Home Blog Page 433

O teatro resiste

0

Nascido na Grécia antiga, o teatro é uma das mais importantes manifestações artísticas

Maré de Notícias #105 – outubro de 2019

Flávia Veloso

De culto religioso a entretenimento, o teatro nasceu na Grécia Antiga, seis século antes de Cristo, como forma de adoração a Dionísio, deus do vinho, das festas e da fertilidade na mitologia grega. No Brasil, a arte chegou também como ferramenta usada na religião: trazida no início da colonização portuguesa por padres jesuítas, eles a usavam como meio de catequização de índios. O teatro evoluiu para o entretenimento, ganhando as veias de drama e comédia, e cresceu a ponto de marcar a História com nomes muito conhecidos, que vão de Casimiro de Abreu e Castro Alves a Nelson Rodrigues e Ariano Suassuna.

O diálogo político e crítico da arte teatral com o público havia alcançado tamanha proporção a ponto de incomodar quem detinha poder. Era época de Ditadura Militar, e o teatro sofreu, assim como as outras manifestações artísticas, as duras investidas da censura. Peças como “Roda Viva”, de Chico Buarque, tiveram sua exibição proibida; nomes do teatro como o fundador do “Teatro do Oprimido”, Augusto Boal, e o próprio Chico foram para o exílio.

O teatro se expande

Esta arte, hoje já muito mais plural do que já foi em qualquer momento da História, não abrange somente camadas ricas da sociedade. A favela tomou conta da cena teatral com excelência, e já deu a luz a várias companhias, que são referências dentro e fora de seus respectivos territórios, como “Teatro da Laje” (Vila Cruzeiro), “Nós do Morro” (Vidigal) e Os Arteiros (Cidade de Deus). A experiência na Maré não poderia ser diferente. Grupos de sucesso e muita garra nasceram do conjunto de 16 favelas.

Atualmente em fase de apresentações, o Grupo Atiro (uma extensão da Cia Marginal) e Entre Lugares, dois grandes nomes do teatro na Maré, estão exibindo os espetáculos “Corpo Minado” e “Nem Todo Filho Vinga”, respectivamente. Com temáticas alinhadíssimas a questões sociais e políticas, as peças convidam o público a refletir sobre favela, negritude, a figura da mulher, juventude, segurança pública, cultura e muito mais. 

Reciclando elementos do clássico “Eles Não Usam Black-tie”, uma peça escrita em 1958 e adaptada para o cinema em 1981, a Cia Marginal criou “Eles Não Usam Tênis Naique”. O texto, escrito em 1958 pelo italiano naturalizado brasileiro Gianfrancesco Guarnieri, se tornou atual na época da Ditadura Militar, por conta de seu caráter político, e serve de inspiração até os dias de hoje.  Estes são aspectos do teatro: a veia de luta e um espaço de democracia, e isto se faz ainda mais importante quando o contexto é favela. “O teatro tem o poder de mover estruturas, fazer refletir. Quando usamos essa ferramenta de uma forma responsável, muitas estruturas podem se mover”, comenta a Cia Marginal. 

A Companhia explica que o palco pode ser um espaço de denúncia das diárias violações de direitos que a favela sofre por conta do Estado, e é extremamente potente usar essa ferramenta de luta, para que o favelado expresse a rasa experiência de democracia a que é submetido.

É difícil não deixar esse sonho morrer. Com 14 anos de estrada, a Cia Marginal capta recursos para as atividades por meio de editais públicos, o que, segundo a companhia, estão escassos no atual cenário político brasileiro. Mas, passando por cima dos problemas, a Marginal lança em novembro deste ano um novo, na Maré, um novo espetáculo. O teatro resiste.

OLHO: “O teatro tem o poder de mover estruturas, fazer refletir. Quando usamos essa ferramenta de uma forma responsável, muitas estruturas podem se mover”, Cia Marginal

Fóruns se reúnem para falar sobre dependência química

0

Lideranças comunitárias e de saúde participam de reunião na Redes da Maré para discutir o tema

Hélio Euclides

O Fórum das Associações de Moradores e o Fórum de Drogas da Maré se encontraram na Redes da Maré, na Vila dos Pinheiros, para falar do tratamento dirigido ao dependente químico. Profissionais da saúde ligados aos Centros de Atenção Psicossocial trocaram experiências com presidentes de associações de moradores sobre o tema.

Psicólogas mencionaram a importância da execução de atividades junto aos pacientes, como trabalhos manuais. “Muito bom ver o material produzido pelos assistidos, de ter locais para criar formas de conseguir renda. Não podemos fazer tudo, pois a saúde passa por dificuldades, percebe-se isso nas equipes da saúde da família. Para ajudar mais esses dependentes, o ideal era um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) por região”, conta Nara Gos, psicóloga do CAPS II Carlos Augusto da Silva (Magal), em Manguinhos.

Nara pediu aos presidentes que encaminhem os que procuram a associação para os locais de tratamento. Mencionou que o CAPS realiza atendimento sempre à tarde na Clínica da Família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros, nas terças-feiras; no Centro Municipal de Saúde da Vila do João, nas quartas-feiras, e na Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, nas segundas-feiras. “Foi bom reconhecer o trabalho, para as associações de moradores se agregarem a esse caminho do tratamento que começa na clínica da família”, afirma Vanda Canuto, redutora de danos do CAPSad III Miriam Makeba.

Cláudia Santana, presidente da Associação de Moradores do Parque Ecológico, achou valioso o encontro. “Tinha muita coisa que não sabíamos, para orientarmos os moradores, em especial na área de psicologia e sobre o CAPS. Também sobre especialistas que não encontramos nas clinicas da família, que podem ajudar quem precisa, na grande maioria que sofrem com a dependência do álcool”, comenta.

Ao final, foi mostrado o trabalho realizado no Espaço Normal, um ponto de referência sobre drogas na Maré, com tratamento em local aberto. “A proposta é mediar o atendimento com outros equipamentos e o Fórum das Associações de Moradores. O objetivo é fortalecer os dois campos, para que todos possam conhecer qual o tratamento que é feito com a população de rua. Mobilizar instituições para um atendimento integrado nas cenas da Avenida Brasil e da Rua Flávia Farnese. Hoje foi falado para onde se pode encaminhar alguém, quando surge a demanda; procura de diálogo, fomentar redes de trabalho e para isso propiciar mais encontros como este”, destaca Luna Arouca, coordenadora do Espaço Normal.

Como é formado os Fóruns?

Os fóruns são assembleias ou reuniões que têm o objetivo de discutir um tema em comum. O Fórum das Associações de Moradores é composto por 16 instituições que representam o Conjunto de Favela da Maré.

O Fórum de Drogas da Maré é formado pelas seguintes instituições: Associação de Moradores do Parque Maré, Núcleo Interdisciplinar de Ações para Cidadania (Niac/UFRJ), Centro de Estudos sobre Segurança e Cidadania (CESeC), CAPSad III Miriam Makeba, Coordenadorias de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH/CASDH), 4ª Coordenadoria de Desenvolvimento Social (SMASDH/4ª CDS), Consultório na Rua Manguinhos, Centro de Referência Especializado de Assistência Social Nelson Carneiro (CREAS), Central de Recepção de Adultos e Famílias Tom Jobim (CRAF), Hotel Solidário Profeta Gentileza, Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), Conselho Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis/RJ (CNDDH), Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Defensoria Pública da União, Escola Estadual Professor Joao Borges, Escola Municipal Bahia, Programa Crack, Álcool e outras drogas, Fiocruz, Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD), Defensoria Pública do Estado do RJ (NUPEM E NUDEDH) e Cineminha na Cena: Bhega Silva – Cineminha no Beco.

Não é exceção!

0

Por Lidiane Malanquini e Shirley Rosendo*

A morte da pequena Ágatha não é e nem será uma exceção. Há décadas, convivemos e assistimos casos de crianças serem apresentados como exceção ou casos isolados. Porém, a morte de Ágatha é a mais cruel realidade que vem se tornando regra nas favelas do Rio de Janeiro, sobre o falso discurso de que para combater a violência no Estado faz-se necessário o uso abusivo da força e o desmonte de garantia de direitos constitucionais. Pois a regra aqui, imposta há anos, é de uma política de segurança que olha para a favela e para os seus moradores como inimigos a serem combatidos. Afinal, em qual lugar do mundo agentes públicos entrariam em um local de grande circulação de pessoas atirando em plena sexta-feira à noite?

Na última semana, o Alemão acordou sob o som de tiros que vinham de um helicóptero antes das 6h da manhã e, nesse mesmo dia, seis pessoas foram assassinadas em uma operação policial. Horas mais tarde, o helicóptero atirou na direção de um complexo escolar na Maré em pleno horário escolar – em um lugar que reunia cerca de 1500 crianças. No dia anterior, um pré-vestibular comunitário no Jacarezinho foi invadido e todo quebrado durante uma operação policial. Enquanto isso, uma parte da sociedade assistiu a toda essa brutalidade de forma apática, embalada sobre o discurso de que operações policiais fazem parte do cotidiano desses locais.

Acreditar que a morte da menina Ágatha é um fato isolado, que não está relacionado a esta política de segurança, beira a perversidade. Novamente, aqueles que autorizam as mortes da população negra e moradora da favela vão à televisão tentar individualizar, buscar culpados para um problema que eles mesmos criaram. As polícias brasileiras, historicamente, foram ensinadas a cumprir ordens, foram utilizadas como ferramenta de uma política partidária que vê a pauta da segurança como uma máquina de votos. Longe de reconhecer e valorizar a vida ou de compreender as forças policiais como parte de uma política pública que garanta direitos, os governantes vêm direcionando as práticas policiais de acordo com suas plataformas eleitoreiras. Os discursos construídos na corrida eleitoral vêm se implementando cotidianamente nas favelas. Enquanto o governador afirma, em rede nacional, “mira na cabecinha e atira”, policiais chegam às favelas gritando “A ordem é matar!”.  Mataram e seguem matando: entre janeiro e agosto, dados oficiais apontam 1.249 mortes provocadas por policiais no estado do Rio de Janeiro.

A morte da pequena Ágatha e das mais de 1.249 pessoas no Rio de Janeiro é resultado de uma política de governo que prega a morte e o extermínio. Uma política de segurança que aumenta a letalidade provocada por policiais, NUNCA poderia ser considerada uma política de sucesso. É esta mesma política que vê nas mudanças de leis, como o “Pacote Anti-Crime” proposto pelo Ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, um meio de institucionalizar suas práticas. A tão falada “excludente de ilicitude” que prevê a isenção de pena a policiais, que dentro do exercício de suas funções cometa crimes, nada mais é que a garantia legal de impunidade a estas práticas violentas que acontecem cotidianamente nas favelas e periferias do Brasil. Sob o argumento subjetivo de “forte emoção, escusável medo ou surpresa” na atuação dos policiais, busca-se legitimar ações de abuso de autoridade e uso excessivo da força, como no caso da menina Ágatha ou de policiais atirando contra as escolas da Maré.

Será que, enquanto sociedade, seguiremos apáticos frente a mais uma institucionalização da barbárie?

Lidiane Malanquini é assistente social, pesquisadora de segurança pública, política de drogas, favelas e periferias, mestre e doutoranda em Serviço Social pela UFRJ e coordenadora do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré.

Shyrlei Rosendo é moradora da Maré, mestre em Educação e Política Pública, pesquisadora de juventudes, favela e educação e coordenadora de Mobilização do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré.

Morre nona criança atingida por bala perdida só este ano

0

Ágatha Félix foi baleada nas costas dentro de um veículo coletivo quando voltava para casa; testemunhas afirmam que o disparo foi feito por um policial

Thaynara Santos

Crianças negras e faveladas. Esse parece ser o novo perfil visado pelo Governador do Rio Wilson Witzel e sua política de segurança pública. Só este ano, nove crianças foram baleadas por conta da violência no Rio de Janeiro. Três morreram. Todas as vítimas viviam em zonas periféricas do estado. A ONG Redes da Maré produziu uma nota sobre o ocorrido.

Ágatha Félix, de oito anos, estudante de balé e estudiosa entrou para a estatística na noite de sexta-feira passada (20), na Fazendinha, comunidade localizada no Complexo do Alemão, quando voltava para casa com sua mãe. A criança foi baleada pelas costas dentro de um veículo de transporte coletivo.

Sonhos interrompidos

“Vai chegar amanhã e morreu uma criança num confronto. Que confronto? A mãe dele passou lá e viu que não tinha confronto. Com quem? Porque não tinha ninguém, não tinha ninguém. Atirou [a Polícia] por atirar na Kombi lá. Atirou na Kombi e matou a minha neta. Foi isso. Isso é confronto? A minha neta estava armada por acaso pra poder levar um tiro? Não foi o filho dele, nem a filha dele não, foi a filha de um trabalhador. Ela fala inglês, tem aula de balé, tem aula de tudo, era estudiosa. Ela não vivia na rua não. Agora vem o policial aí e atira em qualquer um que está na rua. Acertou minha neta. Perdi minha neta. Não era para perder ela, nem ninguém”, afirmou Airton Félix, avô da criança.

A menina foi encaminhada para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu. Seu enterro aconteceu neste domingo (22), às 16h, no cemitério de Inhaúma. Familiares, moradores, coletivos do Alemão e veículos da imprensa se reuniram pelo direito à memória e vida de Ágatha Félix, num ato que começou às 13h, na Estrada do Itararé, que seguiu até o local onde a menina foi velada.

Segundo o site de notícias G1, policiais militares envolvidos no caso da menina Ágatha devem prestar depoimento hoje (23), na Delegacia de Homicídios (DH), na Barra da Tijuca. Também será feito teste balístico com o projétil encontrado no corpo da criança, para saber a origem da arma.

Hoje, 23, às 17h, será realizado o evento “Por Ágatha: Parem de nos matar”, em frente à Alerj, no centro do Rio.

Versão da Polícia Militar

Pelo Twitter, a Polícia Militar informou que “A difícil realidade vivida pela população das comunidades e enfrentada por nossos policiais, diariamente, nos faz profundamente solidários a dor e o sofrimento sentidos pela morte da pequena Ágatha. Ela foi ferida ontem quando criminosos atacaram covardemente policiais da UPP”.

A assessoria do governo também utilizou as redes sociais para divulgar uma nota: “O Governo do Estado lamenta profundamente a morte da menina Agatha, assim como a de todas as vítimas inocentes, durante ações policiais. A PMERJ abriu um procedimento para apurar a ação dos policiais no Complexo do Alemão. Na noite de sexta, criminosos realizaram ataques simultâneos em diversas localidades do Complexo do Alemão. Policiais da UPP Fazendinha revidaram à agressão e, após confronto, foram informados por moradores que a menina tinha sido atingida e levada para o Hospital Getúlio Vargas”.

Do mal será queimada a semente

0

Mais uma vez, a população do Rio de Janeiro está em choque e lamenta a morte de mais uma das muitas crianças e adolescentes que tiveram suas vidas interrompidas em decorrência de uma ação da polícia militar. A vítima da vez foi a menina Ágatha Félix, de apenas 8 anos de idade, moradora da Fazendinha, uma das favelas que integra o Morro do Alemão. Ela foi atingida por um disparo de arma de fogo que, de acordo com testemunhas, fora efetuado por agentes da segurança pública.

Precisamos entender que essa morte é uma consequência direta da política de segurança adotada  pela  atual  gestão do governo do Estado do Rio de Janeiro. Uma política que condena quem mora nas favelas e periferias a conviver com o medo de ser alvejado por tiros de fuzil a qualquer momento. Quando isso acontece – só este ano foram 16 crianças baleadas –, o governador tem se  limitado a dizer que  lamenta o ocorrido, reafirmando que  continuará a atuar  de forma a enfrentar a criminalidade usando de mais  violência, num descaso claro às populações que residem nas favelas e  ao modo como essas pessoas são atingidas . 

Encontramo-nos numa situação que foge à racionalidade, que nos endurece.Estamos vivendo, cotidianamente, situações   que  nos deixam sem chão. A indignação  cresce, e não sabemos como será mais canalizada. Como agir diante do fato de que a violência como pressuposto e ação foi escolhida como método do governo do Estado para enfrentar a criminalidade, o  que permite que em determinadas regiões da cidade a polícia tenha permissão para matar? O que a população que não mora nas favelas no Rio de Janeiro sabe sobre a vida nesses espaços? Será que entendem que as favelas são regiões da cidade cujos direitos  o Estado, historicamente, deixou de reconhecer, deixando seus moradores e moradoras  à deriva e sem a garantia do mesmo tratamento  que é  dado a  outras partes da cidade?

Ora, quantas crianças mais deverão morrer para que essa política de segurança seja revista? Os moradores e moradoras das favelas e das periferias estão cansados de enterrar seus entes queridos. Como a família de Ágatha, muitas outras famílias estão destroçadas e não sabem como fazer para voltar a viver nesta cidade que as condena diariamente ao sofrimento e à dor.

Somente  na semana que passou – entre 16 e 20 de setembro –,  foram cinco pessoas assassinadas no mesmo conjunto de favelas, o Alemão, onde Ágatha Félix tomou um tiro e veio a morrer. Essas mortes não conseguiram a mesma visibilidade, como a morte da menina Ágatha, e isso diz muito sobre como a sociedade carioca,  de algum modo, sustenta com passividade, anuência, a forma tirana da gestão que temos no governo do Estado, além de ainda a legitimar. E isso é muito grave e assustador.

É preciso que todos nós condenemos com veemência a morte de mais uma de nossas crianças! Não podemos aceitar a afirmação do Estado de que as mortes que se acumulam sejam apenas um “efeito colateral” da suposta guerra contra o crime. Isso é um desrespeito com as famílias e com a população do Rio de Janeiro e do Brasil.

Não podemos aceitar e não podemos nos calar diante de mais uma tragédia provocada pela irresponsabilidade das autoridades do Estado. É preciso parar de matar nossas crianças e adolescentes! É preciso garantir o futuro e o direito à vida de nossas próximas gerações!

É urgente que a sociedade se mobilize em defesa da vida e que isso signifique a condenação da atual política de segurança do Estado. Uma política equivocada, violenta e que não trará a paz que a sociedade carioca quer e necessita.

A Redes da Maré se solidariza com a família de Ágatha e com todas as famílias que perderam seus entes queridos. Colocamo-nos a favor da vida e da garantia dos direitos dos moradores e moradoras das favelas e das periferias.

Quantas outras meninas Ágathas precisarão morrer para reconhecermos a bábarie em que mergulhamos – agora ainda mais fundo. “Dorme, minha pequena/ não vale a pena despertar”. Seguimos aqui, por você, pelos que estão conosco, pelos que hão de vir.

“O sol há de brilhar mais uma vez

A luz há de chegar aos corações

Do mal será queimada a semente

O amor será eterno novamente”

Sim.

Tecedoras e tecedores da Redes da Maré

Em um hora de operação, caveirão voador causou terror na Maré

0

Desde segunda feira (16/9)  favelas próximas a Maré sofrem com operações policiais que deixaram mais de  9 pessoas mortas

Thaynara Santos

Na manhã de hoje (18), relatos vindos do Complexo do Alemão falavam do terror causado pelos tiros vindos de helicópteros blindados da Polícia Civil, conhecido como caveirão voador. Poucos minutos depois, por volta das 10h, moradores da Salsa & Merengue e Vila dos Pinheiros vivia o mesmo  terror. Os relatos de moradores enviados para  a equipe do eixo de segurança pública e acesso à justiça da Redes da Maré, falam de  intensa troca de tiros, voos rasantes do helicóptero e dois caveirões terrestres circulando pela região. Além disso, policiais civis se concentraram na Ponte do Saber (Linha Vermelha) dando disparos contra a Maré numa região conhecida como Obrinha ou Fim do mundo que concentra inúmeras residências, uma vila de pescadores e o Campus Maré II, que reúne sete escolas – onde o menino Marcos Vinícius foi alvejado e morto em junho do ano passado.
Dezenas de pacientes e profissionais de saúde tiveram que se refugiar dos confrontos nas proximidades da Clínica da Família Adib Jatene, que teve seu funcionamento interrompidos Professores do Campus Maré II, também relataram que tiveram que interromper suas atividades em meio ao tiroteio.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a Clínica da família Adib Janete e o Centro Municipal de Saúde da Vila do João suspenderam o funcionamento das  unidades. Moradores relataram que escolas por todo território da Maré tiveram seu funcionamento afetado por conta da ação policial. A assessoria de comunicação da Polícia Civil informou que a ação ocorreu com a Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) em apoio à Subsecretaria de Inteligência (SSINTE) da Polícia Civil, por conta de denuncias contra um suspeito que conseguiu fugir. Foram apreendidas armas, drogas e um homem foi detido.
Mais uma vez, as operações policiais na Maré não consideram os direitos básicos de crianças e adolescentes da região. Na última sexta-feira, 06 de setembro, durante uma operação policial crianças e adolescentes que voltavam da Bienal do Livro tiveram que se refugiar dos tiros para retornarem para suas casas. Segundo o Boletim Direito à Segurança Pública da Maré, só nó primeiro semestre de 2019, as escolas da Maré tiveram 10 dias de atividades suspensas por conta de ações policiais no território.