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Outubro Rosa: Diagnóstico de Câncer de Mama aumenta em 2023

Saiba onde e como diagnosticar e os cuidados para prevenção da doença

Por Andrezza Paulo e Teresa Santos

Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que em 2022 foram registrados mais de 66 mil novos casos de câncer de mama no país. Para 2023, a estimativa supera 73 mil novos casos. Na cidade do Rio de Janeiro, segundo o Observatório Epidemiológico da cidade (EpiRio), foram registrados 1.047 óbitos por câncer de mama em 2022. E, na Área de Planejamento 3.1, na qual a Maré está inserida, a doença causou 122 mortes.

Para promover conscientização sobre essa doença, que é o tipo de câncer que mais acomete mulheres em todo o mundo e o que mais mata entre as brasileiras, nasceu o movimento Outubro Rosa. 

Criada na década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, nos Estados Unidos, a iniciativa ganhou força internacionalmente. E, desde 2018, outubro também passou a ser o mês de conscientização sobre o câncer de mama no Brasil, a partir da Lei nº 13.733. Em 2023, o lema da campanha é: “Informar para proteger. Cuidar para viver”.

Seguindo na prática o lema de “cuidar para viver”, Dona Rozinete de Oliveira (56), ex- agente comunitária de saúde da Vila do João e moradora do Salsa e Merengue, descobriu um nódulo no seio ao realizar o toque de rotina durante o banho há 3 anos. Ela foi encaminhada para o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Fundão, onde detectou-se o câncer de mama. Mas iniciou o tratamento no Hospital do Amor em Barretos, São Paulo, onde ficou alojada durante 240 dias.

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Foram 8 meses de tratamento intensivo pelo SUS com 12 quimioterapias a cada 21 dias. A cirurgia para a retirada do nódulo foi em 9 de junho de 2021 e após o procedimento foram realizadas 25 radioterapias, mais 17 quimioterapias hormonais, além dos remédios também ofertados pelo Sistema Único de Saúde. Atualmente, Dona Rozinete está em remissão, isto é, o câncer de mama já não é mais detectado pelos exames,  mas continua sendo acompanhada pelos médicos: “A pessoa diagnosticada com câncer dorme e acorda pensando se o câncer vai voltar. Eu confio muito em Deus, afasto esses pensamentos de mim e estou muito feliz”, conta.

Além do desafio enfrentado pela doença, ela relata a necessidade de políticas de inserção no mercado de trabalho para mulheres que passaram por esta etapa. Rozinete não recebe auxílio, não pode se aposentar e encontra dificuldade em conseguir trabalho por conta da idade e histórico médico. Diante da adversidade, ela abriu um pequeno brechó no Salsa e segue dia após dia, acima de tudo, com muita fé e alegria de viver. 

Embora Dona Rozinete tenha sentido o nódulo através do autoexame, o ideal é que seja realizada a mamografia periódica para detectar nódulos menores de 1 cm para maiores chances de cura. 

Foto: Rozinete um mês antes da cirurgia, em maio de 2021.

Como é feito o diagnóstico precoce?

Segundo a Dra. Viviane Esteves, médica mastologista do Instituto Fernandes Figueira (IFF), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a mamografia é o exame de rastreamento que permite a detecção precoce do câncer de mama.

A mamografia de rastreamento é voltada para mulheres que não apresentam sinais e sintomas de câncer de mama, ou seja, assintomáticas. “Elas vão fazer o exame para diagnosticar lesões antes que sejam palpáveis”, destacou a Dra. Viviane, lembrando que existem duas orientações para as mulheres ditas assintomáticas: uma do Ministério da Saúde e outra das entidades médicas. 

O Ministério da Saúde recomenda mamografia de rastreamento a cada dois anos em mulheres de 50 a 69 anos de idade. “Essa recomendação é uma diretriz que foi publicada em 2015 pelo Ministério da Saúde”, explicou em entrevista ao Maré de Notícias.

Já a Sociedade Brasileira de Mastologia, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomendam o rastreamento mamográfico anual para mulheres a partir de 40 anos de idade.

Mulheres com alto risco para o câncer de mama 

Além disso, existem mulheres que são consideradas de alto risco para o câncer de mama. “Normalmente, a gente suspeita que uma pessoa tem risco aumentado quando você tem câncer de mama em homem na família, histórico de câncer de mama em mulheres muito jovens, quando têm câncer de mama em várias gerações: avó, mãe, prima. Então, essa família é considerada de alto risco”, explicou a especialista do IFF/Fiocruz. 

A mulher que já teve câncer de mama também é considerada de alto risco. “Ela precisa fazer a mamografia da mama não operada e, nos casos em que foi feita a cirurgia conservadora, com retirada de apenas um segmento da mama, também deve ser feita a mamografia da mama operada. Então ela continua fazendo rastreamento”, destacou.

Segundo a Dra. Viviane, o Ministério da Saúde recomenda que o rastreamento seja então individualizado. Isso significa que, após avaliação do profissional de saúde e confirmação do alto risco, será determinada qual a melhor forma de acompanhar a paciente periodicamente. 

Autoexame não é mais recomendado como rastreamento

E os outros exames das mamas? Segundo a Dra. Viviane, exames como ultrassonografia e ressonância magnética podem ser feitos, no entanto, eles são indicados apenas em situações específicas. “O rastreamento, ou seja, o exame em mulher assintomática para diagnóstico precoce do câncer de mama é feito a partir da mamografia”, ressaltou.  

Já o autoexame, de acordo com a médica, não é mais recomendado como rastreamento. “Ele diagnostica lesões grandes e a gente não quer isso. Queremos identificar lesões pequenas, menores de 1 cm, onde temos uma taxa maior de cura”, destacou. 

E quando há sinais e sintomas?

Apesar do autoexame não ser mais recomendado para rastreamento, é importante que a mulher conheça suas mamas e que as examine para observar o que acontece com elas. “Se observar qualquer sinal, nódulo, retração de mamilo, espessamento da pele, modificação de coloração, o que chamamos de ‘casca de laranja’, que é aquela pele enrugada, deve procurar o serviço de saúde mesmo que não esteja na faixa etária do rastreamento”, destacou a Dra. Viviane.

Onde buscar atendimento?

As mulheres sem sintomas que têm entre 50 e 69 anos de idade, faixa etária de rastreamento do Ministério da Saúde, e aquelas fora deste intervalo, mas que apresentam alterações nas mamas devem buscar a Atenção Primária de Saúde, a partir de Unidades Básicas de Saúde (UBS) e de Unidade de Saúde da Família (USF).

As mareenses podem buscar atendimento em uma das quatro Clínicas da Família (CF) da Maré – CF Augusto Boal, CF Adib Jatene, CF Jeremias Moraes da Silva e CF Diniz Batista dos Santos – ou nos três Centros Municipais de Saúde (CMS) – CMS Américo Veloso, CMS Vila do João e CMS João Cândido – que existem na região.  

Prevenção primária também é importante!

E que tal evitar a doença antes que ela apareça? Isso é o que chamamos de prevenção primária e também pode – e deve! – ser feito para o câncer. Dados do Inca mostram que mudanças no estilo de vida podem evitar cerca de 30% dos casos de câncer. Já a mamografia aumenta a chance de cura do câncer de mama.

Segundo a Dra. Viviane, para evitar que o câncer apareça, o ideal é adotar um estilo de vida saudável. “É fazer exercício físico, ter uma alimentação balanceada, não beber, diminuir a ingesta alcóolica”, exemplificou a médica do IFF/Fiocruz, destacando que essas ações são especialmente relevantes para as mulheres que não têm histórico familiar da doença. 

Praia de Ramos, uma história antes do piscinão

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Favela cresceu em torno das águas da Baía de Guanabara

Maré de Notícias #153 – outubro de 2023

A Praia de Ramos já foi diversas vezes cantada nos sambas do antigo bloco Boca de Siri, ou citada nas canções de Dicró ou do Bhega. Antes de o nome se tornar recorrente em novelas, programas de TV e videoclipes, o local era conhecido como Mariangu. Em torno da praia nasceu a favela em 1962, originalmente uma comunidade de pescadores.

No seu início, a região era território de criação de caranguejos. Por esse motivo, a praia mais famosa do subúrbio carioca, hoje única da Zona da Leopoldina, aparecia nos mapas antigos como Praia de Apicú (que em tupi significa “brejo de água salgada”) e Mariangu, palavra de origem indígena que significa “mangue”. 

Para este último nome há ainda duas versões: uma que o nome se deveu à presença de um pássaro abundante na área da Baía de Guanabara, e outra, por causa de uma antiga moradora chamada Maria, conhecida na região por vender angu à baiana. 

O local também se desenvolveu por causa do porto ali construído, por onde era escoada a produção agrícola das freguesias de Irajá, Inhaúma e até de Campo Grande para o restante da cidade.

Poluição e declínio

Segundo a pesquisa Memórias do Subúrbio Carioca, em 1963 a famosa praia suburbana recebeu um tratamento de dragagem da areia, deixando-a com a cor mais clara, mas a contaminação das águas já começava a preocupar as autoridades sanitárias. Em 1981, o balneário apresentava o maior índice de poluição entre as praias da cidade. 

Em abril de 2000, 1,3 milhão de metros cúbicos de óleo e graxa da Refinaria Duque de Caxias foi derramado nas águas da Baía de Guanabara. O desastre ambiental foi considerado como um marco do declínio da atividade pesqueira na área. A comunidade promoveu então um abraço simbólico à praia, reivindicando melhorias socioambientais.

O cantor e compositor Bhega Silva foi uma das lideranças comunitárias presentes à organização do abraço: “Tenho até hoje a foto do meu último banho na praia em 1981. É triste o estado da praia poluída.” 

Ele lembra com carinho da sua infância na favela. “No tempo de criança íamos de madrugada buscar peixes, que enchiam as redes de tal maneira que os pescadores os distribuíam de graça. Tenho amor a essa comunidade que é a minha segunda família”, diz.

Bola de meia

Outro que recorda com carinho o início da favela é Celso Fernandes, de 70 anos. Ele morou desde os 11 anos na comunidade Roquete Pinto e em 2001 mudou-se para a Praia de Ramos. 

“Não é ser nostálgico, mas o passado foi um período muito bom. Fazíamos bola de meia com barbante e jogávamos na rua. Nadávamos na praia, pulávamos nas palafitas e pescávamos cocorocas, era uma diversão. Também não tinha tantas casas e era comum árvores frutíferas, que aproveitávamos”, lembra.

Celso conta da época que Avenida Brasil só tinha duas pistas. “Na frente da comunidade tinha um sinal, onde a antiga linha de ônibus 38, Tiradentes x Brás de Pina, fazia o retorno para acessar o outro lado de Ramos.” 

Ele ainda lembra como era a diversão dos jovens: “O futebol no campo do Potiguar acontecia perto da empresa Miriam. Ali nasceu muito craque. Outra alegria eram os bailes, que aconteciam na Roquete Pinto, no Zé da Onça, no Clube de Futebol do Cerfa, no Ás de Ouro e no Ramos Social Clube. Era um tempo romântico.”

Nova era 

Em dezembro de 2001 foi inaugurado um grande lago artificial, batizado pela comunidade de Piscinão de Ramos e oficialmente de Parque Ambiental da Praia de Ramos. 

Em 2012, o nome foi mudado para Parque Ambiental da Praia de Ramos Carlos de Oliveira Dicró, em homenagem ao sambista e ilustre frequentador, falecido no mesmo ano. 

Com mais de 26 mil metros quadrados, a piscina comporta 30 milhões de litros de água do mar — é a primeira e única no mundo com fundo de areia. Sua água é cristalina porque passa por um complexo sistema de tratamento, o que a torna uma das mais limpas da cidade.

Próxima parada: Vila do João, favela que nasceu em 1982. Até lá!

UFRJ oferece cursos de idiomas de graça para moradores da Maré

Para se inscrever, é necessário que o candidato seja maior de 16 anos e possua número de CPF próprio

Estão abertas as inscrições para os Cursos de Línguas Abertos à Comunidade (Clac), projeto de extensão da Faculdade de Letras da UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Inaugurada em 1988, a iniciativa promove cursos (presencia e remoto) de idiomas dados por alunos da universidade.

Os cursos – que são abertos a toda a sociedade com turmas de 20 a 25 estudantes – são de Francês, Inglês, Espanhol, Japonês, Árabe, Alemão, Chinês, Hebraico, russo, Grego, Italiano, Latim, Português para estrangeiros e Língua Brasileira de Sinais (Libras). Alguns idiomas tem aulas específicas de conversação e leitura. Além disso, o projeto oferece oficinas de redação e de Língua Portuguesa. As vagas serão sorteadas para candidatos interessados em começar no nível inicial. 

Leia mais:
https://mareonline.com.br/a-arte-de-educar/
https://mareonline.com.br/ampliando-vozes-e-transformando-narrativas/
https://mareonline.com.br/favela-champions-luta-pela-paz-promove-campeonato-de-artes-marciais-das-favelas/

As inscrições são para o primeiro semestre de 2024 e podem ser feitas pelo site https://sisclac.letras.ufrj.br/. Para se inscrever, é necessário que o candidato seja maior de 16 anos e possua número de CPF próprio − estrangeiros poderão utilizar o número do passaporte somente se não possuírem CPF. Os cursos contam com uma taxa de semestralidade única no valor de R$ 700,00, mas moradores da Maré são isentos do pagamento. Também é possível o pedido de isenção aos sorteados para as turmas de nível inicial.

Além disso, são isentos de pagamento: beneficiários do Cadastro Único; estudantes com bolsa integral (100%) Pronatec/Prouni; residentes de uma das comunidades do entorno da UFRJ −   campus Cidade Universitária (Vila Residencial ou Conjunto de Favelas da Maré); aluno ativo da graduação da UFRJ com Bolsa Auxílio Permanência, Bolsa Auxílio Moradia ou Bolsa Auxílio PCD; residentes do alojamento da Universidade; alunos da FL − somente para as oficinas de língua portuguesa e de redação; servidores e trabalhadores terceirizados da FL.

Para saber mais, acesse o edital neste link

‘Favela Champions’: Luta pela Paz promove campeonato de artes marciais das favelas

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Primeira edição do Favela Champions acontece no dia 29 de outubro, na Arena Carioca 1, no Parque Olímpico. Whinderson Nunes será embaixador e mestre de cerimônias do evento.

Milhares de jovens cariocas poderão vivenciar o sonho de competir em um palco olímpico. No dia 29 de outubro, na Arena Carioca 1, no Rio de Janeiro, será realizada a primeira edição do Favela Champions, evento da Luta pela Paz para promover o desenvolvimento de alunas e alunos atendidos pelos projetos da entidade.

Quatro modalidades esportivas compõem o quadro de competições do evento: boxe, jiu-jitsu, luta livre esportiva e muay thai. Centenas de atletas estão inscritos para as disputas em cada categoria, todos dispostos a entregar o melhor de si e conquistar o seu lugar no pódio. O ingresso para assistir aos combates é solidário, e poderá ser trocado no local por 1 kg de alimento. As doações serão destinadas às famílias de crianças e jovens atendidos pela Luta pela Paz (LPP) na favela Nova Holanda, na Maré.

Ao longo do intenso dia de competição, o Favela Champions terá ainda apresentação de artistas do Conjunto de Favelas da Maré, sede da Luta pela Paz, e show de encerramento do evento. Acompanhadas pelos responsáveis, as crianças também terão atividades no local, que ainda oferece espaço com food trucks e diversas opções de alimentação. Whinderson Nunes será embaixador e mestre de cerimônias do evento.

“O esporte ensina aos jovens disciplina, coragem, autocontrole, estabelecimento de metas e humildade. Muitos atletas atuais campeões mundiais cresceram em comunidades desfavorecidas, onde apenas ir à academia todos os dias é um desafio. O Favela Champions é o primeiro campeonato de boxe e artes marciais do Brasil que destaca a importância de comunidades como a Maré, onde nasceu a LPP, e de onde vieram muitos campeões e campeãs, e onde tantos jovens talentosos treinam todos os dias para um futuro melhor dentro e fora do ringue e do tatame”

Luke Dowdney, fundador da Luta pela Paz, antropólogo e ex pugilista inglês.

A Luta pela Paz trabalha em comunidades afetadas pela desigualdade social e violência, fazendo com que jovens possam se desenvolver, alcançar o melhor de seu potencial e construir uma sociedade mais inclusiva. Fundada e sediada na Maré, no Rio de Janeiro, a entidade está presente em 25 países por meio de suas academias, programas Comunidade Segura e aliança de parceiros treinados com a metodologia criada pela organização.

Leia Mais:
https://mareonline.com.br/o-esporte-me-levou-a-lugares-inimaginaveis/
https://mareonline.com.br/com-vila-para-pratica-de-esportes-moradores-da-mare-se-tornam-olimpicos/
https://mareonline.com.br/esporte-e-vida/

São 23 anos de atuação, ultrapassando a marca de 250 mil pessoas impactadas em todo o mundo. Multipremiada no cenário internacional, a Luta pela Paz forma atletas e profissionais de diversas áreas no esporte, como treinadores e gestores, impulsionando o ecossistema esportivo nacional. Qualquer pessoa pode contribuir com o trabalho desenvolvido pela instituição. As doações podem ser feitas por meio do site lutapelapaz.org.

Favela Champions:

Data: 29 de outubro (domingo)

Local: Arena Carioca 1, Parque Olímpico

Endereço: Av. Embaixador Abelardo Bueno, 3401 – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro – RJ

Horário: abertura a partir das 9h, finais a partir de 15h

Ingressos: Troca por 1 kg de alimento no local

Classificação: Livre

Mudança climática causou onda de calor no Brasil, diz estudo

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Segundo Rede Mundial de Atribuição, aquecimento da Terra tornou fenômeno 100 vezes mais provável e pesou mais que El Niño

(Priscila Pacheco*) – O aquecimento global agravado por humanos tornou o calor na fase de transição entre inverno e primavera na América do Sul pelo menos cem vezes mais provável, aponta estudo publicado nesta terça-feira (10) pela Rede Mundial de Atribuição (WWA, sigla em inglês). Além do Brasil, altas temperaturas também foram registradas na Bolívia, na Argentina e no Paraguai, chegando a ultrapassar 40 °C em algumas cidades. A análise também concluiu que, apesar de uma influência do El Niño, as mudanças climáticas foram o principal fator da onda de calor.

“Queremos ser claros: um El Niño em desenvolvimento contribui para algum calor, mas, sem as alterações climáticas, um calor primaveril tão intenso teria sido improvável”, diz Lincoln Muniz Alves, pesquisador do Inpe e um dos autores da pesquisa.

É preocupante que temperaturas acima de 40 °C na primavera estejam se tornando comuns em muitas partes do mundo. É uma realidade do nosso clima em rápido aquecimento e agora estamos enfrentando dias perigosamente quentes a cada ano

Izidine Pinto
Climatologista do Instituto Meteorológico da Holanda

O trabalho analisou os dez dias consecutivos mais quentes em agosto e setembro no Brasil central, Paraguai e algumas regiões da Bolívia e Argentina, onde o calor foi mais extremo. Os cientistas utilizaram dados meteorológicos e simulações de modelos computacionais para comparar o clima atual, após cerca de 1,2 °C de aquecimento global desde o fim do século 19, com o clima anterior à era da industrialização. Foram utilizados métodos revisados por pares.

Os pesquisadores afirmam que as ondas de calor extremo na América do Sul fora dos meses de verão teriam sido improváveis sem as mudanças climáticas causadas por humanos, que tornaram as temperaturas regionais entre 1,4°C e 4,3°C mais quentes para a época. O grupo formado por 12 especialistas alerta que essas ondas serão mais frequentes e intensas se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas imediatamente

“É preocupante que temperaturas acima de 40 °C na primavera estejam se tornando comuns em muitas partes do mundo. É uma realidade do nosso clima em rápido aquecimento e agora estamos enfrentando dias perigosamente quentes a cada ano”, diz Izidine Pinto, climatologista que trabalha no Instituto Meteorológico da Holanda. O pesquisador que também participou do grupo da WWA ainda lembrou que as ondas de calor afetam pessoas vulneráveis e perturbam ecossistemas essenciais para regular o clima.

De acordo com o artigo, durante os meses de agosto e setembro, as regiões ao sul do Brasil e países vizinhos enfrentaram um período de temperaturas anormais que durou mais de 50 dias. As capitais brasileiras Cuiabá (MT) e São Paulo (SP), por exemplo, tiveram o início de primavera mais quente dos últimos 63 anos.

O calor extremo ganhou força no dia 17 de setembro em todo o centro-sul brasileiro, mas a partir do dia 24 de setembro a massa de ar quente prevaleceu no centro-norte do país e se estendeu pelo Norte e Nordeste. O pico do evento extremo ocorreu no dia 25 de setembro, com anomalias de mais de 7°C para a época do ano na região Sudeste, sul da Bahia, leste de Goiás e Mato Grosso do Sul e centro-norte do Paraná. Localmente, nas regiões centro e norte do Brasil, as temperaturas ultrapassaram os 40°C. Foi considerado o monitoramento mantido pelo Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (INMET) para a análise.

Com base em estudos recentes, o artigo da WWA destaca que o aumento de eventos extremos de calor impactam na saúde pública. É citado que na América do Sul já existem focos de estresse térmico, quando o corpo começa a sentir sintomas como dor de cabeça, concentrados principalmente na Amazônia e nas regiões norte e central da América do Sul.

A pesquisa lembra que ações simples como beber bastante água e evitar exposição ao sol nos horários mais quentes são importantes para manter a saúde, mas é essencial que os governos desenvolvam e executem planos de ação para lidar com o calor e sistemas de alerta precoce para temperaturas extremas. Os planos de ações para o aquecimento devem garantir a continuidade ou a expansão de serviços essenciais, como acesso à água, à energia elétrica para o uso de aparelhos de refrigeração e preparar os serviços de saúde para receber um fluxo maior de pacientes. As cidades também devem investir na revegetação de áreas urbanas.

Priscila Pacheco é jornalista, colaboradora do Observatório do Clima e co-fundadora da Mural – Agência de Jornalismo das Periferias. Publicado originalmente em #Colabora

Festival Mulheres do Mundo WOW acontece de 27 a 29 de outubro

Após cinco anos, segunda edição presencial do festival promete ser ainda maior

Maré de Notícias #153 – outubro de 2023

A segunda edição do Festival WOW Mulheres do Mundo está chegando para reunir e celebrar meninas e mulheres em toda sua diversidade e com suas perspectivas de mundo. O WOW acontece de 27 a 29 de outubro na Praça Mauá, com curadoria da Redes da Maré. 

Com o olhar coletivo, o festival global idealizado pela Fundação WOW propõe trocas de experiências e compartilhamento de soluções para os desafios do que é ser mulher. O evento valoriza a cultura, a arte, os saberes ancestrais e todo conhecimento feminino.

O WOW Mulheres do Mundo nasceu em Londres, em 2010, e desde então se espalhou por 23 países em quatro continentes. Eliana Sousa Silva, fundadora e diretora da Redes da Maré, é também curadora do Festival. Ela explica que o evento tem a perspectiva de entender os desafios das mulheres, sobretudo as periféricas, e refletir sobre a diversidade delas e o acesso a seus direitos. 

Amadurecimento

Eliana conta quais são as principais diferenças entre esta edição e a de 2018 (a de 2020 foi virtual, por causa da pandemia de covid-19, e por isso é considerada “extraordinária”): 

“Amadurecemos e aprofundamos as pesquisas sobre mulheres que muitas vezes não são vistas e que fazem trabalhos incríveis em muitas partes do Brasil e do próprio Rio de Janeiro. Vamos trazer as questões que realmente afetam a vida das mulheres”, diz.

Segundo ela, “desde a edição de 2018 a gente vem conseguindo entender melhor como estabelecer a apresentação dessa mensagem de celebrar, fortalecer e trocar experiências de maneira mais singular e delicada”.

Com mais de 40 horas de programação e expectativa de público de mais de cem mil pessoas, a edição de 2023 já promete ser a maior da história. Serão mais de 500 convidadas e 200 atividades ao longo dos três dias de evento.

Uma das novidades é a presença de pelo menos 250 empreendedoras na Feira de Negócios Delas.

“É fundamental que tanto a Maré e como outras favelas do Rio de Janeiro se identifiquem com os temas propostos. Que as mulheres que estão na Feira de Negócios Delas — na verdade, todas nós — possam se ver refletidas em todo processo de inclusão produtiva; na produção artística, cultural e também no ativismo, nas campanhas e nas lutas das mulheres“, diz.

“A gente espera conseguir, de fato, envolver o maior número de pessoas que trabalham conosco e com projetos voltados para o direito das mulheres. Esperamos que este seja principalmente um espaço em que as pessoas reconheçam a si mesmas e aos seus territórios, e que seja referência de temas e interesses comuns daquilo que precisamos trabalhar.”

Eliana Sousa Silva, fundadora e diretora da Redes da Maré, e também curadora do WOW Rio.
Show de encerramento da última noite do Festival Mulheres do Mundo em 2018. Foto: Douglas Lopes

Mulheres da Maré

A Maré e suas mulheres aparecem de maneira efetiva no evento, tanto no âmbito dos negócios, das mesas e rodas de conversa, das apresentações artísticas, como na produção e mediação. Essa presença é fundamental para que as representações estejam, de fato, expostas em cada parte do WOW.  Sãos mais de 50 mareenses envolvidas no Festival e Eliana reforça a importância das mulheres de periferia no evento.

Leia mais:
https://mareonline.com.br/wow-conexoes-legado-e-muito-aprendizado/
https://mareonline.com.br/festival-wow-rio-2020-sera-on-line-para-debater-desafios-e-conquistas-das-mulheres-em-tempos-de-pandemia/
https://mareonline.com.br/comeca-no-rio-a-1a-edicao-do-wow-na-america-latina/

Maré presente

Entre as mareenses confirmadas no festival estão a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco; Dyana Gusmão, da Casa Resistência; e a educadora social Rafaela Carvalho; a artista Arcasi; Juliana Marques, do Mulheres Negras Decidem; e Gilmara Cunha, do Conexão G.

Também confirmaram presença a economista Thais Custódio; a fotógrafa e ativista Kamila Kamillo; a ambientalista Lorena Froes; Kelly Santos, que debate as masculinidades; Rayanne Soares e Viviane Carmen, do Luta Pela Paz; Zanza Calixto, do Conselho Tutelar; a assistente social Amanda Mendonça; Priscila Monteiro, do Casulo; Simone Alves, do Mulheres ao Vento; e Lilian Leonel, do Espaço Normal.

Além dos debates e dos desafios para garantir os direitos das mulheres em sua plenitude, o Festival conta com atrações artísticas como Bia Ferreira, Melly, Mc Carol, Deize Tigrona, Lia Rodrigues Cia de Dança e o espetáculo Noite das Estrelas que parou a Maré nos meses de junho e julho, rememorando as apresentações LGBT que aconteciam no território nas décadas de 1980 e 1990.

Legado

Eliana revela que o festival espera deixar um legado de uma grande rede de pessoas que estão trabalhando e inventando, todos os dias, modos de enfrentar a desigualdade dos direitos das mulheres, além de reconhecer a questão de gênero. Ela acredita que é preciso “avançar, fugir do binário para construir outras formas de direitos e reconhecer que as pessoas podem ser o que quiserem. Precisamos criar relações mais humanas e respeitosas”. 

Eliana espera “que em cada edição do Festival a gente contribua para o legado de um mundo que possa ser construído todos os dias e por todos nós, se estivermos abertos a acolher as pessoas do jeito que elas são”. Você encontra a programação completa no perfil do festival no Instagram (@festivalwowrio) e no site https://www.festivalmulheresdomundo.com.br. É necessário garantir ingresso gratuito para garantir acesso a programação do festival pelo site da Bilheteria Digital.