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O samba é cultura popular

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Resistência sempre fez parte da cultura do samba, e o sentimento se manteve com a pandemia

Maré de Notícias #119 – dezembro de 2020

Por Hélio Euclides e Andressa Cabral Botelho

“Não deixe o samba morrer. Não deixe o samba acabar. O morro foi feito de samba. De samba pra gente sambar…”, esse trecho da música “Não Deixa o Samba Morrer”, de composição de Aloísio Silva e Edson Conceição, gravado em 1975 pela Alcione, até hoje, está em evidência. A pandemia paralisou as rodas de samba e assustou quem vive do ritmo musical. Como o show não pode parar, por bom tempo as quadras das escolas de samba e casa de espetáculos deram lugar às lives, mas recentemente elas tiveram liberação para retornar respeitando o distanciamento. Dessa forma, o samba se esquivou, sacudiu, levantou a poeira e deu a volta por cima. 

O Dia Nacional do Samba é comemorado em 02 de dezembro e é uma data reconhecida pela Lei estadual n° 554, de 27 julho de 1964. Desde 2007, o samba carioca e suas expressões são reconhecidos como patrimônios culturais imateriais do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan). Ele nasce de uma mistura de batuques de escravizados com ritmos indígenas. Mas o novo gênero musical não era bem visto pelas elites escravistas do século XIX. Na virada para o século XX, o ritmo vem de Salvador para o Rio de Janeiro e vira marca cultural, principalmente, na região central do Rio, onde, até hoje, recebe uma série de rodas de samba que atrai locais e turistas. 

Uma figura importante para o samba carioca, Hilária Batista de Almeida, popularmente conhecida como Tia Ciata, baiana, cozinheira, mãe de santo e moradora da Pedra do Sal e Praça XI, dois redutos do samba no início do século XX. Ela é um símbolo de resistência por abrir a sua casa para a realização de rodas de samba, muitas vezes, reprimidas pelo poder da polícia. Foi em sua casa que o primeiro samba gravado do país, Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida, foi escrito. 

Os sambas de segunda e sexta-feira na Pedra do Sal são um dos mais populares da cidade – Foto: Andressa Cabral Botelho

O samba se refaz na batucada

A cultura foi um dos primeiros setores a parar em meio à pandemia do coronavírus. Todas as atividades que dependem da aglomeração e da venda de ingressos foram interrompidas, e não houve um plano para suprir a renda dos profissionais do setor. Alexandre de Mello Gonçalves, o músico Dão, integrante do Grupo Nova Raiz, conta que os sambistas tiveram problemas e alguns ainda estão numa fase difícil nas finanças. Toda uma estrutura, de gente que trabalha antes e na hora do evento, foi prejudicado. “Não temos apoio, a galera está sobrevivendo. Ocorreram rodas de samba clandestinas e outros jeitos para superar o perrengue da fase mais difícil da pandemia”, diz.

Apesar dos prejuízos, o músico vê o lado bom das férias forçadas. Ele destaca que o samba nunca foi tão tocado em casa por meio de lives, ouvindo os DVDs, consumindo por meio de aplicativos de música ou Youtube. “Teve gente que achou discos antigos ao arrumar suas casas. Não podia ouvir ao vivo na rua, então a casa era a solução”, fala. Dão também lembra que profissionais tiraram o tempo para estudar e  aprimorar suas técnicas, para compor, fazer arranjos e produzir vídeos. Por outro lado, alguns músicos não tiveram cabeça e inspiração, pois foram muitos os problemas enfrentados. “É um momento único e cada um tem a sua história”, conclui. 

O setor cultural envolvia mais de 5 milhões de pessoas trabalhando em 2018, representando 5,7% do total de ocupados no país – 44% desses profissionais são autônomos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). “Com certeza os profissionais envolvidos com eventos foram os mais prejudicados, porque nós fomos o último segmento a voltar a trabalhar. Nesse período de quase oito meses sem shows, os grupos e artistas de menor expressão tiveram que se reinventar e contar com a ajuda dos familiares, amigos, fãs e empresas para conseguir sobreviver com dignidade e pagar as contas”, expõe Rogerinho Ratatuia, cantor e ex-morador do Rubens Vaz.

Nesse período de pandemia, as lives surgiram como uma ótima alternativa. Por meio delas, muitos artistas e grupos conseguiram se manter visíveis no mercado, além de receberem doações financeiras e alimentos. “Infelizmente, o poder público e os governantes demoraram muito a nos enxergar. A nossa aposta agora é na Lei Aldir Blanc, que foi aprovada e irá beneficiar não só o samba, mas muitos fazedores de cultura de um modo geral”, comenta.

Para Luiz Antônio Simas, escritor e historiador, é preciso ver o outro lado, de que existe uma economia criativa que é ligada ao samba. O samba também é um elemento que proporciona muita gente viver dele. “O Rio de Janeiro tem um circuito de roda de samba, tem as escolas de samba, isso é uma economia que circula em torno desse ritmo musical que é muito importante. O samba tem congraçamento, tem a construção de sociabilidade e de identidade de grupo. Além disso, o samba, para muita gente, é um modo de ganhar a vida. Assim, ficamos numa circunstância complicada”, conta.

Simas afirma que o samba continua, e os sambistas tentam fazer o seu trabalho. Na mesma linha, ele percebe que as escolas de samba procuram conviver com esta situação. “O drama maior é dos trabalhadores do samba, aquele técnico de som, músicos e cantores da noite, os garçons das casas de show, todos foram afetados. Mas, no fim das contas, o samba tenta sobreviver, pois tem um público fiel desse gênero musical que é uma referência de criação de laços comunitários há mais de 100 anos”, diz. Ele completa que os outros gêneros musicais vêm, vão, explodem, mas é o samba que continua. 

O samba e as feijoadas do Siri de Ramos foram interrompidas com a pandemia
Foto: Elisângela Leite

Escolas de samba seguram a marimba

Em decisão inédita, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) resolveu adiar os desfiles das agremiações cariocas do Grupo Especial do Rio, de fevereiro para julho de 2021, caso haja vacinação até o primeiro trimestre do próximo ano. O Fórum Carioca de Blocos, formado pelas principais ligas, concluiu que o carnaval de rua deva seguir o mesmo caminho do adiamento. Sobre o Grupo B, Edivaldo Pereira, o Vadão, presidente da Escola de Samba Siri de Ramos, explica que todos estão aguardando o fim da eleição para bater o martelo sobre questões divergentes entre ligas, e se haverá um carnaval fora de época no meio do ano. “Essa gestão municipal não entendeu que o carnaval é cultural”, resume. Vadão afirma que, até o momento, tudo está parado na quadra. 

No Grêmio Recreativo Escola de Samba Gato de Bonsucesso, o posicionamento da presidência, diretoria e carnavalesco é de retornar aos desfiles apenas em 2022. “Para regulamentação, teremos que tirar dinheiro de pedra”, diz Jorge Geraldo, o popular Jorge Bob’s, diretor da agremiação. Para colaborar financeiramente com a escola, desde o dia 15 de novembro, retomaram as rodas de samba, que ocorrerão quinzenalmente. 

Um passado bem próximo

A Maré, como tantas favelas, tem muita força no samba. Para Jorge Bob’s, a semente foi plantada quando os moradores removidos das favelas do Pinto e do Esqueleto chegaram na Nova Holanda. Na época, nos anos 1960, a favela tinha o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Nova Holanda. Depois veio o Bloco Mataram Meu Gato, que, 25 anos depois, deu lugar à Escola de Samba Gato de Bonsucesso. No ano de fundação, 1999, a favela ainda pertencia ao bairro vizinho.

Nas décadas de 1990, o Parque União teve dois blocos, o Alegria do Parque e o Boca da Ilha, para o qual Jorge compôs um samba que falava da duplicação da Avenida Brasil. Depois, ainda existiu o bloco Filhos do Parque. “No Gato, comecei em 1992. De lá para cá, já participei de disputa de sambas por umas 20 vezes, emplacando quatro. Sinto amor verdadeiro por minha escola”, lembra Jorge.

Já na Praia de Ramos, tudo começou com o Bloco Boca de Siri. Pires Queiroz, da velha guarda da agremiação Siri de Ramos, lembra que tudo começou nos desfiles de rua. “A gente fechava a Avenida Brasil e rodava a comunidade todinha. Quando empolgou, fizemos camisetas com nome do bloco”, diz. Ele completa: o amor pela escola não se explica. “Foi amor à primeira vista. O bloco foi crescendo, e eu fui junto. Abro mão de qualquer coisa pelo carnaval”, finaliza.

Governo Federal e Ministério da Saúde lançam plano de operação para vacina contra covid-19

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Apresentação em plano reuniu governadores, ministros e demais parlamentares 

Por Edu Carvalho em 16/12/2020 às 20h10

Editado por Daniele Moura

Próximo de batermos a marca de 183 mil mortes em decorrência do novo coronavírus, nesta quarta-feira (16), o Governo Federal junto ao Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional de Operação da Vacina contra a covid-19, oficializando assim o documento entregue ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski.

A vacinação contra o novo coronavírus no Brasil começará pelos grupos prioritários, conforme o plano apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ainda não há uma data para iniciá-la.

Na primeira etapa, os primeiros a serem vacinados serão os trabalhadores da área de saúde: profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e também profissionais de apoio, como cozinheiros e pessoal da limpeza de hospital, motoristas de ambulância, cuidadores de idosos, etc.

Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 foi entregue ao Presidente Jair Bolsonaro – Foto: Isac Nóbrega/PR

Indígenas aldeados em terras demarcadas, pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas e pessoas de 75 anos ou mais também devem receber a vacina nessa primeira fase.

Os próximos a serem imunizados, em uma segunda fase, serão os idosos entre 60 e 74 anos.

A fase três será voltada para pessoas com comorbidades, ou seja, com doenças que podem agravar a situação de saúde da pessoa em caso de uma contaminação com o Sars-Cov-2, o vírus que causa a covid-19.

São consideradas morbidades prioritárias: diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer, obesidade grau III. Nessa fase também serão vacinadas pessoas com deficiência permanente severa.

A quarta fase será voltada para imunizar os trabalhadores da educação, população em situação de rua, membros das forças de segurança e salvamento, trabalhadores do transporte coletivo e transportadores rodoviários de carga e funcionários do sistema prisional e população carcerária.

Essas quatro fases correspondem aos quatro primeiros meses de vacinação, sendo incluídas as pessoas mais vulneráveis e aquelas com maior exposição ao Sars-CoV-2. A previsão é de que 51 milhões de brasileiros sejam imunizados nessa fase, que terá 108 milhões de doses (duas doses para cada pessoa mais 5% de reserva).

Vacinas

O plano de imunização detalha apenas a vacina que está sendo desenvolvida em parceria pela Universidade de Oxford e  a AstraZeneca. O Brasil vai receber 100 milhões de doses dessa vacina até julho. No segundo semestre, a Fiocruz, parceira no Brasil desse imunizante, vai produzir mais 160 milhões de doses.

Mas a intenção do governo é comprar todas as vacinas que receberem o aval da Anvisa. Além da Fiocruz, o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, está produzindo doses de uma vacina – a Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac.

Nenhuma das vacinas foi autorizada até o momento pela Anvisa, que já divulgou que seguirá um calendário para dar aval emergencial aos imunizantes.

Artistas da Maré criam podcast de ficção durante pandemia

Peça sonora BECOS, criada por seis jovens artistas da Maré, é lançada durante a pandemia de covid-19

Por Thaís Cavalcante em 16/12/2020 às 12h
Editado por Edu Carvalho

Andar por um beco é conhecer o miolo da favela, é descobrir o que faz parte da imaginação de quem a construiu. Um convite do cotidiano a uma travessia afetiva, que faz conhecer de perto suas questões sociais. Conheça o podcast BECOS, uma história de ficção que imita a realidade, criada por seis jovens artistas da Maré, na cidade do Rio, durante a pandemia do coronavírus.

Os personagens de BECOS vivem encontros, alegrias, violências e outras vivências cotidianas que geram identificação de realidades. Não à toa, eles têm nomes, gostos e hábitos. As diferentes perspectivas dos artistas trouxeram ainda mais vida ao formato sonoro – que envolve e aproxima o ouvinte. No Conjunto de Favelas da Maré existem inúmeros artistas e no projeto é possível conhecer o trabalho intenso de alguns deles: Rodrigo Maré, Jonathan Panta, Matheus de Araujo, MC Martina, Thainá Iná e Thais Ayomide.

Thaina Iná, espirituartista, narradora audiovisual e cria do Parque União, conta que a produção durante a pandemia foi um acontecimento. “Ainda que não mencionemos isso na história, isso está no processo que foi a distância. A gente se conectava pela plataforma de vídeo Zoom. Foi a falta de proximidade que estimulou a gente”, diz. Completa, ainda, que a conexão existia principalmente pelas múltiplas experiências. “Tô falando de um lugar que eu vivo, mas não vou olhar para isso como um fator limitante. Foi um compromisso primeiro com a gente e depois com o que atravessa a gente. Por que a gente só fala da fome de comida? Existem outras fomes”. Para matar essa fome de arte, poesia e cultura os jovens se juntaram durante cinco meses e criaram quatro atos.

Ouça os quatro atos e acompanhe o programa BECOS no Spotify.

Matheus de Araújo foi um dos primeiros a experimentar possibilidades no projeto a partir da produção de vídeo-poema. Ele, estudante de Letras, escritor do zine A reza e do livro Maré Cheia, mora na Rubens Vaz e garante que a narrativa do BECOS foi uma maneira de apontar soluções, não problemas. “Quando se fala em favela, a dor sempre fica em primeiro plano. Nós estamos calejados, por isso deixar a violência sempre primeiro plano é negar também nossa diversidade e potência. Foram decodificações artísticas intensas, mas discutidas com mais facilidade porque o grupo já se conhecia”, conta.

A ideia inicial é que fosse realmente uma peça, mas não sonora. A pandemia mudou o rumo do projeto e uniu ainda mais a ideia de construir experimentos de escrita, vídeos e músicas. “A ideia da peça sonora surgiu depois do exercício de esquetes. A produção criativa foi um desafio e depois de se adaptar foi mais fácil produzir”, diz. A narrativa é tão envolvente que não é difícil acreditar que muita coisa narrada ali não é ficção, pois traduz, em detalhes, a realidade favelada.

Atualmente, o projeto tem a produção de vídeo-poema e seu podcast em todas as plataformas de streaming da internet. O desejo de Matheus é que o programa chegue não só nas plataformas de streaming, mas também em rádios comunitárias e seja divulgado em jornais locais, veículos que são como pontes diretas para que o conteúdo que veio de dentro, volte para dentro. Thaina Iná concorda com o colega: “Que o podcast chegue em vários lugares, mas principalmente no raio de 100 metros de casa. Foi uma provocação de como a gente consegue gerar interesse e fazer uma reflexão em cima do que a gente vive. Esse ponto de gerar o alcance é outro passo fundamental”.

Descubra como foi o processo de criação do grupo no meio da pandemia de covid-19.

BECOS é uma realização da organização de arte e justiça social People’s Palace Projects e da ONG Redes da Maré. Lideranças do projeto, como a diretora da Redes Eliana Sousa e Silva, a diretora de teatro do País de Gales, Catherine Paskell, e o diretor artístico do People’s Palace Projects, Paul Heritage, se juntaram com propósitos bem parecidos para a criação do projeto. “Tivemos a vontade de produzir conhecimento a partir do próprio território. Sendo ele não o objeto de estudo, mas o centro da produção”, diz Paul.

“Os encontros com esses jovens tão talentosos duraram cinco meses. Isso diz mais que saúde mental, é sobre bem-estar e a necessidade de criar durante a pandemia, apesar de tudo o que estava acontecendo. A gente fez uma imersão e teve que inventar uma maneira de criar junto. Vejo uma confiança deles na arte. Como falam, é a arte que salva”, conclui.

Assista ao trailer visual da peça sonora BECOS.

Pesquisa Construindo Pontes

O podcast BECOS foi o braço artístico da pesquisa Construindo Pontes, Atravessando Becos: Cultura e Saúde Mental, que pretendeu investigar o bem-estar e a saúde mental dos mareenses, população de vive em seu cotidiano experiências potentes e criativas, mas também de violência urbana e desigualdade social. O que mostra que a arte também é um instrumento de pesquisa. Durante os projetos realizados junto à Redes da Maré, todos tiveram um elemento artístico como forma de narrativa. Uma união de experimento de dados, pesquisa e narrativa. 

Para que o estudo fosse feito de forma mais completa, abrangeu as áreas da saúde, ciências sociais e cultura. Foram cercas de 1.400 entrevistas com moradores da Maré, dentre eles residentes e usuários de drogas da região. Também foram levantados os serviços de saúde e apoio social e cultural existentes.

Paul acredita que essa é uma pesquisa única sobre o impacto da saúde mental na população mareense e que pretende utilizá-la de três formas. A primeira, com a publicação dos dados acadêmicos em revistas que sejam validadas e dialogue com outros pesquisadores da área. A segunda é sobre o material trazer facilidade para a implantação de políticas públicas, pois investir em cultura na favela é como investir em saúde pública. A terceira é trazer o diálogo para toda a comunidade envolvida, percebendo qual o impacto gerado a partir das diferentes produções sobre o local.

Além do podcast já lançado, há também o projeto de fotografia A Maré de Casa, um ensaio que reuniu depoimentos em foto e texto de moradores durante a quarentena e o isolamento social. Para 2021, a expectativa é o lançamento de dois livros do cientista político Luiz Eduardo, um com artigos sobre a conclusão da pesquisa e outro com narrativas, a partir das vivências dos artistas locais que participaram ativamente do programa.

O projeto tem realização da People’s Palace Projects (Queen Mary University of London) e da Redes de Desenvolvimento da Maré com apoio do Arts and Humanities Research Council, Economic and Social Research Council e pelo Global Challenges Research Fund. 

Talco

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Cada um de nós carrega lembranças da infância. As boas, as ruins, todas, aprendizados para a vida. Eu me lembro da minha avó materna, a Dona Celina, me enchendo de talco, passando excessivamente um pente no meu cabelo e praticamente me amarrando no sofá da sala para que não amarrotasse o uniforme até a hora de ir para a escola.

Naquela época, o Brasil vivia o fim da ditadura militar. Eram os anos 1980, e eu, um menino negro, morador de uma vila operária do subúrbio do Rio, tinha, além das horas na escola, as brincadeiras na rua e o tempo de assistir TV. Este aparelho exercia uma influência gigantesca na vida das pessoas, e lá, meninos e homens negros não existiam. Quando eles apareciam eram tratados como objetos, em papéis subalternos, sujos, grotescos, violentos, primitivos e perigosos. Com esta referência, os apelidos e brincadeiras racistas – hoje, criminosas – eram constantes, uma perseguição mesmo.

Com a chegada da adolescência, a estratégia encontrada foi criar técnicas de “auto branqueamento” para ser aceito nos grupos porque, nessa fase da vida, a solidão é muito grande. A decisão, portanto, foi modernizar aquela antiga arrumação com talco da minha “velha”: cabelo sempre raspado, roupa de cores neutras com etiquetas aparentes e muito bem passadas, perfume de alguma marca gringa conhecida e tênis da moda. Deu certo, até ouvia que era “preto de alma branca” e não ligava para isso. Se tornar alguém que não era foi a estratégia para ter dias de paz e ser finalmente “aceito”.

“Naquele momento, os efeitos do racismo sinalizaram o sentimento de autopunição, cobrança, ansiedade e frustração, pois a superação para um homem negro é constante, diária.”

Carlos André – Cazé – Bacharel em Direito

A entrada sem espanto em determinados grupos era uma realidade, porém, tudo isso tinha um preço, um custo. E caro. O trabalho como office boy rendia um pequeno salário que não dava para comprar as peças da moda e também ajudar nas contas da casa.

Quando já não tinha mais como bancar as roupas da moda e percebendo que meus amigos brancos caminhavam conquistando mais coisas e ascendendo socialmente, comecei a entender o recado de que eu não fazia parte daquele mundo, por mais que eu me endividasse para manter a condição e imagem que havia criado. Naquele momento, os efeitos do racismo sinalizaram o sentimento de autopunição, cobrança, ansiedade e frustração, pois a superação para um homem negro é constante, diária. Você tem que ser o melhor em tudo, pedir desculpas e “com licença” até para o vento, tem de estar sempre de bom humor, ser pró-ativo, simpático, carregar peso com alegria, não reclamar de nada e estar sempre cheiroso e arrumado. Ou seja, tem sempre que aceitar tudo passivamente e, se não for assim, são xingamentos, olhares desconfiados e até a violência verbal e física.

Pensadores e intelectuais brancos relativizam nossa história com as teses mais absurdas. Por esse motivo, conhecer de maneira crítica determinadas questões é importante para mudar o curso da caminhada.  E, no novo curso da caminhada, sempre haverá lugar para a Preta Velha que me arrumava para a escola, sabendo o mundo que tinha de enfrentar já com tão pouca idade. Hoje, com muita sinceridade e carinho com as sombras do passado, não faço mais uso do talco e não me escondo nas etiquetas da moda para ser aceito, prefiro refletir as palavras da professora Lélia Gonzales em que dizia que “Nós negros temos nome e sobrenome, senão os brancos vão nos apelidar da forma que eles querem”.

Esse nome, sobrenome, a história, cultura, a ancestralidade, nossa música, nosso sagrado, nossos intelectuais, nossos pretos e pretas velhas são pilares importantes da construção de uma nação que tenta constantemente apagar com violência, mentira ou nas sutilezas mais  perversas. Mas são corpos negros e livres que hoje limpam o talco branco do pescoço, levantam a cabeça com orgulho e redefinem suas trajetórias.

Réveillon Rio 2021 é cancelado em função da pandemia da covid-19

O cancelamento se dá em respeito às pessoas que faleceram em decorrência ao novo coronavírus

Por Edu Carvalho, em 15/12/2020, às 19h05
Editado por Andressa Cabral Botelho

A Prefeitura do Rio, por meio da Riotur, informa que o réveillon oficial da cidade do Rio de Janeiro está cancelado em função do atual cenário da pandemia da covid-19. Embora o Réveillon Rio 2021 tenha sido projetado em um novo formato, diferente do tradicional, como há anos é praticado na cidade, a festa da virada seria sem a presença de público e queima de fogos e aconteceria em pontos turísticos. O evento poderia ser acompanhado pela TV e mídias digitais, mas, neste momento, a Prefeitura optou pelo cancelamento do evento em respeito a todas as vítimas e em favor da segurança de todos. 

“Quando anunciamos o novo modelo para o Réveillon Rio 2021, falamos em responsabilidade social. O nosso discurso permanece. O motivo do cancelamento nada mais é que uma decisão consciente e responsável”, afirmou o presidente da Riotur, Fabricio Villa Flor. Além de Copacabana, a celebração mais tradicional da cidade, outros oito locais também têm palcos montados pela prefeitura, como o Piscinão de Ramos, na Maré.

“Esta é uma decisão necessária para a proteção de todos. A festa será a da esperança por bons resultados das vacinas para conter a pandemia. Será ainda um momento de reflexão sobre um ano difícil, de luta, com lamentáveis perdas de tantas pessoas. E será também hora de dar graças a Deus pelas vidas salvas”, concluiu o prefeito Marcelo Crivella. Sobre festas particulares e eventos na orla, a Prefeitura reforça que as aglomerações estão proibidas e que as regras de ouro de distanciamento ainda estão em vigor.

No momento, a cidade do Rio está em crescente no número de casos e mortes pelo novo coronavírus: são 151.893 casos e 14.015 mortos confirmados desde o início da pandemia até esta terça-feira, dia 15 de dezembro. Até o momento, 329 pessoas aguardavam por transferência para leitos na capital e na Baixada Fluminense, sendo 185 para leitos de UTI de covid-19.

Governo do Rio lança plano de prevenção para chuvas durante o verão

Ação integrada entre os órgãos públicos atuará com 70 sirenes de alerta durante operações 

Por Edu Carvalho, em 15/12/2020, às 17h40
Editado por Andressa Cabral Botelho

Com o início do verão no próximo dia 21 de dezembro, um dos medos da população são as chuvas de verão, problema constante em diversas regiões do estado, assim como na cidade do Rio. Na Maré é constante ouvir de moradores que durante as pancadas de chuva algumas regiões ficam alagadas. Pensando nisso, na manhã desta terça-feira, dia 15, o governador em exercício do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, apresentou um novo plano de contingência de temporais. O objetivo da ação integrada entre Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e equipes do governo é precaver possíveis danos, dados os efeitos das chuvas nos meses iniciais do ano.

Uma das primeiras ações é o religamento das sirenes que são disparadas durante fortes chuvas, mas principalmente  as que estavam sem funcionar por, pelo menos, três anos. O estado conta hoje com 212 sirenes de alertas de risco que estão ativas e deve ter mais 70 em operação até a próxima sexta, dia 18, como parte do plano, de acordo com o Coronel Leandro Sampaio Monteiro, secretário de Estado de Defesa Civil (Sedec-RJ) e Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros do RJ. São 13 as cidades do estado do Rio que estavam com sirenes inoperantes e voltam a funcionar nos seguintes municípios: Areal; Barra do Piraí; Barra Mansa; Bom Jardim; Cachoeiras de Macacu; Duque de Caxias; Magé; Nova Friburgo; Petrópolis; Queimados; São Gonçalo; São João de Meriti e Teresópolis.

O governador Castro destacou que o sistema de sirenes funcionará de maneira integrada com um plano que prevê a ampliação dos canais de informação. Desta forma, a população será comunicada em caso de riscos de desastres. Todas as informações serão enviadas por Whatsapp, Telegram e SMS. Um site, lançado exclusivamente para o plano de contingência, também detalha as ações da Defesa Civil e conta com informações meteorológicas atualizadas. 

No site também é possível acessar uma lista de locais que servirão de abrigo às pessoas que possam vir a ficar desabrigadas, além de informar pontos de doação e hospitais de base durante as chuvas. Além disso, o governo anunciou a compra de kits de alimentação e salvamento para os possíveis desabrigados, incluindo água, produtos de limpeza, colchões e botes.

Canais de contato para informações sobre emergências:

WhatsApp: Basta enviar mensagem para (21) 98596-9152 e seguir as instruções.
Telegram: A adesão é feita por meio do link: t.me/monitoramentocemadenrj.
SMS: É preciso mandar o número do CEP para 40199
Site: www.contingenciaverao.rj.gov.br