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Vila do João completa 40 anos

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Conjunto habitacional caracterizou-se pelo crescimento vertical

Por Hélio Euclides

No dia 9 de setembro, a Vila do João completa 40 anos desde que foi erguida pelo Projeto Rio — são quatro décadas cuja memória não se perdeu por conta das histórias guardadas com carinho por seus moradores. A favela cresceu: hoje tem uma escola municipal, duas creches públicas, quadra de esportes, lotérica, Centro de Referência de Mulheres, Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Centro Municipal de Saúde (CMS) e agora, até uma base do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Onde hoje fica a Vila do João antes funcionava o Aeroporto de Manguinhos. No local, o governo federal construiu um conjunto habitacional com 1.400 casas coloridas, erguidas a partir de 1982 — esse era o ano que constava na placa de inauguração, que ficava na Rua Três.

Na edição nº 47 do Maré de Notícias (novembro de 2013), Sebastião de Souza, conhecido como Sarinho, mencionou a questão política na fundação da favela. “O nome Vila do João não foi uma homenagem ao presidente João Figueiredo, e sim uma imposição do governo militar. A mesma coisa aconteceu com as creches, batizadas de Tia Dulce, uma alusão à primeira-dama Dulce Figueiredo, e Tio Mário, por causa do ministro do Interior de então, Mário Andreazza”, contou.

Sara Alves recorda com carinho dos momentos vividos na Vila do João de outrora. “Sinto falta das festas juninas lideradas pelas quadrilhas da Damiana e do Araken. Nestes 40 anos, muitos casais se conheceram e vivem aqui, como é o meu caso. Era muito comum ter rodinha de jovens tocando violão, cantoria nas calçadas à noitinha, jogo de vôlei e rodas de capoeira nas ruas”, conta, acrescentando que gosta muito da vizinhança: “A solidariedade é algo que temos e que me faz ter orgulho daqui. A Vila do João vai ser uma quarentona. Como o tempo passa rápido!”

Há moradores que estão no local desde o início. “Estou na mesma casa desde a fundação. Estamos ao lado da Avenida Brasil, tendo como ponto de referência a Fiocruz. Só foi ruim o crescimento rápido, pois há casas na beira do valão, o que prejudica a limpeza, e lojas nas calçadas, o que atrapalha nossa circulação”, reclama Luiz Rodrigues, de 60 anos. 

Muitos escolheram o local para trabalhar; é o caso de Marilene Pereira, conhecida com Nena, técnica em saúde bucal que atua há 25 anos no CMS Vila do João. “Aqui temos tudo, um lugar que merece elogios. Tenho um sentimento bom pela Vila do João”, resume.

Bodas de esmeralda

Sebastião Lessa, de 62 anos, conhecido como Boi, acredita que pouca gente lembra do aniversário da favela. Segundo ele, muitos foram embora, pois não se adaptaram: “Teve gente que trocou casa por telefone e outros por Fusca. Eu sempre pensei no lado bom, de desejar uma melhor qualidade de vida.” Sebastião só reclama do que chama de arranha-céus — as casas de cinco andares — pois fica com medo de o esgoto e o aterramento não aguentarem. 

Sua ideia é a antiga Rua Catorze virar um calçadão de pedestres. “Ninguém mais precisaria concorrer com os carros. Era só fechar e colocar pedras portuguesas. Tem lugar que ensina a gente a viver, só tenho a agradecer à Vila do João”, diz ele.

Já para Valtemir Messias, conhecido como Índio, “a Vila do João é uma comunidade que cresceu muito. É um local que abriu as portas para o empreendedorismo. Na antiga Rua Catorze precisamos implantar controladores de trânsito. O próximo projeto vai ser a instalação de máquinas do Banco 24 horas”, antecipa o atual presidente da Associação de Moradores da Vila do João. 

Para presentear a comunidade, Sara Alves fez até uma poesia: “É Vila de Gente”. Seu sonho é ver algumas frases do poema grafitadas em muros da Vila do João:

Vila, você cresceu!

Êta coisa doida: é gente no meio dos carros.

É carro no meio de gente!

Forró, pagode, festas, futebol e muito churrasco.Êta povo trabalhador, que inventa o que fazer pra sobreviver.

Intervenção circense na Maré neste domingo

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Por Redação

A intervenção circense “MÃO – Translação da casa pela paisagem” estará no Piscinão de Ramos no próximo domingo dia 11/09 às 10h30 e na Lona Cultural Herbert Vianna segunda 12/09 às 15h30.

Contemplado no Fomento à Cultura Carioca para uma nova circulação MÃO – translação da casa pela paisagem é uma intervenção urbana circense que propõe alterar a paisagem dos espaços da cidade com a construção performática de uma pirâmide de 8 metros de altura sem apoiar os pés no chão. Uma homenagem aos operários que erguem lonas de circo, edifícios, pontes e casas.

A intervenção tem direção e coreografia de Renato Linhares, e a atuação dos intérpretes/construtores Adelly Costantini, Camila Moura, Carolina Cony, Daniel Elias, Daniel Poittevin, Fábio Freitas, e dos músicos Bartolo e Marcelo Callado. A produção é de Fernanda Avellar – Trestada produções.

Artista multilinguagem lança exposição virtual sobre a Maré

Matheus Affonso é fotógrafo, videomaker e comunicador do Maré de Notícias 

Por Jéssica Pires, em 08/09/2022 às 11h56

“A Maré e o Mar. O meu lugar, o mar é. Mar de gente, mar na cidade. Minha Maré é troca constante; fluxo entre os meus e os outros. Abraçar a favela, com braços, pernas, o ser inteiro…” É dessa forma que “Maresias – O Movimento da Maré”, exposição virtual de Matheus Affonso, é apresentada no texto curatorial da seleção de fotos. A exposição que está disponível aqui reúne 10 fotos diversas do artista sobre paisagens, expressões e pessoas da Maré.

O Movimento da Maré

“Maresias nasce do movimento da maré, do que move as ruas, becos e vielas das 16 favelas da Maré, nasce do desejo pulsante de retratar o cotidiano em suas diversidades e singularidades do dia a dia de um favelado”, comenta o fotógrafo. Para Matheus, a exposição online rompe barreiras que as galerias presenciais impõem para a classe artística carioca, mesmo com uma cena cultural favelada pulsante: “é muito difícil acessar espaços presenciais de galerias e espaços de artes, mesmo espaços que estão dentro de favelas e periferias”, destaca. 

As fotos de “Maresias” pautam desde o fotojornalismo até a fotoperformance com cortes, planos, e histórias de uma Maré em movimento. Histórias como a do Sr Paulinho que há 42 anos é sapateiro, a do Sr Artur que há 45 anos trabalha na colônia de pescadores do Parque união e ou da própria avó do fotógrafo, Maria Luiza, que chega aos seus 92 anos, desses 56 anos vivendo na Maré “chegando em uma territorio que ainda era água e vendo todos os movimentos que a Maré fez para se tornar hoje um bairro maior que 96% dos municípios do Brasil”, destaca o artista.

Sobre o artista

Matheus Affonso (25) é mareense, nascido e criado na Nova Holanda, ativista LGBTQI+, técnico em Comunicação visual pelo SENAI-Maracanã, estudante de Design Gráfico pela Estácio, e estudante de Fotografia pela Escola de Fotografia Popular do Imagens do Povo. Já atuou como professor de Designer Gráfico e Fotografia do Instituto Vida Real, é cofundador e integrante do Grupo Atiro, FAVELAMONA, Projeto Eeer, Entidade Maré e do Grupo Pantera de Teatro do Oprimido. Há 4 anos Matheus também é fotógrafo, comunicador e produtor de audiovisual do Maré de Notícias. 

“A fotografia representa para mim um espaço de resgate de narrativas e memórias, um lugar onde construo a minha arte, a partir do meu território, o lugar onde me afirmo quanto um fotografo LGBTQIA+ que pauta não só esses corpos, mas outras narrativas que me atravessam e me fazem mergulhar nas memórias da Maré quanto um favelado que pulsa arte e respira resistência”. Para o artista a fotografia é o principal meio de se comunicar artisticamente e de se colocar quanto pessoa pensante de novos caminhos para políticas públicas e a construção de narrativas que pautem a favela a partir de quem vive nela.

200 anos da independência do Brasil: D. Pedro I foi realmente o ‘cara’?

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Jorge Melo*

A independência do Brasil completa 200 anos. Para marcar a data será reaberto hoje (07/09), o Museu do Ipiranga, em São Paulo, depois de nove anos fechado por falta de segurança; e três anos de obras; que custaram 235 milhões de reais. No Museu do Ipiranga estão depositados, desde 1972, os restos mortais daquele que é considerado o herói da Independência: Dom Pedro I. Mas será que podemos atribuir nossa independência a um único homem?

Para comemorar os 200 anos de independência, o Governo Federal, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, trouxe de Portugal, por empréstimo, o coração de Pedro I, preservado em formol desde 1834, data da sua morte, aos 36 anos. Há quem considere mórbido esse tipo de celebração. Uma exposição, que terminou no último domingo (04/09), “Um coração ardoroso: vida e legado de Dom Pedro I”, foi montada no Palácio do Itamaraty, em Brasília, para exibir a relíquia. 

Autora de uma biografia crítica, “Dom Pedro I: um herói se nenhum caráter” (Cia das Letras, 2006) a cientista política Isabel Lustosa, pesquisadora do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, afirma que o governo não planejou ou preparou um evento para comemorar os 200 anos da independência: “Só restou fazer algum tipo de espetáculo em torno do pedaço do corpo de alguém que pediu para ser enterrado em Portugal”. 

Um dos últimos desejos de Dom Pedro I foi que seu coração fosse mantido na igreja da Lapa, na cidade do Porto, em Portugal. Pedro foi imperador do Brasil, de 1822 a 1831, quando abdicou em favor de filho Pedro II, na época com cinco anos, para voltar a Portugal e lutar pelo trono português para sua filha, Maria da Glória.

Lembranças da ditadura

Trazer o coração de Dom Pedro I para comemorar a independência não é uma ideia original. Em 1972, quando completamos 150 anos de independência, o general Emílio Garrastazu Médici, presidente e ditador (1969-1974), pediu ao governo português, que na época também era uma ditadura; a cessão definitiva dos restos mortais de Dom Pedro, I para a celebração do Sesquicentenário da Independência. Os portugueses cederam. 

O Brasil vivenciava na época um dos períodos mais sombrios da sua história, com prisões, torturas, assassinatos políticos e opositores que desapareciam depois de presos. Além de censura à Imprensa, ao teatro, ao cinema, à música, ao rádio e à televisão. Desde 31 de março de 1964, quando foi dado o golpe que derrubou o presidente João Goulart (1961-1964), vivíamos um regime autoritário, comandado pelos militares, mas com apoio civil. Deputados e senadores podiam apenas concordar com os ditadores sob a ameaça de ter os mandatos cassados e os direitos políticos suspensos por 10 anos. Muitos opositores do regime se exilaram. 

O país, no entanto, vivia também um momento de crescimento, o chamado Milagre Econômico. Ao contrário da classe média, os trabalhadores pobres não chegaram a se beneficiar com o crescimento da Economia que, durante os chamados “Anos de Chumbo”, crescia em média 10% ao ano. Uma das maiores taxas de crescimento do mundo. A máxima do ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, era “vamos deixar o bolo crescer para depois dividir”. Os mais pobres, entretanto, nunca receberam a sua fatia. 

Médici, o terceiro presidente do ciclo militar (1964-1985), queria aproveitar o bom momento para mostrar ao mundo o “novo” Brasil e reforçar o patriotismo da população. Os restos mortais de D. Pedro I passaram, de março a setembro, por todas as capitais brasileiras, até serem depositados definitivamente no Museu do Ipiranga, no dia sete de setembro de 1972. 

História oficial

Na escola aprendemos que no dia sete de setembro de 1822, D. Pedro I, nascido em Portugal, em 1798; então príncipe regente do Brasil, às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, decidiu tornar o Brasil independente. Por 322 anos estivemos ligados a Portugal. Como colônia, de 1500 a 1808; ou como sede administrativa do Império Português, de 1808 a 1821, quando Dom João VI retornou a Portugal com a sua corte. Pedro I foi príncipe regente de 1821 a 1822 e imperador de 1822 a 1831.  

Segundo a versão oficial, D. Pedro teria recebido a informação de que a corte de Lisboa reduzira seus poderes como príncipe regente, no Brasil, onde representava seu pai, Dom João VI. Dom Pedro I teria então declarado a separação irreversível entre Brasil e Portugal. A tradição consagrou essa narrativa e o famoso quadro pintando por Pedro Américo, “Independência ou Morte”, palavras que teriam sido proferidas por Dom Pedro I, ao desembainhar a espada e dar o famoso grito do Ipiranga, consolidou o mito. O quadro foi pintado 66 anos depois, na Itália, onde morava o pintor. E é uma criação/invenção de Pedro Américo. Na há, segundo Isabel Lustosa, nos jornais da época, “nenhuma referência ao que se passou nas margens do Ipiranga em 7 de setembro. O primeiro relato detalhado do episódio só foi publicado em 1826”. 

A pesquisadora lembra que “a Independência foi produto de uma série de fatores e da ação de alguns homens. Não foi planejada. Com o início dos trabalhos das Cortes (depois da volta de D. João VI a Portugal), ficou claro que não era isso que queriam os portugueses. Insatisfeitos com o grande atraso econômico no qual Portugal mergulhara depois da partida de D. João e vendo esse atraso como causado pela maior autonomia que o Brasil adquirira, desejavam fazer o Brasil voltar ao sistema anterior. Foi a isto que reagiram os brasileiros.”

A Revolução Constitucionalista, que aconteceu em Portugal em 1820, na cidade do Porto, era uma revolução com caráter de monarquia constitucional: a ideia era uma reforma dentro da monarquia, mas o rei se submeteria ao que o parlamento definisse.

Ao contrário do que o título do livro, “Dom Pedro I: um herói se nenhum caráter” leva a crer, Isabel Lustosa reconhece qualidades e a importância Dom Pedro I, como, por exemplo, a decisão de ficar no Brasil, contrariando os interesses de Portugal. 

D. Pedro I teria dado um sinal no sentido da independência, quando se recusou a acatar as ordens de regressar a Portugal no famoso “Dia do Fico”. Ele ficou e com poderes absolutos, mas que logo seriam limitados pela força militar, com muitos portugueses nos comandos, que aqui estava. O príncipe regente, entretanto, contava com o apoio das elites brasileiras, que não aceitavam o retorno do país à condição de colônia. 

A pesquisadora destaca também, o importante papel que a nascente Imprensa brasileira exerceu no processo de Independência. Segundo ela, desde a publicação do Correio Braziliense, em Londres, iniciada em 1808, passando pelos jornais que começaram a ser publicados no Rio em 1821, começaram a ser difundidas ideias de maior autonomia econômica e política para o Brasil. “Depois da Revolução Constitucionalista do Porto (1820) e do início dos trabalhos das Cortes em Lisboa, os debates entre deputados portugueses e brasileiros, repercutiam na imprensa e contribuíam para acirrar os ânimos. Os jornais brasileiros foram fundamentais para que D. Pedro decidisse pelo “Dia do Fico”, em 9 de janeiro de 1822 e pela Constituinte Brasileira, em 3 de junho de 1822, etapas que levaram ao 7 de setembro”, explica.  

Pactos entre elites

Segundo Isabel Lustosa, autora também de “Insultos Impressos: a Guerra dos Jornalistas na Independência’ (Cia das Letras, 2000), para os pobres, escravizados e negros libertos, a independência teve pouco significado. “Em 1822, o povo mal ouviu falar da Independência porque esse tipo de assunto não lhe dizia respeito. Afinal, o chicote que cortava as costas das vítimas da escravidão não se tornaria menos violento se o Brasil fosse independente. Mesmo os cidadãos alfabetizados, com algum nível de conhecimento, mas sem posses, não teriam direito a voto na nova ordem, pois, pelo sistema censitário estabelecido pela Constituição de 1824, que duraria até a República, só votava quem tivesse renda”.

Onde começa?   

Em 1808, o então rei de Portugal, Dom, João VI, com a família real e cerca de 10 mil nobres portugueses (não há registros precisos), fugiu para o Brasil, temendo que o francês Napoleão Bonaparte o fizesse refém. Napoleão queria fazer da França o grande país da Europa. Para tanto, com seu poderio militar, impôs um cerco econômico à Inglaterra, seu adversário direto. Os países europeus que comercializassem com os ingleses sofreriam retaliações. 

Portugal era um antigo aliado da Inglaterra a quem também devia muito dinheiro. As tropas de Napoleão invadiram Portugal em novembro de 1807, mas o rei e sua corte já estavam em alto mar. Com a estrutura administrativa transferida para o Brasil, deixamos de ser colônia. A comitiva real chegou ao Rio de Janeiro no dia oito de março de 1808, depois de uma escala de mais de um mês em Salvador, onde aportou no dia 22 de janeiro. 

Em abril de 1821, Dom João VI volta para Portugal, depois da expulsão dos franceses. E deixa Dom Pedro I como príncipe regente. Mas Antes de partir Dom João VI limpou todos os cofres e levou os recursos disponíveis. Ao longo de 1821, as discussões nas Cortes de Lisboa deixavam claro que o movimento liberal português pretendia submeter Pedro I ao controle do Congresso e restabelecer o poder de Lisboa sobre o restante do império.

Dom Pedro estava dividido entre conservar a sucessão ao trono português ou construir um império no Brasil. Aproximou-se dos moderados da elite brasileira, homens que haviam frequentado a Universidade em Portugal e exercido funções na administração no império. 

Depois do Dia do Fico, Dom Pedro I declarou inimigas tropas portuguesas que desembarcassem aqui sem consentimento, concordou em convocar uma Assembleia Constituinte, publicou documentos que exaltavam a fraternidade entre os integrantes do Império português e nos quais a independência aparecia no sentido de autonomia política. Entretanto, para a maioria dos integrantes da nossa elite político-econômica, a separação já estava consumada. 

Dona Leopoldina e a primeira dívida

Certamente você pouco sabe sobre Dona Leopoldina, a mulher de Dom Pedro I, e primeira imperatriz do Brasil.  No entanto, ela cumpriu um papel importante no processo de independência, pois agiu diretamente para o convencê-lo a seguir o caminho da ruptura com Portugal, ao perceber que o clima político poderia conduzir o país a uma república.   

Isabel Lustosa lembra que Dona Leopoldina “entendeu que era mais interessante para os seus filhos, herdeiros da Casa da Áustria, ficarem no Brasil com mais poderes do que irem para Portugal na mesma situação em que D. João, submetido à Assembleia”. 

Leopoldina estava convencida de que era possível negociar a libertação do Brasil da tutela portuguesa em troca de uma monarquia constitucional apoiada pela elite brasileira. Cabe lembrar que foi ela quem presidiu a reunião emergencial que definiu a nossa independência. A carta enviada após essa reunião fez com que d. Pedro a declarasse em 7 de setembro de 1822.

A independência, porém, monetariamente falando, teve um preço salgado. De início o novo país foi reconhecido pelos Estados Unidos. No entanto, “para consolidar essa posição necessitava que a antiga metrópole, Portugal, nos reconhecesse. A Inglaterra intermediou um acordo diplomático, assinado em agosto de 1825, o Tratado de Paz e Aliança. Pelo acordo, o Brasil deveria pagar uma indenização de dois milhões de libras esterlinas a Portugal. Os cofres estavam zerados (lembram de D. João VI?), não tínhamos condições de pagar. Os ingleses, então, emprestaram os recursos garantindo o pagamento. Detalhe, os portugueses tinham uma dívida de igual valor com os ingleses. Ou seja, começamos nossa vida independente como parte de uma transação duvidosa e já devendo”.

*Jorge Melo é jornalista formado pela Eco-UFRJ, mestrado em História Social-UFF e Doutor em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC-FGV

Jovem da Maré vence Olimpíada Carioca de Matemática e vai conhecer Disney e Nasa

Além da viagem internacional, a adolescente de 14 anos também foi premiada com um notebook; prefeito Eduardo Paes participou da entrega dos prêmios

Por Samara Oliveira, em 06/09/2022 às 11h36

“Muitas pessoas estão fazendo, eu não vou ganhar”, esse foi o primeiro pensamento da estudante Bruna da Silva, de 14 anos, ao realizar a prova da 1ª Olimpíada Carioca de Matemática (OCM), de 2021. A jovem moradora da Nova Holanda, na Maré, participou da competição quando estudava na Escola Municipal Clotilde Guimarães, em Ramos. Esse ano mudou para uma nova escola, sem grandes expectativas do resultado. Mas a notícia boa chegaria pouco tempo depois.

Participaram da OCM 200 mil alunos do 2º e 9º ano do Ensino Fundamental e Fundamental II, selecionados após duas provas elaboradas em parceria com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Através de uma ligação, Ana Ornellas, ex-professora de Bruna, foi a responsável por contar a novidade: ela tinha sido uma das jovens vencedoras da disputa. Com isso, a mareense conquistou uma viagem internacional para a Disney e para a Agência Espacial estadunidense (Nasa), além de ganhar um notebook. 

“Quando minha professora me ligou pra dar a notícia que eu tinha ganhado a olimpíada eu comecei a pular de alegria. Logo eu liguei para minha mãe, ela ficou tão feliz quanto eu. Cheguei no trabalho dela todo mundo já estava sabendo porque ela espalhou pra todo mundo”, relembra, alegre. 

Jessica da Silva, mãe da adolescente, celebrou muito a notícia: “Fico muito feliz e orgulhosa. Ela é uma menina dedicada e fala que vai fazer de tudo para mudar a nossa vida, que vai ser o orgulho da família”.

Ao todo, foram 291 alunos vencedores e os dez primeiros estudantes do 2º ao 9º ano também foram premiados com um curso de programação, cedido pela Codebuddy, e de inglês, no Edify Education. Foram distribuídas ainda medalhas de ouro, prata e bronze e menção honrosa para os participantes.

Bruna entre a mãe Jessica da Silva e a professora Ana Ornellas durante entrega dos prêmios | Foto: Arquivo pessoal
Bruna entre a mãe Jessica da Silva e a professora Ana Ornellas durante entrega dos prêmios | Foto: Arquivo pessoal

Em agosto, ocorreu a cerimônia de entrega dos notebooks no Aterro do Flamengo, na Zona Sul, para os alunos vencedores. O evento contou com a presença do prefeito Eduardo Paes e do secretário municipal de Educação.

A segunda edição da Olimpíada Carioca de Matemática já está em andamento nas unidades escolares com a primeira fase concluída em junho, e o encerramento da segunda fase previsto para outubro.