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Três décadas de lutas pelas Crianças

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Estatuto da Criança e do Adolescente completa 30 anos de atuação na garantia da cidadania

Maré de Notícias #117 – outubro de 2020

Hélio Euclides e Thaís Cavalcante

“…quebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega, papel, papelão. Criança não trabalha, criança dá trabalho…” De uma forma animada, a dupla musical Palavra Cantada interpreta a canção Criança Não Trabalha, de composição de Arnaldo Antunes e Paulo Tatit. A música infantil lembra que trabalhar é coisa para adultos, que a criança tem de brincar, experimentar, bagunçar, riscar e desenhar. As preocupações devem ficar para o futuro. O trabalho infantil é crime, sendo um dos temas encontrados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que, em 2020, completa 30 anos.

Com o papel de guardião da garantia dos direitos e deveres das crianças e dos adolescentes, os conselheiros tutelares são fundamentais nos territórios, na expectativa de melhoria da qualidade de vida. O Conselho Tutelar 11, em Bonsucesso, é o órgão gestor da área que abrange Manguinhos, Cidade Universitária,  Bonsucesso  e Maré. Os conselheiros recém-empossados são Carlos Henrique, Daniel Soares, Jader Fagundes, Maria Elisângela e Rosimere Nascimento. Pela primeira vez, os cinco profissionais do Conselho são oriundos de favela. Esse olhar próximo, a vivência e a bagagem são convertidas num atendimento sensível, de atenção e de uma maior escuta. 

O conselheiro Carlos Henrique, mais conhecido como Carlos Marra, é morador do Parque União, uma das 16 favelas da Maré e lembra que todos os direitos e deveres necessários, mencionados na lei devem ser cumpridos. Segundo Marra, o Conselho Tutelar tem de estar alinhado e junto com as redes de proteção, que são as de Saúde, Educação e Assistência Social. Este último reúne o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). “O conselheiro é esse articulador que vai fazer a ponte para a mediação dos equipamentos e, assim, possibilitar a criação de novas políticas públicas, pensadas a partir das necessidades reais e efetivas dos territórios. Precisamos estar o tempo todo dialogando com as escolas e estudando todas as questões, tipo as vagas para os estudantes e a evasão escolar. Na saúde, acompanhar a campanha da vacinação, a prevenção à gravidez na adolescência, o pré-natal e casos de IST/AIDS”, expõe. O conselheiro tutelar deve manter diálogo com pais ou responsáveis legais, comunidade, poder judiciário e executivo e, principalmente, com as crianças e adolescentes.

Marra avalia que, passados 30 anos, o ECA ainda precisa ser colocado em prática em sua integralidade. Para isso, seria necessário que os profissionais de saúde se apropriassem mais do estatuto, e que o mesmo fosse ensinado na sala de aula, para que crianças e adolescentes pudessem saber de seus direitos. Apesar das dificuldades, o documento é uma política pública, que reafirma e fortalece, de forma necessária, o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes, que são sujeitos de direitos.

Muitas vezes, as leis deixam de fora as crianças e os adolescentes, contudo, o ECA foi feito para protegê-las e, neste sentido, dialogar e entender quais são as melhores maneiras de atendê-los. “O ECA, mesmo com todos os retrocessos e questões políticas, ainda se mantém existindo e resistindo. Nós, conselheiros, estamos no trabalho de dar respaldo a esta ferramenta, que é muito importante para a sobrevivência das crianças e adolescentes”, finaliza Marra.

O Estatuto surge em 1990, para substituir o Código de Menores, de 1979, que era voltado apenas para crianças e adolescentes em “situação irregular”, associando pobreza à delinquência. O documento é fruto de uma forte mobilização da sociedade civil organizada e representa um novo olhar para os direitos desta parcela da população.

“Apesar das leis contidas no ECA, a proteção às crianças e adolescentes são diferenciadas, no asfalto ainda não é a mesma que na favela.” Beatriz Cunha, subcoordenadora de Infância e Juventude da Defensoria Pública do Rio

Garantia de direitos

A garantia de direitos é coletiva, mas quem faz a assistência jurídica integral e gratuita da população é a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, a qual, antes mesmo da pandemia, moveu uma ação civil pública para impedir a violação de direitos nas favelas. Conseguiu a proibição de operações policiais próximas às creches e escolas públicas, nos horários com mais movimentação. Fundamental na vida de crianças e jovens que, frequentemente, têm o seu direito à educação negado  por causa da violência cotidiana. 

Junto aos desafios enfrentados pelas famílias da Maré neste primeiro semestre, está a adaptação das aulas à distância. Beatriz Cunha, subcoordenadora de Infância e Juventude da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, acredita que o direito à educação não pode ser deixado de lado nem mesmo em uma pandemia. “O que me chamou a atenção foi a oferta de uma educação virtual na rede pública de ensino para aqueles que estão em situação de pobreza ou não têm pessoas que podem auxiliá-los no sentido educacional do conteúdo”, diz.

Cunha garante ainda que, devido ao isolamento social das famílias, aumentaram as demandas de violência doméstica e sexual contra crianças e adolescentes. Outro motivo de muita procura vinda dos moradores de favela foi sobre a falta de acesso à merenda escolar, já que as aulas presenciais continuam suspensas. Questões sociais antes urgentes, agora, borbulham. “Apesar das leis contidas no ECA, a proteção às crianças e adolescentes são diferenciadas, no asfalto ainda não é a mesma que na favela. A grande modificação do ECA é que a proteção integral à criança deve ser oferecida pela sociedade, pelo Estado e pela família”, comenta.

Existe uma versão ilustrada do ECA para o público infantil – Crédito: plenarinho.leg.br – Câmara dos Deputados

Apoio social promove cidadania

Esse fortalecimento de direitos é praticado diariamente pelas organizações sociais, como o Projeto Uerê, que atende crianças na Maré há 22 anos. Os filhos de Maria José, moradora da Nova Holanda, foram beneficiados pelo projeto de diferentes formas. Maria é mãe social, também conhecida como mãe acolhedora. Ela tem dois filhos biológicos e quatro filhas de coração. As crianças, que são irmãs, foram abandonadas e acolhidas por ela, junto ao Conselho Tutelar. Mãe solo teve seu maior apoio foi no Projeto Uerê, que deu todo o suporte na alimentação e educação das crianças e jovens. 

Maria se orgulha da criação dos filhos. Hoje, adultos, uns estão casados, outros formados. “O projeto é tudo. Ajuda na disciplina, na educação das crianças e apoia as famílias que querem”, conta. A partir da experiência de ser uma mãe acolhedora, ela avalia que, na prática, ainda há obstáculos para a garantia da cidadania: “As leis são difíceis, eu tive essa facilidade, pois tive o projeto para me ajudar. O direito, as crianças têm, mas às vezes não funciona”, conclui.

Francis Roberta, assistente social do Projeto Uerê há 19 anos, defende que o trabalho da instituição é de orientação, escuta e conversa. Um laço tão forte como o de uma família. “Trabalhamos as disciplinas regulares, como Inglês, Artes e Música; mas, principalmente, buscamos saber como estão nossas 270 crianças e jovens”, conta. A nova rotina da instituição, com a pandemia, tem sido de aulas remotas e a entrega de cesta básica e kits de higiene todo mês. Por fora, os desenhos dos muros do Projeto alegram a Nova Maré, favela onde a organização tem sua sede. Por dentro, as cadeirinhas coloridas e figuras na parede garantem a decoração para o retorno das atividades infantis, ainda sem data. 

Todos podem ajudar. 

Quem desejar assegurar a garantia dos direitos de crianças e adolescentes, é só entrar em contato com o Conselho Tutelar que atende toda a Maré.

  • Endereço: Rua da Regeneração, n° 654, Bonsucesso
  • Atendimento presencial de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h.
  • E-mail: [email protected]
  • Telefones: (21) 2573-1013 / 2562-3100 / 97340-1559
  • Telefone do Plantão 24h: (21) 98909-1432

Ronda Coronavírus: Estado do Rio ultrapassa 19 mil mortes por covid-19

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Segundo especialista, estado deveria ter saído de quarentena em julho, se o isolamento fosse mais rígido e possível a toda população

O estado do Rio ultrapassou nesta quinta-feira a marca de 19 mil vítimas fatais pela covid-19 e hoje já soma 19.222 pessoas mortas, além 282.080 pessoas diagnosticadas pela doença em todo o estado, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES). A capital segue sendo a cidade com os maiores números: são até o momento mais de 111 mil casos confirmados e 11,3 mil mortos. A Maré tem até hoje 1.838 casos e 156 mortes, entre confirmadas e suspeitas, de acordo com o Painel Unificador de Favelas. Já no painel da prefeitura, o conjunto de 16 favelas registra até o momento 701 casos confirmados e 123 mortes.

O infectologista Roberto Medronho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou que se boa parte da população tivesse adotado e seguido o isolamento de forma mais rígida até julho, provavelmente teríamos um número menor de casos registrados diariamente. Tendo em vista que após quase sete meses desde o primeiro caso confirmado no estado, o Rio de Janeiro passou recentemente por um período de alta de média móvel de casos e mortes, quando deveria estar em queda. Entretanto, é preciso lembrar que para se cumprir o isolamento, era necessário uma série de fatores que permitissem que a população ficasse em casa, como moradias com boa circulação de ar e acesso à água para higienização, e que nem todos possuem essas estruturas mínimas.

Confronto armado na Maré

Moradores da Maré relataram que nesta sexta-feira (09), por volta das 5h30, iniciou um confronto na Divisa, com registros de tiros mais intensos a partir das 8h. Quatro viaturas foram vistas na entrada da Rua Teixeira Ribeiro (Parque Maré). Durante os disparos, o Mercado Vianense ficou com meia porta aberta e pessoas que estavam pela região se abrigaram no mercado. Também houve registro de tiros ao longo do dia e, segundo moradores, pelo menos duas pessoas foram baleadas.

#Colabora com essa Maré de Notícias

Em junho, o Projeto #Colabora e o Maré de Notícias convocaram jornalistas formados e em formação da Maré para se inscreverem no projeto, que além de oferecer uma bolsa, daria treinamento on-line na produção de textos. Após oficinas com jornalistas das organizações participantes, os bolsistas selecionados produziram textos sobre a realidade da Maré em meio à pandemia em diversos eixos: saúde, educação, economia e saúde mental. Confira nos sites do #Colabora e do Maré de Notícias os textos dos jovens jornalistas da Maré.

Longo e penoso caminho da educação à distância na Maré, por Elaine Lopes e Matheus Luiz Chagas;

Pandemia acentua dificuldades para mulheres negras da Maré, por Myllenne Fortunato;

Luta que vem de dentro, por Thaís Cavalcante;

Para ter saúde, a Maré só conta com ela mesma, por Ana Clara Alves e Jonatas Magno;

Onda de crises e uma Maré de oportunidades, por Luís Augusto de Souza Junior.

Bolsas de fotografia

O Instituto Moreira Salles (IMS) está com edital aberto até novembro para bolsas de fotografia pelos projetos Bolsa de Fotografia ZUM/IMS e Bolsa IMS de Pesquisa em Fotografia. A bolsa ZUM tem valor de R$65 mil e não tem restrição de tema, perfil ou suporte e os fotógrafos têm oito meses para entregar o resultado final do trabalho. Os interessados podem se inscrever no site da ZUM até 02 de novembro.

Já a segunda bolsa é de R$30 mil e é voltada para projetos de pesquisa sobre o lugar da fotografia na formação de representações históricas, sociais e culturais no Brasil, tendo como base imagens do acervo do IMS. Para concorrer a essa bolsa, os interessados devem possuir título de mestre. Estrangeiros também podem concorrer, bastando comprovar residência no Brasil por, no mínimo, um ano. Os interessados podem se inscrever para essa bolsa até o dia 22 de novembro através do site do edital. 

Exposição no IMS

A partir do próximo sábado (10), inaugura a Ocupação Eduardo Coutinho, no IMS Rio. No dia da abertura, vai acontecer uma live no canal do YouTube do IMS com Carlos Alberto Mattos, um dos curadores da exposição, João Moreira Salles, documentarista e produtor de Eduardo Coutinho, e Jordana Berg, editora, contando sobre o processo de produção e finalização do documentário Últimas conversas, de Coutinho. Para conferir a exposição, é necessário agendar a ida através do site, além de manter as medidas de cuidados e prevenção da covid-19.

Semana da criança com Vila Sésamo

Do dia 12 a 17 de outubro a Vila Sésamo vai realizar o projeto Vamos Brincar, iniciativa que vai incentivar hábitos saudáveis para famílias, principalmente as que têm crianças da primeira infância em casa. Alguns dos temas é a importância de uma boa alimentação, exercício físico, higienização pessoal, etc. Vejam release abaixo com mais informações. Além de atrações como, a live também conta com a presença de Elmo e Bel, personagens da Vila. As lives vão acontecer a partir das 10h no canal do YouTube da Vila Sésamo. 

Dia das crianças

Como sabemos, dia 12 de outubro comemora-se o dia das crianças e organizações da Maré pretendem realizar algumas ações para presentear os pequenos, que de acordo com o Censo Populacional da Maré (2019), uma a cada quatro pessoas da Maré são crianças, em um total de 34.034 pessoas de 0 a 14 anos.

O pré-vestibular Unifavela vai presentear 100 crianças com livros e brinquedos que exaltam a cultura afro-brasileira. A ação Brinque Leitura está precisando de doações até o dia 11 de outubro para a compra de bonecas e bonecos pretos da empresa Era Uma Vez o Mundo e compra de livros da livraria Nia Produções Literárias, especializada em literatura negra infantil. Participe aqui: http://eraumavezomundo.com.br/impacto-social/.

A Frente de Mobilização da Maré vai distribuir 500 kits lanches para as crianças, com biscoitos doces e salgados, iogurte, achocolatado, milho de pipoca e suco em caixa. Além de alimentos, também terá giz de cera e caderno de pintura. A ação está arrecadando doações até o dia 14 de outubro para a compra e preparação dos kits. Participe aqui: www.frentemare.com/comodoar.A página Divulga Maré está realizando uma ação de apoio ao grupo Especiais da Maré. O coletivo vai distribuir fraldas infantis e geriátricas e leite para crianças e adultos com deficiência. A ação precisa de doações até o dia 11 de outubro para a compra desses itens de higiene e de alimentação. Participe aqui: www.instagram.com/divulga.mare.

Onda de crises e uma Maré de oportunidades

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Empreendedores do maior conjunto de favelas do Rio contam como deram a volta na crise econômica vinda da pandemia

Por Luís Augusto de Souza Junior em 09/10/2020 às 15h23

Esse texto é uma iniciativa #Colabora nessa Maré de Notícias, parceria entre o Projeto #Colabora e o Maré de Notícias.

Nas 16 favelas da Maré existem 3.182 empreendimentos, que oferecem serviços variados, segundo o Censo Maré de 2013. O levantamento, realizado pela Redes da Maré em parceria com o Observatório de Favelas, também revela que mais de 60% da renda do território são gerados pelo comércio local, movimentação de quase R$ 120 milhões ao ano. Os números desabaram na realidade econômica pela pandemia, que empurrou o Brasil para a recessão, fechando milhares de empreendimentos pelo país.

Com a desigualdade que nos acompanha desde sempre, tudo é mais difícil para a parcela mais pobre da população. Os empreendedores da Maré conjugaram criatividade e determinação para se reinventar na crise mais profunda de nossa história recente. Um povo que confirma aquela antiga propaganda: não desiste nunca!

Hadelson Gomes em atividade no Salão Barba Negra, na Salsa e Merengue, na Maré.
Foto: Luís Augusto Júnior

Hadelson Gomes, 23 anos, é barbeiro desde os 15. Dono do Salão Barba Negra, na Salsa e Merengue –  uma das 16 favelas da Maré –  ele demorou a acreditar que a doença atravessaria continentes. “No começo achei que não fosse chegar aqui, algo vindo de outro país, a gente não acredita”. Mas a doença não só chegou na sua família como afetou o bolso. Gomes teve que lidar com o drama de ver os pais contaminados pela covid-19. “Foi o momento mais difícil, tive que fazer  a quarentena na casa de um amigo que trabalha comigo”, relembra ele, que vive na Maré desde nove anos de idade.

Ainda havia o desafio de manter o sustento. Ele teve que driblar as dificuldades e fazer malabarismos para garantir a renda na pandemia. “Assim que começou a afetar o salão, fiquei apreensivo. Mas tive a ideia do corte de cabelo a domicílio. Se o cliente não vai até até a régua, a régua vai até o cliente”, filosofa o barbeiro, citando a referência de cabelo bem cortado. “Deu certo e conseguimos inaugurar nosso espaço próprio, bem mais aconchegante e com maior conforto para os nossos clientes”, completa. 

Mas fazer da crise oportunidade não foi exclusividade de Hadelson. Luiz Pereira de Carvalho, 40 anos, e Suenia Pereira de Carvalho, 33, são casados e sócios da confeitaria Luiz Tortas & Bolos, na Vila dos Pinheiros, também na Maré. O casal ficou desesperado quando as encomendas começaram a ser canceladas. “Foi tudo muito rápido, as festas sendo canceladas uma por uma, e a gente não sabia o que fazer”, recorda Suenia.

Pamela botando a mão na massa em sua confeitaria.
Foto: Luís Augusto Júnior

O empreendimento é a única renda da família, e não dava para desistir. “A gente começou a fazer alguns kits de festa em tamanho menor, e entregar em casa, imaginando que as pessoas queriam comemorar datas especiais, como aniversários, dia das mães, dos namorados”, lista Luiz, que consertou a bicicleta para ajudar nas entregas. O resultado foi tão positivo que o casal está entusiasmado com a oportunidade de abrir uma escola de confeitaria, projeto para o próximo  ano.

Adriano  Barros, dono da AD Barros Store
Foto: Luís Augusto Junior

A pandemia e a crise grave econômica levaram a um aumento da preocupação com itens emergenciais e básicos como alimentação, medicamentos e moradia. Comprar roupas novas virou supérfluo – só que não, ensina Adriano  Barros, dono da AD Barros Store, loja inaugurada há um ano na Vila dos Pinheiros. “A minha preocupação maior era porque nossas peças são de maior qualidade, e com custo mais elevado”, explica o empresário, que teve queda de 40% no faturamento.

Mas no meio da crise a solução foi investir. “A gente pensa pensa muito né? E dentro de uma comunidade, sempre se espera uma novidade, foi aí que surgiu a ideia da Loja do Galo, que na linguagem aqui do pessoal é 50 reais, então criei a loja onde todas as peças tem o valor único”, celebra ele. 

Em meio a tantos empreendedores, houve quem infelizmente fechasse as portas em busca de um recomeço. É assim com a nutricionista Gracinete Melo, 37 anos, dona da Nutricorpus Mulher, academia que atendia exclusivamente a mulheres na Vila do João, outra favela da Maré. “O negócio caminhava bem sempre cheia e com clientes de todas as idades, quando veio a ordem para fechar. Quando tentei reabrir quase nenhuma aluna vinha, dormi com a academia cheia e acordei falida tendo que me virar”, atesta. 

A empresária viveu a tristeza de dispensar os profissionais que trabalhavam com ela, mas manteve uma ajuda de custos até a chegada do auxílio emergencial. Diante dos obstáculos, Gracinete criou novo projeto, o Cemopom (Centro Médico Popular da Maré), que visa a atender moradores da comunidade com qualidade superior à da rede pública e com preço mais acessível que as clínicas particulares ao redor da comunidade. “Vou trazer profissionais excelentes que vão atender os moradores daqui. Sei que o retorno vai vir, mas não tenho pressa. Meu objetivo principal é  ajudar a comunidade”, garante.

Porque mareense que se preza não esmorece diante das dificuldades e segue em frente, na procura por uma vida melhor para si e para a comunidade.

Luís Augusto de Souza Junior é estudante de Jornalismo no Centro Universitário Augusto Motta e morador da Vila do Pinheiro, na Maré.

Para ter saúde, a Maré só conta com ela mesma

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Como um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro enfrentou crises e epidemias ao longo de sua história e agora encara a covid-19

Por Ana Clara Alves e Jonatas Magno em 09/10/2020 às 9h50

Esse texto é uma iniciativa #Colabora nessa Maré de Notícias, parceria entre o Projeto #Colabora e o Maré de Notícias.

Desde a sua fundação, em 1940, a Maré atravessa crises de saúde. surtos e epidemias – e agora encara o calvário da pandemia do coronavírus. Historicamente esquecida por agentes públicos, governos e instituições, a população do conjunto de 16 favelas que se espalha pela Zona Norte carioca conta só com ela mesma na luta pelo bem estar. As muitas dificuldades das comunidades com problemas de habitação, saneamento e segurança são potencializadas em momentos como o atual. 

Antes, vamos entender as crises de saúde, seus tamanhos e dimensões. Um surto acontece com o aumento repentino de casos de uma doença em região específica – como a meningite nos anos 1970. Epidemia se dá quando uma doença atinge grande número de indivíduos, sem imunização adequada, em uma região específica – a dengue e a aids são dois exemplos. Pandemia é o contágio em mais de dois continentes, aproximadamente ao mesmo tempo. 

A covid-19 conta quase 35 milhões de casos e pouco mais de 1 milhão de mortes mundo afora (até dia 4 de outubro). O geógrafo Luiz Lourenço, formado na UERJ e professor de pré-vestibular comunitário na Maré, constata a dificuldade para se precaver do coronavírus. “Na favela, a gente tem capacidade para transformar o nosso espaço e evitar epidemias? Não, não tem. E aí a covid-19 bota isso em evidência. O adensamento das casas é muito forte em algumas áreas. Por exemplo, no P.U (Parque União) tem muita gente aglomerada em pouco espaço, e a infraestrutura não dá conta do saneamento, que é quase inexistente. Ao mesmo tempo, a arquitetura das casas não permite maior circulação de ar.”

O cumprimento “novo normal” enquanto vivemos a pandemia.
Foto © Douglas Lopes

A abertura gradual do comércio e o retorno de alguns setores levaram ao crescimento de número de casos na cidade. Com a alta demanda e pouca estrutura para tratamento e testagens, muitos casos são ignorados pelas autoridades de saúde – as subnotificações. Logo, o número de casos e óbitos deve ser ainda maior.

No início do ano, a Redes da Maré publicou nota comentando a situação precária de saúde carioca. O sistema havia sofrido desmonte devido a cortes nos recursos e as Clínicas de Saúde da Família, o Centro de Atendimento Psicossocial e as equipes de Consultório na Rua, àquela altura, não conseguiam garantir o atendimento. Muitos profissionais saíram pela falta de condições de trabalho, e seus postos não foram preenchidos. Os profissionais que ainda continuaram em serviço trabalhavam em escalas de greve. Além da precariedade, ainda lidavam com a ausência de itens básicos.

“Adoecem os moradores, sem conseguir atendimento, adoecem os trabalhadores da saúde por não conseguirem trabalhar e garantir seu futuro. Adoece toda uma comunidade que sofre com a falta de direitos básicos”. O texto da Redes da Maré combina com a pandemia. Segundo Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), a testagem em massa da população é uma das maneiras mais eficazes de evitar a proliferação do coronavírus. Todavia, segundo a 13ª edição do Boletim “De Olho no Corona!”, publicada dia 30 de julho, que auxilia no monitoramento dos casos suspeitos na Maré, os dados mostram que a cada dez  pessoas sintomáticas, apenas três tiveram acesso à testagem. A escassez dos materiais necessários para a fabricação dos testes e a dificuldade em estabelecer uma cadeia logística eficiente são fatores que dificultam a testagem e afetam ainda mais as favelas.

O Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro, da organização Comunidades Catalisadoras (Comcat), apresenta dados de 25 comunidades, com objetivo de unificar dados produzidos por diferentes organizações que atuam nas favelas do Rio e da Região Metropolitana. Os números são mais elevados em comparação aos da Prefeitura. Dia 9 de outubro, de acordo com os números do painel criado pela Comcat, a Maré apresentava 1.667 casos e 126 mortes. Já a Prefeitura falava em 701 ocorrências e 123 óbitos.

Arboviroses (Dengue, Zika, Chikungunya e Febre Amarela)

Nas crises de saúde ao longo dos 80 anos de existência da Maré, mudam apenas a doença e sua intensidade. Desde o fim do século 19, quando surgiram os primeiros registros da dengue no Brasil, o mosquito Aedes aegypti tem sido um desafio para a saúde pública brasileira. Inicialmente, lidava-se com a epidemia de dengue e febre amarela. Mas agora, o mosquito apresenta desafios ainda maiores ao trazer outras duas doenças sérias – chikungunya e zika – que têm preocupado autoridades sanitárias de todo o país. 

Na Maré, existe um projeto voltado para o enfrentamento das arboviroses, o Heróis contra Dengue (antigo Xô, Dengue) que fortalece ações de conscientização contra dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Norbert Lehmann, membro fundador e presidente da Ireso (Instituto de Relações e Projetos Educacionais e Sociais Rio de Janeiro), um dos principais apoiadores do projeto, explica o que lhe motivou a criá-lo: “Comecei este projeto já em 2010, em uma escola católica na área portuária do Rio. O gatilho foi a morte da Janine, de 4 anos, na favela onde tratei crianças. A menina morreu de dengue hemorrágica na fila em frente ao hospital. Não esquecerei o lamento da mãe e dos outros familiares dela. O mais trágico sobre este caso é que, se a mãe tivesse conhecido os sintomas e o curso da doença, poderia ter reagido muito mais cedo. A morte da pequena Janine era evitável. Portanto, ficou claro para mim que a educação é a chave na luta contra esses arboviroses”. De volta à Alemanha, ele começou a desenvolver o projeto, hoje em quatro escolas públicas do Estado do Rio: duas em Maricá, uma em Teresópolis e uma na Maré.

Participante do projeto em 2016 e 2017, Lorena Froz disse que o trabalho de conscientização do governo e do projeto deu possibilidade das pessoas conhecerem mais sobre as arboviroses: “As pessoas entenderam os sintomas, como evitá-los, ganharam consciência sobre a doença. Mas não acho que tenha sido de uma hora para outra. O projeto é um multiplicador. Os jovens de 11 a 14 anos aprendem o necessário para poder transmitir o conhecimento na Maré, explica Lehmann.

Meningite

A meningite foi uma angústia no Brasil dos anos 1970. Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Carlos Fidelis Ponte explica que a doença é endêmica – quando a população consegue conviver com o mal. Em 1971, o país enfrentou uma epidemia da doença, por causa do êxodo rural, movimento que envolveu cerca de 20 milhões de pessoas, segundo o pesquisador. “Essas pessoas chegavam nos grandes centros e não eram recebidas como deveriam. Foram para zonas degradadas, terrenos baldios ou favelas”. 

Para Ponte, deu-se aí a expansão dos cinturões de miséria que cercam os grandes centros brasileiros. O aglomerado de pessoas em situação precária favoreceu o contágio. A meningite surgiu em Santo Amaro, bairro da zona sul de São Paulo.

À época, o Brasil vivia uma ditadura que apostava na propaganda de país do futuro, que se desenvolvia velozmente. Logo, seria ruim que chegasse ao povo a informação de uma epidemia relacionada à miséria. A censura impediu que fossem tomadas as devidas precauções, o que contribuiu para a doença se espalhar, com grande índice de letalidade da doença. 

A falta de informação atrelada a dificuldades territoriais impediam moradores da Maré de tratar das doenças. Isaías Francisco de Araújo, conhecido como Mascote, morador desde 1962 da Rua Praia de Inhaúma, no Morro do Timbau, recorda as dificuldades: “Ninguém tinha muito recurso. Médico muito longe. (…) Antigamente tinha o chazinho da vovó, que todo mundo acreditava muito. A maioria apelava para ele.”

A doença, no início restrita às crianças, passou a atingir adultos. A meningite, que antes só tinha do sorotipo C, passa para o sorotipo A, rápido e letal. Não havia estrutura para debelar a doença e, dentro das comunidades populares, as pessoas sequer sabiam como identificá-la. Por conta da vacinação, os números atuais de meningite são baixos – em torno de 2 casos para cada 100 mil habitantes por ano.

Por mais que as comunidades populares sejam mais propensas a propagação de doenças e surgimento de epidemias, elas continuam à margem na visão do Estado. Como nas outras crises, as formas mais efetivas de combate surgem em iniciativas internas, voluntárias, com os moradores como agentes ativos. O auxílio público não chega.

A desigualdade se mostra também na análise por raça. Para cada dez brancos que morrem vítimas da covid-19 no Brasil, são 14 óbitos de pretos e pardos, segundo a rede de TV CNN, que se baseou em base nos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde divulgados até junho. A doença que realmente não tem cura, no Brasil, é a insensibilidade social.

Ou como ensina Bell Hooks, em “Vivendo de Amor”: “É a falta de amor que tem criado tantas dificuldades em nossas vidas, na garantia da nossa sobrevivência. Quando nos amamos, desejamos viver plenamente. Mas quando as pessoas falam sobre a vida das mulheres negras, raramente se preocupam em garantir mudanças na sociedade que nos permitam viver plenamente.”

Se liga, bicho! Raiva é caso sério

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Tutores devem levar cães e gatos para tomar a vacina antirrábica a partir de outubro

Por Hélio Euclides em 05/10/2020 às 19h30

O início de outubro está sendo marcado pela Campanha Nacional de Multivacinação de crianças e adolescentes. Mas não são só pequenos que devem ser imunizados nesse momento. A Prefeitura dá a partida no programa “Se liga, bicho! Raiva é caso sério”, com o objetivo de garantir a imunização de cerca de 500 mil cães e gatos com a vacina antirrábica. O alvo é dar um fim na transmissão da  hidrofobia, doença mais conhecida como raiva humana, transmitida pela saliva de animais infectados. A infecção acontece principalmente pelas mordidas, mas também podem ocorrer por  arranhões e lambidas dos bichos doentes.

A campanha antirrábica animal é feita com a vacina distribuída pelo Governo Federal para os estados, que fazem o repasse aos municípios. Em 2019, porém, o insumo não foi entregue, inviabilizando a campanha. Mesmo sem o repasse de vacinas, o município do Rio imunizou no ano passado mais de 33 mil animais com a reserva técnica de doses da campanha de 2018. A raiva é uma doença infecciosa viral aguda, fatal tanto para animais quanto para humanos. 

Este ano, o sinal amarelo acendeu quando em março o estado do Rio de Janeiro registrou a primeira morte por raiva humana do Rio de Janeiro desde 2006, com o caso de um adolescente de 14 anos mordido por um morcego em Angra dos Reis. No município do Rio, não há ocorrência de raiva humana desde 1986, há 34 anos, e de casos da doença em cães e gatos, desde 1995, há 25 anos.

Para Caio Silva Rodrigues, comportamentalista de animais e morador do Morro do Timbau, a dica importante é cuidar dos animais sem tratá-los como seres humanos. “O amor para gente é uma coisa, já para os cachorros e gatos é outra. O que achamos que é bom para eles às vezes não é. Por isso, precisamos respeitá-los e compreendê-los, para não fazer mal ao animal”, diz. Sobre a saúde, recomenda o cuidado com os dentes, exercícios e ter a carteira de vacinação em dia. “Tenho duas cadelas que tomaram a vacina contra raiva no veterinário, pois a campanha de vacinação é pouco divulgada”, conclui.

Caio Silva durante passeio com seus cachorros – Arquivo pessoal

A Prefeitura do Rio, por meio da Subsecretaria de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses da Secretaria de Saúde dividiu a campanha em cinco etapas. A primeira ocorreu na Zona Oeste, no primeiro final de semana de outubro. Os tutores de animais devem procurar os postos mais próximos de suas casas. O atendimento em todos os pontos ocorrerá das 9h às 17h. A Vigilância Sanitária já divulgou as datas e regiões nas quais acontecerão as próximas etapas. Os locais de atendimentos só serão divulgados no decorrer da campanha. Mais detalhes estão na página da Vigilância Sanitária.

Cronograma da vacinação

2ª Etapa – 23 e 24/10 – Bangu e Campo Grande

3ª Etapa – 06 e 07/11 – Madureira, Guadalupe, Jacarepaguá e Barra da Tijuca

4ª Etapa – 04 e 05/12 – Ramos, Penha, Inhaúma, Engenho de Dentro e Irajá

5ª Etapa – 18 e 19/12 – Centro, Zona Sul, São Cristóvão, Tijuca, Vila Isabel e Ilha do Governador

Orientações para tutores de cães e gatos

– A imunização é exclusiva para cães e gatos acima de três meses de idade;

– Fêmeas gestantes não devem ser vacinadas;

– Os cachorros devem estar de coleira e guia e os gatos em caixas de transporte apropriadas;

– Só serão vacinados os bichos que estiverem sob a tutela de maiores de 18 anos, que serão inteiramente responsáveis pela contenção dos animais;

– Reforçando que o animal será vacinado no local. Não é permitido levar vacina para casa;

– Para quantitativos acima de vinte animais, a solicitação para vacinação deve ser registrada na Central 1746. Os responsáveis devem informar nome e telefone para contato, a quantidade e o endereço. A equipe do Centro de Controle de Zoonoses entrará em contato para fazer o agendamento para esses grupos;

– Até 36 horas após a aplicação da vacina, é possível que os animais tenham sintomas como dores no local, febre e que fiquem com o comportamento mais quieto;

– Os tutores devem usar obrigatoriamente a máscara, respeitar o distanciamento social.

Além da vacinação tem castração

A castração de cães e gatos também é oferecida gratuitamente pela Secretaria de Municipal de Saúde, de segunda a sábado, das 8h às 17h – sendo o sábado exclusivo para até 150 cirurgias voltadas aos felinos. O serviço, que retornou no dia 12 de agosto,  está sendo feito  pelos e-mails [email protected] e [email protected], para até três castrações por CPF. As solicitações de agendamento serão avaliadas e respondidas caso a caso. 

Após autorização, os procedimentos da castração gratuita ocorrerão em um dos endereços das unidades veterinárias da Vigilância Sanitária:

– Centro de Controle de Controle de Zoonoses Paulo Dacorso Filho (CCZ): Largo do Bodegão, 150 – Santa Cruz

– Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman (IJV): Avenida Bartolomeu de Gusmão, 1.120 – Mangueira

Também existe a Unidade de Saúde Médica Veterinária, da Subsecretaria de Bem-Estar Animal, na pista de subida da Avenida Brasil, altura da passarela 9. De acordo com a pasta, o atendimento clínico geral e de castrações ocorre de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas.  

Além de cães e gatos, pássaros em casa

Na Maré, além de caninos e felinos, são muitos os criadores de pássaros, que se reúnem para disputa de cantos das aves e vendas dos animais. As assessorias de comunicação social da Subsecretaria de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses e da Vigilância Sanitária Rio informam que em relação aos pássaros em casa, são permitidas as espécies domésticas e não silvestres. Para ter aves nativas em casa a pessoa tem que ter autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Possuir animal silvestre sem autorização do IBAMA é crime ambiental, passível de multa e apreensão do animal.

Um perigo na ciclovia

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Pedestre perde a vida a caminho da Cidade Universitária

Por Hélio Euclides em 07/10/2020 às 19h40

Não foram pouca as academias  fechadas por causa da pandemia e gente se adaptando para manter as suas atividades físicas. Na Maré a alternativa foi Cidade Universitária como local de caminhada, corrida e até andar de bicicleta. Mas como a via é muito perto da passagem de veículos, acidentes acontecem. No dia 08 de agosto, Rodrigo Leite, morador de uma das favelas da Maré, a Baixa do Sapateiro, estava na ciclovia próximo à Linha Amarela para sua corrida matinal, quando foi atingido por um carro desgovernado. O atleta morreu e os dois ocupantes do carro ficaram feridos. Desde então, colegas de corrida lutam para que  haja maior  proteção para os pedestres. 

Testemunhas, que circulavam no local no dia do atropelamento, contam que o carro desgovernado subiu a calçada e atingiu Rodrigo, que caminhava na ciclovia, na lateral da Linha Amarela, sentido Barra da Tijuca. A tragédia ainda podia ser maior, porque não são poucas as pessoas que utilizam a Cidade Universitária para se exercitarem, jogarem futebol ou, simplesmente, levarem as crianças para brincar. Próxima à ciclovia, a pista da Linha Amarela tem a  “tartaruga” –  espécie de sinalização amarela fixada no pavimento, para reduzir a velocidade -, mas apesar do obstáculo, os motoristas aproveitam o acostamento improvisado para cortar caminho. 

No viaduto em cima da Linha Vermelha, onde pedestres usam entre a passarela de acesso e a ciclovia, uma grade protege os transeuntes. Mas na ciclovia e na calçada, as pessoas só podem contar, com a sorte. “Acredito que mais de 50 pessoas passam pelo local na parte da manhã e o mesmo número no final da tarde, para a prática de esporte. No domingo ainda é mais intensa a circulação”, conta Celso Roberto, professor de Educação Física.

Celso enviou um e-mail para a ouvidoria da Lamsa (Linhas Amarelas S/A) pedindo providências. A concessionária respondeu que apesar da ciclovia em questão não fazer parte do contrato de concessão, está em contato com o órgão responsável para uma atuação na área, como forma de diminuir os acidentes e proteger a vida das pessoas que utilizam a região da Cidade Universitária como local de passagem ou para a prática esportiva. Num segundo e-mail, a ouvidoria sugeriu que Celso entrasse em contato com a Prefeitura, através do telefone 1746.

“Enquanto não vêm uma solução, sugiro aos meus alunos, corredores e frequentadores do Fundão que tenham muita atenção, que usem apenas um lado do fone de ouvido, que evitem correr na via e que fiquem atentos”, expõe Celso. A assessoria da Lamsa enviou a mesma resposta para o Maré de Notícias. Num segundo contato disse que a ciclovia pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por isso, a discussão está sendo feita em conjunto. A assessoria de imprensa da UFRJ informou agora, em outubro, que a área do acidente não é administrada pela universidade. Completou que a Prefeitura da UFRJ se reunirá com a Lamsa.

Um empurra empurra que parece não ter fim, enquanto isso a vida das pessoas que utilizam a área de lazer está em perigo.