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Ronda Coronavírus: 28 de setembro, Dia da Boiada

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Em decisão polêmica, Governo revoga diversas normas que protegiam biomas ambientais importantes

Governo revogou nesta segunda (28/9), resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente que garantiam a preservação de áreas de restinga e manguezais, de entornos de reservatórios d’água e que disciplinavam licenciamento para projetos de irrigação. Ainda foi aprovada a queima de resíduos agrotóxicos e de lixo tóxico em fornos usados para a produção de cimento. 

O Conama, principal órgão consultivo do Ministério do Meio Ambiente, é responsável por estabelecer critérios para licenciamento ambiental e normas para o controle e a manutenção da qualidade do meio ambiente. Em maio do ano passado, o governo reduziu e alterou a composição do Conama. O colegiado, que contava com 96 conselheiros, entre membros de entidades públicas e de ONGs, passou a ter 23 membros titulares, incluindo seu presidente, o ministro Ricardo Salles, e presidentes do Conselho Nacional da Indústria e do Conselho Nacional de Agricultura. A decisão de mudar o colegiado do Conama está para ser analisada desde maio de 2019 pela ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber. 

Agora no início da noite (18h20 de 28/09), o Ministério Público Federal recorreu ao Tribunal Regional Federal da 1ª região para afastar o ministro Ricardo Salles do cargo alegando risco irreversível à Amazônia. Procuradores pedem que o Tribunal analise pedido feito em julho, em uma ação de improbidade contra o ministro do Meio Ambiente. 

Números da covid-19

No Estado do Rio são 262.006 casos confirmados e 18.291 mortes desde 16 de março. Entre os casos confirmados, 239.108 pacientes se recuperaram da doença. O estado vem apresentando alta há 10 dias consecutivos, com médias que variam entre 81 e 103 mortes diárias. Na  capital fluminense os números também indicam alta. Foram confirmados hoje mais 532 casos e 56 mortes nesta segunda-feira, totalizando 102.326 pessoas contaminadas e 10.856 que morreram pela doença. 

São 6.893 casos confirmados nas favelas cariocas e 86 mortes segundo o Painel Covid-19 nas Favelas. Já o Painel Unificador das Favelas do Rio, que contabiliza os suspeitos e confirmados, mostra a Maré no topo do ranking com 1.667 casos e 126 mortes. O projeto Conexão Saúde continua a testagem da população das 16 favelas da Maré na Rua Teixeira Ribeiro, nº 521, no Parque Maré, bem perto da Avenida Brasil. Mais informações aqui.

Rachadinhas denunciadas 

Depois de mais de dois anos de investigação, o Ministério Público do Rio denunciou hoje (28/9) ao Tribunal de Justiça do Rio o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Fabrício Queiroz, subtenente da reserva da Polícia Militar e assessor do senador no período em que foi deputado estadual no Rio. Flávio foi apontado como líder da organização criminosa e Queiroz como o operador do esquema de corrupção que funcionava no antigo gabinete na Assembleia Legislativa. Ambos foram acusados pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Fake news e Eleições 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez acordo com as plataformas de redes sociais para tirar do ar perfis falsos e disseminadores de fake news independente de ordem judicial. O presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, confirmou o plano de cerco às notícias falsas e uso de robôs.

Eleições com diversidade 

Dados do Tribunal Superior Eleitoral mostram que pela primeira vez na história, o número de candidatos negros (49,9%) é maior que os brancos (47,8%). O Tribunal passou a coletar dados de raça dos candidatos em 2014 e a proporção de candidatos negros nas eleições de 2020 é a maior já registrada.

Sáúde em risco

O teto de gesso de consultório da Clínica Municipal de Saúde da Vila do João desabou. Um funcionário da fundação confirmou que o problema de infiltração já existia, mas que a poda feita pela Comlurb recentemente atingiu o telhado de uma forma acidental, contribuindo ainda mais para o desabamento. Saiba mais aqui

Combate a desinformação nas favelas.

Em parceria com os coletivos Voz da Comunidades e Favela em Pauta, a Agência Lupa lançou um projeto para checar notícias falsas que circulam entre moradores de favelas. A iniciativa reafirma que mesmo com uma pandemia global, as notícias falsas são um grande perigo à saúde da população e também precisam ser combatidas. A preocupação tem motivo: a cada dez pessoas, sete já acreditaram em alguma notícia falsa na internet sobre a covid-19, segundo pesquisa da Avaaz. Saiba mais aqui

Literatura Comunica

Projeto reúne relatos de pessoas em isolamento com 12 autores da Maré. O Diário de Emergência Covid-19 teve como inspiração três livros que retratam isolamentos em diferentes épocas e situações: Diário de um Hospício, de Lima Barreto; O diário de Anne Frank, de Anne Frank; e Quarto de Despejo, de Carolina de Jesus. Você pode conferir todas as publicações do projeto aqui e a entrevista com dois autores mareenses e a idealizadora do projeto aqui.

Aulas pela TV

A Prefeitura do Rio ampliou o ensino das disciplinas do currículo escolar na programação do Escola.Rio, que vai ao ar na TV aberta pelos canais Band e TV Escola. O Programa terá reforço no ensino de Matemática e Português na TV Band e TV Escola. Também haverá abordagem de outras disciplinas nas videoaulas voltadas para os alunos da Rede Municipal. A programação detalhada do Escola.Rio pode ser vista abaixo ou através do portal da MultiRio.

Canais e horários

  • Band – Canal 7 (TV Aberta) – 13h30
  • Band – Canal 21 e 507 (TV a Cabo – NET) – 13h30
  • Band – Canal 7.2 (TV Aberta) – Das 8h às 9h e das 14h às 15h
  • MultiRio – Canal 26 e 526 (TV a Cabo – NET) – 13h30
  • TV Escola – Canal 21 (SKY), 08 (Claro TV), 25 (Oi TV) e 235 (Vivo TV) – Via Satélite – 19h30
  • TV Escola – Canal 15 – TV a Cabo (NET) – 19h30
  • TV Escola – Canal 2.3 – TV aberta – 19h30

Caiu na rede: é fake?

Em parceria com a Agência Lupa, jornais comunitários lançam projeto para checar notícias falsas que circulam entre moradores de favela

Por Thaís Cavalcante em 28/09/2020

Nas redes, a notícia não para de chegar e o leitor não para de compartilhar. O perigo está aí: será que tudo o que recebemos é real? Para ampliar a divulgação de informações verdadeiras sobre o novo coronavírus, principalmente aos moradores de favelas, foi lançado em setembro o projeto de checagem de fatos Caiu na rede: é fake?, uma parceria da Agência Lupa, primeira agência de notícias de checagem de dados do país e dois coletivos de jornalismo comunitário: Voz das Comunidades e Favela em Pauta.

A iniciativa reafirma que, mesmo com uma pandemia global, as notícias falsas são um grande perigo à saúde da população e também precisam ser combatidas. O remédio é a informação de qualidade. A preocupação tem motivo: a cada dez pessoas, sete já acreditaram em alguma notícia falsa na internet sobre a covid-19, segundo pesquisa da Avaaz.

O que facilita essa desinformação é o sensacionalismo e o fácil compartilhamento sem a checagem do leitor. Para Juliana Pinho, estudante e moradora da Nova Holanda, “uma das maiores missões do comunicador é conseguir com que a notícia verdadeira chegue com tanta facilidade quanto a fake news. Principalmente nos aplicativos de mensagem e grupos da família, da igreja, da escola”, declara.

Flávia Campuzano, gerente de Novos Negócios da Agência Lupa, conta que a agência já pensava em promover um projeto de capacitação para coletivos de favelas em checagem a partir das experiências anteriores. “Apresentamos o projeto para a Fundação Heinrich Böll, que apoia iniciativas ligadas aos Direitos Humanos e à democracia, entre outras frentes. A conversa deu match e tivemos o apoio da fundação alemã para lançar o projeto com os coletivos”.

Um desafio e tanto. O primeiro episódio do projeto desmentiu as notícias falsas (fake news) que circulam nas redes, nos aplicativos de mensagem e na boca do povo. Desde o início da pandemia foram diversas as notícias falsas falando sobre possíveis curas milagrosas. Toda quarta e sexta-feira, os conteúdos jornalísticos serão publicados em vídeo nas redes sociais dos 3 veículos e em texto nos sites da Agência Lupa e Favela em Pauta.

Informação acessível durante a pandemia

Lia Soares, jornalista e uma das apresentadoras do Caiu na rede: é fake?, destaca o valor do combate às notícias falsas no fortalecimento de uma comunicação mais democrática e acessível. “O lugar onde se retira grandes verdades é pela internet. Antigamente, as pessoas acreditavam no que estava escrito no jornal ou no que passava na televisão. Hoje em dia não mais. Então, fazer esse trabalho pensando em zonas periféricas e em uma linguagem que pessoas de todas as classes sociais conseguissem entender, foi aí que veio o resultado [do projeto]”. Somado a isso, é colocado em pauta a representatividade a partir das apresentadoras: Amanda Botelho é jornalista e mulher negra e Lia Soares é jornalista, mulher trans e negra.

O projeto de alcance local e nacional caminha junto com o que defende o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde Tedros Adhanom. Ele afirma que as informações falsas e a desinformação colocam a vida das pessoas em risco, além de minar a confiança na ciência, nas instituições e nos sistemas de saúde.

Pensando em soluções, Douglas Silveira, diretor de Marketing e Educação da Agência Lupa, diz que o objetivo da iniciativa é dar espaço para conteúdos checados, de linguagem acessível para a favela e para fora dela também. “Durante a pandemia, a Agência Lupa foi procurada por coletivos de jornalismo que atuam em comunidades para treinamento em como verificar informações no combate à infodemia sobre o novo coronavírus. Sentimos necessidade de, além de promover treinamentos em fact-checking, produzir conteúdos verificados em parceria”, destaca Silveira.

Essa parceria expõe a importância do papel do jornalista local, visto pelos moradores do território como um profissional de confiança, o que traz mais credibilidade e facilidade de cobertura. Silveira afirma, ainda, que com o conhecimento dessa realidade, circular e colher informações confiáveis nestes locais, torna-se, até mesmo, referência de produção de conteúdo verificado para as mídias tradicionais.

Após essa primeira edição, a ideia é expandir o projeto para outros coletivos de favelas do Rio de Janeiro e de outros estados do país. “Demos o pontapé inicial com as equipes do Voz das Comunidades e Favela em Pauta. Aproveitamos para fazer convites a outros coletivos para se juntarem ao trabalho da Agência Lupa no combate a desinformação dentro e fora das periferias. É a voz da favela em pauta na Agência Lupa”, conclui Silveira.

Você sabia?

Infodemia é uma epidemia causada por excesso de informação sobre um mesmo assunto, que podem estar incorretas, incompletas ou divulgadas por fontes pouco confiáveis. Muitas vezes a notícia acaba se distorcendo no meio do caminho, como na famosa brincadeira do telefone sem fio, fazendo com que ela chegue numa outra pessoa com informações alteradas, mudando o seu sentido original. 

É importante prestar atenção nas notícias que chegam até nós quando achar a fonte desconhecida ou o conteúdo estranho. Sempre é válido pegar o título da matéria ou as informações principais e procurar em sites de pesquisa para verificar se existe mais de uma fonte confiável compartilhando aquela informação.

Teto da Clínica da Saúde na Vila do João, na Maré, desaba

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Unidade sofre com infiltrações e mofo. Teto de gesso desabou e, em outras partes, ameaça cair.

Hélio Euclides

O que cai em pé e corre deitado? A chuva. Infelizmente, os profissionais do Centro Municipal de Saúde Vila do João não acham graça dessa piada. No dia 22 de setembro, após chuva que caiu na cidade, o teto de gesso desabou junto. Duas salas da unidade foram atingidas: a de atendimento de odontologia e de um consultório. O gesso já vinha cedendo anteriormente, mas não houve manutenção. O Centro, construído nos anos 1990 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e fechado por anos,  foi reaberto pela Prefeitura e gerido pelo Projeto Maré Limpa. De lá para cá, a unidade passou por algumas reformas. No site da Prefeitura, a última foi em 2015.

Daniel Soranz, doutor e mestre em Saúde Pública, professor e pesquisador da Fiocruz médico visitou a unidade e percebeu o caos em que se encontra. “É uma unidade destruída. Tem profissionais de excelência, mas nenhuma estrutura. Triste ver essa vergonha. É um perigo para funcionários e pacientes”, conclui. Profissionais contaram que o local já tinha infiltrações, mas tudo piorou depois de uma poda de árvores. Após divulgação do desabamento na mídia, profissionais da Prefeitura vieram e tiraram o restante do gesso, para evitar acidentes.  O Maré de Notícias na edição #115, de agosto de 2020,  já retratava o problema de saúde da Maré. O próprio pesquisador da Fiocruz, já alertava sobre o problema. “Tinha de investir no Sistema Único de Saúde, no tratamento primário. Enquanto temos hospitais luxuosos de campanha no Riocentro e Maracanã, a UPA Maré está caindo aos pedaços, soltando o piso, o Centro Municipal da Vila do João não tem nem tinta para pintar as paredes e, na Nova Holanda, a Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva não teve até hoje a ligação elétrica feita. Isso é desconhecer a cidade”.

Funcionários da Clínica da Vila do João disseram que estão com medo de demissões, já que pessoas se declarando “Guardiões do Crivella” estiveram na unidade e buscaram informações de quem teria vazado as informações do desabamento para a TV Globo. Os profissionais afirmaram que tinham sido os pacientes que filmaram e tiraram fotos.  Eles ainda reclamaram de outro problema: a mudança de administração – da Empresa Social Viva Rio para Empresa Pública RioSaúde – que trouxe a redução de salários, e com isso, a desmotivação dos profissionais. 

Equipe da RioSaúde e 30ª Região Administrativa avaliavam o CMS enquanto o Maré Online fazia a apuração Foto: Matheus Affonso

Apesar dos problemas, o atendimento continua

Priscila Martins, moradora da Vila do João, uma das 16 favelas da Maré, foi à unidade para acompanhar uma familiar que necessitava de retirada de pontos do parto e de informações sobre teste do pezinho. Ela segurava uma criança de apenas duas semanas de vida. “Estou preocupada, pois há um grande risco de desenvolver uma alergia. É preciso uma recuperação com urgência”, comenta. Beatriz Tadeu Gomes, moradora da Vila do João, destacou a falta de conservação. “No passado os espaços de espera eram abertos, algo que era muito ruim. Fizeram a cobertura, mas sem manutenção ficou degradado, mas mesmo assim o atendimento é ótimo”.

Teto mofado com risco de desabamento na CMS Vila do João assusta pacientes.
Foto: Matheus Affonso

Durante a presença da equipe de reportagem, a 30ª Região Administrativa e a Fundação RioSaúde  estavam avaliando o prédio. Um funcionário da fundação confirmou que o problema de infiltração já existia, mas que, realmente, a poda feita pela Comlurb atingiu o telhado de uma forma acidental.  Ele afirmou, também, que hoje foi feito um estudo da unidade para apresentação de orçamento, e que depois será avaliado como será a obra, se em caráter emergencial ou de uma forma mais completa. 

Até a fiação exposta a água, por causa da infiltração é risco aos pacientes.
Foto: Matheus Affonso

Um estudo semelhante acontecerá na Clínica da Família Augusto Boal, em Bento Ribeiro Dantas, e na Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda, segundo a Fundação RioSaúde. Na Jeremias a promessa é que a reforma aconteça na parte elétrica para dar fim ao gerador, que hoje fornece energia.  Desde que foi inaugurada em 2018, a Clínica tem geradores com custo altíssimo de aluguel e também de diesel, combustível usado no equipamento. A Prefeitura sempre que procurada para responder sobre o uso do gerador nunca justificou a opção custosa aos cofres públicos. Não é raro a unidade fechar por não ter combustível no gerador por falta de pagamento, fato que aconteceu durante a pandeia.

A RioSaúde informou ao Maré de Notícias que a empresa de manutenção já havia feito o planejamento do reparo no Clínica da Vila do João. A obra para consertar o teto de gesso e o telhado da unidade estava prevista para começar na semana passada, mas que com as chuvas não foi possível começar a executar o serviço. As fotos da unidade de sáude mostram  que a situação é urgente. A Clínica  é uma das 4 que atendem os 140 mil moradores da Maré.

Pano da divisória com manchas da água do vazamento. Foto: Matheus Affonso
Vídeo mostra a precária situação da CMS da Vila do João. Imagens: Matheus Affonso

Ronda Coronavírus: mesmo proibida, operação policial acontece na Serrinha, em Madureira

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Policiais de oito batalhões participaram da ação e apreenderam uma pistola e um rádio comunicador. O Rio tem o sétimo dia de alta na média móvel de mortes. Na Maré houve um aumento de 29 casos entre os dias 17 e 22 de setembro.

De quinta para sexta-feira, o estado registrou 1.503 novos casos e 129 mortes por covid-19. Foi o sétimo dia consecutivo de alta na média móvel de mortes. Assim, o estado do Rio chega no limite da taxa de contágio entre risco moderado e alto, como mostra o Covidímetro UFRJ, mapeamento desenvolvido pelo Laboratório de Redes e Multimídia. Desde 16 de março, o a Secretaria do Estado de Saúde contabiliza 259.488 casos e 18.166 mortes por covid-19. A capital continua sendo a cidade com o maior número de casos, ultrapassando nesta sexta-feira (25) o número de 100 mil infectados, além de 10.793 mortes.

Covid-19 na Maré

Conforme destacamos na Ronda Coronavírus de segunda-feira (21), o Painel Rio Covid-19, da Prefeitura do Rio, apontou um aumento de quase 400 casos na Maré entre os dias 18 e 21 de setembro. Em resposta, a Subsecretaria de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde (Subpav) esclareceu que ocorreu um problema técnico na geração de informações do painel e o dado já foi corrigido. Na Maré houve um aumento de 29 casos entre os dias 17 e 22 de setembro. Nesta sexta-feira, 25 de setembro, a Maré soma 629 casos e 120 mortes confirmados. 

Operação policial na Serrinha

Mesmo com a determinação do STF de suspender operações policiais em favelas Rio de Janeiro durante pandemias, moradores da Serrinha, em Madureira, amanheceram com tiros de uma ação policial no território. Policiais de oito batalhões participaram da ação e apreenderam uma pistola e um rádio comunicador. Muitos moradores relataram a ação ilegal nas redes sociais.

Abastecimento de água

Na última quinta-feira, a Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) realizou manutenção preventiva anual na Estação de Tratamento de Águas (ETA) Guandu. O fornecimento foi interrompido para as cidades do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, São João de Meriti, Nova Iguaçu, Queimados, Mesquita, Nilópolis e Belford Roxo, com o serviço previsto para acontecer de 8h a 20h. Entretanto, devido a um atraso no trabalho, a manutenção se estendeu até às 4h do dia 25 de setembro, fazendo com que o abastecimento demorasse o seu retorno. Após a manutenção foi identificado um vazamento na Elevatória do Lameirão, que abastece as cidades de Rio de Janeiro e Nilópolis, que já foi reparado. A previsão é que o abastecimento se normalize em até 48h. Confira a nota da companhia aqui.

Adiamento dos desfiles das escolas de samba

Na noite de quinta-feira (24), a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) decidiu em plenária pelo adiamento dos desfiles do Grupo Especial do carnaval carioca, que ocorreria em fevereiro de 2021, em decorrência da pandemia de covid-19. Além da dúvida, por não saber se em fevereiro a população já vai estar imunizada, ainda há o fator do tempo curto para produzir todo o desfile. A Liga estuda uma data para que o carnaval aconteça em 2021, mas segue preocupada em não prejudicar o carnaval de 2022. Em julho, dirigentes da Mangueira, Imperatriz Leopoldinense, Vila Isabel, Beija-Flor e São Clemente anunciaram que só desfilariam em 2021 se já tivesse vacina disponível. 

Na última segunda-feira, Diego Tavares (37), que fazia parte da ala de compositores do Acadêmicos do Salgueiro, morreu de covid-19, após duas semanas internado em estado grave.

Crivella inelegível

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) aprovou por unanimidade nesta quinta-feira (24) a decisão de tornar o atual prefeito, Marcelo Crivella, inelegível até 2026. Desembargadores do TRE-RJ condenaram o prefeito por abuso de poder político e conduta  vedada a agente público. No julgamento, ele foi acusado de convocar servidores da Comlurb, empresa de limpeza da cidade, para participarem de campanha para o filho do prefeito, Marcelo Hodge Crivella, que em 2018 concorria a deputado federal. A defesa do prefeito disse que vai recorrer à decisão e que ele estará apto para disputar as eleições em 15 de novembro.

Dicas culturais

Enquanto os eventos culturais presenciais não voltam, o ideal é aproveitar as lives de dentro de casa. No sábado (26), os filhos do violonista Baden Powell, Marcel e Philippe, farão a live Afetos Especial 20 anos sem Baden, relembrando músicas do artista. O encontro é a partir das 19h no Instagram da Casa Natura Musical.

Também no sábado, a partir das 22h, a cantora Gal Costa fará uma apresentação no canal do YouTube da TNT Brasil para comemorar o seu aniversário de 75 anos e cantar os seus sucessos.No domingo (27), Diogo Nogueira faz mais uma live em sua casa, onde o cantor comanda uma roda de samba enquanto cozinha. Nesta edição, o cantor vai convidar dez nomes da nova geração do samba para se apresentar, como Juninho Thybau e Marina Íris. A apresentação começa a partir das 12h no canal do YouTube do cantor.

Jovem barbeiro da Maré dá workshops durante a pandemia como saída pra crise

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Guilherme começou na profissão com apenas 14 anos e hoje é Embaixador da Batalha dos Barbeiros, projeto de estímulo à profissão na Maré. A categoria “beleza e estética” é a segunda maior em número de empreendimentos nas 16 favelas mareenses.

Thaís Cavalcante

Uma tesoura na mão e um pente na outra. Essas são algumas das ferramentas que Guilherme Nunes, barbeiro de apenas 17 anos, usa para viver da arte que é cortar cabelo e realizar workshops na Vila dos Pinheiros, onde vive na Maré. Fazer parte do mercado da beleza é tradição de família, mas a decisão aconteceu mesmo quando seu pai pediu que cortasse o seu cabelo.

Com apenas 14 anos, muita vontade de trabalhar e um curso feito, Nunes veio de Nova Iguaçu há três anos para morar na Maré e trabalhar no salão de sua tia, o Salão da Bell. “De primeira, eu não cobrava os cortes. Chamava os meninos na rua para cortar. Comecei a pegar prática, conheci outros barbeiros e fui ganhando clientes”, diz.

Quem aprova o trabalho é Carlos Daniel, garçom e vizinho da barbearia, que conheceu através das fotos do instagram, com mais de 3 mil seguidores. “O preço é bom, o local é organizado e o atendimento é maravilhoso. Eu já experimentei outros cortes também, mas sempre faço o degradê navalhado e a barba. Pela idade dele, fiquei impressionado por ser tão talentoso”, conta. Carlos trabalha com o público e sempre que tira folga, vai à barbearia deixar o cabelo no estilo. Garante que um visual produzido chama a atenção.

A reabertura do comércio de rua, salões de cabeleireiros e barbeiros foi permitida em junho pela Prefeitura do Rio de Janeiro, mas o medo da pandemia fez o movimento diminuir. No salão, atendimento só com hora marcada para evitar aglomeração. Com a facilidade de “trocar uma ideia” com os clientes, bastou uma ligação e mensagem no WhatsApp para avisá-los da reabertura. Tudo feito com cuidado: o uso do álcool em gel e máscara de proteção foram indispensáveis.

Barbeiro Guilherme Nunes fazendo o corte degradê navalhado – Foto: Matheus Affonso

Aula de experiência e empreendedorismo
Os homens têm estado cada vez mais preocupados com a aparência. Tanto é que o Brasil é hoje o segundo mercado de cosméticos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo pesquisa feita pelo Grupo Croma em 2019. Não é difícil achar uma barbearia caminhando pelas ruas da favela. A categoria “beleza e estética”, onde se encontram as barbearias, é a segunda maior em número de empreendimentos no Conjunto de Favelas da Maré, de acordo com o Censo de Empreendimentos da Maré (2013). 

As novidades encontradas pela geração que frequenta barbershops vão além da vaidade com cabelos e barbas, mas são pontos de encontro para conversar, beber e comprar roupas e acessórios. Por isso, Guilherme decidiu criar um espaço estilizado dentro do salão de sua tia e a inspiração não veio de longe.

Foi aluno de Clayton Guimarães, barbeiro, educador e empresário da Cool Barber Shop. Clayton, cria do Parque União, também começou aos 14 anos na área da beleza e hoje coleciona prêmios nacionais, cursos na Europa e sua própria escola de aperfeiçoamento. “Quando eu o conheci, ele me deu muita força e me incentivou a fazer cursos. Me passou todas as técnicas na tesoura. Tenho muito o que agradecer ele e a minha tia. Hoje já faço corte, barba, penteado e tô aprendendo pintura”, conta ele.

Guilherme também é Embaixador da Batalha dos Barbeiros, projeto idealizado pela cabeleireira Érica Nunes, cria da Baixa do Sapateiro, Maré. Ela é mais conhecida como a Madrinha dos barbeiros por promover a profissão e formar barbeiros por toda a cidade. “É uma vitória muito grande poder executar esse trabalho, onde a gente gera oportunidade e um trabalho social para milhares de jovens. Tenho orgulho em ser da Maré e ser exemplo para muita gente”, conta Érica. 

A parceria facilita a divulgação de produtos e cortes de cabelos nas redes sociais, além de incentivar o trabalho dos jovens barbeiros. O jovem faz questão de mostrar nas fotos que já cortou o cabelo do cantor Naldo Benny, ex-morador da Vila dos Pinheiros, e até marcou um horário com o jogador de futebol do Benfica, o lateral Gilberto. 

Na contramão de um cenário difícil de desemprego enfrentado pelos brasileiros durante a pandemia, ele conseguiu fazer sua primeira oficina. “Em qualquer área que você procurar ter sucesso, o conhecimento é a chave. Quando eu fui oferecer o meu primeiro workshop pago, os alunos gostaram bastante. Uns eram até mais velhos que eu. Sei que é muita responsabilidade, mas procurei mostrar todas as técnicas”, afirma. O futuro está logo ali e os planos também. Pretende continuar ensinando e crescendo o seu negócio dentro da Maré. “Para mim, não é só pela questão financeira. Vejo que muda a autoestima das pessoas e também quero fazer um corte meu estourar aqui dentro da favela”.

Conheça outros profissionais da área na matéria sobre tendências de cabelo e roupa usadas no Carnaval de 2020, na edição do Maré de Notícias #109.

Qual a origem dos salões e costume de cuidar dos cabelos?

A profissão de cabeleireiro, os salões e barbearias são bastante antigos, mas tem origens em locais distintos. Há objetos arqueológicos, como pentes e navalhas de pedra, que datam mais de 5000 anos. Os egípcios, por exemplo, foram um dos primeiros povos a ter esse cuidados com as madeixas, seja com o uso de navalhas para realizar os cortes de cabelos seja o uso de tintura e henna para tingir perucas, barbas e unhas. Neste momento, os barbeiros e cabeleireiros não tinham um lugar fixo e iam até os clientes para realizar os seus serviços.

Mas é na Grécia que esses profissionais começam a ter um espaço fixo, as koureias. As barbearias de hoje têm bastante semelhança com as gregas. Elas ficavam nas ágoras (praças públicas) e os salões eram locais que se debatia sobre diversos assuntos enquanto cuidava dos cabelos. A própria palavra cosmético tem origem nesse lugar. Ela deriva do grego kosmetikós, que significa “hábil em adornar”.

Durante a Idade Média, a barbearia era espaço também para a realização de procedimentos médicos. Seus profissionais eram mais conhecidos como “cirurgiões-barbeiros”, que exerciam a função de cirurgião, dentista e sangrador – profissional que tentava curar doenças sem nenhuma experiência. Com o passar do tempo, as pesquisas acadêmicas e especializações especificaram o trabalho do barbeiro, que passou a atuar diretamente com atividades relacionadas à beleza e à estética.

No Brasil, a profissão chegou com os jesuítas, que cortavam os cabelos dos indígenas de um modo que era entendido pelos padres como um corte de pessoas civilizadas. Depois do surgimento da navalha, a profissão muda e é limitada ao corte de cabelo e uso de perucas. Todas as classes passam a frequentar o espaço e cursos são criados. Com a fama dos salões unissex e o atendimento personalizado renasce o modelo de barbearia como conhecemos: dedicado exclusivamente aos homens. O crescimento até hoje não para: mundialmente, o setor de beleza masculino deve atingir US$ 78,6 bilhões até 2023.

Serviço
EVENTO FAVELA BARBER
Realização: Batalha dos Barbeiros Brasil (@batalhadosbarbeirosbrasil)

Calendário de competições:

04/10/20 Morro do Vidigal – RJ 
11/10/20 Complexo da Maré – RJ (Campo Vila do João)
18/10/20 Cidade de Deus – RJ
25/10/20 Complexo do Alemão – RJ
08/11/20 Parque de Madureira – RJ

Faça sua inscrição aqui.

Projeto reúne relatos de pessoas em isolamento com autores da Maré

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Dos 60 textos do Projeto Literatura Comunica, doze são de autores da Maré.

Dani Moura

Ela começou fazendo contações de histórias e promovendo outras atividades de comunicação popular em 2013 nas favelas da Maré e de Cerro Corá, no Rio de Janeiro. Doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Miriane Peregrino morou por dois anos na Vila dos Pinheiros, na Maré, e durante este período, criou o projeto Literatura Comunica com várias atividades de leitura. Uma dessas ações resultou num jornal literário que fez junto com Anísio Borba e Carlos Gonçalves – dois mareenses – sobre as rodas de leituras que aconteciam em vários lugares do país, inclusive na Maré. 

A segunda publicação do Jornal Literatura Comunica foi sobre rodas de leitura que aconteciam no exterior. Nela há escritos de alunos da primeira turma do projeto na Maré que estão em intercâmbio fora do país.

O terceiro número seria sobre Poesia Falada, mas pandemia do coronavírus atrapalhou os planos de Miriane. Mas foi durante o isolamento que surge a ideia para a nova edição: uma espécie de diário sobre a vivência da pandemia. Convidou alguns amigos e ex-alunos do projeto para embarcarem nessa ideia. Miriane também fez chamadas nas redes sociais e recebeu um volume tão grande de escritos que criou três números especiais: Brasileiro no exterior, que tem 15 autores, entre eles Bárbara Horrana, mareense que atualmente está intercâmbio no Colorado, nos Estados Unidos;  Brasil, Norte a Sul, com 21 escritores, sendo a Isadora Gran – uma das poeta do Slam Maré Cheia – representante da Maré; e Rio de Janeiro, com 27 textos, sendo 10 de autoria de moradores da Maré. 

O Diário de Emergência Covid-19 teve como inspiração três livros que retratam isolamentos em diferentes épocas e situações: Diário de um Hospício, de Lima Barreto; O diário de Anne Frank, de Anne Frank; e Quarto de Despejo, de Carolina de Jesus. Você pode conferir todas as publicações do projeto aqui.

A coordenadora do Literatura Comunica, Miriane Peregrino, e dois autores da Maré – Pablo Marcelino, morador da Vila do João e Barbara Horrana, mareense, que está em intercâmbio nos Estados Unidos – conversaram com o Maré de Notícias.

MARÉ DE NOTÍCIAS: Como surgiu a ideia deste projeto?

MIRIANE PEREGRINO: A ideia dos Diários de Emergência Covid-19 surgiu em abril. Durante o isolamento social, lembrei muito do Diário do Hospício, de Lima Barreto e do Diário de Anne Frank, da própria Anne, que são diários escritos em confinamento. Lembrei também do Quarto de Despejo: diário de uma favelada, de Carolina de Jesus, que denuncia uma segregação social, o que também é uma forma de isolamento. Foi inspirada nesses diários que tive a ideia de fazer a edição Diários de Emergência Covid-19 no Jornal Literatura Comunica, que é um projeto de incentivo à leitura e à escrita também.

MARÉ DE NOTÍCIAS: Por que a escolha da Maré?

MIRIANE PEREGRINO: A relação com a Maré vem de alguns anos. Eu comecei a trabalhar na Maré em 2013. De lá pra cá fiz muitas rodas de leitura em bibliotecas, museus, escolas. A última roda de leitura que fiz, presencial, foi no EJA da Redes da Maré no CIEP Gustavo Capanema, ano passado. E o próprio Jornal Literatura Comunica nasceu na Maré. Toda diagramação dos dois primeiros números foram realizadas no Pinheiro, com o Anísio Borba, morador e comunicador popular, e lançamos o jornal numa edição do Slam Maré Cheia, que teve no Parque União ano passado. Por isso, a maioria dos diários do número Rio de Janeiro são da Maré, mas também tem relatos do Cerro Corá, Vidigal, Vila Autódromo, Alemão, Ramos… Além de cidades como Itaboraí, Maricá e Niterói. De certa forma, é um itinerário de um Rio de Janeiro afetivo (cidade onde nasci, cresci, alguns lugares em que morei e trabalhei).

MN: Como foi o critério da escolha dos textos?

MP: Nesse momento de pandemia, todas as narrativas são muito importantes pois registram, reelaboram o cotidiano no confinamento em muitos lugares no Brasil e no exterior. Recebemos relatos de 62 autores, uns no formato de diário e outros de carta, todos foram publicados nos Diários de Emergência Covid-19. Todos. Os diários foram divididos em três números: “Rio de Janeiro”, “Brasil, Norte a Sul” e “Brasileiros no Exterior”. A Barbara Horrana, por exemplo, é moradora da Maré, mas está fazendo intercâmbio nos EUA. Então o diário dela está no número “Brasileiros no Exterior”. A Isadora Gran mora na Maré, mas quando escreveu estava passando o isolamento social na casa da mãe, em São Paulo. Então, o relato dela ficou em “Brasil, Norte a Sul”. Mas  o número ” Rio de Janeiro” tem vários diários e cartas da Maré.

MN: O que mais te chamou atenção nos textos escolhidos?

MP: De alguma maneira, a angústia do confinamento está presente em todos os textos e as reações são diversas: choro, medo, álcool, insônia… Isso chamou muito a minha atenção. Mas no plano objetivo, os diários vão revelando as diferenças entre seus autores. Ficar em casa não é para todas e todos. 

MN: Houve pontos comuns nos textos de autores das periferias?

MP: Nos diários fica evidente que ficar em casa não é um direito acessível a todas e todos. Principalmente para os mais pobres que enfrentam as dificuldades do desemprego, atraso do auxílio emergencial, operações policiais nas favelas, falta de água, dificuldades no home office também. Essas questões estão presentes nas narrativas.

MN: Qual foi o objetivo da publicação? Na sua opinião foi cumprido?

MP: A iniciativa Diários de Emergência Covid-19 teve como objetivo incentivar escritas no e sobre o isolamento. Além disso, a publicação dos flyers dos diários (que divulgamos semanalmente nas redes sociais do Literatura Comunica desde 02 de maio) e a publicação integral dos diários no jornal on-line (em julho) incentivaram uma leitura compartilhada da experiência do confinamento a partir de muitos lugares. O incentivo à leitura e escrita são a base do Literatura e, nesse momento, em que é tão difícil a gente se concentrar, ver tanta gente escrevendo e lendo diários mostra que alcançamos o objetivo do projeto. Além disso, a publicação contribui com o registro desse momento histórico que vivenciamos.

MN: Há algum novo projeto literário em planejamento que envolva a Maré?

MP: Sim. Quero voltar a fazer as rodas de leitura presenciais na Maré ano que vem, elaborar outro número do jornal também.

Pablo Marcelino é morador da Vila do João e é autor de um dos relatos do Diário de Emergência Covid-19 – Rio de Janeiro. Barbara Horrana, cria do Morro do Timbau, atualmente em intercâmbio no Colorado, EUA, participou do Diário de Emergência Covid-19 – Brasileiro no Exterior. Eles também conversaram com o Maré de Notícias.

MARÉ DE NOTÍCIAS: Qual foi a inspiração para a escrita de seus diários?

PABLO MARCELINO: A escrita do meu relato/diário não teve exatamente uma inspiração e sim uma inquietação. No momento que parei para escrever eu pensei a seguinte coisa: “o que está me incomodando?”, “o que está preso?”, “qual recado eu quero passar para a nossa população em um momento tão delicado como esse que está sendo a pandemia?” 

BARBARA HORRANA: Na verdade, eu não sei bem de onde eu arrumei inspiração porque tudo o que eu escrevi veio da minha real, da vivência aqui nos EUA durante a pandemia. Eu não tive uma inspiração específica, eu apenas me permiti colocar os sentimentos para fora, fiz um exercício de reflexão dessa pandemia e as palavras apareceram. Foi um processo todo natural de sintetização dos sentimentos de uma brasileira que tinha acabado de sair de seu país e que, de quebra, chegou aqui no momento “errado”.

MN: Como foi para vocês fazerem parte desta experiência?

Pablo: Eu já venho participando de atividades com o Literatura Comunica há dois anos. Comecei em 2018, quando tive a oportunidade de fazer uma troca dos diários e vida de Carolina Maria de Jesus em Angola/Luanda por meio do próprio projeto. Então agora, em meio a pandemia que estamos atravessando, fazer parte do processo de escrita do Diários de Quarentena foi mais umas das formas que encontrei de manifestar uma série de reflexões e sentimentos no final que notei que precisavam serem externalizados. 

Barbara: Escrever minhas anotações diárias me ajudou a lidar melhor com os sentimentos de angústia e solidão que me acompanharam durante a fase mais restrita do lockdown aqui. Nós entramos em quarentena antes que no Brasil e ainda estávamos no inverno, com temperaturas abaixo do zero. Para mim foi tudo muito desafiador e experimental. Eu tinha acabado de chegar no país, ainda conhecendo minha família anfitriã, as crianças que eu ia cuidar, a cultura do país e tudo isso me abalou demais, eu praticamente não passei pela fase mágica do meu intercâmbio de achar tudo perfeito no início, eu apenas queria ir embora no primeiro mês. Eu tinha um sonho de estar nesse lugar, planejei todos os passos para chegar aqui, juntei cada centavo que pude e me meti nessa loucura toda. Eu coloquei tanta expectativa em tudo isso e simplesmente me frustrei porque, na minha cabeça, se fosse pra eu ficar presa em casa, eu poderia ter ficado no meu país de verdade, com minha real família e amigos. Sei que ninguém teve/tem culpa de tudo isso, mas foi um momento que eu me sentia muito triste e frustrada, achando que o mundo conspirou contra mim. Até hoje me sinto literalmente a estrangeira nesse país e sei que muito desse sentimento foi causado pela pandemia já que esse momento me impossibilitou de fazer amigos logo no começo, de conhecer lugares e experimentar a cultura. Estou aos poucos construindo minha curta vida aqui e é tudo muito cansativo começar do zero.

MN: Escrever ajudou a conviver com a pandemia?

Pablo: A pandemia ainda não acabou, achava que duraria 2, 3 meses e já temos 7 meses, com 130 mil mortes. A maioria dos participantes escreveu um diário, o meu eu considero mais um relato, uma carta. Não consegui escrever um diário, a forma que encontrei de me expressar foi relatando tudo o que eu quero falar em apenas uma página. Escrever é um processo difícil: barulho na rua, barulho em casa, barulho por dentro. Tem sido difícil me concentrar, mas tenho tentado. 

Barbara: Com certeza ajudou. No início, eu achava que não tinha nada de interessante para escrever, dizer para as pessoas, mas quando eu comecei o exercício da escrita isso foi servindo como uma terapia para mim. Eu realmente estava adoecendo na pandemia e eu não tinha percebido. Em uma conversa com minha mãe anfitriã, ela percebeu que eu estava muito abalada, com homesick (saudade de casa), sem vontade de fazer nada e me sentindo muito cansada e sonolenta. Ela realmente ficou preocupada supondo que eu estava apresentando sintomas da depressão. Realmente foi um momento muito difícil para mim e imagino que muitas pessoas tenham se sentindo assim. Começar a escrever me fez olhar para dentro e entender que sim, eu precisava de ajuda. A cada palavra que surgia era como se fosse um soco surgindo no peito que doía na hora, mas depois me curava. Depois de terminar as anotações, eu procurei uma psicóloga que vem me ajudando a passar por esse processo (e por outros) e me orienta da melhor forma para que eu termine meus objetivos aqui nesse país com êxito.

MN: Vocês costumam escrever? Se sim, qual gênero? Já tiveram outros textos publicados?

Pablo: Sim, escrevo textos jornalísticos e artigos de opinião que já foram publicados no jornal Voz das Comunidades e no próprio Literatura Comunica.

Barbara: Não, eu não costumo escrever, infelizmente. Na verdade, escrevia muito na época da faculdade porque fiz comunicação social com habilitação em Relações Públicas, tive disciplinas de texto jornalístico e tive que fazer alguns trabalhos por causa disso. Também durante a faculdade, em alguns estágios que fiz, tive que fazer algumas matérias, alguns textos para os sites e redes sociais das empresas. Enfim, mas toda essa minha experiência foi no tempo da faculdade e no âmbito corporativo. Nunca tive texto publicado ou algo parecido. Esta foi a primeira vez.