A edição extraordinária do Boletim Observatório Covid-19 Fiocruz publicada nesta quarta-feira (8/9) revela que o cenário de melhora nas taxas de ocupação de leitos de UTI para adultos no SUS persiste, com mais de 90% das unidades da Federação e 85% das capitais estando fora da zona de alerta (taxas < 60%). Roraima (82%) é o único estado na zona crítica, com índice superior a 80%, mas encontra-se em situação particular de poucos leitos disponíveis. O Rio de Janeiro apresentou queda no indicador de 72% para 66%, o que agora o coloca na zona de alerta intermediário.
De acordo com os pesquisadores do Observatório, esse dado é um reflexo da tendência geral de diminuição da incidência de casos graves, internações e mortes por Covid-19. “A redução simultânea e proporcional desses indicadores demonstra que a campanha de vacinação está atingindo o objetivo de proteger a população do impacto da doença. No entanto, o ainda alto índice de positividade dos testes e a elevada taxa de letalidade da doença (atualmente em 3%) revela que a transmissão do vírus é intensa e diversos casos assintomáticos ou não confirmados podem estar ocorrendo, sem registro nos sistemas de informação”, ressaltam.
O texto ainda reforça a necessidade de interrupção de cadeias de transmissão por meio do avanço das campanhas de imunização. Esse objetivo, porém, só será alcançado com a ampliação da cobertura vacinal até novos grupos — como é o caso de adolescentes entre 12 e 17 anos — e da dose de reforço para idosos, portadores de doenças crônicas e imunossuprimidos.
“É preciso que seja concluído, o mais brevemente possível, o esquema vacinal de todos os adultos acima de 18 anos. A imunização de crianças e adolescentes (acima de 12 anos) também precisa ser iniciada e os gestores devem considerar em seu planejamento o estabelecido na Nota Técnica Nº 36/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/MS quanto à ordem de prioridades”, ressaltam os cientistas. Segundo dados compilados pelo MonitoraCovid-19, considerando a população adulta, 85% foi imunizada com a primeira dose e 42% com o esquema de vacinação completo.
Houve diminuição no número de óbitos a uma taxa diária de 1,3%, um total médio de 680 óbitos ao dia. A média diária de casos está em 24,6 mil, com ritmo de redução de 1,9% ao dia.
Ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS
Roraima e Rio de Janeiro são os únicos dois estados com taxas de ocupação superiores a 60%. Goiás (52%) deixou a zona de alerta intermediário e Rondônia (47%), enquanto Pernambuco (43%) e Espírito Santo (48%), apesar de aumento nas taxas, tiveram também redução significativa no número de leitos disponíveis. Os seguintes números foram observados nas outras unidades: Acre (7%), Amazonas (34%), Pará (35%), Amapá (16%), Tocantins (41%), Maranhão (42%), Piauí (41%), Ceará (38%), Rio Grande do Norte (30%), Paraíba (20%), Alagoas (14%), Sergipe (20%), Bahia (30%), Minas Gerais (29%), São Paulo (33%), Paraná (57%), Santa Catarina (47%), Rio Grande do Sul (51%), Mato Grosso do Sul (34%), Mato Grosso (43%) e Distrito Federal (57%).
Vinte e duas capitais estão fora da zona de alerta. Em destaque, quedas no indicador foram registradas em Fortaleza (60% para 55%) e Belo Horizonte (61% para 56%), que deixaram a zona de alerta intermediário, e também em Curitiba (75% para 65%), Porto Alegre (66% para 61%) e Goiânia (69% para 65%). As cidades do Rio de Janeiro (94%) e de Boa Vista (82%) permanecem na zona de alerta crítico.
Em sua segunda edição, Cenas DELAS vai premiar fotografias produzidas por mulheres que pautam o tema
Por Observatório de Favelas, em 10/09/2021 às 07h
O Observatório de Favelas, por meio do Programa de Direito à Vida e Segurança Pública, abre edital de chamada pública para selecionar e premiar trabalhos fotográficos produzidos por mulheres (cis e transgênero) que tem o enfrentamento à violência de gênero como pauta de suas produções.
O edital “Cenas DELAS” recebe inscrições até 15 de setembro de 2021 e pretende premiar cinco fotografias que tenham como foco a temática de violência contra mulheres.Cada artista selecionada receberá uma premiação no valor de R$ 1.000,00 (Um Mil Reais) pelo trabalho desenvolvido.
Para Thais Gomes, coordenadora executiva do Programa de Direito à Vida e Segurança Pública do Observatório de Favelas, é desafiador produzir uma comunicação sobre temas de violência, que alcance a população de modo sensível, por isso prioriza-se a utilização de linguagens artísticas, que nesta edição do projeto, é a fotografia:
“A arte aparece como uma ferramenta ampliadora das percepções sobre a violência contra a mulher, uma ferramenta capaz de colocar este debate na agenda pública e a partir disso gerar estratégias de incidência política, que provoquem o conjunto da sociedade a pensar formas de enfrentamento desse problema”, afirma Thais.
O Cenas Delas, que está em sua segunda edição, é fruto de um conjunto de ações que o Observatório de Favelas, através do Programa de Direito à Vida e Segurança Pública, vem desenvolvendo com o objetivo de sensibilizar e promover estratégias de enfrentamento à violência de gênero.
A iniciativa se propõe a visibilizar produções de linguagens fotográficas que priorizam na agenda pública a sensibilização em torno do tema da violência de gênero, da letalidade feminina e da afirmação do direito à vida das mulheres, a partir da interface de marcadores sociais como gênero e sexualidade, raça, classe social e território.
“Em sua primeira edição, o edital contou com uma adesão surpreendente e de muita qualidade, a partir de diferentes linguagens artísticas, de mulheres (cis e trans) negras e periféricas. A nossa expectativa de adesão é grande. Somos uma organização com tradição no campo da fotografia a partir das favelas e periferias. Nesse sentindo esperamos mobilizar a participação de mulheres (cis e trans) negras e periféricas, para contribuir com a sensibilização em torno do tema da violência de gênero”, destaca.
As fotografias premiadas serão divulgadas no link:https://of.org.br/cenasdelas/ junto com a minibiografia das autoras.
Fotos: Divulgação – Comunicação Observatório de Favelas
Sobre o Observatório de Favelas
O Observatório de Favelas, criado em 2001, é uma organização da sociedade civil sediada no Conjunto de Favelas da Maré, com atuação nacional. Dedica-se à produção de conhecimento e metodologias visando incidir em políticas públicas sobre as favelas e promover o direito à cidade. Fundado por pesquisadores e profissionais oriundos de espaços populares, tem como missão construir experiências que contribuam para a superação das desigualdades e o fortalecimento da democracia a partir da afirmação das favelas e periferias como territórios de potências e direitos. Atualmente, desenvolve programas e projetos em cinco áreas: Direito à Vida e Segurança Pública, Arte e Território, Comunicação, Educação e Políticas Urbanas.
Sobre o Programa Direito à Vida e Segurança Pública
O Programa de Direito à Vida e Segurança Pública tem como objetivo contribuir para a formulação e implementação de políticas e ações públicas que tenham a valorização da vida como um princípio fundamental. Neste campo, produzimos estratégias de enfrentamento da violência priorizando as dimensões raciais, de gênero, sexualidade, etárias, socioeconômicas e territoriais. A partir de uma perspectiva interseccional, busca-se contribuir com a produção de conhecimento visando subsidiar políticas de prevenção da violência e redução da letalidade; elaborar metodologias de intervenção que fortaleçam mecanismos e redes de proteção à vida; e ações de sensibilização social e incidência política que potencializem a desnaturalização da violência e a priorização da redução de homicídios e feminicídios na agenda pública.
Autor lança segundo livro neste sábado, 11/9, no Museu do Amanhã
Por Edu Carvalho, em 09/09/2021 às 16h28
Neste sábado (11/9), às 14h, no Museu do Amanhã (Centro do Rio), o escritor e palestrante Léo Motta lançará seu segundo livro, recheado de histórias de vida cheias de signficados. É uma continuação do primeiro, lançado em 2019, pela editora Autografia.
”Morei nas ruas do Rio de 2016 a 2017, quando encontrei uma porta de saída através de uma instituição de tratamento para dependentes químicos. Em 2019 lancei o meu primeiro livro na Bienal Internacional Rio, onde me destaquei como o primeiro morador em situação de rua a lançar um livro e palestrar em todas as edições do evento. No mesmo ano conheci o meu pai biológico, aos 38 anos de vida”, destaca.
Em “Há Vida Depois das Marquises – Sonhos”, Léo narra o reencontro com o pai, no mesmo momento em que vivenciou o nascimento da minha filha. Com a chegada da pequena, a construção de uma família. Nas páginas, também há um espaço dedicado para falar sobre o impacto da chegada da pandemia na população de rua pelas calçadas do Rio de Janeiro.
A segunda publicação foi feita através de uma vaquinha on-line.
Serviço
Lançamento livro ”Há vida depois das marquises – Sonhos’, por Léo Motta,
Dia: 11/9
Horário: 14h
Onde? Museu do Amanhã, Centro. Praça Mauá, 1 – Centro, Rio de Janeiro
Após suspensão do Plano Nacional de Educação Especial (PNEE), importância da inclusão de alunos com deficiência volta ao centro do debate educacional
Por Tamyres Matos, em 09/09/2021 às 09h30
Pensar a diversidade é pensar a vida e o tema é cada vez mais frequente nas discussões sobre como podemos avançar enquanto sociedade. A inclusão da pessoa com deficiência no ambiente escolar é uma das pautas relevantes neste contexto. O assunto voltou ao centro do debate educacional desde a instituição da Política Nacional de Educação Especial (PNEE) em setembro de 2020. Em dezembro do mesmo ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o decreto e as discussões sobre a legislação têm se arrastado desde então. Recentemente, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, saiu em defesa do conjunto de medidas e criticou o que chamou de “inclusivismo” presente nas críticas.
Milton Ribeiro afirmou em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, que a convivência com crianças em graus específicos de deficiência poderia “atrapalhar” o desenvolvimento nas escolas regulares. “A palavra ‘atrapalhar’ não é a melhor, a gente se equivoca, mas um prejudica o progresso do outro. A criança com deficiência tem que ter um olhar e um cuidado especial e é isso que o nosso governo quer ter, nosso governo quer ter um cuidado especial para com a criança com deficiência”, declarou durante evento realizado em agosto pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).
Segundo a organização internacional Human Rights Watch (em tradução literal, Observatório dos Direitos Humanos), mais de 1,3 milhão de brasileiros com deficiência estão matriculados no sistema regular de ensino. “O Plano do presidente Jair Bolsonaro pretende criar um sistema educacional segregado para pessoas com deficiência, enfraquecendo a educação inclusiva e buscando uma política retrógrada e incompatível com as obrigações internacionais de direitos humanos do Brasil”, critica texto publicado em agosto no site da organização.
O Governo Federal nega que a PNEE represente qualquer movimento de segregação. O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro aponta que o Estado precisa oferecer “instituições de ensino planejadas para o atendimento educacional aos educandos da educação especial que não se beneficiam, em seu desenvolvimento, quando incluídos em escolas regulares inclusivas e que apresentam demanda por apoios múltiplos e contínuos”.
Ministro da Educação, Milton Ribeiro, durante participação no programa A Voz do Brasil | Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
Diversos especialistas em educação argumentam que a alteração representa um retrocesso nas décadas de luta pela inclusão social da pessoa com deficiência, além de apontar que o novo decreto pode afastar este público da possibilidade de frequentar as escolas regulares. O ministro da Educação contra-argumentou que a escolha do local da matrícula segue sendo dos pais. Após a divulgação de nota com pedido de desculpas a respeito da utilização do termo “atrapalhar”, ele voltou a abordar o tópico ao afirmar que, dependendo do grau de deficiência, algumas crianças “criam dificuldades para elas e outros alunos”.
Para a pedagoga pós-graduada em educação infantil e transtorno do espectro autista Ligia Maria Santos do Nascimento, moradora da Vila do Pinheiro, a reflexão contida nas palavras do ministro – antes e depois da nota com pedido de desculpas – não condiz com a realidade. “Jamais uma criança com deficiência atrapalha. O que atrapalha é o preconceito das pessoas em relação a esse assunto. Toda criança tem o direito de estudar em classes regulares, por isso que estamos na luta, principalmente para que haja respeito”, considera.
Ligia é autora do livro “EU SOU ASSIM: ‘Vejo o mundo de uma forma diferente”, fruto do contato em sala de aula com crianças e adolescentes autistas em diferentes graus, mas, em especial, com um aluno cuja trajetória compartilhou durante 5 anos. “Com o meu livro, eu quis dar voz ao meu aluno. Meu objetivo era ajudar as pessoas a compreender os processos de uma criança autista. Ajudar a entender porque elas agem de tal forma, pois eu quero contribuir para que tenhamos uma sociedade com um olhar sensível, que as pessoas possam ser mais tolerantes, tenham mais empatia antes de julgar e excluir. O que eu almejo é que tenhamos menos dedos apontados e mais mãos estendidas”, conclui a escritora.
Luta pela inclusão na Maré
Lotado no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Ministro Gustavo Capanema, na Vila do Pinheiro, o professor Luiz Costa, de 62 anos, morador do Morro do Timbau, é um dos especialistas que discordam da visão do ministro. Para o docente, Milton Ribeiro foi “infeliz e cruel” em suas falas. “O trabalho de inclusão não só é benéfico para quem é incluído, mas também para quem acolhe. Às vezes entender as diferenças demanda sutileza, se você olhar nos olhos da pessoa com dificuldade de comunicação, se você se ver dentro dos olhos dela, você vai entender que ele está te vendo, que está reagindo. A criança, quando se depara com esses desafios, se desenvolve, a humanidade fica muito mais potente”, acredita.
Com experiência de 40 anos no magistério, Luiz Costa é um velho conhecido da educação “especial”. O professor e psicólogo, inclusive, tem boa parte da sua atuação voltada para o atendimento de crianças que não têm como se locomover até a escola. Em sua rotina normal – interrompida pela pandemia -, uma vez por semana, o professor vai até cada um dos sete alunos da Maré que atende e dá 2 horas de aula. Mas essa atividade voltada às excepcionalidades não o conduz à defesa da construção de classes ou mesmo escolas que separem alunos com deficiência de alunos sem elas.
Especiais da Maré: antes da pandemia, grupo de familiares de pessoas com deficiência encontravam-se em Vila Olímpica para trocar experiências | Foto: Douglas Lopes
“A gente (profissionais da educação) precisa se reinventar e, num primeiro momento, tem uma dor de aprendizado. A faculdade não nos forma para isso. Mesmo no caso da psicologia, minha formação não era aprofundada para a prática. Quando a gente mergulha no tema, começa a entender que a pessoa com paralisia cerebral, por exemplo, tem uma pulsão de vida incrível. Ao deixar que ela nos acolha, a gente é acolhido. Quando a criança ou adolescente nos acolhe, é algo que mexe muito com a gente, nos faz crescer como seres humanos. Existe uma diferença na forma de aprender, na forma de acessar o mundo. E isso não atrapalha, isso ensina a todos”, afirma.
Para o professor, as restrições da pandemia têm representado perdas significativas na evolução de todas as crianças. “A escola ficou com atendimento remoto para alguns, aqueles que têm mais recursos. No caso das crianças com deficiências severas, nossa atenção se voltou para as campanhas de doação. Especialmente nos casos dos alunos cujos pais estão sem emprego. Além disso, temos casos de equipamentos públicos que foram abandonados durante a pandemia, como é o caso do Ciep Elis Regina e da Vila Olímpica. Muito tempo sem a presença de alunos e pouca ou nenhuma obra de manutenção realizada”, critica.
Luiz conta, ainda, que trabalha com a arrecadação de recursos para as famílias em maior vulnerabilidade, como fralda, leite, cadeiras de rodas, entre outros tipos de suporte. Para ajudar, qualquer pessoa pode entrar em contato com o grupo Especiais da Maré.“Quando você ajuda a cuidar de alguém que não pode ou tem dificuldades de se cuidar sozinho você melhora a vida do seu entorno”, diz.
Segundo o Censo Populacional da Maré de 2019, há 1.670 domicílios em que há pelo menos um morador que seja uma pessoa com deficiência, o que corresponde a 3,5% da população das 16 favelas. No caso do Brasil, essa porcentagem chega a 6,2%, mas as bases de cálculo são diferentes. O documento, iniciativa da Redes da Maré em parceria com o Observatório de Favelas, aponta que “o problema maior é que as condições precárias de acessibilidade e de limpeza urbana, de acesso a equipamentos e profissionais de saúde, de renda e outros fatores geram dificuldades severas para a garantia do direito de ir e vir das pessoas em situação mais grave de deficiência e/ou transtorno”. A Maré conta com 48 escolas públicas, que oferecem da creche ao ensino médio.
”Não me considero uma ativista ambiental, acho que é rótulo”. É assim que Valdirene Militão, moradora da Maré, na favela Roquete Pinto, se vê. Ela, que tornou-se conhecida por amar o planeta, ter cuidado com as pessoas e os animais, encontra distância do título que a faz ser quem é: uma voz pelo meio ambiente, o clima e a alimentação. ”Pra alguns eu posso ser só conselheira do Consea, pra outros eu sou a doida que acumula”.
É dando outros significados para o reaproveitamento dos materiais que Valdirene enxerga sentido em seu trabalho. ‘’O que as pessoas olham como lixo, eu vejo como potência’’. Uma das ações que faz rotineiramente nos territórios da Maré é coletar caixas que servem de abrigos para animais. Para cada uma delas, chega a juntar cerca de 35 caixas de leite, que viram mantas protetoras. ‘’É mais fácil fazer esse tipo de trabalho aqui (Maré), tem consumo o tempo todo, nós só direcionamos. Quando faço as oficinas fora de favela, escuto muito ‘Não tenho’, ‘Não consumo’, ‘No meu prédio não tem’. A dificuldade é maior fora do que dentro’’, comentou.
Além das caixas, cápsulas de café, bijuterias e garrafas pet entram na lista de itens que sempre procura para reutilizar. São recebidos diferentes daquilo que se posta nas redes, sempre chegando por meio de vizinhos, amigos e conhecidos, que compartilham e marcam uns aos outros nas redes sociais da agente.
Ponto de êxito de seu trabalho foi a produção em junho deste ano, por meio da Fiocruz, de 400 sabões com o reaproveitamento de óleo de cozinha. A atividade é feita desde 2011, tendo sido reconhecida como tecnologia social inovadora dois anos depois. ‘Nossos esgotos não vão ficar contaminados, não ficarão duros. Quem faz a oficina passa na rua e acaba lembrando ‘foi o óleo que joguei na pia’. Quando fazemos o sabão, além de fazer economia doméstica, trocando o detergente, a gente economiza e ainda pode vender’’. Com a produção de um simples sabão, outros eixos são modificados dentro do núcleo familiar, como forma de gerar renda, sobretudo, para as mulheres. ‘’É produzir autonomia. As mulheres não conseguem trabalhar fora, algumas porque os maridos não permitem ou simplesmente por tomarem conta dos filhos. Quando conseguem mudar isso a partir do reaproveitamento, seja pelo sabão ou o artesanato, ela consegue gerar a sua própria renda. É autonomia”.
Durante o último período, entre oficinas e caminhadas pela Maré e outras favelas, sentiu a volta de um velho inimigo do Brasil: a fome. ”Tivemos alunos que só tinham uma única alimentação. Os que tinham, se alimentavam com alimentos ultraprocessados. Estavam sem renda, alguns sem Bolsa Família’’, narra a mobilizadora. ‘’Quando a gente diz segurança, falamos de algo que nos nutre, que nos alimenta de verdade, e nem tudo é alimento. Comidas existem várias, e muitos ultraprocessados, mas são apenas produtos comestíveis’’, distingue.
Com o agravamento da problemática junto a fatores como desemprego e a falta de acesso à direitos como lavar as mãos, viu entidades, coletivos e ONG’s caminharem na busca de solucionar rapidamente o problema. Na Maré, enfatiza, algumas campanhas foram feitas, como o Maré Diz Não Ao Coronavírus, que distribui além de kits de higiene, cestas básicas. Sobre as ações, é categórica: ”Fez toda a diferença”, que também uniu-se a familiares com intuito de diminuir os impactos da falta de alimentos na Roquette Pinto a partir da morte de um cunhado. ”A covid-19 mata e a fome também”.
Prestes a fazer 50 anos, a mulher que é mãe, avó, fotógrafa,,crocheteira e também educadora popular, tem muitos desejos depositados no ciclo gigante, e um deles é a propagar cada vez mais atitudes que preservem o planeta. ”Meio ambiente não é só plantar árvores. Precisamos discutir sobre não colocar óleo na pia, separar o lixo, o que é compostagem. São hábitos que fazemos gradativamente, pensando no todo, não somente em algo distante como plantar árvores. No caso da Maré, é sempre de maneira ampla”.
Ao vê-la com tanto gás, não há como negar aquilo que propriamente a consagra como uma das vozes mais importantes do conjunto, Rio de Janeiro e país. ”Se isso é ser ativista, então eu sou”.
Prefeitura e frequentadores esperam o retorno dos dias de glória ao espaço esportivo da Maré
Por Hélio Euclides, 08/09/2021 às 12h
Todo espaço público precisa de cuidados por parte de quem usa e também de órgãos competentes. Com a pandemia, muitos equipamentos públicos precisaram ficar fechados ou tiveram a diminuição no número de funcionários. Infelizmente, o abandono desses espaços fez com que houvesse casos de degradação na Maré. Escolas, creches, parques e até a Vila Olímpica da Maré viveram essa realidade. Na Vila, grades e banheiros foram destruídos, além do uso inadequado da piscina, o que deixou a água imprópria para uso.
Com projeto criado em 1999, a Vila Olímpica da Maré tem como objetivo oferecer ações esportivas, educacionais e culturais. Andréia Regina, moradora da Vila dos Pinheiros, acha ótimo ter um espaço desse porte dentro da Maré. “Nem todas as mães têm condição de pagar as atividades diversas que no local são oferecidas, tanto para crianças com deficiências, como sem. São práticas esportivas que fazem bem à saúde, como natação e ginástica artística. Quando tive depressão, ia para lá, uma oportunidade de levar meus filhos e distrair minha mente”, conta. Sua filha Maria Eduarda, de sete anos, frequenta as oficinas de ballet, e natação, e quando não está nas atividades utiliza o espaço para andar de bicicleta, correr e jogar futebol.
Regina ainda destaca uma parceria importante: o projeto “Livros nas Praças”. Por meio dele, um ônibus se transforma em uma biblioteca volante cheia de livros, que visita a Vila Olímpica da Maré a cada 15 dias. Ela só reclama da degradação do local. “Infelizmente vem ocorrendo isso por parte de crianças que não são matriculadas na vila. Falta contratar segurança para proteger os espaços de prática de esporte e o meio ambiente”, sugere.
Outros moradores também relatam prejuízos que a Vila Olímpica da Maré vem vivenciando. Uma é Márcia Maria, moradora da Vila do João, mãe de Heytor Gonzaga, de três anos, que é autista e faz natação. “Parabenizo por ter uma equipe maravilhosa. Acho um lugar muito bom para realizar qualquer tipo de atividade esportiva, porém está sendo aos pouco destruída. Eu acho que primeiro de tudo é colocar vigilantes e segundo tentar conscientizar a população para não fazer isso e ter mais amor ao próximo. Nas últimas vezes que estive lá, presenciei adolescentes sujando a piscina, algumas vezes encontramos até vidros”, relata. Ela completa que as grades da piscina e do entorno da vila estão sendo arrancadas, além do banheiro e da cantina que estão sendo destruídos. Maria pretende fazer hidroginástica no local, mas espera que o equipamento melhore a estrutura.
Para chamar atenção
Um recado com cara de pedido de socorro foi colocado nas redes sociais da Vila Olímpica da Maré. O apelo é para que todos se unam pela preservação do espaço que sofre com a degradação. Vejam a publicação falando sobre os estragos no local:
“A Vila Olímpica da Maré é um patrimônio para o seu povo. Ela tem despesas para ser mantida em bom estado. Com muita dificuldade fazemos o possível para mantê-la funcional para os alunos inscritos no projeto. Todos sabem por que é que tem que ser alun@? Porque é uma forma de controle e organização, para cuidado de todos, para zelo do ambiente, para que os alunos estejam em segurança com a observação dos profissionais apropriados e para a aprendizagem segura de todos que querem aprender a nadar e/ou cuidar da saúde.
A Vila Olímpica não é um clube. Infelizmente, algumas pessoas têm desfrutado de forma inadequada, invadindo, arrebentando o gradil do parque aquático, o qual temos feito constante manutenção, e, tem entrado na piscina causando estragos e sujeira, o que impossibilita o uso dos alunos durante as aulas, até que consigamos normalizar a qualidade da água. Mas para que chegue ao ponto necessário, precisamos que a comunidade colabore e faça parte do time dos que querem que a Vila Olímpica dure por mais de duas décadas. Só assim, as nossas crianças e as futuras gerações poderão usufruir desse espaço. Mas se continuarem a depredar o pouco que se tem, aí fica insanamente difícil.
Estamos aqui para fazer um apelo aos que contribuem negativamente, nos ajudem a cuidar da Vila Olímpica! Ela é de todos mareenses! Não deixemos que o sonho do Sr. Amaro seja destruído. Precisamos nos unir para fazer a diferença!”.
O Maré de Notícias entrevistou Guilherme Schleder, Secretário Municipal de Esportes, para falar sobre o que vem passando o espaço e o que a Prefeitura pretende fazer para reverter o caso.
Como resolver essa situação?
Entramos na Prefeitura e pegamos a Vila Olímpica sem contrato. Para garantir o funcionamento tem-se um esforço coletivo entre o Instituto Jacqueline Terto, a Fundação Barcelona, a União Esportiva Vila Olímpica da Maré (UEVOM) e as secretarias municipais de esporte e educação. Ainda este ano teremos licitação, que garantirá a contratação de mais funcionários, como seguranças e de agentes de serviços gerais. Vai ocorrer uma nova organização, com a volta de todas as atividades que hoje não estão disponíveis.
Qual a importância da Vila Olímpica da Maré?
Fiquei sabendo que há vandalismo nas escolas da Maré, até com furto. Na Vila Olímpica desconheço, mas é sempre bom destacar a importância da preservação e da informação para evitar o mal-uso. O espaço é dos moradores que precisam cuidar da melhor maneira possível. Exaltamos que a Vila Olímpica é um local de incentivo para a prática de esporte, para a vida saudável e onde se destacam campeões.
É necessário a união de todos em prol do equipamento municipal?
Para os frequentadores e usuários é preciso cuidar da nossa casa. Quando uma peça é deteriorada, deixamos de comprar algo novo para reformar a quebrada. A Prefeitura sempre faz campanhas de preservação dos equipamentos. Da nossa parte, vamos reformar uma das quadras e estamos estudando a abertura da Vila Olímpica da Maré nos finais de semana para o maior lazer dos moradores.