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Ronda Coronavírus: Brasil está próximo das 100 mil mortes

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Após prefeito liberar retorno de aulas de algumas turmas da rede privada, estado do Rio decreta suspensão das aulas

Nesta quarta-feira, 03 de agosto, o Brasil tem mais de 2,8 milhões de infectados e mais de 97 mil mortes pela Covid-19, de acordo com o consórcio dos veículos de mídia, sendo o segundo país em pessoas infectadas e mortas, atrás apenas dos Estados Unidos. Nas últimas 24h, as secretarias estaduais de saúde registraram 54.685 novos casos da doença. 

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro registrou nesta quarta-feira (03) 172.679 casos confirmados e 13. 855 mortes pelo novo coronavírus. A cidade do Rio tem 73.396 casos confirmados e 8.499 mortes por Covid-19. Desses números, são 6.040 casos e 824 mortes registradas de coronavírus nas favelas do Rio, entre confirmados e suspeitos, como aponta o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio. A Maré tem 452 casos confirmados e 88 mortes, de acordo com o Painel Rio Covid-19, da Prefeitura.

Impasse na educação

Embora a Prefeitura do Rio tenha autorizado o retorno das turmas de 4º, 5º, 8º e 9º ano da rede privada a partir de 03 de agosto, o governo do Estado determinou nesta quarta-feira (05) a suspensão das aulas presenciais até 20 de agosto para ensino público, privado e superior. De acordo com o secretário de educação, Pedro Fernandes, as instituições que retomarem as atividades sem autorização do estado podem ser multadas ou fechadas. 

Diante a decisão do prefeito Marcelo Crivella, os professores das escolas particulares decidiram em assembleia virtual no dia 01 de agosto por manter a greve iniciada em julho, por não se sentirem seguros para o retorno às salas de aula. A Secretaria Municipal de Educação informa que não há previsão para retorno das aulas da rede pública municipal de ensino.

Hospitais de campanha

A atual situação dos hospitais de campanha do Rio de Janeiro ganhou um novo capítulo. O Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) contratou 14 empresas para montar estruturas, redes elétrica e hidráulica, além de cuidar dos equipamentos. Entretanto, os empresários dessas empresas alegam não ter recebido os repasses do Iabas, cerca de R$25 milhões. 

Após o anúncio, na última semana, do fechamento dos hospitais de Duque de Caxias, Nova Friburgo e Nova Iguaçu em 05 de agosto, os empresários alegaram que a desmontagem dos hospitais só acontecerá após o pagamento dos atrasados. 

Em entrevista ao Maré de Notícias, o doutor e mestre em Saúde Pública, professor e pesquisador da Fiocruz Daniel Soranz comentou que o dinheiro gasto nos hospitais de campanha poderia ter tido outro destino: “Tinha de investir no Sistema Único de Saúde, no tratamento primário. Enquanto temos hospitais luxuosos de campanha no Riocentro e Maracanã, a UPA Maré está caindo aos pedaços, soltando o piso; o Centro Municipal da Vila do João não tem nem tinta para pintar as paredes; e na Nova Holanda, a Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva não teve, até hoje, a ligação elétrica feita. Isto é desconhecer a cidade”, comenta. Confira o texto completo aqui.

Venda irregular de hidroxicloroquina

Camelô é visto vendendo hidroxicloroquina em vagão de trem do Rio de Janeiro. Mesmo sem nenhuma comprovação sobre sua eficácia no combate ao novo coronavírus, o medicamento é bastante procurado pela população. A Supervia, concessionária responsável pela malha ferroviária do Rio, esclareceu que os agentes não têm poder para apreender a mercadoria. Em nota, informou que é “proibida a negociação ou comercialização de produtos e serviços no interior dos trens, nas estações e instalações, exceto aqueles devidamente autorizados pela Administração Ferroviária”.

Suspensão das operações policiais

Nesta terça-feira, 04 de agosto, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu por maioria manter a suspensão de operações policiais nas favelas e periferias do estado do Rio de Janeiro durante a pandemia da Covid-19. Com o voto da ministra Carmen Lúcia, publicado ontem em sessão virtual, formou-se maioria para aprovar a decisão. Até o momento, sete dos onze ministros publicaram seu voto. 

A medida mostra a importância de articulações como a ADPF das favelas, que ajudou a pressionar o STF nessa votação, impedindo que a política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro pratique condutas inconstitucionais contra a sociedade.

Resiliência é ser mangue na Maré

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Acompanhados por um antigo pescador e morador do Parque União, fomos em busca das árvores de mangue que ainda existem no litoral do Complexo da Maré, uma das maiores favelas do mundo.

Reportagem: Breno Souza do data_labe
Edição: Fred Di Giacomo
Arte: Giulia Santos

Julho é considerado mês dos manguezais, um ecossistema vivo na memória dos moradores mais antigos do Complexo da Maré (RJ), cujas histórias se cruzam com a lama debaixo das palafitas, nas madeiras das árvores utilizadas para construção das casas e pontes e na lembrança dos pescadores da região. Mas como estão os manguezais da Maré atualmente?

Antes dominada por ilhas, florestas extensas e praias de mar calmo, a região de 578,84 hectares, onde atualmente se encontra o conjunto de favelas da Maré, lar de mais de 140 mil pessoas, foi um cenário de extrema beleza natural e rica biodiversidade. As águas da Baía de Guanabara adentravam imensas porções do território que hoje chamamos de Zona Norte da Cidade do Rio de Janeiro através da Enseada de Inhaúma. Antigas faixas de vegetação, lama e maré, hoje, dão espaço a milhares de casas, indústrias, escolas, avenidas e ao caos da poluição que afeta nossas matas, rios e atmosfera. O pouco mangue da Maré que consegue se manter vivo é a perfeita representação de resiliência. Onde morre o manguezal também morrem tradições populares, as histórias de um povo e vidas cuja fonte de recursos era a própria natureza. 

Em nossa busca foi impossível não cruzar com as histórias de um antigo pescador local, Hélio de Carvalho (55), que pratica a pesca tradicional há 40 anos e foi um dos fundadores da colônia de pescadores que existe embaixo da Linha Vermelha, no Parque União, uma das 16 favelas do Complexo da Maré. 

De origem humilde, Hélio sabe bem o que é enfrentar adversidades para sobreviver: “no começo foi difícil quando eu queria comprar o meu próprio material. Eu [pescava] com dois pescadores já senhores, um ainda vivo é o Seu Vicente e o outro era Seu Valdemar, hoje já falecido. Eu já tinha aprendido a costurar rede com eles na praia, mas para eu ter uma rede eu juntava um dinheiro, ia no mercado. Vamos fazer uma suposição, a rede era R$ 80, eu chegava lá com os R$ 80, no mercado São Pedro, a rede era R$ 90… Não tinha como comprar. Eu nunca conseguia comprar e aí continuei pescando com eles lá. Depois com o tempo comecei a trabalhar de ajudante de pedreiro, no final de semana eu recebia meu dinheiro e no sábado estava no mercado comprando rede, quando acabei de comprar a rede eu comprei os cabos da rede, as bóias e os chumbos. Hoje em dia eu pego serviço de entralhamento de rede, costuro tarrafa, monto qualquer tipo de rede. Hoje em dia também tá tudo alto [preços] com esse problema da pandemia.” 

Hélio de Carvalho, um dos fundadores da Colônia de Pescadores da Maré. Foto: Hélio de Carvalho.

A natureza exuberante e a grande oferta de pescado são as principais lembranças de uma época em que o regime de marés dominava o território. São memórias vivas na história de Hélio, que também não esquece de antigos companheiros de pesca: “me recordo muito bem como era a maré aqui do Parque União. A maré tinha uma extensão muito grande em largura e não existia o CIEP César Pernetta, não existia a linha vermelha, a maré era larga. A gente buscava tainha lá do outro lado no mangue, tinha tainha pra caramba, a gente botava a rede do outro lado né? Lançava a rede, cercava a beirada e deixava lá de espera. A gente via elas [as tainhas] levantando a rede. A rede era alta e embolava, a gente ia lá depois de uma hora, recolhia as tainhas e vendia na comunidade. O mangue era vivo, tinha caranguejo, aquele caranguejo-uçá tinha muito. Tinham mais pescadores, hoje em dia tudo já falecido, muitos que fizeram história foram esquecidos como o pescador Dilon, Seu João, o Leca, o Nininho, todos esses.”

Linha Vermelha. Importante via expressa da cidade, um dos frutos do processo de aterramento da região.

De dentro do canal é possível enxergar a favel além da Linha Vermelha.

Com o passar do anos, a política de aterramento de áreas alagadas na cidade deu início a um processo de modificação da paisagem natural da Enseada de Inhaúma, impactando na biodiversidade e na forma de vida dos moradores da região. A fala de Hélio retrata bem este processo: o manguezal tinha muito caranguejo, muito mesmo, aí foram aterrando, aterrando, vieram algumas empresas e acabou, ficou tudo aterrado. Hoje o manguezal é só uma faixinha pequena e só tem uns pés de mangue. Tem pouco tempo, a mais ou menos cinco anos, ali vinha tainha e agora sumiu totalmente, sinal de que está muito [alto] o nível de poluição. Agora só nos restam recordações: tempo bom, tempo das palafitas.”

Triste realidade dos mangues na região, Hélio segue trabalhando.

Na companhia de Hélio, fomos encontrar os mangues que ainda estão de pé no Complexo da Maré. A busca ocorreu nos limites da favela do Parque União, nas proximidades da colônia de pescadores e da Linha Vermelha. Não foi fácil encontrar as árvores de mangue. Além do mato ser bem alto e existirem muitas espécies de árvores de terra, como por exemplo amendoeira e pé de mamona, o lixo de todo tipo (fraldas, brinquedos, utensílios de cozinha, embalagens de alimento, de produtos de limpeza, peças de automóveis e etc) acumula na lama e o forte  cheiro de esgoto domina o ar, dificultando o acesso ao canal que separa a Maré da Ilha do Fundão. Foi preciso explorar regiões mais para dentro do canal e não estávamos de barco, todo trajeto foi feito a pé, mesmo assim não desistimos. Neste ponto foi possível avistar e se aproximar de uma pequena ilhota de mangue-branco (Laguncularia racemosa), cercada por poucas árvores de mangue-preto (Avicennia schaueriana). Uma toca na lama também foi avistada, mas nenhum sinal de caranguejos. 

A busca seguiu dentro da colônia de pescadores, onde também foi possível avistar poucas árvores de mangue-preto e branco, mas nenhum sinal de mangue-vermelho (Rhizophora mangle) foi notado. Embora, segundo Hélio, ainda exista mangue vermelho em locais próximos onde ocorreram projetos de revitalização e recuperação de áreas de manguezal degradado.

Colônia de Pescadores da Maré em baixo da Linha Vermelha.

Se os mangues são as espécies de árvores, o que seriam os manguezais? A oceanógrafa Viviane Fernandez, doutora em meio ambiente e professora adjunta na Universidade Federal Fluminense (UFF) define para nós. “Existe uma definição clássica de manguezais, mas hoje eu definiria assim: manguezais são ecossistemas formados por árvores, animais e isso inclui nós, seres humanos, que vivem em um ambiente de transição entre a terra e o mar, regulado pelo fluxo das marés. É importante preservar os manguezais, entre outros fatores, porque sem eles nossos mares terão menos peixes, espécies poderão ser extintas, as inundações poderão aumentar em áreas baixas da planície litorânea. Por exemplo, a região da Praça da Bandeira era formada por manguezais que foram aterrados e por canais que foram retificados. Por isso, foram necessárias grandes obras de engenharia para conter parcialmente as enchentes que ali ocorrem.”

Viviane traz em sua jornada reflexões sobre a existência humana e o domínio da natureza, e não deixa de citar os manguezais da Maré, que deveriam existir em plenitude de serviços ambientais: “o escritor e ambientalista indígena Ailton Krenak destaca que deixamos de prestar atenção no verdadeiro sentido do que é ser humano. Para ele, a humanidade é constituída por um seleto grupo de pessoas que passou a definir que a natureza deve ser dominada para proporcionar seu bem-estar na Terra. Explica que a maioria dos humanos faz parte da “sub-humanidade, que vive numa grande miséria sem chance de sair dela”, mas que continua tentando. Ele destaca  também que fazem parte da sub-humanidade os povos que vivem vinculados à Terra: caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes, e que é com eles que precisamos aprender. Na minha opinião o que levou os Manguezais da Maré à destruição quase completa foi o mesmo fator que vem destruindo todo o planeta, a ideia de progresso inerente ao sistema econômico capitalista. Neste caso, os manguezais foram convertidos quase completamente e, por isso, os serviços ambientais deixaram de ser prestados por eles. O termo “serviços ambientais” é uma tentativa de dar destaque, de atribuir valor, a tudo que a humanidade recebe “gratuitamente” da natureza. Estes incluem produção de alimento e água; controle de enchentes, secas e doenças; ciclos de nutrientes e serviços culturais como recreação, valores espirituais e religiosos e outros benefícios não materiais.”

A oceanógrafa Viviane Fernadez há muitos anos trabalha com manguezais de todo Brasil. Foto: Núcleo de Estudos em Manguezais (NEMA – UERJ).

A busca pelos manguezais da Maré evidenciou para nós a necessidade urgente de medidas para cuidar desse ecossistema, cujas poucas árvores remanescentes no território agonizam e não se sabe até quando resistirão de pé. O pescador Hélio pensa em medidas que possam melhorar a qualidade da água do mar na região: “o canal do Fundão é bem estreito, é tudo assoreado. Bom seria uma boa dragagem ali pra poder aprofundar bem para ter um fluxo de água legal, e aí [a água] vai renovando… a maré mesmo faz o serviço de renovar. A água lá de fora entra, vem ali pelo Caju, vem do lado da ponte Rio-Niterói, [a água] entra e vai circulando e aí vai aparecendo peixe”. A oceanógrafa Viviane segue na mesma linha de Hélio: “para que os manguezais remanescentes sobrevivam é necessário manter o fluxo de água nos locais onde eles ainda ocorrem, garantir a qualidade dessa água, evitar a chegada de lixo e impedir os aterros.

Ao olharmos para a situação ambiental do Complexo da Maré, somos atravessados por questões que vão além da sobrevivência das árvores de mangue. Percebemos que quando falamos de ecologia falamos também de justiça social. O acesso a um meio ambiente saudável e que promova qualidade de vida para as populações adjacentes, não pode ser na prática, um direito apenas dos mais ricos. Meio ambiente não é mercadoria. Dialogar com comunidades tradicionais ou faveladas de forma acessível e participativa é um dos desafios das ciências ambientais. É preciso que ambientalismo e saúde pública deixem  de ser pautas chatas ou elitizadas e que os debates ganhem força nos territórios mais desprovidos de direitos. Cuidar da natureza também é cuidar da cultura e do modo de vida dos nosso avós. 

A garantia de uma vida digna para os mais de 140 mil moradores do território precisa ser pauta constante da sociedade civil e das autoridades, garantir que as memórias ambientais não se percam é parte importante desse processo: “acredito no poder do resgate da memória das relações que os primeiros moradores tinham com os manguezais e a Baía. Essa memória pode ajudar na definição do que realmente importa”, diz Viviane. O Núcleo de Estudos em Manguezais (NEMA – UERJ), laboratório onde Viviane desenvolveu inúmeras pesquisas,  há muitos anos vem produzindo conhecimento acerca dos manguezais da Baía de Guanabara, cujas águas conduzem Hélio e os demais pescadores diariamente em suas jornadas no mar. É preciso garantir que as árvores de mangue não sumam. Que os Hélios não sumam. Que a história que liga a ancestralidade das favelas e da natureza não sumam. O mangue é a Maré. E ambos resistem.

*Breno é colaborador do data_labe no âmbito da parceria com o PPGTU/PUCPR e Durham University em pesquisa sobre ativismo digital e territórios urbanos da margem, apoiada pela British Academy.

Ronda Coronavírus: Por dois meses seguidos, Brasil registra mais de 30 mil mortes

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Final de semana foi de grande movimento na cidade e nas favelas do Rio

Desde o início da pandemia no Brasil, julho foi o mês que registrou o maior número de mortes de todo esse período, num total de 32.912 mortes, de acordo com levantamento feito pelo consórcio de veículos de mídia, que tem como fonte primária as secretarias estaduais de saúde. Comparado a outros países, o Brasil foi o local onde mais pessoas morreram por Covid-19 no mês de julho. Apenas nos dois últimos meses, o país registrou mais da metade do número de mortes de toda a pandemia, mais de 60 mil. Hoje, 03 de agosto, o Brasil tem 2.750.318 pessoas infectadas e 94.665 vítimas do novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde.

E mesmo com o aumento dos casos e mortes a cada mês, os números parecem não chocar nem mesmo aqueles que no início da pandemia reforçaram a necessidade de se ficar em casa. Na cidade do Rio, por exemplo, o final de foi de praia cheia. Além disso, 59 estabelecimentos, entre bares, restaurantes e quiosques foram multados pela Subsecretaria de Vigilância Sanitária da Prefeitura do Rio. São 839 novos casos e 32 mortes confirmadas em 24h, totalizando nesta segunda-feira (03) 72.079 casos registrados e 8.371 mortes, de acordo com o Paine Rio Covid-19, da Prefeitura.

Na Maré não foi diferente: houve grande movimentação pelas ruas, com muitas pessoas circulando sem máscara. Hoje são 431 casos confirmados e 88 mortes na Maré, de acordo com o painel da Prefeitura. O Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro registra 5.848 casos, entre dados públicos e relatados por lideranças comunitárias.

ADPF 635

No período de um mês, o número de mortos em operações policiais reduziu em 70% após decisão cautelar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender essas operações em favelas do estado do Rio durante a pandemia. Esses são dados do GENI (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos – Universidade Federal Fluminense), que fez uma análise entre 05 de junho e 05 de julho sobre as operações no estado.  

A ADPF 635 ou ADPF das favelas – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – teve papel importante nesse processo para ajudar a impedir que o poder público pratique condutas inconstitucionais contra a sociedade. Neste caso, a política de Segurança Pública adotada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro.

A participação de organizações sociais na discussão da ADPF 635 é fundamental, trazendo a vivência de quem acompanha de perto as violações cometidas em ações policiais. A Redes da Maré, junto a organizações como Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, o Movimento Negro Unificado, Movimento Mães de Manguinhos, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência e outras colaboram na discussão do processo. Saiba mais no vídeo.

Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus

A Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus completou quatro meses de atuação no final de julho e segue a todo vapor! A campanha, que começou em março como uma ação emergencial de distribuição de cestas de alimentos e kits de higiene e limpeza, se desmembrou em diversas frentes de trabalho no território, impactando a vida de milhares de moradores. Distribuição de quentinhas para pessoas em situação de rua, desinfecção das ruas da Maré, criação de produtos de comunicação sobre a pandemia são algumas das ações que a Redes da Maré tem realizado ao longo desses meses. 

Veja as ações realizadas até agora pela Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus

Redes da Maré no Catarse

Durante a pandemia, a Redes da Maré beneficiou milhares de famílias, mas o número de pessoas precisando de ajuda aumentou. Podemos fazer a nossa parte compartilhando e doando para a campanha de arrecadação no CATARSE, que está na última semana. A meta é comprar 4 mil cestas para doar a famílias da Maré que mais precisam de apoio nesse momento. Ajude a Redes da Maré a engajar mais pessoas nessa campanha! Para doar e saber mais informações, basta acessar o site da campanha.

Ações de saúde contra a Covid-19

A Maré tem desenvolvido algumas ações para enfrentamento da Covid-19 no território. O serviço de telemedicina gratuito oferecido pelo SAS realiza consultas todos os dias, das 8h às 20h via Whatsapp. Para fazer o atendimento, basta mandar uma mensagem para o número (21) 99271-0554 e aguardar agendamento. 

Comunicação comunitária na pandemia

Na terça-feira, 04 de agosto, às 19h, acontece um papo importante sobre os rumos da comunicação comunitária durante a pandemia. Para conversar melhor sobre o assunto, o tecedor e jornalista Hélio Euclides vai mediar uma conversa com o também jornalista e pesquisador Pedro Barreto e a coordenadora do Jornal Fala Roça Michele Silva. O encontro será no Facebook da Redes da Maré.

Jornal Maré de Notícias

Está no ar a edição 115 do nosso Jornal Maré de Notícias, falando sobre a atual situação da pandemia na Maré. O jornal já está disponível para leitura em PDF no site do Maré Online.

Galeria da minha janela

Já conferiu a galeria do site A Maré de Casa? Os moradores da Maré que quiserem participar, podem enviar uma mensagem para o Whatsapp (21)97205-0989 ou e-mail [email protected] com uma foto e um texto sobre o que tem visto de suas janelas durante a quarentena. Os cinco autores das fotos e textos mais votados ganharão o prêmio e um destaque no site do projeto. 

Nenê do Zap

Tem um momento em que os pequenos querem descobrir novas sensações, como tocar, morder, cheirar… Faz parte do aprendizado da nenezada e é um momento muito importante para o seu crescimento e desenvolver os seus sentidos. Veja mais na dica de hoje.

Ronda Coronavírus: Secretário de saúde anuncia fechamento de hospitais de campanha

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Até metade de agosto, cinco hospitais geridos pelo estado estarão fechados

O secretário de saúde Alex Bousquet anunciou na última quarta-feira (29) que cinco hospitais de campanha geridos pelo estado estarão fechados até 12 de agosto. Os de Duque de Caxias, Nova Friburgo e Nova Iguaçu, que não chegaram a ser inaugurados, serão fechados já na primeira semana de agosto. Os hospitais do Maracanã e São Gonçalo encerrarão o seu funcionamento na semana seguinte. A justificativa para o fechamento dos hospitais é a diminuição dos casos e mortes no estado.

”Independente do planejamento ter sido equivocado, ele já incluía começo, meio e fim, de acordo com a evolução da epidemia. Essa evolução mostra que nós estamos, assim como outras regiões do mundo inteiro, próximo do fim das unidades de apoio, que aqui foram chamados de hospitais de campanha”. O secretário acredita que não haverá uma nova onda de casos, mas caso ocorra, há leitos suficientes para essa demanda. Entenda melhor a atual situação dos hospitais de campanha aqui. 

Covid-19 no Rio

Mesmo com a fala do secretário, que aponta para uma remissão dos casos e mortes, os números mostram o contrário. Na última semana de julho, o Rio de Janeiro apresentou uma média semanal de aumento nos números de casos e mortes, comparando com a média de duas últimas semanas. É possível acompanhar essa variação dos números no site do G1, que atualiza diariamente os índices de queda, estabilidade e aumento do número de casos e mortes dos estados do Brasil. Hoje, o estado tem 165.495 casos confirmados e 13.477 mortes por Covid-19. Nas últimas 24h, foram registrados no estado 1.853 novos casos e 129 novas mortes por Covid-19.

O Painel Unificador Covid-19 nas favelas do Rio tem o registro de 5.848 casos confirmados e 812 mortes em 37 favelas cadastradas no painel. A Maré tem 1.010 casos suspeitos e 32 mortes sob suspeita de Covid-19, de acordo com o 13º boletim De Olho no Corona!, já disponível para leitura aqui. Junto aos casos oficiais do Painel Rio Covid-19, da Prefeitura do Rio, a Maré apresentou até o fechamento do boletim 1.435 casos e 118 mortes, entre suspeitos e confirmados. Nesta sexta-feira (31), a Maré tem 425 casos confirmados e 86 mortes pelo painel da Prefeitura.

Nova onda de casos

Ceará, Maranhão e Rio de Janeiro são estados que estão sob risco de nova onda de casos, indica o Boletim InfoGripe, da Fiocruz. Após uma queda nos números, os dados do boletim apontam para um crescimento de novos casos, significando que existe uma piora no controle do coronavírus no estado. O estudo usa como base dados compilados entre 19 e 25 de julho. É possível ter acesso aos dados no site do boletim.

Quinta fase da flexibilização

Começa neste sábado (01) a fase 5 do processo de flexibilização do isolamento social da cidade do Rio. A partir desta data, passa a ser permitido banho de mar com a permanência dos banhistas na areia, além do trabalho de ambulantes nas praias, praças e parques de 7h a 18h. Os horários de funcionamentos dos shoppings voltam ao normal (de 10h a 22h). Pontos turísticos terão a sua capacidade de público ampliada de ? para 50%.

Kit merenda para alunos da rede pública

A Secretaria Municipal de Educação (SME), já entregou mais de 480 mil cartões e cestas básicas para a alimentação de estudantes da rede municipal de ensino. A SME também distribuiu mais de 244 mil litros de leite para alunos dos segmentos de creche, ensino infantil e pré-escola. Na próxima semana, a previsão é entregar mais 50 mil cestas aos responsáveis de alunos. A recomendação da secretaria é que as famílias compareçam nas datas, locais e horários marcados pela SME para evitar aglomerações.

Dicas Culturais

Para fechar o mês, Milton Nascimento, Liniker e Xênia França irão se apresentar juntos nesta sexta-feira (31), a partir das 20h30, no canal do Youtube do canal Multishow e da Mastercard para cantar alguns sucessos que marcaram a carreira de Milton. A apresentação irá reverter fundos para a ONG Ação da Cidadania.

Neste final de semana, o primeiro de agosto, acontece mais uma edição do Encontro Preto, evento que acontecia presencialmente na Lapa sempre no primeiro sábado do mês e que agora tem a sua versão virtual. As atrações vão estar ao vivo no Instagram do encontro, que começa às 9h. As lives de samba vão dominar o final de semana! Nesta sexta-feira, Jorge Aragão se apresenta a partir das 20h em seu canal no YouTube; sábado é a vez de Péricles cantar em seu canal a partir das 17h; e domingo tem almoço e música com Diogo Nogueira a partir das 12h, também em seu canal do YouTube. Sem esquecer das lives da cantora Teresa Cristina, sempre às 22h no Instagram da cantora.

Elefantes brancos da pandemia

Hospitais de campanha deixam de ser solução para virarem problema

Maré de Notícias #115 – agosto de 2020

Hélio Euclides

Vamos celebrar nosso governo. E nosso Estado que não é nação. Vamos celebrar epidemias. É a festa da torcida campeã esse trecho da música Perfeição, de composição de Marcelo Bonfá, Dado Villa-Lobos e Renato Russo, foi lançada em 1993, mas continua atual nos dias de hoje. Com a pandemia, vieram ideias mirabolantes. Os hospitais de campanha é um desses projetos, que nasceram para desafogar as unidades de saúde, mas não chegaram a funcionar como planejado, seja por falta de pessoal, de equipamentos, de remédios, além de confusões nas inaugurações e administrações. 

Além dos atrasos nas entregas e de todo o escândalo de corrupção que envolveu a construção e compra de equipamentos, o secretário de saúde, Alex Bousquet, anunciou nesta quarta-feira (29) que até 12 de agosto os cinco hospitais de campanha geridos pelo estado estarão fechados. Os de Duque de Caxias, Nova Friburgo e Nova Iguaçu serão fechados já na primeira semana de agosto. Os hospitais do Maracanã e São Gonçalo encerrarão o seu funcionamento na semana seguinte. Segundo o secretário, a previsão do fechamento dos hospitais iria acontecer quando a curva de casos e mortes começasse a diminuir e a equipe técnica avalia que esse é o momento. 

De acordo com o Secretário, em coletiva na sede da Secretaria de Estado de Saúde, “independente do planejamento ter sido equivocado, ele já incluía começo, meio e fim, de acordo com a evolução da epidemia. Essa evolução mostra que nós estamos, assim como outras regiões do mundo inteiro, próximo do fim das unidades de apoio, que aqui foram chamados de hospitais de campanha”. O secretário afirma que há leitos suficientes para atender uma segunda onda da doença, que ele acredita que não vai acontecer. 

Como tudo aconteceu

Toda a desordem começou com o governo federal desconsiderando a pandemia e, em alguns momentos, chegando a atrapalhar ações realizadas por instituições de Saúde. O Supremo Tribunal Federal (STF) interviu, assegurando aos governos estaduais, distrital e municipais competência para a adoção de medidas restritivas durante a pandemia da COVID-19. A partir daí, estados e municípios decretaram calamidade pública com a flexibilização na contratação de pessoal e na compra de bens e serviços. Isso facilitou as licitações contraditórias e, em alguns casos, sem concorrências. Ainda assim, relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) mostrou que o Rio de Janeiro foi um dos estados que menos receberam recursos financeiros do Ministério da Saúde.

No Rio de Janeiro, a única solução apresentada foi a construção dos hospitais de campanha, unidade que pode ser construída em diferentes locais e depois desmontada, com funcionamento temporário. O artifício para a construção era desafogar o sistema tradicional de Saúde das regiões afetadas pelo coronavírus. Da Prefeitura veio a promessa de duas unidades: o hospital do Riocentro, em Jacarepaguá, com 500 leitos, foi inaugurado; o outro em Santa Cruz, mas só seria construído quando todos os leitos da cidade estivessem ocupados.

O governador do Estado, Wilson Witzel prometeu que construiria nove hospitais até o dia 30 de abril. Desses, dois são de administração privada, pela Rede D’Or, no Leblon, e o segundo no Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca. Contudo, os sete hospitais que seriam administrados pelo governo estadual enfrentaram problemas e os prazos não foram cumpridos. Surgiu a “novela” dos hospitais de campanha.

Prometidos pelo governo do Rio de Janeiro para o fim de abril, o hospital do Maracanã, localizado no Estádio Célio de Barros, foi inaugurado no dia 5 de maio e o de São Gonçalo só no dia 18 de junho. Os hospitais de São Gonçalo e Maracanã estão sendo administrados pela Fundação Saúde, da própria Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), já que o governo do estado rompeu com a organização social Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (IABAS), após atrasos na construção e uma série de denúncias de irregularidades. Mesmo assim, o IABAS recebeu R$ 256 milhões.

Os outros cinco não foram inaugurados. A Secretaria de Estado de Saúde informou que os hospitais de campanha de Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Nova Friburgo foram concluídos, mas permaneceram fechados e seriam usados apenas como leitos de retaguarda, assim como o hospital modular de Nova Iguaçu. Já as unidades de Casimiro de Abreu e Campos dos Goytacazes tiveram suas montagens interrompidas. Nessas regiões, caso haja necessidade de ampliar os leitos de atendimento dos pacientes com COVID-19, a SES irá pactuar a utilização de leitos nas redes privadas de Saúde.

Apesar de não entrar na contagem dos hospitais de campanha, a unidade de Bangu foi construída no Complexo Penitenciário de Gericinó. O hospital de campanha para tratar da população carcerária do Rio de Janeiro com suspeita de COVID-19 não foi entregue. Há suspeitas de irregularidade na licitação. 

Gerido pela iniciativa privada, Hospital de Campanha do Leblon foi o primeiro a ser inaugurado – Foto: Mauricio Bazilio/SES

Quem sair por último, apague a luz

Com acusações de irregularidades e corrupção, a SES vive uma crise, com compra de material superfaturado e administração desastrosa do IABAS. Em meio à pandemia, já ocorreu a troca de secretários por duas vezes. Fernando Ferry ficou no cargo por apenas um mês e quatro dias, quando assumiu a Secretaria no lugar de Edmar Santos, exonerado em meio às investigações. 

Os problemas começaram após o Ministério Público Federal apontar, para um grande esquema na cúpula do governo do estado, suspeitas de desvio de dinheiro público, com a prisão do ex-subsecretário de Saúde Gabriell Neves. Desde então, vários personagens do suposto esquema de corrupção, investigados em operações distintas, foram presos ou sofreram buscas e apreensão em suas residências e escritórios. 

Além disso, no início deste mês, a Assembleia Legislativa do Rio (ALERJ) decidiu instaurar processo de impeachment contra o governador Wilson Witzel. O último capítulo desse folhetim foi o fechamento temporário das atividades dos hospitais de campanha do Maracanã e de São Gonçalo. Funcionários da unidade do Maracanã alegam salários atrasados.

A importância do investimento correto

Vinícius Gama, morador da Vila do João, não acredita na relevância do projeto provisório feito para o enfrentamento da COVID-19. “Vejo que os hospitais de campanha não eram necessários, o que tinha de fazer era dar condições para os funcionários da Saúde trabalharem nos hospitais existentes e nas UPAs”, diz. Ele vê com pesar a corrupção na política de Saúde estadual. “Infelizmente, o que realmente aconteceu foi que pessoas se aproveitaram de cargos de confiança para desviar recursos da Saúde no momento em que vivemos uma pandemia”, conta.

Esse é o mesmo pensamento de Daniel Soranz, doutor e mestre em Saúde Pública, professor e pesquisador da Fiocruz. Para ele, foi um grande desperdício e absurdo. “Foi dinheiro jogado fora. Tinha de investir no Sistema Único de Saúde, no tratamento primário. Enquanto temos hospitais luxuosos de campanha no Riocentro e Maracanã, a UPA Maré está caindo aos pedaços, soltando o piso; o Centro Municipal da Vila do João não tem nem tinta para pintar as paredes; e na Nova Holanda, a Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva não teve, até hoje, a ligação elétrica feita. Isto é desconhecer a cidade”, comenta.

“No hospital de campanha do Riocentro o máximo de leitos ocupados foi de 110, enquanto o Hospital de Acari está com 150 leitos fechados. Próximo à Maré, o Hospital Estadual Anchieta, no Caju, são 75 leitos fechados”, expõe. O médico acredita que o governo federal também é culpado por se ausentar de ações e por não investir nos hospitais federais Clementino Fraga Filho, no Fundão, e no Hospital Federal de Bonsucesso, ambos com 200 leitos fechados cada. Segundo Daniel, há um total de 900 leitos municipais, 950 federais e outros 200 estaduais fechados, por falta de pessoal especializado.

O pesquisador lembra que, quando começou a pandemia, os técnicos avisaram para que não se fizesse hospital de campanha, pois era algo sem sentido. “Os governos investiram, acho que para ter visibilidade e tentar votos futuros. O pico da doença na cidade foi em maio, mas até hoje ainda se tem hospital em construção. Não há legado nenhum para a população, com equipamentos temporários, além de ser um rombo no orçamento público”, conclui. 

Durante a coletiva de imprensa na SES, o secretário de saúde afirmou que após a desmobilização dos hospitais de campanha, os equipamentos comprados pelo estado serão distribuídos para a rede estadual e municipal de saúde.

Um bom exemplo de administraçãoInaugurado em 19 de maio, o Centro Hospitalar para a Pandemia de COVID-19 – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), funciona no campus do Instituto Oswaldo Cruz, com 195 leitos. Construído em regime emergencial para unir esforços no fortalecimento da rede de Saúde, o hospital possui características específicas que o diferem das unidades de campanha que estão sendo erguidas pelo País e que terão funcionamento temporário. O hospital vai permanecer como um legado para o Sistema Único de Saúde, pós-pandemia.