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Para ter saúde, a Maré só conta com ela mesma

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Como um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro enfrentou crises e epidemias ao longo de sua história e agora encara a covid-19

Por Ana Clara Alves e Jonatas Magno em 09/10/2020 às 9h50

Esse texto é uma iniciativa #Colabora nessa Maré de Notícias, parceria entre o Projeto #Colabora e o Maré de Notícias.

Desde a sua fundação, em 1940, a Maré atravessa crises de saúde. surtos e epidemias – e agora encara o calvário da pandemia do coronavírus. Historicamente esquecida por agentes públicos, governos e instituições, a população do conjunto de 16 favelas que se espalha pela Zona Norte carioca conta só com ela mesma na luta pelo bem estar. As muitas dificuldades das comunidades com problemas de habitação, saneamento e segurança são potencializadas em momentos como o atual. 

Antes, vamos entender as crises de saúde, seus tamanhos e dimensões. Um surto acontece com o aumento repentino de casos de uma doença em região específica – como a meningite nos anos 1970. Epidemia se dá quando uma doença atinge grande número de indivíduos, sem imunização adequada, em uma região específica – a dengue e a aids são dois exemplos. Pandemia é o contágio em mais de dois continentes, aproximadamente ao mesmo tempo. 

A covid-19 conta quase 35 milhões de casos e pouco mais de 1 milhão de mortes mundo afora (até dia 4 de outubro). O geógrafo Luiz Lourenço, formado na UERJ e professor de pré-vestibular comunitário na Maré, constata a dificuldade para se precaver do coronavírus. “Na favela, a gente tem capacidade para transformar o nosso espaço e evitar epidemias? Não, não tem. E aí a covid-19 bota isso em evidência. O adensamento das casas é muito forte em algumas áreas. Por exemplo, no P.U (Parque União) tem muita gente aglomerada em pouco espaço, e a infraestrutura não dá conta do saneamento, que é quase inexistente. Ao mesmo tempo, a arquitetura das casas não permite maior circulação de ar.”

O cumprimento “novo normal” enquanto vivemos a pandemia.
Foto © Douglas Lopes

A abertura gradual do comércio e o retorno de alguns setores levaram ao crescimento de número de casos na cidade. Com a alta demanda e pouca estrutura para tratamento e testagens, muitos casos são ignorados pelas autoridades de saúde – as subnotificações. Logo, o número de casos e óbitos deve ser ainda maior.

No início do ano, a Redes da Maré publicou nota comentando a situação precária de saúde carioca. O sistema havia sofrido desmonte devido a cortes nos recursos e as Clínicas de Saúde da Família, o Centro de Atendimento Psicossocial e as equipes de Consultório na Rua, àquela altura, não conseguiam garantir o atendimento. Muitos profissionais saíram pela falta de condições de trabalho, e seus postos não foram preenchidos. Os profissionais que ainda continuaram em serviço trabalhavam em escalas de greve. Além da precariedade, ainda lidavam com a ausência de itens básicos.

“Adoecem os moradores, sem conseguir atendimento, adoecem os trabalhadores da saúde por não conseguirem trabalhar e garantir seu futuro. Adoece toda uma comunidade que sofre com a falta de direitos básicos”. O texto da Redes da Maré combina com a pandemia. Segundo Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), a testagem em massa da população é uma das maneiras mais eficazes de evitar a proliferação do coronavírus. Todavia, segundo a 13ª edição do Boletim “De Olho no Corona!”, publicada dia 30 de julho, que auxilia no monitoramento dos casos suspeitos na Maré, os dados mostram que a cada dez  pessoas sintomáticas, apenas três tiveram acesso à testagem. A escassez dos materiais necessários para a fabricação dos testes e a dificuldade em estabelecer uma cadeia logística eficiente são fatores que dificultam a testagem e afetam ainda mais as favelas.

O Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro, da organização Comunidades Catalisadoras (Comcat), apresenta dados de 25 comunidades, com objetivo de unificar dados produzidos por diferentes organizações que atuam nas favelas do Rio e da Região Metropolitana. Os números são mais elevados em comparação aos da Prefeitura. Dia 9 de outubro, de acordo com os números do painel criado pela Comcat, a Maré apresentava 1.667 casos e 126 mortes. Já a Prefeitura falava em 701 ocorrências e 123 óbitos.

Arboviroses (Dengue, Zika, Chikungunya e Febre Amarela)

Nas crises de saúde ao longo dos 80 anos de existência da Maré, mudam apenas a doença e sua intensidade. Desde o fim do século 19, quando surgiram os primeiros registros da dengue no Brasil, o mosquito Aedes aegypti tem sido um desafio para a saúde pública brasileira. Inicialmente, lidava-se com a epidemia de dengue e febre amarela. Mas agora, o mosquito apresenta desafios ainda maiores ao trazer outras duas doenças sérias – chikungunya e zika – que têm preocupado autoridades sanitárias de todo o país. 

Na Maré, existe um projeto voltado para o enfrentamento das arboviroses, o Heróis contra Dengue (antigo Xô, Dengue) que fortalece ações de conscientização contra dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Norbert Lehmann, membro fundador e presidente da Ireso (Instituto de Relações e Projetos Educacionais e Sociais Rio de Janeiro), um dos principais apoiadores do projeto, explica o que lhe motivou a criá-lo: “Comecei este projeto já em 2010, em uma escola católica na área portuária do Rio. O gatilho foi a morte da Janine, de 4 anos, na favela onde tratei crianças. A menina morreu de dengue hemorrágica na fila em frente ao hospital. Não esquecerei o lamento da mãe e dos outros familiares dela. O mais trágico sobre este caso é que, se a mãe tivesse conhecido os sintomas e o curso da doença, poderia ter reagido muito mais cedo. A morte da pequena Janine era evitável. Portanto, ficou claro para mim que a educação é a chave na luta contra esses arboviroses”. De volta à Alemanha, ele começou a desenvolver o projeto, hoje em quatro escolas públicas do Estado do Rio: duas em Maricá, uma em Teresópolis e uma na Maré.

Participante do projeto em 2016 e 2017, Lorena Froz disse que o trabalho de conscientização do governo e do projeto deu possibilidade das pessoas conhecerem mais sobre as arboviroses: “As pessoas entenderam os sintomas, como evitá-los, ganharam consciência sobre a doença. Mas não acho que tenha sido de uma hora para outra. O projeto é um multiplicador. Os jovens de 11 a 14 anos aprendem o necessário para poder transmitir o conhecimento na Maré, explica Lehmann.

Meningite

A meningite foi uma angústia no Brasil dos anos 1970. Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Carlos Fidelis Ponte explica que a doença é endêmica – quando a população consegue conviver com o mal. Em 1971, o país enfrentou uma epidemia da doença, por causa do êxodo rural, movimento que envolveu cerca de 20 milhões de pessoas, segundo o pesquisador. “Essas pessoas chegavam nos grandes centros e não eram recebidas como deveriam. Foram para zonas degradadas, terrenos baldios ou favelas”. 

Para Ponte, deu-se aí a expansão dos cinturões de miséria que cercam os grandes centros brasileiros. O aglomerado de pessoas em situação precária favoreceu o contágio. A meningite surgiu em Santo Amaro, bairro da zona sul de São Paulo.

À época, o Brasil vivia uma ditadura que apostava na propaganda de país do futuro, que se desenvolvia velozmente. Logo, seria ruim que chegasse ao povo a informação de uma epidemia relacionada à miséria. A censura impediu que fossem tomadas as devidas precauções, o que contribuiu para a doença se espalhar, com grande índice de letalidade da doença. 

A falta de informação atrelada a dificuldades territoriais impediam moradores da Maré de tratar das doenças. Isaías Francisco de Araújo, conhecido como Mascote, morador desde 1962 da Rua Praia de Inhaúma, no Morro do Timbau, recorda as dificuldades: “Ninguém tinha muito recurso. Médico muito longe. (…) Antigamente tinha o chazinho da vovó, que todo mundo acreditava muito. A maioria apelava para ele.”

A doença, no início restrita às crianças, passou a atingir adultos. A meningite, que antes só tinha do sorotipo C, passa para o sorotipo A, rápido e letal. Não havia estrutura para debelar a doença e, dentro das comunidades populares, as pessoas sequer sabiam como identificá-la. Por conta da vacinação, os números atuais de meningite são baixos – em torno de 2 casos para cada 100 mil habitantes por ano.

Por mais que as comunidades populares sejam mais propensas a propagação de doenças e surgimento de epidemias, elas continuam à margem na visão do Estado. Como nas outras crises, as formas mais efetivas de combate surgem em iniciativas internas, voluntárias, com os moradores como agentes ativos. O auxílio público não chega.

A desigualdade se mostra também na análise por raça. Para cada dez brancos que morrem vítimas da covid-19 no Brasil, são 14 óbitos de pretos e pardos, segundo a rede de TV CNN, que se baseou em base nos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde divulgados até junho. A doença que realmente não tem cura, no Brasil, é a insensibilidade social.

Ou como ensina Bell Hooks, em “Vivendo de Amor”: “É a falta de amor que tem criado tantas dificuldades em nossas vidas, na garantia da nossa sobrevivência. Quando nos amamos, desejamos viver plenamente. Mas quando as pessoas falam sobre a vida das mulheres negras, raramente se preocupam em garantir mudanças na sociedade que nos permitam viver plenamente.”

Se liga, bicho! Raiva é caso sério

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Tutores devem levar cães e gatos para tomar a vacina antirrábica a partir de outubro

Por Hélio Euclides em 05/10/2020 às 19h30

O início de outubro está sendo marcado pela Campanha Nacional de Multivacinação de crianças e adolescentes. Mas não são só pequenos que devem ser imunizados nesse momento. A Prefeitura dá a partida no programa “Se liga, bicho! Raiva é caso sério”, com o objetivo de garantir a imunização de cerca de 500 mil cães e gatos com a vacina antirrábica. O alvo é dar um fim na transmissão da  hidrofobia, doença mais conhecida como raiva humana, transmitida pela saliva de animais infectados. A infecção acontece principalmente pelas mordidas, mas também podem ocorrer por  arranhões e lambidas dos bichos doentes.

A campanha antirrábica animal é feita com a vacina distribuída pelo Governo Federal para os estados, que fazem o repasse aos municípios. Em 2019, porém, o insumo não foi entregue, inviabilizando a campanha. Mesmo sem o repasse de vacinas, o município do Rio imunizou no ano passado mais de 33 mil animais com a reserva técnica de doses da campanha de 2018. A raiva é uma doença infecciosa viral aguda, fatal tanto para animais quanto para humanos. 

Este ano, o sinal amarelo acendeu quando em março o estado do Rio de Janeiro registrou a primeira morte por raiva humana do Rio de Janeiro desde 2006, com o caso de um adolescente de 14 anos mordido por um morcego em Angra dos Reis. No município do Rio, não há ocorrência de raiva humana desde 1986, há 34 anos, e de casos da doença em cães e gatos, desde 1995, há 25 anos.

Para Caio Silva Rodrigues, comportamentalista de animais e morador do Morro do Timbau, a dica importante é cuidar dos animais sem tratá-los como seres humanos. “O amor para gente é uma coisa, já para os cachorros e gatos é outra. O que achamos que é bom para eles às vezes não é. Por isso, precisamos respeitá-los e compreendê-los, para não fazer mal ao animal”, diz. Sobre a saúde, recomenda o cuidado com os dentes, exercícios e ter a carteira de vacinação em dia. “Tenho duas cadelas que tomaram a vacina contra raiva no veterinário, pois a campanha de vacinação é pouco divulgada”, conclui.

Caio Silva durante passeio com seus cachorros – Arquivo pessoal

A Prefeitura do Rio, por meio da Subsecretaria de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses da Secretaria de Saúde dividiu a campanha em cinco etapas. A primeira ocorreu na Zona Oeste, no primeiro final de semana de outubro. Os tutores de animais devem procurar os postos mais próximos de suas casas. O atendimento em todos os pontos ocorrerá das 9h às 17h. A Vigilância Sanitária já divulgou as datas e regiões nas quais acontecerão as próximas etapas. Os locais de atendimentos só serão divulgados no decorrer da campanha. Mais detalhes estão na página da Vigilância Sanitária.

Cronograma da vacinação

2ª Etapa – 23 e 24/10 – Bangu e Campo Grande

3ª Etapa – 06 e 07/11 – Madureira, Guadalupe, Jacarepaguá e Barra da Tijuca

4ª Etapa – 04 e 05/12 – Ramos, Penha, Inhaúma, Engenho de Dentro e Irajá

5ª Etapa – 18 e 19/12 – Centro, Zona Sul, São Cristóvão, Tijuca, Vila Isabel e Ilha do Governador

Orientações para tutores de cães e gatos

– A imunização é exclusiva para cães e gatos acima de três meses de idade;

– Fêmeas gestantes não devem ser vacinadas;

– Os cachorros devem estar de coleira e guia e os gatos em caixas de transporte apropriadas;

– Só serão vacinados os bichos que estiverem sob a tutela de maiores de 18 anos, que serão inteiramente responsáveis pela contenção dos animais;

– Reforçando que o animal será vacinado no local. Não é permitido levar vacina para casa;

– Para quantitativos acima de vinte animais, a solicitação para vacinação deve ser registrada na Central 1746. Os responsáveis devem informar nome e telefone para contato, a quantidade e o endereço. A equipe do Centro de Controle de Zoonoses entrará em contato para fazer o agendamento para esses grupos;

– Até 36 horas após a aplicação da vacina, é possível que os animais tenham sintomas como dores no local, febre e que fiquem com o comportamento mais quieto;

– Os tutores devem usar obrigatoriamente a máscara, respeitar o distanciamento social.

Além da vacinação tem castração

A castração de cães e gatos também é oferecida gratuitamente pela Secretaria de Municipal de Saúde, de segunda a sábado, das 8h às 17h – sendo o sábado exclusivo para até 150 cirurgias voltadas aos felinos. O serviço, que retornou no dia 12 de agosto,  está sendo feito  pelos e-mails [email protected] e [email protected], para até três castrações por CPF. As solicitações de agendamento serão avaliadas e respondidas caso a caso. 

Após autorização, os procedimentos da castração gratuita ocorrerão em um dos endereços das unidades veterinárias da Vigilância Sanitária:

– Centro de Controle de Controle de Zoonoses Paulo Dacorso Filho (CCZ): Largo do Bodegão, 150 – Santa Cruz

– Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman (IJV): Avenida Bartolomeu de Gusmão, 1.120 – Mangueira

Também existe a Unidade de Saúde Médica Veterinária, da Subsecretaria de Bem-Estar Animal, na pista de subida da Avenida Brasil, altura da passarela 9. De acordo com a pasta, o atendimento clínico geral e de castrações ocorre de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas.  

Além de cães e gatos, pássaros em casa

Na Maré, além de caninos e felinos, são muitos os criadores de pássaros, que se reúnem para disputa de cantos das aves e vendas dos animais. As assessorias de comunicação social da Subsecretaria de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses e da Vigilância Sanitária Rio informam que em relação aos pássaros em casa, são permitidas as espécies domésticas e não silvestres. Para ter aves nativas em casa a pessoa tem que ter autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Possuir animal silvestre sem autorização do IBAMA é crime ambiental, passível de multa e apreensão do animal.

Um perigo na ciclovia

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Pedestre perde a vida a caminho da Cidade Universitária

Por Hélio Euclides em 07/10/2020 às 19h40

Não foram pouca as academias  fechadas por causa da pandemia e gente se adaptando para manter as suas atividades físicas. Na Maré a alternativa foi Cidade Universitária como local de caminhada, corrida e até andar de bicicleta. Mas como a via é muito perto da passagem de veículos, acidentes acontecem. No dia 08 de agosto, Rodrigo Leite, morador de uma das favelas da Maré, a Baixa do Sapateiro, estava na ciclovia próximo à Linha Amarela para sua corrida matinal, quando foi atingido por um carro desgovernado. O atleta morreu e os dois ocupantes do carro ficaram feridos. Desde então, colegas de corrida lutam para que  haja maior  proteção para os pedestres. 

Testemunhas, que circulavam no local no dia do atropelamento, contam que o carro desgovernado subiu a calçada e atingiu Rodrigo, que caminhava na ciclovia, na lateral da Linha Amarela, sentido Barra da Tijuca. A tragédia ainda podia ser maior, porque não são poucas as pessoas que utilizam a Cidade Universitária para se exercitarem, jogarem futebol ou, simplesmente, levarem as crianças para brincar. Próxima à ciclovia, a pista da Linha Amarela tem a  “tartaruga” –  espécie de sinalização amarela fixada no pavimento, para reduzir a velocidade -, mas apesar do obstáculo, os motoristas aproveitam o acostamento improvisado para cortar caminho. 

No viaduto em cima da Linha Vermelha, onde pedestres usam entre a passarela de acesso e a ciclovia, uma grade protege os transeuntes. Mas na ciclovia e na calçada, as pessoas só podem contar, com a sorte. “Acredito que mais de 50 pessoas passam pelo local na parte da manhã e o mesmo número no final da tarde, para a prática de esporte. No domingo ainda é mais intensa a circulação”, conta Celso Roberto, professor de Educação Física.

Celso enviou um e-mail para a ouvidoria da Lamsa (Linhas Amarelas S/A) pedindo providências. A concessionária respondeu que apesar da ciclovia em questão não fazer parte do contrato de concessão, está em contato com o órgão responsável para uma atuação na área, como forma de diminuir os acidentes e proteger a vida das pessoas que utilizam a região da Cidade Universitária como local de passagem ou para a prática esportiva. Num segundo e-mail, a ouvidoria sugeriu que Celso entrasse em contato com a Prefeitura, através do telefone 1746.

“Enquanto não vêm uma solução, sugiro aos meus alunos, corredores e frequentadores do Fundão que tenham muita atenção, que usem apenas um lado do fone de ouvido, que evitem correr na via e que fiquem atentos”, expõe Celso. A assessoria da Lamsa enviou a mesma resposta para o Maré de Notícias. Num segundo contato disse que a ciclovia pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por isso, a discussão está sendo feita em conjunto. A assessoria de imprensa da UFRJ informou agora, em outubro, que a área do acidente não é administrada pela universidade. Completou que a Prefeitura da UFRJ se reunirá com a Lamsa.

Um empurra empurra que parece não ter fim, enquanto isso a vida das pessoas que utilizam a área de lazer está em perigo.

Luta que vem de dentro

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Profissionais da saúde, moradores e instituições locais encaram a precarização de serviços psicológicos com iniciativas que promovem a saúde mental na Maré. O complexo de favelas enfrenta, ainda, a realidade de ser o território com mais casos de covid-19 no Rio de Janeiro.

Por Thaís Cavalcante em 06/10/2020 às 10h08

Esse texto é uma iniciativa #Colabora nessa Maré de Notícias, parceria entre o Projeto #Colabora e o Maré de Notícias.

Ruas vazias, mentes cheias. O medo de pegar coronavírus ocupa os pensamentos dos moradores da Maré com um enfrentamento ainda maior do que o resto da cidade, do país, do mundo. Outras ameaças cotidianas também atravessam a vida favelada, como o desemprego, a violência armada e a falta de direitos básicos. Para quem lida com questões psicológicas, a chegada da covid-19 fez os cuidados com a saúde mental serem ainda mais necessários. Seis meses depois, a flexibilização de atividades econômicas acontece, enquanto mais de 14 mil casos da doença são confirmados nas comunidades populares cariocas, segundo mapeamento do Painel Unificador Covid-19 Nas Favelas, divulgado no dia 5 de outubro. 

Os desafios dessa crise foram previstos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que tratou a pandemia não só como uma questão sanitária e humanitária, mas também de saúde mental. Cerca de 30% a 50% das pessoas que já estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica e psicossocial, como os moradores de favelas, têm mais chances de desenvolver algum sofrimento psíquico ou enfrentar agravamento dos sintomas.

Psiquiatra Carlos César atende no CAPS ‘Magal’ e atua na área de saúde mental do Complexo Maré há mais de cinco anos. (Foto: Gabriel Loiola)

Carlos César de Carvalho, psiquiatra do CAPS Magal, dá suporte em seis Clínicas da Maré e atua nas 16 favelas do complexo há mais de cinco anos. Ele afirma que os transtornos mentais são mecanismos de defesa que a mente desenvolve para lidar com determinadas situações. O alerta deve acontecer quando as sensações forem além do nível de proteção. “De maneira nenhuma sentir é um transtorno. Cada um vai ter um mecanismo para dar encaminhamento a esse sofrimento. Falar disso é um jeito importante de trabalhar essas questões”.

Anna Cláudia Neves, comunicadora de 45 anos e moradora da Salsa e Merengue, na Maré, lida com ansiedade, síndrome do pânico e depressão há três anos. Sem conseguir renovar a receita para comprar os remédios controlados, teve crises de abstinência. “Eu chorava e tremia. Só depois das reações entendi que era pela falta dos remédios. Não tinha como ir na Clínica da Família porque a prioridade era me proteger do coronavírus”, relata.

Ainda que a Anvisa tenha mudado as regras para facilitar o recebimento de remédios em casa e para os pacientes poderem comprar medicamentos em maior quantidade, na favela não funciona assim. As incertezas de Neves também foram motivadas pela situação local. A Maré é o território popular com mais casos confirmados de coronavírus do Rio, somando 1.667 (até 6 de outubro), número certamente subestimado pela subnotificação (a cada dez moradores, apenas três foram testados ou diagnosticados). Para se ter uma ideia, o Painel Unificador Covid-19 Nas Favelas do Rio de Janeiro, feito a partir de relatos de moradores e lideranças comunitárias, revela que entre suspeitos e confirmados são mais de 14.651 casos e 1.941 mortes. (05/10)

Aumento na procura de atendimento

A saúde mental, no Brasil, é um direito de todos os cidadãos, assim como o acesso aos serviços públicos. Para os moradores de favelas, o anseio é atravessado por violências diversas – racial, de gênero, policial – e pela falta de acesso a prerrogativas básicas. Esses fatores também são importantes para o surgimento e agravamento de transtornos. “O aumento na procura por atendimento, muitas vezes por ansiedade ou depressão, é consequência do estresse a mais que a população da Maré enfrenta, muito ligado a vulnerabilidade social e econômica”, explica Carlos Cesar. 

O acompanhamento em saúde mental para os mais de 140 mil moradores da Maré se dá pelas equipes de Atenção Primária da Clínica da Família. São elas: Augusto Boal, Jeremias Moraes da Silva, Diniz Batista dos Santos e o Centro Municipal de Saúde Américo Veloso. Boa parte dos atendimentos presenciais foi suspensa devido à pandemia, e a assistência nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) precisou ser adaptada para o formato remoto. “A gente tem a questão do distanciamento social, de não poder estar tão próximo, o uso da máscara às vezes nesse contato interpessoal é uma dificuldade. O CAPS funciona muito no coletivo, e esse contato durante a pandemia fica prejudicado, assim como a menor frequência dos pacientes indo ao serviço”, afirma Carlos César.

Uma alternativa foi oferecer serviços psicológicos por meio de canais digitais, que são permitidos por lei. Foi feito atendimento por telefone e online, além da reabertura de enfermarias de covid-19 exclusivas para pacientes. No CAPS Magal, por exemplo, o atendimento pelo WhatsApp e os grupos de discussão foram fundamentais para o acompanhamento. Carlos César conta que a solução alcança a muitos, mas não a todos. “Em algumas situações mais frágeis, as pessoas não têm acesso fácil ao telefone e à internet”. Assim, nos casos mais graves, o atendimento presencial foi mantido.

As estratégias de cuidado vão além de uma consulta. Os profissionais de saúde têm a liberdade de circular para visitas domiciliares, tentando manter a proximidade com os pacientes. Mas é insuficiente. A demanda aumentou durante a pandemia, mas o número de psicólogos, não. A 14ª edição do Boletim “De Olho no Corona!”, que abordou os impactos da crise sanitária na saúde mental da população da Maré, mostra isso. A necessidade de investimentos para a ampliação de atendimento psiquiátrico e psicológico é urgente. Principalmente quando o Sistema Único de Saúde (SUS) é a única alternativa.

Neves aguarda há dois anos na fila do Sistema Nacional de Regulação (Sisreg) para receber atendimento psiquiátrico em uma das Clínicas da Maré. Depois do tratamento, ela tem o desejo de começar a Faculdade de Psicologia. Enquanto esse momento não chega, dedica seu tempo e energia, junto com a irmã Simone Laur, no projeto Mentes da Maré, que beneficia cerca de 200 moradores, com apoio psicológico online e gratuito, desde março de 2020. Além de um suporte e acompanhamento diário  de 10 profissionais de saúde voluntários. Como forma de conscientização, no Setembro Amarelo, o projeto marcou os postes da favela com cartazes sobre ansiedade.

As tarefas do trabalho voluntário são feitas com um notebook emprestado, dois celulares e pacotes de dados. “A gente está indo mesmo pelo interesse, metendo a cara. Queremos manter o projeto depois da pandemia, pois haverá crianças e mães que vão precisar de ajuda. Mais do que isso, os próprios pacientes estão pedindo roda de conversa, quando tudo voltar a abrir”, conta.

Psiquiatra Carlos César e seus dois pacientes, em frente ao CAPS ‘Magal’ de Manguinhos, que também atende moradores da Maré. (Foto: Gabriel Loiola)

Historicamente vulneráveis

Iniciativas locais surgem como apoio social neste período, em que fica mais exposto o pouco investimento em saúde mental, desde que equipes de saúde sofreram atrasos de salário e demissões, em 2019. “A gente não vê uma mudança do poder público para reestruturar esses serviços. O contexto da saúde mental em termos de atendimento e de serviço já era precarizado antes da pandemia e incapaz de dar conta”,  atesta Luna Arouca, assistente social e coordenadora do Espaço Normal, projeto da Redes da Maré referência no atendimento à população em situação de ruas e usuários de drogas na Maré. Nesse cenário difícil, a Telemedicina SAS Brasil fortaleceu seus atendimentos online e gratuitos aos moradores de periferias do Rio de Janeiro e São Paulo. Já são mais de 4 mil consultas.

Moradores da Maré usam o WhatsApp para realizar atendimento médico e psicológico, de forma online e gratuita. (Foto: Gabriel Loiola)

“Quando falamos em saúde mental na favela, o diagnóstico e tratamento são importantes, mas não somente eles. É promovendo cidadania que se produz enfrentamento”, prega Thiago Melício, professor e psicólogo, atuante na assistência em periferias. “As políticas públicas são capazes de ofertar uma melhor estrutura de enfrentamento, para que as pessoas possam acessar as políticas de assistência, de justiça e de educação. São elas que vão formar essa rede de cidadania”. Carlos César concorda. “A gente consegue provocar uma mobilização, para melhorar a vida das pessoas em torno da busca da realização dos sonhos e de sentidos para a vida”.

Só foi possível pensar em alternativas depois da reforma psiquiátrica, em que os pacientes tiveram leis e políticas de regulamentação para tratamento humanizado. Antes, as pessoas eram limitadas às suas condições. Com a luta antimanicomial, os pacientes são o foco.

O que não diminui o valor que devemos dar ao cuidado. O projeto Mentes da Maré, por exemplo, inspira a criação de iniciativas parecidas no Complexo do Alemão e na Rocinha. Dentre os desafios, Neves cita o preconceito. “Gente pobre tem problema mental sim, não é doença de rico. O trabalho exige mais da gente, a vida exige mais da gente. E a ideia é que eles [pacientes] fiquem confortáveis em saber que, perto deles, alguém que se importa”.

A prática da valorização da vida vem de profissionais da saúde, moradores e instituições locais, diariamente, ainda que com pouco investimento. Vem das iniciativas e atividades online, da distribuição de itens de higiene, cestas básicas e outras práticas de cuidado com cada mareense. Com as ruas cheias, a luta continua vindo desse mar de gente. 

Iniciativas gratuitas de apoio a saúde mental na Maré:

Telemedicina SAS Brasil – Atendimento psicológico online 

  • WhatsApp: 21 99272-0554

Espaço Normal – Espaço de Redução de Danos

  • Telefone: 21 3105-4767

Instituto Yoga na Maré – Aulas de yoga online

  • Instagram: @yoganamare

Mentes da Maré – Atendimento psicológico online 

  • WhatsApp: 21 98635-7575
Thaís Cavalcante
Jornalista formada pela Centro Universitário Carioca , nascida e criada na Maré. É repórter do Maré de Notícias e co-fundadora do Portal Favela em Pauta. Passou por veículos como “O Cidadão”, “Voz das Comunidades” e “The Guardian”. Vencedora do Prêmio Ações Locais pela Secretaria Municipal de Cultura em 2015. Tem como paixão, contar histórias sobre as favelas.

Ronda Coronavírus: Ministério da Saúde inicia campanha de multivacinação

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A expectativa é vacinar 95% das crianças brasileiras contra a poliomielite

Por Andressa Cabral em 05/10/2020 às 20h51

Enquanto pesquisadores continuam no desenvolvimento da vacina da covid-19, começa nesta segunda-feira (05) a campanha de multivacinação e vacinação de poliomielite. O objetivo é imunizar e atualizar as vacinações de crianças e adolescentes de 6 meses a 15 anos, do dia 05 ao dia 30 de outubro. Com 11,2 milhões de crianças no país, a meta do Governo é imunizar 95% delas contra a poliomielite durante a campanha. Na cidade do Rio, as vacinas estarão disponíveis das 8h às 17h, nas Unidades da Atenção Primária à Saúde.

No calendário das crianças de 0 a 10 anos, 14 vacinas fazem parte da campanha: BCG, Hepatite B, Penta (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e poliomielite), Pólio inativada, Pólio oral, Rotavírus, Pneumo 10, Meningo C, Febre Amarela, Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), Tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela), DTP (tríplice bacteriana), Hepatite A e Varicela. Para os adolescentes, é o momento de se vacinar e de fazer o reforço de imunizações tomadas na infância. São elas: Hepatite B, Difteria e tétano adulto (DTPa), Febre Amarela, HPV quadrivalente, Meningocócica ACWY, Tríplice viral e Varicela.

Além dessas vacinas, também está disponível a vacina de sarampo na faixa etária de 6 meses até 59 anos. Dessa forma, os adultos que forem levar as crianças para se vacinar podem aproveitar a ida às unidades de saúde para também se imunizar.

Testes de possível imunizador contra a covid-19

Também nesta segunda-feira (05), 1000 profissionais da área da saúde que atuam no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) e no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) serão vacinados com a vacina BCG, medicamento que está em fase de testes e que pode ser um possível imunizador contra o coronavírus. Após a imunização, esses profissionais dos hospitais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), serão monitorados de seis meses a um ano para coleta de dados.

A iniciativa faz parte da RedeVírus, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e a Fiocruz também está desenvolvendo ensaios clínicos com a BCG contra a covid-19. A vacina, entretanto, não é uma substituta para a vacina contra a covid-19, mas uma solução provisória que pode ajudar no combate da doença enquanto a vacina oficial não fica pronta. 

Boletim Covid-19

Pelo quinto dia seguido, o estado do Rio tem tendência de queda na média móvel de mortes. Segundo o boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), o estado registrou 18.780 mortes e 273.338 casos confirmados. Foram 11 vítimas e 1.637 pessoas infectadas nas últimas 24h. O Rio de Janeiro é o quarto estado do país em números de casos, atrás de São Paulo, Bahia e Minas Gerais. Ainda segundo a SES,  a cidade do Rio registrou 107.643 casos e 11.118 mortes por covid-19 na noite desta segunda-feira (05). Até o fechamento, o painel da Prefeitura não tinha atualizado os dados e disponibilizados os números da Maré.

Nas últimas 24h foram mais 323 mortes e 11.946 casos de coronavírus no país, fazendo com que fiquemos mais próximos dos 5 milhões de casos. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o país tem até o momento 146.675 mortes e 4.927.235 casos de covid-19. De todos os casos, São Paulo é o estado com o maior número de casos, ultrapassando no domingo (04) a marca de 1 milhão de pessoas contaminadas. 

Mesmo com o número, o governador de São Paulo, João Doria, determinou o retorno opcional às aulas presenciais da rede pública de ensino a partir do dia 07 de outubro.

Mamografia gratuita

O Rio Imagem oferece gratuitamente ao longo do mês de outubro o exame de mamografia para mulheres moradoras do estado do Rio na faixa etária de 50 a 69 anos. A iniciativa faz parte da campanha do Outubro Rosa, de prevenção ao câncer de mama. As interessadas em realizar o exame devem comparecer na Avenida Presidente Vargas, nº 1.733, de segunda à sábado, de 8h a 17h, com encaminhamento de hospital público, não precisando de agendamento. 

Dia Nacional do Agente Comunitário de Saúde

Dia 04 de outubro é dia de celebrar e exaltar o trabalho dos agentes comunitários de saúde, profissionais que trabalham diariamente em um programa que há mais de 30 anos mantém a população próxima de seus direitos básicos de saúde. Confira aqui sobre o trabalho desses profissionais.

Colabora nesta Maré de Notícias

Começou hoje a divulgação aqui no nosso portal e também no site do Projeto Colabora as cinco reportagens vencedoras do Edital que ofereceu 3 mil reais em bolsa para jovens jornalistas da Maré. Conheça a reportagem de Matheus Luis Chagas e Eliane Lopes sobre os desafios da educação à distância na Maré clicando aqui. Também já está disponível a matéria de Mylene Fortunato sobre as dificuldades encontradas para o sustento da família por mulheres negras mareenses.

Pandemia acentua dificuldades para mulheres negras da Maré

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Coronavírus atinge duramente alternativas de emprego e renda, e só muita mobilização consegue amenizar o problema

Por Myllenne Fortunato 05/10/2020 às 18h15

Esse texto é uma iniciativa #Colabora nessa Maré de Notícias, parceria entre o Projeto #Colabora e o Maré de Notícias.

As medidas determinadas pelas autoridades para tentar conter a pandemia do coronavírus no Brasil provocaram impactos dramáticos em toda a sociedade – mas, para quem vive nas favelas e periferias foi ainda pior. Muitas pessoas perderam empregos, empresas fecharam as portas, trabalhadoras domésticas ficaram desamparados, ambulantes viram seus clientes desaparecerem, microempreendedores foram privados de suas fontes de renda. O desemprego atingiu muitas famílias, porém chegou pesado, especialmente, às mais pobres. 

O grupo mais afetado foi o que mais sofre no Brasil, desde (quase) sempre): as mulheres negras, que representam 28% da população . Elas têm 50% mais probabilidade de ficarem desempregadas, na comparação com outros grupos, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A advogada, professora universitária e gestora acadêmica Tatiane Duarte, 45 anos, explica que o isolamento social não acontece da mesma forma para todos. “No trabalho doméstico, muitos foram dispensados ou obrigados a ficar permanentemente no emprego, confinados com os patrões”, observa. 

A população negra, historicamente, é a mais afetada pelo desemprego – cenário que se agrava numa crise profunda como a atual. “Aí, a gente percebe que, além de o problema ser maior numa reação em cadeia, essas mulheres vão impactar suas famílias, na quais elas normalmente são provedoras”, atesta Tatiane.

Mulheres negras têm maior probabilidade ao desemprego em meio a Pandemia. Foto: Myllenne Fortunato

A ambulante Maria Luiza da Silva Neta, 27 anos, mãe de Malluh, 11, se viu sem chão, ao saber que não teria mais como sustentar a filha após o fechamento do Camelódromo no Centro do Rio, onde trabalhar. “Fiz investimento para as vendas no Carnaval, mas foi o último momento em que consegui alguma coisa”, conta a moradora da Rubens Vaz, angustiada com despesas como o aluguel da casa.

O jeito foi tentar outras formas de trabalho e, a partir da sugestão de uma amiga, Maria Luiza montou um bazar de roupas infantis em casa, com transações online. “Em uma noite, montei o negócio e pedi a opinião de algumas freguesas. Não esperava retorno tão grande”, admira-se a, agora, dona do bazar da Malluh.

A história de Maria Luiza serve de exceção para confirmar uma regra triste. Muitas trabalhadoras não conseguiram completar a transição e precisam de apoio. Diante da demanda crescente, ONG´s e coletivos até ultrapassam seu escopo, inaugurando outras atividades. Muitas foram as que fizeram doações de alimentos e produtos de higiene para os moradores da Maré. 

Também moradora da Rubem Vaz, a confeiteira Camila Marques da Silva, 29 anos, recebeu cesta básica da Frente de Mobilização. “Ajudou muito, porque com a pandemia, as encomendas de bolo praticamente zeraram”, conta ela. Uma guinada cruel na vida da confeiteira que nunca ficou sem trabalho e nos fins de semana pré-pandemia, fazia no mínimo 10 bolos por encomenda.

Por histórias semelhantes à de Camila se explica o valor de iniciativas como a Redes da Maré, que, ainda no início da pandemia, criou a Campanha Maré Diz Não ao Coronavírus com diversas frentes de frentes de trabalho. Uma delas foi o projeto Tecendo Cuidados e Máscaras, que contratou costureiras da comunidade. 

Uandergina dos Santos, costureira do projeto Tecendo máscaras e cuidados

Uandergina dos Santos Silva, a Gina, foi uma das 54 profissionais recrutadas para o trabalho. Moradora da Nova Holanda há 57 anos, aprendeu a costurar com a mãe e criou suas três filhas sustentada pelo ofício. Como complemento da aposentadoria, prestava serviços para uma fábrica na Vila Cosmos, Zona Oeste do Rio, mas, hipertensa e diabética, precisou se desligar para cumprir o isolamento social. “Quando começou a onda da covid-19 em outros países, fiquei apavorada. Em março, comecei a quarentena e parei de trabalhar. Até que minha filha ficou sabendo do grupo de costureiras que estavam formando e me indicou. Foi a solução”, festeja.

Entre iniciativas individuais, auxílios variados e mobilizações comunitárias, as mulheres da Maré tentam virar o jogo imposto pelo Brasil, que o coronavírus só fez agravar. Ela vão vencer.

Myllenne Fortunato é formada em Jornalismo pela Faculdade Pinheiro Guimarães. Cria da Maré, mora desde que nasceu no Parque União.