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Ronda Coronavírus: bairros vizinhos à Maré somam 330 casos

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Maré tem 98 casos confirmados e uma clínica da família sem funcionamento nesta terça

De acordo com os dados atualizados hoje no Painel Rio Covid 19, da Prefeitura do Rio, a Maré tem 98 casos confirmados do coronavírus. O território, que é o segundo em números de casos entre as favelas do Rio de Janeiro, tem apenas 6 casos a menos que a Rocinha. A Rocinha foi a primeira favela a registrar casos, no início de abril, e fica localizada próxima a bairros que abrigam os maiores IPTUs da cidade, como Leblon, os mesmos que tiveram grande número de casos no início da pandemia. No Brasil, tivemos o pior dia da pandemia até o momento, chegando a 1.179 mortes.

Outros dados que chamam atenção é o número de casos de coronavírus confirmados nos bairros vizinhos da Maré, que atendem muitas necessidades dos moradores da região. A crescente de casos em Bonsucesso e Ramos preocupa, pois a circulação entre os bairros e os moradores da Maré é diária e constante, tendo, inclusive, linhas de vans e carros particulares entre essas regiões. Bonsucesso tem, até esta terça-feira (19), 172 casos, e Ramos 158 casos. A quantidade de mortes por Covid-19 seguem sem informação, pelo segundo dia consecutivo no painel da Prefeitura. Saiba mais no artigo do El País da Eliana Silva e Dalcio Marinho. 

Nesta terça-feira (19) a Clínica da Família Jeremias Moraes esteve fechada por falta de energia. Os moradores que buscaram atendimento foram encaminhados para a Clínica da Família Adib Jatene. A Clínica da Família Diniz Batista dos Santos, que atende o Parque União, está sem vacina contra a gripe, de acordo com informações de profissionais de saúde que preferiram não se identificar. Os moradores que vão para a clínica em busca da vacina, também foram encaminhados para a clínica Adib Jatene.

Mesmo com a sobrecarga dos atendimentos, os funcionários da clínica Adib Jatene conseguiram organizar a demanda, evitando aglomerações e isolando os pacientes que apresentam sintomas do coronavírus, como recomendado. A Clínica da Família Jeremias Moraes atende as favelas Nova Holanda, Rubens Vaz e Parque Maré e não é a primeira vez que apresenta problemas com energia elétrica, que é mantida por gerador. 

Mortes durante operações policiais

Após operação ocorrida na sexta-feira no Complexo do Alemão, onde ao menos 10 pessoas foram mortas, ao longo desta terça-feira (19) houve dois casos que viralizaram nas redes sociais sobre operações policiais na região metropolitana do Rio. Um jovem de 14 anos foi baleado dentro de casa na noite de segunda-feira em meio a uma operação das Polícias Civil e Federal no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. A família do jovem se pronunciou nas redes sociais durante esta terça-feira (19). Também na segunda-feira (18), um jovem de 21 anos foi baleado durante operação do Bope e do Batalhão de Choque da Polícia Militar em Acari. Segundo familiares e moradores, o jovem foi torturado antes de ser levado. Seu corpo foi encontrado hoje no Instituto Médico Legal (IML). 

Na Maré, já aconteceram três operações policiais durante a pandemia do novo coronavírus. Saiba mais sobre as operações policiais na Maré durante esse período na matéria da última edição do Maré de Notícias

Medidas municipais para controle da pandemia

A Prefeitura anunciou nesta terça-feira (19) a prorrogação das medidas restritivas adotadas pelo município para o combate ao novo coronavírus na cidade do Rio por mais sete dias. A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial do Município. A Secretaria Municipal de Transportes prorrogou também, até o dia 31 de maio, a suspensão das gratuidades nos transportes públicos para os estudantes que possuem o Passe Livre Universitário e para os alunos matriculados no ensino fundamental e médio de escolas municipais.

Dica do Nenê do Zap:

A comunicação e interação, mesmo com bebês e crianças que ainda não desenvolveram por completo a habilidade de linguagem, continuam sendo importantes durante a pandemia. A dica do Nenê do Zap é não deixar a tensão e estresse deste momento que estamos vivendo atrapalhar esse processo. A troca e expressões com bebês são muito importantes para o desenvolvimento deles.

Curtindo em casa

Confira as dicas culturais que o Maré de Notícias traz para deixar sua quarentena mais leve e divertida.

Maré de Notícias #112 – maio de 2020

Flávia Veloso

Tanto tempo em casa por causa do isolamento social que é quase impossível não passar dia e noite nainternet. As páginas iniciais das redes sociais atualizam a cada minuto com humor, política, entretenimento, notícias e, principalmente, informações sobre a COVID-19. A internet e as redes sociais têm sido ferramentas importantes não apenas para trabalhar, mas para proporcionar entretenimento para muitas pessoas, nesse momento.

Diante da impossibilidade de sair de casa, diversos serviços e conteúdos on-line foram liberados gratuitamente, como TVs por assinatura, ensino a distância e cuidados com corpo e mente. Mas são as lives que têm sido assunto frequente em grupos de amigos, por se tornarem parte da rotina, além de ajudar, de certa forma, a aproximar as pessoas.

Artistas têm realizado shows em suas residências para arrecadar verbas e alimentos para doar àqueles que não estão podendo trabalhar, assim como outros que fazem debates sobre diversos temas. Mais que uma atitude de solidariedade, estão promovendo entretenimento e conhecimento.

Da mesma forma, diversos artistas e pesquisadores da favela têm produzido conteúdos bacanas durante a pandemia. E mesmo que a intermitência da rede de internet seja um problema constante, principalmente na Maré, isso não tem sido impedimento. Eles atualizam as redes com textos e vídeos sobre cotidiano, comportamento, política, música, cultura afro-brasileira, poesia, artes plásticas, fotografia, humor e muito mais.

Literatura para todas as idades

Com o fechamento dos serviços não essenciais, vários equipamentos culturais da cidade estão criando alternativas virtuais para pessoas de todas as idades poderem se divertir e até aprender, sem sair de casa.

A professora Denise Cruz, que atua na gerência da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), lançou a ação “Poesias Para Esperançar”, na qual profissionais da educação recitam suas poesias favoritas. Para conferir, basta buscar por #PoesiasParaEsperançar, no Facebook, que vários vídeos estarão disponíveis.

No Instagram, a @fafaconta conta história para crianças, ao vivo, toda segunda, quarta e sexta-feira, às 10h30. A @maequele também faz momentos de contação de histórias diariamente, às 10h ou 11h.

A Festa Literária das Periferias, a FLUP (@fluprj) chega em sua 9ª edição e, diante a pandemia, teve de adaptar o seu formato. Sem poder ser realizada presencialmente, os organizadores transferiram toda a programação para as plataformas digitais. O festival começa em maio e, em 2020, homenageia a grande escritora Carolina Maria de Jesus.

O Museu do Amanhã (@museudoamanha) tem organizado lives com bate-papos culturais e seu tradicional Clube do Livro, que acontece no terceiro sábado do mês, das 10h30 às 12h30,agora numa sala virtual divulgada na semana do encontro, nas redes sociais do Museu.

Sucessos na palma da mão

As lives dos maiores artistas da atualidade estão fazendo sucesso em todo o País, algumas batendo até três milhões de espectadores. Os brasileiros gostaram tanto que o mês de maio já tem uma programação de shows e alguns artistas, como Bruno e Marrone e Alexandre Pires, pretendem fazer uma segunda edição de suas apresentações.

As lives são, também, um exemplo de solidariedade nesse momento. Cantores como Belo, Filipe Ret e Ivete Sangalo, por exemplo, fizeram as suas apresentações para arrecadar fundos e doações para coletivos de diversas favelas da cidade do Rio.

Professores têm contado poemas em projeto da Prefeitura

Ronda Coronavírus: Maré chega a 89 casos

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Final de semana foi de aglomeração em diversos pontos das 16 favelas

Completos dois meses da primeira morte no Brasil por Covid-19, a Maré chega hoje, 18 de maio, aos 89 casos, de acordo com os dados do Painel Rio Covid-19. A informação sobre a quantidade de mortos não foi atualizada nesta segunda-feira pelas secretarias de saúde. A última informação era a de 23 mortos no território. A Maré é a segunda região de favelas com mais casos no Rio de Janeiro. 

 De acordo com relatos de moradores e tecedores da Redes da Maré, durante o último final de semana aconteceram alguns eventos nas favelas da Maré. Comércios e academias também foram vistos abertos em algumas regiões, contrariando as recomendações das autoridades médica. Na última semana, academias de esportes e salões de beleza e barbearias foram incluídos na lista de serviços essenciais. Entretanto, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, assim como outros 16 estados e o Distrito Federal, declarou que não vai considerar os espaços como serviços essenciais e recomenda que academias e salões de beleza sigam fechados.

O isolamento social na cidade do Rio, no geral, não seguiu o mesmo padrão da Maré: a Prefeitura registrou um aumento na taxa de isolamento do domingo da última semana (Dia das Mães), para este, de 72% para 80%.

Aulas suspensas e ENEM mantido

A Prefeitura anunciou na última sexta-feira (15) a decisão de manter as escolas municipais fechadas até o dia 31 de maio. A decisão foi publicada no Diário Oficial do mesmo dia. As unidades da rede municipal estão com as aulas suspensas desde o dia 16 de março, em função da pandemia do novo coronavírus. A cidade do Rio de Janeiro tem até o momento 13.443 casos de Covid-19, de acordo com os dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). No dia 06 de maio, a Alerj votaria em caráter de urgência a suspensão do ano letivo de 2020 de escolas da rede estadual de ensino e das unidades da Faetec. A votação foi tirada de pauta e não tem nova data para ser votada.

A Defensoria Pública da União (DPU) entrou com recurso para que o Tribunal Regional Federal reveja a decisão e adie o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Em abril, a DPU obteve uma liminar favorável ao adiamento do exame, mas a medida foi derrubada após pedido da Advocacia Geral da União (AGU). A Defensoria, no entanto, recorreu à medida nesta segunda-feira. Até o momento, o calendário do ENEM ainda está mantido. A Redes da Maré publicou uma nota com posicionamento sobre a necessidade de adiamento do exame.

Novo pagamento do auxílio emergencial

O pagamento da segunda parcela do auxílio emergencial para trabalhadores informais, autônomos e microempreendedores individuais (MEIs) que se cadastraram no programa começou nesta segunda-feira (18). Aqueles que têm Bolsa Família irão receber primeiro, de acordo com informação divulgada pela Caixa Econômica Federal. O calendário completo está disponível no site da Caixa.

Dica do Nenê do Zap

A dica de hoje do Nenê é sobre a autonomia dos bebês, mesmo que em tempos de pandemia. Explorar é importante para os bebês a partir dos seis meses. A atenção com a limpeza neste período é importante, sobretudo nos espaços onde o bebê terá mais liberdade de circular. A recomendação é ter o cuidado redobrado com a limpeza, mas não limitar que o bebê ou crianças engatinhem ou brinquem com liberdade durante este período.

Operações policiais em tempos de COVID-19

Abordagem, legalidade e impactos das ações policiais na Maré durante a pandemia do novo coronavírus

Maré de Notícias #112 – maio de 2020

Jessica Pires

Em 2019, foram quase 300 horas de operações policiais na Maré, em que, pelo menos, numa das 16 favelas, houve violações de direitos de diversos tipos. Em 2020, o cenário da política de Segurança Pública nas favelas também muda, com a pandemia do novo coronavírus. Acontecem menos operações na cidade, mas na Maré, não só as operações como as violações seguem em curso. Os impactos que as operações policiais têm no território da Maré e na vida de mais de 140 mil moradores são conhecidos e registrados em seus cotidianos.

O ano de 2019, infelizmente, voltou a ser um marco de danos e perdas para a Maré. Das 49 pessoas que morreram por arma de fogo, em 2019, (mais que o dobro do que em 2018), 34 foram em decorrência da ação policial. Foram 24 dias de aulas suspensas e 25 dias sem atendimentos nas unidades de saúde, ou seja, cerca de 15 mil atendimentos não realizados. Os confrontos ocorreram em 69% das vezes fora do horário comercial e de funcionamento das escolas e unidades de saúde. São dados do Boletim Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça 2019, produzido pela Redes da Maré.

É sempre bom lembrar que a luta por uma política de Segurança Pública que preserve vidas e direitos não é contra haver operações policiais nas favelas, ou ainda, que a Polícia não deva exercer o seu trabalho. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 144, estabelece que a Segurança Pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos. Portanto, nas favelas, esse direito deve ser exercido da mesma maneira que em outros territórios da cidade, por exemplo.

Porém, essa lógica de criminalizar territórios populares, reduzindo ou retirando direitos daqueles que estão em uma posição social de menos privilégios, não é uma prática nova. Fato é que a informação é uma ferramenta importante para identificar quem está sofrendo uma violação. É preciso lembrar sempre e compartilhar com amigos, vizinhos e familiares o que não é permitido em uma ação policial em dias de operações.

Pandemia e operações policiais não combinam              

A Rede de Observatórios da Segurança divulgou, no início de abril, que houve uma redução de operações durante o mês de março, se comparado ao mesmo período de 2019. A redução de operações resultou na queda de vítimas fatais durante essas ações: foram registradas 15 mortes, em março de 2020, contra 36, em 2019, segundo dados da Rede. Contudo, mesmo depois do decreto de calamidade pública do governo do estado do Rio de Janeiro, em 20 de março, aconteceram três operações policiais na Maré. No dia 27 de março, Marcílio Dias foi o cenário da ação da PMERJ; no dia 6 de abril, foi o Parque União e no último dia 29 de abril, a operação aconteceu no Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro e Nova Maré.

São maiores os impactos que as operações policiais trazem durante a pandemia. No dia 6 de abril, as Clínicas da Família Diniz Batista, do Parque União, e Jeremias Moraes da Silva, da Nova Holanda, tiveram o atendimento suspenso. Cestas básicas e kits de materiais de higiene e limpeza deixaram de ser entregues nas favelas do Parque União ao Morro do Timbau, por voluntários e equipes da Redes da Maré. Violações como invasão ao patrimônio também foram relatadas nas primeiras duas operações. No dia 29, foram as Clínicas da Família Augusto Boal e Adib Jatene que interromperam suas atividades.

“O que menos precisamos nesse momento é ter de acumular traumas. Ficar em casa isolado e não ter a certeza de quando isso vai acabar já é muito doloroso e traumático. Ter de conviver com tiroteios e todos os desrespeitos e riscos que uma operação causa é o que menos precisamos”, destaca Shyrlei Rosendo, “cria” da Maré, mestre em Educação e Políticas Públicas pela UNIRIO e coordenadora da equipe de mobilização do Eixo de Segurança Pública da Redes da Maré. As operações policiais descumprem, inclusive, a recomendação de distanciamento social da Organização Mundial da Saúde desde o início da pandemia do novo coronavírus, uma vez que a abordagem policial acontece, muitas vezes, por meio do contato. Além dos relatos de invasão a domicílios, frequentes na Maré.

Contra os excessos nas operações

No último dia 17 de abril, foi votada a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF 635. Conhecida também por ADPF das favelas, é uma iniciativa coletiva que solicita ao Supremo Tribunal Federal (STF) que se posicione diante das ações inconstitucionais exercidas pela política de Segurança Pública adotada pelo governo do estado do Rio de Janeiro.

A iniciativa reforça a não utilização de helicópteros como plataforma de tiros e a adoção de medidas para a apuração de excessos durante as operações policiais, entre outros pontos. Apesar do parecer positivo, ainda será necessário que outros ministros que compõem o Supremo Tribunal analisem a ADPF. Até o momento do fechamento desta matéria, a ADPF estava sob a análise do ministro Alexandre de Moraes.

Quais procedimentos não podem acontecer?

Foram registrados 14 episódios de violência verbal e 18 de violência psicológica em dias de operações policiais na Maré, em 2019. Um policial não pode ofender ou constranger uma pessoa no momento da abordagem, de acordo com o item III, do art. 5º, da Constituição da República Federativa do Brasil.

Em 2019, foi registrado um caso de assédio sexual em uma operação policial na Maré.O policial não pode pedir que a pessoa abordada tire as roupas ou passar as mãos nas partes íntimas, assegurando o direito à indenização por dano moral, segundo o item X, também do art. 5º, da Constituição.

A equipe do Maré de Direitos registrou 26 episódios de invasão a domicílio em dias de operações policiais na Maré, em 2019. Segundo o item XI do mesmo art. 5° da nossa Constituição, ninguém pode entrar na residência de outra pessoa sem o seu consentimento, apenas em casos de flagrante, desastre ou para prestar socorro. Em caso de mandado, as buscas domiciliares serão executadas de dia e só podem acontecer, à noite, caso o morador dê consentimento. Segundo a Lei n° 3689/41 do Código de Processo Penal, os agentes deverão mostrar e ler o mandado ao morador antes de cumpri-lo, além de deixar claro os motivos da diligência. Ele deve estar assinado pela autoridade que o expediu.

Operações policiais não podem acontecer sem ambulância para o socorro de vítimas. De acordo com a Lei Estadual n° 7385/2016, o Poder Executivo deve garantir, obrigatoriamente, ambulâncias, em operações planejadas e com mais de cinco policiais, com possibilidade de confronto.

Sobre o direito de filmar

Um policial é um agente público, ou seja, um servidor do Estado, alguém que presta serviços para os demais cidadãos. Toda função pública pode e deve sofrer constante fiscalização pela sociedade. Sendo assim, qualquer cidadão tem autorização para fotografar ou filmar atividades realizadas por policiais.

De acordo com Guilherme Pimentel, ouvidor geral da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, os vídeos exercem importante função de controle social, atualmente: “Todo cidadão, hoje, exerce um papel muito fortalecido de controle social de atuação do agente público. Antes do smartphone, era a palavra de uma testemunha contra a de um agente público. Com o smartphone, gravações, fotos e vídeos podem desmentir versões facilmente.”

Não há procedimento operacional descrito que autorize um policial a retirar um celular de alguém que registre uma ação. “O telefone celular se tornou a ferramenta de trabalho do jovem periférico. Além de usar para se divertir e se comunicar, ele usa também para defender os seus direitos”, afirma a cientista política e professora da UFF, Jacqueline Muniz.

Outras dicas:

  • Quando possível, dialogue com o policial buscando demonstrar, de maneira tranquila, que você conhece seus direitos.
  • Caso não se sinta seguro no momento da abordagem, procure permanecer em locais públicos, evite espaços fechados e onde as pessoas não possam acompanhar a abordagem policial.
  • Caso ocorra situações de violência e ameaça, tente demonstrar para vizinhos e familiares o que está acontecendo. Se na hora não for possível frear a violência, busque elementos que possam identificar o agente que está agredindo.
  • Caso não consiga evitar situações de violências, busque registrar o máximo de informações sobre aquela situação: grave um áudio logo após o ocorrido, com informações sobre o local, horário e detalhes da abordagem (tipo físico do policial, forma de abordagem e sequência das violências e violações). Caso tenha feito algum dano físico e material, busque registrar através de foto e vídeo com a câmera deitada.

Ronda Coronavírus: 67 casos e 17 óbitos na Maré

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Na Maré, 14 das 16 favelas tem casos de Covid-19

Com a atualização de 67 casos informados pelas secretarias de saúde, a Maré passa ser a segunda maior região de favelas em número de casos no Rio de Janeiro. A primeira favela, com 98 casos, é a Rocinha. As favelas da cidade concentram, até o momento, 442 casos de Covid-19. A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro informa que registra, até esta sexta-feira (15), 19.987 casos e 2.438 óbitos por coronavírus no estado. Só a cidade do Rio de Janeiro tem 11.715 casos. 

Das 16 favelas da Maré, 14 já tem casos confirmados, segundo o Boletim “De Olho no Corona”, da Redes da Maré. Este e outros dados estão disponíveis na publicação no site da Redes da Maré e na matéria da jornalista Jéssica Pires para o Maré de Notícias Online, destacando as dificuldades de internação que moradores da Maré vem encontrando ultimamente.

A movimentação nas favelas da Maré teve dinâmicas específicas e diferentes. No geral, no momento da nossa ronda notamos mais pessoas nas ruas do que na quinta-feira (14). O que tem causado aglomeração constante são as caixas 24 horas que ficam na Avenida Brasil: nesta sexta-feira identificamos muitas pessoas nas filas, sem respeitar a distância mínima de 1,5m recomendada. Já no Parque União, Marcílio Dias e Kelson’s, as ruas permaneceram mais vazias durante esta sexta-feira (15).

O jornal O Globo mencionou nesta sexta-feira (15) que a fila de mortes suspeitas aumentam. Do dia 1º de maio até o dia 13, as mortes em investigação quase triplicaram: no primeiro dia do mês eram 311, enquanto na quarta-feira pulou para 907 óbitos na fila. As mortes suspeitas tem levado até três dias para serem solucionadas, e para a Fiocruz, a tendência é que a fila aumente mais. De acordo com os dados publicados com o boletim “De Olho no Corona”, de 28 óbitos na Maré, 11 seguem sob investigação até o momento. O Maré de Notícias segue acompanhando os dados. 

A prefeitura, porém, informou que houve queda na curva de contágio da Covid-19 na cidade, segundo dados do gabinete científico da Prefeitura do Rio. O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, informou nesta sexta-feira (15) que, pela primeira vez, houve na cidade um resultado de alívio inicial para a população na curva de contágio da Covid-19, que caiu após a série de medidas restritivas adotadas pela Prefeitura.

Secretaria Municipal de Saúde inicia última etapa da vacinação contra a gripe na próxima segunda-feira, 18 de maio. O público-alvo desta etapa são professores de escolas públicas e privadas e adultos de 55 a 59 anos de idade. A vacina será oferecida das 8h às 17h nas unidades de Atenção Primária do município – Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde. É necessário levar um documento de identificação com foto. Crianças de 6 meses a menores de 6 anos de idade, pessoas com deficiência, gestantes e puérperas (mulheres que deram à luz) até 45 dias do nascimento do bebê ainda podem tomar a vacina.

Dia intenso de operação policial

Moradores do Complexo do Alemão começaram o dia de hoje, 15 de maio, sob operação policial, que deixou 12 pessoas mortas e um policial ferido. Ao longo do dia, circularam vídeos de moradores aglomerados juntos aos corpos. Operações policiais neste momento vão contra as ordens de distanciamento social por promover aglomeração e pela abordagem policial não ter se adaptado a essas ordens.

No início de abril, a Rede de Observatórios da Segurança apontou que houve redução no número de operações durante o mês de março, comparado ao mesmo período de 2019. Na Maré, entretanto, já aconteceram três operações policiais desde o início da pandemia. O Maré de Notícias fez na última edição uma reportagem sobre as operações policiais durante a pandemia de coronavírus e explica como essa dinâmica tem acontecido a Maré.

Dica do Nenê do Zap

O distanciamento social não gera ansiedade apenas nos adultos. Bebês e crianças da primeira infância também sofrem com o confinamento. A dica do Nenê de hoje é não mentir para as crianças, pois isso pode gerar ainda mais frustração e impaciência. Tentar criar referências e comparações de tempo que as crianças possam compreender e incluí-las nas atividades da casa é uma das maneiras de ocupar o tempo e fortalecer as relações nesse período.

Boletim “De Olho no Corona” destaca dificuldades de internação dos moradores da Maré

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Mapeamento realizado calcula aumento de 162% nos casos confirmados em uma semana

Desde meados de março, quando a pandemia do coronavírus foi identificada pela Organização Mundial de Saúde e os primeiros casos chegaram ao Brasil, as autoridades médicas nacionais destacavam a incapacidade do sistema público atender a demanda de uma pandemia no país. Isso de fato vem acontecendo, e as favelas e periferias, com a população dependendo quase em sua totalidade do SUS, é a mais impactada. 

Segundo a Fiocruz, o país tem 45,8 mil leitos de UTI, sendo 22,8 mil no SUS e 23 mil na rede particular. Quando se considera a quantidade de pessoas que têm acesso à rede privada e a quantidade que depende exclusivamente da rede pública, chega-se à percepção de que “um brasileiro com plano de saúde tem mais do que o triplo de chances de ter acesso a uma UTI do que os outros cerca de 77% da população que dependem exclusivamente do SUS”, é uma das análises do 2° Boletim “De Olho no Corona!”.

Foram 208 possíveis casos que chegaram ao banco da equipe da Redes da Maré. Destes, 164 casos foram registrados e acolhidos pela equipe responsável pela produção do boletim. Dessas 164 pessoas, 47 precisaram de internação, representando 29% do total de casos. Entre essas que foram internadas, 22 vieram a óbito (47%). Um outro ponto que chama a atenção nas análises das assistentes sociais envolvidas na produção dos dados é a recomendação da procura de unidades de saúde apenas em casos de sintomas graves ou muito graves. Pelo menos um dos moradores da Maré perdeu a vida em menos de 24 horas após a chegada à unidade de saúde. Há registro de óbito em 12 das 16 favelas que compõem o conjunto de favelas da Maré, um aumento de 162% no total de casos confirmados e de 168% no de casos suspeitos. Os dados são referentes a semana de 4 a 10 de maio.

A subnotificação georreferenciada 

O Maré de Notícias vem acompanhando o número de casos confirmados nos dois bairros vizinhos da Maré, Bonsucesso e Ramos. De acordo com os dados do boletim, Bonsucesso, que tem 22 óbitos registrados, tem a maior taxa de mortalidade da cidade, enquanto Copacabana, que apresenta o maior número de óbitos da cidade, 88, possui a 7ª maior taxa de mortalidade. 

Enquanto a taxa de letalidade analisa o número absoluto de óbitos do bairro em relação ao número geral de mortes, a taxa de mortalidade analisa o número de óbitos proporcionalmente ao número de habitantes daquele bairro. De acordo com o Censo 2010 do IBGE, Bonsucesso possui uma população de 18.711 pessoas e em Copacabana residem 146.392. Dessa forma, no dia 14 de maio, Bonsucesso possuía 118 óbitos por 100 mil habitantes e Copacabana apresentava 60 óbitos por cada 100 mil habitantes. Mesmo com Copacabana possuindo o maior número de casos de pessoas que vieram a óbito, é em Bonsucesso que morrem mais pessoas em relação ao número de moradores.

Outro destaque importante é que nas favelas com grande população, como Rocinha e Maré, apresentam baixas taxas de mortalidade. Ainda segundo o boletim, no dia 14 de maio, a Rocinha, com 69.356 moradores, tem 33 óbitos por 100 mil habitantes, e está na 34ª posição deste ranking. A Maré com 129.770 moradores (os moradores de Marcílio Dias estão incluídos no número populacional da Penha) aparece na 139ª posição, com seis óbitos confirmados por 100.000 habitantes. 

Considerando as questões que são comuns a outras favelas da cidade, como aglomerações nas ruas, quantidade de pessoas que residem em pequenas casas, com saneamento básico precário e escassez no acesso a materiais de limpeza, nota-se uma grande diferença entre os casos da Maré e outras favelas da cidade, de acordo com os dados divulgados pelas secretarias de saúde. 

Elementos que favorecem essa subnotificação é o fato do status administrativo da região ser ignorado em comprovantes de residência e cadastros de órgãos oficiais, de acordo com o boletim De Olho no Corona. Desta forma, moradores e concessionárias de serviços públicos acabam não considerando a Maré como bairro, subnotificando os casos do território e, possivelmente, aumentando o número de bairros vizinhos, conforme falamos na matéria Subnotificação de casos: a Maré é bairro! disponível no Maré Online.

A crise de acesso atinge toda a cidade

A cidade do Rio de Janeiro têm três hospitais de campanha. O primeiro foi inaugurado em 25 de abril de 2020, no Leblon, com 160 leitos (e com a promessa de abertura de mais 40). O segundo, localizado no Riocentro, foi entregue dia 1º de maio, com 100 dos 500 leitos prometidos. O terceiro, no Maracanã, começou a receber pacientes no sábado, 09 de maio, tendo 170 leitos, dos quais 50 são de unidade de terapia intensiva (UTI). No entanto, essas iniciativas ainda não conseguem responder à gravidade da crise. No dia 6 de maio, o Rio já tinha 1,1 mil pacientes aguardando leitos. Nesta quinta (14), o Painel Rio Covid-19 informa que são 1.549 pacientes hospitalizados na rede do SUS na cidade do Rio, com 497 pessoas em leitos de UTI, e ainda 614 pacientes na rede municipal, com 159 em leitos de terapia intensiva.

O boletim “De Olho no Corona”, produzido pela equipe social da Redes da Maré, em articulação com pessoas e organizações locais, é um dos resultados da Campanha “Maré diz NÃO ao Coronavírus”. Um dos objetivos da publicação é apontar caminhos possíveis para o enfrentamento da pandemia na Maré, com foco na garantia da assistência para as famílias em situação de maior vulnerabilidade que estão desassistidas neste momento. Além disso, pensar em uma estrutura permanente de saúde pública em seus diversos níveis para o território. O boletim completo está disponível no site da Redes da Maré.