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Ronda Coronavírus: Redes da Maré lança chamada pública de incentivo à cultura, arte e comunicação na Maré

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O objetivo é estimular as artes nas favelas da Maré nesse novo contexto de distanciamento social. São bolsas de até 10 mil reais de 31 projetos serão contemplados

No pior dia desde o início da pandemia, o Brasil tem 9.897 mortes e soma 145.328 casos confirmados do novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde. Em 24 horas, foram confirmadas mais 751 novas mortes. É o maior número diário incluído no balanço desde o começo da circulação do vírus no Brasil.

Na cidade do Rio são 9.672 casos confirmados e 1.002 mortes. Na Maré, dados oficiais relatam apenas 37 casos confirmados e 3 mortes, número menor que o divulgado na última quarta feira (39 casos e 9 óbitos). A Secretaria Municipal de Saúde informou que não foi apenas na Maré que houve alterações nos dados anteriormente lançados. Outros bairros, como Leme e Tijuca, por exemplo, também passaram por ajustes da equipe de Vigilância Epidemiológica que trabalha para qualificar a informação. Por isso, os dados estão sujeitos à revisão. Mas segundo o Boletim de Olho na Maré, da Redes da Maré, são pelo menos 140 casos e 16 mortes na Maré. Os bairros vizinhos do conjunto de 16 favelas da Maré (Bonsucesso e Ramos) somam 150 casos e 15 mortes. 

E mesmo com o número crescente de casos e mortes, ainda há muita gente na rua e pessoas preparando festas na Maré. Em Bonsucesso havia filas em bancos, loterias, farmácias e em lojas que não estão deixando os clientes entrarem e por isso há aglomeração na porta.  Segundo a Fiocruz, o único remédio possível de conter o vírus é o isolamento obrigatório, onde pessoas não possam sair de casa, exceto para atividades essenciais.

Artistas, comunicadores ou produtores culturais moradores da Maré podem participar de uma chamada pública para bolsas de até dez mil reais. Serão escolhidas 31 propostas que tratem de temáticas relacionadas ao coronavírus, confinamento, saúde e prevenção. As inscrições abrem na próxima segunda-feira (11), mas o edital já está disponível para as novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas favelas. Os interessados podem se inscrever até o dia 23 de maio.

O Projeto Colabora e o Maré de Notícias estão com uma campanha de capacitação e renda para jovens comunicadores das 16 favelas da Maré que tenham interesse em escrever sobre Covid-19. A cada real doado, a Fundação Tide Setubal doará mais R$2 para possibilitar a geração de renda para o comunicador popular. Para fazer a sua doação, é só acessar o site do #Colabora.

Está no ar uma plataforma que conecta paciente com um grupo de médicos para atender gratuitamente pessoas com sintomas da doença (tosse, febre, falta de ar, dor de garganta etc). A pessoa se cadastra aqui no site e rapidamente um médico entra em contato e faz uma consulta por vídeo. Uma ajuda e tanto para quem está com dificuldade de acesso a equipamentos de saúde e para evitar aglomerações e contágios nas unidades.

Uma cartilha da Defensoria Pública do Rio informa sobre direito de detentos durante a pandemia de Covid-19. A cartilha lançada pelo Núcleo do Sistema Penitenciário (Nuspen), a instituição disponibiliza informações sobre a execução penal e as relações com a Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP). Em linguagem clara e acessível, o manual destina-se, em especial, aos familiares das pessoas privadas de liberdade. A publicação informa também o cronograma semanal de recebimento dos itens permitidos aos internos de cada unidade prisional do estado do Rio de Janeiro. 

Coletivos, projetos e ONGs de favelas e periferia de todo o Rio de Janeiro aderiram a campanhas para levar informação sobre a pandemia e ajudar no sustento das famílias que mais precisam, arrecadando fundos para doações de alimentos e produtos de limpeza e higiene. Saiba como aderir a ideia na matéria da edição 112 no Jornal Maré de Notícias. Amanhã, 09 de maio, a Campanha “Maré Diz Não ao Coronavírus” volta a distribuir cestas básicas, kits de higiene, quentinhas  e máscaras para os moradores das 16 favelas da Maré. Na primeira etapa, a iniciativa distribuiu mais de 300 toneladas, entre itens de higiene e alimentos. Confira na matéria do repórter Hélio Euclides.

Mobilização contra o coronavírus

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Campanha que nasce após demanda de moradores completa um mês 

Hélio Euclides

“Você tem que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo”. Essa frase de Angela Davis, professora e filósofa, retrata um pouco a Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus. No momento de distanciamento social, no qual as pessoas estão sem trabalho, os casos de contágios e mortes só aumentam e os políticos não se entendem para encontrar solução, é preciso buscar formas de solidariedade e mobilização. Com esse objetivo, a campanha completou um mês com ações de arrecadação de doações, que são revertidas em quatro frentes: segurança alimentar; geração de renda; acesso a direitos e comunicação e disseminação de conteúdo. 

A Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus arrecadou e distribuiu cestas de alimentos, kits de higiene pessoal e de limpeza para moradores das 16 favelas da Maré e quentinhas para pessoas em situação de rua. No total, foram entregues 328 toneladas de alimentos de porta em porta, distribuídos em 7.272 cestas básicas, além de 4.800 coelhos de chocolates, em uma ação na véspera da Páscoa. Também foram distribuídas 4.600 quentinhas para pessoas em situação de rua, na Cena de uso de Crack, na Rua Flavia Farnese, no Parque Maré, e Avenida Brasil, na altura do Parque União. As quentinhas foram preparadas pelas mulheres do projeto Maré de Sabores, da Casa das Mulheres da Maré.

Para a modalidade de doações porta a porta, foi desenvolvida uma metodologia de distribuição articulada com uma rede de parceiros locais, que conta com as 16 Associações de Moradores da Maré, a 4ª Coordenadoria Regional de Educação, sete unidades básicas de saúde, uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), e o Conselho Tutelar. Essa parceria ainda conta com organizações não-governamentais e coletivos: Maré Vive, Conexão G, data_labe, EcoMaré, Luta pela Paz, Mães Especiais da Maré, Mães Vítimas de Violência da Maré, Maré Informação, Maré Longboard, Maré Solidária, Maré Vê, Maré 0800, Observatório de Favelas, Para Elas, Resistência Lésbica, Roda Cultural do PU, Skate Maré, Uerê e Vida Real. 

A campanha se organiza e se mobiliza a partir de uma equipe de 300 voluntários que trabalham para viabilizar a campanha. Todo esse trabalho impactou diretamente 20 mil pessoas. No sábado, dia 09 de maio, se inicia o segundo mês de trabalho, mantendo as entregas de cestas básicas e refeições, e ampliando a atuação com mais três ações: a produção de máscaras por costureiras das favelas da Maré para distribuição à população local; edital público com bolsas para ações locais de coletivos de arte, cultura e comunicação que atuam na Maré; arrecadação de materiais de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para distribuição aos profissionais que atuam nas sete unidades básicas de saúde e uma UPA da Maré.

A união em uma campanha

A campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus surge de uma necessidade urgente, de dar uma resposta imediata nesse período da crise da pandemia para demandas que começaram a surgir nos contextos das 16 favelas. “A Redes da Maré vem na mobilização para o isolamento social, de diminuir o contágio, partindo da coerência e do trabalho que a gente faz, que é de pensar nas formas de contribuir num processo estruturante, que melhore as condições de vidas das pessoas, que fortaleça para que de fato se reestabeleçam os direitos dos moradores das favelas da Maré”, comenta Eliana Sousa, diretora da Redes da Maré. 

“Quando nos vimos em meio a essa pandemia do coronavírus, percebemos que os problemas começaram a aparecer fruto da desigualdade social. Era necessário dar continuidade ao nosso trabalho que busca criar algum tipo de incidência nas questões estruturantes”, conta. Eliana percebeu que apareceram pessoas passando fome, outras precisando de orientação sobre determinados direitos e também moradores começaram a se contaminar e adoecer, demandando cuidados na área de saúde. Foi a partir daí que ela entendeu que era uma possibilidade da Redes da Maré contribuir para reverter esse quadro. 

A campanha nasce para responder a necessidades territoriais. “Era muito importante responder essas demandas, como uma instituição que tem sua trajetória e história com o compromisso da melhoria da vida no conjunto das 16 favelas. Tentamos responder essa questão emergencial, mas também trabalhar de uma forma organizada, com uma lógica de tentar influenciar e contribuir com algo muito sério que é a segurança alimentar. É uma campanha que tem a pretensão de ser bastante abrangente e responder exatamente o que a população precisa”, conclui.

Uma Maré sem alimento

A campanha se construiu com a ideia de mobilizar recursos para transformar em cestas básicas e destiná-las às pessoas que passam por um problema social relacionado ao problema da segurança alimentar e geração de renda. Para reverter o aumento dos números de casos da Covid-19, a campanha se articula para perceber a situação de saúde das pessoas, junto às unidades básicas de saúde, e terem um atendimento sociojurídico.

Para Sebastião Antônio, conhecido como Tião, coordenador do Instituto Vida Real, quem mais está sofrendo é o trabalhador informal. “Essas pessoas são as que estão mais sentindo na pele essa pandemia. Elas querem uma ajuda, pois falta comida para os filhos, gente que não tem um grão de arroz dentro de casa. As dificuldades estamos sendo estampadas. É o momento de unir forças e trabalhar o social e o amor ao próximo. Precisamos mostrar que isso vai passar, que vamos reverter esse momento, todos pelo bem de todos”, diz.

Um outro problema que ele percebe são as fake news. “Estamos percebendo como as pessoas se encontram cercadas de notícias verdadeiras e também de falsas, e são essas que mexem muito com o psicológico”, expõe. Para reverter isso, a campanha também tem a frente da comunicação, com conteúdo audiovisual acessível para a população, com todas as informações apuradas e em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Para essa segunda etapa, a campanha deve eliminar algumas falhas, como a distribuição duplicada e verificação de cadastro. “Recebi a cesta, gostei muito, veio bastante coisa boa, até dividi com a minha prima. Aqui na comunidade muita gente foi demitida do seu trabalho, são essas pessoas que mais precisam. Se todos que merecem recebessem, seria bom. Uma pena que tem gente que se inscreveu e não precisava tanto”, expõe Alessandra Santana, moradora da Vila dos Pinheiros. A Redes da Maré solicita a ajuda dos moradores para que só recebam a cesta pessoas em situação de vulnerabilidade. Também esclarece que ninguém está autorizado a visitar domicílios e pedir informações como cartão de crédito.

Ronda Coronavírus: Maré tem quase quatro vezes mais casos de Covid-19 do que os dados oficiais

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São pelo menos 140 casos suspeitos de Coronavírus nas 16 favelas da Maré e 18 mortes, segundo o Boletim de “Olho no Corona, da Redes da Maré

O Boletim da Organização Mundial da Saúde (OMS) desta quinta-feira (7) registrou 6.539 mortes por Covid-19 no mundo em 24 horas. Desse total, 600 foram confirmadas no Brasil, o que representa 9,17% dos óbitos pela doença do novo coronavírus. Só na cidade do Rio são 9.051 casos confirmados e 919 mortes. Isso sem contar com a subnotificação, já que não há testagem para todos os casos suspeitos.

Na Maré, segundo o Boletim de “Olho no Corona”, da Redes da Maré, são pelo menos 140 casos suspeitos de Coronavírus no conjunto de favelas da Maré e 18 mortes. Os dados estão sendo levantados pela equipe de profissionais da área social junto à população e tem como objetivo chamar a atenção para os casos subnotificados, apresentar as demandas das unidades de saúde e contribuir para o planejamento de medidas de prevenção e controle da pandemia em favelas. A iniciativa é um desdobramento da campanha “Maré diz NÃO ao Coronavírus” e vai abordar a situação das unidades de saúde presentes no território. A cada semana, um tema relevante relacionado à pandemia em favelas e periferias será tratado. Nesta primeira edição, a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nos equipamentos de saúde da Maré e como os profissionais da área estão expostos à contaminação foi o tema abordado. O boletim já está disponível no site da Redes da Maré.

Numa tentativa de diminuir o número de casos subnotificados, Petrobras e Firjan prometeram ampliar a capacidade de realização de testes de diagnóstico de Covid-19 no Brasil. A parceria prevê pesquisa para um novo teste, com potencial de aumentar em cerca de 10 vezes a capacidade de análises e reduzir em até 85% os custos. O teste do tipo RT-PCR, de alta eficácia, custa em média R$90. Com essa iniciativa, o valor poderá chegar até R$13. Essas iniciativas precisam, entretanto, chegar aos territórios de favelas e periferias. 

Moradores da Maré com Covid-19 relatam a dificuldade ao acesso a medicamentos prescritos por médicos nas unidades de saúde pública. O custo de antibióticos custam em média R$100,00 e segundo moradores, nas unidades de saúde não há distribuição desses medicamentos para os pacientes que não estão internados. Não haver medicamentos disponíveis para a população é ir contra a Política Nacional de Medicamentos, que prevê a distribuição de medicamentos gratuitos, a preços reduzidos, com segurança, qualidade e eficácia. Isso acontecer em tempos de crise econômica, nos territórios de favela, em meio a uma pandemia é, no mínimo, uma negligência gravíssima. Além do fato das diversas fake news sobre possíveis medicamentos que tratariam o coronavírus, fazendo com que muitos sumissem das prateleiras.

A circulação de pessoas pelas ruas da Maré e de bairros vizinhos – como Bonsucesso – tem sido muito alta, mesmo com o alto índice de óbitos na cidade do Rio. Além da percepção dos moradores, dados do Centro de Operações Rio (COR), em parceria com a Tim e a Cyberlabs, também confirmaram uma queda preocupante do isolamento social. Os cinco bairros com maior circulação estão na Zona Oeste e na Zona Norte. O primeiro, de acordo com os dados, é a região de Jacarepaguá, que registrou 3.079 pessoas durante o dia. O segundo é Campo Grande, com 2.364 pessoas, seguido de Santa Cruz com 1.961. A quarta e o quinta posições ficaram com a Zona Norte: São Cristóvão (1.954) e Ramos (1.935), bairro vizinho a Maré.

Diante disso, a prefeitura decretou a partir desta quinta-feira (07) o fechamento de alguns acessos ao calçadão de Campo Grande. Na medida chamada de lockdown parcial, grades foram instaladas nos acessos e apenas trabalhadores de serviços essenciais puderam transitar no bairro. O bairro centraliza o maior número de óbitos da cidade (40) e é o terceiro em número de casos confirmados (262). 

A prefeitura estuda a ampliação da medida para outras regiões da cidade e especialistas da Fiocruz alertam para a necessidade urgente de lockdown, uma medida que prevê multa a quem estiver andando pela cidade sem ser para fazer compras ou ir ao médico. Uma espécie de isolamento obrigatório já adotada em outras cidades do Pará, Maranhão e Ceará.

Outra consequência da grande movimentação de pessoas é o número de profissionais de enfermagem no Brasil mortos pela Covid-19. De acordo com os dados reunidos pelo jornal El País, 73 profissionais morreram em decorrência da doença. O número supera o registrado pela Itália e Espanha juntas, os dois países que acumulam o maior número de mortes de enfermeiros pelo novo coronavírus.

Em duas semanas, a quantidade de pessoas negras que morrem por Covid-19 no Brasil quintuplicou. De 11 a 26 de abril, mortes de pacientes negros confirmadas pelo Governo Federal foram de pouco mais de 180 para mais de 930. Além disso, a quantidade de brasileiros negros hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada por coronavírus aumentou para 5,5 vezes. Esse foi o levantamento da Agência Pùblica, que levou em conta os dados de São Paulo, realidade não muito distante do Rio. 

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, anunciou nesta quinta-feira (07) que famílias que recebem até três salários mínimos receberão auxílio da prefeitura para realizar o enterro gratuito de seus entes durante a pandemia de coronavírus. A Secretaria de Infraestrutura, Habitação e Conservação do município do Rio oferece o sepultamento social custando até R$546, independente da situação socioeconômica.

O Clube de Regatas Flamengo divulgou nota oficial na noite de quarta-feira (06/5) que após realização de exames em 293 pessoas do clube, 38 testaram positivo para o novo coronavírus, sendo três em jogadores. Os nomes não foram revelados.

Um edital vai selecionar 20 organizações ou coletivos de comunicação popular, comunitária ou independente para apoiar no contexto das crises política, econômica, social e de saúde pública diante expansão da Covid-19 no Brasil. Os coletivos selecionados receberão um apoio de R$ 8.000 cada e integrarão a rede de comunicação da campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde, que busca fortalecer o direito humano à informação neste contexto. Mais informações: http://artigo19.org/blog/2020/05/07/chamada-aberta-compartilheinformacao-compartilhesaude-saiba-como-participar-e-submeta-uma-proposta/

Outra iniciativa positiva é a do músico Rodrigo Viegas. O artista vai fazer nessa sexta-feira, dia 08 de maio, uma live arrecadando doações para a campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus, da Redes da Maré. Basta acessar o canal do YouTube do músico às 21h30. 

Entenda a diferença entre algumas medidas de restrição:

  • Isolamento social – é, a princípio, uma sugestão preventiva para que as pessoas fiquem em casa;
  • Quarentena – é uma determinação oficial de isolamento decretada por um governo;
  • Lockdown – é uma medida de bloqueio total que, em geral, inclui também o fechamento de vias e proíbe deslocamentos e viagens não essenciais.

Em duas semanas, número de negros mortos por coronavírus é cinco vezes maior no Brasil

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Levantamento da Pública mostra que mortes e hospitalizações de pretos e pardos sobem mais que em brancos; em São Paulo, recorde de mortes ocorre onde população negra é maior

Por: Bianca Muniz, Bruno Fonseca, Rute Pina – Agência Pública

Em duas semanas, a quantidade de pessoas negras que morrem por Covid-19 no Brasil quintuplicou. De 11 a 26 de abril, mortes de pacientes negros confirmadas pelo Governo Federal foram de pouco mais de 180 para mais de 930. Além disso, a quantidade de brasileiros negros hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada por coronavírus aumentou para 5,5 vezes.

Já o aumento de mortes de pacientes brancos foi bem menor: nas mesmas duas semanas, o número chegou a pouco mais que o triplo. E o número de brasileiros brancos hospitalizados aumentou em proporção parecida.

A explosão de casos de negros que são hospitalizados ou morrem por Covid-19 tem escancarado as desigualdades raciais no Brasil: entre negros, há uma morte a cada três hospitalizados por SRAG causada pelo coronavírus; já entre brancos, há uma morte a cada 4,4 hospitalizações.


Os dados são resultado de uma análise feita pela Agência Pública com base nos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde que possuem informações de raça e cor de internações e mortes por coronavírus. O Governo Federal divulgou esses números atualizados apenas até 26 de abril.

Covas abertas no cemitério Vila Nova Cachoeirinha, que atende a Brasilândia, bairro onde negros são metade da população e tem o maior número de mortes por Covid-19 – José Cícero da Silva/Agência Pública

Para cada morte em Moema, quatro morrem na Brasilândia

Em São Paulo, na maior cidade do país e a que conta maior número de mortes por Covid-19, são os bairros onde a população negra está mais concentrada que trazem a maior quantidade de óbitos pela doença. Segundo a Pública apurou, dos dez bairros com maior número absoluto de mortes causadas pelo coronavírus, oito têm mais negros que a média de São Paulo.

O bairro com maior número absoluto de mortes é a Brasilândia, com 103 casos. A região tem cerca de 50% da população negra — a média de São Paulo é de 37%. No extremo oposto, o bairro com menos negros da cidade, Moema, teve 26 mortes. A média de negros na região é de menos de 6%.

Mesmo ajustando-se as mortes à população, os dois bairros têm realidades diferentes: em comparação ao número de moradores de Moema, Brasilândia tem cerca de 25% a mais de mortes. A Pública considerou os dados do último Censo (2010) para os cálculos de população e raça/cor dos moradores.

Bairros da periferia e com mais moradores negros que a média de São Paulo têm visto os casos de Covid-19 dispararem — e com eles, as mortes. O Jardim Ângela, bairro com maior porcentagem de negros de toda a cidade, viu as mortes por coronavírus quase que triplicarem em cerca de duas semanas. Grajaú, Parelheiros, Itaim Paulista, Jardim Helena, Capão Redondo e Pedreira, todos bairros com maioria da população negra, mais que dobraram as mortes por Covid-19 nesse mesmo período.

O avanço do coronavírus na periferia de São Paulo vem encurtando a distância de mortes entre bairros mais ricos, onde surgiram os primeiros casos de Covid-19. Em 17 de abril, bairros com menos população negra que a média da cidade tinham 13% a mais de mortes que as regiões onde moram mais negros. Duas semanas depois, essa diferença caiu para 3%. Se a tendência se mantiver, os bairros onde vivem mais negros que a média da cidade devem ultrapassar os bairros onde vivem menos negros.

O jornalista Lucas Veloso, cofundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias, mora em uma das principais avenidas de Guaianases, bairro localizado no extremo leste da cidade de São Paulo. Ele observa que o movimento de transeuntes no local aumentou nas últimas semanas, em comparação à semana do dia 24 de março, quando o governador João Doria (PSDB) instituiu a quarentena no estado. “Nas duas primeiras semanas [depois do anúncio do decreto], as ruas estavam de fato mais desertas. O movimento da feira que acontece às quartas, por exemplo, tinha caído muito. Havia poucas barracas, poucos feirantes. Mas depois da terceira e quarta semanas, percebi que isso mudou”, relata.

Segundo ele, parte da população local não conseguiu parar por questões de renda. “Muitos dos que moram nas periferias fazem parte dos serviços essenciais. Então, o transporte público de manhã, na estação de trem, não diminuiu tanto. São entregadores, enfermeiros, seguranças. Então, como é um bairro pobre, de periferia, que muitas pessoas estão sujeitas a subempregos, o bairro não consegue parar totalmente”, analisa o jornalista.

Agora, ele observa que até mesmo as pessoas que conseguiam ficar em casa relaxaram as restrições da quarentena. “As pessoas tinham a esperança, no começo, de conseguir o auxílio emergencial do governo e não precisar sair de casa. Só que tem todas essas burocracias que as pessoas não conseguiram resolver, muitas pessoas não têm qualidade de internet e não conseguiram baixar o aplicativo, aí o dinheiro do auxílio não vem. Isso também é um fator que faz as pessoas voltarem às ruas.”

Os locais onde vivem mais negros são justamente os com menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Os dez bairros com pior IDHM em São Paulo têm mais negros que a média da cidade. Já os dez com melhor IDHM têm menos negros que a média. Nos dez bairros com maior número absoluto de mortes, oito têm IDHM considerado médio, abaixo de 0,8. São justamente esses oito bairros onde a média de moradores negros está acima da média da cidade.

No Rio, bairros com mais negros que a média da cidade já acumulam mais mortes

PMRJ

No Rio, crescimento de casos de Covid-19 em bairros onde há mais moradores negros que a média da cidade tem levado essas áreas a registrarem cada vez mais mortes
Na capital carioca, os bairros com mais negros que a média da cidade já têm mais mortes em número absoluto que os bairros com menos negros.

O crescimento de casos na periferia e nas favelas levou essas regiões a registrarem cada vez mais falecimentos. Atualmente, Campo Grande, com mais de 50% de moradores negros, é o bairro com mais mortes. A região passou Copacabana, que antes era o local com maior número absoluto de falecidos pela Covid-19. Após Copacabana, Bangu e Realengo, dois bairros com maioria da população negra, ocupam o 3 e 4º lugar com mais mortes na cidade.

A Rocinha, maior favela da cidade, já conta nove mortes nos dados oficiais. Médicos que atendem a comunidade contestam o número e apontam que já haveria 22 mortes na favela.

A relação entre quantidade de casos confirmados e mortes também é bastante diferente entre bairros ricos e pobres do Rio de Janeiro, o que pode apontar dificuldade de moradores das favelas e da periferia de fazerem exames. Na Rocinha, por exemplo, há mais que o dobro de mortes em relação aos casos confirmados que no Leblon. Os bairros com mais casos confirmados são Copacabana e a Barra da Tijuca.

No Amazonas, com colapso do SUS, brancos sobrevivem mais que negros

No Amazonas, entre as pessoas que desenvolvem quadros graves da Covid-19, são mais frequentes mortes de negros que brancos. Segundo a Pública apurou, a cada 2,4 negros em estado grave, há uma morte. Já entre brancos, uma morte foi registrada a cada 3,2 pacientes em situação grave.

O estado, que foi o primeiro a ter lotação máxima de unidades de terapia intensiva para pacientes com Covid-19, tem registrado um aumento mais expressivo entre negros em estado grave que entre brancos. No final de abril, em menos de uma semana, a quantidade de pacientes negros em situação grave mais que dobrou.

A maioria absoluta das mortes no Amazonas são de negros: mais de 13 negros morreram para cada falecimento de branco. A secretaria de saúde já registrou cerca de 850 doentes negros em situação grave e mais de 340 mortes. Já entre brancos, foram 81 casos graves e 25 mortes. Os dados de raça e cor foram atualizados em 29 de abril.

Em Manaus, a primeira cidade brasileira a registrar colapso do sistema de saúde público, mais de 13 pacientes negros morreram para cada morte entre brancos – Alex Pazuello/Semcom

Ministério da Saúde diz que não há estudos que apontem raça como fator de risco
Apesar dos dados mostrarem que negros tiveram maior aumento de óbitos e registram mais mortes entre hospitalizados, o Governo Federal não divulga em detalhes essas informações. Não há, por exemplo, a informação de quantos casos foram confirmados por raça/cor ou o número de testes em negros, brancos e outros grupos.

Como explica Rita Borret, da Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade, não divulgar esses dados impede que profissionais de saúde, a imprensa, pesquisadores e mesmo a população acompanhem se a subnotificação em negros é maior que em brancos. A médica explica que negros dependem mais do Sistema Único de Saúde (SUS) — uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicava que, em
2008, a população negra representava 67% dos usuários do SUS.

“Se o acesso ao exame está difícil no sistema público, como você consegue saber se um paciente negro confirmou ou não a doença? E se há pessoas que sequer estão tendo a chance de serem atendidas, inclusive para internação, sabemos que a Covid-19 está subnotificada na população negra, mas não sabemos quanto”, analisa.

Foi o grupo de trabalho de saúde da população negra, da qual Borret faz parte, que pediu ao Ministério da Saúde que publicasse dados de raça/cor de mortos por coronavírus. O governo só passou a divulgar os dados no boletim referente a 11 de abril, sem detalhar dados de casos confirmados ou de testes. Questionado sobre a falta de dados mais completos, o ministério, já sob a gestão de Nelson Teich, chegou a afirmar que não há “estudos técnicos ou científicos que apontem cor ou raça como fator de risco da doença”.

“Nós sabemos disso, o problema não é raça, mas o racismo, que dificulta o acesso de negros à saúde. O acesso à saúde da população negra é muito pior que da população branca no país. E a gente não tem tempo, o coronavírus não dá tempo para fazermos um trabalho pedagógico sobre a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Precisamos que o Ministério esteja atento a essas questões o tempo todo, como está escrito na Lei.”, critica Borret.

Para Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil (OKBR), a ausência de dados sobre raça e cor é um problema para a análise do impacto que a Covid-19 tem em diferentes grupos. “Em alguns lugares começaram a fazer análises sobre como a população negra tem sido afetada de forma desproporcional, como nos Estados Unidos, por exemplo. Isso pode estar relacionado a diversos outros fatores, mas é importante ter o dado para começar a fazer esse tipo de análise aqui no Brasil”.

O último boletim Transparência Covid-19, publicação semanal organizada pela OKBR que avalia a transparência dos estados e Governo Federal na divulgação dos dados da pandemia, apontou que 32% dos estados divulgam seus microdados. Dos estados que disponibilizam seus microdados, apenas o Espírito Santo disponibiliza a base incluindo dados sobre raça/cor; no entanto, essa informação não é preenchida em todos os casos registrados (dos 3208 registros coletados até o dia 3 de maio, 1094 tinham o campo raça/cor ignorado).

No último dia 5, a Justiça Federal do Rio de Janeiro determinou que registro e divulgação de casos de coronavírus no país tenham obrigatoriamente informações sobre a raça/cor dos infectados.

Falta de dados sobre população negra é problema histórico no Brasil

A falta de dados oficiais sobre raça é histórica no país, afirma o advogado Daniel Teixeira. Ele é diretor do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), organização não-governamental voltada para a promoção da igualdade de raça e de gênero.

“Há vários fatores que podem explicar essa alta letalidade [da Covid-19 entre a população negra]. Justamente, ter informações melhores significa a gente, inclusive, confirmar ou até excluir a importância ou relevância de cada um desses fatores, conforme o caso. Porque aí está a riqueza que os dados podem fazer”, defende Teixeira, que diz que a falta deles pode ser “desastrosa”. O pesquisador pondera que a lacuna não ocorre apenas na área da saúde e é comum no país. “A falta desse tipo de recorte pode ser um impeditivo para que a gente tenha políticas públicas que deem conta dessa situação que, historicamente, desconsidera as dimensões de desigualdades estruturais no Brasil”, diz Teixeira.

A jornalista Christiane Gomes, coordenadora de projetos da Fundação Rosa Luxemburgo, em São Paulo, e integrante do coletivo negro Ilú Obá de Min, afirma que a pandemia escancara a desigualdade racial do Brasil, “fruto de um passado colonial que persiste ainda hoje”. “No começo da pandemia, se dizia muito que o vírus não escolhe classe social nem raça. Mas isso é uma falácia e os próprios números que comparam a quantidade de mortes em bairros como o Morumbi e a Brasilândia exemplificam isso”, afirma.

Ela pontua que o problema não é somente um reflexo da pobreza, mas que a discussão também tem que considerar gênero e raça. “Por exemplo, quem trabalha mais no trabalho doméstico? São as mulheres negras. Quem trabalha mais nos serviços de estrutura, de segurança? Enfim, que é a base da pirâmide social brasileira? É a população negra. Então, é essa população que está mais vulnerável e é a que menos consegue fazer isolamento social. Estamos falando de um problema macro, o Brasil é um país que tem o racismo na sua estrutura”, analisa Gomes, que defende maior transparência de dados da pandemia provocada pelo novo coronavírus, com o objetivo de orientar a gestão pública.

Prefeitura de Nova Iorque

Nos EUA, letalidade do coronavírus também é maior entre negros

O advogado Daniel Teixeira, diretor do Ceert, lembra que a falta de transparência sobre os dados raciais da pandemia também ocorreu em outros países, como os EUA, que oficialmente lidera o número de casos de infecções pelo novo coronavírus no mundo. “No CDC, Centers for Disease Control and Prevention, órgão que monitora os dados referentes à Covid-19 e outras doenças, também não se tem tido uma leitura ampla em relação aos dados”, pondera o especialista.

A pouca disponibilidade dos dados raciais levou a Johns Hopkins University, instituição que é referência na área de saúde no país, lançar um mapa mostrando quais estados norte-americanos têm produzido recortes raciais sobre a nova pandemia. De acordo com o mapeamento da universidade, apenas dois dos 50 estados norte-americanos, Illinois e Kansas, têm estatísticas raciais completas sobre casos confirmados, óbitos e testes para o novo coronavírus.

Desde a publicação do levantamento, houve melhora na transparência: o número de estados que disponibilizam dados raciais sobre os casos confirmados subiu de 34 para 42; já o número de estados que também disponibilizam dados raciais sobre as mortes provocadas pela Covid-19 subiu de 26 para 38.

“Eles estão monitorando e falando da importância para que o façam. É um apelo da universidade, para que isso seja considerado, tendo em vista o impacto desproporcional que já se verifica nos estados e cidades que já fazem esse monitoramento com recorte”, diz Teixeira.

Com os dados, foi possível atestar a maior letalidade da doença entre as comunidades negras no país, como mostraram reportagens da Reuters, sobre maior probabilidade de negros morrerem ao contrair Covid-19 e do Washington Post que repercutiu um estudo na Geórgia, que revelou desproporcionalidade da hospitalização de pessoas negras por Covid-19 no estado.

Teixeira alerta que os números disponíveis, nos EUA e no Brasil, ressaltam “a doença constante do racismo estrutural que se auto reproduz. “Essa é questão central do racismo. Não à toa que um dos movimentos mais fortes dos EUA hoje é o Black Lives Matter, as vidas negras importam. Essa afirmação se dá porque a morte [da população negra] desde sempre e cada vez mais é vista como parte da paisagem social. A ponto de haver pouca revolta com relação a essas mortes, em tão maior quantidade da população negra.”

Ronda Coronavírus: Recordes de mortes por COVID-19 no país e no estado do Rio

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Em 24 horas, foram confirmadas mais 615 mortes e 10.503 casos. É o maior aumento diário no total de mortes e de casos novos desde o começo da pandemia

Nesta quarta (06), o Brasil tem 8.536 mortes e 125.218 casos confirmados de novo coronavírus, diz Ministério da Saúde. Foram 10.503 novos casos confirmados, o maior aumento diário desde o início da pandemia. O estado do Rio também bateu recordes: em 24 horas, o estado chegou a 1.205 óbitos e 13.295 casos de COVID-19. 

Na capital fluminense foram 8.577 casos e 764 mortes. São 1548 pessoas internadas no SUS pelo novo coronavírus e 431 em UTI. O Hospital Federal de Bonsucesso, apesar de ser citado como referência para o atendimento a COVID-19, ainda tem leitos ociosos por falta de pessoal e equipamentos. Na Maré são 39 casos e 9 óbitos, enquanto bairros vizinhos somam 139 casos e 21 mortes (Bonsucesso e Ramos). Segundo dados oficiais, a Maré tem 23% de letalidade da doença, mas como são muito poucos os casos testados para haver confirmação, essa relação pode não corresponder à realidade. Segundo especialistas, apenas com a testagem em massa que o número de letalidade poderá ser confiável. 

Na UPA da Maré, pessoas eram atendidas em uma tenda do lado de fora da unidade para evitar contaminação. Por falta de máscaras, profissionais de saúde estão evitando a troca a cada 2 horas,  sendo possível apenas duas vezes ao dia. Pelo mesmo problema, apenas pacientes sintomáticos (os que apresentam sintomas da doença) estavam recebendo máscaras, o que é um grande risco, pois sem máscaras, os assintomáticos (aqueles que não têm sintomas da doença) transmitem o vírus para mais pessoas.

O governador Wilson Witzel comunicou que a Polícia Militar vai fechar estabelecimentos comerciais que não estiverem cumprindo as determinações de isolamento. Aqueles que não estão autorizados a funcionar por não serem prestadores de serviços essenciais, serão fechados e também multados por descumprimento de regras sanitárias. Além disso, as pessoas que forem flagradas em aglomerações serão levadas para delegacias, autuadas pelo crime de desobediência e responsabilizadas por seus atos. Dados mostram que 60% da população está nas ruas, o que pode elevar mais rapidamente a disseminação do vírus. A recomendação é para que as pessoas só saiam de suas casas para serviços essenciais, como compras de alimentos ou irem ao médico.

A Prefeitura do Rio também poderá adotar um bloqueio parcial de determinadas áreas da cidade onde a população não esteja respeitando o isolamento social e comerciantes insistem em abrir lojas que não são essenciais para o município. O lockdown parcial — que consiste em proibir a abertura do estabelecimento — pode começar amanhã em três bairros da Zona Oeste: Campo Grande — que atualmente tem o maior número de mortes por causa da doença —, Bangu e Santa Cruz.  A taxa de letalidade é alta em Bangu, Realengo e Santa Cruz, onde, para cada cinco pessoas doentes, há uma morte.

Foi lançado hoje o selo “Fiocruz tá junto”, que valida materiais de comunicação comunitária sobre COVID-19. Qualquer pessoa, associação ou coletivo poderá submeter até três materiais sendo eles produtos gráficos (digitais), sonoros (spots para carros de som e podcasts) ou vídeos que veiculem informações sobre o novo Coronavírus. O selo faz parte da campanha “Se liga no Corona”, uma parceria de coletivos de Manguinhos, a Redes da Maré e a Fiocruz. Para submeter o material é só preencher o formulário

A Redes da Maré inaugura amanhã (07) a publicação de um boletim semanal com os números referentes aos casos suspeitos e confirmados de coronavírus nas 16 favelas da Maré. Os dados são levantados periodicamente pela equipe de profissionais da área social da instituição junto à população e será lançado às quintas-feiras. O boletim “De olho no Corona” é um desdobramento da campanha “Maré diz NÃO ao Coronavírus” e vai abordar a situação das unidades de saúde presentes no território. 

O boletim irá abordar semanalmente um tema relevante relacionado à pandemia em favelas e periferias. O primeiro é sobre a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nas unidades de saúde da Maré e como os profissionais da área estão expostos à contaminação. O objetivo do levantamento é chamar atenção para possíveis casos subnotificados, apresentar as demandas das unidades de saúde da região e contribuir para o planejamento de medidas de prevenção e controle da pandemia em territórios de favelas e periferias, com foco no conjunto de 16 favelas da Maré. Saiba mais em www.redesdamare.org.br

Nada supera o bom senso

Maré de Notícias #112 – maio de 2020

Simone Lauar

Moradora do Salsa & Merengue, administradora do Garotas da Maré e colunista convidada do Maré de Notícias

Desde que essa pandemia devido à vilã Covid-19 começou, eu só perdi. Posso enumerar todas as dores de cabeça, estresses, noites de dormir… Para quem mora na favela, sabe que não precisamos de pandemia vinda da China pra ter um sistema de saúde precário. Somos reféns da insegurança do ir e não saber se voltamos de lá vivos. Parece que as pessoas não estão querendo aceitar que nossas vidas estão em xeque mate, estando mais preocupadas com elas e não olhando ao próximo.

Como disse, eu perdi muita coisa. Principalmente o meu emprego. Eu fazia quentinhas para fora para ajudar na renda da minha família e com essa pandemia, eu tive que parar, assim como muitos de nós da Maré. Parei para não ser uma pessoa que pudesse transmitir a doença para outras. Parei para não carregar esse vírus para a minha casa. Parei para ter minha família, amigos e clientes vivos! Vivo agora de doações e amigos que me abraçam de uma forma que nunca imaginei. Sou muito grata por isso. Mas, infelizmente, esse não é o mesmo raciocínio da maioria das pessoas daqui.

No dia 26 de abril, perdi uma pessoa que eu amava muito: Marinalva era minha avó e morreu a espera de uma vaga num hospital. Nessa mesma noite, eu saí de madrugada com a minha irmã para ficar na fila e tentar garantir o Auxílio Emergencial. Saímos eram cinco da manhã e para minha triste surpresa, no meio do caminho tinha uma mega festa de rua, cheia de adolescentes bebendo, se abraçando, sem máscaras e como se fosse um carnaval fora de época. Existem corpos enfileirados na UPA aqui da Maré, e as pessoas estão na rua em festas? É isso mesmo?

Tem acontecido vários multidões para conscientizar os moradores. Várias pessoas arriscando vidas para doar cestas básicas, distribuir quentinhas para pessoas em situação de rua, e essas outras pessoas estão nas ruas bebendo como se nada estivesse acontecendo? O que mais me dói é ter que depender do bom senso das pessoas para salvar nossas vidas.

Nos últimos dias de abril foi possível notar o quanto há pessoas egoístas nesse Brasil. Pessoas preocupadas com seus churrascos e festas, fazendo lives e compartilhando a sua diversão nesse momento que se deveria respeitar o isolamento, outras dizendo que isso não vai pegar, lideranças políticas mais preocupadas com a economia do que com as vidas…. Nada disso está certo.

Quando vi todas aquelas pessoas rindo e aglomerados dançando, eu só queria que elas sentissem a dor do luto que eu estava sentindo. Da sensação de perda e impotência de não poder ter ajudado a minha avó a ter um leio para ela viver. Uma revolta muito grande tomou conta de mim. Ainda mais quando soube depois que várias e vários profissionais de saúde também estão falecendo. Enterros sem despedidas… Você já se imaginou não se despedir daquela pessoa que fez parte de muitas histórias bacanas na sua vida?

Esse vírus está entrando na favela pela porta da frente e essas pessoas estão abrindo a porta para o novo coronavírus.  Um vírus que está se mudando e em cada organismo causa uma reação. Existem pessoas que testam positivo para o coronavírus e tiveram derrame. Outras têm falecido de infarto fulminante. Tem pessoas que não tem nenhum sintoma e passam para família sem nem saber que estão infectadas. Tudo ainda é incerto, mas quase ninguém aqui está ligando. Só irão ligar quando o coronavírus tiver um rosto e um CPF, assim como foi comigo.

Mas o que podemos fazer? A mídia e as frentes comunitárias tem feito diversas ações falando sobre o vírus, mas parece que não tem mais por onde alertar essas pessoas. Só o bom senso… Só o amor ao próximo poderá nos salvar desse mal. Sempre importante reforçar: fiquem em casa e cuidem dos seus.