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Maré tem encontro para debater meio ambiente e direito à cidade

O Encontro Preparatório do Rio de Janeiro para a Conferência Popular pelo Direito à Cidade contou com a participação da juventude, moradores e instituições locais.


Por Samara Oliveira em 18/04/22. Editado por Daniele Moura.

A Maré recebeu no dia (14/04), o Encontro Preparatório do Rio de Janeiro para a Conferência Popular pelo Direito à Cidade. A iniciativa promovida pela Redes da Maré, por meio  do eixo de Direitos Urbanos e Socioambientais, contou com a participação da juventude, moradores e instituições locais.

Com o objetivo de construir a “Maré que Queremos” – nome dado ao evento –  a partir de propostas elaboradas acerca dos temas de direitos urbanos, ambientais e saneamento básico no território, os debates serão incorporadas às propostas da Conferência Popular pelo Direito à Cidade no âmbito nacional.

A coordenadora do eixo Dusa, Shyrley Rosendo, comenta a necessidade da participação dos moradores mareenses no evento. “Acredito que esse processo seja muito importante para nós da Maré. É uma oportunidade de dividir nossos problemas e soluções, mas também de falar com eles sobre outras favelas apontando que para obtermos uma cidade justa precisamos incluir as periferias nesse debate.”  

A coordenadora também ressalta a importância de pertencimento do território enquanto um lugar de retorno em serviços para a população. “Entendo como oportunidade de pensar uma cidade como algo mais ampliado. Ou seja, a cidade não pode ser lugar apenas do trabalho, mas do encontro, do lazer, da saúde, da educação”.

Ruth Osório, articuladora do projeto Cocôzap, desenvolvido pelo Data_lab sobre monitoramento e incidência política com ênfase no saneamento básico, também enfatiza a importância da construção popular para o desenvolvimento do território. “É muito marcante esse tipo de evento para a Maré porque sempre tivemos um histórico de problemas ambientais. Tudo que temos hoje aqui é fruto da luta dos moradores e dos movimentos articulados. A maior importância disso é como a gente que conhece essas questões e vive essa realidade, também está pensando soluções para esses problemas”.

O evento contou com o apoio do Observatório de Favelas e Data_Lab. 

Bala Desejo e Rubel se apresentam no MAR de Música de abril

O show contará com a abertura da DJ Cris Panttoja. Os ingressos são gratuitos e serão distribuídos a partir do próximo dia 25

Por Redação, em 16/04/2022 às 07h.

O MAR de Música no mês de abril vai contar com o show de Bala Desejo e a participação do cantor e compositor Rubel no próximo dia 29. Os ingressos podem ser retirados na bilheteria do MAR a partir do dia 25 de abril de 10h às 17h. Cada pessoa pode retirar dois ingressos por CPF. O show está sujeito à lotação, por isso, a distribuição será feita durante toda a semana até que se esgotem os ingressos. A DJ Cris Panttoja abre o MAR de Música e se apresenta também após o show principal.

O Bala Desejo, que também está entre as bandas confirmadas para o Rock in Rio 2022, é formado pelos músicos cariocas Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra. Amigos desde a época da escola, os quatro começaram a chamar atenção após algumas participações nas lives temáticas no Instagram da cantora Teresa Cristina. O movimento trouxe o álbum de estreia do grupo, intitulado Sim Sim Sim, pelo selo Coala Records.

Cada integrante viveu a própria solidão e processo criativo no período de isolamento. Quando decidiram morar juntos, a residência virou sinônimo de imersão, resultando em uma sonoridade que se faz nostálgica no imaginário do público brasileiro, mas de vanguarda na proposta embalada. A concretização de Bala Desejo como grupo veio a partir do convite do Coala Festival para que a banda integrasse o line-up da edição de 2021, posteriormente adiada por conta da pandemia. Com a impossibilidade do evento, surgiu a ideia da gravação de um álbum. 

No MAR de Música, o cantor e compositor Rubel fará uma participação com músicas autorais dele. Em setembro de 2018 o álbum Casas recebeu nomeação ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa.O álbum também foi eleito o 20º melhor disco brasileiro de 2018 pela revista Rolling Stone Brasil.

DJ Cris Panttoja

Cris Panttoja vai abrir a noite do MAR de Música. Ela iniciou sua trajetória desempenhando atividades de montagem e roadie para empresas do mercado de sonorização e iluminação. Essa experiência agregou conhecimento e afeição pelo mundo do som.

Ainda na juventude, influenciada pela dança clássica, realizou os primeiros investimentos para sua coleção de vinis, estritamente de música erudita. O hobby virou uma paixão. Atualmente Cris Panttoja tem aproximadamente 4 mil vinis com repertório predominantemente no pilar do samba de raiz e passagens pelo regional e MPB. O MAR de Música 2022 apoia a discotecagem feminina e traz mulheres DJ’s em todas as edições desse ano.

Campanha Social

A cada edição do Mar de Música de 2022 realizamos uma campanha com tema de interesse público com objetivo de envolver, sensibilizar e mobilizar para causas sociais. A campanha no show de Bala desejo e Rubel será em apoio às vítimas da chuva no estado do Rio. Quem quiser participar, pode doar 1kg de alimento não perecível no momento da retirada dos ingressos.

Museu de Arte do Rio

Iniciativa da Prefeitura do Rio em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Museu de Arte do Rio passou a ser gerido pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) desde janeiro deste ano, apoiando as programações expositivas e educativas do MAR a partir de um conjunto amplo de atividades para os próximos anos. A OEI é um organismo internacional de cooperação que tem na cultura, na educação e na ciência os seus mandatos institucionais, desde sua fundação em 1949.

O Museu de Arte do Rio, para a OEI, representa um instrumento de fortalecimento do acesso à cultura, intimamente relacionado com o território, além de contribuir para a formação nas artes, tendo no Rio de Janeiro, por meio da sua história e suas expressões, a matéria-prima para o nosso trabalho”, comenta Raphael Callou, diretor e chefe da representação da OEI no Brasil.

Após o início das atividades em 2021, a OEI e o Instituto Odeon celebraram parceria com o intuito de fortalecer as ações desenvolvidas no museu, conjugando esforços e revigorando o impacto cultural e educativo do MAR, onde o Odeon passa a auxiliar na correalização da programação.

O Museu de Arte do Rio tem o Instituto Cultural Vale como mantenedor, a Equinor como patrocinadora master  e o Grupo Renner como apoiador, todos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A Escola do Olhar conta com o patrocínio da Wilson Sons e Machado Meyer Advogados via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS, é também patrocinada pelo RIOgaleão e Icatu e tem a Cultura Inglesa como apoiadora Educacional. O Instituto Olga Kos patrocina os recursos de acessibilidade do MAR.

Por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, a BAT Brasil (ex-Souza Cruz) é patrocinadora do MAR de Música. O projeto conta com o apoio da Beck’s.

O MAR conta ainda com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e realização da Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e do Governo Federal do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Serviço:

MAR de Música

Local: Museu de Arte do Rio -Praça Mauá, 5, Centro

Dia: 29 de abril

Horário: de 18h30 às 22h00

18h30 – DJ Cris Panttoja

20h – Bala Desejo e Rubel

Gratuito (Sujeito a lotação)

Reportagem da Agência Pública traz ação coordenada de empresa contra entregadores

              A dura rotina de trabalho e o jogo pesado dos aplicativos 

Por Jorge Melo, em 14/04/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho.

Recentemente, a Agência Pública, reconhecida pela qualidade do jornalismo investigativo que realiza, publicou uma matéria assinada pela repórter Clarissa Levy. A reportagem, com documentos de depoimentos exclusivos, revela que, há pelo menos um ano, uma agência de publicidade, a serviço da empresa iFood, infiltra pessoas nas manifestações de entregadores e produz perfis falsos com o objetivo de dispersar os trabalhadores e desviá-los de suas principais reivindicações.  

Uma categoria em expansão

A impressão que se tem é de que estão em todos os lugares; com suas motos ou bicicletas, mochilas quadradas de cores vivas e uma pressa imprudente. O que chama atenção, além do número, é a relação de trabalho que mantêm com as empresas que utilizam sua mão de obra; que se caracteriza pela ausência de vínculo formal de trabalho, a prestação de serviços para vários clientes, longas jornadas de trabalho e remuneração irregular. 

Esses trabalhadores são uma espécie de símbolo do desemprego e da precarização do trabalho, que atinge sobretudo os mais jovens, alguns nem tão jovens assim. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos é de 31%. Não é difícil imaginar porque os jovens são maioria nesse setor e se submetem a condições de trabalho tão adversas. 

Uma relação desigual

Vinicius Ribeiro, ex-morador da Maré; jornalista e cineasta, de 28 anos; trabalhou dois anos como entregador de aplicativo, “Foi por necessidade. Na época eu tinha um trabalho informal que rendia entre 600 e 800 reais e eu precisava de uma segunda fonte de renda. Eu trabalhei entre julho de 2019 e fevereiro de 2020, geralmente das cinco da tarde à meia noite. Mas o maior problema não era o tempo trabalhado. Como trabalhava com bike o esforço físico era pesado. Eu pedalava mais de 30 quilômetros por dia; com essa bicicleta do Itaú que é bem pior do que uma normal. Recebia mais ou menos uns 50 reais por dia. Só que daí saía 10 reais da passagem. E se quisesse comer um salgado, mais cinco reais. Eu sempre levava comida e comia, às vezes, esperando algum pedido.”

Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), realizado no primeiro semestre do ano passado apontou que entre 2016 e 2020, o número de entregadores de aplicativos passou de 30 mil para 276 mil, um aumento de 979,8%. E que esse aumento se deu em função do crescimento do número de plataformas e do desemprego crescente, com um agravamento durante a Pandemia. 

Vinícius lembra principalmente da falta de contato humano, “a dificuldade de resolver problemas com as empresas, sempre por meio de um chamado ou aplicativo, algumas têm apenas uma central que resolve alguns problemas, outras nem isso. A gente é bloqueado por qualquer coisa e para desbloquear é mais uma dificuldade; isso só para começar a trabalhar. As rotas, às vezes são absurdas.” 

Pandemia

Ao contrário do que se possa pensar, a Pandemia, com o isolamento social e o aumento da procura por serviços de entrega em domicílio, não aumentou a renda dos entregadores. Segundo pesquisa do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), realizada em São Paulo, 62% dos 300 de entregadores entrevistados passaram a trabalhar mais de nove horas por dia; enquanto antes da Pandemia eram 57%, para conseguir praticamente a mesma remuneração. Apesar dos riscos que correram durante a Pandemia não foram incluídos nos grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI).

Foi em reação a essa realidade que surgiu, no ano passado, em São Paulo, o Movimento Entregadores Antifascistas. O fundador e principal representante é Paulo Lima, mais conhecido como Paulo Galo; um homem negro, de 32 anos, nascido e criado na periferia de São Paulo. Galo sonha com um movimento nacional mas ele mesmo reconhece que é difícil reunir a categoria, que tem como característica a dispersão porque não têm um local de trabalho definido.

A mobilização do entregadores

No dia 18 de março entregadores de aplicativos realizaram manifestações de protesto na Zona Sul e Zona Norte do Rio de Janeiro. O movimento ocorreu depois que o iFood, anunciou reajustes nas taxas de entrega dos motociclistas, que não ficaram satisfeitos com a nova tabela. Houve manifestações no Leblon e Tijuca. Os entregadores usaram as redes sociais para divulgar o movimento. Segundo o Centro de Operações Rio houve apenas um incidente na rua Lauro Muller, em Botafogo. 

A manifestação em Botafogo causou alguns transtornos ao trânsito. O Batalhão de Choque da PM acompanhou. Foi a primeira vez que entregadores de aplicativos do Rio de Janeiro protestaram contra as condições de trabalho. A iFood divulgou uma nota afirmando que vem adotando medidas para melhorar as condições de trabalho, “Desde o início da pandemia o iFood já investiu mais de R160 milhões em iniciativas de apoio aos entregadores.”

Mas essas não foram as primeiras reações às difíceis condições de trabalho dos entregadores. Em julho de 2020, foi organizada uma greve dos entregadores, que eles chamam de “breque”, na cidade de São Paulo. Houve antes uma reunião no Largo da Batata, área de grande movimento na Zona Oeste da cidade. A manifestação reuniu poucos trabalhadores mas um vídeo gravado por Galo explicado as razões da luta dos entregadores, teve 500 mil visualizações, “Eu tenho que aproveitar que tem um monte de câmaras por aqui para mandar um papo forte para conquistar os entregadores que estão por todo Brasil.”, disse Galo durante a manifestação. 

No ano passado, 2021, entregadores de Paulínia, Jundiaí, São Carlos e Bauru, no interior de São Paulo, organizaram paralisações, reivindicando melhores condições de trabalho e o fim da coleta dupla, quando o trabalhador precisa fazer duas ou mais entregas de uma vez só, sem receber a taxa mínima por cada uma delas. Os entregadores também reivindicavam o fim do bloqueio, quando a plataforma exclui o entregador e o impede de seguir trabalhando sem explicar o motivo. 

Entregadores e aplicativos

Segundo o IPEA, entregadores e motoristas de aplicativos somam um milhão e quatrocentos mil trabalhadores, ou seja, 31% das pessoas que compõem o setor de transporte, armazenagem e correios do país. O iFood, um dos maiores do setor, possui 160 mil entregadores ativos na plataforma. 

De acordo com o site Statista, empresa especializada em dados de mercado e consumidores, em 2020, o Brasil foi responsável por 48,77% do uso de delivery na América Latina. No país, já estão registrados mais de 250 aplicativos de delivery. 

De acordo com um outro levantamento encomendado pela VR Benefícios ao Instituto Locomotiva, 89% dos estabelecimentos comerciais do país passaram a utilizar o delivery durante a pandemia e hoje ele é responsável por mais da metade do faturamento em 56% dos estabelecimentos do setor. 

De aplicativo ou não, a vida dos entregadores não é fácil. Wellington Alves Neto mora na Baixa do Sapateiro, tem 26 anos e é solteiro; faz entregas de moto para várias empresas, todas na Maré. Trabalha em média 12 horas por dia. Segundo ele, tem ganhos maiores que um entregador de aplicativo, “Num dia bom posso ganhar de 150 a 200 reais e num dia ruim de 70 a 90 reais”. No entanto, revela que quando se acidentou não recebeu nenhum tipo de apoio, conquista recente dos entregadores de aplicativos.

Wellington trabalhava como promotor de vendas da Rio Card, empresa responsável pelos cartões utilizados no transporte público no estado do Rio de Janeiro;  mas perdeu o emprego durante a pandemia. Apesar das condições de trabalho vai continuar com as entregas, “Quero voltar para a minha área e enquanto não tiver uma oportunidade vou continuar.” 

O universo dos entregadores

Galo, que tenta organizar os entregadores na cidade de São Paulo, trabalhou como motoboy de 2012 a 2015, com carteira assinada. Sofreu dois acidentes e decidiu mudar de área. Foi ajudante de pedreiro, camelô, florista, repositor de supermercado e técnico em telecomunicações. Foi demitido em 2019; voltou às ruas como entregador de aplicativo e constatou que havia mudanças para pior, “O motoboy contratado trabalhava das sete à meia, noite, jantava e levava para casa uns 100, 120 reais. O entregador de app não ganha alimentação nem diária, trabalha doze horas para ganhar 60 reais.”   

Segundo dados da pesquisa Condições de Direito e Diálogo Social de Trabalhadores e Trabalhadoras do Setor de Entrega por Aplicativo em Brasília e Recife, resultado de uma parceria entre a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), 92% dos entregadores são homens, a maioria jovens até 30 anos; de cor preta ou parda, 68%. Com renda mensal de R$ 1.172,63, o que significa um ganho líquido de R$ 5,03 por hora trabalhada. 

Proteção limitada  

No dia cinco de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei 1665/20, que estabelece medidas de proteção para os entregadores de aplicativos durante a emergência de saúde pública (Pandemia). O projeto original foi apresentado no dia quatro de abril de 2020; aprovado na Câmara dos Deputados no dia primeiro de dezembro de 2021 e no Senado em nove de novembro do mesmo ano. Bolsonaro vetou o trecho que estabelecia que a empresa de aplicativo deveria fornecer alimentação ao entregador por meio dos programas de alimentação do trabalhador.

Uma das exigências da lei é que a empresa de aplicativo contrate seguro contra acidentes, sem franquia, para o entregador, cobrindo acidentes durante o período de retirada e entrega de produtos. Para o autor do projeto, depurado Ivan Valente, o projeto deveria ter sido votado há mais tempo, “Há mais de um milhão de entregadores e, neste momento de pandemia, eles se tornaram mais que essenciais, entregando alimentos e remédios”. 

“A gente só pede o básico do básico para o ser humano viver bem”, resume Galo quando explica porque decidiu tentar organizar os entregadores de aplicativos. O entregador na juventude sonhava ser um rapper e foram as letras politizadas dos grupos de rapper que levaram Galo a pensar sobre as desigualdades sociais.

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Os desafios do Jornalismo em discussão

Rosental Calmon, professor da Universidade do Texas, em Austin, Fausto Salvadori da Ponte e Kátia Brasil do Amazônica Real participam do fórum que acontece amanhã, quinta (14) às 18h30.

Por Congresso em Foco

Relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) traz conclusões alarmantes sobre os riscos que o jornalismo profissional e independente enfrenta diante do crescimento exponencial das redes sociais. Os ataques não são apenas virtuais. De 2016 até o final de 2021, a Unesco registrou assassinatos de 455 jornalistas, que morreram por causa de seu trabalho ou enquanto o exerciam. Quase nove de cada dez desses assassinatos continuam sem solução.

De acordo com pesquisa, na ausência do jornalismo profissional, as fake news se espalham pelas redes sociais de forma apavorante. Situação agravada na pandemia. Em setembro de 2020, mais de 1 milhão de postagens circularam no Twitter com informações imprecisas, não confiáveis ??ou enganosas relacionadas à pandemia, conforme o Observatório de Infodemias Covid-19 da Fondazione Bruno Kessler.

No Brasil a situação também é preocupante. Levantamento divulgado no último dia 7 pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou 453 ataques à imprensa no país em 2021. Em 69% dos casos, as agressões foram feitas por agentes públicos. Só o presidente Jair Bolsonaro foi responsável por quase 20% delas.

As agressões também são maiores contra as mulheres. Em 2020, 37,5% dos ataques a profissionais de imprensa brasileiros foram direcionados a mulheres, segundo a Abraji. Elas foram alvos constantes de agressões, restrições na internet, discursos estigmatizantes e processos judiciais.

Diante desse probelma, um fórum produzido pelo Congresso em Foco discute, na próxima quinta-feira (14), às 18h30, os desafios do jornalismo na atualidade. Participarão do programa os jornalistas Rosental Calmon Alves (diretor do Knight Center for Journalism in the Americas e professor da Universidade do Texas), Fausto Salvadori (Ponte Jornalismo) e a Kátia Brasil (Amazônia Real). A apresentação será de Sylvio Costa, fundador do Congresso em Foco.

O debate também envolverá a crise de credibilidade da imprensa e as novas possibilidades e dificuldades criadas pela era digital quanto os obstáculos existentes para o exercício profissional no governo Bolsonaro. Os convidados também falarão sobre novas mídias digitais que buscam a pluralidade, explorando pautas em geral ignoradas pela imprensa tradicional. A exibição acontece nas páginas do Congresso em Foco nas redes sociais e também no Youtube no link abaixo.

Saiba mais sobre os convidados do Talk:

Os convidados

Rosental Calmon Alves é diretor do Knight Center for Journalism in the Americas, integrante do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e professor da Universidade do Texas, em Austin. Calmon criou em 1991, em parceria entre o Jornal do Brasil e a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, o primeiro serviço de notícias em tempo real do Brasil. Foi responsável pelo lançamento do JB Online, o primeiro jornal brasileiro na internet.

Fausto Salvadori é diretor de redação e um dos fundadores da Ponte Jornalismo. O jornalista foi um dos vencedores do prêmio Vladimir Herzog de 2019, na categoria Produção Jornalística em Multimídia, e recebeu menção honrosa no mesmo prêmio, na categoria Texto, em 2013. Trabalhou como repórter em sites, revistas e jornais como Vice, Trip, TPM, Galileu, Folha.com, Agora SP e Jornal da Tarde, entre outros.

Kátia Brasil é co-fundadora e editora-executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus. Formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, é radicada na Amazônia desde os anos 1990, onde trabalhou na TV Cultura e em jornais, como O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Kátia ganhou o Prêmio Esso Regional Norte em 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019. Ganhou o Prêmio Abraji de 2020 e o Comunique-se em 2021. Está na segunda posição dos +Premiados da Imprensa Brasileira 2021. É conselheira da Artigo 19 em defesa da Liberdade de Expressão.

Campanha incentiva a juventude ao cadastramento eleitoral

Iniciativa tem como objetivo a retirada do título de eleitor

Por Hélio Euclides e Daniel Santos (*), em 13/04/2022 às 07h.

  Apertar algumas teclas numeradas, clicar no botão verde, que logo vem com uma musiquinha. Algo fácil e ao mesmo tempo muito importante, pois ajuda a escolher uma pessoa para um cargo público que pode mudar a situação do estado e do país. Este ano a campanha eleitoral já começou, mas não é para eleger nenhum candidato ainda, e sim levar jovens entre 16 e 18 anos a se apresentarem como eleitores em frente a urna eletrônica. Para isso, os jovens têm menos de um mês para o cadastro na Justiça Eleitoral para tirarem o Título de Eleitor. 

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o engajamento de jovens de 16 e 17 anos é o mais baixo registrado nos últimos 30 anos. O mês de fevereiro deste ano teve o menor número de eleitores na faixa etária da história, com cerca de 830 mil jovens com o novo documento. Já o mês de março registrou pouco mais de um milhão e 50 mil pessoas da faixa etária aptas para votar, ou seja, 17,5% de jovens que poderiam estar com o documento, segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse fenômeno se repete como nos últimos pleitos. Em 2018, a Justiça Eleitoral chegou a criar a campanha #vamosvotarlogo, com visitas a escolas e ações nas redes sociais.

As possíveis desmotivações dos jovens para votar se dão pela desconfiança no sistema político, o envelhecimento dos líderes partidários e o desemprego no país. Para reverter essa situação, o Instituto Pensamentos e Ações para Defesa da Democracia (IPAD), lançou a campanha #BrotaNaUrna, que tem o objetivo de estimular a juventude negra e periférica a votar nas próximas eleições. “Percebemos poucos jovens indo às urnas. Em uma palestra para jovens em idade para ter o título, dos 30 participantes, 20 não tinham”, lembra Douglas Vianna, coordenador executivo do IPAD Polo Rio de Janeiro.

A campanha #BrotaNaUrna começou em 15 de março, com a proposta de uma conversa na linguagem jovem, utilizando estratégias como os memes e as redes sociais. A preocupação é que a campanha já está em contagem regressiva. “Temos menos de um mês para mostrar ao jovem a necessidade de mudar um cenário onde os políticos vivem de herança dos pais. O pior é que se o jovem não escolher, alguém vai decidir por eles”, adverte. A campanha também tem como objetivo facilitar a vida de quem deseja o título de Eleitor, mostrando o passo a passo para acessar o serviço. 

A visibilidade da política no dia a dia da juventude é a intenção da campanha. “Queremos que o jovem da Maré seja impactado pela ação. Para que ele não seja apenas um replicador de discurso, mostrar que são capazes de trazer mudanças significativas na vida de todos. É preciso realizar um pleito diferente de 2018, com voto consciente e o engajamento de nossos jovens”, diz. A campanha tem como meta mostrar a potencialização dos sujeitos periféricos por direitos. Além de grifar que o direito ao voto é tão precioso quanto qualquer outro.

O prazo para emitir o documento é até o dia 04 de maio. Os organizadores da campanha no território estão na rua para fazer a ponte entre o Título de Eleitor e os jovens. Para quem deseja tirar o título ou regularizar, pode procurar o grupo todas as quartas-feiras, na Rua Sargento Silva Nunes, 1.012, Nova Holanda, das 9h às 18h. A novidade deste ano é que tudo é feito pela internet, sem precisar sair de casa. Para mais informações, acesse a página #BrotaNaUrna no site do IPAD ou no Instagram.

Outro local para exercer a cidadania é a Associação de Moradores da Nova Holanda, que em conjunto com a Empresa Poética está com a campanha de emissão e regularização do título de eleitor. A equipe da orientação jurídica estará nos dias 09 e 23 de Abril, no horário das 10h às 15h, oferecendo esse atendimento de forma presencial e gratuita a todos jovens e adultos moradores de favela e periferia. Local:  Rua das Palafitas (antiga Tancredo Neves, conhecida como Larga), s/n, Nova Holanda.

A importância do jovem na política

Entre os menores de idade, o voto não é obrigatório. Mas aqueles que têm idade acima de 16 anos podem se cadastrar para a eleição. Todos os que completam 16 anos até o dia 2 de outubro podem requerer o título. Lembrando que eleitores têm até o dia 4 de maio para regularizar situação na Justiça Eleitoral e estarem aptos para votar em outubro.

Mas não é só possuir o documento, é preciso a conscientização contra a omissão, quando se utiliza os artifícios do voto nulo ou branco. Para Ricardo Ismael, professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), a posse do Título de Eleitor e a juventude mais próxima da política são temas bastante relevantes, com a defesa que o jovem pode abraçar o direcionamento político. “O jovem precisa se resolver e exercer a cidadania, propondo uma nova agenda e realizando a fiscalização. É necessário catalisar essa energia do jovem e transformar o romantismo em realidade”, comenta.

O professor destaca três aspectos. Primeiro que a juventude brasileira precisa se convencer de que é possível a mudança e renovação da política pelo voto, em especial pelas questões da desigualdade social e a corrupção. Isso como eleitor ou candidato. O segundo aspecto é que o Brasil tem vários problemas não resolvidos. Isso fica claro quando se avalia esta década, que foi muito ruim, com escândalos de corrupção, recessão e a falta de políticas públicas. Já o terceiro é o desinteresse, com fala do jovem que pensa em ir para fora do país. Acreditando que os problemas não serão resolvidos, ignoram a política.

Ismael acredita que outros jovens, lideranças comunitárias podem contribuir diretamente para a conscientização da juventude. “O país precisa de lideranças e movimentos sociais que inspirem o jovem a levantar do sofá e ir à luta. Esta liderança pode estimular o jovem a uma maior participação na política, como um ativismo comunitário. Por outro lado, a instituição educacional precisa ajudar na formação de lideranças e de uma mobilização. É preciso multiplicar lideranças como Martin Luther King e Marielle Franco”, conclui. 

Passo a passo para tirar o Título de Eleitor

Para fazer o alistamento eleitoral pela primeira vez, basta acessar o site do TSE, selecionar a opção “não tenho” na guia “Título de Eleitor” e preencher todos os campos indicados com os dados pessoais, como nome completo, e-mail, número do RG e local de nascimento.

O sistema vai pedir o envio de pelo menos quatro fotografias para comprovar a identidade do eleitor ou eleitora. A primeira delas é uma fotografia, como selfie, segurando um documento oficial de identificação. As outras duas são da própria documentação, frente e verso, usada pela pessoa para se identificar na primeira foto. Já a quarta é a foto de um comprovante de residência.

Após o cadastro, é possível acompanhar a tramitação do pedido também pela internet. Para isso, basta acessar a guia “Acompanhar Requerimento” e informar o número do protocolo gerado durante a primeira etapa do atendimento. Processadas as informações, se não houver qualquer pendência, basta fazer o download gratuito do aplicativo e-Título no telefone celular ou tablet de qualquer plataforma, sendo Android e iOS, a partir daí, utilizar a versão digital do documento, dispensando o título em papel. Para mais informações sobre a regularização do Título de Eleitor basta clicar aqui.

(*) Daniel Santos é estudante universitário vinculado ao projeto de extensão Laboratório Conexão UFRJ, uma parceria entre o Maré de Notícias e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Luto proibido

Perder quem se ama e não poder chorar essa dor é a cruel realidade para mulheres na Maré e em outras regiões periféricas do Brasil

Por Daniele Moura e Tamyres Matos

Vidas que valem menos. Mortes que não podem ser lamentadas. Cotidianamente, moradores de favelas e periferias vivem a relativização da importância de algumas existências, um dos resultados da política bélica de (in)segurança pública. Os reflexos da violência urbana derrubam corpos negros pelo chão e essa situação ganha um caráter perigoso de normalidade. E, mesmo após viver a perda mais dolorosa que provavelmente a vida irá lhes impor, as mães destas vítimas — em sua maioria jovens — não têm o direito de sofrerem por essa dor, por vergonha e/ou medo.

A auxiliar de serviços gerais Jaqueline Tomaz dos Santos conta que seu filho foi assassinado em uma ação da polícia em 2017. F., de 17 anos, trabalhava vendendo pipoca, biscoitos e refrigerantes entre as passarelas 8 e 10 da Avenida Brasil. Durante uma ação da polícia, os dois rapazes que estavam com ele correram, mas o caçula de Jaqueline perdeu sua vida, provavelmente, por não ter entendido o comando dos policiais em questão: o jovem não correu porque era surdo.

“O defensor público me falou que os policiais devem ter pedido para os meninos saírem da pista e os outros não morreram porque se jogaram no chão. Eles correram, senão também iriam morrer. Meu filho não correu. Eu não tive direito ao luto, eu tive luta pra conseguir dinheiro para pagar o enterro do meu filho no Caju. Não tive ajuda do Estado, a ajuda que eu tive foi da comunidade, que me emprestou dinheiro para não deixar o corpo do meu filho em cima da terra”, relembra.

Com o processo do caso do jovem arquivado, Jaqueline ainda se sente no papel de provar que sua morte foi resultado de uma ação criminosa de representantes do Estado. Durante a entrevista, ela reforça a todo momento: “Ele não era bandido, vendia suas mercadorias todos os dias.” E se defende das acusações que são feitas em casos como o do seu filho: “Se ele fosse bandido, ele teria corrido; se ele fosse bandido, estaria de pistola. Tiraram a vida do meu filho porque ele não correu, ele não escutava.”

Dificilmente casos como este recebem a devida atenção, pois boa parte da sociedade assume que o jovem que morreu tem algum tipo de “culpa no cartório”. O luto de mães como Jaqueline se torna proibido, recriminado por vizinhos, amigos e, até mesmo, familiares. O caso da administradora Clarisse(*) também nos traz essa reflexão. Ela perdeu o filho de 26 anos há três anos, vítima de grupos civis armados na Maré. 

O rapaz deixou dois filhos; segundo a mãe, nunca se envolveu com o crime. Sem ter descoberto o que motivou a morte do rapaz, Clarisse sofreu ameaças para que não apelasse pela investigação do caso. “Não viver o luto de um filho morto a tiros na comunidade por estes grupos é como viver na ditadura do medo. Você não pode falar, não pode se expressar, se comprometer, você tem que viver o luto dentro de você, dentro de casa, onde ninguém possa apontar o dedo ou chamar sua atenção. Você é prisioneira do medo”, desabafa Clarisse.

Lidiane Malanquini, pesquisadora e coordenadora do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, diz que é comum que o direito ao luto seja negado, individual e coletivamente, aos moradores de favelas e periferias brasileiras. Em sua tese de doutorado ‘Ninguém cria um filho pra morrer’: reflexões sobre mortes e moralidades em uma favela carioca, a pesquisadora analisa os critérios de julgamento que cercam a situação e de que maneira o perfil racial das vítimas influencia a resposta social a essas mortes.

“Não é todo bandido que pode ser morto ou tem mais chances de ser assassinado; é um bandido específico, que comete um determinado tipo de crime. Isso não é uma coisa que foi inventada como ‘mirar na cabecinha e atirar’; são discursos que recebem apoio velado da sociedade para que a polícia os ponha em prática. Então, não é o policial que vai lá e atira sozinho, existe toda uma sociedade que legitima esses crimes, que não se choca e não se mobiliza quando eles acontecem”, explica Lidiane, referindo-se especificamente às mortes com participação de policiais.

Atirar primeiro, perguntar depois: polícia do estado do Rio de Janeiro tem uma das taxas de letalidade policial mais altas do país – Foto: Elizângela Leite

Discriminação atravessa estágios do luto

“Mas ele era vagabundo.” Essa é a frase que uma mãe mareense ouviu de um representante do Estado ao tentar entender como seu filho havia morrido, horas depois de receber a pior notícia da sua vida. Não importava que ele estivesse desarmado e de costas; do ponto de vista do policial, aquela vida era menos legítima e, portanto, a dor daquela mulher não tinha validade. O relato foi compartilhado com um grupo de mulheres que perderam seus familiares no contexto da violência urbana na sede da Redes da Maré em outubro de 2021.

“Quando morre um jovem branco na Vieira Souto (Ipanema) ou em outros bairros não periféricos, ninguém pergunta se ele era envolvido ou não [com o crime]. Ninguém questiona o direito de viver desse jovem, ninguém vai cercear o direito dessa mãe de viver seu luto. Em contrapartida, quando morre alguém na favela, o primeiro movimento é perguntar se o jovem era envolvido. Essa situação é atravessada pelas questões de classe, raça e local de moradia, além das modalidades de crimes passíveis de morte ou não”, observa a pesquisadora.

 É sempre importante lembrar que, dentro da lei, a polícia não tem o direito de matar ninguém — tenha ou não a pessoa envolvimento com atividades criminosas. No Brasil não há pena de morte. “É como se a morte dessas pessoas fosse justificada pela atuação delas em grupos armados, em atividades ilícitas, esquecendo que a gente não tem pena de morte no Brasil. Toda e qualquer pessoa que perde um familiar tem direito de viver um luto, principalmente mães. Mas, em casos específicos, esse luto é proibido. Ele tem que ser escondido, não pode ser público”, afirma Lidiane.

Durante a conversa, Jaqueline chora incontáveis vezes ao descrever a dor do silenciamento. “Eu sou muito calada, não converso com ninguém. Fui ao teatro com as meninas [do grupo de Mães da Maré] e só chorei. Meu outro filho não me procura porque ele acha que a culpa é minha; era eu que comprava as coisas para o meu caçula vender. Meu filho morreu por minha causa… [Chora.] Você acha que eu vou esquecer isso? Quem vai tirar isso da minha cabeça? Só quando Deus me finalizar, até lá, para o resto da minha vida, tenho que viver imaginando isso”, acredita, assumindo uma culpa sem sentido.

Para Clarisse, essa é uma dor silenciosa a ser carregada pelo resto da vida, mas  a incomoda a maneira como isso é feito: “Eu nasci e cresci aqui na Maré. Gostaria de ser livre para viver esse luto, que é recluso, fechado. Teve gente que se afastou de mim, teve gente que não quis falar comigo e tem gente que não me dirige a palavra até hoje.”

Durante a construção de sua pesquisa, Lidiane conversou com algumas dessas mães e há diversos pontos de contato na forma como elas lidam com a dor inominável. “Nas conversas com ela (mãe que perdeu o filho acusado de envolvimento com grupos civis armados), pude compreender que existia dor, sofrimento e desespero pela morte do seu filho, mas que precisavam ser recolhidos e mantidos em sigilo. A sensação que tive durante as conversas é que aquela mulher não se permitia viver o luto em público, mas que tinha um processo que não dividia com terceiros”, consta no texto do estudo.

A hipótese defendida pela pesquisadora é que há uma série de moralidades sobre a possível atuação de jovens em redes criminosas junto à responsabilidade da mulher na criação dos filhos, e isso interfere na construção do luto dessas mulheres. As mortes de crianças e inocentes geram compaixão, enquanto mortes brutais e intencionais de rapazes muito jovens —  mas potencialmente “envolvidos” — não ganham tamanha visibilidade, não geram comoção pública, nem mesmo quando a brutalidade é injustificada.

(*) Clarisse é o nome fictício porque a entrevista prefere não se identificar