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Pesquisa comprova: pandemia agrava abismo criado pelo racismo estrutural

Dados coletados por jovens pesquisadores de favelas do Rio de Janeiro evidenciam aprofundamento das desigualdades sociais em tempos de luta contra a covid-19

Por Tamyres Matos, em 03/10/2021 às 07h. Editado por Daniele Moura

Supervisionados pela experiente socióloga Julita Lemgruber e pela ativista dos direitos humanos Rebeca Lerer, um grupo de jovens pesquisadores, através do estudo Coronavírus nas favelas: a desigualdade e o racismo sem máscaras, transformou em dados a dura experiência do morador de periferia no Rio de Janeiro no período da pandemia. Além dos desafios universais, quem vive em regiões como o conjunto de favelas da Maré, o Complexo do Alemão e a Cidade de Deus ainda precisa conviver com o desrespeito de representantes do Estado à proibição de operações policiais desde a época em que as tentativas de isolamento social eram mais rígidas.

Mais da metade dos entrevistados, inclusive, nunca conseguiu aderir ao isolamento, principalmente por causa das demandas de trabalho (apenas 26% afirmaram ter carteira assinada) na busca pela sobrevivência. Entre os dados mais marcantes da pesquisa, 63% das pessoas relatam ter ficado sem água em algum momento da pandemia – a falta de água faz parte da rotina de 37% dos moradores -, o que é uma dificuldade central na prevenção à covid-19. Uma das conclusões da pesquisa, evidente pelo nome escolhido, está na relação entre as consequências sociais e o perfil racial destes moradores.

“Eu sou essa população de favela, essa população preta que está nos dados. Faltou água na minha casa, faltou luz, fiquei sem internet… infelizmente, o que era pra ser um problema excepcional se tornou algo comum, algo cotidiano. Essa situação é estrutural e acontece há décadas. Essa desigualdade é acentuada pela questão racial e a pandemia só veio pra agravar isso”, afirma Sabrina Martina, conhecida como MC Martina, rapper que mora no Complexo do Alemão.

Sabrina Martina/MC Martina, uma das coordenadoras da pesquisa. Foto: Divulgação

O trabalho do coletivo Movimentos está associado à desmistificação do debate sobre as drogas no Rio de Janeiro, por acreditar que uma nova abordagem no que diz respeito às políticas públicas sobre o tema é urgente. E o que a pandemia tem a ver com isso? A violência da “guerra às drogas” não deu trégua. É só lembrar que João Pedro, de 14 anos, foi morto a tiros durante uma operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. O adolescente tentou acalmar a mãe preocupada: “Estou dentro de casa”, disse em um áudio do WhatsApp. Isso aconteceu em 18 de maio de 2020, quando o Brasil acumulava oficialmente 16.856 vítimas fatais de covid-19 e a campanha #fiqueemcasa ganhava ainda mais força na internet.

“A gente precisa do fim da ‘guerra de drogas’. Essas operações policiais nas favelas que as tornam um campo de guerra, onde moradores acabam sendo os alvos, precisam acabar. São gastos milhões e milhões dos cofres públicos com essa política de segurança que está falida. É o sangue da população que escorre, muitos policiais acabam mortos nesse confronto sem vencedores entre os nossos”, diz o historiador Aristênio Gomes, morador do Parque União e um dos coordenadores do coletivo.

Aristênio Gomes é morador da Maré e um dos integrantes do estudo. Foto: Divulgação

O racismo estrutural também fica explícito ao analisar os dados das vítimas desta “guerra”. Um levantamento da Rede de Observatórios de Segurança Pública divulgado no fim do ano passado mostrou que 86% das pessoas mortas em operações policiais no Rio de Janeiro são negras. 

População organizada: potência e (sobre)vivência

O combate aos efeitos devastadores da pandemia reforçou a lógica de diversos coletivos e ONGs nas favelas do Rio de Janeiro: “se o Estado não age, agimos nós”. Ações de assistência social e conscientização foram coordenadas e realizadas pelos próprios moradores e novas frentes de solidariedade que se organizaram para amenizar os danos causados pela falta de assistência.

“Às custas de muito esforço e a despeito dos riscos assumidos por ativistas, defensores de direitos humanos e lideranças comunitárias, as campanhas de arrecadação e distribuição de cestas básicas e kits de higiene nas favelas fizeram (e continuam fazendo) a diferença na vida de dezenas de milhares de famílias, assumindo um papel que devia ser do Estado”, aponta o relatório.

Para Aristênio, o histórico de construção coletiva e mobilização foi o principal elemento para amenizar os impactos da epidemia global nas favelas participantes do estudo. “As ações de combate à fome, a testagem e a vacinação em massa… tudo isso ajudou e ajuda muito para que essa população possa ter um respiro a mais em comparação a outras favelas que, infelizmente, não contam com tantas organizações e coletivos quanto a Maré, a Cidade de Deus e o Alemão”, considera.

O estudo destaca que, em 2020, o governo federal deixou de gastar mais de R$ 80 bilhões do orçamento destinado ao combate à pandemia, permitindo, assim, que a situação escalasse para os mais de 200 mil mortos pelo vírus em 2020, com taxas recorde de desemprego (13 milhões de pessoas).

Construção do estudo

A pesquisa foi realizada entre os meses de  setembro e outubro de 2020, usando o método quantitativo de coleta e análise de dados dos moradores das favelas do Complexo do Alemão, do Complexo da Maré e da Cidade de Deus. É importante ressaltar que outras favelas também participaram da pesquisa, mas por se tratarem de localidades dispersas pela cidade do Rio de Janeiro, foram categorizadas como “Outras”.

As questões foram organizadas em 5 eixos temáticos: perfil socioeconômico; covid-19 e acesso à saúde; impactos da pandemia na saúde mental; uso de drogas durante a pandemia; violência. Com um total de 55 perguntas, a ferramenta utilizada para coleta de dados foi o Google Forms, disponibilizada por aplicativo para celular.

A proporcionalidade dos questionários por favela usou como base dados divulgados pelo IBGE (2010). Sendo assim, o Complexo da Maré contemplava 129.000 habitantes (totalizando 55,1%, necessitando a aplicação mínima de 275 de 500 questionários), o Complexo do Alemão possuía 69.148 habitantes (29,4%, com aplicação mínima de 148 de 500 questionários), e Cidade de Deus contava 38 mil habitantes (15,5%, aplicação mínima de 100 de 500 questionários). Diante disso, foram aplicados 342 questionários na Cidade de Deus, 305 no Complexo da Maré, 165 no Complexo do Alemão e 143 de outras favelas, totalizando os 955 participantes do estudo apresentado.

Outros dados significativos

  • 83% responderam ter ouvido tiros de suas casas durante a pandemia;
  • 69% disseram já ter presenciado ou tomado conhecimento de operações policiais na favela em que vivem;
  • 73,8% dos entrevistados afirmaram sentir que houve um aumento de casos de violência doméstica;
  • 93% dos entrevistados afirmaram conhecer alguém que teve Covid-19;
  • 73% souberam de alguém que morreu da doença;
  • 62% dos entrevistados solicitaram o auxílio emergencial oferecido pelo governo federal, mas somente 52% o receberam;
  • 50% dos moradores solicitaram doações e, dentre esses, 56% receberam ajuda;
  • 76% dos respondentes declararam ter algum distúrbio do sono;
  • 43,1% alegaram ter algum nível de depressão;
  • 34% dos entrevistados disseram que a ansiedade é o sentimento mais presente em relação à pandemia. Os outros sentimentos elencados foram: tristeza, medo, pânico, pensamentos negativos, dores, depressão e palpitação acima da média.

Ronda: Prefeitura do Rio celebra restabelecimento do ‘passaporte da vacina’

Por Tamyres Matos, em 01/10/2021 às 18h38

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, celebrou o restabelecimento do “passaporte da vacina” durante a divulgação do 39º Boletim Epidemiológico na manhã desta sexta-feira. Na última quarta, o desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Paulo Rangel, da 3ª Câmara Criminal, havia decidido pela suspensão parcial dos efeitos do decreto municipal do Rio que exige comprovante de vacinação para a entrada em determinados locais e estabelecimentos.

“Queria saudar a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, ao restabelecer o ‘passaporte da vacina’. Não há qualquer objetivo por parte da Prefeitura de cercear os direitos de qualquer indivíduo, mas nós entendemos que o direito coletivo à saúde está relacionado à necessidade de proteger a população num país em que 600 mil vidas foram perdidas na pandemia. É necessário estabelecer medidas para evitar que as pessoas contraiam a doença e, claro, em casos mais graves, evitar que essas pessoas venham a óbito”, afirmou Paes.

De acordo com os dados apresentados, os casos notificados e os atendimentos na rede de urgência e emergência por síndrome gripal e síndrome respiratória aguda grave na capital também mantêm a tendência de queda sustentada. O site oficial da Prefeitura destaca a fila de espera zerada por leitos para casos de covid-19 e uma das menores taxas de hospitalização desde o início da pandemia.

“Nosso foco, agora, é a retomada da economia. Com a diminuição dos casos e dos óbitos, a gente pode voltar a fazer com que a nossa rede municipal de saúde funcione com mais tranquilidade. Claro que, com algum grau de restrição, já vivemos na cidade uma situação completamente diferente daquela que passamos desde o começo da pandemia”, declarou o prefeito.

Foi anunciado ainda que o boletim passará a ser divulgado quinzenalmente e não mais todas as sextas-feiras.

População carioca 100% vacinada até novembro

Eduardo Paes reforçou que a retomada da economia no Rio depende da imunização em massa da população e do controle de circulação nos espaços públicos da capital fluminense. “O Rio de Janeiro é uma cidade que quer retomar a normalidade, quer ter Réveillon, quer ter Carnaval, quer ter os hotéis lotados. Para isso é importante que se entenda que quando exigimos o passaporte da vacinação estamos dando um sinal para aqueles que nos visitam. Tenho como garantia que até segunda quinzena de novembro quase 100% dos cariocas adultos vão estar com a segunda dose, mas não temos como garantir o ciclo vacinal completo dos turistas. Quem não tiver se vacinado não será bem-vindo no Rio de Janeiro”, sentenciou.

A vacinação na cidade avança com a repescagem da primeira para qualquer pessoa a partir de 12 anos e com a dose de reforço para idosos e trabalhadores da saúde. Até 30 de outubro podem tomar a dose de reforço quem tomou a segunda dose em abril. O calendário da Prefeitura avança até fevereiro de 2022, com o reforço para os trabalhadores da saúde que tenham completado a vacinação em julho e agosto.

Nesta sexta-feira, o reforço foi aplicado nos idosos de 79 e sábado é a vez das pessoas com 78 anos. Na semana que vem, serão contemplados os idosos até 73. A Secretaria municipal de Saúde também antecipou a segunda dose para quem recebeu a primeira da Pfizer e tem 40 anos ou mais. Estes podem procurar o posto para completar a imunização 21 dias depois da primeira dose.

Segunda dose antecipada na Maré

O último boletim do Conexão Saúde, iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Conselho Comunitário de Manguinhos, Redes da Maré, Dados do Bem, SAS Brasil e União Rio, anunciou a antecipação da segunda fase do #VacinaMaré. A aplicação da segunda dose ocorrerá entre os dias 14 e 16 de outubro (semanas antes do previsto inicialmente).

“Além disso, seguimos atuando na construção de um estudo, em parceria com a Fiocruz e a Secretaria de Saúde, que vem trabalhando com 14 equipes de campo, compostas por mobilizadores e agentes de saúde, que estão visitando cerca de 2.000 famílias da Maré para mapear a transmissão do vírus no ambiente familiar. Esta coleta de dados e informações, além de gerar conhecimento sobre o comportamento do vírus, pretende também qualificar a compreensão da situação de saúde das famílias mareenses, o que nos dá mais condições para atuar na mobilização de políticas públicas em saúde para a Maré”, explica o texto divulgado pela Redes da Maré.

Número de casos

De acordo com o Painel Unificador COVID-19 Nas Favelas, o Conjunto de Favelas da Maré é o 1º lugar nos registros de óbitos e casos dentre as comunidades cariocas. Ao todo, são 9.394 casos e 373 mortes no território. Na lista, ainda permanecem em ordem como principais pontos de infecção e óbitos: Rocinha (3.883 casos/ 140 mortes), Fazenda Coqueiro (3.769 casos/ 242 mortes), Alemão (3.026/ 172 mortes), e Complexo da Penha (2.464 casos/ 118 mortes).

Maré de Cultura

Desta sexta-feira (01) a 10 de outubro, a Mostra de Cinemas Africanos ocupa o Sesc Digital com uma curadoria que lança luz sobre o cinema de gênero do continente, como o filme de terror e fantasia Juju Stories, do coletivo nigeriano Surreal 16, e o road movie feminista Flatland, dirigido pela sul-africana Jenna Bass.

A cantora Josyara e a dupla Saskia & Felinto estão entre os destaques do Negras Melodias Show, festival online que acontece ao longo do fim de semana.

A cineasta Lucia Murat, de Quem Bom te Ver Viva, é a homenageada do 3º Cabíria Festival – Mulheres & Audiovisual, que a partir de quarta ocupa as plataformas Videocamp, Mubi, Telecine e YouTube.

Se liga nos destaques da semana

Sábado (25/9)
Trens do Rio podem piorar e a tarifa passar de R$ 7 em 2022 se nada mudar na Supervia, aponta estudo, por Casa Fluminens
Festas de São Cosme e Damião reúne religiões pela alegria das crianças, por Hélio Euclides

Domingo (26/9)
Processo contra PM que matou Ágatha Félix está parado há um ano, por Jeniffer Mendonça, em Ponte Jornalismo

Segunda-feira (27/9)
Gerando Falcões abre processo seletivo para formação gratuita de líderes sociais do Rio de Janeiro, por Redação

Terça-feira (28/9)
‘Aulão virtual’: Governo do Rio faz intensivo do Enem para alunos concluintes do Ensino Médio, por Redação
Secretaria de Ciência e Tecnologia prorroga inscrições para curso gratuito de Python, por Redação

Quarta-feira (29/9)
Projeto abre inscrições para o Catálogo de Promoção da Igualdade Racial, por Redação
Rocinha ganha curso inédito de gastronomia com chef renomada, por Michel Silva e Osvaldo Lopes – Fala Roça
Após 50 anos, ‘Passarela do Caracol’ entra para galeria de memórias da Maré, por Hélio Euclides

Quinta-feira (30/9)
Iniciativas na Maré criam alternativas de arborização no território, por Hélio Euclides
Resistência: caminhos da arte periférica a partir da Maré, por Tamyres Matos 
Festival FALA! discute o jornalismo independente, diverso e plural, por Redação

Sexta-feira (01/10)
Centro de Promoção da Cidadania LGBTIQIA+ é inaugurado na Maré, por Hélio Euclides

Vacinação contra covid-19 segue em todo Estado; município planeja postos de imunização em BRT e metrô

Por Edu Carvalho, em 01/10/2021 às 10h15

A vacinação no em todo estado e na capital do Rio segue a ‘plenos vapores’. Nesta sexta-feira, (01/10), pessoas com mais de 12 anos podem ser imunizadas. O reforço da vacina também aocntece para aqueles com mais de 79 anos, pessoas com alto grau de imunossupressão e também quem tem 60 anos ou mais que tomaram a segunda dose na cidade do Rio até 31 de março. Cabe lembrar que agora o intervalo entre a primeira e segunda dose da Pfizer, para quem tem 40 anos ou mais agora, é de 21 dias.

O intervalo mínimo entre a aplicação da segunda dose ou dose única e a dose de reforço é de três meses para idosos e 28 dias para pessoas com alto grau de imunossupressão.

Com intuito de aumentar o número de vacinados no município, a Prefeitura do Rio anunciou na última quinta-feira (30/9) que postos de imunização serão criados em estações do BRT e do metrô. A ação deve ter início já a partir deste mês, segundo informou o Secretário Municipal de Saúde Daniel Soranz em entrevista à TV Globo.

“Agora no mês de outubro a gente começa a vacinar no metrô, BRT para tentar captar alguém que não tomou a primeira dose e a gente intensifica muito a campanha para a segunda dose e para dose de reforço”, afirmou.

Estado do Rio registra o menor número de internados em UTI Covid

A Rede SUS no Estado do Rio de Janeiro registrou, entre 12 e 18 de setembro, o menor número de internações em UTIs por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) desde o início da pandemia. De acordo com levantamento da Secretaria de Estado de Saúde, 460 pessoas foram hospitalizadas nesse período. Há pouco mais de um mês, entre 8 e 14 de agosto, esse número era de 1.187 doentes. Uma redução de 61%.

O Estado do Rio só teve um índice menor que este entre 15 e 21 de março de 2020, mês em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou o alerta mundial da pandemia do novo coronavírus.

”Estamos vendo uma redução no número de casos graves e internações, e isso está certamente ligado ao avanço da vacinação em todo o estado. Temos uma distribuição de vacinas eficiente, e isso facilita o trabalho das Secretarias Municipais. É importante que a população entenda a necessidade da segunda dose e da dose de reforço dos idosos”, comentou Alexandre Chieppe, secretário de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.

O avanço da vacinação fez os indicadores precoces caírem no território fluminense. A taxa de ocupação da rede SUS, que conta com unidades federais, estaduais e municipais, está hoje em 26,5% para enfermaria e 49,6% em UTI. Com isso, a Central Estadual de Regulação (CER) tem zerado a fila por Covid-19 durante vários momentos do dia. Nos últimos sete dias, a média móvel de atendimentos nas 30 UPAs da rede estadual está em 215 por dia, a menor desde outubro do ano passado.

O número de óbitos caiu 46% entre agosto e setembro. Na semana epidemiológica 33 (de 15 a 21 de agosto), 711 óbitos foram contabilizados por Covid-19 no estado. Já na semana 37 (de 12 a 18 de setembro), esse número baixou para 378; o menor desde o fim de outubro de 2020.

Centro de Promoção da Cidadania LGBTIQIA+ é inaugurado na Maré

Espaço de luta e mobilização leva nome de ativista local Gilmara Cunha

Por Hélio Euclides, em 01/10/2021 às 07h. Editado por Edu Carvalho

Motivo de orgulho e ainda mais garra, moradores da Maré se encontraram ontem (30/9) para inauguração do Centro de Promoção da Cidadania LGBTIQIA+, na Nova Holanda. A unidade, ligada ao Programa Estadual Rio Sem LGBTFobia, é a primeira instalada numa favela do Rio de Janeiro, com serviços de apoio à população LGBTQUIA+ para garantir e promover cidadania e acesso aos direitos devidos. Haverá atendimentos gratuitos com advogados, psicólogos e assistentes sociais.

O centro recebeu o nome de Casa da Diversidade Gilmara Cunha, ativista LGBTQIA+ e fundadora do Grupo Conexão G. Na abertura da Casa, Gilmara ressaltou a importância de receber a homenagem em vida. “Tenho uma história de amor por essa população mais esquecida. Comecei distribuindo preservativo no ponto de prostituição do outro lado da Maré. A luta começou há 15 anos e agradeço a Redes da Maré que sempre apoiou o nosso trabalho. O que ocorre hoje é uma conquista de um olhar para os mais vulneráveis. Um grupo que precisa ser visto e reconhecidos e o Estado vem apoiar”, comenta Gilmara. 

Mônica Benício, vereadora estadual, durante discurso na Casa. Foto: Matheus Affonso

A companheira de Marielle, Mônica Benício, vereadora da cidade do Rio de Janeiro estava emocionada com o momento da inauguração do centro após derrota na câmara. “Tentei incluir no calendário da cidade o Dia da Visibilidade Lésbica, algo que foi reprovado por dois votos. O ingrato é que temos o Dia da Pipa e não conseguimos algo tão relevante por causa de pessoas que não aprovam os nossos corpos e têm medo da nossa visibilidade”, diz. Para ela, a escolha da Maré não podia ser mais importante, pois foi o local onde passou a maior parte da vida. 

Segundo pesquisa da organização de mídia Gênero e Número, com o apoio da Fundação Ford e divulgada pela Fundação Fundo Brasil em 2018, 51% das pessoas LGBTQIA+ relataram ter sofrido algum tipo de violência motivada pela sua orientação sexual ou identidade de gênero. Entre as violências, 94% foram verbais e outras 13% físicas. Os centros nascem para enfrentarem essa situação de LGBTfobia que pessoas sofrem todos os dias. 

Ativistas da Maré reúnem-se para abertura da Casa da Diversidade Gilmara Cunha. Foto: Matheus Affonso

Os Centros de Cidadania LGBTQIA+ são uma iniciativa estadual do Programa Rio Sem LGBTfobia, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. “Esse centro marca uma luta em defesa do território. Entendemos que muitas vezes a pessoa não tem R$ 10 para ir ao Centro da Cidade conseguir apoio. Aqui teremos uma equipe completa a disposição para o atendimento”, garante Luciana Martins Calaça, subsecretária de estado da Promoção, Defesa e Garantia dos Direitos Humanos. 

Já existem outros equipamentos em Niterói, Queimados, Volta Redonda, Central do Brasil, Nova Friburgo, Arraial do Cabo, Miguel Pereira e Caxias. O governo do Estado promete outras unidades. “Meu papel é de ser um facilitador das políticas públicas. O importante é um atendimento no qual nos coloquemos no lugar do outro. Temos que potencializar e fazer justiça. Temos que levar justiça para que a voz de todas e todos sejam ouvidos”, diz Matheus Quintal, secretário de estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.

A Casa da Diversidade Gilmara Cunha vai funcionar de segunda a sexta, das 9h às 18h, na Rua Marcelo Machado de Nova Holanda, número 51.

Festival FALA! discute o jornalismo independente, diverso e plural

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Em formato online, o Fala! discute o futuro do jornalismo e seu papel dentro de uma sociedade que, cada vez mais, valoriza a diversidade de vozes; A programação de painéis e cursos é gratuita e ocorre de 1 a 8 de outubro, em parceria com o Sesc São Paulo

Por Redação em 30/09/2021 às 12h

Entendendo que a difusão de informações ocorre para além dos profissionais de jornalismo, o Festival FALA! promove uma programação de debates e cursos com participação de pesquisadores do tema na Academia, que atuam na comunicação de base e nas manifestações artístico-culturais da América Latina; e de agentes que comandam plataformas independentes de jornalismo em diversas regiões do Brasil. Com isso, o FALA! amplia a conversa sobre as possibilidades que consideram a diversidade de vozes, os novos atores neste cenários, financiamento do jornalismo de causa, linguagens e regionalidades.

FALA! é um festival de jornalismo e cultura que propõe o debate sobre o futuro do jornalismo e seu papel dentro da sociedade brasileira a partir da perspectiva popular, tendo a diversidade e a pluralidade de vozes como premissa para abordar todos os temas. O festival também busca abordar os temas urgentes do jornalismo independente, como alternativas de financiamento, proteção dos jornalistas, capacitação e fomento das redes de fortalecimento das mídias independentes. O FALA! – Festival de Comunicação, Culturas e Jornalismo de Causas é idealizado e organizado por quatro grupos de mídia independente: Alma Preta Jornalismo (SP), Marco Zero Conteúdo (PE), 1Papo Reto (SP) e Ponte Jornalismo (SP). “Nós pretendemos discutir de forma mais aprofundada a relação entre arte, cultura e um jornalismo posicionado e comprometido com a diversidade e a pluralidade de vozes e corpos. É importante que construamos estes espaços de discussão para  fortalecer o compromisso do jornalismo com a democracia, sem as meias-palavras e omissões do passado recente”, explica Laércio Portela, do portal Marco Zero e um dos idealizadores do FALA!. 

A mesa de abertura do Festival, que acontece no dia 1º, às 19h, tem como tema “Como o jornalismo, a arte e a cultura podem colaborar na reconstrução desse mundo moderno que se encontra em ruínas?”. A fala inaugural fica por conta de Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. Participam desta conversa mediada por Laércio Portela, editor e cofundador da Marco Zero Conteúdo, a jornalista e pesquisadora Rosane Borges; Donminique Azevedo, jornalista e especialista em Raça, Gênero e Sexualidades;   e a cantora,  escritora e pesquisadora Fabiana Cozza.

Samela Awiá (foto: Cícero Bezerra) e Cecília Olliveira (foto: reprodução) são alguns dos nomes da segunda edição do FALA! – Festival de Comunicação, Culturas e Jornalismos de Causa

Dando continuidade à programação, o festival apresenta o painel  “Jornalismo e democracia: ou vai ou racha!”, com a presença das jornalistas Cristina Serra, da Folha de São Paulo (SP), Ana Paula Rosário, do canal Corpo Político e Cecília Olliveira, do The Intercept (RJ). Com mediação de Pedro Borges, cofundador e editor chefe do Alma Preta Jornalismo, a conversa acontece no dia 2, às 10h. Neste mesmo dia, às 15h, acontece a mesa “Jornalismo influencer: resistência narrativa nas redes com a presença  de Samela Awiá,  comunicadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib); Martihene Keila, jornalista e cofundadora  do coletivo Sargento Perifa (PE) e Xico Sá, jornalista, escritor e colunista  do El País Brasil. A mediação será do ativista e empreendedor Raull Santiago, do Perifa Connection. 

Com mediação do jornalista Rosenildo Ferreira, de 1Papo Reto, a mesa “Quem vai financiar o jornalismo independente no Brasil” abre a programação do terceiro dia, com a participação da Daniele Moura, do Maré Notícias (RJ), Elaine Silva, do Alma Preta Jornalismo (SP), e Rogério Christofoletti, jornalista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, discutindo possibilidades de viabilização financeira para veículos engajados em causas.

Divulgação da mesa que o Maré de Notícias irá participar

No dia 3, às 15h, fechando a programação de debates,  a mesa “Diálogos Sul-Sul” discute a importância das pontes entre os veículos latinoamericanos com: Cesar Bartiz, do jornal El Pitazo da Venezuela, Alecsandra Matias de Oliveira, pesquisadora do Centro Mario Schenberg de Documentação e Pesquisa em Artes (ECA USP), e Alejandro Valdéz, comunicador visual, diretor e co-fundador do El Surti, do Paraguai. A mediação será de Jessica Tamyres dos Santos, editora de relacionamento da Ponte Jornalismo.

As mesas serão transmitidas no YouTube no canal do Sesc Paulista: youtube.com/sescavenidapaulista.

Além dos painéis, o Festival FALA! traz, ainda, o curso “Jornalismo, o mundo moderno e as novas formas de mediação”, que será ministrado pela professora pós-doutora Rosane Borges de 5 a 8 de outubro. O curso será dividido por temas em quatro módulos, tendo dois convidados por tema para discutir experiências e vivências dentro do campo da comunicação.

Módulo 1: Diversidade, Pluralidade e Inclusão: requisitos para um jornalismo democrático. Facilitadoras: Jornalistas Maju Coutinho e Flávia Lima;
Módulo 2: Ler e Dizer o Mundo de Forma Minimalista: as camadas do invisível e as narrativas de mulheres negras. Facilitadoras: ativista Neon Cunha e Alane Reis, jornalista da Revista Afirmativa; Módulo 3: Jornalismo e Novas Formas de Enquadramento: as experiências dos povos originários na captura e transmissão de imagens. Facilitadoras: artista e ativista Yacunã Tuxã, e poeta e geógrafa Márcia Kambeba
Módulo 4:  Música, Literatura e Dança: trançado de códigos que informam sobre o mundo. Facilitadores: cantora Fabiana Cozza e compositor Salloma Salomão

Inscrições gratuitas para as oficinas no link: https://inscricoes.sescsp.org.br/online/#/inscricao 

Programação completa do FALA! – Festival  de comunicação, culturas e jornalismo de causas:

  • Mesa de abertura: Como o jornalismo, arte e a cultura podem colaborar na reconstrução desse mundo moderno que se encontra em ruínas?
    Fala inaugural: Danilo dos Santos de Miranda (Diretor Sesc São Paulo)
    Painel: Rosane Borges (Carta Capital), Fabiana Cozza dos Santos e Donminique Azevedo (UNEB);
    Mediação: Laercio Portela (Marco Zero Conteúdo)
    Quando: 01/10 | 19h
  • Mesa 1: Jornalismo e democracia: ou vai ou racha!
    Painel: Cristina Serra (Folha de São Paulo), Ana Paula (Canal Corpo Político) e Cecilia Olliveira (The Intercept, do RJ)
    Mediação: Pedro Borges (Alma Preta Jornalismo)
    Quando: 02/10 | 10h
  • Mesa 2: Jornalismo influencer: resistência narrativa nas redes
    Painel: Samela Awiá (APIB), Martihene Keila de Oliveira (Sargento Perifa, de PE) e Xico Sá (El País)
    Mediação:Raull Santiago (Perifa Connection, do RJ)
    Quando: 02/10 | 15h
  • Mesa 3: Quem vai financiar o jornalismo independente o Brasil
    Painel: Daniele Moura (Jornal Maré Notícias, do RJ), Elaine Silva (Alma Preta Jornalismo) e Rogério Christofoletti (UFSC)
    Mediação: Rosenildo Ferreira (1PapoReto)
    Quando: 03/10 | 10h
  • Mesa 4: Diálogos Sul-Sul
    Painel: Alejandro Valdéz (El Surty, do Paraguai), Alecsandra Matias de Oliveira (ECA-USP) e Cesar Batiz (El Pitazo e Poderopedia, da Venezuela)
    Mediação: Jessica Tamyres dos Santos (Ponte Jornalismo)

CURSO “JORNALISMO, O MUNDO MODERNO E AS NOVAS FORMAS DE MEDIAÇÃO” de 5 a 8 de outubro

  • Módulo 1:  Diversidade, Pluralidade e Inclusão: requisitos para um jornalismo democrático
    Convidades: Maju Coutinho e Flávia Lima
    Quando: 05/10 | 19h
  • Módulo 2: Ler e Dizer o Mundo de Forma Minimalista: as camadas do invisível e as narrativas de mulheres negras
    Convidades: Alane Reis e Neon Cunha
    Quando: 06/10 | 19h
  • Módulo 3: Jornalismo e Novas Formas de Enquadramento: as experiências dos povos originários na captura e transmissão de imagens
    Convidades: Yacunã Tuxã e Marcia Kambeba
    Quando: 07/10 | 19h
  • Módulo 4: Música, Literatura e Dança: trançado de códigos que informam sobre o mundo
    Convidades: Salloma Salomão e Fabiana Cozza
    Quando: 08/10 | 19h

Resistência: caminhos da arte periférica a partir da Maré

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Artistas de diferentes partes da Maré refletem sobre a importância da arte para a expressão da subjetividade dos jovens, assim como para denunciar os efeitos nocivos da desigualdade social sem a lente dos estereótipos

Por Tamyres Matos, em 30/09/2021 às 10h20. Editado por Edu Carvalho

Jefferson Melo é morador da Baixa do Sapateiro. Matheus Frazão mora no Conjunto Esperança. Ambos são mareenses de 25 anos que têm muito a dizer sobre o contexto da arte periférica. As manifestações artísticas ganharam centralidade na vida dos dois ainda na infância/adolescência. Jefferson atua no projeto “Entre Lugares”, do Museu da Maré, há seis anos e criou, durante a vida pandêmica, o movimento virtual Narrativas Periféricas. Matheus começou sua jornada artística na Usina da Cidadania, em Manguinhos, e recentemente integrou a mostra competitiva do Festival de Teatro Universitário (FESTU) com o monólogo Cavalo Alado, que idealizou junto a Diogo Nunes, amigo do Complexo do Alemão, e denuncia os abusos dos agentes públicos durante as operações policiais.

“Eu não quero falar sobre Shakespeare, quero contar o que vivo, o que domino, o que sinto. Arte periférica é falar sobre nós. O objetivo é falar das memórias, dos atravessamentos que acontecem nesse espaço. Seja pela ausência do estado, seja pelas memórias afetivas construídas com a nossa vivência. Aqui temos uma cultura própria, um jeito de falar próprio. É importante contar histórias sobre o nosso local e temos propriedade para fazer isso de forma mais profunda que os estereótipos, ir além das lentes pelas quais costumamos ser vistos por quem é de fora”, analisa Matheus.

Os jovens, que são amigos e têm um trabalho em comum no Museu da Maré, têm um discurso alinhado quando discutem o poder da arte e a importância desta para valorizar a narrativa da periferia. Jefferson acredita que ser artista na Maré é sobre “resistir e insistir”. “A arte ainda é uma bolha elitista e o que se produz fora da favela nem sempre interage com o que se produz dentro. Não existem muitos recursos para a arte e cultura de maneira geral, é um campo abandonado pelo governo. Então, na favela, onde esses esquecimentos são duplicados, há ainda menos investimentos. Então viver na arte é lutar pela sua história, pela sua memória, pelo território, pois somos excluídos do pertencimento na cidade. Ser artista favelado é amor, é vocação, é identidade”, defende.

Matheus Frazão no espetáculo Cavalo Alado que denuncia os abusos dos agentes públicos durante as operações policiais.

Arte e saúde mental

Ao pensar a expressão artística durante o período da pandemia, Matheus e Jefferson reforçam que, apesar dos evidentes abalos emocionais, foi essencial – e requisito de sobrevivência – não abafar essa área da subjetividade. Entre os dias 23 e 28 de agosto, o território mareense viveu a 1ª Semana de Saúde Mental (Rema Maré). Uma série de atividades culturais realizadas em desdobramento à pesquisa Construindo Pontes, que analisou os impactos da violência urbana na saúde mental dos moradores das 16 favelas. O Rema Maré é a arte periférica a serviço do debate sobre qualidade de vida e estratégias para minimizar o sofrimento mental da população.

“O papel da arte dentro da Maré é o papel da arte em todo canto. A gente busca ligar, conectar as pessoas. Se eu fizer um desenho e não mostrar pra ninguém, essa é uma forma de fazer conexão comigo mesmo. Quando eu mostro para alguém, é uma conexão com outra pessoa. Se eu colocar na parede e muita gente puder ver, essas pessoas estão conectadas, não somente comigo, mas também entre elas. Arte é um estímulo de conexões”, define Paul Heritage, diretor artístico da People’s Palace Projects, instituição britânica parceira da Redes da Maré no estudo Construindo Pontes.

Matheus e Jefferson concordam com a visão de Paul. Para o jovem do Conjunto Esperança, viver a arte é uma forma de desenvolver o autoconhecimento. Ele acredita que “arte é qualidade de vida, tanto para quem assiste, quanto para quem faz”, mas que as exigências de produtividade durante o período restrito às telas da pandemia também se tornaram um peso para muita gente. 

“Eu tive muita dificuldade e vi que muitos artistas amigos meus se sentiram obrigados a produzir conteúdo para plataformas digitais. O que parecia inicialmente ser um refúgio acabou por se tornar um bicho de sete cabeças. Especialmente no ano passado, houve uma cobrança muito intensa pela produção de conteúdo e isso se tornou nocivo. Eu mesmo resolvi me afastar por um tempo. Mas, com o tempo, as coisas foram tomando um outro rumo, a pressão vem diminuindo”, diz Matheus.

Jefferson acredita que ainda imperam certas linhas divisórias nem tão imaginárias – como as barreiras criadas por grupos criminosos – entre as 16 comunidades da Maré que, às vezes, impedem que as conexões se desenvolvam plenamente. Mas ele torce para que os artistas, independentemente da área de atuação, estejam cada vez mais próximos. “A arte é uma poderosa ferramenta de aquilombamento (espaços de organização para agir sobre a realidade). Às vezes, ficamos retidos nas comunidades que moramos e não há tantas trocas, mas a arte não separa, ela agrega, colabora, ouve. É importante que os artistas da Maré estejam cada vez mais juntos”, torce.

Jefferson atua no projeto “Entre Lugares”, do Museu da Maré, há seis anos e criou, durante a vida pandêmica, o movimento virtual Narrativas Periféricas.

Pertencimento e identidade

Nos relatos de trajetória, mais uma vez os discursos de Jefferson e Matheus se encontram. As palavras “pertencimento” e “identidade” são proferidas com naturalidade para explicar a importância da arte em suas vidas e na sua relação com o território. “No ‘Entre Lugares’ (projeto do Museu da Maré) foi onde eu me desenvolvi. Quando comecei a ter uma relação mais íntima com a arte porque ali a gente tava falando de pertencimento, sabe? A gente estava falando sobre a construção da Maré, no que eu posso chamar de um teatro de memórias. Discutimos quem foram as pessoas protagonistas do povo na construção da Maré, os atores sociais que estiveram presentes”, relembra Matheus.

Jefferson acredita que arte periférica é sobre ter uma forma de expressar suas experiências.  “Transparecer costumes, cultura, memória, corpo… A vivência da favela não é o padrão, o ‘comum’ é fora da favela, a segregação é uma realidade. Temos formas diferentes de falar, de conviver, de se comunicar. É um estilo próprio e temos legitimidade para deixar claro isso para o mundo através do nosso trabalho”, considera.

Parceiro da Maré de longa data, Paul Heritage oferece uma visão de fora em comparação ao discurso dos jovens artistas. O professor de drama e performance da Universidade Queen Mary, em Londres, Reino Unido, acredita que a arte é a prova de que “a vida é uma ação coletiva”. “A arte faz o mundo, faz com que sejamos testemunhas de nossas próprias vidas e dos outros membros da nossa comunidade. Pra mim, a Maré é o mundo. É um mundo tão rico que eu tenho sempre vontade de voltar para fazer parcerias. O que aprendi com a Maré foi a profundidade da relação entre arte e território. Toda a arte que produzimos, todo o conhecimento que a gente faz vem da nossa relação com o território. Na Maré tem uma concentração da vida que é muito enriquecedora. Isso é arte na periferia. E a forma como eu sinto é nada periférica porque às vezes eu sinto que a Maré é o centro do meu mundo”, se declara.