A Maré é o território carioca com maior presença de migrantes angolanos
O Rei Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI visitou a Maré nesta quarta-feira (8/11). A visita do Rei aconteceu no Uniperiferias no Parque Maré. O propósito da recepção foi promover um diálogo do representante sobre racismo e religiosidade com lideranças e organizações locais.
Tchongolola é o 37º rei de Bailundo, uma cidade com cerca de 56 mil habitantes da província do Huambo, em Angola, país da África Central. O rei iniciou a conversa falando em sua língua matriz o Umbundu, que é o segundo idioma mais falado em Bailundo. Com o auxílio de um interprete que integrou a comitiva, foi possível transmitir ao público a mensagem de fortalecimento. “Viemos com uma sabedoria e uma alegria de fortificar as relações” disse o rei que também enfatizou que a presença no território brasileiro e mareense foi uma vontade dos ancestrais.
Segundo Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI a sua vinda ao Brasil era aguardada e prevista há muito tempo. É parte do reencontro com os filhos de Angola escravizados. Antes de visitar o Conjunto de Favelas da Maré, o rei já havia passado por locais carregados da história africana no Brasil como o Cais do Valongo, por onde chegaram muitas pessoas escravizadas vindas principalmente de Angola. Sobre sua visita ao cais o rei comentou “praticamente não consegui dormir direito ao ver a história do que aconteceu no Cais do Valongo”.
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Filhos de reis e rainhas que não sabem suas histórias
“Um dia alguém acordou e escreveu que vocês são filhos de escravos, isso é mentira, vós sois filhos de reis e rainhas da África”
Rei Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI
O rei conta que o argumento usado para convencer jovens a saírem de Angola, foi uma promessa de ocupação de outros países, e a juventude foi sem saber o que aconteceria. Depois os colonizadores voltaram com estratégias violentas para sequestrar o povo Angolano e aqui separavam as famílias.
Sobre religião o rei de Angola fala ainda que os missionários foram para a África e eram recebidos com curiosidade pelo povo de Angola: “eles chegavam com um livro chamado Bíblia que a gente nunca tinha visto”. Hoje Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI diz que 50% da população do seu povo é cristã.
A perda dos costumes do povo Bailundo resulta em uma juventude que não conhece a sua história. Para que os conhecimentos de Angola continuem sendo levados à diante o rei diz que é importante estudar, “é importante também ter um intercâmbio para que a nossa cultura não venha a morrer com o tempo” diz o rei. Ele complementa alegando que a sabedoria é a maior ferramenta de combate ao racismo.
“É possível lutar contra o racismo. De um lado vamos exigir algo da parte do governo, mas deve haver uma preparação do nosso lado. Não é necessário que usemo armas para lutar pelos nossos direitos, os nossos ancestrais orientaram para que haja sabedoria que deve ser buscada aos nossos mais velhos e ao Deus todo poderoso”.
TCHONGOLOLA TCHONGONGA-EKUIKUI VI
A Maré com a presença do rei
O Censo demográfico da Maré (2019) mostra que o bairro tem mais de 190 angolanos no território, sendo que 56 deles vivem na Vila do Pinheiro, numa região conhecida como “bairro dos angolanos”. A Maré é o território carioca com maior presença de migrantes angolanos.
O membro da Comunidade Angolana no Rio de Janeiro, Matheus Lira dos Santos, de 47 anos, agradeceu pela oportunidade de ver o rei de Angola na Maré. “Foi muito gratificante para mim, agradeço a casa por abrir as portas para a comunidade africana. Morei na Vila do João desde 1995 e a Maré é minha raiz.” afirma.
O mediador da conversa com o rei, Douglas Viana, considera a visita importante e diz que “isso engrandece a Maré e nós pessoas negras descendentes da diáspora africana”.
Além do rei Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI, também participaram da mesa mãe Flávia Pinto, yalorixá de umbanda e camdomblé, e o professor e pesquisador Jair Miranda.