe a nossa janela”.

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[toggle title=”Mães artesãs da Maré”]

Conversas, trocas, risos e artesanato unem mulheres que aproveitam material reciclado para produzir peças criativas

Por Fabíola Loureiro

Com o objetivo de trabalhar a auto-estima das mulheres da Maré e proporcionar geração de renda para as participantes, foi criado em julho de 2010 o projeto Mães da Maré, que desenvolve técnicas artesanais para produzir bijuterias indígenas, crochê e peças com aproveitamento de garrafas pet e tampinhas de plástico. Atualmente o projeto é formado por oito mulheres. Este ano, o grupo foi o responsável por confeccionar os ornamentos (colares e cocares) da comissão de frente da Mangueira para a Sapucaí.

A coordenadora do projeto, Twry Pataxó, explica que o grupo não é apenas uma sala de artesanato, mas também um local de conversas, terapia e troca de experiências. “Muitas mulheres chegam sem saber nada e no grupo aprendem um pouco de cada técnica. Contamos piadas, rimos, choramos. Nos encontros as mulheres despertam para o mundo, como foi o caso da Kelly, que era apenas dona de casa, mas sentiu necessidade de voltar a estudar e foi fazer o Curso Pré Vestibular na Redes”, afirma.

Maria Silvina de Oliveira, 58 anos, moradora do Parque Rubens Vaz, participa desde o início do projeto. Ela conta que na época estava desempregada, ficava em casa sem fazer nada e não achava trabalho por causa da idade. Não sabia fazer nada de artesanato, mas viu alguns trabalhos prontos e teve vontade de aprender.

“Estava quase entrando em depressão por causa dos problemas, mas ao vir para o grupo comecei a ficar animada, pois a convivência com as mulheres é muito boa, a gente brinca e se alguém pensa em desistir a gente ajuda a perseverar. O artesanato não dá muito lucro. A gente vai atrás de tecido, garrafa, tampa e tudo que pode ser reaproveitado. Tem que saber fazer direito, caprichado, pois artesanato é algo que dá trabalho de fazer”, disse Maria.

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[toggle title=”Sem saída”]

Roquete Pinto pede passagem em direção ao centro da cidade

Por Silvia Noronha

Roquete Pinto perdeu uma importante via de saída, que dava acesso rápido à Avenida Brasil em direção ao centro. É que a Rua Santo Adalardo, que contorna a comunidade, virou mão única, servindo somente a quem vem da Ilha do Governador em direção à zona norte. O contrário não é mais permitido desde outubro, quando a prefeitura revitalizou a via. Com o asfalto liso e o trânsito em mão única, os veículos passaram a trafegar pelo local em alta velocidade. Para piorar a situação, não há como chegar à Escola Municipal Tenente General Napion sem atravessar a rua, que não tem sinal ou quebra – molas em toda a sua extensão.

“Tem gente que se arrisca. Às vezes vem um caminhão atrás do outro, fico até 10 minutos esperando. Depende do dia. Os  carros correm muito”, conta o adolescente Rodrigo Jhallys, estudante da General Napion. Seu colega Vanderson Simão da Silva também não gosta de enfrentar o trânsito. “Mas não tem como escapar. Tenho que atravessar”, conta ele.

Altemir Cardoso, presidente da Associação de Moradores de Roquete Pinto, faz um apelo à prefeitura para que, ao menos, instale sinal de trânsito na via. Mas o que ele reivindica mesmo é uma via de acesso rápido à pista da Av. Brasil em direção ao centro. “Peço à prefeitura que analise a situação, pois atualmente damos uma volta enorme. Precisamos sair em direção à zona norte, pegar o elevado da Penha e a Av. Lobo Júnior para então acessar o outro lado da Av. Brasil. Não tem outro caminho. Além disso ficou impossível chegar rapidamente ao Hospital Federal de Bonsucesso”, preocupa-se ele.

No final do ano, os moradores tiveram que implorar aos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) para passar por dentro do antigo 24° Batalhão de Infantaria Blindada (BIP). É que duas crianças haviam sido atropeladas dentro da comunidade e os moradores queriam chegar rápido ao hospital para socorrer as meninas.

Por falar em Bope, o batalhão deve migrar totalmente para Roquete Pinto no meio do ano. Com isso, moradores que estavam construindo casas de alvenaria coladas ao muro da unidade foram impedidos de continuar suas obras. São 32 casas ameaçadas de demolição. “Estamos lutando pela permanência de todas as casas”, defende Altemir.

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