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Para onde vai o nosso lixo?

A coleta de lixo das 16 favelas da Maré foi um dos serviços básicos que não parou durante a pandemia

Maré de Notíciais #119 – dezembro de 2020

Por Thaís Cavalcante

O isolamento social, motivado pela pandemia de covid-19, interrompeu as atividades presenciais nas áreas culturais, educacionais e comerciais. O que não parou foi o consumo e o descarte de lixo, assim como a sua coleta. Nas 16 favelas da Maré, todos os dias são produzidas em média, 200 a 250 toneladas de lixo domiciliar, lixo público e resíduos de construção civil, de acordo com a Comlurb.

Os garis estão desde o início na linha de frente da coleta, que é o carro-chefe da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb). “Mesmo com alguns colaboradores afastados por causa da covid-19, a Comlurb manteve 80% dos seus serviços [na Maré], como varreduras, roçada mecanizada, raspagem de terra e lama, entre outros. Já a coleta, mantemos 100%”, conta Marcos William, Gerente de Divisão ND30M da Comlurb Maré e atuante há 15 anos no território.

Entender a particularidade de cada favela é fundamental para o trabalho. A Vila do João, por exemplo, é o local com maior quantidade de lixo, pois tem uma maior extensão. O modelo de coleta de lixo também não é o mesmo em todas as favelas. Umas têm gari comunitário, outras, só o gari da Comlurb, outras ainda, os presidentes de associação de moradores pagam garis particulares para reforçar a limpeza das ruas. 

Um incômodo que gera muita reclamação dos moradores é a falta de coleta aos domingos. Ou quando é feita, acontece em pequena quantidade. Marcos informou que a coleta é diária, mas, aos domingos, há sim a dificuldade de circulação dos caminhões compactadores nas ruas, por causa de grandes eventos locais, como feiras, festas de aniversário e bailes funk

Garis Comunitários em extinção

A população também sente a diferença da coleta no dia a dia por outro motivo: a quantidade de garis comunitários tem sido reduzida gradativamente, atendendo a decisão judicial do Ministério Público do Trabalho para que sejam substituídos por garis concursados da Comlurb. Em 2019, o gasto previsto para o programa foi de R$ 7 milhões, menos da metade de 2018. Procurado, o Ministério Público não disse os motivos de tomar essa decisão ou quanto está sendo gasto pelo programa este ano.

O trabalho dos garis comunitários é um diferencial pela proximidade do trabalhador com o território. Não à toa, as ruas internas são justamente de responsabilidade desse profissional. A Comlurb informou que todo o território da Maré é atendido por 50 garis comunitários e 76 garis da Companhia. Não estão incluídos os afastados por questões médicas ou por conta das medidas preventivas adotadas em relação à covid-19, pertencentes ao grupo de risco e pessoas com mais de 60 anos.

O Portal 1746 funciona?

O Maré de Notícias solicitou um serviço de reparo dia 28 de setembro pelo Portal da Prefeitura 1746, com o protocolo de “Obras de reparo, canalização ou limpeza de rio, canal ou valão” para a retirada de lixo e entulho do valão localizado na Nova Maré. Quando um pedido é feito no Portal, a solicitação é encaminhada para o órgão responsável e tem o prazo de 20 dias úteis para ser atendida. Pouco mais de um mês, a solicitação não pôde ser concluída por estar em fase de captação de recursos para realizar os serviços de desobstrução e limpeza para a melhoria das condições de escoamento d’água no rio. Nossa equipe foi até o local verificar, e parte do lixo acumulado foi retirado, e a capinagem foi feita no entorno do valão, mas o serviço de desobstrução e limpeza não tem previsão para ser iniciado.

Quantidade de garis comunitários está reduzida por conta de um pedido do Ministério Público do Trabalho – Foto: Douglas Lopes

Por uma Maré mais limpa e verde

Henrique Gomes é articulador territorial e institucional da Redes da Maré e mora na Baixa do Sapateiro. Ele explica que existem dois lados da mesma realidade e que os dois buscam a mesma coisa: a melhoria local, mas o diálogo precisa ser mais frequente. “Os garis conhecem bem a favela e os pontos de lixão, usando o carrinho onde mais tem becos e o caminhão nas ruas largas. Os moradores, às vezes, não conseguem guardar o lixo dentro de casa por causa do pouco espaço e mau cheiro do lixo, por exemplo”, observa Henrique. 

Mas a responsabilidade para o descarte do lixo não é só de quem o recolhe. Todos os cidadãos têm a cogestão e responsabilidade social nesse cuidado. Seja ao fazer a separação de embalagens em casa para facilitar a reciclagem; não jogar lixo ou entulho em local inadequado; ter consciência ambiental ao consumir um produto; criar hábitos sustentáveis e muito mais. O benefício é individual e coletivo.

Julia Rossi, pesquisadora e coordenadora de projetos socioambientais na Redes da Maré, defende que a educação é uma solução que pode ser aplicada a longo prazo, assim como mais investimento em infraestrutura e na compostagem. “Ela [educação] é a chave para que as pessoas entendam a importância de se ter uma organização com seu lixo, de onde vem, o que se consome e muito mais. Na educação ambiental, muita coisa pode ser aproveitada: o lixo orgânico pode virar composto, por exemplo”. Ela conta ainda que todas as soluções colocadas precisam de ajuda do poder público, justiça ambiental e acesso aos direitos básicos.

Com a mesma percepção, o Muda Maré, projeto de educação ambiental e agricultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Maré, apresenta a importância de iniciativas locais para minimizar o impacto do lixo no cotidiano mareense. “A reciclagem faz parte da vida de muitos moradores, mas às vezes a gente não reconhece isso como uma iniciativa de grande impacto, mas é. Como o movimento que existe para reciclar máquinas de lavar roupa. Além disso, há uma alternativa criada pelos próprios moradores de não jogar lixo em determinados terrenos, criar hortas ou plantar árvores. Isso mostra a potencialidade de atuação como agente de transformação ambiental. Assim como os catadores autônomos, cooperativas e espaços de reciclagem”.

O grupo declara, ainda, que o fortalecimento e a visibilidade de iniciativas locais que focam na questão ambiental precisam de mais articulação e redes de discussão e mobilização. “Acreditamos no potencial da educação ambiental como alternativa de longo prazo para mobilização comunitária em torno da questão do saneamento, do direito à cidade e da capacidade local de produzir mudanças”.

CALENDÁRIO DE COLETA DE LIXO NA MARÉ [COMLURB]

A coleta de lixo em caminhões compactadores é feita nas ruas principais de grande comércio, dentre outras ruas, de cada favela. 

Dias e horários: segunda a sábado, a partir das 6h até 14h20. 

Confira as ruas principais:

  • Baixa do Sapateiro – Rua Canaã; Rua do Serviço; Rua Pedro Torres;
  • Bento Ribeiro Dantas –  Av. Bento Ribeiro Dantas; Av. Guilherme Maxwell;
  • Conjunto Esperança – Rua Moreira Pequeno; Rua Manoel Ribeiro Vasconcelos; Av. do Canal 1;
  • Conjunto Pinheiro – Rua Via B9; Av. do Canal 2;
  • Morro do Timbau – Rua Nova Jerusalém; Rua Caetés; Rua Capitão Carlos;
  • Nova Maré – Rua Principal; Rua Tancredo Neves;
  • Nova Holanda – Rua Teixeira Ribeiro; Rua Principal;
  • Parque União – Rua Ary Leão; Rua Roberto da Silveira;
  • Parque Rubens Vaz – Rua João Araújo; Rua Massaranduba;
  • Praia de Ramos – Rua Gerson Ferreira; Av. Guanabara;
  • Roquete Pinto – Rua Urucuri; Vila Sampaio;
  • Salsa e Merengue – Rua Projetada A até a Rua Projetada H;
  • Vila do João – Rua 14; Rua 7;
  • Vila do Pinheiro – Rua Via 1; Rua Via B1;

A coleta de lixo em microtratores é feita nos becos, vielas e travessas de cada favela em dias alternados. 

Dias e horários: segunda, quarta e sexta-feira ou terça, quinta e sábado, a partir das 6h até às 14h20.

Os trabalhos são realizados com o apoio de oito microtratores, duas pás carregadeiras, seis caminhões compactadores e oito caminhões basculantes, entre outros equipamentos. Também com oito caixas metálicas de 5 metros cúbicos, oito compactadoras de 15 metros cúbicos, duas de 30 metros cúbicos, além de 105 contêineres. 

(Fonte: Comlurb/Maré).

Ronda Maré de Notícias: Rede privada de saúde está com 98% de ocupação dos leitos

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Regiões do estado fazem transferência de pacientes por não terem leitos na rede privada

Por Andressa Cabral Botelho, em 11/12/2020 às 19h07
Editado por Dani Moura

Mesmo com a abertura de leitos na rede privada, o número de ocupações permaneceu em 98%, o que significa que a demanda tem sido muito grande devido ao aumento dos casos. Segundo Graccho Alvim, diretor da Associação de Hospitais Privados do Estado do Rio, caso a curva aumente, o sistema de saúde da cidade vai entrar em colapso na rede privada de saúde. Em outras localidades do estado, como Região dos Lagos e da Baixada Fluminense, a ocupação já atingiu a taxa de 100% nos hospitais privados. Algumas unidades estão transferindo pacientes para Niteroi, que tem 88% de ocupação dos leitos privados.

Nesta sexta-feira (11), a taxa de ocupação de leitos de UTI para covid-19 no município do Rio é de 93% nas unidades municipais, estaduais e federais, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. São 1.428 pessoas internadas em leitos especializados, sendo 598 em UTI. Além disso, 389 pessoas aguardam transferência para leitos na capital e na Baixada Fluminense, sendo 198 para leitos de UTI para covid-19.

Na cidade do Rio tem até o momento 150.072 pessoas contaminadas e 13.882 pessoas que morreram em decorrência do novo coronavírus. Nesta sexta-feira (11), 1.388 novos casos foram confirmados na cidade, de acordo com o Painel Rio COVID-19. Ainda segundo o painel, a Maré tem 1.112 casos confirmados e 137 mortes. Já de acordo com o Painel dos Invisíveis, a Maré tinha 2.249 casos e 158 mortes. O estado do Rio de Janeiro tem até hoje 384.942 casos e 23.630 mortes confirmadas pelo novo coronavírus.

Suspensão de exame que define tratamento para HIV

Em meio ao dezembro vermelho, data em que se fala sobre prevenção e cuidados sobre HIV/aids, o governo federal, através do Ministério da Saúde, suspendeu temporariamente os exames de genotipagem de HIV e de hepatites virais. Sem eles, não é possível identificar e definir qual o melhor tratamento para as pessoas que vivem com o vírus. O motivo para a suspensão da realização dos exames é o fim do contrato com a empresa responsável pela realização dos mesmos. Em outubro, um mês antes do fim do contrato, o Ministério da Saúde foi em busca de uma nova empresa, sem sucesso.

Dezembro Laranja

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), promovem o “Dezembro Laranja”, iniciativa para se pensar na Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer da Pele, tendo em vista o crescente número de casos. A estimativa é que o estado do Rio registre, até 2022, mais de 20 mil novos casos por ano. No Brasil, o câncer de pele é o que mais ocorre no Brasil, com cerca de 180 mil novos casos. Pensando nisso, a campanha deste ano destaca que a exposição solar desde a infância pode ser responsável tanto pelo envelhecimento quanto no desenvolvimento do câncer de pele. Em decorrência da pandemia, o exame preventivo gratuito vai ser realizado de forma virtual. Saiba mais no site da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Alergia: verão também é época de tratar

Embora o inverno seja conhecido como a estação em que as alergias se agravam, o verão também inspira cautela. Afinal, a estação traz fatores que podem desencadear esse tipo de reação, como maior exposição aos raios solares, aumento do uso de ar-condicionado, picadas de insetos – que se proliferam bem mais nessa época de calor e chuvas frequentes – e variação de temperatura. Esses fatores podem levar a quadros de reação alérgica com reflexos na pele e no sistema respiratório, entre outras complicações. 

A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (AsBAI) estima que, no Brasil, 30% da população tenha algum tipo de alergia. As crianças são maioria: 20%. A alergia necessita de tratamento e cuidados que precisam ser mantidos durante todo o ano, especialmente em momento de pandemia. Então, a chegada do verão é de alerta. Confira no site da ASBAI algumas recomendações em caso de alergias.

Museu da Maré lança livro “Maré em 12 tempos”

Na última quarta-feira (9), o Museu da Maré lançou o livro Maré em 12 tempos durante a Feira do Conhecimento Digital – Iniciativas em Cooperação Social da Fiocruz e Museologia Social da Maré. A obra foi inspirada na exposição permanente de mesmo nome e reúne textos  e fotos do território feitas por moradores e convidados.

Luta Pela Paz ganha Prêmio Melhores ONGs 2020

Nesta quinta-feira (10), a organização Luta Pela Paz, na Nova Holanda, uma das 16 favelas da Maré, foi premiada como uma das 100 melhores ONGs do país no ano de 2020. O Prêmio Melhores ONGs reconhece organizações brasileiras do 3º setor por atividades desenvolvidas e ações nos campos da transparência, governança, comunicação e financiamento. A premiação acontece anualmente pelo Instituto Doar, AMBEV Voa e O Mundo que Queremos. Para assistir a cerimônia de premiação, clique aqui.

Museu da Imagem Itinerante da Maré (MIIM) faz vaquinha

O MIIM criou uma vaquinha on-line para apoiar quatro exposições virtuais que pretende fazer em 2021. A proposta é contribuir com os artistas locais participantes que irão apresentar ao longo do ano mostras artísticas e visuais sobre o Conjunto de Favelas da Maré, no Rio. O MIIM é um projeto museológico que valoriza a memória local através de um museu de caixa, criado pelo artista visual Francisco Valdean. As obras da exposição serão publicadas no site do museu. Para doar, clique aqui.  

Agenda Cultural

Hoje (11/12) tem o Festival Zum, também em versão virtual, que abre  com uma palestra de Lilia Schwarcz sobre a relação entre imagem e poder. Em seguida, a artista Rosana Paulino conversa com a filósofa Denise Ferreira da Silva a respeito de história, arte e antirracismo.

Neste fim de semana (de sábado para domingo) acontece Virada Cultural 2020, com transmissões virtuais e através de intervenções urbanas sem público. Entre os destaques estão shows de Elza Soares, Criolo, Arnaldo Antunes e Renan da Penha, entre outros, direto do Theatro Municipal. O mote é “Tudo de arte, nada de aglomeração”.

No domingo, a Coletiva Profanas de artistas trans periféricas estreia a performance FURA! em live realizada pelo Centro Cultural da Diversidade.

Na segunda, os pensadores Viviane Mosé e Ailton Krenak encerram a série Diálogos Imprevisíveis, do Instituto Estação das Letras, com um debate sobre a velocidade da vida moderna.

E uma dica incrível para quem curte artes gráficas e design: acontece amanhã (12), a partir das 8h30, o DiaTipoX, edição online independente e gratuita do principal evento brasileiro de tipografia. Serão palestras e entrevistas com tipógrafos, calígrafos, designers, pesquisadores e demais entusiastas das letras. Clique aqui para se inscrever. A transmissão acontece pelo Twitch do Tony de Marco, designer do canal Meio.

Perdeu as notícias da semana? O Maré de Notícias acha para você!

Segunda-feira (07/12)

Como água do Rio Guandu chega nas torneiras da Maré, pelo data_lab. Leia mais 
Vítima de ação policial na Maré tem alta, pela Redação.  Leia mais
A polícia não vai mudar, por Silvia Ramos, coordenadora do CESeC.  Leia mais 
Moradores da Maré se organizam e arrecadam alimentos durante a pandemia, por Hélio Euclides. Leia mais
Direitos Humanos para todos os humanos, por Andressa Cabral Botelho. Leia mais 

Terça-feira (08/12)

Ações no Rio marcam 1000 dias sem Marielle Franco e Anderson Gomes, por Edu Carvalho. Leia mais
Propaganda: um dos segredos da gastronomia na Maré, por Thaís Cavalcante. Leia mais
Um laboratório de memórias na Maré? Por Mariane Rodrigues. Leia mais

Quarta-feira (09/12)

Prêmio Escolas do Futuro está com inscrições abertas, por Thaís Cavalcante. Leia mais
Confronto entre grupos armados assusta moradores da Maré, por Redação. Leia mais.

Quinta-feira (10/11)

Fiocruz indica que cinco mil pessoas morreram com covid-19 por falta de leitos em UTI no Rio, por Edu Carvalho. Leia mais.
Oportunidade: Maré de Notícias seleciona comunicador/a/e para fazer parte da equipe. Leia mais.

Sexta-feira (11/12)

Um vírus que adormeceu, mas não desapareceu, por Hélio Euclides. Leia mais.
Após cobrar medidas para ‘’ADPF das Favelas’’, Supremo decide realizar audiências públicas para plano de redução da letalidade no Rio, por Edu Carvalho. Leia mais.

Após cobrar medidas para ‘’ADPF das Favelas’’, Supremo decide realizar audiências públicas para plano de redução da letalidade no Rio

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 As audiências devem acontecer em Brasília e no Rio, no primeiro trimestre de 2021

Por Edu Carvalho, em 11/12/2020 às 16h15

Editado por Daniele Moura

Depois de cobrar o cumprimento da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos relativa ao estabelecimento de metas e políticas de redução da letalidade e da violência policial, a serem verificadas pelo Judiciário e Ministério Público do Estado, além do Conselho Nacional do Ministério Público, o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin publicou um novo despacho nesta sexta, 11.

Juntamente com o ministro, assina a medida o Procurador-Geral da República Augusto Aras, implementando a realização de audiências públicas no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental número 635, a chamada ‘‘ADPF das Favelas’’,  impetrada em novembro de 2019 e  proposta coletivamente pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Educafro, Justiça Global, Redes da Maré, Conectas Direitos Humanos, Movimento Negro Unificado, Iser, IDMJR, Coletivo Papo Reto, Coletivo Fala Akari, Rede de Comunidades e Movimento contra a Violência, Mães de Manguinhos, todas entidades e movimentos sociais reconhecidas como amici curiae no processo. 

Os encontros terão como objetivo a coleta de informações para subsidiar o Estado do Rio de Janeiro na realização de um plano de redução da letalidade policial, além de auxiliar o Conselho Nacional do Ministério Público na fiscalização da atuação policial. As audiências devem acontecer em Brasília e no Rio, no primeiro trimestre de 2021. 

O feito se dá após o Rio de Janeiro voltar a registrar crescimento de mortes em decorrência de operações policiais nas favelas. No final de novembro, o Maré de Notícias abordou o caso (leia aqui). 

Desde junho, as operações policiais no Rio estavam suspensas durante a pandemia de covid-19, salvo em hipóteses absolutamente excepcionais, que devem ser devidamente justificadas por escrito pela autoridade competente, com a comunicação imediata ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. 

Um vírus que adormeceu, mas não desapareceu

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Taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 na rede municipal é de 99%; enfermaria é de 87%. 

Por Hélio Euclides em 11/12/2020 às 13h

Editado por Edu Carvalho 

Parece que a vida voltou ao normal: aumento exponencial de pessoas nas ruas, o não respeito ao distanciamento e a ausência do uso da máscara. Desde junho, quando foram adotadas as medidas de flexibilização do combate ao novo coronavírus, o cenário é este. Cinco meses depois, os resultados das decisões apresentam índices negativos, com crescimento na ocupação de enfermarias e das unidades de tratamento intensivo (UTIs) para pacientes com coronavírus. No registro de dados apurados no dia 10 de dezembro, a taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 na rede SUS – que inclui leitos de unidades municipais, estaduais e federais – no município é de 99%. Em toda regulação estadual, mais de 250 pacientes com casos mais graves aguardam por transferência. Já a taxa de ocupação dos leitos de enfermaria é de 87%. A rede privada de hospitais está em 98% dos leitos ocupados, de acordo com Graccho Alvim, diretor da Associação de Hospitais Privados do Estado do Rio.

A Prefeitura informou que o Hospital de Campanha da Prefeitura abrirá 170 leitos de enfermaria nos próximos quinze dias. Outros 50 leitos de UTI serão abertos em até três semanas – ao ritmo de 20 por semana – assim distribuídos: 30 no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla e 20 no Hospital de Campanha. Desde 19 de novembro, são 37 novos leitos de UTI Covid-19. Atualmente, a rede municipal conta com 918 leitos Covid, 288 deles de UTI.

A prefeitura do Rio anunciou nesta quinta-feira, 10, novas medidas visando conter o avanço do novo coronavírus. Em ação conjunta com o governo do estado, após reunião entre o prefeito Marcelo Crivella, o governador em exercício Cláudio Castro e os secretários municipal e estadual de Saúde, ficou decidido, como já havia sido antecipado, que não haverá passo para trás em relação às atividades econômicas. As áreas de lazer, basicamente as ruas que ficam fechadas aos domingos, e o retorno da proibição do estacionamento na orla são alguns dos principais pontos tocados neste novo plano. Praias continuam liberadas, assim como bares, restaurantes e casas noturnas.

O informe da prefeitura não diz quando as novas regras entram em vigor. São elas:

  • Escalonamento dos horários de funcionamento da indústria (a partir das 7h); dos serviços (a partir das 9h); e do comércio (a partir das 11h), para evitar aglomeração nos transportes públicos.
  • Proibição de estacionamento na orla nos fins de semana e feriados;
  • Cancelamento das áreas de lazer nas orlas de Copacabana, Ipanema e Leblon e no Aterro do Flamengo aos domingos e feriados (as pistas, portanto, não serão fechadas ao trânsito de veículos);
  • Proibição do uso de áreas comuns de lazer em condomínios, onde não são usadas máscaras, como saunas e piscinas.
  • Permissão para shoppings e Centros Comerciais ficarem abertos 24 horas, para evitar aglomerações nos meios de transporte.

Para Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz e Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, acreditam que movimento de agora ainda está relacionado a primeira onda de contágio, que teve redução no meio do ano na cidade, quando as taxas de isolamento eram maiores. 

Números de doentes por coronavírus assusta e mostra a necessidade de recuo na flexibilização, abertura de leitos e cuidados no atendimento primário.
Foto: Guito Moreto

Outras cidades também estão preocupadas

No Estado, a situação não é diferente da capital fluminense. A Região Metropolitana II, que abrange sete municípios: Itaboraí, Maricá, Niterói, Rio Bonito, São Gonçalo, Silva Jardim e Tanguá, passa a ser classificada em bandeira vermelha, de alto risco para a Covid-19. Ao todo, 12% dos moradores do Estado. Outras três  cidades estão classificadas em bandeira laranja, de risco moderado: Regiões Metropolitanas I, Baía da Ilha Grande e Médio Paraíba. Na bandeira amarela estão as regiões: Baixada Litorânea, Centro-Sul, Noroeste, Norte e Serrana.

Na bandeira laranja, precisam ser cumpridas todas as medidas de distanciamento social já adotadas na bandeira amarela, sendo elas: suspensão de atividades escolares presenciais; proibição de qualquer evento com aglomeração, conforme avaliação local; adoção de distanciamento social no ambiente de trabalho, conforme avaliação local; avaliação da suspensão de atividades econômicas não essenciais, com limite de acesso e tempo de uso dos clientes, conforme o risco no território; e avaliação da adequação de horários diferenciados nos setores econômicos para reduzir aglomeração nos sistemas de transporte público. 

Na bandeira vermelha, além das medidas da bandeira laranja, deve-se suspender as atividades econômicas não essenciais definidas pelo território, avaliando cada uma delas; e definir horários diferenciados nos setores econômicos para reduzir a aglomeração nos sistemas de transporte público.

O número de casos aumentou 91,67% na Baía da Ilha Grande e na 28,86% na Região Metropolitana II. Na Baixada Litorânea, o aumento foi de 18,06%. O número de óbitos aumentou 53,85% na Região Metropolitana II; 28,57% na Baía da Ilha Grande; e 7,69% na Região Médio-Paraíba. A taxa de ocupação de leitos de enfermaria destinados aos pacientes de Covid foi de 42,77%, e a de leitos de UTI, 60,83%.

Em nota conjunta, a Superintendência Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro e as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde do Rio de Janeiro informam que, devido à verificação do aumento dos indicadores de saúde em relação ao Covid-19, tomaram as seguintes providências: Mobilização e abertura de 214 leitos.

UPA é a emergência da Maré

Na Maré, já é possível perceber um maior número de doentes. “O painel covid já tem uma tendência de crescimento. Mas ele demora para registrar os nossos resultados. O Boletim “De Olho no Corona!” já registrou na semana passada muito mais casos ativos do que está sendo apresentado no painel municipal. É possível compreender esse aumento pelo número de pessoas que procuram o Galpão Ritma para fazer o teste. Essa semana devemos ter mais consolidado esse aumento”, comenta Luna Arouca, coordenadora do Espaço Normal e do Boletim “De Olho no Corona!”. Um funcionário da UPA Maré disse que já trabalha com apreensão, pelo aumento de casos.

Renato Mário de Jesus, morador do Conjunto Bento Ribeiro Dantas, foi à Unidade de Pronto Atendimento Maré no final de semana com febre alta, sendo testado positivo para a covid-19. Ele reclamou da demora, já que do momento de entrada até receber duas injeções e ser liberado, foram sete horas de espera. O resultado da via crucis? Saiu da Upa sem remédio, apenas com a receita. Na segunda-feira (23) foi a Clínica da Família Augusto Boal, que não tinha Amoxicilina, Acebrofilina, Fumarato de Formoterol e nem Dipirona. Renato teve que comprar os remédios.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que a Prefeitura do Rio manteve um hospital de campanha em funcionamento, no Riocentro, e uma unidade de referência no Hospital Ronaldo Gazzola – além de não ter fechado nenhum leito de UTI desde o início da pandemia. Também informou que somente nas duas últimas semanas foram abertos na rede municipal 37 novos leitos de UTI Covid. Ainda em resposta à matéria, completou que as pessoas que aguardam leitos de UTI estão sendo assistidas em leitos de unidades pré-hospitalares, com monitores e respiradores. Sobre a rápida flexibilização, a Prefeitura explicou que agiu com responsabilidade, com medidas sendo adotadas com base nos indicadores sobre a doença. Já a falta dos remédios citados, indagou que é algo pontual e que a reposição será feita no menor tempo possível.

A Secretaria Estadual de Saúde informou que a UPA da Maré tem capacidade total de 15 leitos, sendo 10 na sala amarela adulto, 03 na sala amarela pediátrica e 02 na sala vermelha. Segundo a nota, a UPA registrou, de 1º de julho até 26 de novembro, 1.065 casos suspeitos de Covid-19. Em novembro, foram contabilizados 289 casos suspeitos, um aumento de 37% em relação ao mês anterior. Em outubro, foram registrados 211 casos.

A coordenação médica da UPA da Maré esclareceu que os moradores da comunidade devem procurar a unidade caso apresentem um ou mais sintomas da doença.

Um vizinho em depressão

Ao lado da Maré se encontra o Hospital Federal de Bonsucesso, onde muitos mareenses nasceram. Um gigante complexo de prédios que atende diversas especialidades, além de operações cirúrgicas, internações, emergências e com destaque para atendimentos a pessoas baleadas. No dia 27 de outubro o HFB sofreu um incêndio no prédio 1. O acidente causou 16 óbitos, destes o Ministério da Saúde só reconhece três como provocados pelo incêndio. São os pacientes que morreram no dia, durante a transferência interna.

No dia 03 de novembro ocorreu manifestação de funcionários e familiares de pacientes com um abraço simbólico ao hospital. Moradores e representantes de diversas associações do entorno no hospital, boa parte da Maré, participaram do ato. O objetivo é garantir o pleno funcionamento da unidade. Após o incêndio que ocorreu no hospital, a direção da unidade anunciou o seu fechamento. A unidade, que é referência em cirurgias oncológicas, transplante renal e também no atendimento à gestante e aos recém-nascidos de alto risco, voltou a funcionar parcialmente.

O hospital chegou a ser escolhido em março pelo Ministério da Saúde para ser a unidade de referência de combate ao coronavírus na cidade do Rio de Janeiro. Algo que logo foi descartado diante da sua incapacidade operacional. Não havia pessoal suficiente para operar até 240 leitos dedicados a pacientes diagnosticados com covid-19, dificuldades de compra de insumos e a necessidade de reformas para adequação do espaço.

A comunicação social do HFB informou que o prédio atingido pelo incêndio era destinado para internações. Segundo assessoria, no momento o prédio passa por investigação da Polícia Federal sobre as causas do incêndio e não há pacientes internados no hospital. Declarou que os outros serviços estão sendo realizados normalmente nos outros espaços da unidade.

Fachada da Clínica da Família Augusto Boal – Foto Hélio Euclides

Oportunidade: Maré de Notícias seleciona comunicador/a/e para fazer parte da equipe

O Maré de Notícias está em busca de profissional para atuar nas redes sociais 

O Maré de Notícias passou por muitos desafios ao longo de 2020, assim como muitos brasileiros. Foram muitas adaptações e mudanças num ano inesquecível para toda a humanidade. Algumas destas mudanças para adaptação ao mundo virtual nos permitiu abrir uma vaga para compor o nosso time. Estamos em busca de um/uma/ume profissional da área de comunicação que possa contribuir na administração das redes sociais, fazendo com que as nossas notícias alcancem um público ainda maior. Se você gosta de escrever, tem afinidade com produção audiovisual, design gráfico, e é daqueles “heavy user” das redes sociais, chegou sua hora! Inscreva-se no link e participe de nossa seleção para fazer parte de nossa equipe. Fique ligado nas informações sobre a vaga a seguir: 

Critérios:

  • Ser morador da Maré, em outras favelas e/ou na periferia;
  • Ser da área da Comunicação (estudantes dos últimos períodos ou formados/as/es em Jornalismo, Design Gráfico, Marketing Digital, Publicidade e Propaganda, Radialismo, Relações Públicas, Cinema e Educomunicação);
  • Ter bastante intimidade e experiência como “social media” para administrar as redes sociais e produzir relatórios sobre as métricas;
  • Ser maior de 18 anos;
  • Ter MEI;
  • A prioridade será para pessoas não brancas;

Sobre a vaga:

  • Administração das redes sociais;
  • Criação de conteúdo Audiovisual e peças de design;
  • Produção de texto para redes sociais;
  • Estudo de análise de resultados das redes sociais;
  • Mineração de dados;
  • Produção de relatórios de resultados das métricas;
  • Impulsionamento de posts;
  • Ter bom texto;
  • Ser articulado; 
  • Ter experiência na administração de Facebook, Instagram e Twitter empresariais;
  • Valor: R$1800,00;
  • 40 horas semanais.

Para participar da seleção, basta preencher o formulário disponível aqui ou nas nossas redes sociais até o dia 28 de dezembro.

Sobre o Maré de Notícias:

Desde 2009, o Maré de Notícias circula pela Maré, com tiragem de 50 mil exemplares, e ao longo dos anos se consolidou como a principal oferta de informação dos 140 mil moradores do conjunto das 16 favelas da Maré. Desde 2017 ele ganhou uma versão on-line com produção de conteúdo diário trazendo as temáticas já abordadas no jornal impresso, além de assuntos cotidianos que  promovem cidadania e desenvolvimento sustentável da Maré, como saúde, meio ambiente, mobilidade urbana, direitos humanos, segurança pública, economia e comportamento.

O Maré de Notícias é uma iniciativa da Redes da Maré, organização da sociedade civil que produz conhecimento e desenvolve projetos e ações no território, a fim de buscar melhorias para a vida dos moradores das 16 favelas do conjunto há mais de 20 anos.

Fiocruz indica que cinco mil pessoas morreram com covid-19 por falta de leitos em UTI no Rio

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Ao todo, 7.588 pessoas morreram em um leito de Unidade de Terapia Intensiva em decorrência do novo coronavírus 

Por Edu Carvalho, em 10/12/2020, às 12h40
Editado por Andressa Cabral Botelho

Grave esta informação: cinco mil pessoas com covid-19 morreram desde março sem ter acesso a um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Estado do Rio. É o que mostra um levantamento feito pela Fiocruz. Os dados analisados têm como data de corte o dia 11 de novembro. Ao todo, 7.588 pessoas morreram com a doença estando em UTIs na Região Metropolitana do Rio.

Na cidade, somando as vagas nas unidades municipais, estaduais e federais, a taxa de ocupação é de 91%. Já nos hospitais particulares, a taxa de ocupação é de 98% na capital e mais de 90% em todo o estado. São cerca de 200 pessoas esperando na fila por um leito de UTI no Rio e em municípios da Baixada Fluminense. O estado abriu três postos para quem apresenta sintomas leves. Nos primeiros dias de funcionamento, 1.524 testes foram feitos no hospital Alberto Torres e 1.528 na UPA do Colubandê, ambas sediadas em São Gonçalo.

Na última semana, a Fiocruz divulgou um alerta para a possibilidade de colapso no sistema de saúde, diante do novo aumento dos casos no país. Segundo a Fundação, oito capitais brasileiras estão na zona crítica de ocupação dos leitos de UTI destinados a pacientes com covid-19. Além do Rio, são elas: Macapá, Fortaleza, Recife, Vitória, Curitiba, Florianópolis e Campo Grande, com taxa de ocupação acima de 80%. 

Simultaneamente e também na semana passada, o Grupo de Trabalho Multidisciplinar para o Enfrentamento da covid-19 da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) alertou para o aumento dos casos, assim como chamou atenção para um possível colapso na rede de saúde do estado do Rio. Como proposta, o GT apresentou algumas medidas que as autoridades governamentais deveriam implementar para enfrentar o recente aumento de casos e mortes:

1. Abertura imediata de leitos hospitalares, incluindo os de UTI e contratação emergencial de profissionais de saúde para atuarem nesses leitos; 
2. Compra emergencial de equipamentos e insumos para atendimento aos pacientes; 
3. Realização de ampla testagem por RT-PCR em todos os casos suspeitos e isolamento dos casos e contatos com RT-PCR positivo;
4. Reforço nas campanhas de esclarecimento sobre as medidas preventivas; 
5. Ampliação da oferta de transporte público a fim de evitar ou minimizar aglomeração;
6. Suspensão imediata de eventos presenciais, como os sociais, esportivos e/ou culturais; 
7. Fechamento das praias;
8. Limitação e criação de escala de horário de funcionamento de estabelecimentos que permanecerem abertos e fiscalização dos estabelecimentos abertos;
9. Avaliação da decretação do fechamento total (o lockdown) em caso de agravamento da doença.