Home Blog Page 426

Liderança LGBT, moradora da Maré, tem porta de casa alvejada

0

A porta da casa de Gilmara Cunha, moradora da Maré e presidenta do Grupo Conexão G, foi alvejada durante a segunda operação policial em uma semana, na Maré. O crime aconteceu ainda pela manhã. Hoje (19), por volta das 4h50, policiais militares do COE (Comando de Operações Especiais) iniciaram uma operação policial que ocorreu de forma silenciosa durante a manhã, nas favelas Nova Holanda, Parque Maré, Rubens Vaz e Parque União. No período da tarde, foram identificados intensos confrontos armados na região do Parque Maré e Nova Holanda.

Moradoras informaram que as escolas municipais da Nova Holanda tiveram seu funcionamento interrompido. As Clínicas da Família Jeremias Moraes da Silva e Diniz Batista dos Santos não abriram hoje.

A equipe do Maré de Direitos recebeu denúncias de casas invadidas e violência física pelo WhatsApp (21) 99924-6462 nas favelas: Rubens Vaz, Parque União, Parque Maré e Nova Holanda. Um restaurante localizado na rua Teixeira Ribeiro com a rua Tatajuba teve os vidros quebrados por balas, quando dezenas de pessoas almoçavam no local. Um supermercado na Nova Holanda também foi atingido nesta situação.

De acordo com e-mail encaminhado a Redes da Maré, às 18h17, pela Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar – Coordenadoria de Comunicação Social (CComSoc) foram apreendidas drogas e armas. Um homem foi detido no Parque União.

Bope dispersa com tiros de fuzil moradores e equipe da Redes da Maré durante mediação

1

Por volta das 4h50, policiais militares do Bope, do Batalhão de Choque (BPChq) e do Batalhão de Ações com Cães (BAC)  iniciaram a operação nas favelas Nova Holanda, Parque Maré, Rubens Vaz e Parque União, todas na Maré. Passadas 13 horas, a operação segue com policiais a pé e circulando com o “caveirão” pelo território. Logo no início da manhã, o morador da Nova Holanda Matheus foi assassinado na rua Ivete Vargas. Três pessoas foram detidas e uma foi ferida e encaminhada ao Hospital Geral de Bonsucesso. As clínicas da Família Jeremias Moraes da Silva e Diniz Batista dos Santos estão com as atividades suspensas. Moradores afirmam que algumas escolas da região também tiveram o funcionamento interrompido. 

A equipe da Redes da Maré foi solicitada por um grupo de moradores a mediar uma abordagem policial supostamente abusiva que ocorria na rua em que fica localizada a instituição. Quando a equipe chegou ao local, outro grupo de moradores estava acuado dentro de uma borracharia com policiais na porta. No momento da mediação, que tinha por volta de 100 pessoas na rua, os policiais do Bope dispararam tiros de fuzil para dispersar o grupo.

O projeto Maré de Direitos recebeu denúncias de violações de direitos como: invasão a domicílio, danos ao patrimônio, subtração de pertences e violência física pelo WhatsApp (21) 99924-6462.

Comerciantes da Nova Holanda tiveram seus quiosques saqueados e depredados. Segundo os próprios empreendedores, alguns policiais do Bope arrombaram a fechadura das portas dos estabelecimentos, e furtaram os pertences. Uma das moradoras relata que o dinheiro que usaria para pagar uma consulta médica, teria que utilizar agora para consertar a fechadura para manter a segurança do seu comércio.

Também foram vistos policiais circulando com facas e um cachorro foi morto com três tiros de fuzil. Até o momento do fechamento da matéria, a operação ainda estava em andamento, segundo a assessoria da Polícia Militar.

A Culpa é das Estrelas da Maré

0

Companhia multiartística de crianças da Maré ocupa as ruas com ensaios e apresentações; seus trabalhos têm repercutido Brasil afora

Flavia Veloso

A professora de artes cênicas da Escola Municipal Paulo Freire, na Vila dos Pinheiros , Alessandra Biá, identificou em seus alunos uma veia artística ansiosa por aflorar e brilhar. Ela conta que eram “bebês, bebês fora do comum”. Foi quando, em 2013, ela passou a desenvolver com as crianças projetos artísticos a partir de estudos sobre negritude e favela. Os pequenos concluíram seu ciclo na Paulo Freire, mas o desejo de fazer arte não cessou, nascendo, então a Escola Libertária de Artes (ELA).

As inquietações de Biá com um sistema escolar excludente e suas pesquisas de mestrado pelo programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) foram o pontapé para criar a ELA, uma escola multiartística, formada por crianças com idades entre 11 e 14 anos. A primeira leva de integrantes da Escola Libertária, originada dos ex-alunos da Paulo Freire, virou um grupo fixo e recebeu, este ano, o nome de Estrelas da Maré. “Tem esse nome, porque é a prova de que não se pode apagar o brilho das estrelas da favela”, explica a professora.

Ensaios na rua

Para a Escola, é na rua que o bicho pega. Os ensaios e apresentações são feitos nas ruas da Maré, ao lado de sua kombi, abrindo espaço para interação e participação do público. Perguntada se pretende ter um espaço físico futuramente, Alessandra diz não descartar a possibilidade, mas que trabalhar na rua é “muito legal”, e que a “cultura da infância e adolescência da favela envolve a rua”. Uma necessidade do grupo, atualmente, são recursos básicos para dar seguimento a seus trabalhos, como lápis de cor, papel e instrumentos musicais.

Atualmente, a companhia Estrelas da Maré apresenta a intervenção “Quebra-Tudo”, aos sábados, próximo ao Parque Ecológico (também conhecido como “Mata”), às 13h30. A apresentação, de 15 minutos, veio de um estudo para a coreografia que eles apresentaram em uma mostra de dança no ano passado, que teve sua primeira etapa na Arena Dicró e segunda, no Teatro Nelson Rodrigues. O estudo englobava movimento negro, favela e a própria Maré. “Quebra-Tudo” é um funk criado pelas Estrelas, com parte cantada, falada, dançada e brincada, que envolve também a questão da violência armada do Estado. “Muitos me perguntam o que eu quero, e eu falo que só quero paz. Aliás, os moradores da Maré querem, nós queremos”, desabafa Fernanda Souza, de 11 anos, integrante do Estrelas da Maré.

Tereza de Benguela e Carlos Marighella 

A trilha da coreografia apresentada em 2018 foi da canção “Trovoada”, do grupo musical “El Efecto”, que esteve pessoalmente nas duas apresentações da mostra. O destaque dos pequenos foi tamanho, que a banda convidou alguns deles para protagonizar o videoclipe de “Carlos e Tereza”. A canção fala de Tereza de Benguela, um símbolo feminino da luta quilombola, do século 18; e Carlos Marighella, grande nome da luta contra a ditadura militar do Brasil. 

O clipe retrata a importância da cultura, da disseminação e memória da história negra, das lutas populares e da ocupação dos espaços pelas crianças. O vídeo foi selecionado para exibição na Mostra Play The Movie, em Pernambuco, em outubro deste ano.

Acompanhe o Estrelas da Maré no Facebook e no YouTube.Siga o grupo “El Efecto” no Facebook e no Instagram.

Casa Preta recebe o youtuber AD Júnior

0

Influenciador digital foi o convidado da 5ª edição do Café Preto, realizado pela Casa Preta; na pauta do encontro, foram abordados racismo institucional e estrutural, entre outros temas

Thaynara Santos

No mês da Consciência Negra, a 5° edição do Café Preto trouxe o youtuber AD Júnior para discutir “Racismo institucional e Branquitude”, no Centro de Artes da Maré (CAM). O encontro reuniu moradores e tecedores da ONG Redes da Maré. “O branco vai escolher o que ele acredita ser o mais belo para entretê-lo enquanto nos matam”, disse o youtuber na ocasião.

Durante duas horas AD Júnior falou sobre racismo institucional, branquitude, colorismo, eugenia e desigualdade social. AD Júnior tem um canal no Youtube e uma página no Facebook. O mineiro é fundador da empresa SuperWeb Inc. e dono do portal ListaGay.Lgbt e de uma plataforma de educação voltada para Estudos da Cultura Africana e Afro-Brasileira. Atualmente, Ad Júnior vive na cidade de Hamburgo na Alemanha.

Identidade e negritude na Maré

O Café Preto reúne convidados, moradores e tecedores para um café e uma roda de conversa para a discussão de assuntos variados. As outras edições do encontro, que é itinerante, pautaram temas como o impacto do neoliberalismo no comércio de drogas na Nova Holanda, masculinidade, ancestralidade e religiosidade.Funcionando desde agosto deste ano, a Casa Preta é um projeto da ONG Redes da Maré e tem como meta combater todas as formas de racismo – principalmente o institucional e o estrutural – promovendo cursos, oficinas e formações para moradores da Maré e tecedores da ONG Redes da Maré. O projeto é integrado por tecedores negros que atuam direta ou indiretamente com a questão racial em diversos eixos da instituição.

Ser jovem, negro e sobreviver ao gatilho fácil da polícia do Rio de Janeiro

0

Quatro jovens contam a rotina em uma favela carioca, onde a violência policial mata um em cada quatro e alarma até a ONU. “Conhecemos mais gente que morreu pela violência do que quem entrou na universidade”, diz Arthur, de 22 anos

Em 06/11/2019 – Por: NAIARA GALARRAGA GORTÁZAR para o EL PAÍS

O Brasil viveu este domingo atento a seus adolescentes. Cinco milhões fizeram a prova do Enem com os olhos voltados para o ingresso na universidade. Era, sem dúvida, um dia muito importante para todos eles, mas, como quase sempre neste país tão desigual, para alguns era vital. Para os que vivem nas favelas, preparar-se para o exame –nem falemos em tirar boa nota– significa ter acesso a oportunidades que outros já dão como certas. É comprar ingressos para um futuro menos sombrio. “Todo negro de favela sentiu o impacto da violência. Quando você chega a uma certa idade, já conhece mais gente que morreu pela violência do que gente que entrou na universidade”, explica Arthur, de 22 anos.

Jovens como ele –homens, negros, adolescentes ou na faixa dos 20 anos, pobres– são frequentemente o típico alvo da crescente violência da polícia brasileira, a mais letal do mundo, depois da venezuelana. Os policiais foram responsáveis por 11 de cada 100 mortes violentas em 2018. As vítimas de confrontos com as forças de segurança aumentam velozmente. Duplicaram entre 2015 e 2018, quando totalizaram 6.220 pessoas.

Pessoas com o perfil de Arthur, trabalhadores da ONG Redes da Maré, sabem que são alvos por sua cor, seu gênero, e por morar na favela da Maré. Tanto ele como seus colegas que vão à sede desta organização, fundada pelos primeiros estudantes universitários da periferia, para contar suas experiências à visitante. Tanto faz que James, 24 anos, bibliotecário, tenha entrado na universidade aos 17 anos para estudar ciência da computação ou que Fagner, 28 anos, seja um artista plástico que dá aulas de cinema. As letras maiúsculas da camiseta de Felipe, de 21 anos, ilustram o que uma parte do Brasil denomina de genocídio dos negros: “Jovem, negro, VIVO”.

Embora em qualquer canto do Rio de Janeiro se possa comprar maconha ou cocaína, a guerra às drogas é travada nos morros, em favelas como essa. Grupos criminosos dividem o negócio e o controle dos bairros. Em uma terça-feira quente de outubro, vê-se um sujeito com um fuzil sentado em um bar, um jovem vestido apenas com chinelos e um calção de banho, portando uma arma, vende coca por 45 reais por grama, e chama a atenção a tornozeleira eletrônica em outro jovem de short que se refresca em uma ducha na rua.

altíssima letalidade da polícia brasileira vem de antes de Jair Bolsonaro se tornar presidente com um discurso belicista que proclama que a maneira mais eficaz de combater o crime é com a violência. Essa retórica calou fundo em uma população amedrontada pelo crime. A novidade é que está no topo do poder. De vez em quando, um episódio choca o Brasil. Um músico alvejado com 80 tiros por militares, um estudante atingido por um helicóptero da polícia, seis jovens com tiros na nuca, a menina Ágatha, de oito anos, morta por uma bala…

Enquanto as mortes pelas mãos de agentes do Estado aumentam, os assassinatos em geral diminuem. Ambos os fenômenos não têm ligação, alertam os especialistas. “Nos Estados com mais letalidade policial, a taxa de criminalidade acaba sendo mais alta”, enfatiza Daniel Cerqueiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O impacto da violência é enorme. Ele traduz isso em perdas econômicas: “O Brasil, com 2% da população mundial, possui 14% dos homicídios. Isso significa desperdiçar 6% do PIB.”

A insegurança é, ao lado da economia, a grande preocupação de qualquer brasileiro. Por isso, o presidente Bolsonaro não perde a oportunidade de ressaltar que no primeiro semestre de seu mandato os homicídios caíram 22%. Mas o acadêmico é categórico: “O Governo federal não tem absolutamente nada a ver com isso, vem de antes, é um processo. O Governo vai contribuir, de todo modo, para reverter isso com sua política enlouquecida de liberalização de armas e endurecimento das penas, com um sistema prisional como o nosso, que é um caos total”. São prisões, explica ele, que fizeram aflorar 79 organizações criminosas e são o canteiro perfeito para novos recrutas.

“O Rio de Janeiro é o paradigma do que funciona mal na polícia do Brasil, não reflete o país em geral”, afirma David Marques, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma ONG criada por acadêmicos, juízes e policiais que desde que coleta e sistematiza os dados colocou a segurança pública na agenda nacional. Em outros Estados, “a retórica é de prevenção e respeito pelos direitos humanos”. O Espírito Santo é agora o aluno que está na frente.

O Estado do Rio de Janeiro, por sua vez, é o epicentro da letalidade policial, com uma em cada quatro mortes nas mãos de agentes em 2018. Em 2019, até agosto, o número foi recorde: 1.249 mortes, um aumento de 16% em relação ao ano anterior. Na zona metropolitana do Rio, a cifra de mortes por policiais chega a 50% do total de homicídios, com o agravante de que nem todos os casos entram na estatística como deveriam, já que isso depende em parte do reporte dos próprios agentes. É um fenômeno que alarma até a ONU e que surgiu antes mesmo de o ex-juiz e ex-fuzileiro naval, Wilson Witzel, assumir o cargo de governador. Witzel pronunciou uma dessas frases difíceis de esquecer: “O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha … e fogo! Para não ter erro”. Na ocasião da comoção pela morte trágica de Ágatha, Witzel reafirmou o seu compromisso em matar criminosos armados e atribuiu o caso ao crime organizado. “O crime organizado não é maior que o Estado. E nós não vamos permitir que eles continuem zombando das nossas caras, serão combatidos, serão caçados nas comunidades”, afirmou o governador, no dia seguinte.

Artur, o jovem de 22 anos, destaca um dos conhecidos que viu morrer. Seu primo Mateus, três anos mais novo. “Tinha 14 anos quando foi executado” sob custódia policial, conta. Havia sido detido, acusado de roubar alguns colares, e levado para a delegacia. A favela da Maré, onde vive e se formou como ativista a vereadora assassinada Marielle Franco, é um desses bairros de frequentes tiroteios e operações policiais. Lugares onde a polícia entra com força total em busca de traficantes de drogas. Pouco importa que moradores morram no fogo cruzado ou o terror que causa às crianças em idade escolar e aos demais moradores. Enquanto dura a operação policial, todos ficam enclausurados.

Complexo do Alemão, também no norte do Rio, é ainda mais violento. Tão longe e tão perto das praias de cartão postal. Algumas ruelas estão tão marcadas de balas que lembram o Oriente Médio. “Aqui vemos as mesmas armas da Síria, com a diferença de que não entram tanques”, afirma Julio César Camilo, 44 anos, presidente de uma associação de bairro. “Não temos o direito de ir e vir. Prometeram para nós que haveria projetos sociais, além da polícia, mas só colocaram o braço armado do Estado … a qualquer momento há um tiroteio”, explica ele ao lado do esqueleto de um enorme teleférico construído quando da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Um dia, as autoridades o fecharam sem explicação. Até hoje. É quarta-feira. A área está tensa, mas ele revela que “desde a fatalidade da menina Ágatha (morta em setembro) está mais tranquilo”.

Julio César posando em um beco repleto de balazos.
Julio César posando em um beco repleto de balazos.ALAM LIMA

Quando irrompe um tiroteio, Roberta, 39 anos, se tranca no banheiro com seus sete filhos. O lugar menos inseguro de sua casa. As balas na sala atestam que às vezes a violência se instala dentro. E narra episódios de abuso policial. “Roubam até o que está na geladeira”, diz.

A Redes da Maré lançou mão da engenhosidade –e a técnica jurídica– para reivindicar nos tribunais seu direito à segurança pública. Apresentou “artifício jurídico para que na periferia seja aplicada uma lei que se aplica no resto da cidade“. Uma juíza ordenou aplicar o que já está na lei: as operações policiais não podem ser de noite, nem no horário da entrada ou saída das escolas, todo carro-patrulha ou blindado tem que portar GPS e tem que haver uma ambulância e um chefe de polícia que responda pelos agentes. As incursões caíram de 41 para 16 em um ano. Isso foi antes de Bolsonaro e o governador Witzel serem eleitos.

Gabriela, de 16 anos e filha de Roberta, no salão de sua casa no bairro de Complexo do Alemão.
Gabriela, de 16 anos e filha de Roberta, no salão de sua casa no bairro de Complexo do Alemão.ALAM LIMA

Quando os quatro jovens saem da favela para o resto da cidade se sentem “exóticos”, diz James. “Exatamente, essa é a palavra”, explica Fagner. “Olham para você o tempo todo”, conta o artista. “A polícia me tirou várias vezes do ônibus ou me revistou. Já me abordaram quando eu chegava do trabalho, perguntando o que faço. Ou minha casa foi invadida enquanto eu dormia e me perguntaram o que fazia em minha casa às oito da manhã.”

O mais doloroso para esses homens é que quando crianças eles também viram os traficantes como heróis, cresceram com vizinhos que hoje seguem seus passos em direção ao dinheiro fácil, com a única diferença de que em algum ponto do caminho algo aconteceu. Quer tenha sido o percurso para a prova do Enem ou qualquer outra coisa, seus caminhos se separaram.

Redes da Maré lança campanha Pela Vida na Maré

0

Ação conta com parceria de artistas e mães que perderam seus filhos; no próximo sábado, 9, será realizado um ato ecumênico como parte do projeto

Thaynara Santos

“Assim que eu perdi meu filho, me calei. Outro dia estava pensando e me perguntei como havia chegado até aqui neste espaço (Casa das Mulheres). Acho que é Deus mesmo, porque eu não conhecia nada. Tem muita gente na comunidade que não conhece este espaço. E isso [o espaço] é muito importante, precisamos dar valor a isso aqui, porque muitas mães têm necessidade, é uma dor muito grande. Depois que eu aprendi a vir para esses espaços, eu jamais quero me afastar, porque eu entendo a importância desse espaço, de vir e falar com vocês sobre mim, sobre a minha dor, sobre o meu filho, porque o meu filho eu não conseguir trazer de volta, mas justiça por ele eu sempre vou pedir, porque através dele eu posso salvar muitos outros jovens que estão precisando de mim aí fora”, o depoimento é de Dona Ana, moradora da Praia de Ramos e uma das mães presentes na Campanha pela Vida na Maré, que aconteceu no sábado passado (2). Mulheres, mães e jovens moradoras da Maré participaram de uma manhã de atividades na Casa das Mulheres e na Biblioteca Popular Lima Barreto, com oficina de autocuidado, correio afetivo, contação de histórias e roda de conversa.

Direito à memória

Além disso, a placa do Memorial Maré foi inaugurada na Praça da Paz (rua Ivanildo Alves, s/n). No próximo sábado, dia 9 de novembro, às 10h, será realizado um ato ecumênico – celebração religiosa realizada com a participação de representantes de diversas religiões. O espaço será ornamentado com vasos de bromélias com os nomes das vítimas pela violência armada na Maré. O Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da ONG Redes da Maré, idealizador do Memorial, acredita que a preservação da memória destas pessoas é um direito. O projeto conta com a de alguns artistas e mães que perderam seus filhos para a violência armada. O objetivo é manter vida a identidade e trajetória destas pessoas. 

Liliane Santos, assistente social do Eixo de Segurança Pública, explica a importância do direito à memória. “O dia de sábado foi um marco porque foi nossa primeira experiência e foi fundamental para resgatar outro olhar sobre as pessoas que morreram no território. Foi muito importante termos esse encontro de afetos e trocas. Quando a gente fala sobre as mortes na Maré, parece que a Maré é um lugar de muita violência e de muitas violações de direitos, o que de fato é, mas é muito mais que isso. Quando a gente dá visibilidade para essas memórias e humaniza essas memórias trazemos uma nova perspectiva sobre essas pessoas. E nada melhor do que reunir as mães que têm essa memória afetiva desde o processo da infância”, diz.