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PM faz 13ª operação na Maré e deixa mais de sete mil alunos sem aula

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Estudantes do território já tem 9 dias de aula perdidos antes do meio do ano letivo

Mais uma semana no Conjunto de Favelas da Maré é marcada por atravessamentos no cotidiano de milhares de moradores devido a uma operação policial. A ação da Polícia Militar que contou com policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e do Batalhão de Ações com Cães (BAC), começou às 6h com tiros, presença de veículos blindados e agentes policiais circulando a região do Parque União, Rubens Vaz e Nova Holanda. 

Além do impacto no cotidiano das pessoas que moram, trabalham, estudam ou circulam na Maré, na operação de hoje danos ao patrimônio, invasões de domicílios, agressões físicas e subtração de pertences foram identificadas, sobretudo na região do Tijolinho, na Nova Holanda e no Cão Feroz, no Parque União.

Durante a retirada de barricadas na Rua Bittencourt Sampaio, na Nova Holanda, um cano foi estourado por uma das máquinas britadeiras deixando moradores da região sem acesso ao abastecimento de água encanada. Agentes policiais também atearam fogo em objetos que se encontravam no espaço, gerando um incêndio. 

A clínica da família Jeremias de Moraes e Silva, da Nova Holanda, não teve atendimento nesta quarta-feira devido a operação policial. 

Educação em risco nas favelas do Rio

Nesta quarta-feira, um total de 12775 alunos nas favelas do Rio estão sem aulas devido às operações policiais. Além da Maré, o dia amanheceu com ações no Morro do São João no Engenho Novo, no Morro dos Macacos em Sampaio, Complexo do Caju, em Manguinhos e na Cidade de Deus. Apenas na Maré, 23 unidades escolares foram afetadas, impactando 7.722 alunos em nosso território.

Veículos de comunicação como o Voz das Comunidades e o Maré de Notícias publicaram a hastag #DozeMilSemAula nesta quarta para chamar a atenção para os danos que as operações policiais vêm causando para a educação e os estudantes das favelas de toda a cidade. Na Maré, só em 2023, já foram perdidos nove dos 79 dias letivos previstos para serem realizados pelas unidades de educação das Secretarias Municipal e Estadual de Educação. São 208 dias letivos previstos para 2023. É urgente garantir o direito à educação para essas crianças e adolescentes. 

Mais direitos violados

A Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, que está em obras, também teve atividades suspensas. O equipamento de cultura tem realizado ações itinerantes, em unidades escolares e outras organizações parceiras. Nesta quarta-feira estavam previstas uma oficina e um espetáculo nas escolas municipais Albano Rosa e Moacyr Góes para mais de 100 crianças. 

A organização Luta pela Paz também teve diversas atividades suspensas (aulas de artes marciais, atendimentos psicológicos e de assistência social, aulas de reforço, entre outras), que atenderiam cerca de 600 crianças e jovens. 

A operação policial, segundo a PM, foi realizada com objetivo de “coibir movimentações criminosas relacionadas a roubos de carga e roubos de veículos”, porém até o momento do fechamento dessa matéria, a Polícia Civil não confirmou a participação da Delegacia de Roubos e Furtos, responsável pela atuação nesses casos. 

Os moradores que se sentirem violados podem entrar em contato com o Ministério Público (MP) que realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no número (21) 993855837 pelo WhatsApp, também no telefone (21) 2215-7003 ou no e-mail [email protected]. A Redes da Maré também recebe relatos de moradores e direciona para atendimento no MP o atendimento é feito no prédio central, na Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda.

O Maré de Notícias também recebe denúncias dos moradores no telefone: (21) 97271-9410

Museu da Vida celebra aniversário com destaque para pautas indígenas 

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Espaço de lazer, saúde, educação, cultura e ciência completa 24 anos

O vizinho da Maré esteve em festa na última semana. O Museu da Vida Fiocruz completou 24 anos. O evento de comemoração contou com a presença da Aldeia Maracanã, com o tema: Aprendendo com os povos originários. As comemorações começaram na quinta-feira (25/05) e foram até (27/05), quando o Museu abriu às portas ao público em esquema de visitação livre em um sábado pela primeira vez este ano. 

Apesar da proximidade, muitos moradores da Maré e de toda a cidade do Rio não conhecem o Museu. Essa foi uma oportunidade de conferir exposições, peças teatrais, atividades ao ar livre e muito mais. Na programação o público foi convidado a mergulhar na cultura indígena. A lista de atividades foi extensa, com oficina de grafismo corporal, de tupi-guarani, contação de histórias, feira de artesanato e medicinas da floresta e apresentação de cânticos. 

Na festa os visitantes conheceram mais sobre a cultura indígena. O Museu da Vida Fiocruz convidou a Aldeia Maracanã (Aldeia Maraká’nà) para estabelecer este diálogo junto aos visitantes. “É uma honra participar de um evento desse porte, com o tamanho da Fiocruz. Aqui estamos compartilhando o conhecimento dos ancestrais, como a cultura e a língua. Está aqui é uma reparação histórica, no contexto tardio do reconhecimento da cultura dos povos originários, pois aqui habitavam os Tupinambás”, conta Amanda Mara Goytacá, professora da Universidade Pluriétnica Indígena Aldeia Maracanã. 

Amanda Goytacá falou sobre a resistência indígena no Brasil e criticou o marco temporal | Foto: Hélio Euclides

Os indígenas presentes também protestaram pela situação que são tratados pelos órgãos responsáveis. “Estamos vivendo um golpe, algo inconstitucional contra os nossos direitos à terra. A aprovação do marco temporal é o desconhecimento de que a milhares de anos já estávamos aqui. Queremos sobreviver e superar a demarcação, que é um ato desumano e criminoso”, comenta. Ela explicou ainda que a Aldeia Maracanã reúne povos de várias etnias e se localiza no bairro do Maracanã, que cultiva e promove o compartilhamento de conhecimentos tradicionais.

“Estamos na cidade, pois não há floresta. O país precisa criar políticas públicas para nós do contexto urbano. Não existe só indígena na floresta Amazônica, mas também na favela, com uma submoradia e um subemprego. Na cidade estamos quebrando cimento para plantar sementes. Estamos lutando contra o capitalismo que deseja colonizar a nossa mente e alma”, expõe. O grupo reivindica que o poder público faça uma reforma na Aldeia Maracanã, reabra o Museu do Índio e a restaure a Casa do Índio, na Ilha do Governador. Para que ocorra obra na Casa do índio e o direito de propriedade, haverá um ato em frente ao imóvel, nesta terça-feira (30/05), às 14h.

Uma aniversário de atividades

Uma programação diversa contou com exposições, como a Rios em Movimentos: artes de Rodrigo Andrian, que mostraram inserções por estudos e vivências de Manguinhos e Maré. O público pôde acompanhar entre as obras, um quadro que retrata o Rio Faria-Timbó, que contorna várias favelas da periferia. 

Heliton Barros, diretor do Museu, conta que foram três anos sem comemorações presenciais, em virtude da pandemia. “Comemoramos essa data junto com a Fiocruz que completa 123 anos. O aniversário do Museu é uma festa tradicional, que sempre traz o piquenique científico, mas esse ano resolvemos mudar para apresentar os povos originários, que abrilhantaram o nosso evento, como protagonistas. O Museu é um braço da Fiocruz que fala com a população, de uma forma gratuita”, conclui.

O Museu da Vida Fiocruz fica na Avenida Brasil, 4365, Manguinhos.

Heliton Barros relembrou os anos sem as comemorações presenciais devido a pandemia | Foto: Hélio Euclides

RioFilme abre consulta pública para os editais até sexta (02/06)

Todos os editais de 2023 estão abertos à ampla contribuição da população. Cineastas de favelas têm pontuação adicional nos fomentos

Por Daniele Moura

A RioFilme, órgão que integra a Secretaria de Cultura da Prefeitura do Rio, lançou o Programa de Fomento de 2023 e seus editais para a consulta pública. Eles estão disponíveis na área de Consultas Públicas até o dia 02 de junho. As contribuições poderão ser encaminhadas para o endereço eletrônico: [email protected].

A consulta pública é uma etapa importante do Programa de Fomento da RioFilme, pois permite que produtores possam fazer as sugestões e críticas para o aprimoramento dos editai de fomento ao audiovisual carioca.

O Programa de Fomento da RioFilme 2023 amplia o escopo e o impacto da política afirmativa como a criação de novas cotas, novas linhas de investimento, e a ampliação do número de editais que passam a aceitar o MEI.

Todos os editais estão abertos à ampla contribuição da população, com exceção dos Editais de Formação e de Apoio a Salas de Cinema, que por serem linhas novas de investimento, ainda estão em elaboração pelo setor de fomento da RioFilme, para que posteriormente também sejam abertos à consulta pública.

As linhas de investimento abertas à consulta pública neste momento são:

EDITAL Nº 1 – DISTRIBUIÇÃO PARA SALAS DE CINEMA FICÇÃO E ANIMAÇÃO – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 2 – PRODUÇÃO DE LONGA-METRAGEM FICÇÃO E ANIMAÇÃO – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 3 – PRODUÇÃO DE LONGA OU SÉRIE DOCUMENTAL – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 4 – DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 5 – DESENVOLVIMENTO E PRODUÇÃO DE JOGOS ELETRÔNICOS – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 6 – PRODUÇÃO DE CURTA METRAGEM – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 7 – PRODUÇÃO DE NOVAS TEMPORADAS DE WEBSÉRIE – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 8 – APOIO A AÇÕES LOCAIS – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 9 – PRODUÇÃO DE MOSTRAS E FESTIVAIS – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 10 – INCENTIVO À ATRAÇÃO DE PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS PARA O MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO – “CASH REBATE” – CONSULTA PÚBLICA

EDITAL Nº 11 – APOIO À PARTICIPAÇÃO EM MOSTRAS E FESTIVAIS – CONSULTA PÚBLICA

Políticas afirmativas

Entre as principais novidades deste ano está a criação de cotas para proponentes negros e indígenas. Em 2023, pessoas negras terão 20% de reserva em todas as linhas de investimento da RioFilme, já os indígenas terão 10% de reserva.

Outra novidade no campo das ações afirmativas é que as propostas de pessoas sediadas nas favelas do Centro, Rio Comprido, São Cristóvão, Paquetá, Santa Teresa, Botafogo, Copacabana, Rocinha, Tijuca, Vila Isabel, Ramos, Maré, Méier, Jacarezinho, Irajá, Madureira, Inhaúma, Complexo do Alemão, Penha, Vigário Geral, Anchieta, Pavuna, Ilha do Governador, Jacarepaguá, Cidade de Deus, Bangu, Realengo, Campo Grande, Santa Cruz e Guaratiba terão pontuação afirmativa adicional nos editais.

Além disso, os editais de Complementação ou Produção de longa-metragem de ficção ou animação e de Complementação ou Produção de Documentário para Cinema, TV ou Streaming irão aumentar o número de cotas para diretores estreantes. Essa novidade permite que realizadores que estejam começando tenham oportunidade de estrear no mercado, ampliando as chances de que seus projetos aconteçam.

Para todas as linhas de Desenvolvimento foram criadas cotas para as produtoras de Nível 1 (empresas que produziram no máximo um longa-metragem em sua trajetória). Essa mudança permite que produtoras que estão há pouco tempo no mercado tenham oportunidade de desenvolverem novos projetos, permitindo que possam ampliar o seu portfólio, democratizando a distribuição de nossos recursos.

Todas as linhas de Curta-Metragem serão restritas às Produtoras de Nível 1 e terão cotas para diretores estreantes, o objetivo dessas mudanças também é permitir que novas produtoras e realizadores se insiram no mercado, o curta-metragem tem em si o potencial de ser uma escola para a atividade audiovisual, um campo de aprendizado para jovens cineastas que precisam de apoio para levarem adiante os seus projetos, pensando nisso, a RioFilme investiu nessas mudanças em especial nos editais voltados para o curta-metragem.

O MEI será aceito em mais linhas:

Além dos editais de Ações Locais, a partir deste ano, as linhas de Produção de Novas Temporadas de Websérie e a recém criada linha de Novos Realizadores de Curtas-metragens aceitarão propostas via MEI.

Nos editais de Apoio a Ações Locais também foi criada a linha de Apoio a Cineclubes, a partir de uma análise dos projetos beneficiados nos últimos anos, a partir da necessidade de ampliação e da formação de plateias e do acesso democrático ao conteúdo audiovisual.

Já o edital de Apoio a Mostras e Festivais dobrou os seus investimentos, com recursos entre R$100 e R$200 mil reais por proposta (em 2022 os recursos eram entre R$50 e R$100 mil reais por proposta).

Impacto das políticas afirmativas nos últimos anos:

É importante salientar que, mesmo com as novas cotas, todas as regras de pontuação adicional aplicadas nos últimos anos pela RioFilme serão mantidas, elas preveem que:

  • Propostas de produtoras de Ramos, Maré, Méier, Jacarezinho, Irajá, Madureira, Inhaúma, Complexo do Alemão, Penha, Vigário Geral, Anchieta, Pavuna, Ilha do Governador, Jacarepaguá, Cidade de Deus, Bangu, Realengo, Campo Grande, Santa Cruz e Guaratiba recebem 5 (cinco) pontos adicionais na pontuação adquirida pela proposta na avaliação da comissão de seleção;
  • Se o sócio(a) proponente ou diretor(a) for pessoa negra,  indígena, com deficiência, e/ou transgênero a pontuação adicional é de 3(três) pontos;
  • Se sócia do proponente ou diretora for pessoa socialmente mulher a pontuação adicional é de 2 (dois) pontos à soma da nota obtida pela proposta na avaliação da comissão julgadora do pleito.

A avaliação dos últimos anos mostrou que a política afirmativa da RioFilme tem dado certo, em 2022, 66% das propostas beneficiadas foram de produtoras, diretoras ou roteiristas mulheres; 33% foram de produtores(as), diretores(as) ou roteiristas negros, transgêneros, indígenas ou pessoas com deficiência e 29% dos projetos selecionados foram de proponentes sediados das zonas norte e oeste, com exceção da Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes.

Saiba tudo no nosso site e faça as contribuições pelo e-mail:
👉[email protected].

Falta de psicólogos nas escolas agrava problemas de violência e saúde mental

Lei federal que exige a permanência de profissionais é pouco aderida pelos municípios

Samara Oliveira

Em março deste ano, uma professora morreu e quatro pessoas ficaram feridas ao serem esfaqueadas por um aluno de 13 anos numa escola em São Paulo. Menos de um mês depois, um ataque a uma creche em Santa Catarina resultou na morte de quatro crianças entre 4 e 10 anos. Ainda no mês de abril, policiais apreenderam uma faca numa escola de Ramos, na Maré, levada por um aluno para se defender, caso acontecesse alguma coisa, segundo relatos. Depois destes episódios, rumores sobre novos ataques espalham pânico e revolta entre responsáveis, alunos e funcionários de escolas por todo o país.

“Se algo acontecer, eu já sei onde me esconder”

O clima de insegurança também atingiu a Escola Municipal Bahia, na Maré, onde uma aluna de 12 anos confessou ter medo de frequentar a escola. A adolescente nos contou que não faltou às aulas desde que começou a se falar sobre o assunto, mas que ela e a mãe oravam diariamente para que nada acontecesse. Movida pelo medo, a estudante começou a observar dentro da escola onde poderia se proteger caso sua segurança estivesse em risco.

Polícia é solução?

Em abril, o Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) lançou a pesquisa Ataques de violência extrema em escolas no Brasil, um levantamento dos casos de atentados contra a vida em escolas nos últimos 20 anos no país, coordenado pela pedagoga e doutora em Educação Telma Vinha e pela mestranda em Educação Cleo Garcia.

As pesquisadoras descobriram que, desde 2002, aconteceram 22 ataques em 23 escolas brasileiras, sendo que nove deles ocorreram em menos de um ano: de julho de 2022 até agora. O estudo ainda está em andamento, mas já se sabe que a maioria dos ataques foi cometida por indivíduos isolados — em apenas três casos houve a participação de duplas. O autor mais jovem tinha 10 anos e o mais velho, já ex-aluno, 25 anos. Em 12 ataques foram usadas armas de fogo; os agressores tinham já armas em seis casos, em quatro, elas foram compradas de terceiros e nos dois ataques restantes as armas usadas não tiveram sua origem identificada.

Debate sobre a necessidade de policias e de psicólogos tomou grandes proporções nas instituições públicas de justiça e redes sociais | Foto: Patrick Marinho

Com base nesses boatos sobre novos ataques, um debate se instaurou em diferentes esferas, da estatal à das redes sociais. De um lado, houve a defesa pela presença de policiais nas escolas; do outro, a resposta estaria em mais psicólogos e assistentes sociais dentro dos colégios.

Lei não ‘pegou’

No Senado Federal, o presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Pedro Paulo Bicalho, chamou a atenção para a necessidade de se fazer cumprir a Lei nº 13.935/19, que tornou obrigatória a presença de profissionais de psicologia e serviço social dentro das unidades públicas de educação. Segundo ele, dos 5.568 municípios brasileiros, apenas 85 adotaram a medida.

“A psicologia brasileira tem um acúmulo histórico nesse campo, com uma legislação já aprovada na área, mas que não vem sendo efetivamente cumprida por estados e municípios. Para que uma política pública seja efetivamente construída, precisamos de custeio que garanta exatamente que uma lei arduamente acompanhada por mais de 20 anos seja implementada. O que nós estamos aqui denunciando é o fato de não estarmos cumprindo a lei, ao não garantir a presença de psicólogos e assistentes sociais na educação básica brasileira”, afirmou Bicalho em seu discurso.

Panorama de profissionais na Maré

Ao ser questionada sobre a presença de psicólogos e assistentes sociais nas escolas municipais do Conjunto de Favelas da Maré, a Prefeitura Municipal do Rio afirmou que todas as unidades escolares, incluindo as da região da Maré, contam com o Programa Interdisciplinar de Apoio às Escolas (Proinape), desenvolvido pelo Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (NIAP) e que envolve psicólogos, assistentes sociais e professores.

Segundo a nota divulgada, o NIAP é formado por uma equipe composta por professores, assistentes sociais e psicólogos, que atuam nas 11 coordenadorias e têm como objetivo apoiar as ações educacionais para a prevenção de violências.

Sem apoio

Apesar da nota emitida pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro afirmar que todas as unidades escolares da Rede Municipal de Educação, incluindo as escolas do Conjunto de Favelas da Maré, contam com o Programa Interdisciplinar de Apoio às Escolas (Proinape), que envolve psicólogos, assistentes sociais e professores, a equipe do Maré de Notícias visitou algumas escolas e constatou que a realidade é um pouco diferente. Fabrício de 8 anos tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e estuda no CIEP Elis Regina. Segundo sua mãe, Claudiana Rodrigues, a escola não tem psicólogos, assistentes sociais , professores de apoio ou mediadores para auxiliar o seu filho durante as aulas.

Esses profissionais também não estão disponíveis para os estudantes das escolas municipais Tenente General Napion, Nova Holanda e Lino Martins da Silva, nem no Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Moacyr de Góes. Funcionários das escolas (que preferem não se identificar) afirmaram que a orientação é, caso necessário, encaminhar o aluno para postos de saúde ou hospitais, pois não há atendimento direto nas escolas.

Ana Claudia, que tem dois filhos em unidades municipais da região, confirmou essa informação, acrescentando que, caso a escola perceba a necessidade, os alunos são encaminhados para o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, na Ilha do Fundão, e entram na fila do Sistema de Regulação (SISREG). Uma funcionária do EDI Moacyr de Góes lamentou a falta de profissionais de apoio: “É uma pena. Tem várias crianças que precisam”.

Sem efeito

“o NIAP não surtiu nenhum efeito, não houve nenhum encontro com os professores, só com a equipe gestora. Foi só um primeiro contato e, aí, não houve mais nada”.

afirma uma ex-funcionária da Escola Municipal Tenente General Napion

Ela aponta que os profissionais também foram muito afetados no pós-pandemia: “Existe um déficit, uma dificuldade enorme de os profissionais envolvidos na educação conseguirem ter uma saúde mental boa. Todos que eu conheço têm relatos de como a saúde está afetada.”

Conforme apurou o Maré de Notícias, não há presença diária de psicólogos e assistentes sociais nas unidades básicas de educação municipal; eles agem de maneira pontual quando acontece algo grave. ONGs do território seriam então chamadas a mediar questões de conflitos nas escolas — justamente atribuições dos profissionais do NIAP.

A Secretaria de Estado da Educação não se saiu melhor quando questionada sobre a presença de psicólogos e assistentes sociais nas unidades de educação sob sua gestão: segundo a pasta, desde 2013, há, “no quadro de servidores concursados, psicólogos e assistentes sociais”. Mas, segundo a secretaria, eles prestam serviços sob demanda, ou seja, não estão diariamente nas unidades.

“Eles prestam orientação e suporte aos gestores e às equipes técnico-pedagógicas em casos de violência, risco social ou de saúde. E, quando necessário, dão atendimentos para a comunidade escolar nos equipamentos públicos de referência”, diz a nota da pasta.

Questão ‘individual

A Lei 13.935/19, porém, determina que o trabalho das equipes multiprofissionais não deve se limitar apenas às questões relacionadas à violência. Em seu primeiro artigo, ela estabelece que “as equipes multiprofissionais deverão desenvolver ações para a melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem, com a participação da comunidade escolar, atuando na mediação das relações sociais e institucionais”.

Angela Soligo, psicóloga e pesquisadora da Associação de Ensino em Psicologia (Abep), confirma que “a discussão vem com uma conotação de que ‘precisamos cuidar da saúde mental dos agressores’, como se todos eles estivessem dentro da escola, e como se isso fosse simplesmente uma questão individual”. A profissional explica que a medida não prevê trabalho sob demanda, e sim profissionais com cargos efetivos nas redes, atuando em equipe junto às escolas, com atividades planejadas.

“A primeira coisa são as contribuições da psicologia, assim como do serviço social, no contexto educativo. Isso significa contribuir com conhecimentos sobre aprendizagem, desenvolvimento de teorias e estratégias de ensino-aprendizagem, na construção de projetos pedagógicos, de alternativas metodológicas, de estratégias de avaliação. É uma contribuição do ponto de vista pedagógico, com o objetivo de garantir que todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos tenham acesso e direito a se apropriar dos conhecimentos veiculados pela escola”, diz ela.

Luiz Gustavo Prado, psicólogo e pesquisador complementa “garantir a atuação de psicólogos capacitados na escola significa contribuir para um ambiente mais inclusivo, afetivo e acolhedor, ou seja, é promover a cidadania e a garantia dos direitos humanos. Apesar da lei 13.935 ter sido aprovada, ainda é preciso engajamento e atuação de Prefeitos e Secretários de Educação para que seja efetivada e colocada em prática”.

Expo Favela acontece no Rio em Julho

A maior feira de empreendedorismo que conecta asfalto e favela acontece nos dias 29, 30 e 31 de julho na Barra

Por Daniele Moura

Após a primeira edição acontecer em São Paulo, a Expo Favela Innovation chega na Cidade Maravilhosa. Nos dias 29, 30 e 31 de julho, o Rio de Janeiro receberá a feira de empreendedorismo que conecta favela e asfalto na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.

“Nosso desejo sempre foi de realizar a Expo Favela Innovation no Rio de Janeiro porque construí boa parte da minha trajetória. Vai ser uma edição muito especial porque além de ser um local onde tudo começou, o termo de favela é muito familiarizado e utilizado pelos cariocas”, disse Celso Athayde, CEO da Favela Holding e idealizador da Expo Favela Innovation.

Favela
Foi no Rio de Janeiro que o termo favela apareceu pela primeira vez em um documento oficial. Foi no dia 4 de novembro de 1900, se referindo ao Morro da Providência, no Centro da Cidade, como Morro da Favela, onde moravam os favelados. Assim eram conhecidos os soldados, moradores do local, que lutaram na Guerra dos Canudos (1896-1897), na Bahia, e ficaram marcados pela planta favela, muito comum no Sertão Nordestino.

A Expo Favela Innovation deste ano tem também edições regionais em várias capitais do país. A primeira regional foi realizada em São Paulo, nos dias 17, 18 e 19 de março, e contou com uma presença rotativa de mais de 40 mil pessoas nos três dias de evento. A próxima parada será em Goiás, nos dias 19 e 20 de maio.

“Estamos muito felizes! O Rio de Janeiro tem o empreendedorismo de favela na veia! Portanto, nada mais justo que a maior feira deste segmento aconteça aqui. Tenho certeza que vamos ver coisas maravilhosas realizadas pelas pessoas que aqui estarão”, comemorou Elaine Caccavo, CEO da InFavela, empresa de live marketing do Grupo Favela Holding e produtora oficial da Expo Favela Innovation.

O evento tem a realização da Favela Holding em parceria com a Central Única das Favelas (CUFA).

Leituras na Favela: uma iniciativa para além dos muros acadêmicos

Projeto da Maré realiza oficinas de leituras para promover reflexões sobre e com a favela

Por Alessandra Holanda e Luna Galera(*)

Um livro ao alcance das mãos pode promover representatividade, autoestima e acolhimento à comunidade. Foi pensando nisso que o Leituras na Favela surgiu. Trata-se de um projeto de incentivo à literatura literária criado por educadores e moradores da Maré, que ocorre por meio de leituras e contações de histórias. Hoje, a iniciativa abraça crianças e adolescentes com o objetivo de semear, logo cedo, o poder transformador da literatura. Os encontros, que acontecem aos sábados na Lona Cultural Hebert Vianna, que fica no Parque Maré, constroem um espaço de troca e escuta a partir do protagonismo da favela na sua própria narrativa.

As oficinas de leituras começaram no dia seis de maio e vão até o dia vinte e quatro de junho. Cada reunião é dividida em duas turmas: a primeira é sobre contação de histórias das 10h às 11h para crianças de cinco a dez anos, já a segunda é a leitura compartilhada de 11h às 12h para crianças e adolescentes de onze a quinze anos. A média de participantes por encontro é entre sete e dez pessoas. A inscrição pode ser feita pelo próprio direct do Instagram, no @leiturasnafavela. 

Leitura na Favela
O projeto, que já passou por alguns formatos até chegar ao modelo atual, nasceu durante a pandemia da Covid-19, no ano de 2021. Na época, o intuito era orientar a leitura dos estudantes sobre os livros escolhidos para o vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. A professora, coordenadora e uma das fundadoras do Leituras na Favela, Camila Mendes, conta que a fragilidade do momento não impediu que o desejo de ajudar o outro fosse à frente. “Eu e o meu parceiro nesse projeto, Anderson Oli, percebemos o quão benéfico os encontros eram. Naquele momento de pandemia,  além de proporcionar a leitura literária, também estávamos criando um espaço para reunir forças.”

Ainda durante o período online, a iniciativa realizou seu primeiro ciclo de leituras sobre Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Ao total, oito encontros foram realizados de forma remota, nos quais autores como Mia Couto, José Luandino Vieira e Olinda Bejo ganharam notoriedade. Paralelo a essa etapa, com o acompanhamento do Lab Semente (processo de formação e mentoria que recebeu apoio financeiro para implantação das propostas culturais na Maré), a iniciativa veio se ressignificando para ocupar o espaço presencial e direcionar suas atividades a crianças e adolescentes da Maré.

Hoje, já com reuniões físicas, o Leituras na Favela busca a conexão entre o universo literário e a comunidade, a fim de provocar reflexões e contato com outras realidades. “A gente acaba olhando para essas questões de representatividade, trazendo textos que mostram o que a gente vive no território. Mas, também pensamos que a função da literatura é mostrar outros espaços que não ocupamos”, conta Camila.

O projeto superou as expectativas e alcançou os responsáveis dos pequenos leitores. Mães e pais são integrados aos encontros e aproveitam o momento para, além do lazer, estreitar laços afetivos em família. “Nós percebemos a presença das mães. Elas nem eram o público alvo, mas, como acabam acompanhando a contação, vimos o quanto esse momento também é delas. Teve um pai que participou e isso foi muito legal, porque esse espaço ainda é muito feminino”, reconhece Camila.

Sementes
Mãe da pequena Katiana Eloá, de 4 anos, Tatiane Araújo conta como está sendo participar do Leituras na Favela. “Eu conheci o projeto quando saí da aula de ballet da minha filha. Me deparei com o grupo sentado e fui convidada a participar. O encontro de todos os sábados é só alegria, porque traz para as crianças uma diversão que também permite conhecer realidades diferentes daquela que nós vivemos. O projeto faz muita diferença, pois as crianças passam a ter mais vontade de se aproximarem da leitura.”

O Leituras nas Favelas se tornou uma oportunidade de unir cenários que muitas vezes acabam por não se encontrar.  É com essa perspectiva que Camila busca seguir com o projeto. “Eu sou moradora da Maré desde os 7 anos e fiz faculdade na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no campus do Fundão. Sempre pensei em como esses dois mundos são diferentes, os espaço da Maré e o espaço acadêmico, apesar de serem vizinhos. Sempre pensei em como eu poderia ser a ponte para unir esses mundos. Quando eu era criança, um professor me apresentou um livro, e eu espero poder apresentar um livro para uma criança. Fazer esse projeto é uma devolutiva pra comunidade onde eu cresci.”

Atualmente, o projeto conta com o apoio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e da Secretária Municipal de Cultura  através do Programa de Fomento Carioca – FOCA. O investimento permite, não somente a manutenção do Leituras nas Favelas, mas a concretização de uma ideia que havia sido elaborada anos antes. Mais do que um recurso financeiro, a conquista desse apoio é uma forma de reconhecimento da importância do projeto enquanto propulsor de cultura e gerador de conhecimento.

Desde 2009, a Redes da Maré gerencia a Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura, e conduz a programação do espaço, com atividades de arte, cultura e lazer para crianças e jovens da Maré. A Lona é referência na região e foi se tornando também um espaço de formação e aprendizado.

Saiba mais sobre a Literatura Periférica:
Clube de Leitura gratuito está com vagas abertas – Maré de Notícias Online | Portal de notícias da Maré (mareonline.com.br)

A nova literatura brasileira é das favelas e periferias; conheça escritor José Falero – Maré de Notícias Online | Portal de notícias da Maré (mareonline.com.br)

Literatura feminina com as marcas da Maré – Maré de Notícias Online | Portal de notícias da Maré (mareonline.com.br)

(*) Alessandra Holanda e Luna Galera são estudantes de jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e fazem parte do Curso de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.