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Vazamento deixa moradores da Maré sem água

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Águas do Rio informa que previsão é que o serviço de reparo seja concluído nesta quinta-feira

Desde a última segunda-feira (8) moradores da Baixa do Sapateiro, Parque Maré, Nova Holanda, Rubens Vaz e Parque União relatam falta d’água em suas casas. Segundo comunicado da Águas do Rio, o problema no serviço de abastecimento se dá pela realização de um reparo no vazamento em um tubo de quase dois metros de diâmetro, localizado na altura de Manguinhos. Em consequência, diversos bairros do município foram afetados, bem como os arredores de Bonsucesso, Higienópolis, Ilha do Governador, Jacarezinho, Jacaré, Manguinhos, Olaria e Ramos, na Zona Norte.

A previsão é que o serviço de reparo seja concluído nesta quinta-feira (11), e o abastecimento seja normalizado gradativamente em até 72h. Ainda em comunicado, a Águas do Rio orienta o uso de água para atividades prioritárias e o adiamento de tarefas que demandam maior consumo, até que se regularize o fornecimento.

20ª operação policial na Maré deixa duas pessoas baleadas 

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Polícia Civil não responde questionamentos de segurança preconizadas na ADPF

Duas pessoas foram baleadas na 20ª operação policial do ano no Conjunto de Favelas da Maré. Entre os feridos, uma mulher que estava na rua por volta das 7h foi atingida na perna, na altura da coxa. A moradora conseguiu chegar até em casa e pedir ajuda pelo status do WhatsApp. Após o ocorrido uma vizinha chegou em companhia de um policial à casa da vítima que agora vai precisar de muletas para se locomover. 

De acordo com a Polícia Civil que realiza a ação no território, a operação faz parte da segunda fase da “Operação Rota do Rio”.

Concentrada principalmente em Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré e Parque União, essa é a 20ª operação policial na Maré em 2024. Questionados diversas vezes nessa e em outras operações, a Polícia Civil não responde sobre o uso de câmeras corporais nos agentes de segurança que estão no território e sobre a ausência de  ambulâncias para socorrer possíveis feridos. Em nota, o órgão se limitou em dizer que nove pessoas foram presas até o momento e que a operação tem como objetivo desarticular grupos ligados ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. 

Vale lembrar que, na 16ª operação policial realizada no território, um policial ficou ferido e como não havia ambulância no local para prestar socorro, o agente foi socorrido com o veículo blindado (caveirão) até o hospital, mas não resistiu aos ferimentos.

Cotidiano, mas não comum 

A distribuição do jornal impresso do Maré de Notícias, único veículo de informação do Conjunto de Favelas da Maré, foi cancelada. 24 escolas foram fechadas, além da Clínica da Família (CF) Jeremias Moraes da Silva que também interrompeu o funcionamento e a CF Diniz Batista dos Santos que, apesar de manter o atendimento à população, cancelou as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares.

Esta terça-feira (9) é mais um daqueles dias que dizemos que o morador acordou ao som de tiros. “Gente, muitos tiros aqui na Teixeira Ribeiro”, escreveu um mareense por volta das 6h. Apesar de situações como essas fazerem parte do cotidiano,, não é algo que podemos normalizar. O Estado escolhe entrar nas periferias a partir do braço armado enquanto pedimos que entrem com saneamento básico, educação de qualidade, cultura, lazer, segurança e tantos outros direitos.

Violência do Estado 

Entre 2016 e 2024, 136 pessoas foram feridas por arma de fogo em operações policiais na Maré. Em 2023, 9 pessoas ficaram feridas e 8 pessoas foram mortas no contexto de operações. Esses dados estão no Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, realizado pelo projeto De Olho na Maré, da Redes da Maré. A 8ª edição foi publicada em junho e traz informações sobre outras violações, como invasão à domicílio, roubos de pertences e até casos de tortura, também traz informações de desrespeito à ADPF das Favelas, instrumento jurídico de garantia de direitos constitucionais, em discussão no Supremo Tribunal Federal.

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462. O Ministério Público (MP) realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no telefone (21) 2215-7003, que  também é WhatsApp, ou no e-mail [email protected].

Festival gratuito ‘The face of ball’ celebra a cultura Ballroom no Rio de Janeiro

Evento Ballroom oferece premiação de R$ 10 mil na batalha de vogue e conta com atrações de peso como Muse Maya, Preta QueenB RuII e JuJuliete.

Entre 9 e 14 de julho o Rio de Janeiro realizará seu primeiro e grande evento totalmente dedicado à cultura Ballroom. Em pleno inverno carioca, o Festival The Face Of Ball aquece o roteiro LGBTQIAPN+ da cidade com uma programação cultural totalmente gratuita e no formato multilinguagem. Deste modo, shows, apresentações de dança, oficinas, rodas de conversas e as icônicas batalhas de vogue com premiação que somam R$ 10 mil integrarão o evento, uma plataforma que irá impulsionar, celebrar e fomentar a cena Ballroom carioca. O Festival estreia abrangendo espaços da zona norte carioca, como o Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, na Tijuca, e o Parque Madureira, que abrigará as atrações finais do evento — dentre elas, shows de Muse Maya, Preta QueenB Rull e JuJuliete.

Realizado graças à sua contemplação pela Lei Paulo Gustavo, o projeto será uma realização coletiva em parceria com integrantes das diferentes casas (houses) da cena Ballroom, tendo em sua equipe e atrações importantes nomes da cena ballroom regional, nacional e internacional. Abarcando oficinas de diferentes vertentes performáticas da cultura Ballroom, destacam-se na intensa programação a Oficina de Runway com Diva Davanna (EUA), a Oficina de Face com Diameika Odara (SP), a Oficina Commentator x Performance com a Pioneer/Trailblazer Founder Mother Kona Hands UP (DF/SP) + Star Father Kunty Labella Mafia (RJ) e uma grande Ball (Baile) que encerrará o evento no Parque Madureira com categorias que celebram a diversidade e autenticidade do charmoso bairro periférico. Ações de acessibilidade garantirão que todo público seja bem inserido*.

Entusiasta do movimento Ballroom, foi Rafael Fernandes quem, em maio de 2023, realizou no Museu de Arte Moderna (MAM) o evento “The Face of Ball – Circulação”, um evento homônimo ao filme de Alitta que aborda a cultura Ballroom / Vogue sob a perspectiva do Cinema Novo com estética Afrofuturista. No lançamento presencial do média-metragem e no movimento cultural paralelo que o evento proporcionou, os espaços do Museu foram ocupados com corpos diversos no intuito de expandir o universo retratado no filme. Agora, Rafael assina a idealização e direção geral do Festival The Face Of Ball, instalando no subúrbio carioca o evento gratuito.

“Após a pandemia a cultura Ballroom começa se estabilizar e ter algum reconhecimento na cidade do Rio de Janeiro e no Brasil. As instituições e projetos de renome começam a programar e desenvolver ações em torno da comunidade, mas a maioria desses projetos com recursos acabam sendo realizados no eixo Centro-Zona Sul. O Festival The Face of Ball aposta na descentralização geográfica e no resgate histórico territorial da origem da Ballroom, sendo inteiramente realizado em regiões periféricas da cidade, com programação 100% gratuita, ocupando equipamentos culturais públicos e parques, como o de Madureira”, reforça Rafael.

Berço e seguimento da cultura Ballroom

Cultura surgida nas décadas 1960/70 nas regiões periféricas de Nova York, a cena Ballroom tem se consolidado na última década no Rio de Janeiro como espaço de acolhimento da população LGBTQIAPN+ e de expressão artísticas de jovens negros, pardos e periféricos. Deste modo, o projeto será um marco para a cena carioca que vem sobrevivendo sem praticamente nenhum investimento público, pontuando ainda a urgência do fomento de ações de valorização desse importante movimento artistico, político e social.

“Além de uma dezena de atrações de diversas regiões do país que vem para o Rio de Janeiro ministrar oficinas e participar de conversas, o Festival traz ainda uma atração internacional, Diva Davanna – um ícone da cultura ballroom e referência nos desfiles de passarela. As oficinas acontecem no Centro Coreográfico, importante equipamento cultural para a dança, que tem recebido atividades da cultura Ballroom na última década. A programação foi pensada de modo a reunir referências locais, nacionais e internacionais em suas respectivas modalidades, e serve como um esquenta para o baile competitivo que encerra o Festival”, ressalta Netto, que assina a produção artistica do Festival.

Coordenadora artística do projeto, a Legendary Overall Princess Wallandra comemora a realização do Festival enquanto reconhece os desafios diários que permeiam a cultura e a comunidade Ballroom.

“As Balls sempre foram um espaço de celebração, porque desde sua origem é um grande desafio passar pelos extermínios nas ruas só por ser um corpo LGBTQIAPN+, um corpo marginalizado e divergente. Nosso desafio é promover um espaço de celebração para valorizar a comunidade LGBTQIAPN+ numa sociedade ainda tão homofóbica, transfóbica e racista. Queremos estimular as pessoas a exporem suas realidades, potencializando-as para poder mostrar e construir a sua vida social através deste espaço. O nosso maior desafio é construir esse espaço de uma forma segura e com propósito, pessoal e coletivo, para que cada pessoa possa ser quem ela é, conseguindo expor as suas realidades, e conseguindo ampliar espaços e fazer ocupações nessa sociedade que não oferece muitos acessos para pessoas como nós”, sinaliza.

Para acessar a programação completa, basta acompanhar a Quafá Produções, no Instagram. A produtora atua há 13 anos na captação, produção, gestão de patrocínios e gestão financeira de projetos de manifestações artisticas de culturas urbanas, periféricas e populares. Assim como na produção, gestão, captação de recursos e representação de jovens artistas periféricos da cidade do Rio de Janeiro, com foco especial nas artes cênicas, como dança, teatro e performance. Desde 2021 tem colaborado e fomentado a cultura ballroom com diversas ações como residência artistica, produção e exibição de filmes, oficinas, treinos abertos, produção de espetáculos, lives, balls / bailes e agora em 2024 um festival, o The Face of Ball.

O Festival The Face of Ball 2024 é uma realização do Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do edital Diversidade em Diálogo. E possui patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura, através do edital Pró-Carioca Diversidade Cultural.

Filmado na Maré, série educativa ‘Nenhum Aluno a Menos’ forma jovens periféricos

Especialistas e professores que participam foram selecionados por sua conexão com as comunidades, garantindo que o conteúdo ressoe com os espectadores

“Nenhum Aluno a Menos” (NAM) é uma série de vídeos educativos que acaba de estrear no YouTube. Patrocinado pela Light e pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, via Lei Cultural do ICMS, o NAM busca preencher a lacuna educacional deixada pela pandemia de Covid-19, especialmente entre os jovens das periferias urbanas. Para celebrar o lançamento, a exibição de um episódio da série foi exibida em um telão ao ar livre, na última sexta-feira (5), às 19h, na Praça do Timbau.

A iniciativa oferece conhecimento através de um conteúdo audiovisual denominado “gotas do saber”, que aborda assuntos pouco divulgados nas escolas tradicionais. Essas pílulas do conhecimento cobrem uma variedade de temas transversais que são essenciais para a formação dos jovens, incluindo mercado de trabalho, formação técnica, economia criativa, grafite, hip hop, literatura, matemática financeira, música, audiovisual, artes visuais e português.  

“A linguagem adotada evita o formato tradicional de videoaulas, optando por uma abordagem mais artística e criativa. Essa proposta busca engajar o público e criar uma experiência educativa mais envolvente, contribuindo significativamente para a formação desses jovens e, consequentemente, para o desenvolvimento da sociedade como um todo”, destaca Pery de Canti, idealizador e produtor executivo do projeto.   

Realizado principalmente no Conjunto de Favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, o NAM conta com a participação de profissionais majoritariamente oriundos da periferia, tanto na produção quanto na execução dos conteúdos. Além disso, os especialistas e professores que participam dos vídeos foram selecionados por sua conexão com as comunidades, garantindo que o conteúdo ressoe com os espectadores. Importante frisar que o projeto teve um impacto na economia local, favorecendo trabalhadores diretos e indiretos, o que reforça o caráter social da proposta.

As filmagens aconteceram entre maio de 2023 e maio de 2024, com 95% das gravações realizadas em meio a operações policiais e confrontos sociais da violência, evidenciando o abismo existente entre o Estado e a periferia. “Essa realidade traz autenticidade e urgência às produções, refletindo as verdadeiras condições vividas pelos jovens dessas comunidades”, finaliza Canti, que há 20 anos se dedica a trabalhos socioeducativos voltados para as regiões periféricas.

Justiça é diferente de vingança: uma visão contra a pena de morte

Flávia Cândido*

A frase “bandido bom é bandido morto” reflete uma mentalidade punitivista que negligencia a complexidade dos problemas sociais e as potencialidades de reabilitação e reintegração dos indivíduos. Apesar disso, 76% de paulistanos e cariocas defendem a pena de morte. Esta visão, embora popular entre certos segmentos da sociedade, é contraproducente para a construção de um ambiente seguro e justo. Em vez de apostar na eliminação dos considerados “bandidos”, devemos focar em políticas públicas que promovam a recuperação e ofereçam oportunidades reais de mudança de vida.

Vivemos em uma sociedade onde a justiça é frequentemente substituída pela vingança, criando um apartheid social. Um crime cometido por alguém com recursos financeiros é tratado de maneira muito diferente do mesmo crime cometido por alguém sem recursos. Esse apartheid social é evidente no sistema de justiça criminal brasileiro, onde a superlotação das cadeias é em grande parte devido a pessoas que ainda nem foram julgadas. É fundamental entender que a recuperação e reintegração são caminhos mais justos e eficazes para lidar com o crime, ao invés de perpetuar a punição severa e a exclusão.

 A importância da recuperação e reintegração

Pessoas boas são aquelas que, mesmo após cometerem erros, têm a chance de se recuperar e reintegrar na sociedade. Essa visão está fundamentada na crença de que todos têm potencial para a mudança, desde que sejam oferecidas condições adequadas para isso. Programas de reabilitação bem estruturados, educação e capacitação profissional são ferramentas poderosas para transformar vidas e reduzir a reincidência criminal.

Após serem julgados e condenados por seus crimes, os indivíduos que cumprem suas penas têm o direito de reconstruir suas vidas. Eles pagaram pelo erro cometido e, apesar de sua ficha permanecer manchada, devem ter a oportunidade de recomeçar. A verdadeira justiça não se confunde com a vingança; a dor da justiça é distinta da dor da vingança. A morte de uma pessoa não desfaz o crime cometido, nem alivia a dor. Em vez disso, perpetua um ciclo de violência e sofrimento. A sociedade deve focar em proporcionar uma segunda chance, oferecendo suporte para que ex-detentos possam se reintegrar, contribuindo positivamente para a comunidade e vivendo de maneira digna.

Políticas públicas eficazes

Para que a recuperação seja eficaz, é essencial a implementação de políticas públicas preventivas e de apoio à reintegração social dos indivíduos que cometeram crimes. Políticas públicas preventivas, como a melhoria do sistema educacional, a criação de oportunidades de emprego e o fortalecimento das redes de apoio comunitário, são fundamentais para abordar as raízes dos problemas sociais que levam ao crime.

Além disso, políticas públicas focadas na recuperação dos indivíduos condenados são cruciais. Esses programas devem incluir apoio psicológico e psiquiátrico, proporcionando um tratamento adequado para os problemas de saúde mental que muitas vezes estão na base dos comportamentos criminosos. A motivação para estudar e participar de oficinas criativas também desempenha um papel vital na reabilitação, oferecendo aos ex-detentos habilidades e oportunidades que podem ajudá-los a se reintegrar na sociedade de forma produtiva.

Investir em psicólogos, psiquiatras e programas educacionais para os presos não só ajuda na recuperação individual, mas também contribui para a redução das taxas de reincidência e para a construção de uma sociedade mais segura e coesa. Exemplos de sucesso podem ser encontrados em países que implementaram essas políticas com seriedade, mostrando que a recuperação é não apenas possível, mas também benéfica para toda a comunidade.

A falácia da pena de morte

Defensores da pena de morte argumentam que ela serve como um dissuasor eficaz contra o crime. No entanto, estudos mostram que não há correlação significativa entre a aplicação da pena de morte e a redução das taxas de criminalidade. Em muitos países que adotam a pena de morte, os crimes continuam ocorrendo, demonstrando que o punitivismo não resolve a questão da segurança pública. Pelo contrário, a pena de morte perpetua um ciclo de violência e não aborda os fatores subjacentes que levam ao comportamento criminoso. Além disso, o sistema judicial é falível e pode resultar na execução de inocentes, uma injustiça irreversível.

A moralidade e os direitos humanos

A aplicação da pena de morte levanta sérias questões morais e de direitos humanos. Uma sociedade que se baseia na vingança e na eliminação dos “indesejáveis” nega a dignidade e o valor inerente a cada ser humano. É crucial entender que vingança é diferente de justiça. Enquanto a justiça busca reparar o dano e proporcionar um caminho para a recuperação e a reintegração, a vingança simplesmente perpetua o ciclo de violência e sofrimento. A justiça é fundamental para a vítima ou seus familiares, proporcionando uma sensação de fechamento e equilíbrio. No entanto, a vingança, na forma de pena de morte, não resolve o problema e não traz de volta a vítima. Em vez disso, devemos focar em políticas que visem a prevenção do crime e a recuperação dos indivíduos, construindo uma sociedade mais justa e segura para todos.

A realidade do sistema carcerário brasileiro

Especialistas ouvidos recentemente pela Comissão de Segurança Pública apontaram que o sistema prisional brasileiro tem graves falhas e práticas inconstitucionais que não garantem a dignidade nem a ressocialização dos presos. A senadora Leila Barros destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu o “estado de coisas inconstitucional” do sistema penitenciário brasileiro, responsabilizando-o pela violação massiva dos direitos fundamentais dos presos e exigindo soluções urgentes. O Brasil tem atualmente a terceira maior população carcerária do mundo, com cerca de 852 mil pessoas cumprindo pena. Destas, 650 mil estão em celas físicas, 129 mil estudam para diminuir a pena e 166 mil estão envolvidas em atividades laborais.

Gabriel Sampaio, da Conectas Direitos Humanos, afirmou que o sistema penitenciário precisa de medidas emergenciais para superar seus problemas crônicos, que incluem a falta de condições mínimas de educação, saúde e acesso ao trabalho. Ele criticou a recente lei que restringe as saídas temporárias de presos, argumentando que isso dificulta ainda mais a ressocialização e reinserção familiar dos detentos. Além disso, Sampaio destacou que a implementação de exames criminológicos para a progressão de regime penal, exigida pela nova lei, não tem eficácia comprovada e sobrecarrega um sistema já deficiente em recursos e pessoal.

O coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do CNJ, Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi, pontuou que a desestruturação do sistema prisional impede que ele atenda às suas finalidades básicas. Ele ressaltou que o sistema prisional existente “mata” e “cancela” pessoas para o resto da vida, em vez de promover a recuperação e a reintegração. Para enfrentar essa crise, é necessário refundar o sistema, aproveitando as boas iniciativas e os bons profissionais existentes, além de garantir os recursos públicos necessários para implementar políticas públicas eficazes.

 Recuperar é mais barato que manter preso

Além dos aspectos humanitários e de segurança, é importante frisar que recuperar um indivíduo é significativamente mais barato do que mantê-lo preso. Estudos mostram que, enquanto o custo anual para manter um preso pode chegar a R$ 40.000,00, os programas de reabilitação e reintegração custam significativamente menos. Programas de educação e capacitação profissional, por exemplo, podem custar em média R$ 5.000,00 por ano por pessoa. O investimento em suporte psicossocial e tratamento de saúde mental também é mais econômico, com custos estimados em R$ 8.000,00 anuais por indivíduo. Esses programas não só diminuem a reincidência criminal, mas também aliviam o peso financeiro sobre o sistema penitenciário e, por consequência, sobre os cofres públicos.

Pode-se concluir que, em vez de perpetuar a ideia de que “bandido bom é bandido morto”, devemos promover a visão de que pessoas boas são aquelas que tiveram a chance de se recuperar e reintegrar na sociedade. Políticas públicas eficazes e compassivas podem transformar vidas, reduzir a criminalidade e construir uma sociedade mais justa e segura para todos. Acreditar na capacidade de mudança e investir na recuperação é, em última análise, um ato de fé na humanidade e um compromisso com um futuro melhor.

A justiça é fundamental para a vítima ou seus familiares, mas não deve ser confundida com vingança. Este artigo defende a verdadeira justiça, que busca a reparação e a recuperação, e não a vingança, que apenas perpetua o ciclo de violência e sofrimento.

*Flavinha Cândido é moradora da Maré e colunista no Maré de Notícias, formada em Letras pela UERJ, Pós-graduada em Letramento Racial e Idealizadora da Página no Instagram Racial Favelado

Fotógrafo da Maré inaugura exposição de arte contemporânea no Espaço Normal

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O trabalho que já teve exibição no Centro Cultural do Rio Janeiro, na Casa França-Brasil agora têm sua montagem inédita dentro do território

O fotógrafo mareense Douglas Lopes, inaugura neste sábado (6), no Espaço Normal – Espaço de Referência Sobre Drogas na Maré – a exposição fotográfica Biografias Imaginárias. Será a primeira vez que o Espaço Normal recebe uma exposição de arte contemporânea.

O trabalho que já teve exibição no Centro Cultural do Rio Janeiro, na Casa França-Brasil foi apresentado na exposição “Literatura Exposta” e agora têm sua montagem inédita dentro do território onde essa série nasceu, o Conjunto de Favelas da Maré; reforçando a agenda de arte e cultura da região e possibilitando o acesso a arte de forma gratuita para toda a população das favelas da Maré.

“Essa montagem pro espaço normal pensamos em além de apresentar essas fotografias, mais algumas do trabalho que venho desenvolvendo ao longo desses anos na Maré. Então são 10 fotografias, 6 da biografias imaginárias e 4 da Maré, além do vídeo arte Baile Encantado, que é fruto da minha pesquisa sobre bailes funk na Maré”, ressalta Douglas.

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O vídeoarte que Douglas se refere fez parte de uma exposição no Centquatre-Paris, na França e também é inédita nessa mostra na Maré e no Brasil. Além disso, a exposição conta com mais três esculturas que foram desenvolvidas especialmente para essa mostra no Espaço Normal.

“As esculturas fazem um diálogo com as fotografias expostas no sentido de pensar formas de construção intelectual de identidades que fujam dos estereótipos designados à pessoas de favela”, afirma.

Arte e redução de danos

Sendo inaugurada a partir das 15h deste sábado, a exposição estará aberta para visitação até o final de setembro. Quando questionado porque escolheu a fotografia como forma de fazer arte, Douglas exaltou como as imagens são ferramentas que contam outras narrativas possíveis para as favelas contrapondo as imagens que retratam as periferias com escassez, violência e pobreza.

A escolha para a exposição no Espaço Normal também não foi por acaso. Além de receber o convite para pensar como poderia contribuir com alguma intervenção artística no local, Douglas também tem forte relação afetiva com o espaço e acredita que a fotografia também é uma ferramenta para a redução de danos.

“Eu acho que a fotografia pode impactar as pessoas de diversas formas, através de sensações e emoções que possam nos despertam, de conexões que nosso subconsciente pode fazer ao ver uma obra, das interações que possam surgir a partir delas, mas principalmente do poder de visar novas possibilidades de mundo e de futuro”, conta.

Eu gosto de dizer que a fotografia é como um mapa que me permite navegar pelas paisagens da vida, analisando cada detalhe do território que me cerca, descobrindo novas perspectivas sobre nós mesmos e o mundo ao nosso redor

Douglas Lopes

O Espaço Normal fica localizado na Rua 17 de fevereiro, nº 237, Parque Maré. O evento é gratuito.