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Últimos dias para inscrição no ‘Decora Maré’ com prêmios de até R$ 5 mil

A segunda edição do Decora Maré, ação idealizada por Raphael Vicente e Bianca Andrade, retorna em busca das casas mais decoradas para as festas de final de ano

A premiação natalina da Maré está de volta! Em sua segunda edição, o Decora Maré, ação idealizada por Raphael Vicente e Bianca Andrade, retorna em busca das casas com suas áreas externas mais decoradas para as festas de final de ano. Com premiações para até o 10° lugar, o projeto visa fortalecer e incentivar a tradição, fazendo com que os famosos piscas-piscas brilhem em mais janelas dentro da comunidade.

A ação levará em consideração a criatividade dos participantes, bem como a estética escolhida e o uso de materiais recicláveis. Para participar, é fácil: basta ser morador de umas das 16 favelas da Maré e acessar o link de inscrição, que também se encontra na bio do Instagram @decoramare_.

As inscrições se encerram neste domingo (1), e dão início às avaliações presenciais que começam já no dia seguinte: do dia 2 a 10 de dezembro. As 20 melhores decorações, irão para a final. Da final saem os 5 vencedores, decididos por votação popular online.

Dona Márcia, ganhadora do primeiro lugar na edição passada, relembra que sempre fez questão de enfeitar sua casa para o Natal, e que a premiação foi de grande incentivo para todos ao seu redor: “Tive ajuda dos meus vizinhos para decorar, durante duas semanas […] Com o dinheiro comprei as coisas da obra da minha casa”. 

Veja abaixo o que ganha cada vencedor:

  • 1° lugar: R$ 5.000,00
  • 2° lugar: R$ 4.000,00
  • 3° lugar: R$ 3.000,00
  • 4° lugar: R$ 2.000,00
  • 5°lugar: R$ 1.000,00
  • Prêmio Extra: 6°,7°,8°,9° e 10° lugar ganham uma cesta de natal.

O resultado das premiações será divulgado no dia 15 de dezembro, nas redes sociais de Raphael Vicente e Bianca Andrade.

Maiara Carvalho é estudante de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz parte do projeto de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.

Álvaro, morador da Maré, é o carioca mais jovem a receber a medalha Pedro Ernesto na Câmara

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A medalha é considerada a condecoração máxima da cidade

“Eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida, é bonita e é bonita”, este trecho da canção O Que É, o Que É?, de Gonzaguinha, nos remete a infância, que necessita que seus direitos sejam respeitados. Álvaro de Melo, tem 8 anos, mora na Vila dos Pinheiros e tem altas habilidades. Para o seu desenvolvimento escolar teve que lutar muito por uma educação especializada. A sua resistência para estudar, ao escrever um livro para ajudar outras crianças na mesma situação e a conquista de um curso de Programação na Universidade de Harvard foi reconhecida com o recebimento da medalha Pedro Ernesto.

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro estava em festa, com a indicação da vereadora Thaís Ferreira, para que Alvinho fosse o carioca mais novo a receber essa honraria. A medalha tem o mesmo nome do prédio que funciona a Câmara Municipal, denominado Palácio Pedro Ernesto, em homenagem ao ex-prefeito do então Distrito Federal por dois períodos. A medalha é considerada a condecoração máxima da cidade. 

Apesar da educação fazer parte do direito regulamentado na Constituição, ainda há falta de vagas, ausência de profissional acompanhante na sala de aula para crianças com transtorno do espectro autista (TEA), não contratação de profissional de apoio escolar para Pessoa com Deficiência (PcD) e dificuldades para disponibilidade de núcleos especializados em alunos com altas habilidades. Com 3 anos no maternal, os profissionais educacionais sinalizaram que Alvinho estava à frente. Depois veio a pandemia, os estudos ficaram em casa e com ajuda do aplicativo GraphoGame Brasil, aprendeu a ler em apenas 15 dias. Ao retornar à escola no Pré 2 descobriu que não tinha o atendimento educacional especializado.

Na escola, a única diferenciação era a impressão de mais folhinhas de exercícios. “Durante essa trajetória dele escolar escutei muitas falas preconceituosas, de quem tem baixa faixa econômica ou sendo negro não pode ter condição de ter altas habilidades. Em alguns casos ouvi mitos. Até propuseram que os gastos a mais com a educação ficassem por minha conta e não com a Prefeitura. Acharam que eu era ignorante, que não conhecia os meus direitos e que eu não poderia ter acesso ao Plano Educacional Individualizado (PEI)”, conta sua mãe, Priscila de Melo.

A sua mãe procurou outras instituições, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde conseguiu matriculá-lo no curso de robótica. Um outro avanço foi a apresentação do Projeto da Escola Super Alvinho, na Bahia. Uma maquete, que é um protótipo conceitual e físico de uma escola modelo, dividida por diversas salas que vão receber muitas disciplinas como vários idiomas, capoeira e xadrez, além de laboratórios de artes, química, física, ciências e robótica. Ainda cabe auditório, espaço para exposições e área verde. Esse trabalho e o curso de Programação na Universidade de Harvard chamaram atenção de autoridades, como o presidente Lula e o prefeito Eduardo Paes. A partir da conversa com os dois, a educação de Alvinho começou a mudar, uma vez que a Prefeitura se movimentou para que ele pudesse estudar numa escola que tivesse os recursos necessários. Ele cursa o segundo ano fundamental fora da Maré.

Após matéria publicada pelo Maré de Notícias, Alvinho também chamou atenção de outros veículos de comunicação, tendo visibilidade na Folha de São Paulo, no SBT, na Record Internacional e na Band. Dessa forma, as altas habilidades de Alvinho foi reconhecida para receber a condecoração que homenageia pessoas e instituições que mais se destacam. Alvinho é a mais nova personalidade a receber a Medalha Pedro Ernesto. “Muito legal e feliz com esse passo grande na minha caminhada. Esse prêmio valeu mais do que qualquer outra medalha. Ela me faz sentir que eu não posso desistir”, conta o menino que deseja ser construtor de robô. 

Apesar da merecida medalha, sua mãe ainda vê algumas lacunas na vida da criança da favela. A família reclama que não tem acesso a lazer e cultura, como por exemplo, o contexto social distância os moradores da favela dos maiores pontos turísticos da cidade. “Para tudo é preciso lutar. Tem gente que questiona porque ele deseja aprender inglês. Só que na Zona Sul, já no berçário, com seis meses, as escolas são bilíngues. Paulo Freire incentiva a criatividade do indivíduo, mas a sociedade deseja pessoas sem formação, estímulo e transformação econômica. Até oferecem cursos, mas que não qualifica realmente e lá na frente só vai dar direito a um subemprego”, questiona Priscila. 

Uma das pessoas que inspira a família é o repórter Chico Regueira. Eles guardam com carinho uma mensagem que o profissional falou ao final de uma reportagem, sobre a importância da valorização da cultura local. Apesar da luta constante para a oferta do atendimento suplementar na sua educação, Alvinho não desanima. “Mesmo que todas as pessoas falem que não vai dar certo, é preciso persistir e nunca desistir”, conclui Alvinho. Com o seu exemplo de vida, a deputada estadual, Renata Souza criou o Projeto de Lei PL 2999/23, a Lei Alvinho, que estabelece políticas públicas destinadas ao desenvolvimento de crianças com altas habilidades.

Galpão Bela Maré celebra 20 anos de ‘Imagens do Povo’ com exposição comemorativa

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A exposição ‘Da paisagem à intimidade’ marca o jubileu do programa, reunindo fotografias que narram a história e a memória das periferias e favelas do Rio de Janeiro

Em novembro de 2024, o Galpão Bela Maré abre suas portas para a exposição “Da paisagem à intimidade”, que celebra duas importantes conquistas: o marco de duas décadas do Programa Imagens do Povo e a reinauguração das ações expositivas do espaço, após sua reforma. A mostra reúne imagens de artistas e fotógrafos que, ao longo dos últimos 20 anos, participaram da Escola de Fotografia Popular — um projeto que
tem sido fundamental na formação de novos olhares sobre espaços populares, através das lentes das próprias comunidades.

Com uma rica diversidade de narrativas visuais, “Da paisagem à intimidade” revela as ruas, vielas, festas populares e saberes tradicionais, capturados pela perspectiva única de moradores das favelas, e é um reflexo de suas histórias, lutas e afetos. As imagens expostas são testemunhos vivos de transformações, conquistas e memórias que permeiam o cotidiano desses territórios, construindo uma trajetória coletiva de resistência e afirmação da identidade.

A exposição propõe uma reflexão sobre o poder da fotografia como um instrumento de resistência e memória. Mais do que um simples registro visual, a fotografia popular tem o poder de contar histórias de comunidades que, muitas vezes, são invisibilizadas, mas que, por meio dessas imagens, conquistam o espaço de protagonismo que merecem. A paisagem que as fotos revelam vai além do espaço físico — é, sobretudo, uma paisagem de relações, onde o individual e o coletivo se entrelaçam e se fortalecem.

“A exposição é uma celebração de um legado fotográfico fundamental para a história das periferias brasileiras. Ela traz à tona a potência da fotografia como ferramenta de resistência e afirmação de identidade. A curadoria, ao revisitar 20 anos de produção imagética, propõe uma pequena, mas impactante, amostra de como a fotografia pode transformar, testemunhar e celebrar a vida das comunidades populares”, afirma Monara Barreto, curadora da exposição e gestora do acervo digital do Programa Imagens do Povo.

Erika Tambke, coordenadora do programa, também assina a curadoria e afirma: “O Imagens do Povo” é um programa que nasce em 2004 a partir de um desejo coletivo de promover histórias de espaços populares pela fotografia. E isso veio de uma necessidade de que os próprios moradores possam apresentar o seu ponto de vista na cidade. Vinte anos depois, vemos com alegria um movimento de fotografia popular na Maré que produz e pensa a memória da cidade e de seus moradores com muitas camadas”.

A exposição estará em cartaz no Galpão Bela Maré de novembro de 2024 a fevereiro de O projeto expográfico inovador é assinado por Renata Pittigliani e a cenotecnica é da Camuflagem, com produção da Automatica. A exposição também conta com visitas mediadas, que acontecem às terças e quintas às 13h30. A partir da perspectiva curatorial, a equipe do programa educativo propõe uma aproximação com as obras por meio de um percurso de trocas de narrativas.

Agende sua visita individual ou em grupo no e-mail: educativo.belamare@observatóriodefavelas.org.br

“Da paisagem à intimidade” é apresentada pelo Ministério da Cultura, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Observatório de Favelas. Tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, Itaú Unibanco, Mercado Livre, White Martins, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com apoio institucional do Instituto Itaú Cultural e do Instituto JCA. Parceria Estratégica: TradInter Lab e Marcela Bronstein. Produção: Automatica. Tem patrocínio da Control-lab; da Estácio, em parceria com o Instituto Yduqs; e da Multiterminais Logística Integrada, por meio da Lei do ISS. Realização: Observatório de Favelas, Ministério da Cultura e Governo Federal.

População negra está entre as mais vulneráveis e preocupadas com a saúde

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Edição #166 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Tiago Izidoro Blanc

A trajetória de vida da população negra brasileira ainda é profundamente marcada pela escravização de milhões de pessoas oriundas do continente africano. Essa prática desumana que durou cerca de 400 anos, submeteu essas pessoas a condições de vida extremamente precárias. Os resultados sociais e econômicos do período de escravização no Brasil, refletem diretamente na saúde da população negra contemporânea. 

Sem reparação

Após a abolição da escravidão no Brasil, em 1888, poucas políticas de reparação foram implementadas para a população negra. Pelo contrário, o governo adotou políticas que marginalizaram ainda mais os negros.

Não houve qualquer plano para integrar os negros libertos à sociedade de forma justa. Sem terra, educação ou trabalho qualificado, muitos ex-escravos foram empurrados para a pobreza e para o trabalho informal.

Alguns avanços

Apenas nas últimas décadas é que políticas de reparação mais estruturadas começaram a ser implementadas. O Estatuto da Igualdade Racial, Lei nº 12.288/2010, é a lei que visa garantir direitos à população negra e promover a igualdade de oportunidades, combatendo a discriminação e as desigualdades raciais.

Com base no documento, foram criadas ações como  as cotas para negros em universidades e concursos públicos e outros programas de ação afirmativa, que buscam compensar a histórica exclusão educacional e econômica.

Em 2022, foi instituído o Ministério da Igualdade Racial, assumido por Anielle Franco, mulher, negra e cria da Maré. Nesses quase dois anos de ministério, a pasta conseguiu importantes vitórias, como a regularização de terras quilombolas. A Constituição de 1988 já reconheceu o direito de remanescentes de quilombos à terra, mas a regularização tem sido lenta e enfrentado resistência política e jurídica.

Mais vulneráveis

Segundo o Boletim do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IPES), em parceria com Instituto Çarê, em 2022, 10.764 homens negros morreram por disparo de arma de fogo em vias públicas no Brasil, contra 2.406 homens brancos – um número 4 vezes maior. 

A parcela mais empobrecida é composta majoritariamente por pessoas negras, culminando  em disparidade no acesso à serviços de saúde, insegurança alimentar e a falta de políticas públicas adequadas, criando um cenário de vulnerabilidade. Segundo pesquisa do DataSenado (2023), a maior preocupação da população negra brasileira é com a saúde, cerca de 58%.

Novembro Azul

O Artigo 7º do Estatuto da Igualdade Racial, específica que o Sistema Único de Saúde (SUS) deve promover ações para prevenir, tratar e controlar doenças que afetam desproporcionalmente a população negra, como a anemia falciforme, hipertensão e diabetes. As ações de saúde devem considerar os determinantes sociais que influenciam essas condições.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata no Brasil e estudos internacionais apontam que os homens negros tem maior risco de desenvolver a doença. Obesidade, sedentarismo, tabagismo, exposição a metais pesados e poluição são fatores de risco, e sabe-se que a população negra, de modo geral, está mais vulnerável a essas condições.

A falta de acesso à saúde e o diagnóstico tardio destes casos, tendem a apresentar situações mais graves, o que dificulta o tratamento e as chances de cura.

É fundamental reconhecer e abordar essas desigualdades para promover uma sociedade mais justa e equitativa, em que pessoas negras tenham amplo acesso à todos os serviços de saúde, de baixa ou alta complexidade, não limitando que esta população somente tenha acesso à atenção primária.

Betto Gomes, estilista da Vila do João, é referência em moda Slow Fashion

Dono de um atelier criativo e sustentável na Vila do João, Betto Gomes e sua equipe costuram um caminho de oportunidades que tornam possível o protagonismo favelado – também – no mundo da moda

Maiara Carvalho*

“Aqui é um atelier de moda com ‘M’ maiúsculo, dentro da Maré”. É o que diz Betto Gomes, estilista da Vila do João que faz questão de trazer seu território como fonte de criatividade na hora de produzir suas roupas. Entre linhas, tesouras e agulhas, Betto e sua equipe, formada inteiramente por mulheres, costuram um caminho de oportunidades que tornam possível o protagonismo favelado – também – no mundo da moda.

Cobiçado por diferentes perfis do mercado, o estilista já estampou capas de revistas, vestiu desfiles da São Paulo Fashion Week e as parcerias com empresas do setor não param de chegar! Recentemente, lançou sua mais nova coleção nomeada “Maré de Encantos”, inspirada pelo desejo de resgatar memórias do Conjunto de Favelas da Maré. Usando tecidos que normalmente são descartados por grandes fábricas têxteis, Betto consegue ressignificar cada pedaço, transformando-as em roupas de grife. É o chamado Slow Fashion, que ele garante ser mais do que um modo de produção, mas é, conjuntamente, seu estilo de vida.

Betto diz que sempre esteve envolvido com a arte. Quando mais novo, fazia aulas de teatro, e lá já observava a importância do figurino no processo criativo para transmitir uma mensagem, ainda que sem nenhuma palavra. Daí nasceu sua paixão.  No entanto, confessa ter balbuciado na hora de escolher qual caminho profissional seguir, justamente por enxergar a dificuldade de pessoas periféricas na hora de se inserirem no mercado de trabalho. Mas, atrevido que era, acreditou no seu sonho e decidiu que faria a faculdade de Designer de Moda. 

Formado há mais de 10 anos,  o estilista participou de diversos concursos da sua área. Em 2011, foi convidado para o reality do programa “Xou da Xuxa”, o que deu ainda mais certeza de que estava fazendo um bom trabalho. Alguns anos depois, foi chamado para o “É de Casa”, programa da Rede Globo, onde pela primeira vez entendeu que havia se tornado uma referência positiva do seu território

Eu nunca tive vergonha de ser de onde sou, mas omiti por muito por muito tempo para não sofrer preconceito. Mas, na chamada do programa que participei eu já era ‘o estilista da Maré’, foi aí que percebi a importância do meu lugar

Quando decidiu que abriria um espaço para produzir suas peças autorais, ela foi pensada inicialmente para ser fora da comunidade. Hoje, Betto não só se orgulha de ter um atelier na Vila do João, como também sonha em abrir sua primeira loja na localidade. Para ele, é importante que os moradores se aproximem  da sua arte e desmistifiquem a ideia de que moda e favela são incompatíveis.

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O que nós fazemos aqui é costura de alto padrão, nenhum atelier do mundo tira o que nós fazemos aqui

Trabalho em coletivo

Com uma equipe formada por quatro mulheres, o estilista salienta que o Slow Fashion designa um olhar reflexivo enquanto produz. Para além da busca sobre a origem do tecido a se usar, é importante o entendimento de que as máquinas não trabalham sozinhas, e ali existem pessoas que precisam viver. “As peças são feitas por mulheres que, além de costureiras, são donas de casa, algumas ainda têm seus filhos para criar. E infelizmente, ainda vivemos numa sociedade que entende que a mulher não tem valor comercial, então quando elas decidem trabalhar, elas acabam fazendo dois trabalhos”. 

Toda produção é pensada em coletivo, e em cada uma existe uma troca de saberes até chegar a um produto final. Ele vem com a ideia, mas são suas meninas quem dão a direção: “Se eu tiver dúvidas eles me orientam, quando posso também ajudo e dou minha opinião”, diz Dona Edileuza, parceira há nove anos das “ideias malucas” de Betto.

O crochê é um forte elemento na construção das roupas, e essa é a especialidade de Lu (attelie_da_lu), que periodicamente realiza trabalhos junto ao amigo, quem conhecera durante um curso de especialização. Já as irmãs Ivonete e Lusineide trabalham no ateliê há um ano, e ressaltam a diferença das suas outras experiências como costureiras: “Trabalhamos em muitas fábricas, mas aqui foi uma novidade. É muito diferente você trabalhar com a criatividade, e não só produzir sem parar […] A gente coloca a roupa no manequim e vai olhando se precisa de um toque a mais. Quando vê o brilho nos olhos dele (Betto), a gente sabe que deu certo.”

Maré Cheia: de Peixes e Encantos

Refletindo sobre sua trajetória, Betto se deu conta que não teve uma referência falando sobre moda dentro da Maré, mas agora pretende preencher parte dessa lacuna e fazer do seu território um espaço de pesquisa, mas também de resgate ancestral. Para isso, iniciou há um ano a coletânea “Maré Cheia”, que posteriormente viraria uma trilogia junto a “Maré de Peixe” e “Maré de Encantos”.
Em seu primeiro ato, as ideias surgiram a partir da estética visual da Maré antiga: água da Baía, palafitas e barracos. Para o segundo, a colônia de pescadores da Marcílio Dias foi a grande inspiração, a fim de evidenciar a cultura local. Neste mês de novembro, Betto finalizou seu terceiro ato em evento realizado no Museu da Maré, a convite da ECO Moda Rio. Partindo da obra renascentista de Botticelli, “Nascimento da Vênus”, a coleção dialoga com a fluidez das águas do mar, por onde emerge a deusa em sua concha.

Assim como as pérolas encontradas nas conchas, Betto revela a reação defensiva dos moradores da Maré, que mesmo em meio a dificuldades, não deixam de brilhar.

(*) Maiara Carvalho é estudante de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz parte do projeto de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.

Casos de Tuberculose aumentaram em todo o Brasil e populações vulneráveis são as mais afetadas

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O conteúdo desta matéria é elaborado pela Comunicação Institucional do Hospital Israelita Albert Einstein com o objetivo de levar boa informação de saúde de qualidade para a população da Maré.

No Brasil, a tuberculose esteve sob controle até 2017, mas nos últimos anos, os índices voltaram a aumentar. Segundo o Ministério da Saúde, o número de mortes de infectados passou de 2.720 mil em 2022 para 80 mil em 2023. O Estado do Rio de Janeiro teve a terceira maior incidência de casos da doença em 2023, com ​​18.210 registros, e a segunda maior taxa de mortalidade do país no mesmo ano. 

Contágio

As bactérias que causam a tuberculose (Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como Bacilo de Koch) são espalhadas quando uma pessoa infectada tem tosse ou espirra. Isso porque partículas contaminadas podem ser liberadas no ar.  Daí, ao serem inaladas por outra pessoa, ocorre a infecção.

Membros da família ou colegas de trabalho da pessoa infectada têm maior risco de transmissão da doença. “O contato persistente com pessoa bacilífera aumenta o risco de transmissão. Uma pessoa infectada pode contaminar outras dez”, afirma o médico infectologista Helio Bacha, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Prevenção e diagnóstico

Por ser uma doença altamente infecciosa, a tuberculose representa um grande desafio para os profissionais de saúde. Para combater a proliferação, o primeiro passo é manter a vacinação em dia de todos os recém-nascidos com a BCG intradérmica, recomendada nas primeiras 12 horas de vida após o nascimento do bebê, ainda na maternidade, para prevenir a infecção na infância. Não há vacina para adultos.

Para detectar a doença, é preciso fazer um exame chamado baciloscopia, além da cultura de escarro nos pacientes sintomáticos respiratórios, com tosse há mais de três semanas. “São exames gratuitos disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde) no Brasil inteiro”, explica o infectologista Helio Bacha. 

O médico alerta ainda que: “nem todo mundo que tem o bacilo desenvolve a doença. Dentre as pessoas infectadas, apenas 6% a 8% das pessoas irão evoluir para a doença. Ou seja, 92% das pessoas infectadas não farão doença ativa. No Brasil, um terço da população está infectada pelo bacilo da tuberculose”.

A melhor forma de prevenção é notificar os casos, fazer busca ativa de pacientes com suspeita da doença, além do diagnóstico e tratamento precoces. A boa notícia é que a tuberculose tem cura, já que o tratamento costuma ser altamente eficaz.

“Trabalhamos agora para controlar a tuberculose até 2030 como meta de saúde pública no Brasil e no mundo”, afirma o especialista.

Tratamento

Os pacientes com sintomas manifestos precisam de um tratamento que pode durar até oito meses e deve ser seguido rigorosamente, para garantir que a bactéria não se espalhe. Ele é feito em casa, com medicamentos orais distribuídos gratuitamente pelo SUS. 

O processo é dividido em duas fases principais. Na inicial, são prescritos medicamentos para eliminar as bactérias ativas. Essa etapa dura aproximadamente 2 meses. O período seguinte é de manutenção para prevenir uma nova infecção. Esta fase dura de 4 a 6 meses. O período exige que o paciente tenha monitoramento médico, boa alimentação e evite o consumo de álcool e outras drogas.

O cumprimento rigoroso do tratamento é essencial para a cura, o que representa um desafio para as populações vulneráveis, que muitas vezes apresentam resistência devido ao preconceito ou dificuldade para seguir as orientações médicas. Mas, é muito importante seguir o tratamento à risca.

População mais atingidas

A incidência de tuberculose é maior entre pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica, em todo o mundo. No Brasil, isso inclui os moradores de favelas e periferias, população carcerária, pessoas em situação de rua, indígenas e quilombolas, pessoas que usam drogas, pessoas LGBTQIA+, idosas, com deficiência, trabalhadores informais, migrantes, entre outros. Ou seja, uma parcela grande da população.

Essas pessoas, que já sofrem preconceito pela própria condição, também precisam enfrentar o preconceito da doença e muitas vezes a dificuldade de ter acesso aos serviços de saúde, até mesmo os gratuitos.

O preconceito é frequentemente causado pela falta de conhecimento, e o combate à ele começa pela informação e empatia. A doença não é culpa da pessoa, mas sim uma condição médica que pode afetar qualquer um.

“Em poucos dias após o início do tratamento, o paciente já deixa de ser bacilífero, ou seja, não pode mais transmitir a doença às outras pessoas”, garante  o infectologista Helio Bacha.

Onde procurar ajuda?

O Conjunto de Favelas da Maré conta com seis clínicas da família que acolhe pacientes de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, seja para diagnosticar casos quanto para a pessoa iniciar o tratamento 

Acesse o Mapa da Saúde na Maré no QR code abaixo e tenha mais informações sobre as unidades.