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Por dentro da Maré #6 Luta e mobilização pela Educação na Maré: antes e durante a pandemia

Por Jéssica Pires

Na Maré, são 16.692 mil alunos das 46 escolas municipais. Que, junto com os 4.246 professores, têm procurado alternativas para se ajustar às demandas que a pandemia trouxe junto com o vírus. Sem contar com os estudantes da rede estadual, escolas particulares e cursinhos.  Esses mais de cem dias sem aulas, revelou desigualdades mas, também, trouxe aprendizado. “Toda a escola teve que se reinventar. As crianças, a direção, a equipe docente. E não é fácil.”, diz a professora Maria Cristina, que trabalha na rede municipal há 18 anos, no CIEP Ministro Gustavo Capanema, na Vila dos Pinheiros.  Quais são os desafios da educação básica, na Maré, neste momento?

A tecnologia, sem dúvida, foi uma das soluções e – ao mesmo tempo – um grande problema. Aqui na Maré, os professores e pais se desdobram para garantir o mínimo do acesso ao conteúdo para os alunos, enfrentando barreiras como a dificuldade ao acesso à internet e a pouca habilidade com as ferramentas de comunicação digital.  A dispersão que as crianças tem dentro das casas e a falta de recursos como tempo e  informação das famílias para acompanhar esse processo também são desafios. “Os impactos da pandemia para as populações mais pobres são infinitamente maiores do que para as mais favorecidas economicamente”, diz Andreia Martins, diretora da Redes da Maré.  “Tô tendo que lidar com as minhas dificuldades e tentar superá-las. Principalmente nessa questão da tecnologia que pra mim é muito complicado, mas a gente não desanima”, diz a professora Maria Cristina.  “Reaprendendo muitas coisas, aprendendo outras.”

Para as famílias, os desafios são também estruturais. As casas aqui na Maré são que nem coração de mãe: são pequenas, abrigam muitas pessoas, e volta e meia sempre abriga ainda mais um ou outro. E assim, nem sempre existe um espaço dedicado para as crianças estudarem. Ou um adulto disponível para auxiliar esse processo.

Aos poucos, surgem soluções.  “Vale a pena investir em propostas simples, como faz de conta, contação de histórias e atividades como desenho e jogos reais, não virtuais. Conversar com a criança também é uma atividade estimulante, que ajuda a desenvolver o raciocínio e a linguagem”, diz Beatriz Abuchaim, especialista em educação infantil e gerente de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

O retorno ao novo normal

As discussões sobre o retorno às aulas ainda seguem nos níveis estadual e municipal aqui no Rio de Janeiro.  “Sabemos que é preciso retornar, em algum momento, mas caso não haja um planejamento que possa envolver toda a comunidade escolar e contar com a disponibilização de equipamentos para proteção individual e coletiva, à volta às aulas poderá aumentar as possibilidades de disseminação do coronavírus na Maré”, comenta Andreia Martins. A estrutura da rede de ensino no Rio de Janeiro ainda é muito precária. Mas territórios marginalizados, como as favelas, sofrem com mais descaso. Em tempos normais, até de material de limpeza pessoal falta para os alunos.

Aos mestres, com carinho:

A valorização dos e das profissionais da educação é uma das diretrizes do Plano Municipal de Educação, de 2018. E o que a gente percebeu é que os professores da Maré estão derrubando os muros que a falta de estrutura construiu antes desse momento de crise. Ainda são incertos os impactos e caminhos possíveis para a retomada das aulas na Maré. Mas o resultado da dedicação dos professores a gente sentiu com a fala da Maria Isabel, moradora de 11 anos da Praia de Inhaúma e aluna da Escola Municipal IV Centenário, do Morro do Timbau: “ É bem divertido ter uma professora companheira, que gosta de ver o nosso bem, que sempre quer ajudar”.

Maré que Queremos:

De acordo com o Censo da Maré, 89,5% dos moradores frequentam as escolas públicas do território. Mas a realidade nem sempre foi essa. O acesso à educação na Maré foi uma demanda pautada por moradores e conquistada por um processo de mobilização. A primeira escola da Maré foi construída em 1936 (Escola Municipal Bahia), antes mesmo da existência de algumas das favelas que compõem o conjunto, quando a Maré ainda nem era considerada um bairro. 

Até o ano 2000, a Maré contava com 28 unidades escolares, de creches à escolas de ensino fundamental e médio. Nos últimos anos, como resultado desse processo de luta,  foram construídas mais escolas. Além da rede municipal, quatro unidades da rede estadual atendem o Ensino Médio, na Maré. “A história da Maré é uma história marcada pela participação ativa dos moradores nas lutas que de uma forma ou de outra melhoraram as condições de vida local”, conclui Edson Diniz, diretor da Redes da Maré.

  • Direção de produção e conteúdo: Geisa Lino
  • Direção de Captação Audiovisual: Drika de Oliveira
  • Captação de imagens: Gabi Lino e Douglas Lopes
  • Edição: Drika de Oliveira e Nicholas Andueza
  • Narração: Jéssica Pires
  • Reportagem e texto: Jéssica Pires
  • Revisão de texto: Jô Hallack
  • Agradecimentos dessa edição: Andréia Martins, Maria Isabel, Gisele Ribeiro, e todos os professores e estudantes da Maré.

Esse material foi produzido com apoio do CRIAndorede: iniciativa da UNICEF em parceira com o Luta pela Paz, Redes da Maré e Observatório de Favelas pela proteção à vida de crianças e adolescentes na Maré.

Pastor evangélico Milton Ribeiro é o novo ministro da Educação

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Ribeiro será o quarto ministro a comandar a pasta em um ano e meio de governo Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro anunciou hoje (10) por meio de uma rede social que o professor e pastor evangélico Milton Ribeiro é o novo ministro da Educação. A nomeação foi publicada em uma edição extra do Diário Oficial da União (DOU). Ribeiro será o quarto ministro a comandar a pasta em um ano e meio de governo Bolsonaro. Os antecessores são Ricardo Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub e Carlos Alberto Decotelli. O novo ministro da Educação é militar da reserva do Exército e pastor da Igreja Presbiteriana de Santos.

Dados da Covid-19

O estado do Rio de Janeiro tem registrado até esta sexta-feira (10), 129.443 casos confirmados e 11.280 mortes por Covid-19. Há ainda 1.073 mortes em investigação. Na capital fluminense são confirmados  64.027 casos e  7.254 mortes Só nas favelas da cidade maravilhosa são 4.233 casos e 641 mortes, de acordo com Painel Unificador das Favelas do Rio, que contabiliza  suspeitos e confirmados a partir de um canal direto com a população. O Conjunto de Favelas da Maré é a comunidade carioca com o maior número de casos e mortes: 1.275 casos e  112 mortes.

Painel dos Invisíveis

Desde que a Covid-19 chegou ao Rio de Janeiro em março, a cidade tem visto uma curva ascendente sem sinais de estabilização. O impacto é particularmente sentido por moradores de favelas e periferias, onde uma imensa lista de fatores contribui para a transmissão e letalidade do vírus, como a histórica negligência do poder público, falta d’água, de geração de renda, de testagem e cuidados médicos, alta densidade dentro das moradias, entre outros. Diante desta realidade, diversos coletivos estão monitorando e identificando casos por iniciativas próprias, como o boletim De Olho no Corona!, da Redes da Maré. Semanalmente, um tema é proposto para o lançamento dos dados identificados pela equipe da organização. A partir dele, o Maré de Notícias produziu o Painel dos Invisíveis, um mapa das 16 favelas da Maré com seus respectivos casos e mortes suspeitas de Covid-19. O lançamento do Painel foi tema de uma live no Facebook. Confira aqui.

Caixa Eletrônico sem dinheiro

Muitos mareenses estão apreensivos com a fila enorme do Caixa Eletrônico perto a Avenida Brasil, próximo à Rua Bittencourt Sampaio, na Nova Holanda. A situação se repete com frequência e se agrava em dias de recebimento do auxílio emergencial. Moradores relatam que não são poucas as vezes que o dinheiro disponível nos caixas para saque acaba, em especial, nesses dias de pagamento do auxílio do governo.

Atendimento à população em situação de rua

O projeto Atenda realiza um trabalho de articulação com saúde e assistência para o cuidado às pessoas em situação de rua e usuários de crack e outras drogas do Centro de Atenção Psicossocial (Caps Ad III) Miriam Makeba. A iniciativa começou em 2017 na Maré, e em tempos de pandemia, o atendimento nas ruas e vielas das favelas mareenses tem sido fundamental. Nesta quinta-feira (09) a equipe atendeu a população em situação de rua que se encontrava na Rua Sargento Silva Nunes, na Nova Holanda, distribuindo máscaras e encaminhando os que tinham necessidade para a Clínica de Família Jeremias Moraes da Silva. O trabalho é feito às terças e quintas-feiras.

Reabertura X aumento de casos

A reabertura gradual das atividades econômicas na cidade e, consequentemente, nas favelas fez Ana Cláudia, Manipuladora de Alimentos e moradora da Nova Holanda, se surpreender com o aumento de mortes na Maré assim que as pessoas relaxaram nas medidas de isolamento social. “O comércio é algo de extrema necessidade, porém queria que nós tivéssemos plena consciência de fazer um bom uso do ambiente. Agora, o comércio está liberado, mas mesmo assim vamos tentar manter o distanciamento e a máscara”, aconselha Ana.

AMARÉDECASA

O projeto A Maré de casa está com votação aberta para a escolha de fotos. O projeto recebe fotos das janelas dos moradores das 16 favelas da Maré. As fotos com maior número de votos ganham prêmios a cada mês.  O site, além do seu voto, está recebendo contribuição para a próxima edição. 

Dicas Culturais

O rapper Black Alien, que acaba de lançar o disco Babylon by Gus Vol. 1 – O Ano do Macaco (Ao Vivo), estreia hoje à noite nas lives. A apresentação visa arrecadar fundos para a equipe do músico e para o projeto Backstage Invisível. Na programação do Sesc, transmitida pelo YouTube, hoje tem show de Roberta Campos, amanhã de Virgínia Rosa e, no domingo, de Margareth Menezes. 

No festival #CulturaEmCasa, o duo de Lívia Nestrovski com Fred Ferreira se apresenta hoje e amanhã é a vez da cantora Angela Ro Ro. Os atores Silvero Pereira e Gyl Giffony realizam o espetáculo Metrópole On-line hoje e amanhã pelo Centro de Artes da UFF.

Nenê do Zap

Não é incomum que os bebês coloquem mãos e pés na boca boa parte do tempo. Mas isso pode significar muito mais do que se imagina. Fique ligado na dica de hoje do Nenê do Zap.

Painel dos invisíveis

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Iniciativa monitora os casos suspeitos nas 16 favelas da Maré  a partir do levantamento do boletim De Olho no Corona

Desde que a Covid-19 chegou ao Rio de Janeiro em março, a cidade tem visto uma curva ascendente sem sinais de estabilização. O impacto é particularmente sentido por moradores de favelas e periferias, onde uma imensa lista de fatores contribui para a transmissão e letalidade do vírus como a histórica negligência do poder público, falta d´água, falta de geração de renda, alta densidade dentro das moradias, falta de testagem e cuidados médicos, entre outros.

O país conta apenas como  casos confirmados, os que foram testados em seus painéis públicos, apesar das baixas taxas de testagem. As autoridades brasileiras também estão desencorajando a contagem de casos entre aqueles com comorbidades com Covid-19, mesmo que a causa imediata da morte seja Covid-19. Também não há informações públicas sobre casos suspeitos, conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Assim, a maioria dos casos da Covid-19 não é relatada e muitas mortes também estão sendo ignoradas. Essa situação é particularmente grave nas favelas.   A cidade do Rio de Janeiro não está coletando informações precisas de cada favela, embora 24% da população da cidade viva em cerca de 1000 favelas e suas diversas características as colocam em um risco muito maior de contágio do que outras áreas da cidade. 

Diante desta realidade diversos coletivos estão monitorando e identificando casos por iniciativas próprias. Frente de Mobilização da Maré, Voz das Comunidades e a Redes da Maré, são exemplos disto. O boletim De Olho no Corona, da Redes da Maré, monitora os casos suspeitos e comprovados a partir de um canal direto com os moradores das 16 favelas.  Semanalmente, um tema é proposto para o lançamento dos dados identificados pela equipe da organização.  A partir deste boletim, o Maré de Notícias produziu o Painel dos Invisíveis, um mapa das 16 favelas da Maré com seus respectivos casos  suspeitos. Nele também  há  mortes suspeitas, tudo  com recorte  idade  e raça. O mapa será atualizado semanalmente juntamente com os dados do Boletim de Olho no Corona!

Conheça o painel aqui.

Ronda Coronavírus: Clínica da Família na Maré tem atendimento precário por falta de energia

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A Clínica  Jeremias  Moraes da Silva tem óleo para garantir o funcionamento do gerador até amanhã

A Clínica Jeremias Moraes da Silva, uma das três que atendem aos 140 mil moradores da Maré, está fechada para atendimento ao público desde última segunda-feira (06) ao meio dia por falta de óleo diesel, que mantém o funcionamento do gerador da instituição. Desde que foi inaugurada em março de 2018, a clínica não tem energia elétrica, mesmo estando em uma das favelas da Maré (Nova Holanda) com distribuição de energia. Nesses dois anos, não foram poucas as vezes que a instituição fechou por falta de pagamento do aluguel do gerador ou do óleo diesel que a abastece. Em tempos de pandemia, a clínica já fechou outras duas vezes por este motivo. Esta foi a terceira. A promessa da Secretaria Municipal de Saúde é que volte a funcionar amanhã. Mas de acordo com o presidente da associação de Moradores de Rubens Vaz, Vilmar Gomes, a instituição vai abrir com 100 litros de óleo, suficiente apenas para o dia de amanhã.

Números da Covid-19

O Brasil registrou de ontem pra hoje 1.187 mortes. São mais de 68 mil brasileiros vítimas da Covid-19. Só no estado do Rio, até o momento foram registradas  10.970 mortes e 126.329 casos. Na capital fluminense são 62.463 casos confirmados e  mais de 7 mil mortes. Nas 16 favelas da Maré, segundo o Boletim De Olho No Corona!,  são mais de 1.053 casos e 110 mortes até a última sexta feira. 

Retomada das atividades

A flexibilização das atividades econômicas está acontecendo em etapas e impactando diretamente os moradores da cidade do Rio de Janeiro. Enquanto a Prefeitura acelera a abertura de atividades, o Governo do Estado do Rio de Janeiro estende as medidas restritivas de prevenção à pandemia até o dia 21 de julho, o que inclui aulas presenciais e serviços como academias de ginástica e cinemas. Eliano Félix, jornalista e morador da Vila do João, na Maré, é praticante de exercícios e precisou encontrar alternativas em casa para não interromper sua rotina de atividades físicas durante a quarentena. Mesmo com a previsão de reabertura, ele não sente segurança para voltar. “Eu não me sinto seguro em retornar realmente nesse momento. Eu prefiro continuar os meus exercícios em casa e correndo ao ar livre, sempre com máscara.”

Eliano Félix, jornalista e morador da Vila do João

Solidariedade

Durante a pandemia do novo coronavírus, ainda que faltasse o apoio e a assistência governamental, foi nítida a multiplicação das iniciativas sociais criadas por moradores, instituições e organizações locais. Em todo o Rio de Janeiro, as favelas construíram suas próprias iniciativas e, ainda que o movimento de flexibilização da quarentena esteja sendo feito, os cuidados nesses territórios continuam. Anderson Gonçalves é comunicador e morador da Favela Marcílio Dias, na Maré, e mobilizou a população para a arrecadação de mantimentos que ultrapassou os limites da Maré. “Conseguimos arrecadar alimentos, kits de higiene e kits de limpeza para vários moradores de várias periferias, como Salgueiro, em São Gonçalo; Chapadão, em Costa Barros; Terreirão, no Recreio; e Parque das Missões, em Duque de Caxias. É super importante mostrar que temos que sair do campo da teoria e ir para o campo da prática”, incentiva.

Anderson Gonçalves, comunicador e poeta da Maré

Outra iniciativa na Maré foi a Campanha “MARÉ SOLIDÁRIA CONTRA O CORONAVÍRUS”, da Frente de Mobilização da Maré, que atua para minimizar os efeitos da pandemia do Covid-19 nas 16 favelas da Maré. São mais de 50 voluntários engajados na luta, entre moradoras e moradores, comunicadores populares, assistentes sociais e profissionais das áreas de Educação e Saúde. Johnny Santos é um deles. “No início eu vi a necessidade de me voluntariar para a Frente porque sei que o governo não nos atinge com a ajuda necessária”, diz o voluntário.

Johnny Santos, voluntário da Frente de Mobilização da Maré

Colabora nessa Maré de Notícias

A desigualdade que maltrata os estudantes pelo acesso precário à internet; o desemprego das mulheres negras; a saúde mental em tempos tão difíceis; como a Maré atravessou as crises de saúde anteriores; e o duro cotidiano dos trabalhadores informais diante da recessão. Esses são os temas propostos pelos vencedores das cinco bolsas no projeto #Colabora nessa Maré de Notícias, para a produção de reportagens sobre a pandemia e seus impactos no conjunto de favelas do Rio. Os jovens jornalistas receberão orientação das equipes do #Colabora e do Portal Maré de Notícias, com a publicação nos sites e redes sociais dos dois veículos. Saiba quem são os vencedores aqui. Os candidatos que não foram selecionados receberão a oferta de mentoria dos jornalistas do #Colabora e do Maré de Notícias para o início da carreira no jornalismo.

Live do Maré de Notícias

Amanhã, quinta-feira, dia 09, às 19h a jornalista do Maré de Notícias Jéssica Pires vai trazer dois convidados para uma Live sobre o Boletim De Olho no Corona!. O geógrafo Dalcio Marinho e a pesquisadora Camila Barros irão explicar e simplificar dados que mostram como as favelas e a periferia carioca se encontram na pandemia. O encontro terá ainda o lançamento do Painel dos Invisíveis, uma nova ferramenta que o Maré de Notícias trará de monitoramento de casos na Maré.  O encontro acontece pelo Facebook e Youtube da Redes da Maré.

Provas do Enem só no ano que vem
As Provas do Enem 2020 acontecerão em janeiro e fevereiro de 2021. O Exame será em 17 e 24 de janeiro para os 5,7 milhões de inscritos que escolheram a prova impressa. Outros 96 mil farão a prova digital em 31 de janeiro e 07 de fevereiro. O anúncio foi feito pelo secretário-executivo do MEC, Antonio Paulo Vogel, e o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, durante coletiva de imprensa, em Brasília.

Novos livros e vídeos para alunos da Rede municipal 

A Secretaria Municipal de Educação, publicará amanhã, quinta-feira, (09), cinco livros para os alunos da Rede Municipal de Ensino pelo aplicativo SME Carioca 2020. São histórias que retratam as trajetórias de vidas de pessoas com algum tipo de deficiência que se reinventam através do esporte, da educação e da cultura. Os títulos também serão disponibilizados em formato de vídeo no Canal Sala de Leitura SME Carioca em três versões: narrados, com audiodescrição e em libras. Os livros estão disponíveis também no site. Já os vídeos podem ser assistidos na Sala de Leitura Virtual da SME.

Campanha de vacinação contra a gripe é prorrogada 

Crianças, gestantes e mães que acabaram de ter filhos podem se vacinar contra a gripe até a próxima sexta-feira, dia 10. Programada para encerrar no dia 30 de junho, a campanha de vacinação contra a gripe foi estendida até o dia 10 de julho ou até enquanto durarem os estoques de vacina. A meta da secretaria é ampliar a cobertura vacinal nos grupos prioritários que ainda não alcançaram a cobertura de 90%, como crianças, gestantes e puérperas, que são grupos de maior vulnerabilidade. “A vacina irá contribuir para diminuir a necessidade de assistência médica nos postos de saúde e hospitais, minimizando aglomerações e reduzindo o risco de contaminação pelo coronavírus nesses ambientes”, avalia Valter Almeida, da Gerência de Imunizações da SES.

Nenê do Zap

Apesar da quarentena, muitas crianças já estão de férias. E mesmo as que não estão de férias estão em casa o dia todo. Haja criatividade para tanta brincadeira! Mas o Nenê do Zap tem dicas para ajudar as mamães.

Conheça os ganhadores das bolsas do #Colabora nessa Maré de Notícias

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Projeto de capacitação premia jovens jornalistas para realização de reportagens sobre o impacto da covid-19 no conjunto de favelas

A desigualdade que maltrata os estudantes, pelo acesso precário à internet; o desemprego das mulheres negras; a saúde mental em tempos tão difíceis; como a Maré atravessou as crises de saúde anteriores; e o duro cotidiano dos trabalhadores informais diante da recessão. São os temas propostos pelos vencedores das cinco bolsas no projeto #Colabora nessa Maré de Notícias, para a produção de reportagens sobre a pandemia e seus impactos no conjunto de favelas do Rio. Os jovens jornalistas receberão orientação das equipes do #Colabora e do Portal Maré de Notícias, com a publicação nos sites e redes sociais dos dois veículos.

Moradores da Maré, os repórteres vão desenvolver reportagens com temáticas e linguagens próprias, identificadas com a comunidade, e, assim, conscientizar a população local sobre a covid-19. O objetivo é impactar, com o conteúdo, os moradores do complexo de favelas – aproximadamente 140 mil pessoas. Os jornalistas atuarão como multiplicadores do conhecimento na comunidade onde a pandemia não afeta apenas a saúde, mas também a economia doméstica de muitas famílias e de jovens em busca de oportunidades profissionais.

O #Colabora nessa Maré de Notícias tem financiamento do Fundo Enfrente, nova modalidade de fomento, que mistura o financiamento coletivo (ou crowd-funding) com aporte de parceiros, para multiplicar a arrecadação. O projeto foi selecionado pela plataforma Benfeitoria com apoio da Fundação Tide Setubal.

Conheça os vencedores (em ordem alfabética) e suas pautas:

  • Ana Clara Passos Alves e Jonatas Magno Campos da Silva. Como a Maré atravessou as crises anteriores de saúde.
  • Elaine de Moraes Lopes e Matheus Luiz Chagas da Silva. Os estudantes da Maré e suas dificuldades nas aulas remotas, devido ao precário acesso à internet nas comunidades.
  • Luiz Augusto de Souza. O baque da diminuição da atividade econômica na vida dos trabalhadores informais.
  • Myllenne Nascimento Furtado. O aumento significativo do desemprego entre mulheres negras. Segundo o Ipea elas têm 50% a mais de vulnerabilidade, quando comparadas às não negras. Na Maré, muitas precisam da ajuda de ONGs para se manter.
  • Thais Cavalcante. O impacto da pandemia na saúde mental dos moradores da Maré e as alternativas de atendimento neste período.

Os candidatos que não foram selecionados receberão a oferta de mentoria dos jornalistas do #Colabora e do Maré de Notícias para o início da carreira no jornalismo.

Vidas negras importam

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Como o racismo existente na sociedade produz exclusão e visão negativa do negro

Maré de Notícias #114 – julho de 2020

Andressa Cabral Botelho

Quando a COVID-19 chegou ao Brasil, no final de fevereiro, falava-se que o vírus era democrático, atingindo a população brasileira de forma igual, mas a realidade é diferente. Ele pode, sim, infectar todas as pessoas, mas segundo os números, há uma desigualdade sociorracial, no que se refere ao coronavírus. Mas a pandemia é apenas mais um atravessamento do racismo que população negra enfrenta, que também é a que mais morre em decorrência à violência policial.

Enquanto pessoas de classes mais altas foram as primeiras a se contaminar, o vírus tem se espalhado e impactado, de forma bem mais severa, as pessoas mais pobres, consequentemente, as negras. A chance de um negro morrer por coronavírus é 38% maior que a de um branco, é o que mostra o levantamento feito pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), grupo de estudos de pesquisadores da PUC-Rio.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 209,2 milhões de brasileiros, 108,9 milhões são negros – população que o IBGE considera entre pretos e pardos -, totalizando 56,1% da população.

O racismo não está apenas nos comentários diminuindo pessoas negras, mas nas estruturas da sociedade brasileira. Enxergando indígenas, negros e outros povos como raças inferiores, por terem costumes diferentes, os colonizadores decidiram não apenas impor a sua cultura, idioma, religião a esses povos, mas também escravizá-los, por serem mão de obra barata e lucrativa. Desta forma, grupos indígenas brasileiros foram dizimados e negros africanos escravizados por séculos.

“O problema da escravidão aqui no Brasil foi porque o índio não gosta de trabalhar, até hoje. (…) Foi por causa disso que eles foram buscar pessoas nas tribos da África, para vir substituir a mão de obra do índio”, Ricardo Albuquerque da Silva, procurador de Justiça do Pará, novembro de 2019.

O reflexo disso podemos ver até hoje, diante das desigualdades que pessoas negras enfrentam. Mesmo maioria populacional, os negros são minorias em cargos de chefia, em programas de televisão, no Congresso Nacional e maioria nos índices de morte. O processo de abolição proporcionou liberdade, mas não políticas públicas para promover a inclusão do negro na sociedade.

Uma das faces do racismo é associar pessoas negras a coisas ou objetos, e elas são tratadas assim desse o período da escravidão. O corpo branco era qualificado como culto e inteligente, enquanto o corpo do negro era visto como cheio de energia, forte e bom, apenas para o trabalho braçal – um estereótipo que ajudou a justificar a escravidão e é reforçado até os dias de hoje.

Atores sociais na divulgação da informação

É papel de toda a sociedade lutar contra o racismo. Desde 2003, está em vigor a Lei 10.639, que fala da obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira em disciplinas dos ensinos Fundamental e Médio. Entretanto, antes de abordar esses assuntos em sala de aula, os professores precisariam se reeducar e desconstruir alguns imaginários existentes sobre o assunto.

Já a imprensa, como produtora de conteúdos diversos, seja impressos ou audiovisuais, tem papel importante no fortalecimento do imaginário de pessoas negras, quando coloca atores negros sempre em papéis específicos, como trabalhadoras do lar, motoristas, traficantes, pessoas agressivas ou personagens que têm forte apelo sexual.

Os coletivos que debatem racismo e questões raciais são fundamentais para compartilhar essa informação, como é o caso da Casa Preta da Maré, iniciativa da Redes da Maré. Mesmo com a pandemia, o projeto tem desenvolvido conversas virtuais para tratar do assunto. “A ideia é que a gente faça várias dessas lives, que a gente está chamando de Café Preto em Casa. São rodas de conversa com intelectuais negros, preferencialmente da Maré, ou que têm alguma ligação com a Maré, ou com movimentos ligados à favela, direitos da população em favelas”, contou Pâmela Carvalho, mestra em Educação e coordenadora do eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades, da Redes de Desenvolvimento da Maré.

Edição do Café Preto tem acontecido a cada 15 dias no Instagram da Redes da Maré

Vidas pretas e faveladas importam

Foto: Kamila Camillo

Em meio à pandemia, lideranças negras e comunitárias se articularam e fizeram dois atos (31 de maio e 7 de junho), sobre a vida de jovens negros brasileiros que morreram em decorrência da violência policial. Apesar de ser um momento de isolamento, 273 pessoas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro foram mortas durante operações policiais entre março e abril deste ano, 37 pessoas a mais que no mesmo período em 2019, como afirma o Instituto de Segurança Pública (ISP). 

E justamente por ser um momento crítico devido à pandemia, muito foi questionado sobre a necessidade de se fazer esses dois atos. “Não dá para a gente normalizar a morte de jovens como o João Pedro, assim como de tantos outros. Todas essas vidas importam! E a gente tem de começar a lutar, começar a correr atrás, para fazer barulho mesmo, para que a gente consiga mexer nessa estrutura que é tão racista e que invisibiliza a morte desses jovens pretos, pobres, favelados e periféricos”, observou Thaís de Jesus, coordenadora do FOPPIR, Fórum Permanente pela Igualdade Racial.

A morte de João Pedro, infelizmente, não é exceção. No País, 63 jovens negros morrem diariamente, um a cada 23 minutos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). O Atlas da Violência mostrou, em 2019, que 75,5% das vítimas de homicídios no País são pessoas negras. Entretanto, os números parecem não comover parte da população ou o poder público, que não enxerga que o genocídio e a criminalização de pessoas pretas são também uma face do racismo.

Se você está num parque à noite, escuro, e vê uma pessoa andando e essa pessoa é negra e ela tem os trejeitos de uma pessoa que parece ser um criminoso, você vai ficar com mais medo do que se você visse uma pessoa branca de terno e gravata”, Luisa Nunes, influencer, junho de 2020.

Essa é apenas uma das posturas cotidianas que reforçam a ideia de que pessoas negras são potencialmente criminosas. Isso partiu de alguns pesquisadores do final do século XIX, como Raimundo Nina Rodrigues, médico legista, psiquiatra, professor, escritor, antropólogo e etnólogo brasileiro, que em seus estudos destacou a necessidade de se ter dois códigos penais: um para pessoas brancas e outro para negros e mestiços. A razão disso é que ele afirmava que o segundo grupo era composto por pessoas violentas, arruaceiras e que por essas razões eles seriam potenciais criminosos. Por considerar que indígenas, negros e mestiços eram raças inferiores, o médico dizia que eram incapazes de compreender normas sociais e cometiam crimes por instinto.

Racismo é crime

Mesmo com acesso à informação e com o debate racial mais frequente dentro e fora das redes, ainda é comum que situações de racismo aconteçam cotidianamente, desde as mais veladas, as que passam despercebidas por algumas pessoas, assim como o racismo mais explícito. Importante destacar que nenhuma dessas atitudes deve ser considerada normal ou correta, mas é algo corriqueiro no cotidiano das pessoas negras.

Para isso, existem legislações, como a Lei nº 7.716/89, conhecida como Lei Caó, que criminaliza o racismo, assim como delegacias de crimes raciais, para fazer denúncias específicas sobre o assunto. “É importante que a pessoa que sofra racismo vá à Delegacia especializada e comunique o fato. A partir do momento que alguém se encoraja para denunciar, outras pessoas podem ir atrás de seus direitos”, observou Paloma Oliveira, advogada e membra da Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ. Ela destaca que a Constituição prevê que não há uma data específica para o crime de racismo ser denunciado. “Não importa se você sofreu racismo há três anos ou há um ano, o seu direito [de denunciar] vai ser garantido de qualquer forma”, concluiu.