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Seis grandes cientistas transgênero e suas conquistas na ciência

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Levantamento mostra que, dos mais de 1,2 milhão de estudantes das universidades federais do Brasil, 3.379 se declaravam transgênero em 2018.

Segundo a pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes), os 3.379 estudantes que se declararam transgênero representam apenas 0,2% das vagas nos institutos federais. Os dados refletem como o caminho até a universidade no Brasil e em todo o mundo pode ser difícil para as pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído pela biologia. Difícil, mas não impossível! Confira abaixo cientistas transgênero que, sim, ingressaram nas universidades e se destacaram (ou ainda se destacam) na ciência.

Alan L. Hart, médico

Alan L. Hart em 1943. Crédito: http://ajph.aphapublications.org/cgi/content-nw/full/92/1/36/F4 /Wikipedia. Licença coberta pelo uso justo

O norte-americano Alan L. Hart nasceu em 1890. Foi médico, radiologista e escritor, além de pioneiro no uso do raio-x para detecção da tuberculose, doença infecciosa e transmissível que afeta principalmente os pulmões.

Depois de acumular passagens por diversas universidades norte-americanas, como a Universidade de Stanford e a Universidade do Oregon, Alan L. Hart passou a trabalhar, no ano de 1937, em um órgão oficial do estado norte-americano de Idaho, voltado para o controle da tuberculose. Ele foi responsável pela criação de clínicas para a detecção precoce da doença. Também percorreu o interior do estado para realizar exames em massa, tratar pacientes e treinar outros profissionais. Seu trabalho foi fundamental para salvar muitas vidas.

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Hart foi um homem transexual, isto é, nasceu com órgãos reprodutores femininos, porém, se identificava com o gênero masculino. Ele foi pioneiro também na transição masculina de gênero nos Estados Unidos. A transição de gênero é um processo médico que adéqua o corpo de uma pessoa ao gênero ao qual ela se identifica. Pode envolver tratamentos hormonais, cirurgia, entre outros procedimentos. Alan faleceu em 1962, e é reconhecido hoje também como uma referência entre cientistas transgênero.

Ben Barres, biólogo especialista em neurobiologia

O norte-americano Ben Barres nasceu em 1954 e se formou em biologia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Fez doutorado em neurobiologia na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e pós-doutorado no University College London, no Reino Unido. A neurobiologia é um ramo da biologia que estuda o sistema nervoso e a função cerebral. Barres se dedicou a investigação das células do sistema nervoso. Participou da produção de centenas de artigos que foram publicados em revistas científicas importantes.

Ele foi professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e dirigiu o Departamento de Neurobiologia da Escola de Medicina da instituição. Seu laboratório fez descobertas importantes sobre os processos de desenvolvimento cerebral e de comunicação entre as células do sistema nervoso.

Ben foi o primeiro cientista abertamente transexual da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Ele faleceu em 2017, deixando um grande legado para a ciência e uma grande inspiração para outros cientistas transgênero.

Lynn Conway, cientista da computação

 Lynn Conway em 2006. Crédito: Charles Rogers /Wikipedia.

A norte-americana Lynn Conway nasceu em 1938. Ela é cientista da computação e engenheira eletricista formada pela Universidade de Columbia (EUA). Atuou na empresa americana multinacional de tecnologia IBM Research na década de 1960. Lá participou de projetos importantes, iniciando o desenvolvimento de sistemas que são a base dos microprocessadores e dos chips de memória atuais.

Lynn é uma mulher transexual, isto é, apresenta a biologia do sexo masculino, porém, se identifica com o gênero feminino. Ela foi demitida da IBM em 1968 quando revelou sua intenção de fazer a transição de gênero. Em 2020, a empresa pediu desculpas à cientista.

A pesquisadora atuou ainda no Xerox Palo Alto Research Center (PARC), inicialmente uma divisão de pesquisa que, posteriormente, tornou-se uma empresa independente. E também atuou na agência do Departamento de Defesa norte-americano (DARPA, em inglês). Foi professora da Universidade de Michigan. E, além de todas as contribuições científicas, Lynn é uma importante ativista, inspirando não somente cientistas transgênero, mas também outras pessoas LGBTQIAPN+.

Jaqueline Gomes de Jesus, psicóloga e pesquisadora

Jaqueline Gomes de Jesus. Crédito: Silmestre/Wikipedia

Jaqueline Gomes de Jesus nasceu em 1987 e é uma mulher transexual brasileira. Ela tem pós-doutorado pela Escola Superior de Ciências Sociais e História da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV), além de graduação em psicologia, mestrado e doutorado pela Universidade de Brasília (UnB). Também importante ativista, é pesquisadora, professora, autora de livros e presidenta da Associação Brasileira de Estudos da Transhomocultura (Abeth).

Jaqueline é professora de psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (DIHS/ENSP/Fiocruz). Também é professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PROFHISTÓRIA/UFRRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva (PPGBIOS/Fiocruz).

Foi a primeira gestora do sistema de cotas para negras e negros da UnB. Atuou em órgãos do governo brasileiro, incluindo Ministério do Planejamento, assessoria técnica da Presidência da República e Ministério da Justiça. Em 2017, recebeu a Medalha Chiquinha Gonzaga da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, por indicação da vereadora Marielle Franco (1979-2018). A premiação foi uma homenagem a sua contribuição no debate sobre relações raciais, gênero, sexualidades e direitos humanos, destacando-se entre grandes cientistas transgênero na academia do Brasil.

Luma Nogueira de Andrade, educadora e pesquisadora

Luma Nogueira de Andrade durante audiência pública da Comissão de Assuntos Sociais em comemoração ao Dia Internacional de Enfrentamento à Homofobia e Transfobia (2017). Crédito: Agência Senado/Flickr

A brasileira Luma Nogueira de Andrade cresceu em Morada Nova, no Ceará. Ela é doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Obteve o título de doutora em 2012, aos 35 anos de idade, tornando-se a primeira travesti a conseguir este feito no Brasil. Em entrevista ao Reciis (ICICT/Fiocruz), ela explicou que se identificar como travesti é uma autoafirmação e se refere a uma questão política e de reconhecimento histórico.

Luma foi professora de escolas estaduais e particulares. Tomou posse como professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) em 2013. Com isso, passou a ser também a primeira travesti a fazer parte do corpo docente efetivo de uma universidade pública federal do Brasil. Atualmente, é diretora do Instituto de Humanidades da UNILAB.

Em 2023, ela foi homenageada com a Medalha Iracema, a maior condecoração do Poder Executivo Municipal de Fortaleza (CE), que homenageia pessoas que contribuíram para o desenvolvimento da cidade.

Vivian Miranda, astrofísica

Vivian Miranda. Crédito: Arquivo pessoal

A carioca Vivian Miranda é uma mulher transexual que se graduou em física na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2008. Ela fez mestrado em física também na UFRJ e, em 2015, concluiu o doutorado em cosmologia na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Por lá, também fez dois pós-doutorados: um na Universidade da Pensilvânia e outro na Universidade do Arizona.

Vivian participou do desenvolvimento de um satélite na Nasa, agência espacial americana. E, ao longo de sua trajetória, recebeu alguns prêmios importantes por sua atuação científica, entre eles, o Nathan Sugarman Award, o Schramm Fellowship e o Leona Woods Lectureship Award.

Atualmente, é professora da Universidade de Stony Brook, nos Estados Unidos.

Essa matéria foi originalmente publicada pelo portal Invivo e está sendo reproduzida com permissão do veículo.

Projeto ‘Criando Laços Especiais’ faz ‘vakinha’ para construção de sede

Um lar para a inclusão: construção de sede de projeto prevê expansão de apoio a pessoas com deficiência em Marcílio Dias

Fundado pela artesã Ana Paula Germano, de 38 anos, o projeto Criando Laços Especiais é um grupo de famílias responsáveis por pessoas com deficiência, que sonha com a construção de sua própria sede para continuar apoiando as famílias.

O próximo objetivo, após alcançar a meta de arrecadação, é oferecer atendimentos multidisciplinares com fonoaudiólogos, psicólogos, psiquiatras, pedagogos e outros profissionais que possam ajudar na evolução da pessoa com deficiência.

“Temos a necessidade de encontrar terapia para nossos filhos. Hoje, a maioria deles não tem acesso a esses tratamentos. Pelo menos na comunidade em que moramos, não tem. Ao sair para procurar atendimento, nos deparamos com o problema do transporte público”, afirma Ana Paula, que precisou sair do trabalho assim que o diagnóstico de seu filho foi confirmado.

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Funcionando como uma rede de apoio, o grupo fica disponível 24 horas por dia para trocar informações, seja sobre onde encontrar um medicamento ou até mesmo para oferecer ajuda sobre como encontrar profissionais que possam realizar o diagnóstico da pessoa com deficiência, para que a família possa iniciar os cuidados necessários.

“Precisamos comprar um espaço para estabelecer parcerias de atendimento para eles. Isso é dignidade, porque é o que eles precisam, é o que a família merece. Um atendimento digno permite que eles se sintam incluídos, que possam evoluir dentro dessa inclusão, que possam ir ao médico e fazer uso de medicação benéfica, fazendo parte da evolução da pessoa com deficiência. Nossa luta é diária e constante”, afirma Ana Paula.

Saiba mais sobre o projeto

A força de vontade da artesã Ana Paula diante de um momento difícil foi o ponto de partida para a criação do projeto Criando Laços Especiais.

Em 2011, Ana Paula recebeu o diagnóstico de que seu filho, de 3 anos, tinha Transtorno do Espectro Autista, sendo um autista não oralizado. Apesar de viver “o luto do filho perfeito”, como afirmou a artesã, seu comportamento diante do diagnóstico e do tratamento contínuo que o pequeno Felipe Gabriel recebia no hospital chamou a atenção dos médicos. Os profissionais pediram que Paula passasse a encorajar outras mães que estavam enfrentando mais dificuldades em lidar com situações semelhantes.

“O neurologista começou a me enviar pacientes dele pelo Facebook e eu meio que fazia um atendimento encorajando essas famílias. Eu falava que era possível e que, mesmo a criança sendo diferente, era nosso filho e tínhamos que cuidar, amar e incluir na sociedade”, relembra.

O que era um gesto de empatia e solidariedade multiplicou-se em uma rede de apoio que já dura 12 anos, a partir da concretização do grupo Criando Laços Especiais. Atualmente, o projeto conta com cinco voluntários fixos e Felipe Gabriel, o maior incentivador de Ana Paula, já está com 15 anos, sendo fonte inesgotável de inspiração para o projeto.

Como ajudar? 

Durante todo o ano, o grupo de Marcílio Dias, na Maré, realiza campanhas de doação de fraldas geriátricas, leite e alimentos em geral. Para doar para a construção da sede, basta clicar aqui. Os interessados em doar para as campanhas do projeto podem entrar em contato pelo Instagram Criando Laços Especiais.

Copa do Mundo Feminina: a maior em 32 anos

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Com 32 seleções participantes e sediada em dois países, a copa do mundo feminina ganha notoriedade ao redor do mundo

Estamos vivenciando um marco histórico no mundo desportivo: a maior copa do mundo feminina de futebol de todos os tempos. Desde a sua primeira edição oficial realizada pela FIFA em 1991 na China, as participações aumentaram em 166%. A primeira Copa contou com 12 países, já em 2023 são 32 seleções disputando o título da competição sediada, pela primeira vez, por dois países: Nova Zelândia e Noruega.

A categoria, assim como outras lideradas por mulheres, vem lutando pela igualdade de salário, patrocínio e visibilidade. Os esforços sociais e políticos empregados para que as mulheres não atuassem no futebol geraram duras consequências. Em 1941, o então Presidente da República, Getúlio Vargas assinou um decreto que proibia a prática do futebol por mulheres, sendo revogado apenas em 1979.

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Apesar dos preconceitos e da falta de investimentos, a seleção feminina do Brasil participou de todas as edições. Em 1999, as meninas não tinham uniforme próprio, precisando jogar com uniformes restantes do time masculino e neste mesmo ano, conquistaram o terceiro lugar na competição. Já em 2007 a seleção feminina ficou em segundo lugar, perdendo para Alemanha. Embora tenham sido impedidas de jogar por 40 anos, grandes recordes e marcas do futebol feminino pertencem às brasileiras, sendo boa parte destes conquistados por Marta. Considerada Rainha do Futebol, Marta possui seis bolas de ouro (2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018) e duas medalhas de ouro em Pan-Americanos (2003 e 2007).

A transmissão da Copa também tem um feito inédito. Além de ser transmitida pela TV Globo e pela CazéTV no Youtube, a estreia da seleção brasileira na última segunda-feira (24), contra o Panamá, teve recorde de audiência nos dois canais. Segundo dados divulgados pela emissora de televisão, as meninas do futebol tiveram a maior audiência do horário (8h às 10h) desde agosto de 2008. No Youtube, o canal Cazé TV bateu o recorde mundial da plataforma e registrou 1 milhão de aparelhos conectados simultaneamente para assistir a estreia da seleção feminina.

E o público foi à loucura com a goleada das nossas meninas sobre as panamenhas por 4 gols a 0. Seguindo o caminho dos marcos históricos, Ary Borges, meio-campista da seleção brasileira, fez o primeiro hat-trick de um estreante em Copas, entre homens e mulheres. Para Karine Serra, coordenadora técnica do time de futebol feminino da Maré, o MariEllas, essa copa tem um significado maior: “Em nosso time tem muitas ex-atletas que não conseguiram permanecer no futebol por falta de investimentos e de salário. Elas tiveram que migrar para o mercado de trabalho formal e desistir desse sonho, então é muito lindo ver que as pessoas estão vivendo de futebol, do seu sonho e talento. Fico muito feliz pelo crescimento e pela repercussão que o futebol feminino vem tomando”, conta.

Próximos jogos:

Brasil X França – Dia 29 de julho às 7h (horário de Brasília)

Brasil X Jamaica – Dia 02 de agosto às 7h (horário de Brasília)

Acompanhe e torça pela seleção brasileira assistindo pela TV Globo, SporTV, GloboPlay e CazéTV no Youtube.

Parque União será reconhecido como Polo Gastronômico e Cultural 

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Projeto de lei pretende regulamentar polo gastronômico na praça do Parque União para fortalecer a economia local da Maré

Por Beatriz Amat e Hélio Euclides (*)

A criação do Polo Gastronômico e Cultural, que torna os bares, restaurantes, lanchonetes, quiosques, eventos culturais e congêneres da Praça do Parque União pode sair do papel, caso seja aprovada pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

O projeto de lei, proposto pelo vereador Marcio Ribeiro (Avante), busca fazer um diálogo entre os setores com o Poder Público, regulamentando o polo e fortalecendo o crescimento e economia da gastronomia e cultura da Maré. O projeto se baseia na Lei Geral dos Polos (nº 7498/2022), que regulamenta a criação de polos pela cidade do Rio de Janeiro.

Expectativa dos comerciantes

Os comerciantes locais estão esperançosos que, com a regulamentação da Prefeitura do Rio de Janeiro, os restaurantes possam ter mais visibilidade e a cena cultural e gastronômica da Maré aumente.

“Com o tempo, o orgulho do Parque União vai crescendo e hoje não vejo grandeza em sair daqui. Nosso diferencial de ter um estabelecimento na favela é dar oportunidade à população local. Acho uma boa a nomeação de polo gastronômico, pois com olhar da Prefeitura podemos expandir algo que temos potencial”, diz Ângela Chaves, moradora da Maré e proprietária do restaurante Zero Grau.

Ester Vitório, dona da Doceria da Tetê, com mais de 20 mil seguidores nas redes sociais, acredita que, com a criação do Polo Gastronômico e Cultural, o crescimento do comércio e da economia local seria bom para todos. “No comércio do Parque União não somos concorrentes, tem público para todos, com uma boa clientela”.

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Criação de mais centros

Caitano Silva, da Associação de Moradores do Parque União, explica que o comércio da praça aumentou e mais centros serão criados na Maré. Com a criação do polo, ambulantes e feirantes serão realocados para um centro na rua Ari Leão devido às sujeiras que ficam no espaço do polo em dias de feira.

O Espaço Lazer do Parque União, que irá comportar cerca de dez mil pessoas, também terá um centro para cultura e gastronomia. “Um espaço, que já é legalizado, está sendo criado, com arquiteto fazendo todo esse trabalho para que possa acontecer shows de grande porte”, explica. “Também vão ter restaurantes e outros comércios que tem na praça, como por exemplo, o Bar e Choperia Esperança”.

(*) Beatriz Amat é estudante de Jornalismo na UFRJ e faz parte do curso de extensão da universidade com o Maré de Notícias.

Em 60 dias, Maré tem cinco incêndios de grande proporção

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Enquanto a Light diz que a culpa é das ligações clandestinas, moradores criam correntes de solidariedade e se mobilizam para ajudar uns aos outros para combater incêndios na Maré

Por Andrezza Paulo, Juliana Neris e Lucas Feitoza

Em dois meses, houve pelo menos cinco incêndios na Maré em grande proporção. Comércios na Vila do João, explosão de botijão de gás em uma casa na Nova Holanda, além dos postes que pegam fogo frequentemente. Enquanto algumas regiões do estado contam com uma estrutura de combate a incêndio eficiente e bem equipadas, as favelas sobrevivem sem o suporte adequado. Além da falta de levantamentos sobre as áreas de risco, que contribui para a insegurança dos moradores.

Uma casa pegou fogo no Cão Feroz. Parque União no fim de junho. (Imagem: Reprodução)

O caso mais grave causou a morte de um adolescente que enfrentou as chamas para resgatar uma criança (que ele acreditava que estaria no incêndio). O incidente aconteceu no domingo (9), na Nova Holanda. A família está muito abalada e preferiu não dar entrevista. O momento frágil comoveu os moradores que se mobilizaram em uma corrente de solidariedade em prol da família. Alimentos, móveis e diversos utensílios foram doados e agora os esforços estão em reconstruir a residência. É a favela pela favela.

Outro caso ocorreu em um poste de madeira que pegou fogo na rua da Praia no Parque União. Segundo moradores daquela região, o incêndio começou por volta das 20h de quarta-feira (19) e interrompeu o fornecimento de energia elétrica, que só retornou por volta das 17h do dia seguinte – quinta-feira (20). Embora o Corpo de Bombeiros estivesse presente, foi necessária a ajuda de moradores e de uma comerciante no fornecimento do extintor de CO2 para cessar o fogo.

Mobilização dos moradores e apoio local

Nos casos de incêndios em postes, é fundamental a presença da Light para o desligamento da energia antes dos esforços para apagar o fogo. Entretanto, de acordo com os moradores, a empresa não retornou às inúmeras tentativas de contato até mesmo dos bombeiros que estavam no local. Marcelo Vieira, de 43 anos, trabalha na associação de moradores do Parque União e relata: “A Light não veio desligar a energia elétrica, quem desligou foi um morador que trabalhou lá e tem o equipamento. Só depois de desligar a energia os bombeiros conseguiram apagar o fogo, isso já era por volta de 1h da manhã.” A companhia elétrica só foi ao local no dia seguinte. 

Os bombeiros estavam sem Pó Químico, segundo Marcelo Vieira, funcionário da AMPU que acompanhou o caso. (Foto: Andrezza Paulo / Maré de Notícias)

Além do susto e o medo causados pelo incêndio, a falta de energia elétrica gerou uma série de transtornos para a população. “A associação resolveu, mas se não fosse isso a gente ainda estava sem luz” , comenta Elenice de Oliveira, de 61 anos, que cuida de um idoso em uma casa em frente ao poste que pegou fogo. Dona Elenice, assim como moradores no caso anterior, se mobilizou para prestar assistência ao vizinho: “Eu deixei minha casa lá e fiquei aqui com ele até o fogo acabar”.

Falta luz nas respostas da companhia elétrica

Entramos em contato com a assessoria de imprensa da Light, e questionamos sobre quanto tempo leva para restabelecer o fornecimento de energia. Em resposta, a companhia elétrica disse que “assim que acionada sobre a ocorrência, a Light envia equipe ao local para verificar as condições e restabelecer energia o mais breve possível.” Entretanto, a energia na região do Parque União no último dia 19 só retornou às 17h do dia seguinte ao incêndio. 

Ainda em nota, a Light diz que as ligações elétricas clandestinas causam os incêndios, e diz que “atua, diariamente, em parceria com o poder público para coibir o furto de energia”, porém não explica como e não informa procedimentos de prevenção para os referidos casos. Questionamos se a empresa promove alguma e campanhas de regularização da rede doméstica de eletricidade ou se realiza algum trabalho social em parceria com as autoridades, mas não tivemos retorno até o fechamento desta matéria. 

Ainda que os moradores da Maré se articulem para cuidar uns dos outros, é importante destacar que é preciso um plano de prevenção contra incêndios, sendo este um dever das autoridades. Além disso, é fundamental que o morador saiba quais medidas tomar e a quem recorrer em situações como essa.

O que fazer?

Para prevenir incêndios:

  • Evite usar ferro de passar, chuveiro elétrico e máquina de lavar ao mesmo tempo.
  • Não deixe crianças pequenas sozinhas em casa, com acesso a produtos inflamáveis e ao fogo.
  • Lembre-se de tirar os aparelhos da tomada ao sair de casa, verificar se há vazamentos no botijão de gás e se as bocas do fogão estão bem fechadas. As mangueiras e registros de gás tem validade. Fique atento.

Em casos incêndio:

  • Mantenha a calma, feche o gás e desligue o disjuntor de energia elétrica.
  • Abra todas as janelas e saia do local.
  • Sempre acione o Corpo de Bombeiros e fuja da fumaça.
  • Esqueça objetos e pertences, a sua segurança é mais importante que qualquer bem material.

A quem recorrer:

O presidente da Associação dos Moradores da Vila do João,  Valtemir Messias, conhecido como Índio, considera que essas recomendações podem ajudar a diminuir os riscos de incêndio e explica o papel das associações de moradores. “Quando acontece um incêndio a gente vai ao local, ligamos rapidamente para os bombeiros e [se precisar] para o SAMU, temos um rápido atendimento dos serviços públicos” , comenta. 

Atenção Morador:

Light ligue no 0800 021 0196

Corpo de Bombeiros ligue 193

Apoio Local – Associação de Moradores

Dia da Mulher Negra: celebrando a força das mulheres negras da Maré

Uma celebração à luta das mulheres que construíram os caminhos para as vitórias que vibramos hoje

Hoje, 25 de julho, comemora-se o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha. Não há dúvidas de que avançamos e que nossas vitórias precisam ser comemoradas. Afinal, hoje quem escreve esse texto é uma mulher negra de favela. Só foi possível andar por essa estrada porque outras mulheres vieram antes de mim para construí-la. Batizado carinhosamente como Julho das Pretas, celebramos neste mês a trajetória de força, liderança e resiliência que nossas ancestrais, nossas avós, mães, amigas e vizinhas possuem, trajetórias que transformaram e ainda transformam o mundo. Mas os desafios enfrentados pelas mulheres ao redor do globo ainda são enormes e não vem de hoje.

Neste dia 25 de julho em 1992, realizou-se o 1° Encontro de Mulheres Negras Latino-americanas e Caribenhas em Santo Domingo, República Dominicana.  A concentração visava a união, empoderamento feminino, e claro, abordar as lutas e denúncias contra o racismo, machismo e demais violências sofridas pelas mulheres negras. 

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A partir desse encontro, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu este dia, ainda em 1992, como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. 

No Brasil, o dia 25 de julho ganha um reforço simbólico. Em 2014, foi decretado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, que tem como princípio potencializar o papel da mulher negra na sociedade brasileira. Tereza foi a líder do Quilombo Quariterê, localizado na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia, e, por 20 anos, liderou a resistência contra o governo escravista e coordenou as atividades econômicas e políticas do Quilombo. 

Na Maré, dos 140 mil habitantes, 61,2% são mulheres que se declaram pretas e pardas, de acordo com o Censo Populacional da Maré (2013). Ainda no documento, consta que 44,4% das mulheres são únicas responsáveis por seus domicílios.

“É importante que nós, mulheres negras da Maré, celebremos essa data porque ela nos lembra das nossas lutas, mas também das nossas conquistas enquanto mulheres e comunidade negra” afirma Pâmela Carvalho, coordenadora do eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades da Redes da Maré.

O que é ser mulher negra na Maré?

Como forma de homenagem, a equipe de reportagem do Maré de Notícias perguntou “O que é ser mulher mulher negra na Maré?” para as mulheres do território. Entre as diversas respostas, algumas palavras em comum foram mais ditas entre elas: Ancestralidade, resistência, luta e força.

Olhando para a trajetória de mobilização para garantia de direitos do Conjunto de Favelas da Maré conseguimos identificar essas características ao ver que quem lidera o Ministério da Igualdade Racial é Anielle Franco, cria da Maré e tendo ao lado no Ministério da Saúde, Nísia Trindade. Ao ver também que a deputada com maior número de votos nas últimas eleições foi Renata Souza, mulher preta nascida e criada na Maré. A força das mulheres negras, latino-americanas e caribenhas é ancestral, potente, resistente e que possamos neste dia 25 de julho comemorar as vitórias até aqui e erguer ainda mais forças para as lutas que virão.