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Esquenta WOW ‘Corpo, Saúde e Cuidado’ estreia na Maré

O Esquenta WOW “Corpo, Saúde e Cuidado” promoveu um marco histórico como a primeira edição deste evento realizado na na Maré. Reunindo mulheres, crianças e jovens para um dia de diálogos inspiradores, reflexões profundas e celebração da luta feminina, o evento estabeleceu um tom emocionante para a série de encontros que antecedem o Festival Mulheres do Mundo (WOW) Rio 2025.

Desde o início da manhã do último sábado (6), até o cair da noite, os espaços da Maré pulsavam com atividades que abordavam questões vitais relacionadas à saúde e aos direitos das mulheres. A exibição do filme “Levante”, seguido por uma mesa redonda com convidadas especialistas, provocou debates intensos sobre a descriminalização do aborto no Brasil e os desafios enfrentados pelas mulheres em busca de justiça reprodutiva.

A energia contagiante do evento não foi apenas refletida nas discussões profundas, mas também nas diversas atividades que engajaram mulheres de todas as idades. Oficinas práticas, performances artísticas e intervenções culturais enriqueceram o dia, proporcionando momentos de aprendizado, expressão criativa e conexão genuína entre as participantes.

“Estamos verdadeiramente emocionadas com o sucesso do Esquenta WOW ‘Corpo, Saúde e Cuidado’ nesta primeira edição realizada na Maré”, afirma Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré.

“Testemunhar tantas mulheres, crianças e jovens reunidos para celebrar nossa luta e resistência, enquanto discutimos questões fundamentais para nossa saúde e direitos, é uma inspiração para toda a Maré e além.”

A atmosfera inclusiva e acolhedora do evento permitiu que mulheres de diferentes origens e experiências se unissem em solidariedade e apoio mútuo. Foi uma oportunidade única para fortalecer a rede de apoio e ativismo entre as mulheres, construindo laços duradouros e impulsionando a busca pela igualdade de gênero.
“À medida que nos despedimos deste primeiro encontro emocionante, olhamos com entusiasmo para as próximas edições do Esquenta WOW, ansiosas para continuar essa jornada de diálogo e celebração da diversidade feminina. Juntas, estamos transformando nossas comunidades e construindo um futuro mais justo e igualitário para todas as mulheres”, afirmou Eliana.

Para mais informações sobre o Festival Mulheres do Mundo (WOW) Rio e eventos futuros, visite o site oficial em www.festivalmulheresdomundo.com.br

Cultura é participação popular: mareenses refletem e opinam sobre cultura na Maré

Edição #159 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

A participação popular na cultura foi e continua sendo fundamental na construção da identidade da Maré, refletindo suas tradições, valores e expressões artísticas. A cultura popular se manifesta de diversas formas, desde festas e bailes consagrados, até produções artísticas contemporâneas que ganham destaque nas redes sociais e plataformas de streamings. 

A cultura mareense também desempenha um papel importante na promoção da diversidade e da inclusão. Além disso, ajuda a denunciar violações e visibilizar a luta por direitos, dando voz a grupos historicamente marginalizados e celebrando a criatividade dos moradores. Uma cultura de resistência. 

A cultura na Maré é viva e dinâmica, em constante transformação, mas baseada e fincada na memória dos que vieram antes. É uma cultura popular, que se expressa de forma autêntica e original. É uma cultura de resistência, que denuncia as desigualdades sociais e luta por uma sociedade mais justa. 

Os moradores das favelas da Maré são parte da construção do caderno de cultura que nasce a partir deste mês no nosso jornal impresso. E por isso, o Maré de Notícias quis saber: 

O que é cultura pra você, morador? E o que não pode faltar aqui nas páginas? 

Patricia dos Santos – Baixa do Sapateiro

Cultura pra mim é o conjunto de hábitos, artes, crenças e talentos de um povo. Aqui temos muitos artesãos e gostaria muito de ver o artesanato da Maré.

Edson Ferreira – Morro do Timbau

É algo que a gente faz e produz, que nos traz alegria, saúde, que nos faz sair do digital e conecta ao território da Maré.

Quero ver no caderno oportunidades de dança, esporte, música, a Capoeira e que conecte todas as idades para ter mais bem estar. 

Lucas Pinheiro – Nova Holanda

Pra mim, cultura é a forma de você mostrar sua arte, suas raízes, seus ancestrais. Meus bisavós eram indígenas e seria bom ver no caderno de cultura um pouco de cada cultura ancestral que chegou na Maré. 

Walmyr Júnior – Marcílio Dias

Cultura é identidade, aquilo que caracteriza um povo, cultura é tradição histórica, é lazer, é expressar, é sorrir, é trocar, cultura é muita coisa. Já que cultura também é memória, gostaria de ver um espaço sobre a produção da memória na Maré, fazendo um resgate das nossas zonas praianas, da nossa história com imagens e relatos de moradores antigos. 

Greta Antonella da Costa – Vila dos Pinheiros

Cultura pra mim, está ligada diretamente a quem somos. Eu passei parte da minha vida desenhando, criando croquis de moda e fazendo arte digital. E então, a minha visão sobre cultura é isso: é a arte, é o estudo, é deixar seus sentimentos e pensamentos fluírem a partir da sua própria arte, que, em conjunto vira a cultura propriamente dita. Eu gostaria de ver algo que pouquíssima gente se interessa: as mãos por trás das pinturas dos bate-bolas. São artistas extremamente talentosos!

Juraci Alves – Nova Maré

Gostaria de ver atividades pros idosos se distraírem, dança, uma roda de samba.  Tem tanto tipo de cultura no mundo e a nossa quem inventou foram os indígenas, que fizeram nossa arte, que são inteligentes e nossa origem. 

Uesdley Pitanga – Parque União 

Cultura é arte, música, teatro, a culinária de cada lugar. Cada povo tem seus hábitos e suas formas de convívio que forma o âmbito cultural. O que eu entendo é isso.

Gostaria que tivesse no caderno, mais passeios culturais para as crianças para conhecerem tanto a Maré quanto pontos turísticos do Rio de Janeiro. Também poderiam ter atividades extras sobre cultura nas escolas e ambientes culturais que pudéssemos deixar nossos filhos.

Cooperativismo: um trabalho humanizado

Método prioriza a coesão das pessoas na coletividade

O símbolo dos dois pinheiros pintados juntos significa a união e concordância, remete ao cooperativismo. Esse tipo de árvore tem uma vida longa e por isso a escolha dela para representar as cooperativas, simbolizando perseverança e uma trajetória duradoura. Essa é a essência do cooperativismo: a adesão de pessoas com o mesmo pensamento de serem sócios e respeitando a coletividade. Com o passar do tempo algumas “empresas” levam o nome de cooperativas, mas não utilizam os seus fundamentos.

A ideia do cooperativismo nasceu em 1844, no interior da Inglaterra. Na época, um grupo de 28 trabalhadores se veem numa situação financeira ruim, sem dinheiro para conseguir comprar o básico. Uma solução que encontraram foi se unirem para montar um armazém, comprando alimentos em grande quantidade para conseguir preços melhores. 

Já no Brasil a formalização em cooperativas só veio após a década de 1880. A organização em coletividade surge em Minas Gerais, com a Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto. O trabalho do grupo viabilizava a distribuição e consumo de insumos agrícolas. A inovação veio em 1969, com a criação da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que representa os interesses e necessidades do cooperativismo, amparada pela Lei 5.764/71. A Lei define a Política Nacional de Cooperativismo, instituindo o regime jurídico das sociedades cooperativas. Outro passo importante foi a concepção do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), junto com a Constituição de 1998, que prioriza a formação, ensino, capacitação profissional e promoção social dos trabalhadores.

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o cooperativismo permite o desenvolvimento coletivo e auxilia no crescimento da economia local, criando um ambiente de prosperidade. As cooperativas são formadas por profissionais que se unem em torno de um mesmo objetivo para fornecer produtos e serviços a preços competitivos. Os seus participantes são donos do negócio, utilizando a mesma composição administrativa e recursos operacionais, sendo assim conseguem a redução de custos.

De acordo com o Sebrae, o cooperativismo tem sete princípios e sete ramos reconhecidos pela Aliança Cooperativa Internacional (ICA, em inglês) sendo os princípios: adesão livre e voluntária; gestão democrática; participação econômica; autonomia e independência; educação, formação e informação; intercooperação e interesse pela comunidade. Já os sete ramos referem-se aos diferentes setores nos quais o cooperativismo pode atuar, sendo eles: agropecuário, do crédito, dos transportes, do trabalho e produção de bens e serviços, da saúde, do consumo e da infraestrutura.

Cooperativas na Maré

Na Maré, uma das pessoas que mais falou de cooperativa foi Amaro Domingues, mais conhecido como Seu Amaro. Em 1998, uma das reclamações era que ninguém dava emprego para quem falasse que era morador da Maré. Então, Seu Amaro foi um dos fundadores da Coopjovem Maré, que conseguiu por oito anos uma parceria com o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Fundão), que coloca moradores no quadro de trabalho. 

O ramo de transporte também tem as suas cooperativas na Maré. No passado, havia a sede da Transcoopass, cooperativa de táxi na Baixa do Sapateiro. Já no Morro do Timbau se encontra a cooperativa de táxi Cootramo. Uma das regras para a legalização do transporte alternativo na cidade do Rio de Janeiro era por meio da criação de cooperativas. Uma delas foi da linha de vans 818, que ligava a Nova Holanda ao Norte Shopping, no Cachambi. “Abrimos a cooperativa há mais de dez anos para esse trabalho com a Prefeitura, mas não durou muito. Não conseguimos aplicar a metodologia do cooperativismo, pois não entendíamos muito bem”, conta Valdete Pergentino, que administrava a linha 818. Para ela, o trabalho por meio da criação de uma empresa foi menos complicado.

O cooperativismo tem como desafio o entendimento de seus membros para não se transformar numa simples empresa. Além de ser um mecanismo de fortalecimento do trabalhador, uma cooperativa tem como potencial ser uma grande ferramenta contra o desemprego. O site G1 divulgou o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2022, publicação do Sistema OCB, que informa que no Brasil há 763 cooperativas que contribuem para melhorar a vida de 13,9 milhões de cooperados, movimentando R$ 518,8 bilhões em crédito.

O que é ser um jornalista de favela?

Sobre a ambiguidade da vida de jornalista na favela, uma homenagem a todos os colegas de profissão

“Jornalista não pode ser preguiçoso”, ouvi uma vez na faculdade e não esqueci mais. Embora ser jornalista não se resuma apenas à disposição, aquele que vem da favela tem a vantagem de já estar acostumado com a correria. Subindo morro, andando sem sombra de árvore ao meio-dia com o sol castigando, trabalhando desde cedo. Pensando no que escreveria para o Dia do Jornalista, comecei a observar, a semana ficou longa, o tempo passou rápido e a vida foi acontecendo.

Faltou luz, faltou água, teve as feiras, os bares tocando suas músicas, motos, carros e as bicicletas fazendo “o corre”. Aí está, ser jornalista na favela é fazer sempre matérias enquanto você participa delas. É ambíguo. Escrever ao som do brega no bar em frente à redação. Relatar o problema e viver a situação, desde a queda de luz, a falta da internet, a de água e a operação policial. É também entender o outro, se identificar nele e ser consolador quando queria ser consolado. É ainda ter a capacidade de fazer o que quiser, com a sagacidade de favelado, e mesmo assim se colocar como um aprendiz.

É pensar em estratégias para escapar da mesmice. Ler sobre a favela nos olhos de quem nunca pisou nela e não aceitar a visão distorcida e incompleta da realidade. Ser jornalista de favela é ser sensível, ao mesmo tempo que precisa ser forte. Ser subjetivo num espaço que valoriza a objetividade. Ser espectador e protagonista, inconformado e indignado. Ser vizinho do entrevistado, amigo ou parente, afinal, na favela de longe ou de perto todo mundo se conhece. O jornalista de favela é aquele que escreve e ouve da sua janela o que os vizinhos estão falando das notícias na TV. É ser coletivo e solitário.

É também se ver no outro, nos colegas de profissão e de redação, nos jornalistas comunitários que têm a paixão e o brilho no olhar. É se alegrar em cada matéria, nas palavras de ternura e nos comentários de incentivo. É aceitar as críticas como novas oportunidades de crescer. Saber que na favela todo mundo tem seu momento e seu espaço, ou pelo menos deveria. Ser jornalista de favela é não ser compreendido muitas vezes quando não concorda com a maioria, mas compreender porque aceitar a profissão é saber que muitas vezes você vai discordar.

Ser jornalista, de favela ou não, é saber que você não está no centro do holofote, mas pode ser o operador que joga a luz onde precisa. Na favela, o jornalista é mais uma figura comum, mas que não se acostuma e sabe que não devia.

Vale a pena ler de novo: Confira 3 matérias sobre saúde

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No Dia da Saúde, o Maré de Notícias traz uma seleção especial de matérias para você cuidar do seu bem-estar físico e mental.

Vacinar ou não vacinar? Não existe a questão” – Especialistas discutem razões e soluções para a queda da cobertura vacinal, que pode trazer de volta doenças já controladas ou eliminadas do Brasil

“Como o passado escravocrata ainda afeta a saúde dos homens negros?” – Uma reflexão sobre os impactos do legado da escravidão na saúde dos homens negros e como podemos trabalhar para superar essas questões históricas.

“Especial saúde mental: saiba onde encontrar apoio psicológico” – Encontre recursos e locais onde buscar apoio psicológico para cuidar da sua saúde mental e emocional.

Acesse essas matérias e cuide de você. Sua saúde é prioridade! Continue acompanhando o portal online do Maré de Notícias.

Fios de empoderamento: a empreendedora por trás da Bell Máx

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Da ancestralidade à expressão pessoal, o caminho de uma visionária

“É necessário sempre acreditar que o sonho é possível, que o céu é o limite e você, truta, é imbatível” canta Racionais na música “A vida é um desafio” de 2002. Não desistir dos seus sonhos talvez seja o ingrediente principal para fazer os cremes e perfumes para cabelos crespos da Bell Máx: uma criação da petropolitana Rayane Carvalho, de 33 anos, moradora da Nova Holanda aqui na Maré. Fã de Racionais, a empreendedora busca, com seus produtos aumentar a autoestima, reforçar a beleza das crianças e o empoderamento de mulheres negras.

“Trabalhar a autoestima das crianças prepara elas para o mundo” afirma Rayane. Ela aprendeu a fazer seu produto com sua avó, e com o tempo entendeu os cuidados com o cabelo com as ligações com as raízes africanas e usando conhecimentos de ciência ancestral negra depois de vários testes feitos em casa, encontrou a fórmula certa para seus cremes. “Minha vó tinha misturas dela que faziam o cabelo ficar mais hidratado. Quando eu era criança eu sofria muito bullying por causa do meu cabelo, os meninos colocavam chiclete, faziam deboche e eu ficava triste pensando ‘por que meu cabelo é assim?’ “ relembra.

Apenas há alguns anos a empreendedora passou a reconhecer sua própria beleza. Seu empoderamento é fruto dos aprendizados em rodas de samba e grupos de estudo promovidos pela comunidade preta de estudos africanos, Kubata. Rayane também faz parte da roda “Samba de kubata”. “Imagina se a gente cria essas crianças assim, como elas vão ser quando crescer? É muito mais difícil alguém desanimar a gente quando sabemos do nosso valor”. No início, Rayane cuidava apenas do cabelo de parentes, depois passou a expandir seus atendimentos. 

Apesar do produto ser focado em cabelos cacheados e crespos, Rayane conta que ele pode ser usado em todos os tipos de cabelos. (Foto: Gabi Lino / Maré de Notícias)

Hoje, toda a renda da empresária é fruto dos cremes e perfumes de cabelo e os atendimentos. O valor mínimo do tratamento com os cremes da Bell Max é R$50, o perfume para os cabelos custa R$25. Rayane atende as clientes na laje do prédio onde mora, faz atendimentos também a domicílio e envia os produtos para todo o Brasil. 

Futuramente ela sonha em ter seu próprio salão e poder ensinar outras profissionais de beleza e com isso multiplicar os atendimentos gratuitos e o empoderamento das crianças negras. Além disso, quer poder ajudar sua família que mora em Petrópolis, mas com brilho no olhar conta do orgulho que sua mãe sente, aliás, uma curiosidade: O nome da marca é uma homenagem a sua mãe que se chama Izabel. 

Sobre a fórmula secreta, ela conta que está sendo ajudada para registrar sua marca. Levou seu trabalho para a Expo Favela, uma feira de empreendedorismo favelado que acontece em várias cidades no Brasil, através desta oportunidade fez parcerias e foi mostrar seu trabalho em outros lugares. Na Expo Favela, Rayane conheceu o rapper Edi Rock do Racionais, e mostrou sua marca: “ele falou para mim ‘não desiste não, parabéns negrona!’ realizei meu sonho! Agora só falta o Mano Brown “, finaliza.