Festa estava planejada para acontecer na segunda quinzena de julho
Por Edu Carvalho, em 21/01/2021 às 15h
E no início da tarde de hoje, 21, o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes publicou, por meio de um tweet, que o carnaval fora de época planejado para o mês de julho deste ano está cancelado. ‘’Nunca escondi minha paixão pelo carnaval e a visão clara que tenho da importância econômica dessa manifestação cultural para nossa cidade. No entanto, me parece sem qq sentido imaginar a essa altura que teremos condições de realizar o carnaval em julho’’.
Nunca escondi minha paixão pelo carnaval e a visão clara que tenho da importância econômica dessa manifestação cultural para nossa cidade. No entanto, me parece sem qq sentido imaginar a essa altura que teremos condições de realizar o carnaval em julho. pic.twitter.com/B932v233En
Também nas redes sociais, Paes disse: ”Essa celebração exige uma grande preparação por parte dos órgãos públicos e das agremiações e instituições ligadas ao samba. Algo impossível de se fazer nesse momento. Dessa forma, gostaria de informar que não teremos carnaval no meio do ano em 2021’’. O prefeito complementou dizendo que ‘’Certamente em 2022 poderemos (todos devidamente vacinados) celebrar a vida e nossa cultura com toda a intensidade que merecemos’’.
O “CarnaRio – Carnaval fora de época”, foi de autoria do deputado estadual Dionísio Lins (PP), sancionado pelo governador interino Cláudio Castro (PSC). A publicação ocorreu no Diário Oficial do governo do estado, publicado no dia 13 deste mês.
O objetivo do Governo é estimular o turismo no período de férias escolares e acadêmicas.
Morro Dois Irmãos recebe projeções de 22 a 24 de janeiro
Por Edu Carvalho, em 21/01/2021 às 13h
A favela da Rocinha vai ser palco de um evento que traduz sua potência criativa e diversa, o “Projeta Rocinha”. De 22 a 24 de janeiro, o Morro Dois Irmãos ganhará uma projeção com dimensões espetaculares – equivalente a meio quilômetro ou cinco edifícios de 18 andares lado a lado – e exibirá longas, curtas, clipes, mensagens e intervenções poéticas para um público que pode chegar a 100 mil pessoas, moradores ou não da favela.
Sem aglomeração e sem sair de casa, toda a comunidade vai poder participar do evento. Os moradores poderão assistir às projeções de suas lajes e janelas e receberão o som de cada uma via streaming e com apoio da rádio comunitária local.
Organizado pela Dona Rosa Filmes, da produtora Mariana Marinho, e correalizado pela Casa de Cultura da Rocinha, presidida por Maurício Soca – morador e produtor cultural da Rocinha – o evento terá projeção da Visual Farm, estúdio especializado que concebe e realiza espaços narrativos com uso intensivo de tecnologia.
O patrocínio é da Cerveja Antarctica e o projeto conta com apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (SECEC-RJ), Riofilme, da Downtown Filmes, Canal Brasil, da Associação de Moradores da Rocinha, do Portal das Favelas, da 27a Região Administrativa da Rocinha e da Prefeitura do Rio de Janeiro, da Rádio Comunitária da Rocinha, dos Coletivos Produções Audiovisuais Rocywood e Mulheres em Evidência, da Visual Farm e do SICAV – Sindicato da Indústria Audiovisual.
O projeto do evento foi desenvolvido com o reencontro de Mariana Marinho e Maurício Soca, com a intenção de mostrar a força e a potência da maior favela da América Latina. Assim, artistas e moradores da favela estão participando ativamente da curadoria do evento. Com a pandemia do Coronavírus em 2020 e a imposição do distanciamento prolongado, veio também a preocupação com a saúde – tanto física quanto emocional dos moradores – e a ideia de oferecer arte como respiro, abrindo o início do novo ano.
“Trazer a força e a grandeza do evento, transmitir o conceito de uma nova experiência nunca vivenciada antes. O evento tem o caráter divertido de um festival, mas ao mesmo tempo é empoderador, dando força à cultura, às minorias, à geografia do local, às ações e aos movimentos culturais já existentes na favela. Os 100 mil moradores da Rocinha viverão a experiência de presenciar a projeção na maior tela de cinema já realizada, assistindo a conteúdos afirmativos que surgiram do vulcão de criatividade e atitude da própria Favela, a vida que reluz na Rocinha”- diz Mariana Marinho, diretora e coordenadora-geral do evento.
Programação traz filmes “campeões” de bilheteria
Longas e curtas-metragens de sucesso, clipes musicais, intervenções poéticas e mensagens de saúde pública relacionadas à prevenção da pandemia (#vacinajá) fazem parte da programação dos três dias do evento, que acontecerá de 22 a 24 de janeiro, de sexta-feira a domingo, sempre com início às 19h.
Num ato de afirmação da importância do cinema nacional, os três longas-metragens a serem exibidos são grandes sucessos de público, somando cerca de 14 milhões de espectadores. São eles: “Minha Mãe é uma Peça 3”, de Paulo Gustavo e Susana Garcia, que levou mais de nove milhões de pessoas ao cinema em 2019; “Fala sério, Mãe!”, de Pedro Vasconcelos, com as atrizes Ingrid Guimarães e Larissa Manoela, baseado no livro da escritora Thalita Rebouças, e “Gonzaga: De pai para filho”, de Breno Silveira, ganhador do prêmio de melhor filme no Grande Prêmio de Cinema Brasileiro, e escolhido por representantes e artistas da comunidade, dialogando com a origem pernambucana e nordestina de grande parte dela.
Os longas serão antecedidos por curtas-metragens. Entre as produções selecionadas estão “Janelas Daqui”, de Luciano Vidigal, realizado durante a pandemia, abordando os impactos da Covid; “Lá do Alto”, também de Luciano Vidigal, filmado no Dois Irmãos; “A fábula da Vó Ita”, de Joyce Prado e Thalita Oshiro, que aborda a importância do cabelo crespo; “Alma Crespa”, de Paulo China e Rebecca Joviano, sobre o feminismo negro; “O Pião”, de Karina Mello, uma fábula sobre a perda, a saudade e o sentimento de amor; “Rã”, de Ana Flávia Cavalcanti e Julia Zakia, que fala sobre união, afeto e coletividade; “Lé com Cré”, de Cassandra Reis, sobre coisas de menino & menina contados por crianças, “Como Ser Racista em 10 Passos”, de Isabela Ferreira, que traz à tona e confronta o racismo estrutural velado; “Penso logo falo”, de Bia Oliveira; um registro emocional do desejo de liberdade e igualdade e “Flor da Pele, também de Bia Oliveira, com o desabafo de uma jovem sobre o preconceito.
Completando a programação, clipes musicais de artistas diversos vão encher a tela e ninguém vai ficar parado. Já estão confirmados “Pra dizer adeus”, “Sonífera ilha” e “Enquanto houver sol”, dos Titãs; “De ontem”, Liniker e os Caramelows; “Náufrago”, de Majur; “Fica em casa”, de Marília Coelho; e “Who’s that boy?” e “Te ligo e vc não atende”, de Luthuly Ayodele.
A intolerância religiosa faz parte de um processo dicotômico da dominação social, política e religiosa: a divisão entre a “boa” e a “má” religião em solo brasileiro, na qual os adeptos das religiões africanas, com suas culturas e suas representações, configuram um mal a ser combatido pelos não adeptos dessas religiosidades. Entretanto, a compreensão sobre o que vem a ser uma boa ou uma má religião não faz parte da cosmovisão e das experiências dos adeptos das religiões de matrizes africanas, que têm por base as tradições dos grupos étnicos africanos que chegaram ao Brasil na condição de escravos.
Para os religiosos e as religiosas de matrizes africanas, não existe o dualismo bem/mal; todas as ações, escolhas e vontades são de responsabilidade dos próprios indivíduos (e não de uma força ou um ente religioso que age sobre o indivíduo), que trouxeram consigo suas culturas, religiosidades, formas de ver e entender o mundo – ou seja, uma experiência religiosa totalmente diferente daquela que aqui dominava o país: o catolicismo. Esta experiência religiosa, em contato com o catolicismo português e as religiões nativas, ganhou novas ressignificações e reconstruções.
Fomentados pelo racismo e pelo preconceito, os processos de colonização religiosa nas Américas ajudaram na construção de uma ideia e uma identidade não positivas das religiões e culturas de matrizes africanas – processos esses que foram instigados principalmente pelo crescimento dos grupos religiosos evangélicos pentecostais e neopentecostais e o acirramento das guerras espirituais. Destarte, do ponto de vista histórico, “conflitos e disputas” religiosos nunca deixaram de fazer parte das transformações sociais brasileiras. Sim, nunca deixaram, pois não existe unanimidade sobre religiões e religiosidades, seja aqui no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo. Entretanto, no Brasil, os conflitos religiosos, ou melhor, a INTOLERÂNCIA religiosa está de mãos dadas com o racismo e com todas as formas de preconceito.
“É com educação e reeducação que vamos construir uma sociedade menos intolerante e menos racista.” Professor Babalawô Ivanir dos Santos
A intolerância religiosa se camufla cotidianamente em opinião pessoal dentro da nossa sociedade. Opiniões essas que não permite enxergarmos o quão danosas são, para a sociedade brasileira, as violências patrimoniais, físicas, psicológicas e simbólicas contra as religiões de matrizes africanas. Um brevíssimo “passeio” nos fatos históricos nos revela que a intolerância religiosa contra os adeptos das religiões de matrizes africanas está intimamente ligada ao início e às transformações da sociedade brasileira. Já na década de 1980, ataques e atos de intolerância, principalmente no estado do Rio de Janeiro, passaram a ser praticados pelo poder paralelo (cujos membros hoje se identificam como “traficantes evangélicos), obrigando o fechamento, dentro das favelas, dos templos religiosos de matrizes africanas e proibindo o seu funcionamento.
Não podemos deixar de pontuar que tivemos avanços significativos no combate à intolerância, como a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), criada pela lei estadual nº 5.931/11 com o objetivo de combater os crimes de racismo e homofobia, preconceito e intolerância. A construção e realização de Fóruns Inter-religiosos que atuam na promoção da equidade religiosa e no fortalecimento de grupos de pesquisa, que se debruçam sobre o tema dentro das universidades públicas, também marcam um grande ponto de luta contra a intolerância religiosa. Contudo, ainda precisamos investir em uma pedagogia descolonizadora voltada para as diversidades e a pluralidade. É com educação e reeducação que vamos construir uma sociedade menos intolerante e menos racista. Pois todas essas “questões” não são “problemas” que precisam ser pensados apenas pelas vítimas desses crimes. A intolerância religiosa é uma questão social, política, econômica e religiosa e precisa ser debatida em todas as esferas dos poderes.
A origem da data O dia 21 de janeiro é conhecido como o Dia Nacional de Combate à Intolerância religiosa, instituída pela Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007, em homenagem à Yalorixá Gildária dos Santos, a Mãe Gilda do Ilê Axé Abassá de Ogum, localizado na Bahia. Mãe Gilda veio a falecer após uma acusação de charlatanismo, o que motivou que integrantes de religiões protestantes invadissem o terreiro da Sacerdotisa, agredindo-a física e verbalmente. Após este episódio, Mãe Gilda sofreu um enfarte e morreu. Em 2020 completou 20 anos de sua morte.
Sobre o autor Professor Doutor Babalawô Ivanir dos Santos é membro da Universidade Federal do Rio de Janeiro: pós-doutorando em História Comparada (PPGHC/UFRJ); pesquisador do Laboratório de História das Experiências Religiosas (LHER/UFRJ) e do Laboratório de Estudos de História Atlântica das sociedades coloniais e pré-coloniais (LEHA-UFRJ); está à frente da Coordenadoria de Religiões Tradicionais Africanas, Afro-brasileiras, Racismo e Intolerância Religiosa (ERA-RIR/LHER/UFRJ). É integrante da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e conselheiro estratégico do Centro de Articulações de População Marginalizada (CEAP). Interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR); Conselheiro Consultivo do Cais do Valongo; Vice-presidente da América Latina no Conselho Internacional African traditional religious organizations, the Ancient Religion Societies of African Descendants International Council (ARSADIC), Nigéria.
Ação que imuniza grupos prioritários da saúde faz parte da primeira fase de vacinação.
Por Thaís Cavalcante em 20/01/2021 às 16h
Editado por Edu Carvalho
Nesta quarta-feira, 20, as doses da vacina CoronaVac chegaram ao Conjunto de Favelas da Maré e todas as suas unidades de saúde: Centro Municipal de Saúde Vila do João, CMS Américo Veloso e CMS João Cândido; e as Clínicas da Família Adib Jatene, CF Augusto Boal, CF Jeremias Moraes da Silva e CF Diniz Batista. Outras favelas do Rio de Janeiro também já iniciaram a vacinação, como no Complexo do Alemão, Cidade de Deus e Vila Kennedy.
A assistente social e moradora da Maré Amanda Andrade foi vacinada e disse em sua rede social que hoje é um dia histórico. “Fundamental para se falar na importância da Saúde Pública. Nós, profissionais da linha de frente, estamos no corre cotidiano e sendo vacinados com a primeira dose. Agora, é muito trabalho e planejamento para iniciar a vacinação para a população. O SUS SALVA VIDAS!”
Amanda Andrade, moradora e profissional da saúde sendo vacinada na Maré. Foto: Arquivo Pessoal.
A Secretaria Municipal de Saúde reforça que a vacinação não está aberta ao público em geral, apenas para: Trabalhadores da Saúde; pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas (em asilos ou abrigos); pessoas com deficiência institucionalizadas (internados), além de iindígenas e quilombolas em terras próprias.
Clínica da Família Diniz Batista
A ação acontece nas Unidades de Saúde em que os profissionais trabalham, Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde. A prefeitura do Rio de Janeiro já havia divulgado a possibilidade de que a vacinação da população carioca acontecesse hoje, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. Não só por isso: o santo também é protetor contra doenças contagiosas e a peste.
Nesta semana, o território completa 27 anos como bairro, mas ainda lhe faltam direitos
Por Thaís Cavalcanteem 20/01/2021 às 15h Editado por Edu Carvalho
Minha terra não era terra. Era água, mangue. Foi ocupada de uma forma tão urgente que não há nada que possa significar mais que isso e afirmar que somos donos desse lugar. A casa de madeira, fincada sobre a água – palafita – foi a primeira solução encontrada pela população mareense para a falta de moradia, ainda nos anos 40. Enfrentando a maré baixa ou a maré alta, a luta por direitos estava só começando. Quando nasci, em 1994, já existia a reforma e toda a estrutura improvisada que fez toda a Maré ser aterrada e formada a partir do poder e da articulação do próprio povo.
Um marco aconteceu em janeiro do mesmo ano: a Maré foi reconhecida como bairro a partir de um decreto municipal, sendo um espaço urbano e desenvolvido. Hoje é o nono mais populoso da cidade do Rio de Janeiro, com cerca de 140 mil moradores. Ainda que pertencer a um lugar não tenha a ver só com o vínculo de nascimento ou de criação, muitos já negaram sua origem até realmente entenderem o valor histórico, de luta e resistência do seu espaço. Até perceber o poder que tem, primeiro, é preciso a própria valorização e entender como isso pode transformar também o olhar do outro.
Saber a data de formação de cada favela fala muito sobre as necessidades dos territórios. Primeiro, veio o Morro do Timbau em 1940 e sua colônia de pescadores, depois a Baixa do Sapateiro em 1947, Conjunto Marcílio Dias em 1948, Parque Maré em 1953, Parque Rubens Vaz em 1954, Parque Roquete Pinto em 1955, Parque União em 1961, Praia de Ramos e Nova Holanda em 1962, Conjunto Esperança e Vila do João em 1982, Vila do Pinheiro em 1983, Conjunto Pinheiro e Conjunto Bento Ribeiro Dantas em 1989, Nova Maré em 1996 e Salsa e Merengue nos anos 2000.
Nova Holanda e Morro do Timbau ao fundo. Foto: Douglas Lopes
Olhando o passado para construir o futuro
A história começa de dentro para fora e com forte intenção. Uma população tão grande é representada pelos presidentes das associações de moradores das 16 favelas que compõem a Maré. Para discutir e entender os desafios de 2021, os presidentes se reuniram com Diego Vaz, subprefeito da Zona Norte do Rio de Janeiro no dia em que o território completou seus 27 anos como bairro. O primeiro encontro de lideranças levantou questionamentos sobre quais são as principais dificuldades de cada favela, como a falta de investimento na saúde, coleta de lixo e educação. Também sobre problemas mais estruturais e como o desenvolvimento local pode trazer um futuro melhor para a população mareense. Principalmente, que isso possa ser realizado independente de gestão municipal ou estadual.
Após ouvir as necessidades, o subprefeito fez promessas: “A nossa prioridade agora é para ter vacinas nas clínicas da família. Quando acabar esse primeiro momento, teremos as escolas como prioridade. Tudo o que vocês precisarem no que diz respeito a serviços básicos, eu vou articular diretamente. A gente passa por momentos de dificuldade e falta de recursos, mas o que eu puder eu vou fazer. Podem me cobrar”.
Um dos presentes no encontro foi Pedro Francisco, cria da Vila do João e presidente da Associação de Amigos do Conjunto Esperança, há 9 anos. Ele conta que sua motivação para atuar como uma liderança local vem do apoio que oferece às pessoas. “Gosto de estar no dia a dia, ser um conciliador, aquele que escuta a necessidade de cada um e tenta encurtar a distância entre o território e o poder público”. Durante sua vida na comunidade, ele percebeu que depois que a favela virou bairro, o acontecimento mais marcante foi a construção de novas escolas, colégios e creches no território. Por outro lado, afirma que os funcionários da educação não foram valorizados. Postos de saúde e Clínicas da Família em seus primeiros anos de funcionamento também foram fundamentais no desenvolvimento do local.
Para que seja feito um verdadeiro reconhecimento do lugar, Pedro garante que a população precisa saber o que um bairro tem direito, quem deve ser cobrado e quem os representa. Como uma voz dos moradores, ele viveu os anos 80 e 90 na comunidade percebendo que ela cresceu e se desenvolveu muito, mesmo com a ausência governamental. Para ele, há muita reivindicação, mas também muito cuidado. “A Maré é a minha casa, tenho muito amor por isso. O trabalho é cansativo, mas enquanto eu tiver de pé eu vou lutar por dias melhores”. O trabalho em comunidade continua forte ainda hoje também para Isaque Nunes, presidente da associação de moradores do Morro do Timbau. Relacionado ao trabalho que faz, ele conta que não trabalha sem parcerias. “Sozinho não tem como, eu tenho apoio de muitos voluntários da comunidade e de amigos”.
Em busca de reconhecimento e igualdade
Edson Diniz, diretor da Redes da Maré, admite que o título de bairro no território é mais formalidade do que prática. “Em relação à infraestrutura de bairro, com linhas de ônibus, saneamento básico, políticas públicas de proteção às crianças etc, a gente vê que a Maré ainda não tem isso. O Estado não garante esses direitos mais básicos à população. O que ela conseguiu de melhorias vem muito como fruto da luta dos próprios moradores e de suas instituições locais, como a Redes da Maré, somando forças para pressionar os estados e os governos”, diz.
Assim como o primeiro direito básico a ser conquistado foi a moradia, outro muito importante é a visibilidade desse espaço. Colocá-lo no mapa para que a favela faça parte da cidade como ela sempre fez, mas sem muita valorização. Edson relembra a mobilização feita para diversas ruas ganharem nomes a partir da colocação de placas e da inclusão de CEP’s, como ação fundamental de resgate da memória local. Todas as ruas e seus nomes contam histórias e no projeto Maré de Ruas e Histórias incentivou esse fortalecimento local e de um projeto urbano da cidade, reconhecido anos depois.
Colocação da primeira placa de rua do projeto da Redes da Maré com Atelier Azulejaria. Foto: Divulgação.
Quem também construiu laços e vivência na Maré foi Hélio Euclides, jornalista e cria da Vila do Pinheiro. Ele acredita que a XXX Região Administrativa da Maré (RA), Detran, Fundação Leão XIII e a presença de outros serviços tiveram influência do decreto assinado pelo então prefeito César Maia. Uma consequência que não fez os moradores deixarem de enxergar a Maré como um conjunto de favelas. “O decreto veio de cima para baixo, sem uma grande participação dos moradores. Se já foi feito, também não vale voltar atrás. Somos um bairro com características de favela, porque ainda faltam muitas políticas públicas aqui. Mas é um reconhecimento brilhante que precisa de muita luta ainda. Espero que a gente ainda possa viver esse bairro Maré”.
Faça um passeio de barco pelas favelas da Maré nos anos 80:
Confira a programação que marca o dia do padroeiro da cidade
Por Edu Carvalho, em 20/01/2021 às 10h
As celebrações do Dia de São Sebastião, padroeiro da cidade, nesta quarta-feira (20), serão diferentes em 2021 por conta da pandemia do novo coronavírus que já vitima mais de 211 mil mortes no país.
Carlos Moioli/Arquidiocese do RJ
Na Igreja dos Capuchinhos, com sede na Tijuca, a imagem do santo está no pátio, para que fiéis possam passar e ver o santo. As missas serão transmitidas pela internet.
A procissão com a imagem do padroeiro por regiões da cidade não será realizada. No lugar, uma carreata sairá de Santa Cruz até a Catedral, no Centro, onde está marcada para acontecer uma “missa drive-in” na Catedral Metropolitana, com parte dos fiéis dentro dos seus veículos. A Web Tv Redentor fará a transmissão do Auto de São Sebastião, encenado no Teatro Cesgranrio.
Confira a programação:
Às 10h, o Arcebispo Dom Orani celebra uma missa na Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos;
Às 12h, ângelus e almoço (transmitidos pela Rádio Catedral)
Às 14h30, haverá uma carreata saindo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Praça Dom Romualdo, em Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade. A carreata virá pela Avenida Brasil;
Às 16h30, a carreata chega à Catedral Metropolitana.
Às 17h, o Arcebispo Dom Orani preside uma missa na Catedral Metropolitana, na Avenida Chile. Será possível assistir à cerimônia de carro, no estacionamento, ou presencialmente — o local receberá até 1,5 mil pessoas que forem a pé.
Às 20h, será transmitida a live do Auto de São Sebastião, encenado no Teatro Cesgranrio, e haverá o Momento Musical a São Sebastião na Rádio Catedral.