A Maré é um celeiro de escritores
Autores mareenses mostram a força da favela em livros
Maré de Notícias #126 – julho de 2021
Por Hélio Euclides
Maria Carolina de Jesus, Ferréz, Sérgio Vaz, Rodrigo Ciríaco e Conceição Evaristo são alguns dos autores que sempre lutaram pelo reconhecimento da literatura da periferia como um segmento importantíssimo para a sociedade. Eles inspiram novos escritores a reproduzir via literatura a voz da favela e suas vivências. Na Maré, escritores mostram a força do território mas, apesar dos avanços, eles ainda lutam para superar dificuldades, como problemas financeiros e a falta de espaço no mercado editorial.
“Esses escritores têm uma importância enorme pelo lugar a que pertencem”, defende o professor Rodrigo Alexandre, supervisor do Setor de Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para ele, os escritores precisam que sua obra também seja absorvida fora da favela. “Acredito que é essencial existir a união de forças. Para isso, a universidade precisa acolher esses escritores; só assim ampliam-se as vozes. O grande problema é que o mercado editorial não abre as portas. É preciso entender que se existem livros de Carolina de Jesus e Conceição Evaristo não é porque essas empresas são boazinhas“, explica. Alexandre acredita que é preciso aprimorar os escritores, mostrar estratégicas e ensinar técnicas por meio de oficinas –e esse trabalho precisa ser desenvolvido em cursos de extensão da universidade.
Uma das ferramentas de destaque para evidenciar a literatura periférica é a organização de eventos como o Congresso de Escritores da Periferia de São Paulo; a Festa Literária das Periferias (FLUPP), que acontece no Rio e já está na nona edição, com produção literária da geração de escritores favelados; e o Festival Favela Literária, cuja única edição ocorreu em 2019, também no Rio, organizado pela Central Única das Favelas (CUFA).
Segundo Alexandre, não se pode aceitar que uma criança saia da escola pública sem conseguir ter plena compreensão do que lê. “É necessário reforçar a educação para mostrar os invisíveis e, assim, termos uma nova escola. A biblioteca não pode ser o lugar do castigo, ler um livro e escrever um resumo dele não deve ser uma punição. Hoje, se troca a leitura pelas redes sociais. Ela não pode ser apenas por interesse, tipo passar no ENEM. O momento por que o país passa também atinge os escritores. O Brasil ficou mais pobre de saber, por não ter investimento em educação. Há um ministério que deseja taxar livros, um governo que corta verbas para bolsas científicas. O país tem um governo que só deseja movimentar a economia, nunca o cérebro”.

A voz nas páginas de um livro
Para quem escreve, fica a dúvida: será que ficou bom? A desconfiança faz com que muitos escritores deixem as suas produções arquivadas. Marcos Diniz começou na escrita ainda na infância. Ele sempre guardava tudo o que produzia, o que só mudou em 2016, quando participou do seu primeiro edital, incentivado por um amigo. “Comecei a entender que alguém tinha gostado do que escrevo. Vi que ser escritor não é só ser famoso e sim, o exercício da escrita”, conta. Ele já acumula 20 antologias e mais um livro publicado.
Para Diniz, escrever é o ato de criar mundos, histórias, personagens, de tocar outras pessoas. “Desejo escrever profissionalmente, o que é algo libertador. Sou um autor da Maré, incentivo o consumo de cultura da favela. A fala na favela se fortalece e nos faz conhecer o território”, relata.

Adriana Kairos, moradora do Parque União, tem seis livros escritos e criou o projeto A Literatura dos Espaços Populares Agora (Alepa), que estimula a produção poética e ficcional de autores oriundos de periferias. Ela reclama que o maior problema do autor periférico é a falta de recursos para a publicação de novos trabalhos. Para Adriana, a voz da periferia é necessária e precisa ser ouvida porque, durante muito tempo, outras vozes vinham de fora para dentro. “O que falta para que registros de memória e ficção de autores periféricos sejam escritos e publicados é uma política pública na área da educação e cultura”, avalia. Ela acredita que um incentivo seria a realização de eventos como saraus ou slams que, infelizmente, não são divulgados – muitos não são nem mesmo documentados.

Outro escritor mareense é Matheus de Araújo, morador do Rubens Vaz, que lançou em 2018 o livro Maré Cheia, numa edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). De lá para cá, veio a pandemia e Matheus interrompeu a carreira de escritor pela necessidade de contribuir com a renda familiar. “Queria ter estabilidade financeira e psicológica, mas não somos escritores ricos que podem acordar cedo e ficar no quintal de casa ou na rede escrevendo num bloquinho de nota. Nós escrevemos quando estamos voltando para casa no ônibus, quando conseguimos sentar”, diz o autor, acrescentando que o retorno à atividade é um desafio, mas o momento é de paciência.

Desde que aprendeu a ler e escrever, Vitor Felix não largou mais os livros. “A minha escolha em ser um escritor começou no fim do Ensino Médio, num concurso de redações. Foi ali que descobri que a escrita podia ser levada a sério”, revela. Ele acredita que é desafiador ser autor em favela, pois isso vai na contramão do que a sociedade espera. ”Quando eu escrevo, também marco a presença da favela nesse lugar da inteligência”, diz. Felix dá dicas para quem quer escrever, como correr atrás de espaço em revistas literárias, saraus e construir uma rede de leitores aos poucos. Ele ressalta, porém, que esse é um trabalho de resultados a serem colhidos no longo prazo.

Muitos escritores escrevem sobre o que presenciam no território. Sara Alves, moradora da Vila do João, tem dois livros publicados e sabe que é preciso muita luta: pobres sempre escreveram, só não são valorizados. “Temos o excepcional exemplo de Carolina Maria de Jesus. Minha escrita é mais que terapia, é uma maneira de expor meu olhar, minha indignação, tristeza, lutas e direitos. Diante da complexa realidade em que vivo, com o contexto sociopolítico e econômico, a escrita foi surgindo como uma forma de desabafo”, conta a autora, enfatizando ser indispensável o incentivo à leitura e o direito à educação.
Iniciativas que incentivam novos escritores

O projeto Livro Labirinto nasceu em 2017, numa parceria entre a Caju Conteúdo e Projetos e a Redes da Maré. Uma das atividades realizadas é o clube de leitura da Biblioteca Lima Barreto, na Nova Holanda. Em tempos pandêmicos, as leituras coletivas têm acontecido de forma remota. No momento, as crianças estão lendo o livro Amoras, do cantor e compositor Emicida, enquanto os jovens iniciam o ciclo sobre Torto Arado, de Itamar Vieira Jr., e Memórias da Plantação, da artista e pensadora Grada Kilomba.
Outra iniciativa acontece no Espaço de Leitura Jorge Amado, que fica na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna. São atividades literárias, como encontro com autores e rodas de conversas, onde as crianças são estimuladas a escrever e produzir suas próprias histórias. Em parceria com o projeto Escritor Para o Futuro, foi possível produzir livros, nos quais as crianças são protagonistas, escritores e ilustradores das histórias que elas mesmas criam. Os livros são Maré de Alegria e Maré Herança Ancestral. “Quando leio, aprendo coisas novas. Quero mostrar como é a Maré, falar das coisas boas, que muitas pessoas não veem”, diz Marina de Souza, de 10 anos, moradora da Nova Holanda.
Alunos e professores mobilizam-se para retorno de CIEP na Vila dos Pinheiros
CIEP Ministro Gustavo Capanema está fechado desde 2019 para obras
Por Hélio Euclides, em 05/07/2021 às 07h. Editado por Edu Carvalho
“O tesouro da Maré é a criançada”, disse Darcy Ribeiro quando esteve no conjunto de favelas na década de 1980. O antropólogo e vice-governador. na época, discursou para mostrar o que era o projeto dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). Desde a sua criação, em 1985, até hoje, muita coisa mudou. O projeto inicial dos “Brizolões” foi abandonado. A situação ainda é pior no CIEP Ministro Gustavo Capanema, localizado na Vila dos Pinheiros, que há dois anos se encontra fechado, após o início de uma obra que não chega ao fim. Para mudar essa situação, alunos e professores se uniram em uma aula pública para pedir o fim da restauração e o retorno das atividades na escola.
O CIEP Ministro Gustavo Capanema, que tem cerca de 500 alunos, completou 36 anos e nem de longe lembra o projeto desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. No dia 14 de novembro de 2019, o Diário oficial do município trazia a boa notícia da obra de restauração do CIEP, no valor de R$ 3.294,161,21. A obra tem como responsabilidade a Secretaria Municipal de Infraestrutura Habitação e Conservação (SMIHC), por meio do contrato nº 172/2019. No processo nº 07/005.220/2019 tinha ainda como interveniente a Empresa Municipal de Urbanização (Rio-Urbe), que é responsável pela fiscalização. Os servidores, que têm o papel de acompanhar a execução da restauração é Vicente Carpintier Trilha, Renan Ricardo Rodrigues Nogueira Pinto e Miguel Simões de Lima.
O que seria a realização de um sonho, virou um pesadelo. A empreiteira Irmãos Haddad Construtora Eireli receberia o dinheiro em três parcelas, para a reforma no prazo de 180 dias. A empresa recebeu apenas a primeira parte, já que a Prefeitura alegou que a obra não foi realizada como deveria, pois só foi concluída a troca do telhado e a recuperação dos portões e corrimões. A construtora, por divergência de opinião, interrompeu a obra. A direção da escola enviou um dossiê para a Secretaria Municipal de Educação (SME) que admitiu que a obra foi suspensa pela gestão anterior e que só retornaria no próximo ano.

Foto: Hélio Euclides
A escola que queremos
Na noite de quinta-feira (30/06), alunos e professores estiveram na unidade escolar e com a utilização das luzes dos celulares visitaram os dois andares, que se encontram as escuras, com a parte elétrica danificada. Os presentes entraram nos corredores e salas de aulas que estão com paredes sem acabamentos e janelas com vidros quebrados. Alunos lembraram que a escola passou por ação do tempo, depredação, realização de bailes e por fim, uma obra interrompida, que foi a gota d’água para a degradação.
Mãe de dois filhos que estudaram na escola, Francisca Aparecida, moradora da Vila dos Pinheiros, é também aluno da unidade no Peja II, referente do sexto ao nono ano do ensino fundamental. Ela lembra que estudava num prédio que tinha a limpeza adequada, lanche e iluminação. “Me assustei com o estado precário que encontrei a escola, entregue às baratas. O prefeito precisa retribuir os votos que recebeu, com investimento na educação. Queremos o CIEP de volta, por isso estamos aqui para abraçar a causa da reconstrução da escola. O CIEP é nossa segunda casa”, comenta.
Na segunda parte da aula, todos assistiram a um vídeo intitulado: “E aí, vamos sonhar juntos?” Que mostrou em três minutos a história do colégio. Depois a professora Fátima Barros, coordenadora da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) mencionou que trabalhou no colégio e por isso tem um carinho especial pela unidade. Também lembrou que a obra foi uma conquista, que foi uma ação de muitas gestões. “Foi luta na unha. Essa interrupção é um desrespeito. Devemos cobrar, pois o que foi feito não vale um milhão. Para piorar, com o abandono daqui a pouco vai ser necessário um novo telhado. Acredito que esse ato é importante, pois o povo organizado tem força”, diz. Ela avisou que haverá uma reunião entre o secretário de educação e uma comissão do CIEP na manhã de quinta-feira (08/06).
Ao final, os presentes fizeram falas em defesa do retorno às aulas no prédio do CIEP. “O ensino que tive aqui me acompanha na vida pessoal, social e acadêmica. Lembro que o meu pai, quando veio da Paraíba, ajudou na construção da escola. Outro fato marcante foi o documentário Brizolão que fizemos em 1992 (https://nuvela.vercel.app/), que defende o Ciep, pois educação é um direito. Hoje estou aqui num reencontro comigo mesmo, algo que contribui para o meu futuro”, destaca Leonardo Melo, ex-aluno.
Alunos enfatizaram a responsabilidade da Prefeitura e o papel da comunidade escolar, sobre a demora na obra ao qual contribui para a perda da identidade das crianças pelo CIEP. Eles ainda questionaram quando vão retornar ao prédio. Desde o início do restauração, os alunos do diurno estão estudando de forma compartilhada na Escola Municipal Vereadora Marielle Franco, que fica no Salsa e Merengue. Já os alunos do turno noturno estão estudando na Escola Municipal Paulo Freire.
Secretaria de Saúde do Rio investiga suspeita de aplicação de vacinas fora da validade; até o momento, nenhuma unidade aplicou doses vencidas
Ao todo, 741 pacientes foram investigados e outros 15 permanecem sob avaliação
Por Edu Carvalho, em 05/07/2021 às 7h
No último sábado (03/7), a Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que, após uma verificação dos dados de todos os 756 casos de vacinação com suspeita de aplicação de doses fora da validade, constatou que nenhuma de suas unidades aplicou doses vencidas.
O comunicado foi feito nas redes sociais da Secretaria, que desde a tarde de sexta-feira (02/7) vem recebendo mensagens sobre vacinas que poderiam tem passado da validade, como publicou a Folha de São Paulo, que identificou pelo menos 26 mil doses vencidas de oito lotes da vacina AstraZeneca aplicadas em diversos postos de saúde do país até 19 de junho. A campeã no uso de vacinas vencidas é Maringá, que aplicou em 3.536 pessoas uma dose da AstraZeneca fora da validade
Ainda segundo a Saúde, foram contactados 741 pacientes e em nenhum desses casos houve aplicação de dose fora da data de validade do imunizante. ”Os registros desses casos continham erros no sistema e a grande maioria já foi corrigida. Os demais estão em processo de ajuste”, traz a publicação.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável por produzir a vacina AstraZeneca no Brasil, afirma que os lotes citados no texto não foram produzidos pela Fundação. Leia abaixo o comunicado da instituição:
”Parte dos lotes (com numeração inicial 4120Z) é referente aos quantitativos importados prontos do Instituto Serum, da Índia, chamada de Covishield, e entregues pela Fiocruz ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde (MS) em janeiro e fevereiro deste ano. Os demais lotes apontados foram fornecidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS).
Todas as doses das vacinas importadas da Índia (Covishield) foram entregues pela Fiocruz em janeiro e fevereiro dentro do prazo de validade e em concordância com o MS, de modo a viabilizar a antecipação da implementação do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, diante da situação de pandemia. A Fiocruz está apoiando o PNI na busca de informações junto ao fabricante, na Índia, para subsidiar as orientações a serem dadas pelo Programa àqueles que tiverem tomado a vacina vencida”.
Cria da Maré, Mariana Aleixo tempera gastronomia com impacto social
A chef está na lista 50 Next, o Oscar da gastronomia. Apenas dois brasileiros compõem o ranking
Por Tamyres Matos em 04/07/2021 às 07h
“A brasileira nascida em favela transformando a vida de mulheres através da comida”. Essa é a chamada inicial no site “50 Next” no texto de apresentação de Mariana Aleixo. Aos 33 anos, a coordenadora do Maré de Sabores é celebrada como uma das pessoas que está mudando o mundo da gastronomia de um jeito único.
No entanto, Mariana faz questão de colocar a coletividade acima da visibilidade individual alcançada com a presença na prestigiada lista. Ela e Thiago Vinícius de Paula da Silva, de São Paulo, são os únicos brasileiros que integram a relação que aponta para o futuro da gastronomia mundial. “É definitivamente uma conquista coletiva do Maré de Sabores, especialmente por podermos contar com a experiência das mulheres que compõem e fortalecem as redes de apoio. Meu nome foi parar nessa lista por causa de uma indicação. Um dia, recebi uma ligação com a notícia e fiquei desconfiada. Mas é algo bom, pois leva o nome do projeto para o mundo”, relata.
A mareense aponta que a escolha pela gastronomia aconteceu de forma inconsciente, mas, hoje em dia, ela percebe que os encontros de família no compartilhamento das refeições foram muito marcantes. “Minha avó materna era a cozinheira da família. Sempre nos reunia em volta de algum ingrediente especial do Nordeste. A experiência com comida me tocava muito, fazia com que eu acessasse a minha ancestralidade”, afirma.
A relação com a cultura nordestina, aliás, é uma marca especial do buffet Maré de Sabores. Com elementos como croquete de banana da terra com queijo coalho, quadradinho de tapioca e nhoque de aipim recheado de camarão, o cardápio deixa qualquer amante das delícias do Nordeste com água na boca.

O quadradinho de tapioca, uma das especialidades do Maré de Sabores
Elitização versus pertencimento
É muito comum que a palavra gastronomia seja aplicada para descrever espaços elitizados. Muitas vezes com a presença de elementos europeus e valores exorbitantes. Após entrar para o curso na área, a jovem Mariana teve passagens por locais como o Copacabana Palace e o hotel Fasano. Ela aponta que a experiência foi importante, pois ela via estes lugares como espaços inacessíveis e chegou a ouvir frases como: “isso não é lugar pra você”.
Mas estava faltando algo na sua trajetória e ela sentiu isso desde cedo. “Ter acessado esses espaços foi muito importante porque auxiliou diretamente na minha reorganização com a Maré. Teve um dia de trabalho em que percebi que o meu salário era o mesmo valor gasto por um casal no restaurante e isso me marcou. O acesso à educação muda a nossa perspectiva. Eu sempre pensava sobre a minha prática, refletia sobre o que estava fazendo e por que estava fazendo”, explica a chef, que possui mestrado e doutorado em engenharia de produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Mariana Aleixo sempre esteve destinada a usar seu aprendizado para melhorar a vida das mulheres da Maré”. Este é outro trecho da apresentação da chef no “50 Next”. E, para que isso se tornasse realidade, o lado empreendedora ajudou muito. Mariana conta que há uma tradição de empreendedorismo na família e o espaço destas ações sempre foi a Maré. Em 2010, a semente do Maré de Sabores estava prestes a ser plantada.
Empreendedorismo social
O Maré de Sabores, que já formou mais de 800 profissionais, tem suas origens na demanda das mães de alunos do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Operário Vicente Mariano, na Baixa do Sapateiro. Cursos de qualificação profissional passaram a ser oferecidos em 2010 junto à promoção de hábitos baseados em uma alimentação mais saudável e sustentável.”Nosso interesse era (e continua sendo) produzir políticas públicas para o território. Para melhorar a educação é importante dar uma atenção especial à alimentação. As mães responsáveis terem acesso a essa formação ajudava a melhorar a saúde das crianças. O projeto cresceu tanto e tão rápido que logo havia gente de fora da escola interessada na oficina”, relata.
Michelle Nogueira Gandra, 46 anos, é uma dessas mães que compôs a primeira turma de formação da oficina, ainda no Ciep. Atualmente, 11 anos depois, ela é gerente operacional e instrutora de gastronomia no módulo avançado. “Eu já tinha feito um curso de gastronomia anteriormente na Vila do João. Ou seja, tinha identificado o início dessa paixão pela gastronomia, mas não imaginava que seria uma profissão de fato, algo tão significativo na minha vida. O Maré de Sabores fez tudo isso acontecer”, conta Michelle.

Foto: William Nascimento
No ano seguinte, o Maré dos Sabores extrapola os limites da escola e passa a ocupar a Lona Cultural Herbert Vianna, no Parque Maré. E o próprio conceito do projeto também se expande. “Nós começamos a colocar em prática a formação de gênero e sociedade e a compreensão dos marcadores sociais que envolvem a gastronomia na realidade das mulheres. Além de estudos sobre raça, classe, cidade e demandas coletivas, a ideia era (e ainda é) formar mulheres para serem protagonistas do desenvolvimento territorial”, explica Mariana.
Com o crescimento do alcance da iniciativa, o Maré de Sabores ganhou uma nova ramificação: o buffet. Mais uma estratégia para gerar trabalho e renda de forma contínua. O buffet já produziu mais de 2.500 eventos, entre coffee break, brunch, almoço, coquetel, jantar e alimentação terceirizada para empresas, além de atender mais de 175 mil convidados, gerando renda direta para mais de 220 famílias da Maré.
Casa das Mulheres
Desde 2016, a sede do Maré de Sabores é a Casa das Mulheres. Na edificação de quatro andares na Rua da Paz, Parque União, existem diferentes frentes de trabalho: qualificação profissional, enfrentamento das violências contra as mulheres, atendimento sociojurídico e psicológico e a articulação territorial para a criação de uma agenda positiva nas políticas públicas para as mulheres.”Trata-se de uma rede de acolhimento e proteção para as mulheres. A partir desse trabalho, temos acesso a dados que ajudam a pensar maneiras de transformar a realidade para que cada uma delas possa explorar o próprio potencial”, analisa.

Foto: Douglas Lopes
Mariana relata que durante todo o ano de 2020, a Casa das Mulheres foi o único equipamento que não fechou as portas devido à pandemia. Não por deixar de reconhecer o risco, mas pelo entendimento de que era de extrema importância acompanhar a questão da vulnerabilidade social (respeitando os devidos protocolos sanitários).”Insegurança alimentar também é uma violência sofrida. Nós atendemos a população em situação de rua, temos uma parceria com o Conexão Saúde e atendemos programas de segurança alimentar de parceiros. Nós servimos 65 mil refeições ano passado e, até junho de 2021, foram 26 mil refeições esse ano”, quantifica.
Comida: desejo, necessidade, vontade
Durante as entrevistas, Mariana e Michelle usaram algumas vezes a palavra desejo. E na continuidade da conversa foi possível perceber que essa “elaboração de desejos” conversa com a palavra potência. Além da clara associação entre comida e satisfação de desejos, necessidades, vontades. O Maré de Sabores surgiu desse anseio e tem seu trabalho pautado nisso. Assim como Mariana Aleixo.
“Com o Maré de Sabores, trabalhar com gastronomia faz sentido pra minha vida. Eu me sinto totalmente conectada com a gastronomia. A gente criou outras formas de estar e ocupar esse setor, que é tão elitizado, e se tornou referência para as outras partes da cidade, como a Baixada e outras regiões da Zona Norte. Para mim, foi muito importante encontrar um lugar para esse meu desejo de acessar espaços que achava que não eram pra mim. E acho que isso acontece com outras pessoas também. Nosso trabalho atua diretamente na sensação de pertencimento”, pondera Mariana.

Aliás, o Maré de Sabores tem seu delivery para atender as vontades de toda a cidade do Rio de Janeiro. Com seu pensamento voltado para a formação, para o acolhimento e para a aliança entre o saber acadêmico e o conhecimento que surge da prática do dia a dia, fica a certeza de que o futuro da comida deve ser cada vez mais pautado pelo senso de comunidade.”Minha única certeza é que eu desejo estar nesse lugar no meu futuro. Acolhendo mulheres assim como foi acolhida, ajudando com que elas se reconheçam, descubram seus sonhos, realizem seus desejos, busquem fortalecimento profissional e pessoal”, resume Michelle.
CONTATO PARA O BUFFET:
E-mail: [email protected]
Telefone: (21) 3105-5569
facebook.com/MaredeSabores
Instagram: @Maré Sabores
https://meupedido.delivery/maredesabores
Ronda: Com aumento da vacinação, Maré não registra mortes por covid-19 em 15 dias
Manguinhos e Maré vivem novo momento na pandemia com o aumento da imunização no território
Por Edu Carvalho, em 02/07/2021 às 17h. Editado por Dani Moura.
Os epidemiologistas já acenavam: com um aumento da vacinação, diminuiria em níveis municipais, estaduais e nacional o número de mortes pela covid-19. Dois exemplos desta ação são o Conjunto de Favelas da Maré e Manguinhos.
Quem comprova o feito é o mais novo Boletim Conexão Saúde, que apresenta o panorama geral dos casos, óbitos e vacinação a partir de fontes oficiais e das informações produzidas pela testagem, pelos atendimentos médicos e pelo Programa de Isolamento Domiciliar Seguro nessas favelas. Mas mesmo tendo queda no número de mortes, Maré e Manguinhos tiveram aumento significativo de infecções. Segundo as análises, só a Maré teve um aumento de cerca de 90% dos novos casos no mês de junho em relação a maio.
No último mês, o Brasil registrou mais de 25 milhões de aplicações da primeira dose da vacina, representando cerca de 34% da população. Mas ainda há muito o que caminhar, visto que só 13% da população recebeu a segunda dose. A Maré encontra-se com 26,2% da população imunizada com a primeira dose e 6,5% da população imunizada com a segunda dose ou com a dose única da vacina.
O boletim é uma publicação do projeto Conexão Saúde, uma iniciativa da Redes da Maré, Fiocruz, Dados do Bem, SAS Brasil, Conselho Comunitário de Manguinhos e União Rio. Para acessar, clique aqui.
Covid-19 na Maré
De acordo com o Painel Unificador COVID-19 Nas Favelas, o Conjunto de Favelas da Maré é o 1º lugar nos registros de óbitos e casos dentre as comunidades cariocas. Ao todo, são 6269 casos (aumento de 613 casos na última semana) e 292 mortes no território. Na lista, ainda permanecem em ordem como principais pontos de infecção e óbitos: Rocinha (3.298 casos/127 mortes), Alemão (2.472/141 mortes), Fazenda Coqueiro (2.420 casos/205 mortes) e Complexo do Lins (1.757 casos/143 mortes).
Rio sem espera para leitos covid-19 e vacinação antecipada
Há três semanas sem registrar pacientes esperando mais de 24 horas por um leito voltado para a assistência de quadros de covid-19, o Município do Rio zerou a fila de espera por esse tipo de leito. Outro indicativo da redução da demanda por leitos na capital é a taxa de ocupação das unidades de saúde, que passou de 96% em maio para 77% nesta virada de mês. Enquanto em 27 de junho havia 1.002 pacientes internados na cidade, a última quinta-feira (1) registrou 726 – uma queda de 27,5%. Esses são dados disponibilizados pelo Boletim Epidemiológico do Rio de Janeiro, divulgados hoje, sexta-feira (02/7).
Além do número de pessoas infectadas pelo coronavírus com quadros graves precisando de internação e as já hospitalizadas, mais um dado que evidencia a redução do ritmo da pandemia no Município do Rio: a redução de óbitos, que caiu 44% em relação a maio. Apesar desses dados, o grau de risco para transmissão de covid-19 na cidade ainda é alto, e, para que regridir, é fundamental manter os cuidados de etiqueta respiratória, uso de máscara, distanciamento social e higienização das mãos.
O principal motivo para a desaceleração da pandemia no Município do Rio é o avanço da vacinação. Ontem, quinta-feira (01), o prefeito Eduardo Paes anunciou mais uma antecipação do calendário: até a primeira quinzena de julho, serão vacinadas as pessoas a partir de 37 anos. Até agosto, toda população carioca adulta terá recebido pelo menos a primeira dose da vacina contra covid-19. A expectativa é que, quanto mais a vacinação avance, os efeitos positivos sejam percebidos pela redução de casos, internações e óbitos gradativamente em cada faixa etária. “Os efeitos da vacinação são claros. Começamos a ver uma redução expressiva da doença, mas temos que manter a cautela porque temos um número alto de transmissão. Ainda é o momento de manter os cuidados, usar máscara e evitar se aglomerar ou se expor desnecessariamente”, comentou nesta sexta-feira (02) o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, durante coletiva de divulgação do 26º Boletim Epidemiológico da Covid-19.
Até o momento, o município do Rio soma 368.354 casos de covid-19, com 28.731 óbitos. Em 2021 são 156.555 casos e 9.953 mortes. A taxa de letalidade deste ano está em 6,4%, contra 8,9% em 2020; e a de mortalidade, em 149,4 a cada 100 mil habitantes, contra 281,9/100 mil no ano passado. A incidência da doença é de 2.350,2/100 mil, quando em 2020 era de 3.179,5/100 mil.
Não custa lembrar, mas…vacina boa é a que está no posto. Chegando seu momento, vacine-se.
E lembre sempre: #UsaMáscaraMorador
Brasil melhora nas taxas de ocupação de leitos de UTI para coronavírus
De acordo com a mais recente edição do Boletim Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgada nesta semana, o momento atual da pandemia no país indica tendência de melhora nas taxas de ocupação de leitos de UTI covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS). O estudo também sinaliza uma queda nos índices de mortalidade, mas evidencia que o país enfrenta um alto platô de transmissão, em patamar muito superior ao observado em meados de 2020. O número de casos oscilou ligeiramentente, com queda de 0,2% ao dia, enquanto o de óbitos teve queda de 2,5% ao dia. Para ler mais, acesse.
Até o fechamento desta edição da Ronda, o país contabilizava 520.189 óbitos e 18.622.199 casos, segundo o consórcio de veículos de imprensa (Globo, Jornal O Globo, Extra, Folha, Estado de São Paulo, G1 e UOL).
Favela com dignidade
Pela primeira vez, 23 secretarias e órgãos públicos da Prefeitura do Rio – coordenados pela Secretaria Especial de Ação Comunitária (SEAC) – levaram em conjunto a uma comunidade serviços essenciais para a população. Lançado no fim de junho, o programa Favela com Dignidade estará em Manguinhos, local escolhido para inaugurar a ação integrada – que se estenderá para outras comunidades cariocas – seguindo critérios técnicos, como o de Índice de Desenvolvimento Social (IDS). A iniciativa em breve pretende chegar às comunidades da Maré.
Maré de cultura
A cantora Bieta lança neste primeiro sábado de julho (03/07), o videoclipe do single Divina Realeza, uma obra musical dedicada e inspirada na rica Herança Africana Diaspórica. A música é uma produção realizada no Guettu Music Camp da aceleradora artística Duto, conta com a participação da artista nigeriana Okwei Odili e arranjo do Mestre Glaucus Linx. Ative o sininho para escutar.
Quem também está com música nova na praça é a banda de rock Anjo dos Becos, com o single “Se Você Viesse”, já disponível em sua plataforma de música favorita. Com a supervisão técnica do lendário Produtor Roy Cicala, que já trabalhou com lendas da música mundial como John Lennon, Kiss, The Who e Aerosmith, o single possui as participações especiais do guitarrista Joe Klenner (Corazones Muertos) e Apollo 9 (Planet Hemp) no Hammond, sendo gravado no Electro Sound Studio por Marcão Britto (Charlie Brown Jr) e André Farias. Ouça
O IMS apresenta o espetáculo audiovisual Metamorfoses, protagonizado pela cantora Filipe Catto. O vídeo pré-gravado estará disponível no YouTube do IMS a partir de amanhã, às 21h. Neste dia e horário, Catto e o curador de música do IMS, Juliano Gentile, estarão no chat ao vivo do YouTube do IMS comentando a obra e interagindo com o público. A ação faz parte da programação da Paulista Cultural.
O festival brasileiro Novas Frequências assina com o suíço Sonic Matter e o ugandense Nyege Nyege a curadoria do In/Out, festival online que começa hoje com a presença de artistas africanos, europeus e sul-americanos, como nossa conterrânea Badsista. #DicaDoMeio
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro apresenta duas óperas em formato audiovisual nesse fim de semana: Armida Abbandonata, de Händel, hoje, e Arianna a Naxos, de Haydn, amanhã. #DicaDoMeio
Veja o que foi destaque nesta semana no Maré de Notícias!
Segunda-feira (28/6)
Calendário de vacinação contra a Covid-19 é antecipado para pessoas de 47 a 43 anos; saiba os dias, por Edu Carvalho
Movimentos culturais LGBTQIA+ da Maré, por Dinho Costa e Matheus Affonso
Árvore promove congresso gratuito “Conversas que transformam” com participações de Flávia Oliveira, Conceição Evaristo Drauzio Varella e Leandro Karnal, por Redação
Terça-feira (29/6)
O valor do aleitamento, por Ana Clara Costa
Quarta (30/6)
A Maré pulsando arte e cultura, por Hélio Euclides
Grávidas e puérperas que receberam 1ª dose da Astrazeneca poderão ter 2ª dose da Pfizer; capital fluminense é a primeira na combinação de vacinas contra covid-19, por Edu Carvalho
Projetos da Maré e Cidade de Deus recebem apoio da Fiocruz para enfrentamento à pandemia, por Edu Carvalho
Quinta-feira (01/7)
Ministro Fachin autoriza MPF apurar se houve descumprimento da ADPF das favelas nas operações no Rio, por Edu Carvalho
‘Sapas contra Covid-19’, por Edu Carvalho
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Sexta-feira (02/7)
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