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Projetos da Maré e Cidade de Deus recebem apoio da Fiocruz para enfrentamento à pandemia

‘Cozinha da Frente’ e ‘Cozinha Marginal’ foram aprovadas no edital de iniciativas para enfrentamento do coronavírus nas favelas 

Por Edu Carvalho, em 30/06/2021 às 10h48

Os projetos ‘Cozinha da Frente‘ e ‘Cozinha Marginal‘ foram aprovados no edital de apoio à iniciativas emergenciais de enfrentamento à covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro, promovido pela Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, com recursos do Fundo Especial da Assembleia Legislativa do Rio, a ALERJ. Os dois projetos são frutos da parceria entre a Marginal, que atua na Cidade de Deus, e a Frente de Mobilização da Maré, no Conjunto de Favelas da Maré.

As cozinhas são apenas o início da conexão entre esses dois coletivos, que são de suma importância aos territórios.

A meta da Fiocruz é aprovar 140 projetos que poderão receber apoios no montante total de R$ 17 milhões que se espera investir. Inicialmente, no entanto, a Chamada Pública selecionou para financiamento imediato 41 projetos aprovados com o montante de R$ 4,5 milhões. 

Os recursos a serem investidos são provenientes da Lei Nº 8.972/20, do Fundo Especial da ALERJ à Fiocruz. Esses recursos são resultado de um esforço interinstitucional envolvendo UFRJ, UERJ, PUC-Rio, SBPC, ABRASCO, Fiocruz, sindicatos de profissionais das áreas de saúde e assistência social, bem como organizações baseadas em favelas. Juntas, essas entidades elaboraram o Plano de Ação para Enfrentamento da Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro.


Grávidas e puérperas que receberam 1ª dose da Astrazeneca poderão ter 2ª dose da Pfizer; capital fluminense é a primeira na combinação de vacinas contra covid-19

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Por Edu Carvalho, em 30/06/2021 às 06h
Na tarde de ontem, a Secretaria Municipal de Saúde informou que aplicará em gestantes e puérperas que tomaram a primeira dose da vacina AstraZeneca, a segunda dose com a vacina da Pfizer, 12 semanas após a primeira dose. A adoção da medida visa finalizar o esquema vacinal, já que a imunização às mulheres do grupo que receberam a 1ª dose da Astrazeneca foi interrompida em maio por “reação adversa”, segundo recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. 

‘’Seguindo a recomendação do nosso Comitê: As gestantes que tomaram a primeira dose da vacina astrazeneca poderão, mediante avaliação dos riscos e benefícios com seus médicos, realizar a segunda dose com a vacina da pfizer 12 semanas após a primeira dose’’, publicou o secretário de saúde, Daniel Soranz

Outra recomendação é de que gestantes e puérperas devem avaliar os riscos e benefícios junto aos profissionais de saúde que as acompanham, além de assinar um termo de esclarecimento de vacinação contra a Covid-19.

A Maré pulsando arte e cultura

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Publicação mapeia iniciativas e artistas mareenses

Por Hélio Euclides, em 30/06/2021 às 06h

A cultura popular é o resultado de uma interação contínua entre pessoas de determinadas regiões, que surge das tradições e costumes e é transmitida de geração para geração. Essa definição feita pela Prefeitura de São Paulo mostra a importância da arte em seus diversos aspectos. Como forma de valorizar os protagonistas do conhecimento, a Redes da Maré com apoio da Fundação Ford, lançou a  “Marégrafia: Cartografia das artes e artistas na Maré”, que integra o edital A Maré que Queremos e dá visibilidade e incentivo às produções e narrativas de artistas locais.

A publicação é uma ação que identifica e referencia artistas da Maré, com apresentação do perfil desses produtores, trabalhos e trajetórias, e faz uma análise da repercussão da pandemia em suas vidas e atividades. O trabalho foi desenvolvido no contexto do eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades e do Núcleo de Memórias e Identidades da Maré (NUMIM), a partir do projeto Maré que Queremos, e mostra nas em 212 páginas o perfil cultural do território com a presença de 70 artistas individuais e produções culturais, 12 coletivos e 4 equipamentos culturais.

A pesquisa, que ocorreu entre os dias 10 de novembro de 2020 e 8 de fevereiro de 2021, identificou diversas potências, muitas vezes com trajetórias invisibilizadas, e que hoje estão em situação de vulnerabilidade por causa da pandemia. A cartografia traz o perfil dos artistas divididos por cor e raça, identidade de gênero, orientação sexual, religião, escolaridade, idade, renda individual, renda familiar e práticas culturais. Há também a segmentação por categorias como arte urbana, artes plásticas, artes variadas, cinema, comunicação em audiovisual, cultura digital, cultura popular, dança, fotografia, funk, literatura, moda, música, teatro, performance e produção cultural.

Ao identificar iniciativas artísticas e seus produtores, a pesquisa aponta para a riqueza, variedade e a importância do fazer artístico-cultural para a vida da população da Maré. A publicação também mostra suas obras e intervenções, que os artistas criam, a partir da favela, novas formas de ver, interpretar e intervir na cidade e no mundo. O trabalho final revela saberes e potencialidades ainda pouco conhecidos e valorizados por aqueles que detém o poder de dizer o que é válido como arte e cultura popular.

Um mapa dos artistas culturais 

“O trabalho dos artistas apresentados na cartografia ganha uma dimensão que vai além de um simples “catálogo”. Na verdade, “Marégrafia” é uma afirmação política e uma reivindicação de reconhecimento da importância da arte favelada que dialoga com o restante da cidade”. Essa é a explicação de Edson Diniz, diretor da Redes da Maré, no prefácio sobre a publicação. Para o professor, essa arte da favela é incorporada à produção da cidade, ao seu fazer artístico, que ao mesmo tempo, retorna para essa mesma cidade como uma produção original, num movimento dialético, onde as obras e intervenções de artistas da Maré remodelam e recriam a cultura carioca.

O impacto dos dados na cartografia está em identificar as potências e vulnerabilidades coletivas desencadeadas por processos históricos e excludentes que apartam determinados perfis populacionais. No perfil individual, a pesquisa atingiu 12 profissionais relacionados ao teatro, dez na música, dez nas artes plásticas, oito nas múltiplas práticas culturais, sete na literatura, seis na produção cultural, quatro na dança, três na fotografia, três na cultura popular, dois na comunicação audiovisual, um como circense, um na contação de histórias, um na moda, um na cultura digital, um na performance, um na arte urbana, um na arte variada e um como drag queen.

Um desses artistas da cartografia é Felipe Bacelar, de 23 anos, morador do Parque Rubens Vaz. Ele é artista visual, mobilizador e articulador dentro do território. A sua trajetória na cultura começou em 2017, na Escola de Cinema Olhares da Maré, projeto da Redes da Maré. “Dentro desse processo da fotografia, começo a desenvolver os meus trabalhos artísticos. Por meio do desenvolvimento da colagem, eu falo da afetividade, relacionada aos homens, às mulheres e crianças negras. Eu trago nas fotos colagens a ressignificação para vermos nós mesmos e o outro trazendo a questão da afetividade”.

Outro personagem é Gabriel Affonso, de 24 anos, morador do Parque União, que é artista da pintura. Começou a pintar ainda criança em uma oficina de desenho. “Hoje coloco meu olhar de jovem, gay e mariense sobre meus trabalhos. Desenvolvi também um trabalho de releitura, criando pinturas a partir de imagens de fotógrafos da Maré”, destaca o rapaz que  na juventude não via a pintura como profissão, mas hoje a tem como ofício. 

Affonso, como outros quase 46% dos artistas, tiram de seus orçamentos próprios, os recursos para financiar seus projetos. Para continuar como pintor, o artista precisa trabalhar em um restaurante para custear gastos pessoais e a arte. “Como artista independente e periférico não possuo qualquer tipo de ajuda financeira. Não desisto, pois me sinto capaz de algo pintando”, conclui.

Marégrafia em números

A pesquisa ainda desenhou a vivência profissional dos artistas nas questões de apoio familiar, se o trabalho artístico é suficiente para a sobrevivência, a formalização, o financiamento e como está o isolamento social na pandemia. 

Algumas questões da publicação:

  • 80% dos ouvidos declararam ter sido afetados por um quadro de ansiedade e depressão. 
  • 80,2% dos artistas e das artistas da Maré se declaram preta, parda, afro indígena e negra. 
  • 40,3% do público entrevistado não tem renda ou recebe até meio salário mínimo. 
  • 61,4% financiam seus projetos por meio de editais e chamadas públicas. 
  • 4,3% do público entrevistado relatou se sentir totalmente apoiado pela família. 
  • 44,3% consideram ser inviável manter suas famílias a partir de seus trabalhos artísticos.

Artistas:
Gabriel Affonso
https://www.instagram.com/gaelaffonso/

Felipe Bacelar
https://www.instagram.com/____bacelar/

Veja a publicação completa em:

https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/Maregrafia_.pdf

O valor do aleitamento

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Iniciativa da Maré promove estímulo à amamentação

Por Ana Clara Alves, em 29/06/2021 às 10h14. Editado por Dani Moura

Um litro de leite materno doado pode alimentar até 10 recém-nascidos por dia. A depender do peso do prematuro, um (1) ml já é o suficiente para nutri-lo cada vez que for alimentado. Além de hidratar, nutrir e sustentar, o leite materno reduz em até 20% a mortalidade dos recém-nascidos. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS)  recomendam o aleitamento materno até os 2 anos ou mais e exclusivo até os primeiros seis meses de vida.

A amamentação é importante por diversos fatores. “É o primeiro vínculo afetivo entre mãe e bebê. Segundo que protege a criança de obesidade, possíveis alergias, doenças respiratórias, colesterol alto e sem falar do mais importante, que passa anticorpos da mãe para a criança”, afirma a Dra. Luciana Correia Coelho, pediatra do pronto socorro infantil de São Gonçalo, localizado no Hospital Infantil Darcy Sarmanho Vargas, e da UPA de São Pedro da Aldeia.

 A Unidade Básica Amiga da Amamentação (IUBAAM), é uma iniciativa online que tem como objetivo a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno para a adoção dos “Dez Passos para o Sucesso da Amamentação”. A proposta também dá  suporte  às unidades básicas de saúde, e os hospitais,  para que o aleitamento materno seja prática universal, contribuindo para a saúde e bem estar dos bebês, suas mães, família e comunidade local.

Antes da entrada do IUBAAM  não existia nenhum apoio à amamentação, o atendimento se restringia ao teste do pezinho, as vacinas conferidas e o questionamento se a criança estava ou não sendo amamentada. A partir daí, a mãe era encaminhada para o planejamento familiar e o bebê era encaminhado para puericultura. 

Com a vinda do IUBAAM o incentivo para a amamentação ficou  maior, com a criação de grupos de trabalhos para as diversas fases da gestação, com  temáticas ligadas a gravidez, como direitos trabalhistas, licenças maternidade e paternidade, racismo, violência obstétrica , entre outros. Além disso, o acompanhamento passou a ser integral e quando a gestante vai se consultar, sempre recebe palestras que vão desde a gravidez até a doação de leite. 

No Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, o estímulo à amamentação é feito em equipe, que  vai desde o porteiro até o médico que fez o pré-natal. Fazem parte deste time os agentes comunitários que buscam o leite doado nas casas das doadoras; as enfermeiras Marilane, Zilda, Jane, Rosana e Alessandra, tendo apoio da atual diretora Viviane Lins Araújo de Almeida. O projeto foi acolhido totalmente pela comunidade.  “A puérpera vem para fazer o teste de pezinho do seu filho,  e a gente  também atende a essa mãe para saber como está a amamentação e com isso ensinamos técnicas de pega, além de massagem para alívio e esvaziamento da mama”, comenta Jane Horácio, enfermeira do Centro de Saúde. 

É por meio desse esvaziamento que Jane explica que acontecem as doações de leite. “Ou seja, aquilo que ela pode esvaziar, alivia e também ajuda um outro bebê também,” completa a profissional de saúde.

A unidade fornece todo material para a coleta de leite – o vidro, a máscara e a luva. A primeira ordenha manual é feita na unidade, como um passo a passo, mostrando o local onde deve ficar armazenado o leite, e a explicação do tratamento que é feito ao leite doado. O alimento doado  não vai diretamente para o recém nascido, ele é identificado e enviado para o banco de leite do SUS, onde é tratado. Todo o leite doado é analisado, pasteurizado e submetido a um rigoroso controle de qualidade antes de ser ofertado a uma criança, conforme a legislação que regulamenta o funcionamento dos bancos de leite humano no Brasil. Após análises das suas características, o leite é distribuído de acordo com as necessidades específicas de cada recém-nascido internado.

O acompanhamento do centro de saúde da Praia de Ramos também chega por meio de um grupo no WhatsApp chamado “Mulheres doadoras”, um local a mais para elas tirarem suas dúvidas e fortalecer essa rede.

Não é necessário ter uma grande produção de leite para se tornar doadora e não existe quantidade mínima para a doação, o importante é doar.

Lactantes pela vacina 

A hashtag #lactantespelavacina vem chamando bastante atenção nas últimas semanas pelas redes sociais. A campanha trata da inclusão de lactantes nos grupos prioritários da vacinação. 

O benefício da imunização de gestante e/ou de lactante é propiciar a proteção destas mulheres contra a covid-19, diminuindo, portanto, o risco de infectar os filhos das mães vacinadas. Além disso, o leite materno contém anticorpos (IgA secretória contra o SARS-CoV-2) que poderiam potencialmente proteger o bebê amamentado.

Nesta quarta-feira (16) o Senado Federal aprovou a PL 2112, de autoria do senador Jean (PT-RN) e relatoria da senadora Zenaide Maia (RN). O projeto de lei tem como objetivo inserir as lactantes no grupo prioritário para de vacinação.

No município do Rio de Janeiro a partir de segunda-feira (28) começa a vacinar quem estiver amamentando, independente da idade do bebê. A vacinação das lactantes acontecerá durante todos os dias da semana. A Prefeitura também pede para levar além do documento de identificação com foto e a caderneta, é preciso levar a indicação do profissional de saúde que faz o acompanhamento da criança. 

Onde doar:

O Banco de Leite Humano (BLH) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz):
WhatsApp: (21) 98508-6576

Instagram: @bancodeleite_iff

Telefones: 0800 026 8877 / (21) 2554-1703

Portal: www.rblh.fiocruz.br

O aplicativo vem sendo utilizado para tirar dúvidas das usuárias, oferecer as orientações necessárias sobre aleitamento materno em tempos de pandemia, na recepção de novas doadoras e nas confirmações das doações. As dúvidas são respondidas em no máximo 24 horas, se for sobre doação o contato é imediato, se for alguma necessidade de apoio na amamentação, alguma dúvida, a equipe irá atender o mais breve possível.

Se quiser saber mais sobre Aleitamento, o Maré de Notícias já fez as seguintes matérias:

Árvore promove congresso gratuito “Conversas que transformam” com participações de Flávia Oliveira, Conceição Evaristo Drauzio Varella e Leandro Karnal

Evento destinado a educadores também terá como convidados Leandro Karnal e Daniel Munduruku

Por Redação, em 28/06/2021 às 16h

Árvore, solução de leitura digital, promoverá a segunda edição do congresso online e gratuito Conversas que Transformam. Durante os dias 29, 30 de junho e 01 de julho, a partir das 18h (pelo horário de Brasília), o streaming de livros reunirá nomes importantes para diálogos inspiradores. Entre os convidados estão o Drº Drauzio Varella,que participará da mesa “Saúde mental na educação: como apoiar os jovens com os desafios da pandemia”,  a jornalista Flávia Oliveira, que abordará o tema “Educação midiática e Fake News”, Leandro Karnal, historiador e doutor em História Social pela USP que destacará a temática “Como a educação pode transformar o Brasil?”, a escritora Conceição Evaristo, que falará sobre “Como incentivar a leitura no Brasil: desafios para criar um país leitor”. As inscrições devem ser realizadas através do site do congresso.

Pensado para educadores com o objetivo de causar um efeito intenso de acolhimento e troca, principalmente em um período tão desafiador causado pela pandemia da COVID-19, a segunda edição do evento contará com intérprete de libras e técnicas de atenção plena (mindfulness) antes de cada mesa. Além disso, estarão presentes outros nomes relevantes como: José Pacheco, educador, pedagogo e especialista em leitura e escrita; Eduardo Deschamps, secretário de estado da educação de Santa Catarina, para discutir o assunto “Novo ensino médio: apoiando a autonomia e a escolha de carreiras; Daniel Munduruku, escritor indígena, filósofo e doutor em Educação pela USP; e ainda nomes como Roberta Bento, Marcos Piangers e Lucas Veiga completando a lista de convidados.

A Árvore é uma solução de leitura digital para instituições públicas e privadas, que tem o objetivo de potencializar a educação e formar cada vez mais leitores no Brasil. A primeira edição do evento, em 2020, contou com 150 mil visualizações nas transmissões e cerca de 40 mil inscritos. Em 2021, o congresso terá a mediação de Letícia Reina, gestora pedagógica da Árvore; Gina Vieira Ponte, professora; Renata Rizzi, economista, e André Sampaio, analista de conteúdo pedagógico da Árvore. Além de participarem de conversas relevantes com nomes da educação, os participantes receberão ao final do congresso um certificado e poderão concorrer a kits com itens de autocuidado.

   Congresso Conversas que Transformam

   Dias 29/06, 30/06 e 01/07 – a partir das 18h (horário de Brasília)

   Inscrições: https://www.arvore.com.br/conversas-que-transformam

            Programação:

            29/06

·  Novo ensino médio: apoiando a autonomia e escolha de carreiras – convidado: Eduardo Deschamps, secretário de Estado da educação de Santa Catarina.

·  Como incentivar a leitura no Brasil: desafios para criar um país leitor – convidados:  Conceição Evaristo, escritora, e Daniel Munduruku, escritor indígena, filósofo e doutor em Educação pela USP.

·  Novas formas de ensinar para novos contextos da escola – convidado: José Pacheco, educador, pedagogo e especialista em leitura e escrita.

30/06

·  Educação Midiática na Internet: gerando leitores críticos na era das fake news – convidadas: as jornalistas Flávia Oliveira e Januária Alves.

·  Como a educação pode transformar o Brasil – convidado:  Leandro Karnal, historiador e doutor em História Social pela USP.

01/07:

·  Escola e casa: a relação família e escola na pandemia – convidados: Roberta Bento, educadora, e Marcos Piangers, palestrante sobre tecnologia e inovação.

·  Saúde mental na educação: como apoiar os jovens com os desafios da pandemia – convidados:  Dráuzio Varella, médico cancerologista, escritor e professor, e Lucas Veiga, psicólogo.

Movimentos culturais LGBTQIA+ da Maré

Conheça as iniciativas que incentivam a produção por meio da diversidade na Maré 

Por Dinho Costa e Matheus Affonso em 28/07/2021 às 08h

No intuito de saber mais sobre a história mareense desses grupos, o coletivo Entidade Maré, criado pelos pesquisadores e artistas multilingues LGBTQIA+ Wallace Lino e Paulo Victor Lino, fez um experimento a partir da pergunta “O que você sabe sobre os LGBTQIA+ da Maré?”. O questionamento expressa a falta de dados e de documentação sobre a trajetória dessa comunidade nos territórios.

 O coletivo, em seu novo trabalho Noite das Estrelas, também traz à luz os emblemáticos shows protagonizados por travestis e transexuais mareenses nas décadas de 1980 e 1990. A proposta nasce das investigações e experiências de artistas negros LGBTQIA+ contemporâneos que identificaram a necessidade de construir a representatividade de corpos excluídos a partir da memória das performances, trazendo a perspectiva de inclusão desses artistas.  “Os shows da ‘Noite das Estrelas’ reúnem em si uma série de elementos de linguagem das artes cênicas e da memória sociocultural do Rio, mas faltam registros, e nosso coletivo apresenta o projeto como ação reparatória para estas populações. No campo das pesquisas em torno das artes, experiências como a dos shows da ‘Noite das Estrelas’ ainda não encontram espaços, é o sufocamento do epistemicídio nas instituições acadêmicas”, relata Paulo Victor, integrante do Coletivo Entidade.

O experimento terá como ápice um show virtual em agosto. Ele foi desenhado como uma produção de dispositivos performáticos, articulando múltiplas linguagens: música, dança, teatro, artes visuais e audiovisual, recriando assim a história dos shows no presente, resgatando uma memória cultural da Maré. Será a retomada do movimento LBGTQIA+ dentro das favelas da Maré. “Os shows nascem nas experiências de festas e convívios de LGBTQIA+, mas vão para as ruas na festa Junina da Rubens Vaz, conduzidas por Ney, que queria agradar suas amigas travestis que o ajudavam nas costuras das roupas de festa junina. Depois, Menga, que era pai de santo e ligado ao carnaval, cria a Noite das Estrelas. Com o sucesso de público, os shows passam a acontecer também depois  das finais de campeonatos de futebol, além de circular por outras comunidades de fora da Maré, dentre elas a Grota e Parada de Lucas. As artistas que se apresentavam nos shows ficaram também conhecidas na cena cultural LGBTQIA+ carioca, passando a se apresentar em boates, concursos de miss, beleza e do carnaval”, conta Wallace Lino, também integrante do Entidade.

Foto do arquivo de pesquisa do coletivo Entidade Maré – Foto do antigo show “Noite das Estrelas”

Amar na favela

Num mundo homofóbico e machista, onde há perigo de morrer por manter relações homossexuais (Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Sudão, Nigéria e Somália punem a homossexualidade com a pena de morte), ser uma pessoa LGBTQIA+ é lutar diariamente para estar vivo. No Brasil, não há oficialmente pena de morte, mas somos o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. O direito de ser o que se é, sobretudo dentro de uma favela como a Maré, um território marcado pela negligência do Estado e o domínio de grupos civis armados, é revolucionário. Lutas como viver o casamento igualitário ainda são uma realidade para quem nasce na favela e assume uma união homoafetiva. Segundo o relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia, 237 pessoas LGBTQIA+ tiveram morte violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia, em 2020. Foram 224 homicídios e 13 suicídios. Isso equivale a uma morte a cada 37 horas. Como pensar nesses crimes em territórios marcados por grupos de civis armados?

Matheus Affonso é bisseexual, nascido e criado da Nova Holanda, uma das 16 favelas da Maré. Há quatro anos está em uma relação homoafetiva. “Eu e meu companheiro moramos juntos, mas não andamos de mãos dadas nas ruas, não nos beijamos dentro da Maré, e mesmo assim as pessoas nos olham ou colocam o nome do wifi de “EU SEI QUE VOCÊ É VIADO” na intenção de nos diminuir ou mostrar que esse lugar não nos pertence. Mas nós vamos seguir nos amando, resistindo e lutando para que esse território um dia respeite nossos corpos e muitos outros LGBTQIA+ mareenses”, completa o fotógrafo.

Ativismo na favela

Ao longo dos anos, a luta tem se intensificado, protagonizada por pessoas e artistas LGBTQIA+s como Gilmara Cunha, que há anos cobra políticas públicas de acesso à cidadania para essa população. “Eu sou mulher trans, negra, favelada e militante, e tenho  esperança de que é possível que haja um equipamento do estado que se faça presente dentro de um território de favela, que pense política pública para a população LGBTQIA +”, diz. 

Uma das grandes conquistas do coletivo que Gilmara dirige, o Grupo Conexão G de Cidadania LGBTQIA+ de Favelas, é a inauguração do Centro de Cidadania LGBTQIA+ que leva o seu nome neste mês, oferecendo serviços gratuitos de assistência psicológica, jurídica e social, além de cursos profissionalizantes de informática e corte & costura “A criação desse centro de referência tem um impacto muito maior na vida de cada indivíduo LGBTQIA+ que vive dentro do conjunto de favelas da Maré e de outras favelas do Brasil. Eu fico feliz em saber que um dia, quando a cortina desse teatro fechar para mim, de alguma forma a minha luta, a minha causa, as minhas dores tiveram um resultado e eu deixei legado: a construção do primeiro equipamento de políticas voltadas para a população LGBTQIA+ de favela dentro de um território de favela”, completa Gilmara Cunha.

Na Maré, além do teatro e dos movimentos ativistas, a cultura LGBTQIA+ é muito presente nos cenários do vogue, do rap, das drag queens, da dança contemporânea, do funk, da fotografia, das artes plásticas, da literatura e da dança afro. Esses movimentos vêm sendo pensados como ferramentas socioculturais, criando novas formas de ativismo no território. 

O artista plástico Jean Carlos Azuos é curador de um dos espaços de disseminação de arte e cultura na Maré. “Arte para mim é o lugar do respiro, o lugar da possibilidade, de poder narrar, imaginar, materializar coisas da ordem do campo físico. Ao mesmo tempo em que toca os outros sentidos, a arte para mim está sempre inserida na vida e em como ela se organiza. É por isso que eu posso vê-la em vários lugares e pessoas; a arte é essa coisa que se multiplica, se estende e se desdobra”, afirma o artista.

Foto Matheus Affonso, performance de 2019 do projeto Eeer de ativismo LGBTQIA+

A Maré exporta nomes para todo o país, sobretudo na área cultural. Estar à frente da luta por direitos é revolucionário, mesmo que, a passos lentos, o movimento cultural LGBTQIA+ mareense venha quebrando barreiras e transformando a Maré em um território livre de preconceitos.

E no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o Maré de Notícias prestou uma homenagem a artistas dos movimentos culturais da Maré. Ao longo da semana, compartilhamos um pouco mais sobre a trajetória repleta de orgulho da integrante da House of Imperio Brainer Lua, do bailarino e drag queen Marcos Carvalho, do escritor e poeta Vitor Felix e da cantora e compositora MC Natalhão. Todos mareenses! Confira aqui: