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Alô, dona de casa! O carro de som chegou!

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Enquanto muitos apostam na internet, os tradicionais carros de som  continuam fazendo sucesso pelas ruas da Maré

Por Thaís Cavalcante em 04/11/2020, às 12h

Basta circular pelas ruas da favela para ouvir um carro de som tocando aquele forró, seguido de um anúncio do show que vai acontecer no final de semana; ou até um enfeitado para passar aquela telemensagem romântica. Quem sabe até o carro do ovo com a promoção de 30 ovos por 10 reais. A tradição dos anos 90 veio para ficar porque funciona. Um trabalho intenso que envolve a circulação do carro por horas a fio com um som preso no veículo. Os pneus aguentam quebra-molas, ruas estreitas, buracos e lombadas altas. Já os moradores, se acostumaram com a rotina de comunicados e comerciais sonoros nas ruas principais. 

Quem também aposta nos carros de som como forma de propaganda eficiente são os candidatos da região e com as eleições chegando, não é difícil encontrar os jingles eleitorais tocando repetidamente pelas ruas, becos e vielas. Muitos escolhem musicalizar os números da candidatura, outros preferem as populares batidas de funk e em paródias. O importante é alcançar o maior número de pessoas e essa missão não é tão difícil com esse mar de gente andando pelas ruas. Com as famosas propagandas volantes, as favelas, o subúrbio e o interior tem a garantia de que sua mensagem está chegando no público certo. Alô, dona de casa!

Para todos os que trabalham anunciando, divertindo e emocionando seus ouvintes, toda a informação divulgada vai ter alguma utilidade. Não à toa, o carro de som é o segundo meio de comunicação mais lembrado pelos consumidores quando o assunto é obter informações sobre ofertas e promoções, de acordo com pesquisa da Federação de Comércios de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) feita em 2015.

Edvaldo Farias, morador do Parque União, tem 30 anos e quase metade de sua vida foi dedicada às gravações e divulgações de propaganda para carro de som e rádio de poste, no Parque União e Nova Holanda. Ele divide o negócio com seu irmão e seu pai. “Me espelhando no meu pai eu pude aprender essa profissão tão maravilhosa e hoje eu consigo viver de tudo aquilo que ele me ensinou”, diz.

Sobre rotina de trabalho, ele garante que não existe. Ainda que tenham anúncios fixos, outros são rotativos, como propagandas de eventos, igrejas e lojas. Nesta atividade, o que se vende é o tempo de veiculação da propaganda. Além de toda a procura para anunciar no veículo sonoro ou na rádio de poste, quem oferece o serviço também precisa entender a necessidade do cliente, o tempo da propaganda, qualidade e até o volume do som – que pode aproximar, mas também afastar os ouvintes.

Acessibilidade em quatro rodas

A propaganda em carro de som é muito popular também por sua acessibilidade. Na Maré, por exemplo, nem todo mundo sabe ler. Isso equivale a 6% dos moradores, em sua maioria pessoas com mais de 65 anos, que enfrentaram no passado grandes dificuldades de letramento e condições precárias na educação básica. Edvaldo admite essa realidade e se orgulha por sua atuação neste contexto.

 “Infelizmente, nós ainda temos um grande público que não tem facilidade e acesso à internet e que não sabe ler ou escrever direito. A propaganda sonora vem com um formato que facilita a informação. Como o carro de som é auditivo, ele puxa a atenção para ele, o ouvinte pode estar conversando ou trabalhando, mas quando o carro passa as pessoas acabam ouvindo, então ele alcança um público grande”, lembrou Edvaldo. O computador está em 42% das residências mareenses e o acesso à internet apenas em 36%, segundo o Censo da  Maré 2019. Ele acredita que o carro de som, se comparado com a internet, é tão importante quanto, por isso esses meios de comunicação não devem ser considerados inimigos. Afinal, os dois tem o mesmo objetivo: divulgar e fazer a propaganda, mas cada um do seu jeito. “Um nós alcançamos o público pela audição. A internet já alcança visualmente”, avalia.

Quem também aposta nesse meio tradicional é Alexandre Campos, mais conhecido nas festas da favela como DJ Mastter. Ele também atua em outras frentes: seja como produtor musical ou radialista. Ele grava comerciais, anúncios de comércios locais e rádio poste. Conhece bem as ofertas que conquistam e sabe como o resultado de um trabalho impacta na vida dos clientes que contratam os seus serviços. 

Sua carreira começou nos anos 80, quando veio de São Paulo para a Maré. “Eu comecei fazendo festas na casa de um amigo meu, ouvindo discos de soul, rádio AM e FM, programas de charme e funk. Depois comecei a tocar nas festas da Maré e até fora do Rio”, conta ele, que também enxerga potencial e experimenta o trabalho de carro de som fora das favelas.

Comunicando em todos os momentos

Durante a pandemia, todo mundo teve o trabalho impactado. Para os comerciantes que precisaram fechar seus estabelecimentos para diminuir o contágio do coronavírus, por exemplo, a renda diminuiu e a alternativa foi contratar menos anúncios ou até suspender temporariamente os serviços de propaganda volante. Com a reabertura, o mercado de divulgação parece se aquecer, assim como o comércio local da Maré, que segue funcionando normalmente.

Além da utilidade comercial, os carros de som foram importantes meios de comunicação aliados na prevenção da covid-19 na Maré. Os projetos e coletivos atuantes na linha de frente utilizaram, além de faixas, panfletos e comunicados nas redes sociais, os carros de som. Um contato direto com os moradores através de mensagens de alerta e dicas de prevenção, ensinando como lavar as mãos e trazendo a importância de usar a máscara de proteção para evitar a contaminação da doença.

Além dos materiais para mídias sociais e cartazes espalhados por favelas do Rio, a campanha Se liga no Corona! também teve uma ação sonora. Nos carros de som que circularam pela Maré, o cantor Nego do Borel dava algumas recomendações sobre o que é o novo coronavírus e os cuidados de higiene que as pessoas precisam ter ao sair nas ruas. A campanha é resultado de uma articulação entre a Fiocruz, Redes da Maré, Conselho Comunitário de Manguinhos, Conselho Gestor Intersetorial (CGI-Teias Manguinhos), Comissão de Agentes Comunitários de Saúde de Manguinhos (Comacs), Coletivo Favelas Contra o Coronavírus, Jornal Fala Manguinhos! e o Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz, Asfoc-SN.

Confira um dos áudios que circulou em carros de som durante a pandemia, com voz de Karina Donaria, comunicadora e moradora da Maré: http://drive.google.com/file/d/19zxwdXvn52sxfY82dFmQQzNPjaERmfoj/view?usp=sharing

Miss Beleza T Brasil sofre racismo após coroação

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Cria do Jardim Catarina, Eloá Rodrigues sofreu ataques racistas na página oficial do concurso

Por Leonardo Nogueira em 03/11/2020 às 17h

“A gente só vai conseguir viver em uma sociedade melhor quando as pessoas conseguirem naturalizar os nosso corpos e as nossas vivências”, destacou Eloá Rodrigues (27), a Miss Beleza Trans Brasil 2020, que foi consagrada com o título no dia 24 de outubro. Entretanto, em um país que tem em sua estrutura social e econômica o racismo como algo naturalizado, a ocupação de pessoas negras em espaços de poder acaba causando desconforto em pessoas preconceituosas. Após ser eleita, Eloá teve de lidar com uma série de comentários racistas na postagem do Instagram do concurso.

“Um top3 que nos representa! Travesti, Transexual, Preta, preparadas! Buscávamos o conjunto, a essência, uma miss completa. E encontramos”, destaca a publicação do perfil oficial do concurso. Na foto estão as três primeiras colocadas do concurso, que junto à Eloá foram Luna Ventura, representante de Minas Gerais, e Raquel Eshilley, representante do Pará. Entre os comentários, muitos criticaram a escolha e questionaram a beleza de Eloá, tecendo comentários racistas. 

Além dos seguidores da página oficial, um dos comentários que mais chamou a atenção foi o de Mariane Cordon Cáceres, representante do estado do Mato Grosso do Sul no concurso. Em vídeo no seu perfil no dia seguinte ao concurso, ela demonstrou insatisfação com a coroação de Eloá. “Representei lindamente o Estado do Mato Grosso do Sul, peguei um ‘Top 5’, que era minha intenção, mas eu sei que, de acordo com a minha desenvoltura e o meu resultado, eu merecia ir muito além e não deveria ter perdido ‘para isso’”. Após a repercussão da publicação, a organização do evento foi notificada e Mariane perdeu o título de Miss pela colocação de cunho racista. Como resposta, a representante do Mato Grosso do Sul alegou que o que falou não foi referente à cor ou ao gênero de Eloá, mas ao seu desempenho, que julgou ser fraco.

Eloá Rodrigues disse não ter entrado em contato com a maioria dos comentários por não ter tido tempo de responder as mensagens que recebeu nas redes sociais. Para ela, nesse momento de alegria, ela prefere curtir a visibilidade para mostrar o quão necessário ainda é debater as pautas que ela defende. Mas a equipe de produção da Miss ficou atenta às redes e está cuidando para tomar as medidas judiciais cabíveis.

Comentários de cunho racista nas redes sociais têm sido frequentes em concursos de beleza. Em 2017, a piauiense Monalysa Alcântara foi escolhida Miss Brasil daquele ano e foi duramente atacada no Twitter, onde pessoas que acompanhavam o concurso alegaram que ela ganhou apenas por ter cabelo crespo ou por entrar no concurso por cotas. Monalysa foi a terceira mulher negra eleita Miss Brasil desde a primeira edição do concurso, em 1954.

Tanto no caso de Eloá quanto no de Monalysa, os comentários podem ser enquadrados como injúria racial, de acordo com o Código Penal Brasileiro. A lei diz que ofender a dignidade de outra pessoa devido a sua raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência é  crime com pena de reclusão de um a três anos. 

A população preta é a maior vítima de homicídios do país. No ano de 2017, mais de 70% das pessoas assassinadas no Brasil eram pretas ou pardas, segundo o Atlas da Violência, estudo produzido por pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Enquanto a taxa de homicídios para brancos diminui, a mesma taxa sobe constantemente para a população preta. 

Sobre Eloá Rodrigues

Legenda: Faixa e coroa da Miss Eloá – Reprodução das redes sociais

Cria do bairro de Jardim Catarina, em São Gonçalo, Eloá foi campeã duas vezes consecutivas da competição estadual no Rio, nos anos de 2019 e 2020. Antes de ser miss, ela é uma mulher transgênero, ativista pelos direitos da população preta e LGBTQI+ e presidenta do Conselho LGBTQI+ de Niterói. 

Ingressou na Universidade Federal Fluminense para cursar Ciências Sociais, em 2017, através do Prepara Nem – um pré-vestibular social para pessoas trans, travestis, em situação de vulnerabilidade social e preconceito de gênero. “O Prepara Nem foi o primeiro grande divisor de águas na minha vida, tendo em vista que lá a gente não se prepara só para entrar na universidade, mas também para a militância, para a vida, para a vida em comunidade. Em especial, em comunidades trans, travestis e LGBTI”, observou. 

A próxima parada da Miss Beleza Trans Brasil 2020 será no continente asiático. Eloá irá representar o país no Miss Internacional Queen, que acontecerá na Tailândia. “Ser uma mulher preta e ter a possibilidade de ir para a Tailândia representar o meu país é de suma importância, tendo em vista que um dos meus maiores sonhos é ter a minha voz ouvida e a minha militância reconhecida”, comentou Eloá. 

Uma minoria dentro de outra minoria

O cenário atual brasileiro não só coloca em risco as vidas da comunidade trans, mas de todos os grupos que não fazem parte da elite hegemônica brasileira. Nos oito primeiros meses de 2020, pelo menos 129 pessoas trans foram assassinadas no Brasil. Um aumento de 70% em relação aos mesmos meses do ano passado (2019). Até o mês de agosto, todas as pessoas trans assassinadas eram do gênero feminino, sejam travestis ou mulheres trans, tendo como tendência serem maioria pessoas negras. Os dados estão no último boletim da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), divulgado em setembro de 2020. 

Eloá Rodrigues carrega em seu corpo a fala de uma mulher trans, preta e periférica e sabe da importância e responsabilidade do título. “Eu usar dos acessos que eu já tenho, do título de Miss, de articulações políticas que eu tenho, para conseguir naturalizar a nossa existência, para conseguir uma vivência melhor, não só para mim, mas para outras pessoas trans, é fundamental. Usar desse título para isso, é uma das minhas maiores funções e é o que eu estou empenhada em fazer.”, complementa. 

Ronda Maré de Notícias: Semana com Hospital de Bonsucesso em chamas e grávida em estado grave durante uma operação na Maré

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A ação dos agentes do Estado deixaram moradores da Maré sem atendimento médico em três clínicas da família. Hospital de Bonsucesso é fechado por causa do incêndio

Antes de 5h da manhã de terça-feira, 27 de outubro, moradores da Maré acordaram ao som de tiros, resultado de uma operação policial que se estendeu ao longo do dia em algumas das 16 favelas do conjunto. Cerca de 300 agentes da Polícia Civil em dezenas de viaturas e cinco blindados entraram no Parque União e com o passar do dia, a operação se estendeu para Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau. Houve registros de tiros na Rua do Serviço no fim da manhã e na Vila dos Pinheiros no meio da tarde. 

A ação policial durou cerca de 11h e aconteceu em decorrência de uma investigação de três meses, que mapeou 100 pessoas com mandado de prisão que supostamente estavam escondidas na Maré.  Dezenove pessoas foram presas/apreendidas entre adultos e adolescentes. Uma mulher grávida de quatro meses foi baleada ao sair de casa e levada para o Hospital Municipal Evandro Freire. Segundo moradores, alguns policiais estavam em cima de uma laje na Rua da Praia, quando a moça saiu de uma casa. Os policiais dispararam e ela foi atingida na barriga. Maiara Oliveira passou por cirurgia e encontra-se internada em estado grave. O bebê morreu na tarde de quarta (28).

Durante todo o dia de terça-feira (27), os moradores sofreram forte impacto no atendimento médico na região. Além das Clínicas da Família CF Augusto Boal, Diniz Batista dos Santos e Jeremias Moraes da Silva que suspenderem os seus atendimentos, um dos prédios do Hospital Geral de Bonsucesso amanheceu em chamas. Cerca de duas mil pessoas são atendidas diariamente na unidade. Com o incêndio, mais de 160 pessoas foram transferidas para outros hospitais, como Getúlio Vargas (Penha), Souza Aguiar (Centro), Evandro Freire (Ilha do Governador) e Fiocruz (Manguinhos). Quatro pessoas morreram em decorrência da transferência: Núbia da Silva Rodrigues, 42 anos que estava internada com covid-19; uma senhora de 83 anos, não identificada, também internada com covid-19; Marco Paulo Luiz, de 39 anos, que também estava infectado com o novo coronavírus; e uma idosa de 73 anos ainda não identificada.

Números da covid-19

Nesta sexta-feira (30), a Maré registra 1.916 casos e 156 mortes por covid-19, entre confirmadas e autodeclaradas, de acordo com o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas. As favelas tem 17.961 casos e 2.223 mortes relatadas até o momento pelo painel. Já no Painel da Prefeitura, a Maré acumula 779 casos confirmados e 126 mortes em decorrência ao vírus. 

Nessa semana o Painel Unificador das Favelas lançou um vídeo sobre o painel desenvolvido para computar os casos de covid-19 em favelas e periferias do Rio de Janeiro. O objetivo é conscientizar a população sobre a importância da produção e acesso de dados para  melhor entender a pandemia nessas localidades, e faz um convite para as pessoas se tornarem relatoras de casos dentro do painel. O vídeo está disponível no site junto ao painel.

Conscientização do Outubro Rosa na Maré

No último dia 24 de outubro aconteceu a 1a Caminhada Feminina “De mulher pra mulher gospel”, ação parte da Campanha Outubro Rosa na Maré. O evento reuniu 170 mulheres que circularam pelo território reforçando sobre a importância da prevenção do câncer de mama, promoção da saúde e do apoio comunitário. A caminhada foi realizada pelo Coletivo “De mulher pra mulher gospel”, composto por 15 mulheres moradoras e voluntárias que atuam na Maré. Confira no Instagram do coletivo. 

Atividades físicas na VOM

A Vila Olímpica da Maré (VOM) está com inscrições abertas para realização de atividades esportivas. Para se inscrever, basta consultar no Facebook da VOM os cursos disponíveis e a documentação necessária para a realização das atividades. As inscrições acontecem pelos telefones: (21) 3977-5788 e 3105-5166. O atendimento presencial é de terça a sexta, das 8h às 15h, na Rua Tancredo Neves, s/nº – Maré.

Um gás para as mulheres da Providência

Os coletivos SOS Providência e o Rolé dos Faveladxs estão juntos dando continuidade na campanha “Um gás para as mulheres da Providência”. Na primeira ação, foi possível ajudar 66 mulheres, mas a meta inicial era atingir 100 mulheres. O coletivo SOS Providência tem arrecadado itens da cesta básica e de higiene, mas percebe que é necessário também que as pessoas impactadas com as cestas também possam receber um botijão de gás para o preparo dos alimentos. É possível ajudar doando e/ou compartilhando o link da campanha.

Festa Literária rompendo barreiras

Estreou nesta quinta-feira (29) a 9ª edição da Festa Literária das Periferias 2020 (FLUP). O evento, que já circulou por algumas favelas cariocas até chegar à região portuária do Rio, acontecerá de forma virtual, permitindo que dessa forma fosse possível o intercâmbio com outras seis cidades do mundo. As mesas de debates serão transmitidas pelo canal do YouTube do Festival ao longo de hoje (30/10) e amanhã (31/10), e dos dias 01, 06, 07 e 08 de novembro. Confira a programação completa aqui.

Agenda Cultural para o Fim de Semana

E na sua primeira edição on-line, o Indie Festival começa a partir de quarta, exibindo 35 de 16 países. Entre os destaques está a pré-estreia de Vitalina Varela, filme do Pedro Costa, cineasta português premiado em Locarno.

Estreia hoje (28/10), a exposição on-line “Em Luta: vítimas, familiares, terrorismo de Estado”, mostra que conta com sete salas virtuais com fotos, vídeos, áudios, documentos, imagens de faixas e artesanato produzido por 25 coletivos de mães de todo o país. A mostra faz parte da 32ª Reunião Brasileira de Antropologia e pode ser visitada aqui.

Também nesta sexta-feira (30) acontece o último dia da exibição do Encontro de Cinema Zózimo Bulbul: Brasil, África, Caribe e outras diásporas. A mostra, que acontece anualmente no Cine Odeon, migrou para o virtual e está com sessões gratuitas. A programação completa e o link para as sessões estão disponíveis aqui.

Começa no sábado (31) e vai até o dia 08 de novembro o 10º Encontro Estéticas das Periferias, evento organizado pela Ação Educativa na cidade de São Paulo. Nesta edição virtual traz mais de 60 atividades, como a dança gumboot, a percussividade afro-brasileira do bloco Zumbiido e a literatura de Ferréz. Confira a programação completa aqui.

No sábado também é celebrado o aniversário de Carlos Drummond de Andrade. Em comemoração da data, o Instituto Moreira Salles disponibiliza um curso de José Miguel Wisnik e dois filmes sobre o poeta: Vida e Verso de Carlos Drummond de Andrade e Consideração do Poema. Os filmes estarão disponíveis aqui

Perdeu os posts da  semana aqui do MN? A gente acha para você!

Segunda (26/10):   

  • Por dentro da Maré: A insegurança alimentar e nutricional foi uma das expressões da desigualdade. Leia mais
  • Em caráter emergencial é instituída a telemedicina no país. Por Hélio Euclides. Leia mais

Terça (27/10):

  • Um incêndio atingiu um dos prédios do Hospital Federal de Bonsucesso, unidade que atende a Maré. Por Daniele Moura.  Leia mais
  • Mulher grávida é atingida em operação policial na Maré. Pela Redação. Leia mais

Quarta (28/10):

  • Concurso Ideias Maré-Cidade traz soluções urbanas para a Maré. Por Thaís Cavalcante. Leia mais 

Quinta (29/10):

  • Maré de Notícias inicia parceria para checagem de fatos junto à Agência Lupa e aos coletivos Favela em Pauta e Voz das Comunidades. Por Thaís Cavalcante. Leia mais
  • #CaiuNaRede: Caiu na Rede é Fake?
  • Checagem 1 : Respiramos gás carbônico ao usar máscara, mas quantidade não é prejudicial a saúde
  • Checagem 2:  É falso sorteio de Cartão Reforma no valor de R$ 5 mil
  • Checagem 3: É falso que ex-boxeador Maguila esteja pedindo ajuda para sair de clínica

Sexta(30/10):

  • Escolas da Maré se reinventam para levar conteúdo aos estudantes. Por Hélio Euclides. Leia mais
  • FLUP 2020: Festa Literária das Periferias faz integração com outras seis cidades do mundo para tratar de questões raciais. Por Andressa Cabral Botelho. Leia mais
  • Na Escola Livre de Dança da Maré professores e alunos não dançam fora do ritmo, o esforço é grande para que o corpo continue em movimento e o trabalho não seja interrompido.   Por Hélio Euclides. Leia mais

Dois para cá, dois para lá, a dança não pode parar

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Moradores de favelas precisam de mais esforços para fazer cursos on-line

Por Hélio Euclides em 30/10/2020 às 14h

Façamos da interrupção um caminho novo. Da queda um passo de dança…”, esse pensamento de Fernando Sabino está bem atual. A internet ruim, o espaço pequeno, a falta de silêncio e a dificuldade de concentração são alguns dos fatores que moradores de favela precisam superar para realizar a aula de dança. Os futuros dançarinos e dançarinas precisam de muita determinação para bailar e não perder o rebolado. Na Escola Livre de Dança da Maré professores e alunos não dançam fora do ritmo, o esforço é grande para que o corpo continue em movimento e o trabalho não seja interrompido. O grupo Dance Maré utiliza os canais da internet para mostrar o talento e ultrapassar as fronteiras da favela.

Desde março, quando começou a pandemia, as aulas da Escola Livre de Dança da Maré que aconteciam presencialmente no Centro de Artes da Maré, passaram a ser remotas. O Núcleo de Formação Intensiva em Dança, parte das ações, e resultado da parceria da Redes da Maré com a Lia Rodrigues Companhia de Danças, teve que finalizar os trabalhos do workshop com a coreografa Cristina Moura de forma remota. Foi o primeiro a aderir o sistema online e um desafio. “Nós entendemos que seria muito difícil para os jovens desse grupo estarem conectados por longos períodos à internet, devido a alguns fatores. Dos 15 estudantes do grupo que tem jovens entre 15 e 25 anos, apenas oito tinham um laptop para assistir às aulas remotas. Sem contar a péssima qualidade da internet na Maré”, comenta Gabriel Lima, coordenador da Escola Livre de Dança da Maré.

Segundo o Censo da Maré 2019, o computador está presente em 42,4% dos domicílios. Trata-se de uma proporção bem abaixo da estimada para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro em 2013, que era de 62,2%, de acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Já o acesso à internet de acordo com o censo alcança 17.515 domicílios, o que corresponde a 36,7% do total. Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, porém, havia computador com acesso à internet em 56,1% dos domicílios, segundo a PNAD de 2013.

A experiência inicial com o Núcleo 2 foi fundamental para pensar como poderia se dar um possível retorno remoto das demais turmas da Escola. Em setembro, o retorno das aulas dos demais cursos aconteceu de forma remota. “Entendemos que as aulas não deveriam durar mais de uma hora, por conta da quantidade de dados móveis gastos nas conexões por chamada de vídeo, uma vez que nem todas as pessoas possuem internet banda larga e também pelas dificuldades de se fazer uma aula de dança utilizando o celular como tela, além de alunos sem acesso ou conhecimento sobre as ferramentas digitais”, diz o coordenador. 

Antes as aulas ocorriam no espaço amplo e hoje são transportadas para a casa de cada aluna e de cada aluno. Salas, quartos, quintais e lajes viraram salas de dança. “O corpo em movimento e o espaço onde ele se encontra estão inseridos no processo de ensino e aprendizagem. Não é raro termos relatos de estudantes que alegam não poder participar das aulas por conta das mais diversas questões familiares, que vão desde não ter espaço disponível até brigas dentro de casa no horário das atividades. Apesar das adversidades, as aulas vêm ocorrendo com aval da Prefeitura e de nossos parceiros e apoiadores, com aderência de nosso público”, conta Lima. As aulas acontecem ao vivo para as turmas que já estavam previamente matriculadas antes do início da pandemia. Mesmo assim qualquer pessoa pode fazer as aulas, pois elas também são disponibilizadas no YouTube da Redes da Maré.

Foi o jeito para manter abertas às portas da Escola para que todos e todas pudessem participar das atividades. Não apenas jovens estão se conectando nas atividades ao vivo, mas também um público mais velho, que já há muito tempo vem marcando forte presença em todas as atividades da Escola. Nas aulas é possível ver jovens, crianças, adultos e idosos direto de suas casas participando das aulas de dança. Para nós, esse é o ponto mais importante neste momento: manter a Escola viva dentro de cada uma e de cada um. E é ótimo poder ter as famílias integradas nesse processo, com a arte sendo produzida dentro de cada lar que se conecta nas aulas da escola”, conclui o coordenador da Escola. 

O amor à dança supera obstáculos

A dança por aula remota é bastante desafiadora, com muitos obstáculos, mas a partir da força de vontade dos professores e dos alunos as aulas estão a todo vapor, por meio dos plataformas virtuais. Dar e fazer aulas de dança on-line é muito diferente de outras áreas de conhecimento, pois o trabalho com o corpo passa por outras instâncias, que falam sobre a relação com o outro. Sylvia Barreto, professora do Núcleo de Formação da Companhia Lia Rodrigues e de ballet clássico na Escola de Danças da Maré, atua há mais de 35 anos no segmento e mesmo assim tudo é novo. “A dança requer presença, por isso a aula a distância não é fácil. Esse instrumento é o que temos no momento, as plataformas da internet são usadas para trabalhar o corpo e não dispersar as pessoas. Uma construção de anos que não pode se perder”, expõe 

Ela conta que tem problemas, como a internet que cai, o delay (distanciamento entre imagem e som), com dificuldade para realizar as correções e na questão da música. “Com os jovens e adultos funciona na medida do possível, mas com criança é bem complicado. Falta espaço em casa, o chão não é adequado, mas estamos tentando. Amo o que faço e isso me faz passar por qualquer revés “, comenta a professora. Apesar de nem todos os antigos alunos participarem das aulas, ela fica feliz por perceber o esforço e a alegria dos que não desistem. A mestre torce para que passe logo esse momento,que a vacina chegue para voltar ao trabalho presencial. 

Com as aulas remotas os professores trabalham muito mais e os alunos também precisam de um maior esforço. Addara Macedo faz aulas de balé e danças urbanas há cinco anos. “Dançar e estar com a turma era um momento de distração e também de concentração. Minha animação foi imediata quando veio a notícia de que teríamos aula on-line. A alegria foi tamanha que nas primeiras eu até chorei”, diz. 

As aulas acontecem quinzenalmente, mas apesar do espaçamento dos cursos, é o momento de rever os amigos, mexer o corpo e aprender mais sobre a dança. “Está funcionando. O tempo também é menor, mas é um encontro que eu não abro mão. Aproveito para, em casa, rever os vídeos da coreografia para me preparar. As aulas fazem a diferença na minha nova rotina. Os professores frisaram muito que não dependemos do espaço, apesar de claro, ser melhor estar nas condições adequadas, mas se temos um corpo para dançar, isso basta”, conclui.

O uso da internet antes da pandemia

Segundo a pedagoga Jussara de Barros, no site Brasil Escola, a definição de dança é a arte de mexer o corpo, por meio de uma cadência de movimentos e ritmos, criando uma harmonia própria. Mas ao bailar cada um tem uma sensação diferente. “Quando danço, esqueço as horas e o mundo inteiro se transforma em palco”, esse é o pensamento de Mayara Benatti. Essa é a impressão do grupo Dance Maré, que com o uso da internet já levou a dança para além dos palcos da favela. Até mesmo antes da pandemia, as suas performances do grupo já eram divulgadas nas redes sociais e no You Tube. 

Atualmente o Dance Maré está  no YouTube e tem mais de 130 mil visualizações no canal, que explora todos os estilos musicais. Para a Dáfine Andrade, dançarina, o grupo é uma vitrine de coisas boas, de talentos escondidos e de jovens que querem levar um pouco de alegria para as vidas ao redor. “É um sopro de ar no meio da vida as vezes conturbada. É uma válvula de escape, que me faz esquecer problemas, me traz amor pela convivência com meus amigos e felicidade através da expressão da arte”, diz. Maryana Oliveira compactua com o mesmo pensamento da colega. “O Dance Maré é o meu lugar, uma família e uma esperança. É o verdadeiro significado da Maré ser um bunker (reduto fortificado) de talentos e de pessoas incríveis”, comenta.

O Dance Maré foi criado em 2019 por jovens moradores do Conjunto de Favelas da Maré que buscam transmitir todo o amor e a beleza dos seus participantes. “No Dance Maré eu posso ser quem eu sou e ser feliz fazendo aquilo que eu gosto. É uma forma de escape, de encontrar a felicidade em uma coisa pequena, mas ao mesmo tempo muito grande. Para as pessoas é uma forma de ver a nossa força de vontade e de que todos podem seguir em frente”, diz Mariane Silva. Para todos os integrantes, o Dance Maré além de ser o lugar onde se distraem, é o espaço no qual fazem o que mais gostam, que é dançar. “A nossa dança também influi dentro da favela. Mostra que aqui também tem pessoas de talento, com algo a oferecer ao mundo, e que outras pessoas podem se espelhar nelas”, expõe Helena Reis.

O grupo atualmente é formado por 15 jovens, nenhum é profissional formado em dança, mas têm a prática como um hobby. Os dançarinos são moradores do Parque União, Nova Holanda e Rubens Vaz, três das 16 favelas da Maré. Uma das metas do grupo é incluir pelo menos um morador de cada uma das 16 favelas da Maré. O objetivo é usar a internet para ir contra a mídia que mostra a favela com violência, mortes e guerras. “Favela para mim é um lugar repleto de talentos escondidos, de amor e de energia. É preciso revelar ao mundo esse lado da favela que tem talento, amor e nossa energia, tudo isso por meio da dança”, finaliza Raphael Vicente, criador do Dance Maré.Quem desejar conhecer mais o Dance Maré, o Instagram e TikTok do grupo é: @dancemareoficial. Já o canal no canal no YouTube é: youtube.com/dancemare.

FLUP 2020: Literatura sem barreiras

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Em meio à pandemia, festival literário carioca faz integração com outras seis cidades do mundo para tratar de questões raciais

Por Andressa Cabral Botelho em 30/10/2020 às 11h

A pandemia nos deu a oportunidade de, por meio da internet, estar perto de pessoas que em dias comuns, jamais seria possível e é exatamente assim, conectada, que vai acontecer a 9ª Festa Literária das Periferias. A FLUP 2020 vai romper as barreiras da cidade do Rio e chegar a outras seis capitais do mundo – Paris, Edimburgo, Madrid, Lisboa, Berlim e Joanesburgo. Estas sete cidades também irão debater sobre literatura e o impacto do caso George Floyd no mundo ao longo dos dias 29, 30 e 31 de outubro e 1, 6, 7 e 8 de novembro.

Toda a programação tem sido oferecida de forma virtual, através do Instagram e Facebook e do canal do YouTube da FLUP. Se antes a proposta era promover encontros presenciais e criar redes de afetos e contatos, agora o Festival consegue ampliar a conversa internacionalmente, alcançando assim, um público mais diverso. “Agora, estamos falando para pessoas de todos os estados do país e mesmo de outros países lusófonos. Com as mesas internacionais, certamente falaremos para os países de que essas pessoas vêm, como a Espanha e o mundo hispânico na mesa da Rita Bosaho e da Lucía Mbomio, a França e o mundo francófono na mesa da Assa Traoré e a África do Sul e todo mundo anglófono na mesa do Achille Mbembe”, destacou Júlio Ludemir, um dos fundadores da FLUP. Os painéis internacionais acontecem graças a uma parceria com o Just Festival – festival de justiça social e direitos humanos de Edimburgo (Escócia) – e o TIFA – Toronto International Festival of Authors, o maior festival de palavras e ideias do Canadá.

Este ano, a feira foi fragmentada em dois momentos virtuais. O esquenta da Flup começou em 12 de maio, com o ciclo de debates Uma revolução chamada Carolina, homenageando a autora Carolina Maria de Jesus. Como resultado da primeira fase da FLUP, será publicado um livro onde mulheres negras, incluindo catadoras de material reciclável do ABC Paulista, farão uma releitura de Quarto de despejo. As mesas contaram com a presença 46 pessoas negras.

A segunda fase começa a partir do dia 29 de outubro homenageando Lélia Gonzalez, uma das referências dentro do Movimento Negro Unificado (MNU) e do feminismo negro, como mencionou Angela Davis, militante do movimento negro dos Estados Unidos. O início da segunda fase é marcado pelo encontro que acontece a partir das 19h com Flávia Rios e Márcia Lima, mediado por Alex Ratts, três pesquisadores que se dedicaram a desenvolver trabalhos sobre a homenageada. O momento é importante também pois será o dia do lançamento do livro Por um feminismo afrolatinoamericano, uma coletânea de ensaios, artigos e entrevistas de Lélia, organizado por Flávia e Márcia. Em paralelo, Flávia e Alex escreveram juntos o livro Lélia González: retrato de um feminismo negro (2014). 

A escolha das duas autoras tem relação ao tema principal da FLUP, que é homenagear figuras importantes da história e como elas retratam questões de raça, classe e poder em seus escritos. Para além desse ponto, a proposta é também chamar atenção para o trabalho desenvolvido por Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez no campo do feminismo negro. A própria Angela Davis questionou em 2019 sobre o nosso desconhecimento de Lélia, que também vale para Carolina e outras autoras negras brasileiras: “Por que no Brasil vocês precisam buscar essa referência [de feminismo] nos EUA? Eu aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês poderiam aprender comigo”. 

O contato de leitores com autores e autoras negras brasileiras ainda é restrito. Em levantamento feito pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea (Gelbc), da Universidade de Brasília (UnB), foram analisados mais de 600 romances nacionais publicados por grandes editoras entre 1965 e 2014. Dos títulos, 10% foram escritos por pessoas negras e 30% por mulheres, o que nos faz entender que as editoras têm uma preferência por um gênero e raça. Mas o cenário tem se transformado.

Autoras como Carolina Maria de Jesus, Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento*, por exemplo, possuem vasta produção intelectual – as duas últimas são nomes de referência no MNU -, mas passaram a ter reconhecimento de um público mais geral no final dessa década, graças a pesquisadores e pesquisadoras que tem organizado e publicado as suas obras e a editoras organizadas por coletivos do movimento negro, a  exemplo da Editora Malê e Filhos da África, ou selos como o “Feminismos Plurais”, da Editora Pólen, criado idealizado pela Djamila Ribeiro

Passado e presente conectados 

“A comida no estômago é como o combustível para as máquinas. Passei a trabalhar mais depressa. O meu corpo deixou de pesar. Passei a andar mais depressa. Eu tinha impressão que eu deslizava no espaço. Comecei sorrir como se estivesse presenciando um lindo espetáculo. E haverá espetáculo mais lindo do que ter o que comer?” O trecho de Quarto de despejo: Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, poderia ser dito por qualquer pessoa que hoje enfrenta a fome de frente, diante a pandemia que tornou evidente os problemas de segurança alimentar do país. 

Ao mesmo tempo que se volta 60 anos para entender a realidade da autora nesse livro, muitas pessoas olham para 2020 com a mesma insegurança que Carolina expôs em sua obra. Em 2018, cerca de 10,3 milhões de brasileiros não tinham acesso regular à alimentação básica, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um aumento de 3 milhões em cinco anos. No mundo, 815 milhões de pessoas não têm o suficiente para se alimentar, segundo as Nações Unidas. Apesar de antigo, a fome segue sendo um assunto recorrente e urgente.

Em seus escritos nos anos 1980, Lélia Gonzalez buscou entender sobre a formação da diáspora negra, que se dá a partir dispersão dessas pessoas de suas terras originárias para outros locais da África, Europa, Ásia ou América devido à escravidão. A partir da formação das diásporas negras, pode-se compreender o processo de desigualdade e racismo e a busca por estratégias de resistência para viver e sobreviver nesses locais. Anos depois, é possível recuperar esses estudos e entender que a produção de racismo e violência policial que acontece na diáspora brasileira é semelhante a que aconteceu com George Floyd nos Estados Unidos em 2020 e a que ocorreu com Adama Traoré, em 2016 na França. 

Pensando nessa relação diaspórica, atravessada por violência e racismo, que une a população negra, os painéis internacionais da FLUP abordam a questão racial após o assassinato de George Floyd e os impactos do racismo na população negra. Uma das convidadas é Assa Traoré, mulher negra e ativista francesa que luta no movimento contra o racismo e violência policial desde a morte de seu irmão, Adama, e um dos principais nomes do movimento Black Lives Matter na França. Além dela, também irá participar em outro momento o ativista senegalês Mamadou Ba, que hoje mora em Portugal e constantemente sofre diversas ameaças devido a sua luta constante pela vida e direito dos migrantes e minorias étnicas. 

* Os textos da historiadora e militante do MNU Maria Beatriz Nascimento também são raros de se encontrar. Diante disso, o antropólogo Alex Ratts organizou o livro Eu sou atlântica, com textos dele esmiuçando a obra de Beatriz Nascimento, além de ter também artigos e poesias da autora.