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#CaiuNaRede: Lupa faz parceria com o Maré de Notícias

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Jornal comunitário do Conjunto de Favelas da Maré checa fatos junto à Agência Lupa e aos coletivos Favela em Pauta e Voz das Comunidades

Por Thaís Cavalcante em 29/10/2020 às 10h01

Com o objetivo de expandir o alcance da checagem de fatos no Brasil, a Agência Lupa firma parceria com mais um coletivo de jornalismo comunitário. A partir desta semana, o Maré de Notícias passa a fazer parte do projeto Caiu na rede: é fake?. O jornal comunitário do Conjunto de Favelas da Maré se une ao Voz das Comunidades e Favela em Pauta, que já integravam o projeto.

O conteúdo semanal desvenda notícias falsas compartilhadas nas redes sociais. Já são sete episódios publicados nos perfis no Instagram da Lupa, do Voz das Comunidades e do Favela em Pauta. A partir desta quinta-feira (29), o conteúdo também estará no Maré de Notícias. Os comunicadores Matheus Affonso e Thaís Cavalcante fazem a checagem e a apresentação do programa, sob supervisão editorial de Dani Moura e da equipe da Lupa.

“Neste ano de eleições, temos a oportunidade de ter um contraponto, uma checagem de informações que pode fazer diferença no resultado. É de extrema importância que isso seja feito nas periferias e favelas com uma linguagem que possa tocar essa população”, afirma Dani Moura, coordenadora do Maré de Notícias.

O Maré de Notícias é um dos maiores jornais comunitários do país e existe há 10 anos para oferecer informação de qualidade, reforçar direitos e resgatar a memória local das 16 favelas que compõem a Maré. Distribui, mensalmente, 50 mil jornais para todas as favelas da Maré e oferece outros conteúdos inéditos na sua versão online, somando mais de 4 mil visitas mensais em seu portal de notícias.

“Em poucas semanas de exibição, o ‘Caiu na Rede’ mostrou que a voz da favela tem poder. Ganhar o apoio de mais um coletivo como o Maré de Notícias só nos dá mais força e coragem nessa batalha contra a desinformação”, diz Douglas Silveira, diretor de Educação da Agência Lupa


A união desses coletivos de jornalismo comunitário com a Agência Lupa contribui no combate à desinformação local e nacionalmente. Por isso, o objetivo do projeto Caiu na rede: é fake? ?que tem o apoio inicial da Fundação Heinrich Böll Brasil ? é continuar expandindo a iniciativa para outros coletivos, no Rio ou em outros estados do Brasil.

Nota da redação: o projeto Caiu na rede: é fake? é uma parceria da Agência Lupa com Voz das Comunidades, Favela em Pauta, Maré de Notícias e conta com o apoio da Fundação Heinrich Böll Brasil. 

Concurso Ideias Maré-Cidade traz soluções urbanas para a Maré

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Foram 180 projetos inscritos de todo o mundo e três premiados. Um deles do Brasil.

Por Thaís Cavalcante em 28/10/2020 às 15h30

Quem vive, sabe: a favela é uma cidade dentro da cidade. Tem sua própria dinâmica, uma população que constrói o chão que pisa, que mobiliza, que circula para fazer a economia girar e cria soluções para os mais diferentes desafios cotidianos. Dentro da vivência que é a ocupação da cidade a partir do próprio território, foi pensada uma integração urbana da cidade do Rio de Janeiro com as 16 favelas que compõe a Maré: o Concurso Internacional de Ideias Maré-Cidade. O concurso fez parte do 27º Congresso Mundial de Arquitetos (UIA2021RIO), promovido em julho pela União Internacional dos Arquitetos junto ao Instituto dos Arquitetos do Brasil com apoio da ONU-Habitat. 

A ideia do concurso era pensar soluções e meios de valorização das atividades culturais da Maré, assim como aproximar a comunidade dos projetos selecionados. Com isso, as propostas desenvolvidas e o concurso pretendem atingir um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, que são as Cidades e Comunidades Sustentáveis. A ideia é nos próximos 10 anos tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. A Agenda 2030 reúne um plano de metas globais colocadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas. 

A disputa foi grande: com 180 projetos participantes e feitos por estudantes de arquitetura e urbanismo do mundo todo, apenas três saíram vencedores e três receberam menções honrosas. Para chegar aos vencedores, os jurados avaliaram as ideias a partir do contexto local e da cidade, a criatividade para solucionar questões reais e o potencial das ideias que promovem a qualidade de vida dos moradores da Maré. Além disso, outros critérios foram levados em consideração, como a mobilidade e sustentabilidade do projeto, diversidade, o jeito de pensar arquitetura para além da construção e mais.

São Paulo por dentro da Maré

O único grupo brasileiro finalista do concurso propôs o Projeto Transpondo Fronteiras, que ganhou o terceiro lugar. Os integrantes Felipe Gripa, Guilherme Silvério, Júlia Morais, Nathalia Pinto e Priscilla Wazima são estudantes de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) de diferentes estados do Brasil.

Em conversa com o grupo, todos concordam que o objetivo foi entender o cenário urbano já existente na Maré para potencializá-lo ainda mais com a combinação do verde, das dinâmicas comunitárias e da rotina pulsante da população mareense.

Foram três meses de pesquisa e planejamento à distância, devido à pandemia. O grupo buscou facilitar demandas encontradas a partir de estudos sobre a Maré e, quando possível, pretendem visitar o território. As pesquisas da Redes da Maré e do Observatório de Favelas, também apoiadores do concurso, foram fundamentais para entender a dimensão de potências e possibilidades que o Conjunto de Favelas da Maré tem. Lino Teixeira, coordenador da área de Políticas Urbanas do Observatório de Favelas conta como foi o apoio da organização na construção do concurso. “Nós contribuímos para a definição das bases conceituais, processo de formação da Maré e outros. Depois, participamos com a parte das fotografias que serviram de base para as propostas, via Imagens do Povo”, diz.

“Dentro do edital, a gente fez a nossa própria leitura, olhando ruas que tivessem um caráter passível de intervenção. Foi muito interessante perceber a relação de galpões, terrenos e ruas. Por exemplo, umas são mais ocupadas que as outras, seja com serviços, comércio ou habitação. Levamos em conta tudo isso desde o começo da intervenção”, afirma  Guilherme Silvério, um dos co-autores da pesquisa.

As características de cada favela também foram fundamentais ao decorrer do planejamento. “A gente queria muito fazer algo que fosse pensado no cotidiano dos pedestres e identificamos o BRT, pensando nas estações e nos percursos, para que fossem agradáveis. Vimos também que diversas atividades acontecem [na Maré] e a gente só queria trazer mais oportunidades de espaço”, diz Nathalia Pinto, uma das co-autoras.

Conheça as ideias premiadas:

1º lugar – Pequena Indústria e Indústria Doméstica (China)

A ideia aposta em um plano de revitalização para o território, questionando a possibilidade de tornar o que já é potencial em vantagem para a população da Maré. A estratégia sugerida considera a indústria como uma ferramenta de oportunidades, se ela for unida às atividades comunitárias e ao comércio local, que possuem uma dinâmica própria.

2º lugar – Vamos deixar a convenção começar (China)

A proposta coloca como prioridade as relações culturais e de proximidade que toda a cidade pode ter com a Maré, a partir do acesso integral e das trocas econômicas e de cultura local. Ela sugere, ainda, cinco acessos que liguem o território à cidade e a substituição de fábricas por centros educacionais e culturais. Um plano de renovação que envolva todas as regiões da cidade, além de sugerir novas casas e praças.

3º lugar – Transpondo Fronteiras (Brasil)

A ideia traz um projeto urbano e paisagístico para valorizar ainda mais os espaços livres e de lazer do território. A partir de um estudo mais detalhado, a Rua Flávia Farnese, que corta geograficamente algumas favelas da Maré, foi citada como uma via estratégica para intervenções. Desta forma, ela receberia uma nova estrutura, com grandes calçadas, estrutura de mobilidade urbana, dentre outros. A valorização do verde também faz parte da composição da proposta, que traz a decoração junto à importância ambiental dessas ações.

Os projetos são bem diferentes, mas têm o mesmo objetivo: mostrar o que o Conjunto de Favelas da Maré tem de mais potente, além de integrar interesses e a dinâmica participativa da população que compõe esse espaço.

Incêndio no Hospital Geral de Bonsucesso

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Fogo começou no subsolo do Prédio 1 da unidade, atingiu Almoxarifado, Enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva.

Por Daniele Moura em 27/10/2020 às 15h25, atualizado em 29/10/2010 às 08h10

Um incêndio atingiu um dos prédios do Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio, por volta das 9h40 desta terça-feira (27). A unidade atende a cerca de duas mil pessoas por dia de vários bairros da cidade, entre eles a Maré. Cerca de 160 pacientes já foram transferidos para outros hospitais como Getúlio Vargas (Penha), Souza Aguiar (Centro), Evandro Freire (Ilha do Governador) e Fiocruz (Manguinhos). Durante a transferência para uma dessas unidades, Núbia da Silva Rodrigues, 42 anos que estava internada com covid-19, morreu. Outros três pacientes também morreram em decorrência da transferência: uma senhora de 83 anos, não identificada, também internada com covid-19; Marco Paulo Luiz, de 39 anos, que também estava infectado com o novo coronavírus; e uma idosa de 73 anos ainda não identificada.

Alguns internados estavam no meio de tratamento quando tiveram de sair, outros estavam entubados. Uma oficina mecânica foi feita de hospital de campanha para os doentes que esperavam a ambulância para serem transferidos para outras unidades.

Segundo o Corpo de Bombeiros, o fogo teve início no subsolo e atingiu o almoxarifado onde fraldas eram guardadas. Nesse edifício ficam ainda enfermarias e salas de raio-X. As chamas foram controladas às 11h30, mas ainda saía fumaça negra das instalações até às 14h30.

O incêndio atingiu o prédio 1 mas o prédio 2, onde estavam internos da UTI Neonatal e da Maternidade também esvaziados. Bombeiros de cinco quartéis – Fundão, Ilha do Governador, São Cristóvão, Penha e Central – foram mobilizados.

Segundo Lauro Botto, porta voz dos Corpo de Bombeiros, o prédio 1 foi todo comprometido com chamas e fumaça. “Conseguimos evacuar os pacientes antes que o fogo e a fumaça chegassem à enfermaria”. A prioridade dos Bombeiros, segundo Botto, é resfriar as alas, para evitar que cilindros de oxigênio possam explodir e impedir que as chamas se alastrem para outras áreas.

O comandante-geral da corporação, Leandro Monteiro, disse durante a coletiva que o hospital não possui certificação do Corpo de Bombeiro. “O hospital tem duas notificações, dois autos de infração e corre o risco de interdição. Estamos trabalhando em conjunto para que esse processo não seja finalizado. É humanamente impossível interditar um hospital com 400 leitos”, disse Monteiro.

Em janeiro do ano passado, Luana Camargo, então diretora da unidade foi exonerada por promover festas, enquanto pacientes reclamavam da falta de leitos e remédios. A farmacêutica ficou no cargo por dez meses. A única experiência anterior dela em gestão pública tinha sido no estoque de remédios de um posto de saúde na Baixada Fluminense.

Uma das festas promovidas pela ex-diretora custaram R$ 156 mil, dinheiro doado por empresas que prestam serviços ao hospital. A saída da diretora, pelo jeito, não aliviou o drama dos pacientes.

O Hospital Federal de Bonsucesso é administrado pelo Ministério da Saúde. O ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta chegou a anunciar, no início de 2019, uma reformulação total no Hospital, não só na área administrativa, mas em outros setores, como por exemplo o de licitações. E, segundo ele, a tal reformulação, iria contar com a ajuda de militares das Forças Armadas. As obras de reformulação nunca começaram.

Após incêndio, Hospital Federal de Bonsucesso vai fechar as portas por tempo indeterminado A informação é de Júlio Noronha, diretor do corpo clínico da unidade hospitalar. Ele disse que o hospital vai parar de atender no dia 1° de novembro. Segundo ele, os funcionários deverão entrar em férias coletivas. Ministério da Saúde ainda não confirmou a decisão.

Por Dentro da Maré #8 Crianças e Adolescentes

Publicado em 26/10/2020 às 12h04

Dos 140 mil moradores da Maré, quase 46 mil são crianças e adolescentes. Elas são pretas, brancas, inventivas, amáveis e amigáveis, brincalhonas, amorosas, demandam carinho, cuidado, atenção, têm medo, querem estudar, querem ser felizes, amam sua família e seus amigos. “Mas vivem em desvantagem em relação às demais, devido a negligências históricas por parte dos governos”, diz Gisele Martins, assistente social e colaboradora da Redes da Maré. Ela fez uma pesquisa sobre os direitos de crianças e adolescentes na Maré como projeto de conclusão do seu doutorado. E, durante a pandemia, estas desigualdades vieram ainda mais à tona.

As famílias que puderam seguir as recomendações de distanciamento social e mantiveram as crianças e adolescentes em casa tiveram que se reinventar. Mas o desafio não foi só ‘ficar casa’. A insegurança alimentar e nutricional foi uma das expressões da desigualdade. Das 12.470 famílias que passaram por entrevistas sociais da Redes da Maré para pedido de cestas básicas, 40,6% possuem crianças e adolescentes. Ou seja, 8.625 famílias com crianças e adolescentes enfrentaram ou enfrentam desafios para garantir o direito básico à alimentação. Os impactos de uma má alimentação para crianças e adolescentes são muitos e podem trazer danos irreversíveis.
Estudar à distância, sem uma internet de qualidade, muitas vezes sem ambientes tranquilos, foram questões presentes na vida desses mareenses nesses últimos meses. Mas também foi oportunidade de se aproximar mais da família, dar valor às coisas simples e aprender coisas novas: a Mylena Donaria, de 15 anos, contou pra gente que começou a fazer aulas de teatro online durante a pandemia. Já a Maria Isabel, de 11 anos, começou a se aventurar na cozinha. 

 
Quem são as crianças e adolescentes mareenses?

Segundo o Censo Maré de 2013, na Maré vivem 34.034 crianças, de zero a 14 anos, e 11.961 adolescentes, até 19 anos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garantiu status de “sujeito de direitos” e o reconhecimento de sua condição de desenvolvimento, o que exige cuidados, por parte da família, do Estado e da sociedade. Com isso, o ECA estabelece que crianças e adolescentes tenham prioridade nas políticas públicas. Não é o reflexo do que vemos nos espaços de favela no geral – e a pandemia escancarou esse cenário. Segundo Gisele Martins, “os governos naturalizam as diferentes manifestações da violência que sofrem e produzem outras, sem estratégias de reparação desses danos”.
Sem falar no preconceito. Quem buscar “crianças e adolescentes nas favelas” no Google, por exemplo, terá como resultado da pesquisa imagens de jovens prestando serviço precoce aos grupos civis armados. Mas essa galerinha não se resume à falta de alternativas. Na Maré, a potência pulsa desde a infância. Aqui tem o Caio Yarlen, de 12 anos, o Guilherme Vieira, a Vivana Gentil e o Pedro Yago, todos de 14 anos, que fazem Jiu Jitsu e já participaram de diversas competições. Tem a galerinha do ‘Nenhum a Menos’ que discute questões da estética negra (se liga nesse video que eles produziram). Tem é muita criança e adolescente fazendo, produzindo e vivendo coisas incríveis e, também, lutando por direitos desde cedo.

Futuro

Comum entre as crianças e jovens da Maré é o desejo de que esse momento passe. Que a possibilidade de convívio com amigos, familiares e as ruas, a cidade, volte a ser comum! Mas o olhar atento à garantia de direitos para crianças e adolescentes deve seguir: “elas (as crianças e adolescentes) já são pessoas com demandas e desejos atuais, urgentes. São sujeitos de direitos, merecem respeito e devem ser ouvidas, devem ter espaço de voz e participação. Contemplar essas dimensões presentes, certamente irá reverberar em frutos positivos no futuro”, observa Gisele. 

Direção de produção e conteúdo: Geisa Lino

Direção Audiovisual: Douglas Lopes

Captação de imagens: Gabi Lino e Douglas Lopes

Edição: Douglas Lopes 

Narração: Jéssica Pires

Reportagem e texto: Jéssica Pires

Revisão de texto: Jô Hallack e Andrea Blum 

Agradecimentos desta edição: Agradecemos às crianças, adolescentes e responsáveis que compartilharam seus relatos e vídeos, e à Gisele Martins, colaboradora da Redes da Maré.

Uma ferramenta na pandemia

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Em caráter emergencial é instituída a telemedicina no país

Por Hélio Euclides  em  26/10/2020 às 9h00

Desde que a covid-19 foi caracterizada como uma pandemia, diversas especialidades médicas interromperam o atendimento presencial. Com isso, pessoas que são portadoras de doenças crônicas e que necessitam de atendimento médico periódico, ficaram tê-lo. Para resolver essa questão, foi publicada no dia 16 de abril, no Diário Oficial da União, a Lei nº 13.989/20 que libera o uso de telemedicina em caráter emergencial, enquanto durar a crise pelo coronavírus. Por meio de uma videoconferência com o paciente, o médico consegue fazer uma espécie de triagem do caso. O serviço é uma porta de entrada que permite avaliar os casos que necessitam ou não de uma avaliação presencial/exames. 

O Conselho Federal de Medicina iniciou o debate para a aprovação da Lei quando se manifestou em março, ao encaminhar um ofício ao Ministério da Saúde, informando sua decisão de liberar a telemedicina, em caráter excepcional, enquanto durar a pandemia da covid-19. Seria uma nova modalidade de atendimento, uma forma de evitar a sobrecarga nos hospitais e garantir uma maior segurança dos pacientes e dos próprios médicos.  Isso não exclui o atendimento presencial,que deverá ser feito quando necessário, com um menor  número de pacientes e com todos os cuidados necessários, como o uso de máscaras e o distanciamento social.

A Lei menciona que o médico precisa informar ao paciente todas as limitações sobre o uso da telemedicina, como a impossibilidade de realizar exames que exijam coleta de material, por exemplo. Todas as informações devem ficar claras ao paciente. As consultas seguirão os mesmos padrões normativos e éticos do atendimento presencial. 

O Congresso Nacional derrubou em agosto dois vetos presidenciais ao Projeto de Lei 696/20, relacionados ao uso da telemedicina na pandemia de Covid-19. Um dos vetos atribui ao Conselho Federal de Medicina a regulamentação da atividade após a pandemia; e o outro valida as receitas médicas digitalizadas.

Telessaúde e telemedicina

Luiz Vianna, coordenador do Observatório da Medicina (ObMed), da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, destaca que a telessaúde não é uma novidade. A versão mais restrita e mais recente é a telemedicina ou teleconsulta, que foi impulsionada pela necessidade do distanciamento social. “O problema é um enorme interesse do mercado, pois aumenta muito a produtividade e reduz o custo operacional, além de aumentar muito o controle gerencial sobre as decisões. Eu penso que é um método inevitável. Resta saber como servirá ao conjunto da sociedade, como a água e o esgoto encanados que são distribuídos de forma desigual. Como a própria alta tecnologia médica das décadas de 1980 e 1990. Ela chega para todos?”, questiona.

O médico define que a telessaúde engloba qualquer tipo comunicação que possa ser feita por meio eletrônico a distância, como por exemplo, uma troca de mensagens por Whatsapp entre um paciente e um médico, ou até mesmo entre médicos. “Sabemos que países de língua inglesa utilizam serviços de diagnósticos de tomografia e radiologia de clínicas indianas. Os médicos dos Estados Unidos compram laudos de tomografia, radiografias e raio-x dados por médicos indianos, em inglês, à distância”, conta. 

Apesar de já ser usada há algum tempo, houve resistência de médicos no campo do teleatendimento. “Houve muito protesto pela classe médica há cerca de dois anos para autorizar o método de atendimento pela web, telefone ou programa de áudio e vídeo, mas agora é uma questão diferencial, que pede o distanciamento social. Para isso, há um protocolo, um treinamento, para saber o limite no qual o médico pode atuar, o que se pode fazer ou prescrever à distância. Os planos de saúde têm feito em grande quantidade e o SUS (Sistema Único de Saúde) lançou em alguns estados e cidade um modelo de teleatendimento”, comenta.

Dentro do teleatendimento, ainda há a teleinterconsulta, onde os médicos são auxiliados por outros médicos à distância. “Na Prefeitura de Niterói se utiliza um programa em que os médicos plantonistas da emergência podem tirar dúvidas na área de cardiologia, por exemplo. É só entrar no aplicativo e informar o quadro clínico, juntamente com os dados de exames, e assim se discute um laudo com médicos de um hospital de cardiologia em São Paulo, que mantém um plantão on-line 24h para várias Prefeitura do país”, conclui. 

Veja a Lei Nº 13.989, de 15 de abril de 2020

Art. 1º Esta Lei autoriza o uso da telemedicina enquanto durar a crise ocasionada pelo coronavírus (SARS-CoV-2).

Art. 2º Durante a crise ocasionada pelo coronavírus (SARS-CoV-2), fica autorizado, em caráter emergencial, o uso da telemedicina.

Art. 3º Entende-se por telemedicina, entre outros, o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde.

Art. 4º O médico deverá informar ao paciente todas as limitações inerentes ao uso da telemedicina, tendo em vista a impossibilidade de realização de exame físico durante a consulta.

Art. 5º A prestação de serviço de telemedicina seguirá os padrões normativos e éticos usuais do atendimento presencial, inclusive em relação à contraprestação financeira pelo serviço prestado, não cabendo ao poder público custear ou pagar por tais atividades quando não for exclusivamente serviço prestado ao Sistema Único de Saúde (SUS).

http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-13.989-de-15-de-abril-de-2020-252726328.

Telemedicina na Maré

Desde julho a SAS Brasil tem atendido moradores da Maré por meio  do aplicativo que oferece atendimento médico e psicológico gratuito via Whastapp. A ação faz parte do projeto Conexão Saúde – De olho na covid,  uma parceria entre Redes da Maré, Dados do Bem, SAS Brasil, União Rio, Conselho Comunitário de Manguinhos e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), como uma forma de  enfrentamento da pandemia no Conjunto de Favelas da Maré e de Manguinhos. Para acessar o serviço, basta mandar mensagem pelo Whatsapp para (21)99271-0554 e aguardar o atendimento.

Logo no primeiro mês de atendimento na Maré e Manguinhos, cerca de 475 pessoas entraram em contato solicitando marcação de consulta ou tirando dúvidas, totalizando em 4.840 mensagens recebidas, de acordo com a SAS Brasil. Na Maré foram feitos 161 atendimentos médicos, 35 atendimentos psicológicos e 20 casos suspeitos de covid-19. Já em Manguinhos, 29 pessoas receberam atendimento médico, 9 conversaram com psicólogo e 2 pessoas entraram em contato por serem casos suspeitos de covid-19.

Ronda Coronavírus: A relação entre a vacina contra covid-19 e política

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A semana foi marcada por embates políticos entre presidente e governador de São Paulo

Publicado em 23/10/20 às 20h03

Ao longo da semana, um dos assuntos recorrente no país foram as vacinas contra o novo coronavírus. O debate desta semana passa por comprovação científica, ética, mas principalmente pelos debates político e ideológico por trás dos imunizantes. Enquanto isso, a população acompanha os números da doença: até hoje são 5.353.656 de brasileiros infectados e 156.471 mortos por covid-19 de acordo com dados do Ministério da Saúde. Mesmo com a redução do número de mortos dos últimos dias, dados que inspiram esperança até mesmo ao diretor de operações da Organização Mundial da Saúde, Mike Ryan, ainda é preciso ficar alerta a uma possível segunda onda, como tem acontecido atualmente na Europa. 

Os brasileiros começaram a semana com o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo João Doria tendo posições opostas sobre a vacinação compulsória. O primeiro disse que a vacinação será facultativa, enquanto o segundo afirmou que todas as pessoas do estado de São Paulo serão vacinadas, com exceção das que apresentarem laudo médico com alguma restrição. Inclusive afirmou que brasileiros de outros estados poderão ser vacinados, se quiserem. 

Na terça-feira (20), o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou que assinou protocolo de intenções para a compra 46 milhões de doses da vacina contra a covid-19 com a Sinovac, farmacêutica responsável pela vacina em parceria com o Instituto Butantan. Na sequência, o presidente Jair Bolsonaro passou por cima de sua decisão, fazendo com que o ministro voltasse atrás, dizendo que não há intenção em comprar “vacina chinesa”. Em meio à tensão, o ministro notificou que testou positivo para a covid-19.

O presidente afirmou, ainda, que não compraria nenhum insumo ou a própria “vaChina”, mesmo que ela seja aprovada pela Anvisa. O ato serviu para aumentar ainda mais a tensão entre o presidente com o governador de São Paulo, ambos pré-candidatos à presidência em 2022. O governador alfinetou o presidente lembrando que, segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 80% dos medicamentos distribuídos no país são de origem chinesa. O infectologista e pesquisador da Fiocruz, Júlio Croda, lembrou que os insumos utilizados para a produção da vacina pela empresa AstraZeneca, feita em parceria com a Universidade de Oxford e a Fiocruz e financiada pelo Governo Federal, é fabricado na China. “A gente não pode ser xenofóbico de discriminar um produto pela sua origem. A gente tem que avaliar os estudos e a Anvisa avaliar realmente esses resultados independente da origem do país e identificar se são resultados que comprovem a segurança é a eficácia da vacina”, afirmou o pesquisador durante entrevista à GloboNews.

Vacina e cloroquina: o que precisa e o que não precisa de comprovação?

Nas redes sociais, o presidente falou sobre a necessidade de comprovação científica da vacina: “A vacina chinesa de João Dória: Para o meu Governo, qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa. O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem. Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina”. 

É importante lembrar que o presidente ignorou estudos científicos que comprovaram a ineficácia da cloroquina e hidroxicloroquina e seguiu incentivando a população a tomar o remédio para melhora dos sintomas da covid-19. Diversas foram as vezes em que o presidente apareceu em público, seja em lives ou em eventos oficiais, incentivado o uso da cloroquina, e já chegou a afirmar que sabia que não tinha comprovação científica. A Sociedade Brasileira de Infectologia emitiu uma nota afirmando que o uso dos dois remédios mencionados anteriormente devem ser abandonados em qualquer fase de tratamento da covid-19 por não obter nenhum resultado de melhora. 

Vacina no horário eleitoral

A vacina também tem pautado o debate das eleições municipais. De acordo com a Lei n° 13.979, sancionada em fevereiro pelo presidente Jair Bolsonaro, os municípios têm autonomia de adotar medidas sanitárias para combater a pandemia, incluindo a vacinação compulsória. A princípio, o quatro principais candidatos da cidade do Rio – Eduardo Paes (DEM), Marcelo Crivella (Republicanos), Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT) foram favoráveis à obrigatoriedade da vacina. Entretanto, por estar alinhado ao presidente Jair Bolsonaro, o candidato Marcelo Crivella voltou atrás e se colocou contra a vacinação obrigatória, publicando um vídeo em suas redes sociais nesta quinta-feira (22) endossando a fala do presidente.

Bolsonaro tem politizado o debate sobre a vacina e colocou as ações tomadas durante a pandemia como fator importante para se votar em um candidato que tenta a reeleição, por exemplo. Desde o início da crise sanitária ele foi contrário a prefeitos e governadores que tomaram frente diante a crise e optaram por pensar em estratégias de distanciamento social que não fossem alinhadas com o governo federal, como o caso dos governadores Wilson Witzel e João Doria.

O assunto também é debate entre os eleitores e eleitoras. Em pesquisa realizada pela Datafolha há duas semanas em quatro capitais do país (Belo Horizonte, Recife, Rio e São Paulo), das 3.092 pessoas entrevistadas, 70% são favoráveis à vacinação compulsória. 

Morre voluntário que participava de testes

Morre nesta semana um voluntário que participava dos testes da Vacina de Oxford no Brasil. Após a repercussão do caso, uma pessoa envolvida com a pesquisa vazou os dados sobre a pessoa, que tinha recebido placebo durante as testagens. Devido ao sigilo legal no processo de testagens, nem o laboratório e nem a Anvisa confirmaram ou negaram oficialmente que o voluntário recebeu placebo. O médico de 28 anos morreu em decorrência à complicações de covid-19.

Covid-19 no Rio

No estado do Rio são 20.115 mortes e 296.797 casos confirmados até esta sexta-feira. A capital teve 422 novos casos nas últimas 24h, chegando a 115.635 casos confirmados. De acordo com o boletim De Olho no Corona!, entre os dias 13 e 19 de outubro, a Maré contabilizou 41 novos casos. Hoje, o conjunto de 16 favelas contabiliza 762 casos confirmados e 129 mortes, de acordo com dados do painel da prefeitura do Rio. Nas favelas são 17.886 pessoas infectadas e 2.223 mortos por covid-19, contabilizando casos confirmados e autodeclarados.

Debate com prefeitáveis do Rio A Rede Favela Sustentável realizou nesta quinta-feira debate inédito com prefeitáveis da cidade do Rio, que falaram especificamente sobre questões que impactam as favelas, tendo como base a carta-compromisso da Rede Favela Sustentável com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2030 da ONU. O evento foi transmitido no Facebook e no YouTube e está disponível para visualização.