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Ronda Maré de Notícias: Ocupação de leitos chega a 94% na rede SUS; governador descarta segunda onda

Taxa de contágio do Brasil é de 1,30, a maior desde maio, de acordo com monitoramento de Londres

Por Andressa Cabral Botelho, em 27/11/2020, às 18h55
Editado por Edu Carvalho

Nesta sexta-feira (27), o estado do Rio de Janeiro  chegou a 94% de ocupação dos leitos de UTI para covid-19 na rede SUS e mais de 90% na rede privada, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Nesta manhã, a fila de pacientes com covid-19 – entre casos confirmados e suspeitos – chegou a 276 pessoas, com 123 em estado grave. Mesmo diante o aumento dos casos, o governador em exercício Claudio Castro descartou a possibilidade de segunda onda e a implementação de medidas restritivas no estado, como o lockdown

Por outro lado, ao perceber o aumento de casos e mortes de covid-19, o governador anunciou, durante coletiva no Palácio Guanabara, nesta semana que o estado pretende criar métodos de testagem em massa e intensificar fiscalizações em eventos. A taxa de transmissão no Brasil é a maior desde maio, com índice de 1,30, de acordo com o monitoramento do Imperial College, de Londres, Reino Unido. Isso significa que cada 100 pessoas contaminadas transmitem o vírus para outras 130. 

No estado do Rio são 346.024 pessoas confirmadas e 22.394 mortes por covid-19, de acordo com dados desta quinta-feira (26) da Secretaria de Estado de Saúde. Na cidade, são 134.674 pessoas confirmadas com a doença. Em equivalência, é como se quase todo o Conjunto de Favelas da Maré estivesse infectado. Além disso, 13.192 pessoas morreram na cidade do Rio em decorrência do novo coronavírus, segundo painel da prefeitura do Rio. Na Maré são 944 casos confirmados e 135 mortes até o momento. Segundo o boletim De Olho no Corona!, do dia 17 ao dia 23 de novembro foram 48 novos casos no território, número que vem crescendo desde a primeira semana de novembro.

Medidas na saúde

Em nota conjunta, a Superintendência Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro e as Secretarias Estadual e Municipal informam que, devido o aumento dos indicadores de saúde em relação ao Covid-19, foram tomadas algumas providências em relação à saúde com o objetivo de liberar o maior número de leitos para covid-19:

– Abertura de 214 leitos;
– A partir do dia 7 de dezembro de 2020, serão suspensas cirurgias eletivas nos hospitais de urgência e emergência da rede SUS no Rio de Janeiro;
– Manutenção de todas as cirurgias eletivas de alta complexidade, como oncológica, bariátrica, vasculares, ortopédicas e neurológicas. 

Cuidados contra a dengue

Anualmente, a população do Estado do Rio é acometida pela dengue. Até o momento, são 4.339 casos neste ano. Com a proximidade do verão é necessário ficar atento/a/e, pois é o período que tem mais proliferação do mosquito. Pensando nisso, a Secretaria Estadual de Saúde fez uma lista de cuidados que as pessoas devem seguir para evitar o aumento dos casos:

• Verifique e cubra caixa d’água, cisterna e reservatórios de água;
• Deixe as lixeiras bem tampadas;
• Coloque areia nos pratos de plantas;
• Recolha o lixo do quintal;
• Limpe as calhas;
• Cubra piscinas;
• Feche os ralos e deixe as tampas dos vasos sanitários abaixadas;
• Limpe e guarde as vasilhas dos bichos de estimação;
• Limpe a bandeja coletora de água do ar-condicionado.

Bolsas de estudos

O Programa Prosseguir está oferecendo 60 bolsas de estudos no valor de R$600 para estudantes universitário negros das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Além da bolsa, os jovens de universidades públicas e privadas poderão participar também de um programa de fortalecimento e incentivo de liderança e preparação para o mercado de trabalho, além de oferecer também curso de inglês. Em sua terceira edição, o Programa Prosseguir vai ocorrer entre os meses de fevereiro e dezembro de 2021. As inscrições vão até 06 de dezembro e podem ser realizadas pelo site.

Comida artesanal no Natal

O projeto Maré de Sabores, da Redes da Maré, está recebendo encomendas para a temporada “Gostosuras de Natal Maré de Sabores”. As cozinheiras mareenses que fazem parte do projeto irão produzir pães, geleias, rabanadas e outros quitutes. A produção artesanal é feita por demanda e entregue na Maré e em outros bairros. Veja o cardápio completo pelo WhatsApp (21) 97016-6803 e faça o seu pedido.

Pesquisa: Qual é a sua Maré?

A Redes da Maré criou uma pesquisa para os moradores do território responderam sobre como eles veem a favela. A pesquisa tem por objetivo entender a Maré que queremos a partir das necessidades, desejos e direitos de seus moradores.  As informações que forem coletadas ficarão em sigilo. Para responder, acesse aqui.

Cocôzap mapeia saneamento na favela

O Cocôzap, projeto do data_labe, está convocando a participação dos moradores para fazer um mapeamento sobre saneamento básico na Maré, referente a questões da água, lixo ou esgoto das 16 favelas. A proposta do projeto é reunir dados, documentos e reportagens sobre o assunto. Ajude compartilhando fotos e informações sobre a atual situação da sua localidade pelo site do data_labe:

Maré em tempos de coronavírus

No 19° episódio do podcast Maré em tempos de coronavírus, Eliana Sousa fala sobre o medo da segunda onda da covid-19, que chegou a diversos países da Europa e que começa a se desenhar no país. Como se proteger nesse momento? Confira esse episódio e toda a série no perfil  no Spotify.

Abastecimento de água

Na última semana, moradores da Maré e de outras favelas da cidade reclamaram sobre o abastecimento de água. De acordo com a Cedae, a Elevatória do Lameirão, que abastece as cidades de Nilópolis e Rio de Janeiro, está operando em 75% de sua capacidade devido a reparos em motor da unidade. Em um prazo de 20 a 25 dias ela voltará a operar com 100% de sua capacidade. A Companhia reforça que clientes que possuam cisterna e/ou caixa d’água que utilizem a água armazenada somente para tarefas essenciais e pede para que todos economizem água. 

Raiva animal

A Prefeitura do Rio, por meio da Subsecretaria de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde, realiza a campanha de vacinação antirrábica 2020. Na favela Rubens Vaz, na Maré, a campanha vai acontecer nos dias 04 e 05 de dezembro, na Associação de Moradores, que fica na Rua João Araújo, 117. A vacinação acontece das 8h às 16h. Não percam! Leve seus bichinhos de estimação. 

Saiba mais sobre o programa de vacinação “Se liga, bicho! Raiva é caso sério”, na matéria escrita pelo repórter Hélio Euclides:

Adote uma cartinha

Com a aproximação do Natal, o espírito natalino invade os nossos corações. Pensando nisso, os Correios contam com a ajuda de milhares de padrinhos e madrinhas dispostos a fazer a magia do Natal acontecer adotando uma cartinha e ser o Papai Noel de uma criança. Qualquer pessoa pode participar da campanha. Basta apenas escolher uma carta e atender o pedido escrito nela. A agência de Bonsucesso é uma das unidades participantes da campanha. Para mais informações, acesse o site dos Correios: http://apps2.correios.com.br/noel/app/adotarCarta/

Agenda Cultural

O cantor Otto retorna aos palcos em show a ser transmitido hoje, direto do Sesc Vila Mariana. Também hoje, a Orquestra Sinfônica Pop Arte Viva convida Mariana Aydar e Mestrinho para uma apresentação de forró orquestrado sob a regência de Amilson Godoy.

O Instituto Brincante completa 28 anos neste sábado (28), data celebrada com show de Antonio Nóbrega e sexteto. No mesmo dia, às 11h, entra no ar no YouTube do Instituto Inhotim uma apresentação gravada da Besta Fera de Jards Macalé.

Sob direção de Natacha Dias, a leitura dramática de As Aves da Noite, baseada no livro de Hilda Hilst, reúne nesta terça-feira (01/12) artistas de diferentes pontos do Brasil no Palco Virtual do Itaú Cultural. No mesmo dia, começa a edição online do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília; veja a programação.

Na próxima terça-feira (01/12) começa o 10º Festival Novas Frequências, que nesta edição virtual homenageia a compositora Jocy de Oliveira e promove apresentações de Tantão e os Fita, Deafkids e Negro Leo, entre outros. O ‘’esquenta’’ do evento é na segunda, dia 30/11, às 20h, com Guilherme Werneck conduzindo uma conversa com Chico Dub, Pérola Mathias e Bruno Natal no canal da Bravo! no YouTube.

A edição digital da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) começa na quinta, dia 03, com a mesa ‘’Diáspora’’, com participação da escritora britânica Bernardine Evaristo e da poeta e tradutora Stephanie Borges.

Perdeu as postagens do Maré de Notícias desta semana? A gente acha para você!

Segunda-feira (23/11)
Por uma reforma necessária na saúde, por Hélio Euclides. Leia mais.

Terça-feira (24/11)
Escola Municipal IV Centenário, na Maré, ganha 1º lugar no Circuito Cine Curta. Por Edu Carvalho. Leia mais

Quarta-feira (25/11)
Água não é mercadoria, por Breno Souza e Ruth Ozório. Leia mais.
O racismo velado na criminalização do funk, por Ingra Maciel, publicada originalmente no RioonWatch. Leia mais.
Um pacto entre as organizações do movimento negro brasileiro: a Coalizão Negra por direitos, por Tatiana Lima, publicada originalmente no RioonWatch. Leia mais.
O fenômeno do podcast alcança favelas e periferias pelo Whatsapp, por Thaís Cavalcante. Leia mais. 

Quinta-feira (26/11)
Da Maré à prefeitura, por Renata Souza. Leia mais.
Mortes em operações policiais voltam a subir no Rio; STF cobra medidas aprovadas na ADPF, por Edu Carvalho. Leia mais.

Sexta-Feira (27/11)
Saiba quais são as propostas de Paes e Crivella para as favelas do Rio, por Edu Carvalho. Leia mais.

#Caiu Na Rede é Fake?

Checagem 1: É verdadeiro que deixaram oferenda com dinheiro em cemitério no Rio. 
Checagem 2: É falsa mensagem sobre bolsa de estudo na área da saúde e segurança. 
Checagem 3: É verdadeiro vídeo de grande área com painéis de energia solar.

Saiba quais são as propostas de Paes e Crivella para as favelas do Rio

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Fluminenses voltam às urnas neste domingo para escolha de novo prefeito

Por Edu Carvalho, em 27/11/2020, às 18h

Editado por Andressa Cabral Botelho

Saúde, saneamento básico, geração de renda e segurança, além de educação, cultura, esporte e lazer. Estes são alguns dos temas que clamam urgência nas favelas e periferias do Rio de Janeiro, tornando-se prioritárias as suas resoluções. A poucos dias do segundo turno das eleições para prefeitura do município, quais são os planos apresentados pelos candidatos ao cargo em relação a estes locais?

O Maré de Notícias analisou as propostas apresentadas pelos candidatos Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos) e traz para você as informações contidas em seus planos de governo. 

Em primeiro lugar nas pesquisas, Paes afirma que dará “prioridade aos investimentos sociais da prefeitura, sobretudo nos bairros da zona norte, da zona oeste e nas comunidades e favelas da nossa cidade – sempre com foco em melhorar a qualidade dos serviços públicos, em recuperar a infraestrutura já existente, e em criar frentes de trabalho para gerar emprego e renda para a nossa população mais necessitada”. 

O ex-prefeito não assinou a Carta Compromisso com as Favelas e Comunidades do Rio, entregue a todas as candidaturas no primeiro turno pela Rede Favela Sustentável. Mas seu plano de gestão, disponível em seu site, traz oito compromissos com os territórios favelados e periféricos. Entre eles, seguir a Agenda 2030, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), com 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável.

Eduardo Paes também se comprometeu em combater o racismo, tema que ganhou visibilidade no pleito eleitoral, valorizando a diversidade, a democracia e uma cidade mais humana, com planos que priorizem iniciativas para o fim da segregação e do preconceito racial. Prometeu também realizar a manutenção dos planos inclinados, teleféricos, escadas rolantes e elevadores, a fim de garantir a mobilidade urbana inclusiva. O candidato pretende retomar o programa Favela Bairro, estabelecendo diálogo permanente com as favelas do Rio de Janeiro. As demais propostas você encontra aqui

O candidato à reeleição e atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos) promete que, se eleito, seu governo irá fornecer “apoio, suporte, atendimento e acompanhamento de situações envolvendo indivíduos e famílias em vulnerabilidade e risco social, cariocas, que vivem na invisibilidade do não acesso a serviços básicos e a condições de subsistência dignas. Realidade de todas as grandes metrópoles, esta parcela da população tem crescido desde a crise”. 

Ao contrário de seu oponente, Crivella não assinou a Carta Compromisso com as Favelas e Comunidades do Rio. O atual gestor da cidade pretende criar o programa Inclusão Carioca, que estima atender as 120 mil famílias mais pobres do município por meio de um complemento de renda, a fim de que seja reduzido o número de pessoas em situação de vulnerabilidade.O candidato do Republicanos aposta nas atividades de esporte e lazer como ferramentas de transformação, para impedir que jovens adentrem o crime organizado. Você encontra o plano completo aqui.

Mortes em operações policiais voltam a subir no Rio; STF cobra medidas aprovadas em ‘ADPF das Favelas’

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública, 145 pessoas morreram em operações em outubro

Por Edu Carvalho em 26/11/2020 às 15h10
Editado por Dani Moura às 17h00

O Rio de Janeiro voltou a registrar crescimento de mortes em decorrência de operações policiais nas favelas. É o que aponta o Instituto de Segurança Pública do Rio, o ISP-RJ. De acordo com os dados apresentados pelo órgão, 145 pessoas foram mortas pela polícia no mês de outubro. 

A Rede de Observatório da Segurança indica o aumento de 179% das mortes por intervenção policial no Rio em outubro em relação a setembro, período que marca o tempo de governo de Cláudio Castro. O governador em exercício assumiu o cargo em 28 de agosto, substituindo Wilson Witzel, que enfrenta processo de impeachment. 

Esse número indica a volta da alta letalidade policial no estado, onde desde junho, vigora uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) que proíbe operações policiais em pandemias. (no plural, ou seja, em qualquer momento em que haja pandemia).

A Ação apelidada como “ADPF das Favelas”, a ADPF-635 (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) foi proposta pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro) e construída coletivamente com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Educafro, Justiça Global, Redes da Maré, Conectas Direitos Humanos, Movimento Negro Unificado, Iser, IDMJR, Coletivo Papo Reto, Coletivo Fala Akari, Rede de Comunidades e Movimento contra a Violência, Mães de Manguinhos, todas entidades e movimentos sociais reconhecidas como amici curiae no processo.

A ADPF das Favelas foi impetrada em novembro de 2019 pedindo que fossem reconhecidas e sanadas as graves violações ocasionadas pela política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro à população negra e pobre das periferias e favelas.

Desde junho, após decisão do ministro Edson Fachin, referendada em agosto pelo plenário do STF, as operações policiais no Rio foram suspensas durante a pandemia de covid-19, salvo em hipóteses absolutamente excepcionais, que devem ser devidamente justificadas por escrito pela autoridade competente, com a comunicação imediata ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. A decisão do colegiado também pediu uma série de medidas que deveriam ser adotadas pelo Governo do Estado do Rio, com intuito de reduzir os impactos causados pela violência nesses locais. Nenhuma medida foi cumprida pelas autoridades fluminenses.

Segundo levantamento feito pela Defensoria Pública do Estado do Rio e de movimentos e coletivos da sociedade civil, entre os meses de agosto e outubro desde ano, em época de pandemia, houve ações policiais no Morro dos Macacos, Morro da Coroa, Jacarezinho e Manguinhos, Lins de Vasconcelos e Conjunto de favelas da Maré, todas na capital fluminense, além de Viradouro (Niterói), KM 32 (Nova Iguaçu) e Mangueirinha (Duque de Caxias). Isso enquanto o estado do Rio de Janeiro acumula mais de 340 mil casos de Covid-19 e 22.256 óbitos pela doença até o momento, segundo o Ministério da Saúde.

Diante desta situação, no dia seis de novembro, as entidades notificaram ao STF sobre o descumprimento sistemático das medidas, dentre elas a suspensão das operações policiais em tempos de pandemia. O pedido (leia na íntegra aqui) aconteceu após operação policial no na Maré, realizada em 27 de outubro, em que uma jovem grávida de quatro meses perdeu o bebê depois de ser atingida por disparo. De acordo com apuração da Redes da Maré, divulgada aqui no Maré de Notícias, a partir dos relatos de vizinhos, não havia confronto no momento em que a jovem foi alvejada. Ela estava na porta de sua casa e foi socorrida pelos próprios moradores. Os agentes policiais responsáveis pela ação, segundo a apuração, recolheram as cápsulas e limparam as manchas de sangue, descumprindo determinação do STF que exigia preservação da cena do crime.

“Pretende-se, antes, conferir a esta Corte a dimensão da gravidade deste cenário de recrudescimento explícito da política de confronto armado, com consequências imensuráveis para a população negra, desproporcionalmente exposta à violência de estado”.

Entidades em petição encaminhada ao Supremo.

Nesta quinta-feira, 26 de novembro, em seu despacho, Fachin pede o cumprimento da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos relativas ao estabelecimento de metas e políticas de redução da letalidade e da violência policial, a serem verificadas pelo Judiciário e Ministério Público do Estado, além do Conselho Nacional do Ministério Público. 

As organizações da sociedade civil envolvidas na ação judicial estão se mobilizando para a criação de uma campanha de comunicação para pressionar o Governador do Estado do Rio, ao cumprimento das medidas de segurança já deferidas pelo STF.

Da Maré até a prefeitura do Rio

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Em artigo especial ao Maré de Notícias, deputada que é cria do Conjunto de Favelas reflete sobre sua candidatura para o cargo de prefeita 

Por Renata Souza, em 26/11/2020 ás 10h

Editado por Edu Carvalho 

Sou cria da favela da Maré, mulher preta e doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É assim que gosto de me apresentar em tudo que faço. Hoje sou deputada estadual, presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Alerj e fui candidata a prefeita do Rio pelo PSOL-RJ. Uma cria da Maré que disputa os espaços de poder e decisão política nesta cidade que nega direitos e oportunidades à favela. Um desafio gigante. Mas é hora da favela ter voz e vez, por isso, sigo de cabeça e punho erguidos em defesa dos trabalhadores do Rio. 

Fazer uma campanha para disputar as eleições para a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro foi uma tarefa árdua e cansativa. Mas chego ao fim dessa jornada com a certeza de que a luta por uma cidade mais humana, mais justa e menos desigual só será vencida com muito debate político. Neste ano de 2020, com a pandemia da Covid-19 e a má vontade da mídia em disponibilizar espaços de debates, não houve condições de igualdade para candidaturas como a minha, pequena e pouco conhecida. 

Não foi fácil já no evento virtual de pré-lançamento da campanha, onde fomos atacados por hackers. O prefeito Marcelo Crivella não se sentiu constrangido em dizer mentiras sobre mim e meu partido, ao vivo, no debate da Band. Fui atingida por uma decisão judicial que impediu que a imprensa registrasse o momento do meu voto no Ciep Elis Regina, na Maré, coisa que não aconteceu com nenhum dos outros candidatos. Será porque eu era a única candidata a votar na favela? 

Em minha vivência de mais de 15 anos na política institucional, trabalhei com Marcelo Freixo e fui chefe de gabinete da Marielle Franco, covardemente assassinada, e que me ensinou que embora o resultado nas urnas seja soberano, a disputa eleitoral aponta para futuros possíveis. Na resposta que veio das urnas na Zona 161, onde voto juntos dos moradores da Maré, de Bonsucesso e Ramos, chegamos a quase 9% dos nossos votos. Isso é uma vitória, já que dificilmente votamos em uma referência da própria Maré. 

Aqui sigo cumprindo a missão que me foi confiada por 63.937 eleitores em 2018, que me fizeram a deputada estadual mais votada da esquerda. O Rio de Janeiro não pode seguir sendo o estado que naturaliza os índices absurdos de feminicídio, homicídio, de encarceramento, de violência obstétrica, de salários e trabalhos subumanos da população negra.  

Me sinto muito honrada por ter sido escolhida pelo Partido Socialismo e Liberdade para representar a legenda no difícil pleito de 2020, agradeço aos companheiros pelo apoio, a minha equipe aguerrida, agradeço aos 85.271 eleitores .Sonho, esperança e luta moveram a ampliação da nossa bancada na Câmara do Rio para sete pessoas. Seguimos, com brilho nos olhos e a certeza de que somos necessários nos espaços de poder e decisão política. 

Gratidão à Maré.

Renata Souza é nascida e criada na Favela da Maré. Jornalista, formada com bolsa integral, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutora em Mídia e Cotidiano pela Universidade Federal Fluminense. Eleita em 2018 deputada estadual no Rio pelo PSOL, foi a primeira mulher negra presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da ALERJ.

O fenômeno do podcast alcança favelas e periferias pelo WhatsApp

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Por Thaís Cavalcante em 25/11/2020 às 19h30

Editado por Edu Carvalho 

“Hoje vamos falar sobre o que fazem os prefeitos, as vereadoras e os vereadores de uma cidade. Também porque é importante pensarmos com calma antes de escolhê-los para nos representar”. O trecho com a fala de Eliana Sousa, diretora da Redes da Maré, faz parte do episódio sobre eleições e saúde pública do podcastMaré em Tempos de Coronavírus”. É assim que as favelas e periferias tem feito durante a pandemia, encontrando novas formas de compartilhar informações com os moradores.

O Deezer, serviço de streaming de áudio, fez um levantamento mostrando que os programas de áudio sob demanda cresceram 67% no país durante o período de isolamento social. Com maior procura, os comunicadores locais entenderam que era a hora de produzir, compartilhar esses conteúdos onde a população está em peso: no WhatsApp. O programa também está disponível no Spotify e pode ser ouvido nas ruas, pois a cada 15 dias, Eliana Sousa deixa um pen drive com o programa tocando em um bar muito frequentado. Uma ação de estratégica de alcance.

“Acho que o podcast tem tudo para ser o novo rádio dos jovens de periferia, considerando as camadas de acesso desses jovens também. Minimamente, a gente precisa de um recurso que ainda não é democrático para o acesso do podcast, que é a internet nas favelas”, afirma Jéssica Pires, jornalista da Redes e comunicadora do Coletivo de Audiovisual AMaréVê. 

Ela que participa da equipe de reportagem do podcast, acredita que a produção foi uma necessidade no período de pandemia. “Considerando que a tentativa de democratizar o acesso as informações são necessárias e envolvem a nossa saúde, é importante pensar em todas as possibilidades e formatos que possam romper barreiras e a informação chegue ao morador”.

Zapcast: tendência X necessidade

Gilson Jorge, estudante de História da Arte e morador da Nova Holanda, na Maré, é um dos criadores do podcast Nerd de Favela, junto ao Henrique Gomes e Mari Rodrigues, moradores do território. O programa de áudio que aborda o mundo dos gamers e da cultura pop também surgiu durante a pandemia e já possui três episódios publicados no Spotify e compartilhados nas redes. “Demais falar de coisas de nerd dentro da favela. São nossas experiências enquanto favelados curtindo essas coisas do mundo nerd e uma outra relação de consumo, que é lidar com a escassez de recursos”, diz.

Assim como os jovens nerds, outros comunicadores do território e organizações sociais têm apostado no formato. O Maré de Notícias mapeou pelo menos 10 programas de áudio  criados localmente e divulgados em distribuidores de streaming, grupos e listas no WhatsApp: Maré em Tempos de Coronavírus; Nerd de Favela; Renegadus; Data_lábia; Cabe Mais 1; Unifacast; Favela Pod; Coronavírus na Maré e cadê o poder público?; Itan e Crônicas de um favelado. No final desta matéria você vai conferir cada um.

Jéssica conta que essa atitude tem motivo. “O podcast hoje é um formato que está crescendo muito, por conta dessa facilidade de produção. A gente consegue gravar pelo celular, editar em programas gratuitos, se comunicar com as fontes pelo próprio WhatsApp e não nos exige uma dinâmica que envolva muitos processos ou pessoas”.

Ainda que o áudio não exija muitos recursos, o processo de produção é sempre cuidadoso, para que a cada semana ou quinzena, ele esteja disponível ao ouvinte. E conta como funciona: primeiro, as pautas são pensadas a partir da demanda da população da Maré; a partir disso é escrito o roteiro do programa; reportagem com dados; entrevistas com especialistas e moradores; gravação e, por fim, é feita a edição.

“Compartilhar o podcast pelo WhatsApp é uma forma de democratizar um pouco mais o acesso à informação, um jeito de alcançar a juventude e pessoas mais velhas”

Jéssica Pires, jornalista da Redes da Maré.

Favelas e periferias na mesma sintonia

Nas periferias de São Paulo, os comunicadores e jornalistas passaram a produzir podcasts, assim como no Conjunto de favelas da Maré, durante o período de isolamento social. Podemos citar: Manda Notícias; Em Quarentena; Quarentena Periférica; Papo Reto; Quebra das ideias; Papo de Quebrada; Lugar de Quarentena; QuebraDev entre outros programas que merecem acompanhamento.

Gisele Alexandre, moradora do Capão Redondo, na periferia de SP, é jornalista na Agência Mural e idealizadora do podcast Manda Notícias. Com oito meses  de programa, ela coleciona mais de 60 episódios, iniciados a partir da articulação da rede #CoronaNasPeriferias. Gisele conversou com amigos para ver como poderia criar um programa com as ferramentas que tinha em casa. Inicialmente, seu programa só chegava no WhatsApp.

“Apesar da gente estar falando de um formato em podcast que tem como raiz as plataformas digitais, o meu é o conhecido zapcast, que tem como prioridade alcançar pessoas que não estão no Spotify ou Deezer.” Para Gisele, o alcance vem primeiro. “O público que a gente é acostumado a falar não tem o hábito de ouvir podcast. A gente deu início a uma nova cultura de comunicação e se apropriar do WhatsApp pra levar conteúdo informativo de qualidade é uma dessas missões”. No início começou sozinha, aos finais de semana. Hoje, conta com uma equipe e três listas de transmissão com 600 pessoas.

Aline Rodrigues, moradora da zona sul de São Paulo e jornalista da Periferia em Movimento, com o programa ‘’Quebra das Ideias’’ também acredita no movimento que vai além dos aplicativos de áudio. Ela já percebe um retorno positivo do trabalho. “O podcast chegou nos grupos de família e em lugares que antes a gente não chegava. Recebemos também muitas mensagens de pessoas agradecendo a informação de fácil acesso e dicas de cuidado durante a pandemia, por exemplo. Pessoas que não sabiam ler e foram informadas também”, conta.

Acompanhe 10 podcasts feitos por moradores e organizações da Maré, no Rio de Janeiro:

Maré em Tempos de Coronavírus

Fique por dentro do que rola nas 16 favelas da Maré e o que a Redes tem produzido no território. Clique na imagem e ouça.

Nerd de Favela

Sobre cultura pop e as vivências de jovens na favela e a relação com o consumo desta cultura.

Renegadus

Discute favela, política e cultura a partir de uma visão periférica, sempre dando o papo reto.

Data_lábia

Sobre favelas, seus moradores e o levantamento de problemas e soluções sociais.

Cabe Mais 1

Fala de literatura e cotidiano, dentro e fora dos livros. Traz o intercâmbio entre Brasil e Alemanha. 

Unifacast

Educação popular e políticas públicas, para uma rede de conhecimento, afeto e transformação.

Favela Pod

Programa do Observatório de Favelas, organização de pesquisa, consultoria e ação pública.

itan

Mitos, contos tradicionais de países africanos e afro-latinos e próprias crônicas familiares reais.

Crônicas de um favelado

Trajetória de um ator social que traz relatos sensíveis, com drama, emoção e sensibilidade.

Coronavírus na Maré e cadê o poder público? 

Sobre um universitário favelado, a pandemia e a falta do poder público no território.

Um Pacto Entre as Organizações do Movimento Negro Brasileiro: A Coalizão Negra Por Direitos

Por Tatiana Lima especial para o Rioonwatch
Publicado em 25/11/20 às 15h40


Esta é a primeira de três reportagens sobre a Coalizão Negra por Direitos. No Mês da Consciência Negra, a série traz à luz mais um enfrentamento ao racismo protagonizado pelo movimento negro organizado.

“A gente não nasce negro, a gente se torna negro. É uma conquista dura, cruel e que se desenvolve pela vida da gente afora. Uma pessoa negra que tem consciência de sua negritude está na luta contra o racismo.” – Lélia Gonzalez

Se a população negra é maioria no país—quase 54% entre pretos e pardos, segundo o IBGE, o que torna o Brasil a segunda maior nação negra, após só a Nigéria—por que a população negra não ocupa espaços de poder? Por que o movimento negro organizado brasileiro não é considerado uma voz a ser ouvida para a construção e ação de um projeto de país? Por que somente 17,8% dos parlamentares no Congresso Nacional são negros e pardos?

A reposta está no racismo estrutural e secular presente na sociedade brasileira, que, mesmo diante de uma democracia instaurada, não garante o acesso a direitos à maioria da sua população, que é negra.

“Estamos em um país que a gente tem que disputar. Não é nenhuma disputa de narrativa. A gente não vive em uma democracia: pois sendo a democracia o exercício de ouvir a maioria, e tendo uma maioria que nunca foi ouvida [a população negra], é óbvio que não vivemos em uma democracia”, diz Douglas Belchior, 41, cofundador da UNEafro Brasil, uma das 150 entidades que formam a Coalizão Negra por Direitos, autora do manifesto “Enquanto Houver Racismo Não haverá Democracia“. 

Douglas Belchior, cofundador da UNeafroBrasil. Foto: Divulgação

“Se pensarmos na democracia como sendo uma dinâmica social de garantia de direito ao cidadão, também não vivemos em uma democracia, pois a maior parte da população nunca teve seus direitos plenos e cidadania respeitados. Nós do movimento negro sempre percebemos isso, porque isso é óbvio na nossa vida e no nosso corpo”, afirma Douglas. A Coalizão Negra por Direitos exige no manifesto “a erradicação do racismo como prática genocida contra a população negra”.

Com 46 documentos públicos que disputam um projeto político para o país, a partir da perspectiva do movimento negro organizado incluindo toda a população brasileira—negros, pardos, brancos e indígenas—a Coalizão Negra Por Direitos existe há quase dois anos, representando diferentes vozes do movimento negro organizado: mulheres negras, pessoas faveladas, periféricas, LGBTQIA+, pretos e pretas católicos, evangélicos, de religiões de matriz africana, quilombolas, com distintas confissões de fé, povos do campo, das águas e da floresta, trabalhadores explorados, informais e desempregados, todos em coalizão num pacto contra as consequências práticas do racismo estrutural no Brasil.

Banner de campanha da Coalização Negra por Direitos em garantia das políticas afirmativas.
Banner da campanha Coalização Negra por Direitos

“A coalizão não é só uma organização e não será. Ela é um exercício de caminhada conjunta. Só existe na ação coletiva que a gente promove. Ela não tem um escritório, não tem uma sede e isso não está no horizonte. O que existe é a ação política conjunta do movimento”, explica Douglas. A Coalizão Negra por Direitos vem atuando contra o racismo, a violação do direito à vida, denunciando violações de direitos humanos no Brasil.

No momento que o país chegou em 100.000 mortes por Covid-19 a Coalizão Negra por Direitos, protocolou o 56º pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro, em 12 de agosto, contendo 11 denúncias contra o presidente. O documento tem a assinatura de 150 organizações que compõem o grupo, com apoio de mais outras 600 entidades, além da adesão de artistas, intelectuais e ativistas. Três meses passados, o Brasil está perto de atingir 167.455 mortos (em 19/11) pela pandemia, que apresenta uma tendência de alta, o que pode ser um indicativo do início de uma segunda onda de infecções por coronavírus no país. 

Encontro Internacional da Coalizão Negra por Direitos – São Paulo – Novembro de 2019

“O Brasil se vê diante de um espelho que evidencia suas mazelas. E o único contraponto de esperança possível a este rosto branco, velho, rico, heterossexual e cisgênero, que ocupa o topo da pirâmide social e majoritariamente os espaços de poder, está na potência transformadora de mulheres, homens, jovens e LGBTQI+, favelados e periféricos, aquilombados e ribeirinhos, encarcerados e em situação de rua, negras e negros, que formam a maioria do povo brasileiro”.

declara a Coalizão na plataforma de princípios e agenda, datada de 28 de novembro de 2019. 

Diante da violência policial no Brasil, que mata negros a cada 23 minutos—de acordo com o relatório final da CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens baseado nos dados do Mapa da Violência—a Coalizão denuncia há meses que, enquanto houver racismo, não haverá democracia. “Há setores na sociedade que guardaram distância dessa realidade a vida inteira e que não é óbvio nada disso para eles… que essa democracia não é realidade para a maioria. E isso eu falo até incluindo o campo progressista que estão preocupados com a realidade de uma maneira mais geral”, ressalta Douglas. 

Genocídio Negro: 75% dos assassinatos no Brasil

Ágatha Felix e sua mãe Vanessa Francisco Foto: Divulgação

Agatha FelixEduardo de JesusMaria EduardaJonathan OliveiraMaicon de SouzaJoão PedroJoão VitorIago CesarRodrigo CerqueiraCarlos Alberto, Carlos Magno, Everson Gonçalves, Thiago da CostaViviane Rocha, Cristiane Souza Leite, Rosana Lima de Souza. O que todos esses nomes têm em comum? Todas essas pessoas foram assassinadas em ações policiais nas favelas no Rio de Janeiro e fazem parte da estatística do genocídio negro brasileiro.

Das pessoas assassinadas no país, 75,5% são negras, segundo o Atlas da Violência. Pesquisa da Rio de Paz, mostrou que entre 2016 e 2019, 91% das crianças mortas por “balas perdidas” no Rio de Janeiro, eram negras. 

GENOCÍDIO é o extermínio deliberado de pessoas motivado por diferenças étnicas, nacionais, raciais, religiosas e, por vezes, sociopolíticas. No Brasil, ele é resultado do racismo que molda o Estado e a sociedade, que afeta a polícia, as empresas, as instituições políticas e a população como um todo”.

conforme denuncia a campanha da Coalizão.
Crianças Negras como Alvos do Genocídio.

Na conta do genocídio negro brasileiro, também estão as vidas negras interrompidas todos os dias no xadrez da política de morte da falta de acesso a direitos e que sequer sabemos seus nomes. Realidade escancarada pelas desigualdades econômicas e sociais da pandemia do coronavírus. Enquanto os jornais pediam para a população higienizar as mãos, a população nas favelas, em sua maioria negra, denunciava a falta de acesso à água ou condições de manter-se isolada, para prevenir o contágio da doença. 

“O Brasil é um país em dívida com a população negra–dívidas históricas e atuais. Portanto, qualquer projeto ou articulação por democracia no país exige o firme e real compromisso de enfrentamento ao racismo. Convocamos os setores democráticos da sociedade brasileira, as instituições e pessoas que hoje demonstram comoção com as mazelas do racismo e se afirmam antirracistas: sejam coerentes. Pratiquem o que discursam. Unam-se a nós neste manifesto, às nossas iniciativas históricas e permanentes de resistências e às propostas que defendemos como forma de construir a democracia, organizada em nosso programa”, diz o manifesto Enquanto Houver racismo Não Haverá Democracia.

Lançado em junho deste ano em meio ao contexto do crescimento da luta antirracista em todo o mundo, após o assassinato do norte-americano George Floyd, por um policial branco com joelhos em seu pescoço, o manifesto organizado pela Coalizão conta com a assinatura de artistas, intelectuais, ativistas e figuras públicas, além de outras 150 instituições do movimento negro, entre elas: Uneafro, Criola, Movimento MolequeJustiça GlobalRede Contra a ViolênciaVoz da Baixada e Instituto Marielle Franco.

“A elite mais conservadora sabe que a democracia não existe para todos e que o sistema é de opressão ao povo negro, mas mantém essa lógica de uma maneira pré-determinada e pensada como um projeto. O nosso manifesto é uma reivindicação do óbvio porque na realidade brasileira o óbvio precisa ser defendido. É por isso que a gente se colocou de forma tão contundente, em coalizão, para cobrar coerência daqueles que dizem se preocupar com a democracia, porque quem se preocupa com a democracia precisa se preocupar com o racismo que impede o exercício da democracia objetivamente”, opina Douglas, uma das vozes da Coalizão Negra Por Direitos, que tem 46 grupos de WhatsApp em atividade. 

O interesse de busca sobre “a persistência do racismo no Brasil”, segundo a plataforma Google, cresceu mais de 5000% de 2019 para 2020. Também de acordo com a plataforma, a palavra “privilégio” atingiu o maior interesse de buscas de todos os tempos em junho de 2020, seguida pela busca sobre “o que é racismo?”, que teve a maior alta de buscas dos últimos cinco anos. Ainda, o número de pesquisas relacionadas ao tema “Vidas Negras Importam”, “Vidas Pretas Importam”, “o que é Black Lives Matter”, “tradução Black Lives Matter”, foi maior do que nunca. Os dados fazem parte de um levantamento da empresa no Google Trends.

Mediante a estes números e os escândalos de racismo internacional dos EUA, o Google lançou o filme “Buscando por Justiça Racial” e uma carta-compromisso em que se compromete a combater o racismo dentro da própria empresa.

A Coalizão Negra vem atuando há dois anos em resposta à aceleração da retirada de direitos pelo atual governo federal. Não são novidades a mobilização e as articulações nacionais do movimento negro. Em momentos chave da história, surgiram o Movimento Negro Unificado, a Frente Negra Brasileira em 1978, o Movimento Pró-Constituinte em 1988, a Marcha Zumbi dos Palmares em 1995, e a Marcha das Mulheres Negras em 2015.

“Em momentos chaves de grandes crises e viradas de páginas, o movimento negro se articula nacionalmente. A eleição do Bolsonaro deflagra um momento crucial, pois já imaginávamos que o governo Bolsonaro seria cruel com a população negra como se confirmou logo nos primeiros meses de governo dele”, explica Douglas. O primeiro encontro da Coalizão Negra aconteceu em novembro de 2019, na ocupação Nove de Julho, onde mais de 100 pessoas compareceram representando dezenas de coletivos e instituições do movimento negro organizado.