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Uma família nas quatro linhas

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Apesar do funil que limita as possibilidades no futebol, irmãos da Maré superam obstáculos e se tornam jogadores.

Por Hélio Euclides

Kaká e Digão, Sócrates e Rai, Alecsandro e Richarlyson, Túlio Maravilha e Télvio, Assis e Ronaldinho Gaúcho, Junior Baiano e Jorginho, e os três: Zico, Edu e Antunes. Todos eles, além de serem jogadores, compartilham mais uma parceria: são irmãos. Marcos Oliveira e Marcelinho são moradores da Praia de Ramos e seguem o mesmo caminho: além do parentesco, ambos têm no sangue o amor pela bola de futebol.

Os jogadores Digão e Kaká foram bem-sucedidos na carreira, sendo negociados por valores até hoje alto para o mercado futebolístico. Digão teve seu passe adquirido pelo Milan por 500 mil Euros, já o irmão teve 67 milhões de Euros pago pelo Real Madrid. Mas no mundo da bola nem sempre é assim. Segundo levantamento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de 2016, estima-se que mais de 80% dos jogadores no Brasil ganham menos do que um salário mínimo. Do outro lado da pirâmide, apenas 1,77% entre R$ 10 mil e R$ 50 mil.

Jogador Marcos Oliveira

Apesar do funil que é se tornar jogador de futebol, os irmãos do Piscinão não desistiram do sonho. Marcos Oliveira, de 22 anos, começou no futebol de salão, com apenas cinco anos, num projeto conhecido como Time do Velho, depois migrou para a categoria de campo. Já com sete anos estava defendendo as cores azul e vermelho do Bonsucesso. Chegou a jogar pelo Olaria, CFZ, Santo Ângelo do Rio Grande do Sul e Svesnka Palestinska da Suécia. “Meu irmão, que é três anos mais velho, sempre foi um espelho para mim. Desde quando eu não tinha nem idade para jogar, já o acompanhava em todos os jogos e ficava na torcida. Sempre foi minha referência. Hoje ver meu irmão bem na modalidade é, com certeza, uma alegria“, diz.

Em sua curta carreira, Oliveira lembra que a vida de jogador sempre tem altos e baixos. Ele teve que largar o sonho aos 21 anos por lesões que sofreu desde os 15 anos. Essas contusões o fizeram sair de três clubes e perder diversas outras oportunidades como escolher entre voltar para Europa ou estudar e jogar nos Estados Unidos. Esses percalços deixaram frustrações no jogador. “Não é fácil ter que largar um sonho, pois infelizmente meu corpo não aguentava mais tantas lesões. A vida de um jogador de futebol em 98% das vezes é bem cruel, por lidar com frustrações, saudades, lesões, enganações e até muitas vezes as covardias que acontecem nos bastidores. As pessoas acham que é uma vida dos sonhos, mas a realidade é que essa é a vida só de 2% dos jogadores profissionais”, diz. 

Como todo menino, Oliveira sempre foi um apaixonado pela bola e sempre quis ser jogador de futebol. Ele conta que o principal motivo era dar uma vida melhor aos meus pais. “Futebol sempre foi e sempre vai ser a paixão da favela, e até mesmo um caminho para poder buscar um futuro melhor”, expõe. Ele acredita que é preciso não deixar o sonho morrer. “Para a criança que está começando, eu falaria que mesmo com todas as dificuldades, as físicas e emocionais, sempre correr atrás e se mantenha focado que uma hora a oportunidade vai aparecer e a gente precisa estar preparado. Também é preciso valorizar e investir mais nas crianças da favela. Não tenham dúvidas que os maiores talentos estão nas periferias”, conta. Seu próximo passo será estudar bastante sobre futebol e futuramente viver do esporte. 

Apoio primordial

Jogador Marcello Junior

Os irmãos contam que para a família sempre foi um orgulho ter dois jogadores próximos. Lembram que tudo só foi possível graças ao incentivo e acompanhamento, tanto nas fases boas, quanto nas ruins. “O apoio da família é essencial para as crianças que estão começando”, ressalta Marcello Junior, conhecido como Marcelinho, que joga como ala direito. Ele defende as cores do Flamengo, com a camisa 20, na categoria do Futebol 7, modalidade também conhecida como society ou fut7, que reúne sete jogadores de cada lado e dois árbitros.

Junior, igualmente ao seu irmão, começou aos cinco anos, num projeto social da Praia de Ramos. No mesmo ano, após teste no Vasco, foi aprovado. No Futebol de Salão também teve passagem pelo Flamengo, Casa de España/Botafogo e Mackenzie. Com 17 anos migrou para o futebol de campo, onde jogou no Olaria e num projeto da Nike, que rendeu uma viagem à Inglaterra. Depois remanejou para o Fut7, onde jogou no Vasco, antes se se efetivar no rubro-negro carioca. Ele espera que o Fut7 cresça e tenha mais visibilidade, para o surgimento de mais investimentos. 

“É muito bom poder saber que meu irmão faz a mesma coisa que eu e, às vezes, até jogar junto. Eu tento ser um exemplo para ele e para as crianças que gostam de mim e de me ver jogar. Futebol é alegria, sempre que tem alguém da comunidade jogando, quase todos param para assistir aos jogos do Flamengo, por causa do João Gomes, ou do clube Éverton da Inglaterra, para ver o Allan Marques. No Flamengo Fut7, uma galera acompanha, por causa de mim, do Jeffinho e do Sidney, todos da comunidade”, ressalta. Ele defende que o Piscinão é um verdadeiro celeiro de craques.

Como o irmão, ele destaca que a trajetória de um jogador é difícil. No caso dele, lembra que perdeu parte da infância para conseguir focar nos estudos e no futebol. Outra barreira é ser um jogador de favela, pois esbarra no preconceito. Para quem está começando, ensina que é preciso superar esse obstáculo e focar no futebol, para viver do esporte. “É preciso treinar muito, porque o esforço vence o talento, sempre que o talento não se esforça”, conclui. A mãe dos dois meninos, Valdirene Militão, moradora da Roquete Pinto, diz que tem muito orgulho do caminho que os filhos seguiram. Mas acrescenta que não foi fácil, especialmente por ser uma mãe moradora de favela que precisou viabilizar dinheiro para alimentação e passagem dos atletas. “Hoje sou feliz com o resultado, de muitas crianças que se espelham neles, não por serem bons atletas, mas ao se tornarem grandes homens, responsáveis. O futebol vai mais além de se virar um Neymar, é preciso ter estudo, disciplina e dedicação. O que falta no mundo do futebol é oportunidades para as meninas da favela, que precisam ser apoiadas”, afirma. Ela completa que a filha não se tornou atleta, mas também tem orgulho da primogênita Juliana Militão, que cursa nutrição.

Prefeito, vereadores e secretários da cidade do Rio tomam posse nesta sexta-feira (01)

Em meio à pandemia, formalidade precisou ser mais discreta para evitar aglomerações na Câmara Municipal

Por Andressa Cabral Botelho, em 01/01/2021 às 12h20

Nesta sexta-feira, 01 de janeiro de 2021, assim como de outras cidades do país, os 51 vereadores da cidade do Rio, o prefeito Eduardo Paes (DEM) e o vice-prefeito, Nilton Caldeira (PL), tomaram posse de seus cargos. Em meio à pandemia, a cerimônia precisou ser mais discreta para evitar aglomerações. Já pelo turno da tarde, os secretários serão empossados.

Para a cerimônia da posse, que ocorre a partir das 10h na Câmara Municipal, Centro do Rio, cada vereador levou apenas um acompanhante e aqueles que têm mais de 60 anos – e fazem parte do grupo de risco da covid-19 – assinaram o livro antes do início da celebração. A formalidade não poderia ser realizada de forma virtual tendo em vista a necessidade da assinatura do livro. Diante deste fato, a proposta é que aconteça de forma rápida. Pela mesma razão, a presença da imprensa também foi limitada.

Após a posse dos vereadores, foi feita uma eleição para decidir quem será o próximo presidente da Câmara Municipal do Rio pelos próximos dois anos. Com 44 votos favoráveis, o vereador Carlo Caiado (DEM) foi o escolhido.

E mesmo com a cerimônia acontecendo nesta manhã, o trabalho de Paes começou logo após a virada. Em sua conta do twitter, ele compartilhou que estava no Centro de Operações Rio (COR) acompanhando a movimentação da cidade e possíveis pontos de aglomeração. Paes vai para o seu terceiro mandato à frente da cidade do Rio. Os dois primeiros aconteceram no período de 2009 a 2016.

A partir das 16h, no Palácio da Cidade, acontece a oficialização dos secretários, já anunciados desde o dia 13 de dezembro. Entre os nomes, alguns já fizeram parte de outras gestões de Paes, como Daniel Soranz e Pedro Paulo. Além disso, para a nova gestão foram criadas novas secretarias, como a Secretaria da Juventude, de responsabilidade de Salvino Oliveira, morador da Cidade de Deus. Confira as secretarias:

  • Ação Comunitária: Marli Peçanha
  • Assistência Social: Laura Carneiro
  • Ciência e Tecnologia: Willian Coelho
  • Comunicação: Alfredo Junqueira
  • Conservação: Ana Laura Secco
  • Cultura: Marcus Faustini
  • Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação: Chicão Bulhões
  • Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente: Eduardo Cavalieri
  • Educação: Renan Ferreirinha
  • Esporte: Guilherme Schleder
  • Fazenda e Planejamento: Pedro Paulo
  • Governo e Integridade: Marcelo Calero
  • Habitação: Fábio Dalmasso Coutinho
  • Infraestrutura: Katia Souza
  • Juventude: Salvino Oliveira
  • Mulher: Joyce Trindade
  • Ordem Pública: Brenno Carnevale
  • Planejamento Urbano: Washington Fajardo
  • Proteção Animal: Vinicius Cordeiro
  • Saúde: Daniel Soranz
  • Terceira Idade: Júnior da Lucinha
  • Trabalho e Renda: Jorge Felippe Neto
  • Transporte: Maína Celidonio
  • Turismo: Cristiano Beraldo

Veja também: Quais as funções de vereadores e prefeito e o que eles podem fazer pela cidade

Equipe do Maré de Notícias faz votos para 2021

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Por Edu Carvalho, em 31/12/2020, às 12h

Ninguém pode negar que 2020 existiu. Marcado pelo primeiro ano da pandemia do novo coronavírus (maior crise sanitária do século), mobilizações contra o racismo mundo afora e o feminicídio no país, além de movimentações na área da política, como as eleições municipais. Para muita gente, uma série de acontecimentos tomaram conta de todo o calendário. 

Mas e agora? O que esperar de um ano que parece distante, e ainda sim, tão próximo? Os integrantes da equipe do Maré de Notícias On-line e Impresso aventuraram-se em fazer votos – individuais e coletivos. 

Veja abaixo:

Daniele Moura, editora-chefe 

‘’Vacina!’’

Andressa Cabral, editora

‘’Não costumo criar expectativas para o próximo ano pois a vida sempre nos surpreende de diversas formas e gosto de viver essa montanha russa sem saber o que esperar do próximo looping. Então costumo ter desejos mais genéricos e ir moldando a minha vida a partir dessas vibrações, pois nós somos o que pensamos. Espero que 2021 seja um ano de fertilidade e sabedoria para colocar em prática ideias – novas e interrompidas pela pandemia – e o que aprendemos com o ano que termina agora e de recuperação da saúde física, mental e espiritual. Mas principalmente, espero que 2021 seja um ano de vacinação e imunização racional!’’.

Filipe Mendonça, designer, diagramador e programador

‘’Para o próximo ano, desejo que os planos interrompidos pela pandemia possam, finalmente, ser realizados. Desejo também muito movimento! Que a gente se mova na luta pela igualdade de direitos e de oportunidades e, também, pela valorização das coisas essenciais em nossas vidas, como as relações, sentimentos verdadeiros, saúde física e mental e também a busca pela paz espiritual’’. 

Hélio Euclides, repórter

‘’O ano de 2020 nos fez meditar e agir. Algumas palavras ficaram em evidência: vida, perseverança, cuidado, esperança, criatividade, solidariedade, delicadeza e cura. Para a maioria, a palavra de 2021 será vacina. Eliana Sousa Silva lembra que a vacina será capaz de derrubar o vírus causador da covid-19, mas isso não ocorrerá com o vírus da desigualdade social. Desejo um novo ano com uma sociedade que se comprometa com a igualdade, que lute pelo fim da pobreza e não contra os pobres, pelo fim do feminicídio e não contra as mulheres, pelo fim do racismo e não contra os negros, pelo fim da homofobia e não contra os LGBTQIA+, pelo fim da violência e não contra as favelas. Que venha 2021, muito melhor do que esse ano que passou! Confiança no futuro! Feliz Ano Novo!’’.

Matheus Affonso, fotógrafo 

“Em 2021 desejo que nossos corpes LGBTQIA+ favelados recebam muito afeto, amor, paz, prosperidade e respeito. Que nossa população brilhe por cada lugar que passar, que toda LGBTFOBIA seja banida e que o glitter reine, reine para que todes as nossas manas tenham espaço para serem quem elas realmente são! Que venha 2021 porque nossos corpes vivem!!”

Thais Cavalcante, repórter

‘’Desejo que no próximo ano tenhamos muita vida para celebrar e muita paz para a favela. Mais paz também em nossos corações e mentes, para que possamos fazer o que seja bom para nós e, consequentemente, para os outros. Espero que a vacina chegue logo no país e continuemos no exercício diário de praticar mais empatia, respeito e amor. Enquanto ainda passarmos por essa pandemia, que nenhuma vontade de ser feliz ultrapasse os cuidados de saúde que precisamos ter para não espalhar o vírus. Que ele não paute 2021, que a vida paute”.

O ano de 2020 ainda não acabou

Um ano que teve começo, sem meio e com fim bem distante

Por Hélio Euclides e Viviane Couto, em 30/12/2020, às 17h30
Editado por Andressa Cabral Botelho

O ano de 2020 foi bem amargo. Começou com um janeiro no qual os cariocas tiveram de beber uma água que saía da torneira com cheiro, cor e cheiro. A falta de gestão ambiental subverteu o que aprendemos na escola sobre a as características fundamentais da água e afetou a vida de milhares de cariocas. Todo mundo sofreu, mas, como sempre, a população mais vulnerável ficou desamparada com a disparada dos preços das garrafas de água e dos carros-pipa. 

Em fevereiro veio a festa de Carnaval, dias de alegria e de muita aglomeração. Todos sabiam da ameaça global chamada novo coronavírus, mas, ainda assim, achavam difícil que o vírus fosse chegar no Brasil, “um país abençoado por Deus e bonito por natureza”. Mas chegou e mais uma vez demonstrou para o mundo que sim, somos um país abençoado por Deus e bonito por natureza, cuja desigualdade social ficou ainda mais escancarada. E assim tudo fica mais difícil.

Muitas imagens relacionadas ao humor, os populares memes, surgiram com a pandemia. Um mostrava uma professora perguntando quantos meses tem um ano. O aluno disse que o ano de 2020 teve quatro: janeiro, fevereiro, março e dezembro. Faz sentido, já que vivemos nessa condição de pandemia desde março e agora, dezembro, olhamos para o ano novo esperando melhoras. Mas olhando para trás e lembrando de quem conviveu com a doença, com a perda ou com as consequências sociais desta nova condição, o ano de 2020 entrou para a história e para a memória de muita gente.

 Logo no início, a pandemia mudou a rotina de todos, com o surgimento de muitas expressões novas, como o termo lockdown, um confinamento total, com saídas restritas para sanar necessidades básicas, que funcionou em muitos países. O Brasil, com sua falta de políticas sociais, só conseguiu um breve isolamento social, com fechamento de escolas, instituições, áreas de lazer, espaços culturais e comércios não essenciais. Parecia que iríamos controlar o tal vírus. Mas meses depois começaram as flexibilizações e a falta de apoio ao povo que ficou desempregado e sem dinheiro. As consequências não tardariam.

Por uma gestão irresponsável, o auxílio emergencial, que seria um alento para a questão financeira, acabou colocando as pessoas em uma situação complexa: morrer de fome em casa fazendo isolamento ou pegar a covid-19 nas longas filas da Caixa Econômica. Para se beneficiar do auxílio era necessário ter um celular e um pacote de internet. Sendo que 25,3% da população brasileira ainda encontra problema para acessar à internet, o que representa cerca de 46 milhões de pessoas, segundo pesquisa realizada em 2018, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso sem falar nos erros do aplicativo e na fiscalização precária. A cara da desigualdade social ficou exposta, e foi aí que, mais uma vez, viu-se o poder de a mobilização nas favelas, como na Maré e Complexo do Alemão, aqui no Rio, e Paraisópolis, em São Paulo, entre outras favelas e periferias do país, onde um ajudava o outro. 

A comunicação também foi importante nesse 2020, ano mais complicado que um jogo de xadrez. Um ano em que os veículos de comunicação não pararam, publicando descobertas e avanços sobre o vírus e vacinas, o que foi de muita importância para dar um xeque-mate nas fake news que se multiplicavam tão rápido quanto o vírus. Mentiras que muitas vezes o chefe do país insistia em confirmar e divulgar. Na Maré, no início da pandemia, entramos em casas de pessoas infectadas para simplesmente ouvir moradores que desejavam desabafar sobre a falta de exame, de atendimento e de atenção. Essas pessoas nem número são, pois no início da pandemia não fizeram o teste e por isso nem entraram para a triste estatística dos doentes. 

Foi um ano de muito trabalho. O Maré de Notícias não parou e fizemos de tudo para explicar o que é o vírus, o seu impacto na saúde e como se prevenir. Pesquisamos, fizemos parcerias – como o Se liga no Corona! e o Painel Unificador COVID-19 nas Favelas do Rio de Janeiro – saímos atrás para entender o que era coronavírus. Tivemos ajuda de muitos especialistas como: Flávia Salles (USP), Fernando Lucas Melo (UNB), Daniel Soranz (Fiocruz), Raphael Rangel (IBMR), Luan Marques (UNB), Eugênio Carlos Lacerda (Fiocruz), Valcler Rangel Fernandes (Fiocruz), Margareth Dalcolmo (Fiocruz), Sabine Zink (SAS), Alexandre Pessoa (Fiocruz), Sergio Ricardo (Baía Viva), Luiz Vianna (Fiocruz), Carlos Machado (Fiocruz), Marcos Ornelas (Atenção Básica AP 3.1), Marcelo Gomes (Fiocruz). 

O novo normal

Contudo, sem estrutura para garantir a saúde e a dignidade da população, os governos foram estimulando a reabertura. Especialistas recomendaram a lavagem das mãos, o uso de máscara, álcool em gel e o distanciamento social. O grande problema é que é impossível garantir essas medidas se os governantes não se esforçam para colocá-las em práticas: no trabalho, no transporte, nos serviços públicos e na conscientização e convencimento. O Brasil ficou parecendo o Titanic, numa viagem pelo mar cheio de icebergs. A tripulação diz que não há perigo, pois são apenas cubos de gelo. Mas a cada trombada com esses “cubos de gelos”, muitas vidas foram e são jogadas ao mar. 

Com tanto desgoverno, mesmo com o navio perfurado e com as vidas perdidas, muitas pessoas sem ter perspectiva de que haverá uma saída responsável para a situação, acabam desacreditando de todas essas medidas de segurança e enfrentaram o desafio, mesmo que com medo. Isso é visível andando pelas ruas, é possível ver muitos sem o mínimo cuidado, que é  máscara. Isso não acontece só na favela. Mas a favela sabe exatamente como isso funciona. É só fazer uma analogia com a questão da violência. Diante de tantos riscos de violência armada que os moradores de favelas se veem expostos diariamente, e sem nenhuma perspectiva de que haja uma solução para isso, muito acabam arriscando suas vidas saindo para trabalhar ou para fazer outras ações que julgam importantes no meio a operações policiais porque se nada pode mudar esta situação, a vida também não pode parar. E a vida segue. Da mesma forma, muitas pessoas pensaram sobre a pandemia também. 

E o número de mortes, assim como nas situações de violência, não para de aumentar. Os médicos não aguentam mais trabalhar sem condições e perspectiva de melhoria. E a vida de quem conseguiu sobreviver a isso tudo segue também. Nos perguntamos: segue para onde? Que mundo será este que teremos depois que tudo isso passar? Será que aprenderemos alguma lição disso tudo? Ou será que seguiremos com antes e qualquer outro argumento terá mais valor que a vida humana?

Em dezembro temos arrumação da casa e montagem de árvore de Natal, um momento tão esperado por todos. Para cristãos, a comemoração do nascimento de Jesus. Para outros, a ocasião de reunir a família. Um tempo de festa em torno de uma ceia e celebração do ano que termina e dá espaço à esperança em outro que virá. E, ao mesmo tempo, um dezembro de mortes, medo, fome e indiferença. 

O sinal vermelho está aceso. Especialistas alertaram que era necessário cuidado para não ter um número de infectados e de mortes ainda maior, com um janeiro mais triste da história. O que vivemos neste dezembro foi uma ceia com distanciamento, portas e janelas abertas, com higienização das mãos ao pegar nos presentes e nada de aperto de mãos e abraços. Sem clima para celebrar. Não teve as tradicionais visitas aos vizinhos para dar felicitações e beliscar a ceia alheia, algo normal na favela e bairros periféricos com grande socialização. Na oração, sempre o pedido de uma vacina e a diminuição da desigualdade social. A esperança vem do novo ano. Falta pouco para 2021. Mas o Réveillon segue a mesma cartilha do Natal: máscara, álcool em gel e distanciamento social. Se fizermos bem a lição, o futuro será melhor. É preciso ouvir a ciência. Seguir as medidas básicas na prevenção do coronavírus, só assim poderemos dizer que se até a uva passas, a pandemia também vai passar! 

Hélio Euclides e Viviane Couto são casados, pais da Ângela e uns dos fundadores do jornal Maré de Notícias. Hélio é repórter do veículo há 11 anos e Viviane hoje é professora da rede estadual (no bairro de Olaria) e municipal de ensino (Escola Municipal Olímpiadas 2016, na Nova Holanda). 

O artigo não expressa necessariamente a opinião do jornal e é de responsabilidade dos seus autores.

Ary, líder comunitário da Maré, vai deixar saudades

Líder comunitário e morador do Parque Maré morreu nesta terça-feira (29)

Por Thaís Cavalcante, em 30/12/2020, às 11h
Editado por Andressa Cabral Botelho

Ariolando Pereira, mais conhecido como Ary da Maré, 52 anos, faleceu na tarde desta terça-feira (29/12). Líder comunitário popular no território e articulador da Light no conjunto de favelas, Ary passou os últimos meses de vida com a saúde debilitada, entre idas e vindas do hospital. Com a notícia de seu falecimento, moradores e amigos fizeram um mural on-line de homenagens em seu Facebook, falando sobre a importância de sua atuação na favela e lamentando a grande perda. A família não divulgou a causa da morte.

Ary sempre colocou a política em sua atuação comunitária e também fora dela. Concorreu à vice-presidência da Associação de Moradores da Nova Holanda e se candidatou a Deputado Estadual pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN) em 2018. Sempre trabalhou em prol das necessidades e demandas locais.

Há uma semana, no dia 22 de dezembro, ele divulgou a sua última atuação no território: um acompanhamento que fez junto à Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente para a pavimentação da Rua Tatajuba, no Parque Maré. 

Ary deixa quatro filhos: Abrãao Costa, Ana Karen, Leonardo Costa e Isaque. O jornal Maré de Notícias lamenta a morte e deseja força à família e aos amigos neste momento.

Três crianças desaparecem em Belford Roxo, na Baixada Fluminense

Matheus, Alexandre e Fernando Henrique foram vistos pela última vez no domingo (27), enquanto brincavam

Por Edu Carvalho, em 29/12/2020 às 15h15. Atualizada em 10/09/2021 às 12h20.
Editado por Andressa Cabral Botelho

Alexandre da Silva, de 10 anos, Lucas Matheus da Silva, de 8 anos, e Fernando Henrique Ribeiro Soares, de 11 anos, estão desaparecidos há dois dias, quando foram vistos pela última vez no bairro Jardim Dimas Filho, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

A mãe de Alexandre, a babá Rana Jéssica, de 30 anos, disse que está com o “coração apertado” com o ocorrido. Ela afirma que o filho e os outros dois meninos estavam brincando em um campo de futebol e, após irem em sua casa para tomar café, desapareceram. A Polícia Civil já ouviu os pais e está em busca das crianças.

Atualização: Nesta quinta-feira (09/9), o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski fez um comunicado sobre o caso dos meninos de Belford Roxo. Segundo Turnkowski, os culpados pelas mortes das três crianças foram os traficantes da favela Castelar, que fica em Belford Roxo, Baixada Fluminense. O motivo teria sido o furto de um passarinho.

A investigação tem como ponto principal a ação de Wilter Castro da Silva, o Stala, que teria autorizado o espacamento de Lucas Matheus (8), Alexandre Silva (10) e Fernando Henrique (12). Stala foi morto logo depois, a mando de Wilton Quintanilha, o Abelha.

A elucidação do desaparecimento ganhou fôlego nos últimos meses, desde quando o Ministério Público do Rio de Janeiro encontrou registros dos garotos em câmeras localizadas na rua Malopia, num bairro vizinho à comunidade Castelar.