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ARTIGO: IBGE volta a usar termo favela, entenda o olhar de Letramento Racial Favelado

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IBGE volta a usar termo favela no censo após 50 Anos

Por Flavinha Cândido*

Em um marco histórico, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou a retomada do uso do termo “favelas e comunidades urbanas brasileiras” no Censo. Essa mudança encerra um período de cinco décadas em que expressões como “aglomerados urbanos excepcionais” eram utilizadas. Essa decisão, anunciada na última terça-feira (23), surge não apenas como uma mudança de termo, mas como um reconhecimento da importância de dar voz e visibilidade a localidades historicamente marginalizadas.

A decisão do IBGE é, em grande parte, uma resposta à demanda dos próprios moradores dessas localidades. O retorno do uso do termo “favela” está ligado à reivindicação histórica por reconhecimento e identidade dos movimentos populares que há décadas clamam por uma representação autêntica e respeitosa de suas realidades. Essa mudança é mais do que um ajuste linguístico; é um ato político que ressoa com o poder da autodefinição.

Ao incorporar o complemento “comunidades urbanas”, o IBGE não apenas reconhece a diversidade de terminologias adotadas por esses locais, mas também evidencia uma abordagem inclusiva que reflete uma compreensão sensível da multiplicidade de experiências presentes nessas áreas urbanas. Essa mudança de perspectiva não se limita apenas a uma questão de nomenclatura; ela representa um reconhecimento genuíno da riqueza cultural e da identidade dessas comunidades.

No contexto do letramento racial, essa decisão do IBGE ganha ainda mais relevância. Termos como “favela”, agora abordados com um sentido mais respeitoso, têm sido objeto de ressignificação por líderes e intelectuais que emergem desses territórios historicamente negligenciados. A Deputada Renata Souza, defensora dos direitos sociais, destaca que “chamar esses lugares pelo nome que seus moradores reconhecem é um ato de respeito e reconhecimento da sua existência e cultura”. 

A jornalista Gizele Martins, ao evidenciar a relação entre negação de nome e violência simbólica, enfatizou: “Negar o nome é uma forma de apagar a memória, é uma violência simbólica que perpetua estigmas e desigualdades”. Essa compreensão profunda da influência da linguagem na construção de narrativas destaca a razão pela qual essas lideranças têm se dedicado a empoderar a linguagem, recusando-se a aceitar narrativas estigmatizadas e insistindo na redefinição das favelas como espaços de potência e resiliência.

A Escritora Carolina Maria de Jesus, conhecida por seu diário impactante, enfatizou a importância da reivindicação dos humildes: “Escrevo para que aqueles que já foram humilhados se orgulhem de sua vida. (…) Aqui começa a reivindicação dos humildes, aqui começa a valorização dos humilhados. E é uma revolução”.

A saudosa Vereadora Marielle Franco, cuja voz continua a ecoar, proclamou: “A favela não é só ausência de direitos, é território de luta e resistência”. Suas palavras destacam que as favelas não são apenas espaços geográficos, mas verdadeiros centros de cultura, resistência e identidade.

Eliana Sousa e Silva, diretora e fundadora da Redes da Maré, também destaca a necessidade de reconhecimento, ao afirmar: “Chamar esses lugares de favelas é um reconhecimento da riqueza de suas histórias e de seus moradores”. Essa citação ressalta a importância de honrar a identidade e história dessas comunidades ao utilizar termos que refletem suas próprias autodefinições.

As falas destas mulheres, Faveladas, ecoam e refletem o poder transformador dessas vozes influentes, que não apenas rejeitam a estigmatização imposta, mas também trabalham ativamente para redefinir a narrativa das favelas. Elas desempenham papéis cruciais no processo de empoderamento da linguagem, desafiando as estruturas de poder existentes e contribuindo para a construção de uma narrativa mais justa e inclusiva para as comunidades historicamente marginalizadas.

Ao dar protagonismo às vozes dessas lideranças, podemos compreender a favela não apenas como um espaço geográfico, mas como um locus de resistência, cultura vibrante e mobilização política. A resignificação do termo é um ato de empoderamento que desafia estereótipos arraigados, convidando-nos a reconhecer a complexidade e a riqueza dessas comunidades.

Neste cenário de mudanças linguísticas e reivindicações de identidade, o IBGE não apenas atualiza seu léxico, mas também participa de uma narrativa mais ampla de empoderamento e reconhecimento. Respeitar a autodefinição dessas comunidades é uma forma de letramento racial favelado, uma oportunidade de ampliar nossa compreensão coletiva e construir uma sociedade mais justa e inclusiva.

*Flavinha Cândido é idealizadora da pagina Letramento Racial Favelado, professora de Língua Portuguesa e Literaturas Pré vestibular Comunitário Estudando Pra Vencer, formada em Letramento Racial no Instituto Ayó e Assessora Parlamentar.  

Alegria, afeto e política como estratégias para empoderar mulheres LGBTQIAPN+

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Indo na contramão das narrativas que não apuram a vivência das pessoas LGBTQIAPN+ e trazendo o conceito de escrevivência da escritora Conceição Evaristo como referência, precisamos falar da resistência da comunidade que se expressa dentro e fora do conjunto de favelas da Maré.

Juliana Neris

Lesbocídio

Apesar da violência não ser o foco, é impossível não falar dela, já que em 2022 o Brasil registrou, em média, duas mortes de pessoas LGBTQIAPN+ a cada três dias.

O dossiê foi realizado pela Associação Acontece LGBTI+, pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), que cobram políticas públicas para diminuição da violência e a produção de dados governamentais.

Quando olhamos para mulheres lésbicas e bissexuais que vivem em favelas e periferias, os dados disponíveis são praticamente inexistentes e a ausência de registros oficiais subestima a gravidade do problema. O dossiê sobre lesbocídio, desenvolvido a partir do projeto de pesquisa A história que ninguém conta, da pesquisadora Camila Rocha Firmino, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), busca preencher essa lacuna.

Segundo a publicação, 55% dos casos de violência acontecem em lésbicas não-feminilizadas, ou seja, que não se adequam ao padrão de feminilidade que a sociedade impõe às mulheres; e 83% são mortas por homens.

Recentemente, em dezembro de 2023, a notícia do brutal assassinato de Ana Caroline Sousa Câmpelo, uma jovem de 21 anos encontrada morta com sinais de extrema crueldade no Maranhão, provocou indignação na comunidade local. É a narrativa de morte que busco mudar, sem romantismos, mas sabendo que o amor e o afeto LGBTQIAPN+ é um ato de resistência.

Afeto e política

Na Maré, surge um espaço revolucionário além dos encontros casuais regados a churrasco e cerveja. Um local onde a alegria não é apenas um sentimento, mas sim a estratégia política principal, abrindo caminho para a cultura, o acolhimento e a defesa dos direitos das mulheres lésbicas. Dayana Gusmão, uma das fundadoras da Casa Resistências da Maré, destaca a influência crucial do fotógrafo falecido em 2021, Bira Carvalho, em sua jornada pessoal e na formação deste projeto. Em suas palavras, “a alegria é a maior potência da favela.”

A coletiva prioriza diálogos sobre afetos antes de abordar o tema da violência. Para elas, discutir violência sem mencionar o amor seria injusto. A base dessa casa é a alegria, que se abre para todas as mulheres LBT como um espaço seguro.

Em um contexto extremamente patriarcal, em que rivalidades entre mulheres são fomentadas, o estímulo ao amor entre elas desafia a estrutura da sociedade. Assim, o afeto se torna não apenas uma abordagem, mas sim uma vertente política, entendendo que qualquer demonstração de afeto pode desencadear violência após experiências traumáticas. A fundadora do coletivo relata que das 39 mulheres acolhidas na Casa, 38 sofreram violência praticada por familiares.

Este refúgio tornou-se um farol para mulheres na favela, criando uma rede de apoio vitalícia. A atenção e cuidado são transmitidos a cada chegada e partida das acolhidas, mantendo a Casa Resistências da Maré comprometida com a missão de promover o afeto como semente, rede e ato político.

Paloma Marins, coordenadora de empregabilidade, destaca a confiança como uma das mais significativas demonstrações de afeto. Ela ressalta a importância de cuidado, acompanhamento e a inspiração da vereadora Marielle Franco, lutando não apenas por saúde mental, mas também por espaço e confiança como expressões de afeto.

Para além das soluções racionais, como investimento em políticas públicas, percebe-se a centralidade dos processos subjetivos, em que a sensação de segurança é alcançada na presença de seus pares. Esse projeto transcende barreiras físicas e políticas, erguendo-se como um farol de esperança, no qual o afeto é a ferramenta poderosa que impulsiona a resistência e a transformação social na Maré.

Inscrições abertas para curso de construção de barcos na Ilha do Fundão

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Pescadores participam de formação de aprendiz de construção de barcos

Por Alex Gomes e Hélio Euclides

No futebol quando o peladeiro se ausenta por causa de uma contusão é comum falar que ele foi para o estaleiro. Contudo, o estaleiro vai além disso, é o lugar onde se constroem e reparam embarcações, com a presença do profissional soldador. Já um estaleiro escola forma pessoas para a habilidade na construção de navegações. A Universidade do Mar realiza o curso que se encontra com inscrições abertas para a turma de aprendiz em construção naval artesanal. O curso acontece no Hangar Náutico da UFRJ, na Ilha do Fundão. 

Em 22 de setembro de 2023 foi realizada a primeira edição do curso. Foram quase 300 inscritos, com a seleção de 40 alunos e alunas. A formatura ocorreu no dia 7 de dezembro de 2023, tendo 35 alunos e alunas que concluíram o curso. A Universidade do Mar, da Baía de Guanabara, está formalmente criada desde março de 2022. A problemática é que desde novembro de 2021 o Governo do Estado vem embarreirando o uso da Ilha de Brocoió. Enquanto isso, a Universidade do Mar funciona na Ilha do Fundão, junto ao Estaleiro Escola da Baía de Guanabara.

Para Sergio Ricardo, ambientalista e coordenador do Movimento Baía Viva, é importante a presença de pescadores das favelas no curso. “Tivemos alguns alunos da Ilha do Governador, um de Ramos, dois da Ilha do Fundão, que legalizaram uma associação recentemente, mas não tivemos nenhum da Maré. Vale ressaltar, que os alunos construíram um barco e a aula inaugural foi com o navegador e escritor Amyr Klink”, destaca.

Contagem regressiva das inscrições

Para a segunda turma, as inscrições vão até 26 de janeiro, de forma on-line. O novo curso terá 20 vagas. A previsão para o início das aulas é 26 de fevereiro, com duração de cinco semanas. O Estaleiro Escola da Baía de Guanabara é um projeto educativo para recuperar a carpintaria naval nas comunidades de pesca de sete municípios do Estado: Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Magé, Niterói, Rio de Janeiro e São Gonçalo. 

Podem se inscrever na segunda turma do Curso de Carpintaria Naval Artesanal, qualquer pessoa acima de 18 anos, que tenha vínculo familiar com as comunidades pesqueiras da Baía de Guanabara. A prioridade do curso será para pescadores, catadores de caranguejos e maricultores, além de construtores navais artesanais. As aulas serão ministradas por professores da UFRJ e mestres carpinteiros com grande experiência. Os certificados de conclusão do curso serão emitidos por instituição técnico-científica (UFRJ) para os alunos e alunas que obtiverem 80% de frequência às aulas presenciais e virtuais, atividades de intercâmbio e oficinas.

Esse curso de extensão está sendo desenvolvido através de uma parceria firmada entre a Associação de Pescadores Livres de Tubiacanga (APELT), o Movimento Baía Viva e o Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (NIDES/UFRJ) e apoio da Reitoria da UFRJ. O Estaleiro Escola recebe apoio institucional do Funbio, por meio do Projeto Educação Ambiental. É uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzida pelo Ministério Público Federal – MPF/RJPara mais informações: (21) 96536-6208 (WhatsApp). As inscrições estão disponíveis no link até dia 26, próxima sexta-feira.

Dominick Di Calafrio se eterniza como estrela da Maré

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Mareense, atriz e referência da cena ballroom morre aos 28 anos

Dominick Di Calafrio, de 28 anos, cria da Nova Holanda, morreu na noite deste domingo (21). Modelo, bailarina, atriz, referência da cena ballroom no Rio de Janeiro também era reconhecida como Statement Baronesa Dark Retinta Cosmos. Com um legado de luta no movimento LGBTQIAPN+, Dominick deixa na memória de todos, além da sua vivências, suas perfomances artísticas na ocupação Noite das Estrelas, do coletivo Entidade Maré.

O Maré de Notícias lamenta profundamente essa perda e se solidariza à família, amigos e toda comunidade LGBTQIAPN+ da Maré e da cidade.

A despedida de Domynick será nesta terça-feira (23), no cemitério São Francisco Xavier. Velório às 10h, na Capela 1 e sepultamento às 14h.

Profissão artista: desafios nas trajetórias de artistas independentes e LGBTQIAPN+

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De acordo com a pesquisa Marégrafia os artistas do território são, em sua maioria, negros, com menos de 30 anos e sem renda individual ou limitada a menos de dois salários mínimos

Vitor Felix

Segundo a pesquisa feita com 70 artistas do território, menos de 3% desses trabalhadores conseguem manter as despesas familiares somente com o subsídio dos trabalhos artísticos e precisam de outras fontes para complementar a renda. Mais da metade dos entrevistados pela pesquisa se declarou LGBTQIAPN+, o que adiciona mais uma camada aos desafios já apresentados. Se a arte é meio de expressão e de diálogo com o público, muitas pessoas LGBTQIAPN+ enfrentam dificuldades nesses diálogos. Apesar disso, esses artistas constroem seus trabalhos com qualidade, rompem as barreiras do cotidiano e expõem suas criações da maneira que é possível, com olhos abertos para a realidade a sua volta.

Produtores, cantores, musicistas, atores, DJs, dançarinos, escritores, artistas visuais, técnicos de som e luz, há uma grande variedade de profissões no campo das artes em que os trabalhadores sobrevivem por meio de muitas estratégias, com pouca ou nenhuma garantia.
O cenário da pandemia escancarou ainda mais esses obstáculos, e nas favelas a dificuldade é ainda maior, já que muitas festas e manifestações culturais (como os bailes funk) são constantemente criminalizadas e não recebem apoio financeiro ou de logística para acontecer.

|Já leu essas?

Independência

Profissionais independentes são aqueles que contam apenas com seus próprios recursos ou não estão vinculados a grandes gravadoras, galerias, editoras, empresas ou selos. A independência traz, sem dúvida, a sensação de liberdade criativa, mas pode estar ligada também à insegurança e à incerteza.


O cenário da empregabilidade no Brasil revela a imensa parcela de pessoas sem trabalhos formais, que dedicam sua força de trabalho em serviços e novas modalidades autônomas. Nesse grande universo de brasileiros e brasileiras na luta para manter as contas em dia, os artistas conhecem bem o cenário e não é de hoje. Para os profissionais das artes e trabalhadores da cultura, a formalização do trabalho é um desafio antigo.

Profissão artista

Êlme Peres, de 23 anos, é um dos personagens que desafia este cenário. Cria da Vila dos Pinheiros, ele é ator, cantor, compositor, MC, poeta slammer, percussionista e “o que mais a arte propor”, como ele mesmo se definiu. Começou a trabalhar na arte em projetos do território, como o Percussão Maré e o Entre Lugares, onde se formou em música e teatro. Com o tempo, a paixão pela arte só aumentou, ele formou uma banda com outros artistas musicais mareenses e atuou em diversas peças teatrais até criar o Coletivo Afro Maré, com outros atores e atrizes.

Maré de Notícias(MN): Como você percebe a juventude na Maré que decide trabalhar com arte?
Êlme Peres: Acho muito interessante essa galera que cresceu junto comigo e decidiu fazer da arte seu meio de sobrevivência, mesmo não sendo fácil, ainda mais para nossos corpos favelados. Entendo que é uma forma de expressar tudo o que a gente passou na nossa infância, na adolescência, as injustiças da sociedade e do sistema. A arte é um canal por meio do qual podemos nos expressar. Conheço artistas de várias favelas aqui da Maré e vários têm essa pegada.

MN: Para você, o trabalho de um artista independente é entendido como uma profissão?
ÊP: Eu sou autodidata em todas as áreas artísticas que pratico. Muitas empresas e instituições da sociedade, em geral, não credibilizam a arte de pessoas com formações parecidas com a minha. Para mim, a favela em si é uma forma de academia intelectual. E mesmo pessoas que têm diploma acadêmico são descredibilizadas em vários espaços porque são faveladas.

MN: É possível hoje em dia viver apenas de arte?
ÊP: Na minha vivência, eu preciso recorrer a um plano B para me manter, porque aqui na Maré somos muitos/muitas/muites e, por mais que haja projetos para artistas, eles não abrangem todo mundo. Muitas vezes precisamos abdicar de um trabalho artístico para realizar outro que vai gerar renda. Então é uma luta constante, até chegar um dia que poderemos dizer “eu vivo só da arte”.

MN: Como é ser um artista LGBTQIAPN+ e favelado?
ÊP: Na minha adolescência eu fui me empoderando como uma pessoa preta e, junto disso, me entendi como uma pessoa não-binária. É mais uma camada, não só para a minha arte, mas também da vida. Muitas vezes é necessário falar sobre isso para que eu seja respeitado dentro da minha identidade de gênero. A gente pode festejar, mas sempre que houver oportunidade de falar sobre esse ponto de vista, das pessoas LGBTQIAPN+, é necessário dialogar. Por mais que seja chato explicar isso em 2024, se a gente não explicar e dialogar sobre isso, como as pessoas não vão entender?

MN: Você entende a arte com uma função didática?
ÊP: Sim, eu vejo a arte também como uma forma de educação. Nas minhas poesias transmito uma mensagem, então é uma forma de fazer o público entender muitos assuntos.

MN: O que você projeta para o futuro?
ÊP: Na Maré há muitos projetos para pessoas pretas, para mulheres, para pessoas LGBTQIAPN+, então esses vínculos precisam estar mais próximos, para cada vez crescerem mais. É importante que a gente comece a se ver mais como uma coisa só, independentemente da localização. Quanto mais unidos os coletivos estiverem, isso vai elevar mais a voz de todo mundo. O trabalho de Êlme está disponível em seu perfil no Instagram (@elmeperes) e no perfil do Coletivo Afro Maré (@coletivoafromare). Lá o público pode encontrar suas composições musicais, poesias e performances das quais ele faz parte.

PERFORMANCES – A CORPA EM MOVIMENTO

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Maré de Notícias #156 – janeiro de 2024. Edição especial resultado do projeto Cores Marés, apoiado pelo Fundo Positivo.

Affonso Dalua

A Corpa em Movimento‘ é um manifesto imagético com performances e instalações, aprofundando a ideia da corpa LGBTQIAPN+ como ato político de intervenção e resistência nos territórios de favelas e periferias. A pesquisa é um aprofundamento do meu trabalho de fotoperformance LGBTQIAPN+ favelada e vem sendo costurada desde 2019, com o Projeto Eeer, o Entidade Maré, até chegar à exposição solo PERFORMANCES.

A ideia é de uma corpa maresia, que se movimenta pelo tempo e coloca a corpa em reflexão sobre os diversos atravessamentos da vida LGBTQIAPN+ hoje. A experiência do olhar de uma sociedade cisheteronormativa, encruada de uma visão seca, como deserto, sem o afeto úmido, molhado pelo mangue de uma Maré de 140 mil mareenses.

Mergulhar nas águas da Maré é mergulhar nas memórias da minha avó, Luiza Maria. Nascida em 1930, ela chega acompanhada do meu avô, Cirilo Moreira, no ano de 1965: retirantes nordestinos que aportam em uma Maré ainda sob as águas. 

/Já leu essas?

São as memórias do meu pai, nascido em 15 de setembro de 1967, dentro da palafita, em que a separação entre ele, ainda molhado da barriga de sua mãe, e as águas do mangue, eram as madeiras que cobriam o chão do barraco! 

Das mesmas águas que deram vida ao meu pai e a milhares de outros mareenses, nasce hoje PERFORMANCES – A CORPA EM MOVIMENTO.

CORPA FESTA – O MOVIMENTO DAS LAJES

‘A Corpa em Movimento’ é um manifesto imagético com performances e instalações, como ato político de intervenção e resistência (Foto: Affonso Dallua)

Na maioria das experiências LGBTQIAPN+, a família é o primeiro espaço a negar a nossa existência, por isso essas corpas se unem, formando outros laços, outras casas, movimentos de afeto e coletividade que direcionam a pesquisa para as águas que molham o todo.

Esse todo chamamos de ‘Clube das Gatinhas‘: uma explosão de liberdade, afeto e muita chacota que faz das águas, ruas, becos e vielas de uma Maré em movimento, um lugar seguro para ser resistência. 

Acredito que uma corpa sozinha é só um copo vazio no meio do deserto, mas uma corpa em coletivo, é uma Maré.

A CORPA SEGUE SE MOVIMENTANDO
A CORPA SEGUE SE MOVIMENTANDO

A CORPA SEGUE SE MOVIMENTANDO