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Rio sede do G20, evento reúne economias mundiais

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A mudança climática está entre os assuntos debatidos pelo grupo dos vinte, pela primeira vez o Brasil preside o encontro

O Rio de Janeiro é a sede da 19ª Cúpula do G20 que reúne as 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia e a União Africana. O objetivo é discutir sobre iniciativas econômicas, políticas e sociais. Pela primeira vez o Brasil assume a presidência do G20, organizando mais de cem reuniões online e presenciais. A 19ª Cúpula do G20 acontece em novembro. 

O G20 é composto por 19 países – Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Estados Unidos e Reino Unido – e dois organismos regionais – a União Europeia e a União Africana (a última incluída em 2023). Juntas, elas representam cerca de 85% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e mais de 75% do comércio no mundo.

O Brasil preside o G20 durante 2024 até 30 de novembro com duas “forças-tarefas”: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global contra a Mudança do Clima. Em seu discurso de encerramento da 18ª Cúpula de Chefes de Governo de Estado, que aconteceu em setembro do ano passado, o presidente Lula disse: “Se quisermos fazer a diferença, temos que colocar a redução das desigualdades no centro da agenda internacional”. 

Questões ambientais e econômicas em foco

Durante o encontro que acontece ao longo do ano, as reuniões se dividiram em Sherpas e Finanças, a primeira debate os temas associados ao desenvolvimento cidadão como trabalho, saúde, meio ambiente e educação. Já a segunda diz respeito à economia global, debate original do G20. 

As questões ambientais e mudanças climáticas são pontos de atenção no Rio de Janeiro, principalmente após as fortes chuvas ocorridas entre os dias 13 e 15 de janeiro, que vitimou ao menos 12 pessoas. Além das questões climáticas, outro assunto apontado é o racismo ambiental. 

Para Shirley Rosendo, cria da Maré, doutoranda em educação pela Unirio e analista de incidência política da Redes da Maré, o Rio de Janeiro sediar a cúpula do G20, é uma oportunidade da cidade mostrar seu potencial cultural e fortalecer a economia, e também, momento de expor os problemas enfrentados. “Quando falamos em favelas a pergunta que temos que fazer é: Os problemas são estruturais ou se tornam estruturantes porque não têm os investimentos necessários? […] os investimentos impactantes foram em 2010, e de lá pra cá o que temos são paliativos.”

Maurício Dutra, também cria da Maré e coordenador do Eixo Direitos Urbanos e Socioambientais da Redes da Maré, enfatiza a importância das favelas participarem de debates no G20 destacando o resultado das pesquisas “Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas do Conjunto de Favelas da Maré”, e “Respira Maré”. “Os resultados de ambas as pesquisas evidenciam que os impactos das crises climáticas estão mais próximos do que imaginamos. Portanto, é imperativo que esse tema seja urgentemente debatido e incluído em todas as instâncias da sociedade civil. O objetivo é levar essas preocupações para o G20, destacando o interesse das favelas em participar ativamente desse diálogo crucial.” pontua.

O G20 em outras cidades brasileiras

Além do Rio de Janeiro, outras 14 cidades também vão sediar reuniões do G20 ao longo do ano. São elas: Belém – PA, Belo Horizonte – MG, Brasília – DF, Cuiabá – MT, Fortaleza – CE, Foz do Iguaçu – PR, Maceió – AL, Manaus – AM, Porto Alegre – RS, Recife – PE, Salvador – BA, São Luís – MA, São Paulo – SP e Teresina – PI. As reuniões da cúpula começaram no último dia 17 deste mês, para alinhamento do país aos temas centrais da agenda. O calendário completo de reuniões do G20 já foi divulgado e pode ser acessado no site oficial: https://www.g20.org/pt-br.

Durante este período que precede o carnaval, as reuniões são online. O primeiro encontro aqui no Rio de Janeiro será a reunião de chanceleres que acontecerá nos dias 21 e 22 de fevereiro.

Trans masculinos e travestis devem ser incluídas em políticas públicas

1º Dossiê de violências LGBTI+ em Favelas traz dados para orientar políticas públicas

“Nada se encerra por aqui” declara Gilmara Cunha, fundadora do Conexão G, no evento de lançamento do 1º Dossiê do Observatório de Violências LGBTI+ em Favelas. O evento aconteceu na tarde da última quinta-feira (25) no Observatório de Favelas. A apresentação dos dados evidenciou a importância das políticas públicas e a atenção para as singularidades desses corpos. De acordo com os dados, as travestis e os homens trans são mais impactados pela violência.

O dossiê é resultado de dois anos de pesquisa realizado pelo Conexão G, em parceria com o DataLabe. As entrevistas foram feitas por pessoas LGBTQIAPN+ que também participaram da etapa de testes dos formulários. Ao todo foram entrevistadas 1705 pessoas de favelas distintas, sendo a maioria aqui da Maré e do Morro do Adeus, no CPX do Alemão. 

O acesso de homens trans a serviços de saúde foi um ponto de destaque no dossiê. Yuri Cantizano, homem trans foi o responsável pela apresentação dos dados relacionados ao tema. Ele aponta que dos entrevistados, 37,46% dizem que raramente vão ao médico. Entre os motivos, a principal queixa: falta de hormonização trans masculina. Segundo a pesquisa, os homens trans criam suas próprias redes de apoio por onde trocam informações sobre o acesso ao atendimento. ”A gente é invisibilizado dentro da comunidade e das pautas. Para o sistema a gente não existe”, conclui Cantizano. 

Racismo nas abordagens policiais

Em relação à segurança pública, 57,58% das pessoas entrevistadas disseram que já foram abordadas pela polícia antes dos 18 anos, e 48% já sofreram violência em abordagens policiais. 

Pessoas negras são maioria nas abordagens não só em operações policiais. 52,85% dizem já terem sido abordadas enquanto entre pessoas brancas foram 30,86%. Para mostrar mais que a raça é uma influência nas escolhas para a abordagem, a pesquisa mostra ainda que quando se fala em violência nas abordagens os casos ainda são maioria com pessoas negras. 36,76% já sofreram algum tipo de violência contra 17,94% de pessoas brancas que também responderam a mesma pergunta.

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Leilane Reis, representante do Instituto Raça e Igualdade, ressaltou a importância dos dados e o papel fundamental dos relatórios: “Esses relatórios são fundamentais porque a gente pega eles e ajuda na construção de políticas públicas” pontua. 

Outros dados: 

A pesquisa foi dividida em eixos temáticos. Educação, empregabilidade e moradia também são apontados nos dados. Tamires Ribeiro, coordenadora do projeto Observatório de Violências LGBTI+ mostra preocupação com dois números: 7,98% das pessoas marcaram que moram em casas feitas por maioria de lona/plástico e 31,40% das pessoas negras que responderam  morar sozinhas, sendo dessas 13,26% mulheres trans e travestis. Para Tamires é como se elas estivessem dizendo “eu tenho que me virar”. 

O desemprego é maior entre as pessoas trans e travestis. 40,5% estão trabalhando informalmente, 23,5% estão desempregadas e somente 14,2% trabalham formalmente. O texto do relatório aponta que devido a dificuldade de inserção no mercado de trabalho elas acabam procurando outras alternativas mais precárias. 65% das mulheres trans e travestis participantes da pesquisa dizem que já trabalharam como profissionais do sexo e desse número 68% são mulheres negras. “Dado que reafirma racismo e transfobia como correspondentes na produção de violências.” aponta o documento.

Gilmara conta que “existe uma política antigênero e cada dia que passa dentro do congresso federal,  de trinta, 4 projetos são antitrans. Então é preciso que cada vez mais surjam dados como esses para que a gente pense numa política que de fato atinja nossa população” acrescenta. 

Profissionais LGBTQIAPN+ e suas carreiras na área da beleza

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Estima-se que o mercado da beleza absorve de 30 a 40% de profissionais LGBTQIAPN+

Maré de Notícias #156 – janeiro de 2024. Edição especial resultado do projeto Cores Marés, apoiado pelo Fundo Positivo.

Vitor Felix

A falta de oportunidade e o preconceito ainda são barreiras enfrentadas pela população LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho e muitos precisam empreender para conseguir romper barreiras. Na contramão, estima-se que o mercado da beleza absorve de 30 a 40% desses profissionais. Muitas vezes, é nos salões de beleza que essa população encontra cidadania e sustento por meio do trabalho.

Segundo o Censo de Empreendimentos Maré (2019) os negócios ligados à beleza e estética ocupam o segundo lugar entre os empreendimentos locais, 10,4%, perdendo apenas para o número de bares no território. Ainda que os números não reflitam a orientação sexual e a identidade de gênero dos empreendedores (o recorte é feito apenas de homens e mulheres), é possível encontrar no histórico da Maré profissionais LGBTQIAPN+ conhecidos pelos anos de trabalho nos salões de beleza.

Aprendizado

Tiago Dantas é alagoano, morador da Vila dos Pinheiros e conhecido nas redes sociais como Tiago Jujubinha (@tiagojujubinha). Aos 36 anos, ele realizou uma importante conquista profissional: abrir seu primeiro salão de beleza, que fica localizado na Avenida do Canal, nº 80, Vila dos Pinheiros.

O interesse pelo setor veio desde a adolescência, quando Tiago era bailarino: “com a dança, eu conheci o mundo da maquiagem e parece que uma coisa puxou a outra.”

Em 2009, ele teve sua primeira experiência de trabalho em um salão de beleza, ocupando cargos de recepcionista e auxiliar de limpeza. Um dia, tomou coragem para expor que queria comandar as cadeiras do estabelecimento: “Eu disse, ‘eu sei escovar, sei fazer sobrancelha’.” O empenho, a curiosidade e as práticas iniciais fizeram com que ele descobrisse o talento para a profissão.

“Eu comecei a trabalhar com cabelo em 2010 e passei um ano treinando. Era assim: eu fazia o cabelo da dona do salão, fazia o cabelo da filha dela, maquiava as duas, as vizinhas e sempre tentando aprender cada vez mais”, contou.

Jujubinha investiu em qualificação na área de beleza, chegando a dedicar mais de 14 horas por dia aos estudos e às práticas. O esforço valeu a pena e, hoje, seus mais de 12 mil seguidores acompanham dicas de maquiagem e os resultados dos cabelos que ele exibe orgulhoso em publicações no seu perfil.

Respeito

Na trajetória profissional, Tiago diz que o preconceito apareceu em diversos momentos, com falas homofóbicas e racistas, especialmente quando usava maquiagem. Diante dessas situações, ele conta que sempre exigiu respeito, mas que este foi um dos motivos que o levou a abrir seu próprio negócio. O profissional percebeu que era o momento de pôr em prática seus projetos, da maneira como ele mesmo acreditava.

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Em 13 anos de carreira como cabeleireiro e maquiador, Jujubinha diz que a clientela na Maré se tornou muito diversificada, apesar do público-alvo ser mulheres. Hoje, com toda a experiência que tem, ele já ministrou aulas em São Paulo e Minas Gerais. 

“A maquiagem me leva a lugares que eu nunca imaginei estar”.

Barba de mulher

No Parque União, a barbeira Rosa Maria (rosabarber_oficial), 26 anos, começou trabalhando como designer de sobrancelhas e logo descobriu as habilidades para trabalhar com o mundo da beleza.

“Eu cheguei a fazer um curso no nível iniciante, o que me deu uma base, mas a prática eu peguei com o tempo”, conta.

Já são seis anos na profissão de barbeira, trabalhando em diversas barbearias do território e hoje ela atende os clientes em sua casa, enquanto não consegue realizar o sonho de abrir o próprio salão. Segundo Rosa, o boca a boca e as redes sociais são os que mais ajudam na divulgação do seu trabalho.

“Na profissão que eu exerço não temos salário fixo, então a gente fica à disposição do público. Durante os fins de semana é quando eu trabalho mais. Eu vejo a Maré como um território onde posso trabalhar com tranquilidade.” Em seu perfil no Instagram (@rosabarber_oficial) os interessados podem assistir vídeos com os resultados dos cortes de cabelo e design de sobrancelhas feitos por Rosa.

A barbeira comenta que há muita competição na área e percebe que ainda existe pouca união entre os barbeiros.

“Gosto da minha profissão, é uma profissão linda. Quando eu comecei, percebia que as pessoas ainda estranhavam uma mulher barbeira. Mas hoje eu posso dizer para minha sobrinha, que ser barbeira quando crescer, que isso não é uma coisa só para homem.”

‘Uma travesti do meu porte’ diz Kastelanny, que supera transfobia com arte

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No YouTube ela realiza performances inspiradas em artistas, e no palco, seu corpo dança ao ritmo de uma vida repleta de reviravoltas

Gabriel Horsth

Kastelanny Silva é uma força mareense que não apenas resiste, mas diva em sua jornada pela vida, afirmando com confiança: “o mundo ainda vai conhecer meu nome”. Performer, ela leva diversidade por onde passa, mas, quem a vê exibir autoestima, pode não imaginar os desafios enfrentados desde cedo.

“Eu renasci aos 14 anos, quando decidi abraçar minha identidade”, conta a jovem sobre o processo de transição de gênero. Na escola, ela fazia do pátio seu palco, mostrando ao mundo sua autenticidade.

Escola despreparada

Mas foi na escola também que a artista enfrentou os primeiros olhares tortos e comentários maldosos. A transfobia, o preconceito, o racismo e o bullying (importunação, assédio, violência, agressão, perseguições verbais, emocionais, psicológicas, mentais ou físicas) estiveram presentes nas escolas de ensino fundamental e médio nas quais passou.

Felizmente, Kastelanny tinha o apoio incondicional da mãe, Ana Maria Silva. “Minha mãe me defendeu como uma guerreira e não deixou barato, ela não aceitou o desrespeito e foi pra cima”, relembra. 

Casos como o de Kastelanny não são raros. A pesquisa Vivências reais de crianças e adolescentes transgêneres dentro do sistema educacional brasileiro, realizada pela Coordenação Nacional da Área de Proteção e Acolhimento a Crianças, Adolescentes e Famílias LGBTI+, revelou que 77,5% de crianças transgêneres sofrem transfobia na escola.

O despreparo das escolas para lidar com a diversidade é um problema sério e antigo. Para enfrentar essa questão, a Aliança LGBTI+ e a rede de ativismo Gay Latino lançaram o Manual de Educação LGBTI+.

Segundo a publicação, “Este Manual destina-se ao uso por profissionais de educação no Ensino Fundamental – Anos Finais (6º ao 9º ano) e no Ensino Médio. Foi concebido para contribuir com a diminuição do estigma, bullying, preconceito, discriminação, violência e evasão escolar que estudantes LGBTI+ nessa faixa etária geralmente podem sofrer no meio educacional.”

Kastelanny e a mãe enfrentaram a situação de frente, expondo o que chamaram de “lixo de direção” e conseguiram o afastamento do antigo diretor da escola, acusado de discriminação.

Mesmo com determinação, os diversos casos de agressão afetaram sua permanência na escola e hoje ela ainda luta para concluir o ensino médio. Disposta a mudar este cenário, ela afirma: “eu devo isso a mim mesma”.

Arte que salva

Kastelanny conta que as conversas com travestis e transexuais mais velhas ajudam a abraçar sua verdadeira identidade, mas foi na arte que ela encontrou uma maneira de se expressar e superar barreiras ainda maiores. Expressando-se em seu canal no YouTube (@akastel), ela realiza performances inspiradas em artistas como Iza, Gloria Groove e Anitta, e demonstra habilidades para dirigir, dançar e editar seus próprios vídeos. No palco, seu corpo dança ao ritmo de uma vida repleta de reviravoltas.

Kastelanny, uma jovem cheia de desejos e que faz acontecer. Ela  revela seus planos para 2024, que inclui o seu lançamento como intérprete. Enquanto aguardamos ansiosamente os próximos passos dessa musa, nos resta acompanhá-la no Instagram (@kastelanyy) e torcer pela realização dos sonhos que ela mesma constrói.

Homens trans da Maré promovem inclusão de pessoas LGBTQIAPN+ no esporte

Rahzel Alec

O esporte é uma grande ferramenta de transformação dentro da favela e quem é cria sempre tem uma história para contar sobre amigos, primos e conhecidos que encontraram nas práticas esportivas uma nova possibilidade de futuro, a realização de sonhos e mobilidade social. 

Práticas como Queimado das LGBTQIA+, o Futzin dos crias, o rolezinho de bike pela favela e os projetos de artes marciais que estão por toda a Maré são essenciais para a qualidade de vida do favelado e rompem com a ideia de que viver em um complexo de favelas é apenas sobreviver a violência das incursões policiais. Para pessoas LGBTQIAPN+, as práticas esportivas ainda caminham ao lado do preconceito, mas por meio da luta pela liberdade de ser quem se é em todos os lugares, nascem também referências no enfrentamento a todo tipo de preconceito, dentro e fora do esporte.

Cria e medalhista

Marcelo Silva tem 28 anos, é professor de educação física, cria da Vila dos Pinheiros. Com 25 anos de dedicação ao esporte aquático, sua jornada como nadador teve início aos 3 anos, quando teve seu entusiasmo despertado ao conhecer a piscina do Colégio Pedro II. Desde então, Marcelo passou sua infância e adolescência nas águas, fazendo parte de espaços como o Clube Vasco da Gama, em São Cristóvão.

Antes de assumir sua identidade como homem trans, Marcelo competiu em inúmeros campeonatos de natação, sendo federado pela Federação Aquática do Rio de Janeiro (FARJ). Sua trajetória no esporte feminino foi marcada por um crescimento pessoal significativo, embora o temor da transfobia o assombrasse, o que o levou a ponderar sobre revelar sua verdadeira identidade.

“Eu tinha muito medo, porque sabia que se eu transicionasse não iria conseguir nadar, não conseguiria competir”, revela Marcelo.

Mar aberto

Diante das incertezas e do panorama do esporte que ainda é predominantemente constituído por homens cis e heterossexuais, Marcelo, inspirado por outros atletas transgêneros, decidiu encarar sua verdade. Sua última competição na categoria feminina ocorreu em março de 2020, antes do início da pandemia de Covid-19.

Após o período de isolamento social, Marcelo percebeu suas inquietações em relação à transfobia nas piscinas e buscou alternativas. Foi então que direcionou sua atenção para o nado em águas abertas, explorando as praias da Zona Sul. Essa mudança fez toda a diferença, proporcionando-lhe um ambiente mais acolhedor e permitindo-lhe sentir-se mais à vontade.

Abraçando a mudança

Durante sua pós-graduação em Educação Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo identificou o viés preconceituoso relacionado às questões de gênero dentro do curso. Essa percepção o motivou a pesquisar sobre a relação das instituições de ensino com o respeito à identidade de gênero, aplicação do nome social e inclusão de mulheres.

“Os educadores precisam de capacitação para abordar as pessoas trans. O banheiro ainda é uma dificuldade, mesmo sendo uma coisa muito simples, ainda é um tabu. Às vezes nem são os professores, mas é a própria coordenação da escola que não permite que troque o nome do aluno que não é retificado na chamada. Depende do professor querer chamar pelo nome social ou não.”

Hoje, como professor de natação em águas abertas, Marcelo ainda enfrenta desafios diários relacionados ao preconceito. No entanto, isso não o impede de construir uma carreira em que seja respeitado tanto dentro quanto fora da água.

“Estamos na Zona Norte, bem longe da praia. Muitas pessoas daqui da comunidade têm medo ou desconhecimento sobre nadar. Não é só pular onda e levar caixote. É muito interessante quando eu converso com os meus vizinhos, falo como é o mar, sobre correntes, sobre o vento, digo qual praia é melhor para curtir com as crianças, que não tem ondas grandes. É importante educar sobre o mar”, compartilha o nadador.

Novas conquistas

Em 2023, Marcelo celebrou uma grande conquista ao competir pela primeira vez na categoria masculina, garantindo o 4º lugar na competição. O compromisso de Marcelo em criar um ambiente mais inclusivo para pessoas trans no esporte continua inspirando outros indivíduos a perseguirem seus sonhos, independentemente das barreiras impostas pelo preconceito de gênero.

Futzin de respeito

Bernardo Barbosa tem 27 anos, nasceu na cidade de Fortaleza, no Ceará, e chegou na Maré junto da sua família aos 15 anos. Foi no CIEP Professor César Pernetta que o jovem se reaproximou do futebol, jogando com os colegas de turma. Bê, como é conhecido, conta que, quando ele era mais novo, seu pai, que fazia parte de um time de futebol em Fortaleza, o impedia de jogar com os meninos.

Ao chegar na Maré, o atleta diz que a favela o abraçou e que passou a enxergar o conjunto de favelas como uma cidade, com acesso a amigos, projetos e várias programações culturais. Ao se aproximar do Futzin dos crias, que acontecia nas quadras da escola, Bernardo compreendeu que o seu espaço também era ali e jogava “de cantinho”. Ainda assim, ele precisaria lidar com o machismo e outros preconceitos reproduzidos pelos colegas da sua idade.

Time inclusivo

Ao conhecer o Trans United FC, um time só para pessoas trans, o jovem, que é artista e barman, passou a se dedicar também ao futebol e se reconheceu com outros homens trans que também buscavam seu espaço no esporte. O Trans United FC foi criado em dezembro de 2021. Compromissado com a inclusão e o respeito de pessoas trans no futebol, os treinos acontecem aos domingos na Vila Olímpica do Engenhão. Com menos de 2 anos de criação, o time é bicampeão da Champions, organizada pela Ligay Nacional de Futebol, e foram campeões do Torneio de Futebol do Instituto dos Meninos Bons de Bola. 

“Hoje eu consigo lidar melhor com muitas questões machistas que ocorrem no dia a dia, tanto no trabalho quanto fora da Maré, até com familiares e em eventos. Eu me sinto mais confortável em falar sobre futebol, coisa que antigamente eu não conseguia. Antes de conhecer o Trans United, eu achava que era um espaço que eu nunca iria conseguir viver, nunca conseguiria fazer parte de um time de futebol ou até mesmo trocar ideia sobre esse assunto”, conta Bernardo.

Membro do time de futebol e cria da Maré, Bernardo passou a construir uma nova relação com a favela a partir da relação com os amigos que construiu por meio do futebol, passando a levar a galera para conhecer a Maré e a treinar na favela também, convidando outros homens trans, travestis e pessoas não binárias do território para conhecerem os jogos. Na luta contra o preconceito que vem também de alguns moradores, Bê conta que, junto do time, têm pensado as melhores estratégias para inclusão de crias trans no esporte.

Banheiros sem gênero: Desafios e avanços para pessoas trans em espaços comuns

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Podem as pessoas transexuais usarem o banheiro que se sentem confortáveis?

Gabriel Horsth

O episódio recente que expôs a violência transfóbica vivenciada por um casal residente na Maré, evidenciou uma triste realidade em um restaurante no Parque União, onde o preconceito foi servido gratuitamente. Esse acontecimento angustiante destaca a urgência de discutir o uso dos banheiros por pessoas trans. 

Afinal, surge a pergunta: podem as pessoas transexuais utilizarem o banheiro com o qual se identificam? A resposta é um claro sim! Mesmo com o julgamento aberto no Supremo Tribunal Federal, é crucial lembrar que artigos da Constituição Brasileira garantem o direito à igualdade de forma digna para todas as pessoas.

No entanto, é necessário abordar não apenas a violência enfrentada, mas também a importância de promover discussões e compreensão sobre o respeito aos direitos fundamentais das pessoas trans.

Existe uma parcela que acredita ser fundamental considerar a implementação de banheiros inclusivos. Elas avaliam que a adoção de banheiros sem designação de gênero não apenas cria um ambiente mais acolhedor para pessoas com diferentes identidades, mas também reflete uma prática que já existe em diversos contextos do nosso cotidiano.

Em casas, durante eventos ao ar livre, em festas particulares, e até mesmo em banheiros químicos, a sociedade já experimenta espaços onde não há uma separação rígida entre os gêneros. Alguns bares e restaurantes oferecem banheiros com fila única, lavatórios e espelhos em ambientes iluminados e públicos, proporcionando uma experiência de uso coletivo. 

Constragimento cisgênero

Alguns argumentam que a segregação por gênero é essencial para proteger mulheres de situações desconfortáveis. No entanto, o recurso apresentado no STF esclarece que o constrangimento que uma mulher poderia experimentar ao compartilhar o banheiro com outra mulher é bastante limitado, especialmente considerando que as situações mais íntimas ocorrem em cabines privadas de acesso exclusivo para uma pessoa.

Respeito em primeiro lugar

Ao entrar em espaços públicos, como shoppings, restaurantes e instituições, muitas pessoas mal percebem a simplicidade de utilizar os banheiros. No entanto, para pessoas trans, essa ação rotineira pode se transformar em um ato de coragem e enfrentamento, marcado por estigmas e desafios. 

Nesse sentido, é importante criar e incentivar ambientes mais acolhedores. Afinal, o acesso digno aos banheiros é um direito fundamental que reflete não apenas a inclusão, mas também a aceitação plena da diversidade em nossa sociedade. O Maré de Notícias já deu Dicas de bares que celebram a diversidade aqui na Maré, confira a matéria de Lucas Feitoza.

Formação urgente

Destacamos também a importância de abordar questões de gênero e orientação sexual de maneira sensível, respeitando a diversidade da clientela e reforçando a relevância de uma formação contínua para promover a igualdade em todos os espaços públicos. Confira nossa matéria Respeito gera lucro: a necessidade de capacitação LGBTQI na Maré.