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Espaços para plantar e colher na Maré

Três iniciativas mostram a importância dos legumes e verduras

Por: Hélio Euclides Editado por: Jéssica Pires

Hipertensão, diabetes, obesidade e anemia são algumas das doenças que podem ter quadros regredidos com atividade física somada ao consumo de alimentos saudáveis. Uma boa alimentação com nutrientes é fundamental para promover o bem-estar e a qualidade de vida. Especialistas indicam que uma alimentação bem estruturada deve conter verduras e legumes. Pensando no incentivo desses alimentos surgiu uma horta comunitária em Marcílio Dias e outras na Nova Holanda. Uma tem o trabalho realizado dentro de escola, e a outra em uma instituição, que já está produzindo as próprias mudas.

Começar um projeto de vida sempre parece difícil, imagina dar continuidade a algo que já foi iniciado. O Maré de Notícias mostrou o trabalho inicial realizado pelo Instituto Vida Real de implementação de uma horta com 12 canteiros, cada um com cerca de oito metros de comprimento e 1,20m de largura. Eram os primeiros passos de um plantio de mudas, idealizado por Sebastião Antônio, conhecido como Tião, coordenador do instituto.

Dez meses depois, após diversas colheitas que ajudaram cerca de 150 famílias, a horta parte para uma segunda fase. “Antes adquirimos mudas, nessa etapa vamos dar início com as sementes. Depois de 15 dias separar as mudas, que se multiplicarão. Isso é uma aula para os alunos e alguns responsáveis. A germinação é um aprendizado”, lembra. Além das verduras, a horta também faz o plantio de quiabo, pimenta de cheiro, alface, abóbora e pimentão. 

Apesar dessas mudanças na hora de plantar, o objetivo da horta será o mesmo do início: continuar transformando um espaço que estava vazio, ao lado da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, em um local de plena produção para os moradores. “Não é só plantar, é preciso cuidar, mantendo a horta sempre limpa de inimigos das hortaliças, como as lagartas. Para isso não são usados agrotóxicos e sim remédios caseiros. Essa dedicação é uma higiene mental”, avalia. Tião fica feliz a cada momento que vê os canteiros lotados de hortaliças e espera que esse sentimento se multiplique, para que surjam mais hortas na Maré. 

Para conhecer a horta ou fazer doação, os interessados podem entrar em contato com a instituição pelo: Facebook @vidarealmare e pelo Instagram @institutovidareal.

A horta no combate a vulnerabilidade

Em outubro, Walmyr Junior, professor, agente social de transformação e militante do Movimento Negro Unificado, já dava spoiler sobre a Horta Comunitária/Escola Maria Angu. No mês de julho, a horta que era um sonho virou realidade com cinco canteiros em produção, sendo dois de oito metros de comprimentos, um de 13 metros, um de cinco metros e um de seis metros. Todos com um metro de largura. 

Durante a pandemia surgiu em Junior o interesse por plantas, algo doméstico. Começou o processo de plantar temperos, como pimenta, manjericão e orégano. Daí percebeu que era possível ter uma horta em casa. “Comecei a pensar nisso e surgiu o desejo de transformar as casas da favela em território de produção de alimento. Compartilhei a ideia com uma amiga e começamos a trocar sugestões e veio a estratégia de como pautar a construção de uma horta comunitária. Tudo isso pensando na lógica da justiça socioambiental e da segurança alimentar”, conta. 

Para sair do papel, foi necessária uma articulação transdisciplinar com a Pontífice Universidade Católica (PUC-Rio), por meio de um financiamento. Foi por meio de uma parceria com o Departamento de Teologia que a horta nasceu. Para isso, ele escreveu um projeto para disputar um edital interno do Instituto de Estudos Avançados em Humanidade. “Fazer uma horta é caro. Por isso, no contexto da pandemia, submetemos o Programa de Segurança Alimentar Horta Escola Maria Angu, para participar de um processo seletivo e recebemos financiamento para a sua implementação. A partir dessas iniciativas conseguimos fomento para a construção dos canteiros, compra de materiais, ferramentas, mudas, terra e adubo. Agora vencemos um segundo edital que incentiva a continuidade e a expansão”, diz. Com esse segundo passo será possível a criação de canteiros dentro da Escola Municipal Cantor e Compositor Gonzaguinha. 

Eles já conseguiram colher berinjela, beterraba, jiló, quiabo, agrião, couve, repolho, rúcula, salsa, cebolinha e coentro. Agora o plantio é de abóbora e frutas, como bananeira, com o objetivo de garantir a complementação da alimentação. “A alimentação na favela é pautada em algo inseguro, nutrientes escassos, com muito industrializado, enlatado, processado e com misturas químicas. Não há garantia para uma nutrição saudável e para o desenvolvimento humano na favela. Tanto os adultos quanto as crianças vivem uma insegurança alimentar com ausência de verduras e legumes, que são alimentos fundamentais para o fornecimento de nutrientes para o nosso corpo”, comenta. 

A equipe da horta é formada por 50 voluntários, que incluem moradores, estudantes da PUC-Rio, ativistas climáticos, membros de coletivos e instituições. Soma-se a eles um grupo de gestão com 16 pessoas distribuídas em cinco eixos de trabalho: educação, território, comunicação, pesquisa e recursos. A horta se posiciona numa construção coletiva que realiza ações como as mais recentes, que foram dois mutirões para limpar o terreno para um novo canteiro. “São passos pequenos, mas queremos a transformação do território com a pretensão de se tornar referência comunitária naquilo que tange a segurança alimentar. É uma alegria ver a celebração das crianças quando recebem o alimento após a colheita”, revela.

“Percebemos que há uma prática do racismo ambiental no território periférico, onde a favela é uma zona de sacrifício escolhida pelo poder público para poder ser sacrificada, conseguindo estrutura política. Diante dessa realidade nasceu o desejo de construir uma horta agroecológica e urbana dentro do contexto da favela de Marcílio Dias”, conta. Para a liderança, o território precisa de uma atenção e a horta comunitária pode favorecer a interlocução com os moradores, para que percebam que é possível plantar na favela e colher alimentos orgânicos e nutritivos, combatendo a desertificação alimentar na favela. 

A oportunidade de ver um alimento produzido no próprio território e garantir uma relação com o morador com o que pode ser consumido, para o professor, é uma nova narrativa de opção de alimentação. “É a possibilidade de crianças, que fazem parte do projeto, de serem agentes de transformação socioambiental num futuro próximo. A ideia é garantir esse processo de educação ambiental nas escolas e creches comunitárias para que a gente possa estabelecer um novo ciclo de pessoas comprometidas com o meio ambiente”, conclui. 

Para conhecer e ajudar o projeto, é só acessar: Instagram @hortacomunitariamariaangu.

Plantar vira uma escola

“Não basta saber ler que ‘Eva viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”, esse é um dos pensamentos do professor, pedagogo, filósofo e patrono da educação brasileira, Paulo Freire. Ao se plantar e colher para o próprio consumo, rompe-se com a lógica de exploração do agronegócio. Quando essa iniciativa nasce dentro da escola, vira um aprendizado para as crianças. Isso é o que vem sendo realizado na Escola Municipal Ginásio Carioca Olimpíadas Rio 2016, que fica no Campus Maré I, na Nova Holanda. 

A horta do Ginásio Olimpíadas nasce logo após a inauguração, em 2016, como uma disciplina eletiva da escola, de idealização do professor Alexandre Fonseca, com apoio do professor Jonatan Jesus. A partir daí houve uma boa aceitação pela comunidade escolar e acabou se tornando um projeto da escola. Desta forma, todo semestre foi necessário disponibilizar esta disciplina eletiva para a escolha dos alunos. 

Um ano depois, ingressou no time o professor André Luiz Nascimento. Em 2019, André assume a liderança da eletiva, com apoio da equipe gestora da escola, formada pela diretora Ana Flávia Veras, pelo diretor adjunto Alex Silva Souza, do apoio à direção de Silvia Alessandra Ribeiro e Vanessa Albuquerque, além da colaboração de Rosana Moraes, da sala de recursos da escola e Angélica Carvalho, do setor de extensividades da Secretaria Municipal de Educação.

Na questão de mudas, a horta recebeu doações dos professores Silvia Alessandra Ribeiro, Mário Fernando Calheiros e Desluci Castro, que cederam espécies arbóreas. Outra doação importante veio de Beatriz Araújo, diretora do Horto da Prefeitura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que cedeu 10 mudas de espécies arbóreas de Mata Atlântica, um bioma local para o entorno do espaço escolar. O resultado será futuramente mais sombra, um local mais fresco e com uma qualidade do ar melhor, em especial ao considerar o microclima do ambiente escolar. “Não posso esquecer de falar da dona Maricelia Maria Pereira, uma mãe de ex-aluno que sempre regou a horta durante os finais de semana e feriados de 2022, contribuindo bastante para o crescimento de todas as espécies de hortaliças”, lembra.

O objetivo da disciplina foi criar um sentimento de pertencimento dos alunos ao local em que vivem, de forma que pudessem valorizar e cuidar tanto do espaço escolar quanto do ambiente da própria horta. Depois, proporcionar conhecimentos para que o aluno pudesse criar sua própria horta em espaço urbano. O terceiro ponto é ensinar que é preciso trabalhar para conseguir o objetivo de uma agricultura urbana. 

Antes da pandemia, o espaço da horta era escondido, próximo a caixa d’água da escola, com dois dois canteiros. Para melhorar o desenvolvimento, a direção cedeu este ano um espaço na frente da unidade escolar. “Neste espaço, temos mais visibilidade. Não é muito grande, mas conseguimos plantar e colher várias hortaliças no primeiro semestre deste ano. Um bom exemplo é que conseguimos fazer no evento de culminância das eletivas escolares uma salada na hora do almoço para toda a escola”, conta.

O professor conta que avalia de forma positiva a contribuição na formação dos estudantes. E algo que será importante para a vida deles. “Ainda conseguimos perceber que outras pessoas se inspiram no projeto e começam a fazer sua própria horta urbana. Também fico feliz em perceber que até os moradores da comunidade apoiam e parabenizam o trabalho”, finaliza.

Apesar do sucesso, Nascimento conta que infelizmente a disciplina eletiva neste formato com dia e horário específico e com a possibilidade de escolha por qualquer aluno da escola não será mais possível. Ocorreu uma reestruturação na grade horária para que a escola ficasse padronizada como todas as outras da rede municipal. Mesmo assim, com menos tempo e ser em outro formato, ele vai fazer o possível para manter a horta com o apoio dos voluntários que acreditam na importância do plantio das hortaliças na Maré.  Para conhecer o trabalho da escola e incentivar a continuidade da horta é só visitar virtualmente: Facebook @ginasioolimpiadas2016 e Instagram @e.m.olimpiadasrio2016.

Cesta básica: combate à fome corroído pela inflação

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Presidente Jair Bolsonaro será o primeiro presidente do país a deixar um salário mínimo com menor poder de compra do que quando entrou

Por Daniela Lopes, Giulia Costa e Julia Silva,(*) em 04/08/2022 às 11h54

A Cesta Básica Nacional foi estabelecida no Brasil em 1938, por meio de um decreto, durante o governo de Getúlio Vargas. Ela indicava uma lista de alimentos balanceados, com nutrientes considerados fundamentais para o organismo, em quantidades necessárias para a saúde de um trabalhador adulto. Infelizmente, a inflação vem corroendo o poder de compra do salário mínimo e, por extensão, o valor da cesta básica: em junho, por exemplo, ela custava R$ 777,01 em São Paulo — a mais cara do país.

Os itens que compõem a cesta básica tradicional são os seguintes: carne; leite; feijão; arroz; farinha; batata; tomate; pão; café; banana; açúcar; óleo e manteiga. Após sua popularização, o valor da cesta básica passou, então, a ser um dos principais componentes de definição do salário-mínimo, que, por sua vez, deveria ser suficiente para atender às necessidades básicas de alimentação, moradia e transporte do trabalhador e sua família por um mês. 

Preços disparam

Ao longo dos anos, mudanças em relação a lista de alimentos que compõem a cesta básica foram realizadas e, atualmente, ela é baseada na pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), instituto que desenvolve estudos que atendam às necessidades dos trabalhadores e produz mensalmente pesquisas sobre o aumento no preço de cada item da lista de alimentos em diferentes capitais do país. 

As cestas básicas, fornecidas por empresas e vendidas em supermercados são, geralmente, compostas por itens não perecíveis e, por isso, não apresentam carnes, verduras e frutas, ainda que sejam considerados essenciais. Há cestas básicas que são compostas também por produtos de higiene e limpeza, como creme dental e sabão em pó. 

Segundo a pesquisa realizada pelo Dieese, o valor do conjunto de alimentos que compõem a cesta aumentou em nove das 17 capitais consultadas entre os meses de maio e junho. O Rio de Janeiro foi a quarta cidade com maior aumento no preço, chegando a cesta básica a R$733,14, o que de acordo com a pesquisa equivale a 65,39% do valor líquido do salário-mínimo. 

O trabalhador carioca teria então que trabalhar, em média, 133 horas e 05 minutos para cobrir os gastos com os alimentos da cesta. O estudo estimou ainda que, atualmente, o valor do salário-mínimo deveria ser de R$ 6,527,67, ou 5,39 vezes o mínimo de R$1,212,00, considerando que a determinação constitucional estabelece que o salário-mínimo deve ser suficiente para arcar com as despesas de alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência do trabalhador e sua família. No entanto, não é isso que acontece. 

Cortes no orçamento e produtos mais baratos

Adailson Almeida de Lima, de 44 anos, trabalha como maqueiro hospitalar e vive na Baixa do Sapateiro, com a esposa e duas filhas. A família conta com uma renda de dois salários-mínimos que, devido à alta dos preços dos alimentos, é insuficiente para dar conta da cesta básica. 

Adailson diz que ultimamente tem montado sua própria cesta básica, porque alguns dos alimentos considerados essenciais estão fora de seu alcance financeiro, “Temos que nos reinventar na alimentação a cada dia”. A carne vermelha, por exemplo, é um dos alimentos que fazia parte das compras de mercado da família de Adailson, mas que agora tornou-se inacessível, em virtude da subida dos preços.

Com o aumento dos preços dos produtos, a família de Adailson já não consegue manter a regularidade na compra de alimentos. “Conforme vai acabando, vamos comprando para repor.” Além disso, Adilson teve que priorizar a economia de gastos. Para isso, relata que passou a comprar alimentos de marcas mais baratas no supermercado em detrimento da qualidade e cortou despesas extras, como os gastos com entretenimento e cultura: “Tá difícil até de comer. Lazer só muito de vez em quando”. 

Shyrlei Mudesto, moradora do Parque União, também é prejudicada pela alta dos valores dos alimentos. Ela se mostra muito apreensiva com a situação: “Desde o ano passado os preços estão aumentando muito; de lá para cá o gasto mensal com alimentação aumentou 50%”. 

 Shyrlei tem 50 anos e sustenta quatro filhos com o salário que recebe como faxineira e pela renda complementar que ganha vendendo bolos. A venda de bolos varia a cada mês e, por isso, sua renda é irregular. Assim como Adailson, Shyrlei passou a priorizar a compra de produtos mais baratos no supermercado. Ela conta que teve que cortar gastos com a casa e com a família. “Os filhos menores reclamam, porque as crianças não entendem quando a gente diz que não pode comprar alguma coisa.” 

Cesta básica seria um dos principais componentes da definição do valor do salário mínimo: este deveria ser capaz de comprar, para uma família de quatro pessoas | Foto: Gabi Lino

Cesta Básica X Salário-Mínimo

Em entrevista à nossa equipe, a professora da UFRJ Celia Kerstenetzky afirmou que “Chegamos no Brasil à situação de o salário-mínimo não ser sequer suficiente para cobrir a alimentação do trabalhador ou do aposentado, por conta de não acompanhar a galopante inflação de alimentos.” O governo estima que a inflação termine o ano com alta de 7,20%, mais que o dobro da meta prevista pelo Conselho Monetário Nacional-CMN de 3,5%. Inflação é o termo usado na economia para nomear o aumento nos preços de produtos e serviços, ou seja, afeta diretamente o setor alimentício.” 

Contatamos o escritório regional do Dieese-RJ, em busca de informações sobre a relação da inflação com o salário-mínimo e a cesta básica, a resposta foi “Atualmente, não há uma relação direta entre as correções do valor do salário-mínimo e o comportamento dos preços da cesta básica de alimentos. Indiretamente, sim, uma vez que o valor do salário-mínimo vem sendo corrigido pela taxa de inflação. E a taxa de inflação resulta da variação média dos preços dos diversos produtos que as famílias consomem, dentre eles, os preços dos alimentos.” 

Governo e Política Econômica

A respeito das medidas que o governo pode tomar em relação à subida dos preços, Celia, que é docente das áreas de Política Social, Desigualdade e Pobreza; e Justiça Distributiva e Desenvolvimento, diz que “Sim, o governo tem capacidade de intervir nessa situação, seja, por exemplo, regulando a oferta ou subsidiando o preço dos alimentos para a população de baixa renda; seja mantendo a política de valorização do salário-mínimo e políticas de combate à pobreza permanentes. Seja aumentando os gastos públicos em coisas que são importantes para todos e especialmente para os mais pobres: transporte de qualidade, saúde, saneamento, moradia.”

No entanto, segundo Célia, o que vemos, infelizmente, é o governo cortando gastos sociais em vários programas que são muito importantes para o orçamento das famílias, “como a farmácia popular, a moradia popular, os subsídios para a educação universitária para os estudantes de famílias pobres. E usando esse dinheiro para injetar no Auxílio Brasil, que ninguém sabe direito como funciona e quanto tempo vai durar, mas com objetivos eleitorais claros. Dá com uma mão (algo que não sabemos quanto tempo irá durar) mas tira muito mais com a outra. Com cortes em educação pública, saúde pública, moradia popular, saneamento, não vai haver auxílio que chegue.” 

Insegurança Alimentar

Sobre as famílias que nesse momento se encontram em situação de insegurança alimentar, o Dieese respondeu “Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Pensann), atualmente há cerca de 33 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave (passando fome) e mais da metade da população em situação de alguma insegurança alimentar. Pode-se afirmar que uma parte desse problema se explica pela alta dos preços dos alimentos. Assim, o país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo tem mais de 125 milhões de pessoas sem a segurança de que conseguirão se alimentar adequadamente.” 

No Rio de Janeiro, a pesquisa realizada pela Pensann, com dados coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, estima que mais de 15% da população do estado não tem o que comer. A porcentagem corresponde a cerca de 2,7 milhões de pessoas. Em termos de Brasil, 8,1% da população não tem o que comer em casa.

(*) estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro que participaram do Curso de Extensão do Maré de Notícias em parceria com a universidade.

De olho nas eleições, sociedade civil cobra os direitos de crianças e adolescentes

Agenda 227 apresenta 148 propostas para candidaturas presidenciais em defesa dos direitos da parcela mais jovem da população brasileira

Por Tamyres Matos, em 03/08/2022 às 15h35

Depois de mais de dois meses de trabalho, veio à luz o Plano País para a Infância e a Adolescência, elaborado por mais de 140 entidades, sob a coordenação de 18 organizações da sociedade civil. Essa mobilização, denominada Agenda 227, formulou um conjunto de propostas de políticas públicas (a Redes da Maré fez parte do grupo de trabalho Pobreza, Fome e Desigualdades), abrangendo 22 áreas temáticas e visando um modelo inclusivo e sustentável de desenvolvimento para crianças e adolescentes. 

O documento será entregue aos candidatos das eleições deste ano à presidência da República para que as propostas sejam incorporadas aos respectivos planos de governo, com o compromisso de sua execução já a partir de 2023.

“Em uma nação na qual o racismo se impõe como elemento constitutivo da sociedade, devido à herança da longa e numerosa escravidão — e que é atravessada por fatores adicionais de produção de desigualdades, em função de classe social, identidade de gênero, sexualidade, deficiência, condição de migrante, entre outras —, também a faixa etária da população tem se traduzido em maior vulnerabilidade. Crianças e adolescentes sempre estiveram sobrerrepresentadas nos índices que radiografam a desnutrição, a pobreza, o capacitismo, os estigmas, as violências e demais iniquidades sociais”, aponta o texto do documento.

Para o pedagogo Marcus Fuchs, integrante da equipe executiva do movimento, o conjunto de propostas viabiliza o pleno exercício dos direitos previstos no artigo 227 da Constituição Federal (por isso o nome do movimento). “A Agenda 227 espera que a candidatura eleita neste ano atue com urgência pela garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, compromisso primordial que deve ser implementado para superarmos em definitivo os problemas estruturais e retrocessos recentes que têm condenado o futuro das novas gerações e, por consequência, do próprio país”, afirma.

Segundo a direção da Agenda 227, além da entrega do documento estão previstas ainda audiências públicas para a apresentação das propostas com o intuito de mobilizar outras lideranças políticas, sejam elas candidatas ou não nas próximas eleições. Também está nos planos fechar parcerias com veículos de imprensa para que o Plano País para a Infância e a Adolescência seja incluído nos debates e na cobertura do período pré-eleitoral.

A infância e adolescência na Maré

O Censo Populacional da Maré, publicado em 2019, revelou que a população do maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro é majoritariamente jovem: 51,9% têm 29 anos ou menos. O levantamento mostrou ainda que, no conjunto de favelas, moram 34.034 crianças e jovens entre 0 e 14 anos — eles são 24,5% da população, ou seja, um em cada quatro mareenses. Sua presença nas comunidades varia de 32,8% na Nova Maré (o maior percentual entre o total de moradores da localidade) a 20,2% em Rubens Vaz (a menor concentração). A população com idade entre 15 a 29 anos é composta por 38.088 jovens (27,4% do total de moradores).

O estudo realizado pela Redes da Maré em parceria com o Observatório das Favelas conclui que a presença majoritária da população infantil e juvenil na Maré reforça uma característica das favelas e periferias urbanas no Brasil. É a partir dela que são pensados, tradicionalmente, os investimentos necessários para a garantia dos direitos plenos de cidadania: educação, cultura, esporte, geração de renda, saúde, mobilidade, além da proteção exercida por órgãos específicos. 

“No entanto, para além de uma visão economicista ou restrita à problematização das demandas infanto-juvenis, a expressão demográfica desse contingente é um elemento que torna a vida na favela intensa, criativa, dominada pela presença de brincadeiras coletivas nos espaços públicos e por uma permanente circulação e mobilidade nos espaços públicos, visto que um grande número de crianças e jovens se socializa de forma ampliada e cotidiana nas ruas e esquinas das favelas locais”, aponta o texto do documento.

Quem pensa a juventude de favela?  

Coletivo LGBTQIA+ ajuda jovens da Maré a alcançarem o sonho do primeiro emprego

Por Luiz Menezes*, em 01/08/2022. Luiz é aluno da primeira turma do Laboratório de Jornalismo do Maré de Notícias

A Empresa Poética em parceria com o Instituto Vida Real e a Associação de Moradores da Nova Holanda, realizaram neste sábado (30), o lançamento do Conecta Jovem, um projeto que busca preparar 80 jovens das 16 favelas da Maré para o primeiro emprego por meio da educação profissional crítica e inclusiva. 

O coletivo – criado em 2019 a partir de uma iniciativa da Unicef Brasil –  teve um longo processo de reflexão em torno das inquietações advindas das vivências de um grupo de jovens LGBTQIA+ de periferias e favelas cariocas. Atualmente, o grupo tem realizado diversos projetos de transformação social na área da educação, empregabilidade, direito, inclusão e comunicação. Sendo o Conecta Jovem um desses projetos. 

Para o coordenador de comunicação da Empresa Poética, Dan Nogueira, o Conecta Jovem é uma tentativa de enfrentar as profundas desigualdades vivenciadas por jovens da favela. “Essa é uma forma que encontramos de reunir nossas potências e ajudar outros jovens a conseguirem acessar o mercado de trabalho. Temos observado muitas dificuldades da juventude favelada com questões voltadas ao  trabalho, como na elaboração do currículo profissional. Essa falta de informação reforça as dinâmicas de exclusão que nossos corpos estão, historicamente, inseridos”, afirma. 

De acordo com o Boletim de Dados da JUVRio,  são mais de 1,5 milhão de jovens cariocas, sendo 32% destes estão na categoria “NEM NEM” – nem  trabalham e nem estudam. A falta de acesso a oportunidades para o desenvolvimento dos indivíduos denuncia a crise que a juventude carioca têm vivido, em especial jovens moradores de favelas e periferias em que cotidianamente vivem com a falta de políticas públicas. 

Segundo a jovem Sabrina Menezes, que participa do processo de formação para o primeiro emprego, é preciso que haja mais oportunidades como essa. “Eu tô muito feliz com essa chance. As pessoas são muito legais. É muito importante porque agora vamos aprender como arrumar um emprego. Quero muito trabalhar e espero que tenha mais oportunidades assim”.

Para participar e conhecer mais dos projetos desenvolvidos pela Empresa Poética basta seguir o Instagram (@empresapoetica).

*Comunicador da primeira turma do Laboratório de Jornalismo Maré de Notícias

Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo começa nesta quarta (3)

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Maré de Notícias terá participação em programação sobre os 20 anos do assassinato do jornalista Tim Lopes

A 17ª edição do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), tem início nesta quarta-feira, dia 03. O congresso acontecerá até o dia 7 de agosto, de forma mista, sendo que nos dias 3 e 4 será realizada a parte on-line e gratuita do evento.

A versão presencial e paga (sem transmissão pela internet), ocorrerá de 5 a 7 de agosto, na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), em São Paulo. O último dia do Congresso é totalmente dedicado à quarta edição do Domingo de Dados, com oficinas sobre jornalismo de dados, além de bastidores de investigações ligadas ao tema.

Com mais de 80 atividades e quase 200 palestrantes, para a edição deste ano, a Abraji montou uma grade com 15 grandes assuntos desdobrados em vários subtemas. Um dos convidados é o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que será entrevistado na versão presencial, a entrevista está marcada para a sexta-feira (5), no período da manhã, e será conduzida por quatro jornalistas especializadas em política, desinformação, eleição e ameaças à democracia.

Maré de Notícias representando legado de jornalismo periférico

Há duas décadas, o assassinato brutal do repórter Tim Lopes por integrantes de grupos armados no Rio de Janeiro comoveu o país. Se a violência contra jornalistas aumentou, por outro lado, dezenas de iniciativas foram criadas por jovens repórteres e comunicadores dos territórios periféricos em todo o país. Na mesa “20 anos da morte de Tim Lopes: o que mudou na cobertura das periferias?”, que ocorrerá presencialmente no sábado, dia 06 de agosto, às 11h30, o Maré de Notícias será representado pela jornalista Jéssica Pires como modelo desse jornalismo que busca seu lugar de fala para corrigir injustiças e desigualdades. Participam também da mesa  Marcelo Moreira, diretor de Jornalismo da Globo em Belo Horizonte e conselheiro da Abraji, René Silva, jornalista da Voz das Comunidades e Marcelo Beraba, cofundador da Abraji, como mediador.