Home Blog Page 46

Navezinha Carioca da Maré é inaugurada no Instituto Vida Real

0

Uma versão menor das Naves do conhecimento com foco na democratização do acesso à tecnologia 

Na última terça-feira (26), o Instituto Vida Real em parceria com o UniPeriferias e a Secretaria de Ciência e Tecnologia (SMCT) do Município do Rio, inaugurou a “Navezinha Carioca”. Uma proposta que busca  proporcionar inclusão digital.  O Rio de Janeiro tem 9 naves do conhecimento localizadas na Zona Norte e Oeste da cidade, agora passa a contar com mais cinco unidades em uma versão menor.

O Instituto Vida Real é uma iniciativa voltada para o apoio na educação de crianças e adolescentes com aulas de reforço, música, fotografia e tecnologia. Para Márcio Vitor, de 18 anos, aluno no Instituto Vida Real, a Navezinha será uma boa experiência. “Isso não vai só nos divertir aqui mas vai trazer outros jovens da comunidade para aprender junto com a gente”, afirma. 

O coordenador educacional do Instituto Vida Real, Arthur Pedro conta que a democratização do acesso a tecnologia sempre foi uma preocupação da fundação.  “No início o Vida Real tinha duas salas, uma de informática e outra de reforço escolar”, pontua.

Além da Navezinha Carioca Maré, existem unidades na quadra da Mangueira, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio das Pedras e Rocinha. O coordenador geral da Navezinha Carioca, Alberto Aleixo explica que a parceria para coordenar estas cinco unidades da Navezinha se deu a partir de um edital promovido pela secretaria de tecnologia e além de ensinar a programação, uso de drones o espaço atenderá todos os públicos. “A Navezinha do Conhecimento é um espaço que propõe ensinar as linguagens da tecnologia, desde o letramento na informática, e tem muita procura da população da terceira idade para mexer nas redes sociais” pontua.

A secretária municipal de ciência e tecnologia do Rio, Tatiana Roque, explica que a Navezinha é a ideia inicial para atender a demanda de tecnologia. “Hoje a tecnologia está em tudo, a questão é o que vamos fazer com isso. O que a gente precisa fazer para entrar nesse mundo novo [das tecnologias] é se qualificar, ter as ferramentas e se empoderar para que a gente tenha novas oportunidades “, finaliza.

O Instituto Vida Real tem sede localizada na Rua Teixeira Ribeiro, 904, por trás da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, Maré. O horário de funcionamento é das 9h às 16h.

Maré recebe espetáculo teatral infantil que celebra a trajetória do orixá Xangô

Espetáculo ‘Kawó – o rei chama’ tem entrada gratuita e fica em temporada até o próximo 14, domingo.

Se existia uma dúvida do que fazer para intertreter as crianças nos próximos dias na Maré, ela acaba agora. Isso porque o espetáculo teatral “Kawó – o rei chama” voltado para o público infanto-juvenil chega no Museu da Maré nessa sexta-feira (5) com temporada até o próximo dia 14, domingo.

A peça conta a trajetória do orixá Xangô, importante divindade presente na mitologia do povo Ioruba Nagô, representante da justiça, do fogo e do trovão e celebra a herança ancestral desse povo e dessa figura. No palco, seis atores negros, acompanhados de dois músicos, constroem e personificam uma África ancestral, mítica e carregada de simbologias.

Gabriel Mendes, diretor do espetáculo

O espetáculo também narra a preparação do “dia do Obá Xangô”. A narrativa é composta por uma família com uma mãe, quatro filhos e uma avó que passam o dia preparando a festividade. Tudo sob o comando dessa grande matriarca, os seis trabalham para que tudo seja perfeito para celebrar a memória do rei, esse ancestral tão admirado por todos eles.

O Museu da Maré fica na Avenida Guilherme Maxwel, nº 26. Os horários do espetáculo são os seguintes: na sexta-feira, às 10h e às 14h; nos sábados e domingos, às 17h, com duração de aproximadamente 60 minutos. E o melhor: a entrada é gratuita.

“São histórias que precisam ser contadas a esses jovens ouvintes para que esses se reconheçam naquilo que ouvem e percebam que a nossa história começou antes mesmo de ter começado.”, afirma Gabriel.

Confeiteiras da Maré aproveitam a Páscoa para fortalecer renda 

0

A confeitaria se encontra fortemente nas mãos femininas, e é claro que com a Páscoa o cenário fica ainda mais recheado

Maiara Carvalho*

Segundo uma pesquisa feita pelo Sebrae, em 2022, as mulheres representavam cerca de 34% dos trabalhadores por conta própria no Brasil, protagonizando a área da beleza, moda e gastronomia. E quando o assunto é empreender, as mulheres da Maré são peças fundamentais na economia favelada. Por todas as vielas da comunidade existe uma mulher dona do seu negócio, com propósitos de crescer profissionalmente cada vez mais, impulsionada pelo desejo de se reinventar das vulnerabilidades sofridas no mercado de trabalho. 

Hora de aproveitar: Confeitaria e Páscoa

A confeitaria se encontra fortemente nas mãos femininas, e é claro que com a Páscoa o cenário fica ainda mais recheado, tornando-se uma ótima oportunidade de fortalecer a renda. As possibilidades vão das mais comuns, como os famosos ovos da Páscoa, à novidades de sobremesas e doces gourmet para comemorar a data. 

Laila Cauane: Cozinha de Mãe

Moradora da Nova Holanda durante toda sua infância e juventude, Laila Cauane, 22, completou neste mês, um ano da decisão de empreender na confeitaria. 

Enquanto ainda lidava com o luto pela perda de seu primeiro filho, Renan, e também vivia uma nova maternidade à espera da Esther, ela se viu perdida diante de tantos sentimentos que carregava “sempre foi batalha, nunca foi fácil”, relembra. Buscando apoio na sua fé e família, Laila se reinventou e começou a vender bolos caseiros. No entanto, o sucesso foi tão grande que ela decidiu investir na carreira e buscar novos caminhos. 

A princípio, Laila foi atrás de aprender novos recheios e massas, mas, sem saber, o curso que havia se inscrito também iria lhe ensinar a confeitar. Nesse momento, após compartilhar sua conquista nas redes sociais, recebeu apoio de muitas pessoas, em sua maioria moradores da Maré, que já perguntavam se havia disponibilidade para encomendas, e assim, nasceu a Cozinha de Mãe.

Primeira Páscoa 

Esse ano será a primeira experiência de Páscoa da Laila, que já buscou se profissionalizar ainda mais. Por ser uma das datas mais lucrativas no ramo e a sua clientela ter uma alta demanda, a confeiteira buscou aprender novas técnicas, e os ovos artesanais, é claro, serão os protagonistas. Além dessa opção, ela preparou o chamado “kit confeiteiro”, voltado para o público infantil, visto que uma grande parcela de seus clientes são mulheres que possuem filhos ou crianças na família. Ela também pensa em trabalhar com pequenos doces temáticos para empresas que desejam presentear seus funcionários com brindes. 

Antes de se encontrar na confeitaria, a mãe da Esther e do Renan, também trabalhou vendendo bijuterias e cocadas na rua. Enquanto seu filho estava vivo e em tratamento para paralisia cerebral, ela recebeu apoio de muitas pessoas — grande parte da Maré — que se sensibilizaram com sua história. Hoje, essas mesmas pessoas se tornaram clientes fiéis, e  puderam testemunhar um exemplo de força e resiliência. Laila, que nunca se imaginou empreendendo na culinária, encontrou no seu trabalho uma forma de se curar e possibilitar motivos de comemoração para outras pessoas.

| Já leu essas?

Doceria da Teté

Ester Vitório, 26, é dona de uma das docerias mais famosas do Parque União, onde nasceu e cresceu. Teté, como é mais conhecida, iniciou sua jornada em meados de 2019, vendendo sacolés gourmet para ajudar seus pais, Verônica e Adilson, a pagar sua faculdade de nutrição. A procura foi tanta, que mesmo sem muita experiência na confeitaria, Teté resolveu arriscar outros produtos para vender. Mal sabia ela que esse era o caminho para se tornar uma empreendedora de sucesso. 

Referência em delivery

A Doceria da Teté teve seu maior crescimento durante a pandemia. Nesse período ela ainda estava no início da sua trajetória como doceira e morava na quitinete do seu sogro, mas com o uso das redes sociais para divulgação, suas vendas não paravam de crescer. Para se adaptar e atrair o público, ela também criou o kit quarentena: uma caixa cheia de doces gourmet variados, e de brinde, uma máscara protetora. Aos poucos, com o apoio do marido e do sócio Matheus, ela conquistou seu primeiro espaço físico, mas não parou por aí!

“Eu considero que tive um crescimento rápido, mas o meu esforço também foi muito grande […] Já teve dias que eu passei 20 horas trabalhando.”, relembra a doceira

Teté na Páscoa

Com a correria ela já está acostumada, mas na Páscoa a pressão é ainda maior. Para conseguir atender toda a demanda, além dos produtos pedidos antecipadamente, ficará disponível no dia da Páscoa, alguns doces à pronta entrega. 

“Na época de Páscoa é muita correria, porque é a época mais lucrativa para quem trabalha na confeitaria. O Natal chega próximo, mas a Páscoa atrai a clientela adulta e também as crianças, então tem um movimento muito bom.”

Teté já está na sua quarta Páscoa, e para esse ano a novidade é o ovo trufado, coberto por uma camada de chocolate e com bastante recheio por dentro. Os tradicionais ovos de colher com variados sabores não ficam de fora. Para a criançada também não faltam opções: o famoso kit confeiteiro e o chocolate em forma de controle recheado estão no cardápio para conquistar o público infantil. 

Espaço novo

Atualmente, Ester Vitório já acumula 22 mil seguidores no Instagram e é proprietária de uma empresa com oito funcionários. Apesar disso, ela continua envolvida nas atividades de produção e administração. Recentemente, ela inaugurou um novo espaço atrativo e aconchegante para comportar seus clientes, e agora, além da doceria, o ambiente se divide com o Papo Reto Açai, outra proposta trazida por ela junto ao seu marido. Desta forma, ela pôde expandir em mais opções de produtos, e ter outra maneira de se conectar com o público para além do delivery. 

Das vendas nas ruas até sua nova loja, o que certamente nunca faltou para Teté foi o apoio familiar. Seus desejos ainda são muitos, e a busca em se profissionalizar não tem limites, e o que a encoraja para seguir adiante é sua grande riqueza: a família.

(*) Maiara Carvalho é estudante de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz parte do projeto de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.

Já garantiu seu peixe? Semana Santa movimenta pequenos negócios na Maré

Comerciantes ampliam estoques e têm boa expectativa para aumentar a renda nessa época

A tradição de consumir peixe na Semana Santa aquece o mercado brasileiro e na Maré não é diferente. Comerciantes da pesca esperam o ano todo por esta data, além de beneficiar também os pequenos empreendedores com a venda de limão e temperos. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Criadores de Peixes (ABCP), a expectativa do país é de um aumento de 30% nas vendas em comparação com a semana anterior.

Os preços, segundo a pesquisa, devem se manter estáveis. Na Maré, o filé de linguado é um dos favoritos e custa em torno de R$36 o quilo, mas a queridinha é a sardinha que custa em média R$10 nas 16 favelas do território.

Comerciantes se preparam para atender a demanda

Para atender a alta demanda da Semana Santa, as peixarias mareenses estão reforçando seus estoques,  ampliando seus horários de funcionamento e até aumentando a equipe. 

| Já leu essa?

Julia Mel tem 22 anos e trabalha na barraca de peixe da família Silva. Ela conta que o negócio iniciou com seu avô, passou para o pai e hoje ela também trabalha no ramo. Localizada na Teixeira Ribeiro, na barraca dos Silva Pescados, encontra-se peixes variados: “Tem sardinha, que está entre 6 e 10 reais, tem camarões que também sai muito. Além da Corvina, Tilápia, Anchova, Xerelete, Robalo e outros. Não falta peixe!”, conta. 

A jovem fala sobre a expectativa para esta sexta-feira da paixão: “No dia-a-dia a equipe é formada por cinco pessoas, mas nesta semana santa a equipe aumenta e ficam em torno de oito pessoas para atender todo mundo. Pode ter certeza que você vai encontrar bom atendimento, peixe de alta qualidade e ninguém se arrepende quando compra aqui”, garante. 

Os peixes são o prato principal e o tempero é fundamental no preparo. O senhor Sebastião Macedo, de 67 anos, vende limões em frente a uma peixaria no Parque Maré. Ele fala da expectativa para estes dias: “Tem uns dois anos que eu vendo limão, e gosto muito dessa época. Sou aposentado mas não dá pra muita coisa e conversando com o pessoal, consegui ficar aqui em frente ao peixe. Tenho limão de R$2,50 e de R$3, também faço promoção, mas pra fiado digo não”, brinca. 

E você morador, já garantiu seu peixe? Veja algumas dicas para não errar na compra:

  • Observe se os olhos do peixe estão brilhantes e salientes.
  • As escamas devem estar firmes e brilhantes.
  • A carne deve estar firme e elástica.
  • O odor deve ser fresco e agradável.

Pessoas LGBTQIAP+ com deficiência criam mecanismos para inclusão e reconhecimento

0

Vale PCD e Quilombo PCD, são iniciativas que buscam driblar capacitismo, homofobia, racismo e quebrar barreiras também sobre a sexualidade de PcDs

Esta matéria foi originalmente publicada no site #Colabora e está sendo reproduzida com permissão do veículo

“Eu busco os meus direitos de poder amar, de poder trabalhar e fazer o que quiser”, afirma Emmanuel Castro, 36 anos. Formado em Cinema, em Rádio e TV e atualmente estudante de Psicologia, Emmanuel é uma pessoa com nanismo e um dos idealizadores do Vale PCD – ONG que atua com as pautas de pessoas com deficiência LGBTQIA+. A iniciativa surgiu em 2019 a partir de conversas entre ele e Priscila Siqueira, psicóloga e também uma pessoa com nanismo.

O projeto nasceu a partir do sentimento de falta de espaço e pertencimento, tanto Emmanuel como Priscila não se sentiam representados nem entre PcDs e nem entre pessoas LGBTQIA+. Diante da necessidade de enfrentar esses dois tabus, eles decidiram criar o projeto inicialmente para mapear locais com acessibilidade. “Eu ia para o rolê e cadê outras pessoas (com deficiência)? Foi quando eu conheci a Priscila e a gente começou a sair bastante. Nesse tempo eu tinha uma preocupação. Meu medo era não ter acessibilidade”, conta Emmanuel.

Foi então que surgiu o ValeMaps – mapeamento de espaços acessíveis em diferentes cidades brasileiras. Ao longo do tempo e por conta do isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, o Vale PCD passou a produzir conteúdos para combater o capacitismo – preconceito contra pessoas com deficiência. “A gente trabalha, estuda e namora. Enfim, a gente tem vida como outras pessoas, mas sofre essa violência silenciosa”, revela Emmanuel. Desde jovem, ele teve que encarar as dificuldades causadas pelo capacitismo estrutural que coloca PcDs em uma posição de pessoas sem sexualidade.

O absurdo chegou ao auge em uma sessão de psicoterapia, quando Emannuel contou sobre sua sexualidade e ouviu que iria para o inferno. “Isso me marcou muito na adolescência, escutar que você não pode sentir atração por homem, porque senão realmente você vai pro inferno. A própria psicóloga falou isso”, recorda o hoje estudante de psicologia.

Por conta das barreiras do preconceito, inclusive religioso, Emmanuel também encarava as relações amorosas como um tabu e sentia medo. “É, pecado, você não pode sentir prazer por homem”, era o que ele escutava sobre sentir atração por pessoas do mesmo sexo. “É libertador quando a gente consegue prestar um desejo que é seu, que é natural, está tudo bem e saber que não tem nada de errado comigo”, acrescenta.

Como cineasta, Emmanuel também aborda a falta de representatividade na mídia e em filmes. “Eu era uma criança que não via outras referências das pessoas com deficiência”. No caso das pessoas com nanismo, a representação feita pelo cinema hegemônico frequentemente alimenta estereótipos, colocando-as como personagens secundárias e/ou destinadas ao alívio cômico.

| Já leu essas?

Políticas de saúde sexual também excluem PcDs

Mesmo sendo uma pessoa bissexual, Priscila se sentia sozinha e isolada em baladas e espaços LGBTIA+. Segundo ela, o fato da própria acessibilidade e dos direitos das pessoas com deficiência serem temas ainda invisibilizados dificulta ainda mais para que essas pessoas possam falar sobre outras pautas, como a questão da sexualidade e das relações afetivas.

Além disso, as relações entre PcDs e pessoas típicas são vistas pela lente do capacitismo estrutural como gestos de caridade. “Acaba que cai naquela pegada do anjo: quem se relaciona com a gente é visto como um ‘herói ou heroína’, porque está abrindo mão de uma vida que se espera com uma pessoa dita normal”, exemplifica Priscila. A psicóloga menciona ainda que esse cenário de invisibilidade também coloca PcDs em uma posição de vulnerabilidade em termos de saúde sexual.

Um exemplo é de que praticamente inexistem campanhas de orientação sobre métodos de prevenção sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) para pessoas com deficiência. “Muitas pessoas com deficiência acabam por ser mais vítimas de ISTs, justamente por não conseguir dizer não quando alguma pessoa não quer usar métodos de prevenção, porque sabe quanto vai ser difícil encontrar outra pessoa para se relacionar com a gente e por falta de informação”, descreve Priscila.

Capacitismo e homofobia fizeram Beto evitar relações

“Quando você está no meio do pessoal que é LGBTQIA+, você é a pessoa com deficiência, quando você está com a galera do pessoal com deficiência, você é o LGBTQI+”, conta Beto Maia, 35 anos. Desenvolvedor de softwares e influenciador digital, ele encontrou no Vale PCD um lugar de acolhimento. Amputado de uma perna, ele ouviu diversas vezes que não poderia ser homossexual, porque uma “pessoa não tem como ter dois problemas na vida”.

Por conta do combo de capacitismo e homofobia, Beto escondeu durante muito tempo sua sexualidade e evitava ter relacionamentos. “A homofobia às vezes nem bate tanto na cara, porque é invalidada a sexualidade (de pessoas com deficiência), como se eu não tivesse uma vida afetiva amorosa”, acrescenta. Na pandemia, ele baixou o TikTok e começou a fazer vídeos para falar sobre assuntos públicos, principalmente relacionados a essas duas pautas. Foi através dos vídeos nas redes sociais que Beto conheceu Priscila e começou a fazer parte do Vale PCD.

Parada do Orgulho PCD

Em 2023, Priscila Siqueira começou a idealizar um evento para mobilizar a comunidade de pessoas com deficiência LGBTIA+. Foi então que surgiu a ideia da Parada do Orgulho PCD, evento realizado através de uma parceria do Vale PCD com o Quilombo PCD (ONG que trabalha com pessoas com deficiência a partir do recorte racial). A primeira edição aconteceu em agosto de 2023 na Avenida Paulista, em São Paulo. 

Priscila comenta sobre o desafio de organizar a parada com recursos próprios e limitados. “Apenas 2 mil reais e um sonho conseguimos juntar cerca de 800 pessoas na Avenida Paulista. Uma caixa de som e um microfone e fizemos tudo acontecer”. Em janeiro deste ano foi a vez do evento chegar a Salvador, na 1° Parada do Orgulho PCD do Nordeste.

A previsão é de que sejam realizadas mais edições ao longo de 2024. A próxima já tem data marcada: será neste domingo, 31 de março, em Recife. Além da Parada, Priscila também foi responsável por criar a “Vale Tude”, uma festa pensada para ser 100% acessível. “Ninguém enxerga alguém distribuindo abafadores de ruído na balada, mas na minha festa tem”, destaca a psicóloga sobre o evento que foi destaque do Prêmio Biscoito no ano passado.

Outras das frentes de atuação do Vale PCD são a oferta de atendimentos psicossociais, a promoção de encontros periódicos com dicas para preparar pessoas com deficiência para o ingresso no mercado de trabalho e a produção de cartilhas com informações sobre o tema. “A gente criou o Vale PCD justamente para falar sobre os direitos. Para falar do corpo e da nossa realidade”, explica Emmanuel, que cita a longa luta das pessoas com deficiência na busca por direitos básicos.

Um dos principais exemplos de capacitismo estrutural é a definição da trajetória de vida dessas pessoas como histórias de superação. Na visão de Emmanuel, o ponto chave da luta das PcDs é a equidade. “Minha deficiência tá aqui. E é uma parte de mim. Não me faz triste. Não me faz mal. Eu sou o que sou. Eu só quero lutar pelo mesmo direito que você de poder amar, poder trabalhar e fazer o que quiser”, complementa.

Adeptos ao candomblé falam dos desafios da religião enquanto moradores de favela

0

Entre o axé e as adversidades candomblecistas destacam a luta por espaço e reconhecimento

Essa matéria foi originalmente publicada na edição 98 do Jornal Impresso Voz das Comunidades e está sendo reproduzida com permissão do veículo

“As religiões de matriz africana são matriarcais” é o que afirma a Ekedy Michele de Oxum como é conhecida na nação Omolokô a líder religiosa, Michele Seixas, de 38 anos, moradora do Complexo do Alemão, próximo ao morro do Adeus onde é cria. Nos terreiros, assim como nas favelas e em todo o Brasil, elas são maioria. Nas histórias dos Orixás, nos itãs, são as protagonistas. As Yabás, mães d’água, vencem a guerra com e sem espadas em mãos. Debatem política, exercem mais do que a função de mãe e esposa, elas são também as lideranças. Entretanto, o espaço das religiões afrodescendentes e das matriarcas vêm sendo disputado na cidade.

Na última quinta-feira (21), comemoramos o Dia Nacional das Tradições de Raízes Africanas e Nações de Candomblé ou o Dia do Candomblé, como é popularmente chamado, marco decretado pelo presidente Lula. A proposta de lei é de autoria do deputado Vicentinho (PT). A história da cidade do Rio é marcada por sangue, suor e a força do trabalho negro, população que é maioria na cidade de acordo com dados do Censo Demográfico do IBGE de 2022. São cerca de 3,4 milhões de pessoas no Rio de Janeiro que são negras ou pardas, (54,3%). O número é superior ao de pessoas brancas que representam aproximadamente 45,4% da população, que, em números, são 2,5 milhões de habitantes da cidade. 

Ekedy Michele D’Oxum

Desde criança ela vive o axé, onde foi criada por sua família e exerce o cargo Ekédy há dez anos, que é a zeladora do Orixá, importante função dentro dos terreiros de cuidar dos santos. No entanto, ela conta que com o passar do tempo os homens foram ocupando o espaço de liderança nas casas de santo. “O machismo afeta muito a nossa religião, o colonialismo vem apagando as mulheres das tradições africanas […] hoje em dia os homens mandam e as mulheres quase não falam”, ressalta. Além do machismo, o racismo religioso é outra consequência da diáspora, ou seja, do deslocamento forçado de pessoas negras para o Brasil. 

Para o Babalorixá (pai de santo), Alex de Yemanjá, de 34 anos, estudante de história, candomblecista iniciado no culto aos Orixás há 13 anos, a relação das religiões de matriz africana com a cidade ainda não é ideal. 

“Temos que quebrar o preconceito e mostrar que não é aquela imagem negativa que as pessoas tem”. Pai Alex explica que, assim como as favelas, muitos terreiros também nasceram nos altos dos morros, “O negro precisou subir nos morros para poder criar seus templos e cultuar os Orixás”, afirma.

Alex diz que o Candomblé se firmou no Rio de Janeiro após a “abolição da escravatura” onde os negros escravizados puderam viajar e reencontrar seus parentes, e saber o que estava sendo feito com a espiritualidade. Assim, o candomblé que nasceu na Bahia, chegou ao Rio de Janeiro. Lá é o berço e aqui a filial. Mãe Michele diz que esta data é importante para lembrar e reforçar a presença da matriz africana. Ela ainda acredita que há um longo caminho a ser percorrido, e que os terreiros devem se unir para juntos ocupar para além dos espaços religiosos.

“O debate religioso tem que andar ao lado do político e fazer disputas de narrativas […] precisamos de algo que centralize e mapeie a nossa religião. É o que fazemos nas organizações sociais”. Uma das organizações que promove encontros entre adeptos dos variados cultos de matriz africana é a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), fundada em 2003, e que busca potencializar os saberes dos terreiros. Estes que são ancestrais, passados oralmente dos mais velhos para os mais novos, já que a religião é isso: uma ligação com a ancestralidade.

A escritora Eliana Alves Cruz, no romance “Nada Digo de Ti que Em Ti Não Veja” conta uma história ambientada no século XVIII (dezoito) narrando a história onde africanos escravizados vieram ao Brasil e foram obrigados a esconder ou negar suas raízes, tradições e crenças, fugir, tentar comprar sua liberdade. Histórias que foram vividas por pessoas africanas no porto da cidade e que emocionaram o Rei de Angola, Tchongolola Tchongonga-Ekuikui VI, que quando visitou o Brasil em novembro do ano passado, destacou que pessoas negras são “filhos de reis e rainhas da África” e que vivem em diáspora, ou seja, deslocamento forçado, pela escravidão. Esta é a história do Rio de Janeiro.