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Ronda Maré de Notícias: Aumento de casos de covid-19 forçam hospitais a suspenderem cirurgias

Cirurgias para pacientes diagnosticados com câncer e doenças do coração seguem mantidas

Por Edu Carvalho, em 18/12/2020, às 19h20
Editado por Andressa Cabral Botelho

Nesta sexta-feira, 18, a Prefeitura do Rio suspendeu, mais uma vez, as cirurgias eletivas na rede pública municipal. A medida leva em consideração o aumento de casos e da demanda de leitos por pacientes com covid-19. Ao todo, são 3.493 novos casos da covid-19, chegando perto de bater a marca de 400 mil infectados. Nas favelas do Rio, segundo o Painel Unificador COVID-19 Nas Favelas, são 26.230 casos e 2.917 mortes, entre confirmadas e autodeclarados. Na Maré, entre os dias 08 e 14 de dezembro, foram registrados 127 novos casos, de acordo com o boletim De Olho no Corona!. Ainda de acordo com o levantamento, a Maré possui 1.205 casos e 137 mortes pelo novo coronavírus.

Segundo a resolução da Secretaria Municipal de Saúde, “a situação demanda o emprego urgente de medidas de prevenção, controle e contenção de riscos, danos e agravos à saúde pública”. As exceções ficam por conta de cirurgias oncológicas e cardiovasculares. Para as demais situações, a SMS recomenda que só sejam realizados procedimentos cirúrgicos em casos de urgência e emergência.

A suspensão das cirurgias eletivas é por tempo indeterminado. Profissionais e recursos materiais serão direcionados para o enfrentamento da pandemia. O clima é de apreensão frente às festas de Natal e Ano Novo, quando famílias vão se encontrar após um longo período, o que pode significar um repique da pandemia. O país registra até o momento 7.162.978 casos e 185.850 mortes, de acordo com o Ministério da Saúde. Nas últimas 24h, 52.544 pessoas testaram positivo para covid-19.

Vacinação contra covid-19

O governo federal apresentou no início da semana o Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a covid-19. Ainda sem data de início, ele prevê iniciar a vacinação por quatro grupos prioritários, somando 50 milhões de pessoas. A prioridade será para trabalhadores da saúde, idosos, pessoas com doenças crônicas (hipertensão de difícil controle, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, entre outras), professores, forças de segurança e salvamento e funcionários do sistema prisional. Estes grupos receberão duas doses em um intervalo de 14 dias entre a primeira e a segunda injeção.

Fazendo o Bem Maré faz arrecadação de alimentos

O grupo “Fazendo o Bem Maré” está planejando uma ação de fim de ano para os moradores do território no dia 29/12, terça-feira. Para a preparação da ceia, estão arrecadando os seguintes alimentos: 40kg peito de frango, 10kg de arroz, 5kg de feijão, 5kg de macarrão parafuso, 4kg de farinha, 4kg de cebola, 1kg de tomate, 1kg de alho, 3kg de maionese, 2 latas de óleo, 5 latas de milho, orégano, pimenta, água, guaravita e descartáveis. O grupo aceita doações até o dia 23/12 na Rua Projetada D, n°174, na favela Salsa e Merengue, Maré. Também arrecadam fundos para outras ações de voluntariado. Para doar clique aqui.

Inscrições abertas para Oficina Mulheres Ceramistas da Maré

O projeto Mulheres Ceramistas da Maré está com inscrições abertas para uma oficina gratuita e on-line de cerâmica negra. Serão disponibilizadas cinco aulas com a história do projeto, história da arte ancestral da cerâmica negra e também suas técnicas. A iniciativa é realizada pela Maré de Artes e Esportes, com a curadoria de Flávio Rocha. Para fazer a inscrição, clique aqui.

Coletivos da Maré recebem homenagem

A Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus da Redes da Maré e o grupo Frente de Mobilização da Maré, composto por moradores voluntários, receberam a homenagem Carolina Maria de Jesus da Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), pelas mãos da deputada Renata Souza, cria da Maré e presidente da Comissão. A homenagem é uma forma de reconhecer a atuação territorial no combate à pandemia de covid-19 nas 16 favelas da Maré e suas consequências sociais vividas pelos moradores do território. 

Ação de vacinação contra a gripe neste final de semana

Neste fim de semana, dias 19 e 20 de dezembro, terá uma ação de vacinação de tetravalente na Maré, que combate o vírus da gripe e outros. No sábado (19), a campanha será das 9h às 16h na Nova Holanda (Rua Teixeira Ribeiro, 521 no Galpão Ritma). Já no dia domingo (20) a vacinação será na Vila dos Pinheiros, especificamente no CIEP Gustavo Capanema (Via a1 s/n), também das 9h às 16h na. A ação é uma parceria da Redes da Maré com a Drogarias Pacheco. 

Fique atento às contra-indicações:?

  • Gestantes, crianças menores de 6 meses de idade, crianças que tenham alergia à neomicina ou outro componente da sua fórmula, que receberam transfusão sanguínea nos últimos 3 meses ou que tem alguma doença que prejudique a imunidade, como HIV ou câncer;
  • Pessoas com febre ou sintomas de gripe no momento da vacinação;
  • Alérgicos a ovos de galinha;
  • Crianças que apresentem alguma infecção aguda como febre alta, entretanto, não deve deixar de ser feita em casos de infecções leves, como resfriados;
  • Pessoas que estejam passando por algum tratamento que diminua o funcionamento do sistema imunológico.

Banco de Leite Humano busca doadoras

Já pensou em ser uma doadora de leite materno e ajudar a salvar a vida de um bebê recém-nascido? Fazer parte do Banco de Leite Humano é muito mais fácil do que as pessoas imaginam. Os pré-requisitos são poucos: a mulher precisa ter um bebê que está amamentando e este bebê tem que estar evoluindo bem de peso e crescimento. Para as mamães que querem doar, há a possibilidade dos profissionais irem até a residência buscar o leite. O hospital Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, tem um carro que a equipe consegue fazer a coleta do material sempre que uma mãe entra em contato. Em caso de dúvida sobre a doação de leite materno, é só entrar em contato pelo disque amamentação: (21) 3675-0910. O atendimento é 24h.

Hospital Federal de Bonsucesso tem classe hospitalar

A Secretaria Municipal de Educação renovou o convênio com a classe hospitalar do Hospital Federal de Bonsucesso. As classes hospitalares funcionam como uma escola da Rede Municipal de Ensino: de segunda a sexta-feira, em horários de aula definidos, as crianças internadas nas unidades hospitalares podem frequentar as aulas, mesmo que não estudem em uma escola da Prefeitura. O único pré-requisito é que o aluno seja liberado pela equipe médica para frequentar a sala de aula – em alguns casos, as lições são ensinadas no leito do hospital.

Durante a pandemia, os alunos não pararam de receber atendimento. Mesmo com a suspensão das aulas em toda a Rede Municipal de Ensino, as classes hospitalares receberam aulas remotas por meio dos aplicativos Escola.Rio e SME Carioca 2020.

Mudanças na rotina de coleta no Natal e no Ano Novo

A Comlurb informa que as coletas de lixo domiciliar serão alteradas, excepcionalmente, no Natal e no Ano Novo para possibilitar que os garis tenham a oportunidade de comemorar junto com as suas famílias. Atenção às mudanças!

No Centro da cidade e Zona Portuária, a coleta domiciliar dos dias 24/12, 25/12, 26/12, 31/12, 01/01 e 02/01, será realizada a partir das 15h.  

Em Copacabana, a coleta domiciliar noturna dos dias 24/12, 25/12, 31/12 e 01/01, será alterada para às 21h dos dias 25/12, 26/12, 01/01 e 02/01, respectivamente. A coleta dos dias 26/12 e 02/01, será alterada, respectivamente, para os dias 27/12 e 03/01, a partir das 17h.

Nas demais ruas da Zona Sul (excluindo Copacabana), na Zona Norte e na Zona Oeste, a coleta domiciliar noturna será antecipada para às 15h nos dias 24/12 e 31/12.

Abertura de matrícula para novos alunos  

A Secretaria Municipal de Educação informa que o período de matrícula para o ano letivo de 2021 para as unidades escolares da Rede Municipal de Ensino começou hoje (18/12). A inscrição será realizada somente pela internet, no endereço eletrônico www.matricula.rio.

Calendário de matrícula para o ano letivo de 2021:

18 a 21/12/2020 – Educação Especial – alunos a partir de 4 anos com deficiência
05 a 10/01/2021 – Creche – crianças de 6 meses a 3 anos e 11 meses;
08 a 13/01/2021 – Pré-escola/Ensino Fundamental e EJA (transferência interna) – alunos de 4 anos em diante;
19 a 24/01/2021 – Pré-escola/Ensino Fundamental e EJA (alunos novos) – alunos de 4 anos em diante.

Agenda cultural

Neste sábado, dia 19 de dezembro, às 17h, o LH2 – Leopoldina Hip Hop, celebra seus 3 anos com a sua 10ª edição, sendo a primeira em formato online, mesclando o conceito de evento com programa de estúdio. A estreia acontece pelo Youtube. Afrodite BXD, DJ Elayne Sacramento, Jump MC, DJ Pirigo e Santuspe integram o line up desta edição. Nyl MC, que também é um dos idealizadores e coordenadores do projeto, é o apresentador

Nesse sábado, dia 19, o ator Ícaro Silva se apresenta com a peça ‘’Ícaro and Black Stars’’ no Festa Internacional de Teatro de Angra dos Reis, que acontece às 21h no YouTube do festival. 

O cantor Caetano Veloso faz sua live de Natal em seu canal do Youtube. A transmissão também poderá ser vista nos canais 530 e 500 da Claro TV.

Perdeu as notícias da semana? O Maré de Notícias acha para você!

Segunda-feira (14/12)
Para onde vai nosso lixo? Por Thais Cavalcante. Leia aqui
Em segunda edição, Escuta Festival movimenta artistas periféricos para debates sobre cultura no Instituto Moreira Salles, por Edu Carvalho. Leia aqui.
Prefeitura e Estado abrem período de inscrições para escolas; veja calendário, por Edu Carvalho. Leia mais 
Guia identifica 26 museus de favelas e projetos de memória, uma parceria entre Digital Brazil Project, do Centro Behner Stiefel de Estudos Brasileiros da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia, e a Comcat. Leia mais.

Terça-feira (15/12)
Fim de ano em família deve ser com distanciamento, uso de máscaras e álcool em gel. Por Hélio Euclides. Leia mais.
Um mundo que não vê pessoas com deficiência, escrito por Hélio Euclides. Leia mais. 
Governo do Rio lança plano de prevenção para chuvas durante o verão, por Edu Carvalho. Leia mais.
Réveillon Rio-2021 é cancelado em função da pandemia da covid-19, por Edu Carvalho. Leia mais

Quarta-feira (16/12)
Talco, por Carlos André. Leia mais.
Artistas da Maré criam podcast de ficção durante pandemia, por Thaís Cavalcante. Leia aqui.
Governo Federal e Ministério da Saúde lançam plano de operação para vacina contra covid-19, por Edu Carvalho. Leia mais

Quinta-feira (17/12)
O samba e a cultura popular, por Andressa Cabral e Hélio Euclides. Leia aqui.
Moradores criam árvores gigantes para manter o espírito natalino vivo na Maré, por Hélio Euclides. Leia mais

Sexta-feira (18/12)
Projeto Maré de Sabores fará ceias de Natal por encomenda, por Hélio Euclides. Leia aqui

Projeto Maré de Sabores fará ceias de Natal por encomenda

Iniciativa da Casa das Mulheres, no Parque União, é realizado pela Redes da Maré

Por Hélio Euclides em 18/12/2020 às 12h30

Editado por Edu Carvalho

A gente não quer só comida, a gente quer a vida como a vida quer” diz os versos da música ‘Comida’,  feita por Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto. ‘Não só de pão se vive o homem’ diz a Palavra, enfatizando junto aos versos dos Titãs que para se viver precisa-se muito mais do que o alimento. Para quem está no Maré de Sabores, essa realidade é percebida na prática diariamente. As mulheres envolvidas não são só cozinheiras, elas formam um projeto que atrela desenvolvimento territorial a iniciativas ligadas à área de Gastronomia. Este ano, elas lutaram contra a pandemia, com composição de 300 quentinhas diárias para a Maré. Agora o projeto está com dedicação total para um buffet natalino, destinado para toda a cidade, mas com um olhar especial para os moradores da Maré.

O Maré de Sabores, que funciona na Casas das Mulheres, no Parque União, é um projeto realizado pela Redes da Maré. Formado há dez anos, o projeto promove novos hábitos alimentares baseados numa alimentação saudável, orgânica e sustentável. Além da oficina de gastronomia, oferece também oficina de Gênero e Cidadania e Empreendedorismo, nas quais as alunas são encorajadas a refletir sobre autonomia, autoestima e o papel que ocupam na sociedade.

Em 2018 e 2019, o grupo participou com o buffet de diversos eventos. Este ano, com a pandemia e o fechamento do mercado de eventos, o projeto olhou para o território e se engajou com o enfrentamento da covid na Maré. Pensando na questão da segurança alimentar, o projeto ingressou na campanha Maré Diz Não ao Coronavírus, atuando na distribuição de refeições diárias aos mais vulneráveis. Agora o Maré de Sabores oferta serviço para o mercado físico e o cardápio de Natal é o recomeço para essa nova etapa: criar produtos e ofertas específicas, principalmente para os mareeses.

Para Mariana Aleixo, coordenadora do Maré de Sabores, este ano foi marcante para o grupo. “Na pandemia, a questão da fome ficou mais visível. Na Maré percebemos pessoas que não tinham acesso à comida. O Maré de Sabores realizou um acolhimento a essas pessoas, com alimento e fortalecimento da imunidade. A comida foi essa forma de enfrentamento”, comenta.

A experiência contribuiu para a criação do momento que nasce o buffet natalino. “Nas quentinhas o cardápio era diferenciado, algumas pessoas se surpreendiam com lombo, que é uma comida do Natal. Algo que fazíamos para prestigiar o morador, com uma alimentação de qualidade. Então, foi daí que pensamos no retorno do buffet neste tempo tão especial para todos”, diz Aleixo. Para um trabalho seguro e evitar aglomeração, a solução foi o delivery, a entrega para estar junto à mesa dos moradores, mas sem colocar ninguém em risco. “A novidade é ainda o foco na Maré, com o desejo da circulação do serviço no território. Além disso, pensamos num cardápio que traz uma alimentação com base na produção artesanal e sem ultraprocessados”, conta Bia Giacomo, orientadora, marketing e comunicação do Maré de Sabores.

Fortalecimento do projeto e das mulheres

Não só o território vai saborear os quitutes, mas toda a cidade é convidada ao consumo do buffet natalino, tendo o objetivo de impactar no processo de democratização, com a sustentabilidade para o projeto, melhorando a qualidade de vida das mulheres da Maré. “A pessoa não está apenas comprando uma comida ou um serviço, é uma dimensão maior, que é fortalecer o projeto e acreditar na história do Maré de Sabores”, diz Paula Duarte, instrutora de gastronomia. Para quem está receoso com o preço do buffet, ela dá uma boa notícia: “É um cardápio acessível, que rompe o imaginário do discurso de comida cara”.

O cardápio é extenso, com muita influência do Nordeste, uma vez que 60% dos moradores da Maré são nordestinos ou descendentes deles. “O cardápio foge do tradicional e da mesmice, mas remete à infância, com toques nordestinos, como carne de Sol à moda Maré de Sabores, o pernil pururuca, a compota de batata calabresa e outros. Algo específico, são produtos feitos no local, como a carne de sol e pão, nada industrializado. É uma comida que dá conforto, nada pesado”, conta Michele Nogueira, instrutora de gastronomia e moradora da Baixa do Sapateiro.

Raphael Vicente, sua avó e madrinha experimentaram os quitutes do cardápio do buffet natalino do Maré de Sabores. Eles adoraram o bolinho de polenta com recheio de ragu de linguicinha, rabanada com recheio de creme de maracujá e ketchup com goiabada. “Foi uma explosão de sabores. A rabanada super combinou com o recheio de maracujá, mas meu favorito foi o ketchup com goiabada, que colocava em tudo e sempre combinava com qualquer comida. A comida traz memórias, como a rabanada. Um sentimento bom porque o Natal é uma das melhores épocas do ano para mim”, conclui.

O buffet natalino traz iguarias que já são marcas do projeto, como compotas, geleias, pães e molhos, tudo confeccionado de forma artesanal, sem aditivos químicos. O que está mais em saída é o kit de composta, uma ótima dica para presentear. A salada de grão de bico com bacalhau e belisquetes também estão entre os campeões de venda, como o bolinho de polenta com ragu de linguiça calabresa, o bolinho de Vatapá com carne seca e o croquete de banana da terra com queijo coalho.

Conheça o cardápio natalino preparado pelo Maré de Sabores, acessando o link: http://www.redesdamare.org.br/media/filemanager/natal_mare_sabores.pdf.

Para saber mais sobre o projeto e solicitar a ceia, acesse: redesdamare/maredesabores e Instagram: @maredesabores. 

Moradores criam árvores gigantes para manter espírito natalino vivo na Maré

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Símbolo da festa de final de ano sai da sala e agora ocupa ruas e escola

Por Hélio Euclides, em 17/12/2020, às 09h40

Editado por Edu Carvalho

Este ano, a tradicional Árvore de Natal da Lagoa, zona sul do Rio e que anualmente conduzia moradores de diversas partes do Rio à região, não será montada. Mas os moradores, pelo menos na Maré, não ficaram órfãos do símbolo gigante envolto de adornos e enfeites. Além de árvores iluminadas pelas ruas das 16 favelas, há também um grande letreiro trazendo uma mensagem de esperança no alto do Morro do Timbau e da Praça do Dezoito, na Baixa do Sapateiro, com suas grades recheadas de inúmeras lâmpadas. É dessa forma que o clima natalino na Maré vai sendo fortalecido, com a presença de um grande pinheiro artificial na entrada da Vila do João, em cima de um contêiner. E a novidade trazida para este ano é uma árvore feita de garrafa pet, dentro do terreno do Ciep Hélio Smidt, no Rubens Vaz.

O símbolo das festas natalinas tem sua origem com várias versões. Para alguns, tudo começou com os povos pagãos da região dos países do nordeste do Continente Europeu. Depois tentou associar a tradição e a religião. Há quem diga também que foi o alemão Martinho Lutero quem, encantado com a beleza de pinheiros cobertos de neve, reproduziu, em 1530, uma versão enfeitada com algodão. Apenas no século XX essa tradição chegou à América Latina.

Na Vila do João, o artefato surge por meio do patrocínio da NHJ Contêiner, com o apoio da associação de moradores. “É maravilhoso e gratificante ter uma árvore de Natal na entrada da comunidade, pois é um símbolo que nos remete às comemorações das festividades de um ano que se vai. Representa uma comemoração das famílias reunidas, de um momento espiritual, de uma época que esquecemos as desavenças e rugas do passado, para nos unir. O Natal é a aproximação das pessoas”, conta Valtemir Messias, conhecido como Índio, presidente da Associação de Moradores da Vila do João. Ele garante que pretende providenciar outra árvore para dentro do território.

Uma árvore de Natal ecológica no Ciep

No terreno do Ciep Hélio Smidt, na favela Rubens Vaz, está sendo construída uma árvore gigante feita de garrafas pet. A ideia tem o apoio da direção da escola e da 4ª Coordenadoria Regional de Educação e é realizada pelo Projeto Encontro das Artes. A árvore de Natal é composta de aproximadamente 7.000 garrafas pet, com 14 metros de altura e 28 metros de circunferência. O projeto da árvore envolve cerca de 20 pessoas, com carga horária de mais ou menos 12 horas diárias. Serão 30 dias de trabalho para montar a árvore, que será inaugurada no dia 19 de dezembro, às 16h.

A construção da árvore vai virar um documentário, que conta tudo sobre a primeira de outras intervenções artísticas que o grupo pretende fazer. O objetivo também é agregar egressos que virão do Instituto Penal Vicente Piragibe para participar da produção. “A parceria veio para melhorar o ambiente escolar, pois a diretoria da escola não pode trabalhar sozinha, é preciso o apoio de instituições e moradores. Também temos que lembrar que a pandemia não parou com a criatividade e que desejamos um mundo sustentável. Por fim, não se pode ver jovens caírem no buraco [e não fazer nada]. Um dia caímos no buraco da criminalidade, mas somos exemplos de que é possível levantar, buscar a liberdade e querer trabalhar”, expõe Alexsander Laurindo, artesão e escultor.

A ideia veio dos componentes do Encontro das Artes, projeto que nasceu na Escola Estadual Henrique de Souza Filho – Henfil, que fica dentro do complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio. Após obterem a liberdade, os participantes do projeto colocaram em prática os ofícios que aprenderam no sistema penitenciário. “Muito bom não se sentir sozinho. Esta iniciativa da árvore tem a ajuda do comércio local, familiares e moradores. Todos com o pensamento de que educação e cultura andam juntas”, conta um dos fundadores e presidente do projeto, Odir dos Santos, que é desenhista e artista plástico. O projeto conseguiu doação de garrafas pet, lanche e materiais, como arame, lâmpadas e fios.

O grupo tem o atelier na escola, mas com o apoio de Vilmar Gomes, o popular Magá, presidente da Associação de Moradores do Rubens Vaz, Gilmar Júnior, presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda e a Ângela Viana, presidente da Associação de Moradores do Parque Maré foi possjível a criação do escritório do projeto na favela. 

O próximo passo do grupo é a realização de oficinas artísticas, com aulas de pintura a óleo sobre tela, grafite, talha em madeira, trabalhos manuais e artes em geral. As oficinas serão direcionadas para o público infantil, que muitas vezes não tem opção de lazer e conhecimento. “Não tem dinheiro que pague ver essa árvore, fruto da união de pessoas que querem o melhor para a favela”, conclui Vando Fernandes, morador da Nova Holanda. Quem desejar conhecer mais sobre o projeto, visite a página no Instagram @oficialencontrodasartes e acompanhe a produção do grupo.

O samba é cultura popular

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Resistência sempre fez parte da cultura do samba, e o sentimento se manteve com a pandemia

Maré de Notícias #119 – dezembro de 2020

Por Hélio Euclides e Andressa Cabral Botelho

“Não deixe o samba morrer. Não deixe o samba acabar. O morro foi feito de samba. De samba pra gente sambar…”, esse trecho da música “Não Deixa o Samba Morrer”, de composição de Aloísio Silva e Edson Conceição, gravado em 1975 pela Alcione, até hoje, está em evidência. A pandemia paralisou as rodas de samba e assustou quem vive do ritmo musical. Como o show não pode parar, por bom tempo as quadras das escolas de samba e casa de espetáculos deram lugar às lives, mas recentemente elas tiveram liberação para retornar respeitando o distanciamento. Dessa forma, o samba se esquivou, sacudiu, levantou a poeira e deu a volta por cima. 

O Dia Nacional do Samba é comemorado em 02 de dezembro e é uma data reconhecida pela Lei estadual n° 554, de 27 julho de 1964. Desde 2007, o samba carioca e suas expressões são reconhecidos como patrimônios culturais imateriais do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan). Ele nasce de uma mistura de batuques de escravizados com ritmos indígenas. Mas o novo gênero musical não era bem visto pelas elites escravistas do século XIX. Na virada para o século XX, o ritmo vem de Salvador para o Rio de Janeiro e vira marca cultural, principalmente, na região central do Rio, onde, até hoje, recebe uma série de rodas de samba que atrai locais e turistas. 

Uma figura importante para o samba carioca, Hilária Batista de Almeida, popularmente conhecida como Tia Ciata, baiana, cozinheira, mãe de santo e moradora da Pedra do Sal e Praça XI, dois redutos do samba no início do século XX. Ela é um símbolo de resistência por abrir a sua casa para a realização de rodas de samba, muitas vezes, reprimidas pelo poder da polícia. Foi em sua casa que o primeiro samba gravado do país, Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida, foi escrito. 

Os sambas de segunda e sexta-feira na Pedra do Sal são um dos mais populares da cidade – Foto: Andressa Cabral Botelho

O samba se refaz na batucada

A cultura foi um dos primeiros setores a parar em meio à pandemia do coronavírus. Todas as atividades que dependem da aglomeração e da venda de ingressos foram interrompidas, e não houve um plano para suprir a renda dos profissionais do setor. Alexandre de Mello Gonçalves, o músico Dão, integrante do Grupo Nova Raiz, conta que os sambistas tiveram problemas e alguns ainda estão numa fase difícil nas finanças. Toda uma estrutura, de gente que trabalha antes e na hora do evento, foi prejudicado. “Não temos apoio, a galera está sobrevivendo. Ocorreram rodas de samba clandestinas e outros jeitos para superar o perrengue da fase mais difícil da pandemia”, diz.

Apesar dos prejuízos, o músico vê o lado bom das férias forçadas. Ele destaca que o samba nunca foi tão tocado em casa por meio de lives, ouvindo os DVDs, consumindo por meio de aplicativos de música ou Youtube. “Teve gente que achou discos antigos ao arrumar suas casas. Não podia ouvir ao vivo na rua, então a casa era a solução”, fala. Dão também lembra que profissionais tiraram o tempo para estudar e  aprimorar suas técnicas, para compor, fazer arranjos e produzir vídeos. Por outro lado, alguns músicos não tiveram cabeça e inspiração, pois foram muitos os problemas enfrentados. “É um momento único e cada um tem a sua história”, conclui. 

O setor cultural envolvia mais de 5 milhões de pessoas trabalhando em 2018, representando 5,7% do total de ocupados no país – 44% desses profissionais são autônomos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). “Com certeza os profissionais envolvidos com eventos foram os mais prejudicados, porque nós fomos o último segmento a voltar a trabalhar. Nesse período de quase oito meses sem shows, os grupos e artistas de menor expressão tiveram que se reinventar e contar com a ajuda dos familiares, amigos, fãs e empresas para conseguir sobreviver com dignidade e pagar as contas”, expõe Rogerinho Ratatuia, cantor e ex-morador do Rubens Vaz.

Nesse período de pandemia, as lives surgiram como uma ótima alternativa. Por meio delas, muitos artistas e grupos conseguiram se manter visíveis no mercado, além de receberem doações financeiras e alimentos. “Infelizmente, o poder público e os governantes demoraram muito a nos enxergar. A nossa aposta agora é na Lei Aldir Blanc, que foi aprovada e irá beneficiar não só o samba, mas muitos fazedores de cultura de um modo geral”, comenta.

Para Luiz Antônio Simas, escritor e historiador, é preciso ver o outro lado, de que existe uma economia criativa que é ligada ao samba. O samba também é um elemento que proporciona muita gente viver dele. “O Rio de Janeiro tem um circuito de roda de samba, tem as escolas de samba, isso é uma economia que circula em torno desse ritmo musical que é muito importante. O samba tem congraçamento, tem a construção de sociabilidade e de identidade de grupo. Além disso, o samba, para muita gente, é um modo de ganhar a vida. Assim, ficamos numa circunstância complicada”, conta.

Simas afirma que o samba continua, e os sambistas tentam fazer o seu trabalho. Na mesma linha, ele percebe que as escolas de samba procuram conviver com esta situação. “O drama maior é dos trabalhadores do samba, aquele técnico de som, músicos e cantores da noite, os garçons das casas de show, todos foram afetados. Mas, no fim das contas, o samba tenta sobreviver, pois tem um público fiel desse gênero musical que é uma referência de criação de laços comunitários há mais de 100 anos”, diz. Ele completa que os outros gêneros musicais vêm, vão, explodem, mas é o samba que continua. 

O samba e as feijoadas do Siri de Ramos foram interrompidas com a pandemia
Foto: Elisângela Leite

Escolas de samba seguram a marimba

Em decisão inédita, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) resolveu adiar os desfiles das agremiações cariocas do Grupo Especial do Rio, de fevereiro para julho de 2021, caso haja vacinação até o primeiro trimestre do próximo ano. O Fórum Carioca de Blocos, formado pelas principais ligas, concluiu que o carnaval de rua deva seguir o mesmo caminho do adiamento. Sobre o Grupo B, Edivaldo Pereira, o Vadão, presidente da Escola de Samba Siri de Ramos, explica que todos estão aguardando o fim da eleição para bater o martelo sobre questões divergentes entre ligas, e se haverá um carnaval fora de época no meio do ano. “Essa gestão municipal não entendeu que o carnaval é cultural”, resume. Vadão afirma que, até o momento, tudo está parado na quadra. 

No Grêmio Recreativo Escola de Samba Gato de Bonsucesso, o posicionamento da presidência, diretoria e carnavalesco é de retornar aos desfiles apenas em 2022. “Para regulamentação, teremos que tirar dinheiro de pedra”, diz Jorge Geraldo, o popular Jorge Bob’s, diretor da agremiação. Para colaborar financeiramente com a escola, desde o dia 15 de novembro, retomaram as rodas de samba, que ocorrerão quinzenalmente. 

Um passado bem próximo

A Maré, como tantas favelas, tem muita força no samba. Para Jorge Bob’s, a semente foi plantada quando os moradores removidos das favelas do Pinto e do Esqueleto chegaram na Nova Holanda. Na época, nos anos 1960, a favela tinha o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Nova Holanda. Depois veio o Bloco Mataram Meu Gato, que, 25 anos depois, deu lugar à Escola de Samba Gato de Bonsucesso. No ano de fundação, 1999, a favela ainda pertencia ao bairro vizinho.

Nas décadas de 1990, o Parque União teve dois blocos, o Alegria do Parque e o Boca da Ilha, para o qual Jorge compôs um samba que falava da duplicação da Avenida Brasil. Depois, ainda existiu o bloco Filhos do Parque. “No Gato, comecei em 1992. De lá para cá, já participei de disputa de sambas por umas 20 vezes, emplacando quatro. Sinto amor verdadeiro por minha escola”, lembra Jorge.

Já na Praia de Ramos, tudo começou com o Bloco Boca de Siri. Pires Queiroz, da velha guarda da agremiação Siri de Ramos, lembra que tudo começou nos desfiles de rua. “A gente fechava a Avenida Brasil e rodava a comunidade todinha. Quando empolgou, fizemos camisetas com nome do bloco”, diz. Ele completa: o amor pela escola não se explica. “Foi amor à primeira vista. O bloco foi crescendo, e eu fui junto. Abro mão de qualquer coisa pelo carnaval”, finaliza.

Governo Federal e Ministério da Saúde lançam plano de operação para vacina contra covid-19

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Apresentação em plano reuniu governadores, ministros e demais parlamentares 

Por Edu Carvalho em 16/12/2020 às 20h10

Editado por Daniele Moura

Próximo de batermos a marca de 183 mil mortes em decorrência do novo coronavírus, nesta quarta-feira (16), o Governo Federal junto ao Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional de Operação da Vacina contra a covid-19, oficializando assim o documento entregue ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski.

A vacinação contra o novo coronavírus no Brasil começará pelos grupos prioritários, conforme o plano apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ainda não há uma data para iniciá-la.

Na primeira etapa, os primeiros a serem vacinados serão os trabalhadores da área de saúde: profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e também profissionais de apoio, como cozinheiros e pessoal da limpeza de hospital, motoristas de ambulância, cuidadores de idosos, etc.

Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 foi entregue ao Presidente Jair Bolsonaro – Foto: Isac Nóbrega/PR

Indígenas aldeados em terras demarcadas, pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas e pessoas de 75 anos ou mais também devem receber a vacina nessa primeira fase.

Os próximos a serem imunizados, em uma segunda fase, serão os idosos entre 60 e 74 anos.

A fase três será voltada para pessoas com comorbidades, ou seja, com doenças que podem agravar a situação de saúde da pessoa em caso de uma contaminação com o Sars-Cov-2, o vírus que causa a covid-19.

São consideradas morbidades prioritárias: diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer, obesidade grau III. Nessa fase também serão vacinadas pessoas com deficiência permanente severa.

A quarta fase será voltada para imunizar os trabalhadores da educação, população em situação de rua, membros das forças de segurança e salvamento, trabalhadores do transporte coletivo e transportadores rodoviários de carga e funcionários do sistema prisional e população carcerária.

Essas quatro fases correspondem aos quatro primeiros meses de vacinação, sendo incluídas as pessoas mais vulneráveis e aquelas com maior exposição ao Sars-CoV-2. A previsão é de que 51 milhões de brasileiros sejam imunizados nessa fase, que terá 108 milhões de doses (duas doses para cada pessoa mais 5% de reserva).

Vacinas

O plano de imunização detalha apenas a vacina que está sendo desenvolvida em parceria pela Universidade de Oxford e  a AstraZeneca. O Brasil vai receber 100 milhões de doses dessa vacina até julho. No segundo semestre, a Fiocruz, parceira no Brasil desse imunizante, vai produzir mais 160 milhões de doses.

Mas a intenção do governo é comprar todas as vacinas que receberem o aval da Anvisa. Além da Fiocruz, o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, está produzindo doses de uma vacina – a Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac.

Nenhuma das vacinas foi autorizada até o momento pela Anvisa, que já divulgou que seguirá um calendário para dar aval emergencial aos imunizantes.

Artistas da Maré criam podcast de ficção durante pandemia

Peça sonora BECOS, criada por seis jovens artistas da Maré, é lançada durante a pandemia de covid-19

Por Thaís Cavalcante em 16/12/2020 às 12h
Editado por Edu Carvalho

Andar por um beco é conhecer o miolo da favela, é descobrir o que faz parte da imaginação de quem a construiu. Um convite do cotidiano a uma travessia afetiva, que faz conhecer de perto suas questões sociais. Conheça o podcast BECOS, uma história de ficção que imita a realidade, criada por seis jovens artistas da Maré, na cidade do Rio, durante a pandemia do coronavírus.

Os personagens de BECOS vivem encontros, alegrias, violências e outras vivências cotidianas que geram identificação de realidades. Não à toa, eles têm nomes, gostos e hábitos. As diferentes perspectivas dos artistas trouxeram ainda mais vida ao formato sonoro – que envolve e aproxima o ouvinte. No Conjunto de Favelas da Maré existem inúmeros artistas e no projeto é possível conhecer o trabalho intenso de alguns deles: Rodrigo Maré, Jonathan Panta, Matheus de Araujo, MC Martina, Thainá Iná e Thais Ayomide.

Thaina Iná, espirituartista, narradora audiovisual e cria do Parque União, conta que a produção durante a pandemia foi um acontecimento. “Ainda que não mencionemos isso na história, isso está no processo que foi a distância. A gente se conectava pela plataforma de vídeo Zoom. Foi a falta de proximidade que estimulou a gente”, diz. Completa, ainda, que a conexão existia principalmente pelas múltiplas experiências. “Tô falando de um lugar que eu vivo, mas não vou olhar para isso como um fator limitante. Foi um compromisso primeiro com a gente e depois com o que atravessa a gente. Por que a gente só fala da fome de comida? Existem outras fomes”. Para matar essa fome de arte, poesia e cultura os jovens se juntaram durante cinco meses e criaram quatro atos.

Ouça os quatro atos e acompanhe o programa BECOS no Spotify.

Matheus de Araújo foi um dos primeiros a experimentar possibilidades no projeto a partir da produção de vídeo-poema. Ele, estudante de Letras, escritor do zine A reza e do livro Maré Cheia, mora na Rubens Vaz e garante que a narrativa do BECOS foi uma maneira de apontar soluções, não problemas. “Quando se fala em favela, a dor sempre fica em primeiro plano. Nós estamos calejados, por isso deixar a violência sempre primeiro plano é negar também nossa diversidade e potência. Foram decodificações artísticas intensas, mas discutidas com mais facilidade porque o grupo já se conhecia”, conta.

A ideia inicial é que fosse realmente uma peça, mas não sonora. A pandemia mudou o rumo do projeto e uniu ainda mais a ideia de construir experimentos de escrita, vídeos e músicas. “A ideia da peça sonora surgiu depois do exercício de esquetes. A produção criativa foi um desafio e depois de se adaptar foi mais fácil produzir”, diz. A narrativa é tão envolvente que não é difícil acreditar que muita coisa narrada ali não é ficção, pois traduz, em detalhes, a realidade favelada.

Atualmente, o projeto tem a produção de vídeo-poema e seu podcast em todas as plataformas de streaming da internet. O desejo de Matheus é que o programa chegue não só nas plataformas de streaming, mas também em rádios comunitárias e seja divulgado em jornais locais, veículos que são como pontes diretas para que o conteúdo que veio de dentro, volte para dentro. Thaina Iná concorda com o colega: “Que o podcast chegue em vários lugares, mas principalmente no raio de 100 metros de casa. Foi uma provocação de como a gente consegue gerar interesse e fazer uma reflexão em cima do que a gente vive. Esse ponto de gerar o alcance é outro passo fundamental”.

Descubra como foi o processo de criação do grupo no meio da pandemia de covid-19.

BECOS é uma realização da organização de arte e justiça social People’s Palace Projects e da ONG Redes da Maré. Lideranças do projeto, como a diretora da Redes Eliana Sousa e Silva, a diretora de teatro do País de Gales, Catherine Paskell, e o diretor artístico do People’s Palace Projects, Paul Heritage, se juntaram com propósitos bem parecidos para a criação do projeto. “Tivemos a vontade de produzir conhecimento a partir do próprio território. Sendo ele não o objeto de estudo, mas o centro da produção”, diz Paul.

“Os encontros com esses jovens tão talentosos duraram cinco meses. Isso diz mais que saúde mental, é sobre bem-estar e a necessidade de criar durante a pandemia, apesar de tudo o que estava acontecendo. A gente fez uma imersão e teve que inventar uma maneira de criar junto. Vejo uma confiança deles na arte. Como falam, é a arte que salva”, conclui.

Assista ao trailer visual da peça sonora BECOS.

Pesquisa Construindo Pontes

O podcast BECOS foi o braço artístico da pesquisa Construindo Pontes, Atravessando Becos: Cultura e Saúde Mental, que pretendeu investigar o bem-estar e a saúde mental dos mareenses, população de vive em seu cotidiano experiências potentes e criativas, mas também de violência urbana e desigualdade social. O que mostra que a arte também é um instrumento de pesquisa. Durante os projetos realizados junto à Redes da Maré, todos tiveram um elemento artístico como forma de narrativa. Uma união de experimento de dados, pesquisa e narrativa. 

Para que o estudo fosse feito de forma mais completa, abrangeu as áreas da saúde, ciências sociais e cultura. Foram cercas de 1.400 entrevistas com moradores da Maré, dentre eles residentes e usuários de drogas da região. Também foram levantados os serviços de saúde e apoio social e cultural existentes.

Paul acredita que essa é uma pesquisa única sobre o impacto da saúde mental na população mareense e que pretende utilizá-la de três formas. A primeira, com a publicação dos dados acadêmicos em revistas que sejam validadas e dialogue com outros pesquisadores da área. A segunda é sobre o material trazer facilidade para a implantação de políticas públicas, pois investir em cultura na favela é como investir em saúde pública. A terceira é trazer o diálogo para toda a comunidade envolvida, percebendo qual o impacto gerado a partir das diferentes produções sobre o local.

Além do podcast já lançado, há também o projeto de fotografia A Maré de Casa, um ensaio que reuniu depoimentos em foto e texto de moradores durante a quarentena e o isolamento social. Para 2021, a expectativa é o lançamento de dois livros do cientista político Luiz Eduardo, um com artigos sobre a conclusão da pesquisa e outro com narrativas, a partir das vivências dos artistas locais que participaram ativamente do programa.

O projeto tem realização da People’s Palace Projects (Queen Mary University of London) e da Redes de Desenvolvimento da Maré com apoio do Arts and Humanities Research Council, Economic and Social Research Council e pelo Global Challenges Research Fund.