Home Blog Page 54

Portela leva mães de vítimas da violência da Maré para a Sapucaí

0

Escola de Samba Portela homenageia mães que perderam seus filhos pela violência 

Por Andrezza Paulo

É Carnaval e deveria ser uma época festiva, mas na última quinta-feira (8) mais uma mãe da Maré perdeu seu filho de forma violenta. A morte de Jefferson estampou os jornais escancarando a falha e letal política de Segurança Pública do Estado nos territórios de favela. Além disso, centenas de crianças também foram vítimas dessa violência ao serem colocadas em risco durante a operação policial que ocorreu em horário escolar. 

Às 11:45h da manhã foi emitido um comunicado pelas escolas de que os responsáveis deveriam buscar seus filhos, mesmo quando ainda se ouvia disparos. As ruas desertas e as crianças com o medo refletido em seus rostos. A violência armada ceifa vidas faveladas e gera traumas que jamais serão esquecidos e são as mães que ficam, que sofrem e que lutam para que este cenário um dia se modifique. 

Lembrando aqueles que partiram e ecoando a voz de quem fica

E são essas mulheres que serão homenageadas na Sapucaí pela Portela. A escola de Samba levará para a maior apresentação cultural do país, 16 mães de vítimas de violência incluindo as mareenses Bruna Silva que perdeu seu filho Marcus Vinícius, em 2018, quando ele tinha apenas 14 anos; Vânia Silva, mãe de Marvin; Dejanecy Ribeiro, mãe de Paulo e Hortência Alves, mãe de Gelson. 

Com enredo “Um defeito de cor” que fala sobre a trajetória de Luiza Mahin, seu filho Luiz Gama e os atravessamentos ligados à vida e luta da população negra, a escola de samba propõe, de forma simbólica em seu 5° carro, um encontro dessas mães com seus filhos. São dezesseis mulheres que não tiveram direito ao luto e buscam por justiça para os seus e para tantos outros jovens da favela. O desfile será televisionado pela TV Globo e a escola de Samba entra na Sapucaí na segunda-feira (12) às 23h.

Infelizmente, as mortes de Marcus Vinícius e de Jefferson não foram eventos isolados. Em 2023, o 7° Boletim de Segurança Pública registrou um aumento de 145% nas mortes em operações policiais referentes ao ano anterior, sendo 97% homens de até 29 anos.  No entanto, apesar da dor imensurável, é importante reconhecer a força e a resiliência dessas mães e que elas tenham suas vozes amplificadas e ecoadas pela Portela e em muitas outras esferas para que se faça justiça e uma política de segurança pública mais humana.

Saiba como curtir o carnaval em segurança

0

Como se garantir e evitar perrengues? A melhor fantasia do carnaval é se cobrir de alegria e colecionar bons momentos

Carnaval, alegria e diversão. A folia já está acontecendo desde janeiro, blocos espalhados por todos os bairros, muita gente reunida. Para a diversão ser maior, o ideal é se sentir seguro. Por isso reunimos algumas dicas dadas por internautas de como se manter seguro e curtir o carnaval!

Primeiro nada de celular na mão. No meio do bloco é melhor não marcar bobeira, o lugar do celular é na doleira, uma espécie de bolsa de pano que se coloca por dentro da roupa colada ao corpo. Outra dica também é apostar nas pochetes para guardar pertences, além da peça compor a fantasia, é mais seguro que deixar nos bolsos.

Evite usar cartão de crédito, e se for a única alternativa, cole um adesivo para identificar. Assim você vai perceber caso tentem trocar seu cartão em alguma compra. Mas também não use PIX, a meta é voltar com o celular para casa, então guarde o aparelho e use dinheiro em espécie, de preferência já trocado. 

Saiba onde curtir o carnaval na Maré!

Algumas capas de celular tem cordões que dão mais apoio caso tentem puxar o aparelho; eles também são fáceis de encontrar e evitam até quedas. 

Outras dicas de segurança no carnaval incluem soluções caso seja necessário usar o celular para pagar. Prefira pagar por aproximação, abaixe o limite do cartão no aplicativo, para que não seja possível passar um valor maior nas maquininhas. Remova aplicativos de bancos do celular para que no caso do aparelho ser roubado, não tenham acesso às contas. 

Sobre o consumo de bebidas alcoólicas ou sem álcool, não compre prontas como caipirinhas e sucos, a menos que seja feito na hora. Abra sempre a sua própria lata para evitar golpes como o  “boa noite cinderela”. As dicas são da jornalista e foliã de carteirinha, Clara Novais em suas redes sociais.

Aliando estas dicas de segurança no carnaval com as de redução de danos, você garante a alegria. Afinal a melhor fantasia do carnaval é poder colecionar bons momentos!

Iniciativa da Maré dá dicas de redução de danos na folia de carnaval

0

Sem ‘caô’ no ‘alalaô’ com as dicas de como curtir com moderação, não apenas na folia

“Não viva como se fosse o último carnaval. Bora viver para que hajam próximos carnavais!” Reforça a Movimentos nas redes sociais, uma organização feita por jovens favelados que defende a política de redução de danos, com sede aqui na Maré.

No carnaval, a folia é intensa, bloco atrás de bloco e no meio do ”alalaô, mais que calor, desce gelo!”. E o que fazer para não sofrer com a ressaca no dia seguinte e não ter que frear a folia?  É comum ouvirmos que se deve beber água, comer doce, e também que não se deve beber de barriga vazia. Tudo isso faz parte da política de redução de danos. 

Um conjunto de estratégias que tentam minimizar os impactos  do consumo de drogas. Alguns efeitos do exagero que são percebidos durante o consumo ou  depois que passa a “onda”. Além da bebida alcoólica outras drogas, lícitas e ilícitas devem entrar nessa conversa. Fechar os olhos não reduz o consumo. 

Primeiro vamos lembrar que qualquer droga como álcool e cigarro são produtos destinados para adultos. Vender ou oferecer bebidas alcoólicas e outros produtos que possam causar dependência física ou psíquica para menores de 18 anos é crime de acordo com o artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que prevê pena de dois a quatro anos e multa.

O movimento certo na folia

Se liga nas dicas para ter pique e foliar com responsabilidade! 

Se hidrate! Beba bastante água, sucos e  alimente-se bem! Até porque você vai precisar de energia para seguir o trio elétrico ou dançar nos blocos de carnaval que duram em média cinco horas. 

Também evite beber rápido demais. Não faça uso de álcool ou outras substâncias sozinha(o), é sempre bom ter aquele amigo que vai segurar a onda. Se for dirigir nem pense em beber! Se beber deixe o carro em casa e vá de transporte público, carro de aplicativo ou deixe a chave com o amigo!  

Evite misturar bebidas ou outras substâncias, o carnaval dura cinco dias então lembre-se de descansar. 

Carnaval é paz e amor, então use camisinha, se previna! Preservativos evitam não apenas gravidez, mas principalmente infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), sendo o método de proteção mais eficaz de acordo com o Ministério da Saúde. E estão disponíveis nos postos de saúde de forma gratuita tanto na versão feminina quanto masculina. 

A Movimentos publicou nas redes sociais um manual de sobrevivência do carnaval, sobre os riscos de combinar substâncias. “Isso não é algo que a gente tem que fazer só no carnaval mas na vida toda, quando se tem cuidado com a alimentação e práticas de exercícios físicos tende a ter uma experiência mais saudável”, explica André Galdino, coordenador de incidência da organização. 

Aliando as dicas de redução de danos com as de segurança, a folia fica ainda mais divertida e com mais boas histórias de carnaval para contar! 

Carnaval consciente: dicas para uma diversão responsável

0

Redução de danos, fantasias com materiais recicláveis e respeito a grupos étnicos, religiosos e comunidade LGBTQIAPN+ estão entre as principais dicas

Tanto para os foliões, quanto para os trabalhadores que ampliam sua renda na época, o Carnaval é o evento mais esperado do ano. Pensando nos foliões que gostam de se fantasiar, cair nos bloquinhos de Carnaval da Maré ou da cidade sem pensar no amanhã a equipe do Maré de Notícias veio te lembrar que: ele existe. 

Por isso, reunimos dicas do que você deveria ou não deveria fazer durante os dias de folia. Para não se prejudicar, não prejudicar o outro e nem o meio ambiente. 

Se tu pensa que cachaça é água…

… cachaça não é água não! Por isso que alertamos sobre a importância da redução de danos durante o Carnaval. Se liga em como não vacilar no Carnaval:

  • Autoconhecimento: tente observar e entender até onde seu corpo está realmente legal para consumir qualquer substância. E se está se sentindo meio “bad”, é melhor evitar, pois isso pode aumentar e te colocar em risco.
  • Evite o consumo excessivo de álcool e outras drogas, que podem levar a comportamentos arriscados e acidentes, além de aumentar os riscos para a saúde. 
  • Caso faça o uso de qualquer substância, não compartilhe com desconhecidos. E se possível, esteja com pessoas que confie. 
  • Se hidrate! Procure se alimentar antes de ir curtir os dias de folia porque já diziam os mais antigos: saco vazio não pára em pé. 

Xô ISTs!

  • Não se envolva em atividades sexuais desprotegidas, pois isso aumenta o risco de contrair Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). E isso vale para o uso de preservativos “tradicionais”, mas também para as dedeiras, os preservativos de dedo. 

Neurótico não, atento sim! 

  • Nada de ignorar limites pessoais pelo bem do rolê né pessoal? Respeite os próprios limites e evite se envolver em atividades que possam representar riscos para sua saúde e segurança. 
  • Sempre leve em consideração o ambiente, as pessoas com quem está e fique atento aos seus pertences. Uma boa dica também é sempre compartilhar sua localização para alguém que não vai com você. Pai, mãe ou amigo. Assim, caso fique sem comunicação por algum motivo, as pessoas saberão onde procurar por você. 

Carnaval e meio ambiente 

Devemos considerar o impacto ambiental dos materiais utilizados nas nossas fantasias de Carnaval. Muitas delas são cheias de glitters (microplásticos) que poluem os mares, materiais sintéticos, não recicláveis e com uma durabilidade grande de decomposição na natureza. 

  • Para os glitters: já é possível encontrar os biodegradáveis. 
  • Para as fantasias: opte por reutilizar ou reciclar materiais existentes para criar suas roupas. Isso pode incluir peças antigas, acessórios ou itens encontrados em brechós. Transforme materiais recicláveis, como papelão, jornais ou garrafas plásticas, em componentes da sua fantasia. Evite o uso excessivo de plásticos descartáveis em sua fantasia. Se precisar de acessórios plásticos, certifique-se de que podem ser reciclados após o uso.
  • Tintas e corantes sustentáveis:

Se for necessário pintar ou colorir a fantasia, opte por tintas à base de água e corantes naturais, em vez de produtos químicos tóxicos.

Fantasias sim, estereótipos não

Podemos curtir o Carnaval nos respeitando, e respeitando o próximo. Por isso, é essencial  ter em mente a importância de não reforçar estereótipos que são ofensivos ou perpetuar preconceitos de raça, religião, gênero e sexualidade que são mais afetados nesta época. 

  • Blackface ou brownface

Não pinte o rosto para representar uma pessoa negra, não use uma peruca que imita o cabelo crespo como fantasia. Isso é altamente ofensivo e racista. No entanto, precisamos compreender o racismo, sobretudo, como um sistema de poder e opressão. Apesar de ser tema para um outro texto, é importante reforçar e por isso quando falamos sobre esse tópico estamos falando diretamente das fantasias que ferem as pessoas negras.

  • Caricaturas de pessoas com deficiências

Não use fantasias que façam piadas ou caricaturas de pessoas com deficiências. Isso é ofensivo, capacitista e reforça estereótipos sobre essas pessoas.

  • Fantasias de orientação sexual, grupos étnicos ou religiosos

Não use fantasias que reforcem estereótipos negativos em relação à orientação sexual de alguém. Recado principalmente aos homens héteros quando decidem se vestir de travestis, gays e “brincam” de se apaixonar por outros homens héteros durante a folia. Performar as DragQueens está mais que liberado, afinal a comunidade LGBTQIAPN+ dá seu nome nessa época, uma coisa não tem nada a ver com a outra. 

Não use fantasias que representam grupos étnicos de maneira estereotipada. No Carnaval, os foliões costumam mirar na “fantasia de índio” e acertar no preconceito e ignorância. Indígenas são diversos, com pluralidade de culturas, línguas e tradições. Reduzi-los a um cocar de penas sintéticas, dois riscos em cada lado do rosto e ainda referenciá-los como “índios” demonstra desconhecimento aos povos originários e desrespeito às suas diversidades.

Evite usar símbolos religiosos de maneira desrespeitosa ou fora de contexto, pois isso pode ser ofensivo para fiéis das determinadas religiões.

Bora curtir a folia sem ofender ninguém? É possível, respeitoso e também é divertido.

O que a educação na Maré perde com as operações policiais?  

Operações policiais causam paralisações no processo de educação na Maré

Adriana Pavlova e Hélio Euclides

Imagina a situação: “Mamãe já acordei. Hoje estou ansioso, pois a professora vai ensinar uma nova matéria.” O barulho do helicóptero e tiros alertam que não vai ter aula. Infelizmente essa cena não é “numa cidade muito longe daqui”, parafraseando o título da música de composição de Acyr Marques, Arlindo Cruz e Franco. Esse descumprimento do direito de ir e vir  faz parte da rotina na vida de alunos das favelas da cidade do Rio de Janeiro. Essa é uma reflexão necessária neste início de ano, para o respeito ao direito à educação em 2024.  

 Na Maré não é diferente, segundo a 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, produzido pela Redes da Maré e publicado em março de 2023, em 2022 ocorreram 27 operações policiais e oito confrontos entre grupos armados, resultando em 15 dias de atividades suspensas nas escolas e uma média de 60 horas de aulas perdidas. No ano passado os alunos da Maré perderam 28 dias de aulas. Esse ano com a proximidade do ano letivo as operações deram início, com paralisação já na primeira semana de aula, no última quarta-feira (07/02). No dia seguinte, ontem (08/02), se repetiu a interrupção das aulas, desta vez com os alunos dentro das escolas, se protegendo até debaixo de mesas. Ao buscar seus filhos, o que se via eram mães e filhos correndo pelas ruas da Maré, com crianças usando fantasias. Uma professora que preferiu não se identificar mencionou que jogaram água nos bailinhos das crianças da Maré.

Com a perda das aulas na Maré, ficam as dúvidas e inseguranças sobre o processo de aprendizagem dos estudantes da Maré. “Essas interrupções prejudicam muito, pois não há reposição das matérias. Acredito que o resultado negativo vai ser possível ver no futuro, pois eles não estarão preparados”, comenta Ellen Cris, que tem uma filha matriculada na Escola Municipal (EM) Primário Osmar Paiva Camelo. “As operações prejudicam muito, deixando o aluno com a ausência da escola. A criança fica sem o aprendizado necessário. Só não é pior, pois temos professores dedicados. Acredito que os professores também são prejudicados, pois precisam se adequar a situação. Pelo esforço deles em ensinar, com essas dificuldades, mereciam uma remuneração melhor”, sugere Daniel Ribeiro, que tem o filho estudando na EM Nova Holanda.

Com tiros, as escolas acionam o protocolo de segurança, fechando ass instalações e o retorno emergencial às aulas remotas. “Mesmo que a escola ficasse aberta não levaria meus filhos, pois é perigoso a circulação em dia de operação. Acredito que essas pausas nas aulas na Maré prejudicam no cronograma dos professores, pois a escola interrompe um ciclo, o que causa uma desordem no ensinamento. A consequência final é que o tempo fica apertado para passar toda a matéria, sendo necessário uma correria”, diz Ana Cláudia, que tem filhos matriculados no Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Professor Moacyr de Góes e na EM Primário Lino Martins da Silva.

Perdem alunos, pais e profissionais

Uma operação vai além do que é revelado pela assessoria de imprensa das polícias e repassado em telejornais. Uma escola fechada modifica a vida não apenas dos alunos, mas de toda a família. Carla Maria, de 47 anos, moradora da Nova Holanda, tem três filhos estudando no território, nas escolas municipais Nova Holanda e Hélio Smidt e no Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) 326 Professor Cesar Pernetta. Ela também tem uma neta, que frequenta a EDI Professora Cleia Santos de Oliveira. “O ensino é bom, mas os dias sem aula desestimulam os alunos”, diz.

/Já leu essas?

“O que minha filha deveria ter é desejo de ir à escola, mas o seu sentimento é de medo. Ela já ficou dentro do colégio em plena operação, isso foi muito ruim. Nesse dia fui buscar em baixo de tiro. Cheguei lá minha filha estava chorando e a professora tentando acalentar. Qualquer helicóptero que sobrevoa a Maré, a minha filha já acha que é operação, isso é muito complicado”, conta. Ela afirma que a direção da escola avisa que as crianças estão protegidas, mas mesmo assim vai buscar, pois tem medo que ocorra confronto dentro das unidades e assim uma tragédia. 

Maria confessa que fica triste quando a escola se encontra fechada, por se sentir de mãos atadas em não poder ajudar os filhos na questão dos estudos. “Para que não fiquem atrasados em comparação com outros alunos, gasto um dinheiro que não tenho com explicadora. Acredito que mesmo que estudassem fora da Maré, em dias de operações não iam poder sair, pois todos nós ficamos presos em casa”, conclui. 

Apesar das determinações federais para que ass operações policiais não ocorram em horário escolar, muitas acontecem. Profissionais de educação chegam ao limite do desgaste emocional, quando precisam garantir que o aluno esteja protegido. Para uma professora, que preferiu não se identificar, que leciona no Centro de Educação de Jovens e Adultos da Maré, um dos grandes impactos é a não participação do estudante no dia em que há incursões policiais. “O que havia sido planejado para trabalharmos na aula daquele dia fica interrompido, devido à ausência do aluno ou da baixa frequência, quando o evento ocorre do outro lado da Maré. Pensar em um projeto de reposição é difícil. Imagina um planejamento de reposição pronto e no período uma nova operação?”, questiona. 

Para a docente o dia seguinte também é ruim com o aparecimento da apatia e do medo. “Parece que a operação nos suga toda a energia. Assim, na aula seguinte aos dias de operações, os estudantes estão sem ‘gás’. Precisamos focar no que possa animá-los, realizar atividades que mostrem o quanto eles e nós somos importantes, tentando desfocar o pesadelo vivido”, expõe. Ela completa que nos dois momentos, o impacto leva a deixar de ser trabalhados as competências e habilidades, diferente dos estudantes de outros territórios, que não passam pelas situações violentas.

Renan Ferreirinha, secretário municipal de educação, falou com o Maré de Notícias sobre o impasse na educação. “Infelizmente a violência afeta de forma perversa a educação. Queremos passar um recado que precisamos de um basta, que a escola é um local sagrado, um local que possa zelar pela cultura de paz, que consigamos realizar as nossas atividades diariamente. Que possamos nos reafirmar como cidade e sociedade”, conclui.

Uma morte na segunda operação policial consecutiva na primeira semana de aula da Maré

0

Terceira operação do ano, segunda em horário escolar. Em 2023 foram 28 dias sem aula na Maré, por conta das operações policiais 

Uma operação policial foi iniciada por volta das 9h30 da manhã desta quinta-feira (08) na região da Nova Holanda, na Maré. É o segundo dia consecutivo de operação policial na Maré nesta que é a primeira semana de aulas para os alunos da região. Desde cedo e no horário do início da ação muitas crianças ainda estavam a caminho das escolas, onde teriam festas e bailinhos de Carnaval. 

Jefferson Costa foi morto por um tiro à queima roupa na esquina da Rua Teixeira Ribeiro e Av Brasil. Os policiais que atiraram saíram do local na sequência do ocorrido. O corpo foi colocado dentro de um carro e levado. Um morador precisou ser socorrido com quadro de hipertensão.

Duas pessoas foram feridas. Marcos, de 25 anos, morador da Nova Holanda, foi fortemente agredido por agentes policiais do BOPE. E mais uma pessoa que não conseguimos a identificação oficial também foi agredida física e psicologicamente.

Um vídeo mostra outro homem sendo levado por moradores em um carrinho de mão. Em um grupo a informação é que ele passou mal por causa dos tiros. 
A operação conta com caveirões e agentes da polícia civil e Batalhão de Operações Especiais (BOPE). Logo no início da ação intensas trocas de tiros foram registradas em alguns pontos da Nova Holanda e Parque União.

Pais preocupados

Nos grupos de Whatsapp, pais e mães preocupados por terem deixado seus filhos: “Ai meu Deus trabalho longe e meu filho na escola” relata uma mãe. “Amor, não vou conseguir pegar ele onze horas não hein, começou operação aqui” diz outro morador por áudio com som de tiros ao fundo. 

A Secretaria Municipal de Educação informou que as unidades escolares estão funcionando com protocolo de segurança ativado. Pelo segundo dia a Redes da Maré, escolas, comerciantes, os moradores das favelas afetadas e outras instituições têm suas rotinas interrompidas. 

Em 2023, os estudantes da Maré ficaram 28 dias sem aulas, por conta das 31 operações policiais realizadas no bairro. Supostamente a operação é resposta a um roubo de um caminhão que aconteceu nesta madrugada na Av. Brasil. Até o momento do fechamento deste texto as assessorias da Polícia Militar e Civil não haviam respondido aos nossos contatos. 

Impactos da operação desta quarta-feira 

Logo nas primeiras horas da manhã da quarta-feira (07), os moradores das favelas de Parque Maré, Nova Holanda, Rubens Vaz e Parque União também acordaram ao som de bombas e intensas trocas de tiros. Deu-se início a uma operação realizada pela Polícia Militar e Polícia Civil.

Durante as mais de 8 horas de operação, os impactos foram imensuráveis e de diversas ordens. Foram 24 escolas que deixaram de realizar suas atividades, 2 unidades de saúde com atividades suspensas ou reduzidas, deixando 224 pessoas sem acesso à consultas marcadas, 1 equipamento municipal de arte e cultura fechado, afetando 20 pessoas e 1 Centro de Cidadania LGBT, onde 5 pessoas não puderam ser atendidas. Organizações da Sociedade Civil também deixaram de executar suas ações, previamente planejadas. 

Os projetos e ações da Redes da Maré também sofreram impactos: 10 Eixos, setores e equipamentos tiveram atividades remanejadas ou suspensas com uma média de 469 moradores afetados diretamente. Um cortejo de Carnaval organizado para acontecer nesta quarta também precisou ser adiado. Quanto aos equipamentos públicos, ao menos 28 tiveram suas atividades suspensas ou reduzidas. A organização também publicou uma nota de repúdio sobre a operação.


O Maré de Notícias também foi obrigado a suspender a distribuição do jornal impresso que beneficiaria uma média de 6.750 moradores das favelas Parque União, Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Baixa do Sapateiro, Nova Maré e Morro do Timbau.