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O rei do futebol

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Pelé completa 80 anos de sucesso nas quatro linhas

Por Hélio Euclides em 23/10/2020 às 17h00

“Pelé jogou futebol por 22 anos e, durante aquele tempo, fez mais para promover a amizade e a fraternidade mundial do que qualquer outro embaixador”, frase de J.B. Pinheiro, embaixador do Brasil na Organização das Nações Unidas. Poucos sabem desse lado de Pelé, que chegou a 1.281 gols, sendo o único jogador a conseguir esse feito e agora completa 80 primaveras. Edson Arantes do Nascimento nasceu em Três Corações, sul de Minas Gerais, no dia 23 de outubro de 1940. Num lugar sem luz elétrica, surgiu um menino que iluminou o mundo com sua arte nos pés. 

Pelé cresceu na pobreza, em Bauru, no estado de São Paulo e ganhava dinheiro extra trabalhando em lojas de chá. Na falta de dinheiro para comprar uma bola adequada, jogava futebol com uma meia recheada de jornal e amarrada com corda. A história dele é parecida com a muitos meninos e meninas que tentam iniciar sua carreira no futebol. “Ele é inspirador para a garotada, faz sonhar. E também é para os projetos de esporte na favela, que são pequenos, mas conseguem levar alguns talentos a clubes grandes. Ele me inspira no meu trabalho. Falar de Pelé é lembrar de um craque e ídolo do Brasil”, comenta o xará Edson da Silva, presidente e fundador da Associação Esportiva Beneficente Amigos da Maré (AEBAM).

Pelé é consagrado como o jogador do século pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol, faz parte dos vencedores do prêmio de Melhor Jogador do Século da Fifa e também do Comitê Olímpico Internacional. O Rei do Futebol teve feitos históricos, entre eles, o gol do dia 19 de novembro de 1969. O craque chegava ao milésimo gol aos prantos. “Pelo amor de Deus, minha gente! Agora que todos estão ouvindo, faço um apelo especial a todos: ajudem as crianças pobres, ajudem os desamparados. É o único apelo nesta hora muito especial para mim”, disse Pelé. 

Um atleta reconhece o outro. Nivaldo João da Silva, o Godoy, é ex-jogador e morador da Praia de Ramos. Ele não chegou a ver o Pelé jogar, apenas viu os lances pela televisão, mas mesmo assim confessa que o rei o inspirou a entrar na carreira. “Foi uma inspiração para muitos jogadores por ser o maior de todos, atravessou gerações. Na sua época foi um jogador completo, que executava com facilidades as jogadas, muito bem pensadas, com qualidade, beleza e elegância. Ele assombrava os adversários”, conclui.

O futebol veterano da Maré tem os seus jogadores que viram o rei nas quatro linhas. “Pelé foi um gênio da bola. Naquela época, assisti muitos duelos entre Pelé e Garrincha”, resume Arlindo Noberto, morador da Baixa do Sapateiro Outros contam histórias até os dias de hoje. “Na década de 1960, quando fui assistir um jogo do Vasco contra o Santos. O Vasco tinha uma zaga boa, que era Vitor e Fontana. Eu estava na geral do Maracanã e estava 2×0 para o time carioca. Faltava dois minutos para o jogo acabar e Fontana falava para o Pelé que ele não era nada e nem o Rei. O Pelé fez dois gols e pegou a bola no fundo da rede e deu para Fontana. Pelé disse pega essa bola e leva para sua mãe, diz que foi o Rei do Futebol que mandou”, comenta Arides Menezes, morador da Nova Holanda. Ele lembra que a frase ficou célebre na época. 

O rei negro do futebol

O futebol foi introduzido no Brasil em 1894, por Charles Miller, quando retornou da Inglaterra. O esporte era praticado pela elite branca da cidade de São Paulo. A escravidão fora extinta havia poucos anos e os negros tinham o acesso vetado às quatro linhas do gramado. Em Porto Alegre dos anos 1910, a “Liga dos Canelas Pretas” organizou um torneio dos times de “atletas de cor”, excluídos pela elite branca. Já em São Paulo, nas décadas de 1920 e 1930, ocorreram partidas de futebol entre preto x branco. Nesse mesmo período, a cidade chegou a ter 12 clubes disputando o campeonato informal dos negros.

Na cidade do Rio de Janeiro, o convívio entre morro e asfalto facilitou o intercâmbio futebolístico de negros e brancos. O primeiro jogador negro a disputar uma partida oficial de futebol foi Francisco Carregal, pela equipe do Bangu, em 1904. Quando o Vasco tentou disputar a primeira divisão carioca, em 1924, a associação futebolística condicionou sua participação na liga à retirada de doze negros de seu time. O Vasco se recusou a cumprir a medida e preferiu competir entre os times pequenos.

O 1º título da Copa do Mundo, em 1958, não foi fácil. Os negros da equipe, inclusive Pelé e Garrincha, eram tidos como emocionalmente instáveis pela comissão técnica, algo que os membros da comissão alegavam ter relação com a questão racial. A revista O Cruzeiro fez uma reportagem que trouxe o episódio de uma mãe e sua filha, que vê o Pelé e, surpresa, fala: “mamãe, ele fala”. Ou seja, assim como a comissão técnica, a criança associa a pessoa negra ao animal, que age por instintos, que foi uma das justificativas para a escravidão negra no Brasil e no mundo e que hoje nos ajuda a entender a raiz do racismo.

Apesar do sucesso, o ex-jogador Pelé recebe críticas por não ter tomado atitudes políticas ou nenhuma vez se manifestar sobre o racismo. “O Pelé é esse símbolo da pessoa negra de sucesso, eu acredito que mesmo sem nenhuma manifestação sobre o racismo, ele fez a parte dele como representatividade, essa esperança de ascensão social de muitos negros”, expôs Marcelo Carvalho, criador do Observatório Contra a Discriminação Racial no Futebol, no Programa Esporte Espetacular. 

Em 1995, o ex-atacante foi nomeado Ministro do Esporte. Durante o período no ministério, propôs uma legislação para reduzir a corrupção no futebol brasileiro, que ficou conhecida como “Lei Pelé”, além de reforçar em um discurso que o negro precisa votar em negro. “Precisamos resgatar isso para não parecer que ele sempre se manteve alienado às questões sociais. Ele estava sempre atento ao que estava acontecendo. A questão era a força que existia do outro lado para o Pelé se manter em silêncio”, comenta Marcelo. O próprio Pelé rebate esses julgamentos. “Toda a minha vida, quando eu tive a atenção das pessoas, eu tentei usar a minha voz para o bem. Sempre defendia os seus ideais”, recomenda Pelé.

O que se percebe é que até hoje o jogador negro precisa lutar pelo seu espaço. Entre 2014 e 2019 ocorreram 56 casos de discriminação racial no futebol brasileiro, registrados pelo Observatório Contra a Discriminação Racial no Futebol. Que o Brasil e o restante do mundo possam eliminar o preconceito e o racismo de vez, não apenas das quatro linhas, mas de todos os espaços. Que esse 23 de outubro de 2020 continue marcando as lutas e as conquistas dos negros por seus direitos. Vida longa ao reinado do Rei. Felicidades, Pelé!

Curiosidades do Rei

O pai de Pelé também foi jogador de futebol. João Ramos do Nascimento (1917-1996), o Dondinho, era atacante e jogou por 20 anos, passando por clubes como Atlético Mineiro e Fluminense, encerrando a carreira no Bauru Atlético Clube em 1952. Foi graças a seu pai que Pelé desenvolveu as suas habilidades de ambidestro: por orientação de Dondinho, ele ficava batendo bola na parede apenas com o pé esquerdo.

O apelido Pelé também tem origem no futebol. Bilé, goleiro do Vasco da Gama, era inspiração para o Rei, que quando criança jogava nessa posição. Durante o futebol, se chamava de “Pelé” quando queria dizer “Bilé” e os amigos sempre riam da confusão, passando a chamá-lo dessa forma. Ao chegar no Santos com 15 anos, o apelido já estava na ponta da língua de todos e Edson assumiu o nome Pelé.

Ronda Coronavírus: Início de semana na cidade do Rio marcado por operações

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Em Acari, um policial ficou ferido; trem de manutenção foi sequestrado na altura do Jacarezinho

Publicado em 19/10/20 às 20h30

As últimas 24h foram de operações policiais em favelas da Zona Norte do Rio. Na manhã desta segunda-feira (19), moradores do Jacarezinho, Mandela e Manguinhos amanheceram ao som de tiros. Desde 5h da manhã de hoje, há relatos de tiros e bombas, mas segundo moradores do Jacarezinho, o confronto iniciou na noite de domingo. De acordo com a Polícia Militar, a operação tinha como objetivo remover barricadas nestes locais, conforme denúncias anônimas.

De acordo com Raphael Dias, porta-voz da Polícia Militar, a ação foi organizada e seguindo as recomendações do STF, que suspende operações policiais durante pandemias, podendo acontecer apenas em casos excepcionais. Com a operação, o tráfego foi interrompido tanto na Avenida Dom Hélder Câmara, altura do Jacaré, e na Rua Leopoldo Bulhões, altura de Benfica. Simultaneamente, um grupo armado rendeu maquinistas de um trem de manutenção e sequestraram o veículo do Jacarezinho até a Mangueira, também Zona Norte do Rio. Os funcionários não tiveram ferimentos e receberam atendimento psicológico após o ocorrido. 

No domingo (18), moradores de Acari relataram em redes sociais a ocorrência de operação policial na favela logo pela manhã. A operação foi de busca e apreensão de armas e drogas no local. O único ferido foi um policial, baleado no braço e na perna, que foi levado para o Hospital Municipal Albert Schweitzer e está estável. 

Números da pandemia

O país contabiliza até hoje 5.250.727 casos confirmados, 15.383 nas últimas 24h. Além dos casos, são até o momento 154.176 vítimas do novo coronavírus, 271 destas mortes de ontem para hoje. Os números são do Ministério da Saúde. O Brasil completou no último domingo (18) uma semana em tendência de queda de mortes por covid-19, com a média móvel em 483 mortes por dia.

O estado do Rio de Janeiro totaliza nesta segunda-feira (19) 291.413 casos confirmados e 19.770 mortes confirmadas pelo novo coronavírus. Na edição atual do Mapa de Risco, o estado encontra-se classificado em bandeira amarela, apresentando baixo risco da doença. Das nove regiões fluminenses, apenas duas apresentam risco moderado: Centro-Sul e Norte. De acordo com levantamento feito pela Subsecretaria Extraordinária das Ações Governamentais Integradas da Covid-19, houve uma redução nos números de óbitos (-46,96%) e casos (-33,31%) no estado. O material completo está disponível para consulta aqui.

Dentre os 92 municípios, a capital é o que tem os maiores números da pandemia no estado: são até hoje 114.097 pessoas infectadas e 11.637 pessoas que morreram em decorrência ao vírus. As favelas somam até o momento 15.968 pessoas contaminadas e 2.064 mortes, segundo Painel Unificador das Favelas. A Maré tem 749 casos confirmados e 126 mortes pelo novo coronavírus, de acordo com dados da prefeitura.

Vacina contra covid-19

No mesmo mês em que se faz campanha de multivacinação infantil, a população recebe também atualizações sobre a CoronaVac, vacina desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Em estudos realizados com 9 mil voluntários no Brasil, apenas 35% apresentou algum tipo de reação adversa leve, como dor de cabeça ou dor no local de aplicação da vacina, reações também vistas nas fases de testes na China. “A vacina do Butantan é a mais segura em termos de efeitos colaterais. É a vacina mais segura neste momento não só no Brasil, mas no mundo”, apontou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.

Mesmo com os avanços e resultados positivos na pesquisa, além dos números e países apresentando segunda onda, o presidente Jair Bolsonaro comentou a apoiadores nesta segunda-feira que a vacinação para a covid-19 não será obrigatória. A fala foi uma resposta indireta ao governador de São Paulo, João Dória, que afirmou que a vacinação no estado de São Paulo será obrigatória, com exceção de pessoas que apresentarem alguma restrição médica.

Outubro rosa

No dia internacional contra o câncer de mama, o Maré de Notícias ressalta a importância de se fazer exames e acompanhamento médico anual para prevenir a doença. Em novembro, a campanha de prevenção é contra o câncer de próstata. Com a pandemia, entretanto, muitos desses exames e tratamentos ficaram em segundo plano diante medo em se contaminar com covid-19 durante ida ao hospital. Saiba aqui como estão acontecendo as campanhas de prevenção nas unidades de saúde e na internet, assim como a importância da doação de sangue para os pacientes oncológicos neste período.

Cancelamento do Aniversário Guanabara Um dos eventos mais esperados pelos consumidores da região metropolitana do Rio, o Aniversário Guanabara, não vai acontecer em 2020 em decorrência da pandemia do novo coronavírus. A empresa irá realizar ao longo de 30 dias o Show de ofertas, como forma de comemorar os 26 anos da empresa. Será um mês de promoções em diversos produtos da rede de supermercados, mas sem os preços que os consumidores encontram do aniversário. A promoção começa a partir do dia 20 de outubro, tendo em vista que esta segunda-feira é feriado do comércio.

Tratamento de câncer é prejudicado pela pandemia

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Como apoio, campanhas Outubro Rosa e Novembro Azul conscientizam a população sobre exames preventivos

Por Thaís Cavalcante em 19/10/2020 às 10h50

A saúde pública enfrenta a pandemia do novo coronavírus tomando atitudes de adaptação: prioriza hospitais, leitos e atendimentos para pacientes infectados pela covid-19. Essa urgência imposta fez outras urgências terem as suas realidades alteradas. Pessoas passaram a diminuir o cuidado com a saúde em geral para se prevenir apenas contra a covid-19. O medo de pegar a doença trouxe também consequências, como o abandono de tratamento, atendimentos suspensos, cancelamento de exames de rotina e até o falecimento em decorrência de doenças não tratadas. Um desses tratamentos que passaram por interrupção foi o de pessoas com câncer, tendo em vista que muitos pacientes são do grupo de risco.

Das campanhas de prevenção e conscientização sobre o câncer, Outubro Rosa e Novembro Azul são as mais conhecidas. A partir do compartilhamento de informações, essas campanhas encorajam mulheres e homens a realizar exames de prevenção de câncer de mama e próstata, principalmente através dos exames de toque retal, a colonoscopia e a mamografia. Essa orientação é importante porque a partir do diagnóstico precoce, há mais chances do paciente ter cura e viver melhor. 

Esse cuidado integral com a saúde é fundamental, seja no período de tratamento de uma doença ou na prevenção dela, através de consultas e exames de rotina. De acordo com estimativa da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS), o risco de morte por câncer teve aumento de 20% devido às complicações sociais que dificultaram o acesso e priorizaram o atendimento aos doentes de covid-19. 

O tratamento oncológico precisa, inicialmente, da realização de diagnósticos, consultas periódicas e exames. Mas durante a pandemia, as rotinas de todos os pacientes foram alteradas para ajudar na diminuição do contágio do coronavírus. Por outro lado, a urgência do tratamento de câncer continuou e outros desafios foram encarados, seja pelos equipamentos de saúde, seus profissionais ou pelos próprios pacientes.

Dr. Gélcio Mendes, Coordenador de Assistência do Instituto Nacional de Câncer (INCA), afirma que entre as estratégias necessárias para enfrentar este período de pandemia estão o adiamento de consultas periódicas entre três e seis meses, a testagem para covid-19 em pacientes que precisam fazer cirurgias agendadas e o acompanhamento de pacientes em casa pela equipe de cuidados paliativos. O medo paralisou muita gente. “Tem uma quantidade grande de pacientes que ainda estão para fazer o diagnóstico, exames e procedimentos. Essa não é uma realidade só nossa, é do mundo inteiro”, contou o médico. Com a reabertura gradual das atividades, o esperado é que esses pacientes voltem com suas consultas nos próximos meses. Já aqueles que pegaram a covid-19, estão aguardando a recuperação da doença para voltar ao INCA.

Como o paciente com câncer deve agir no dia do tratamento durante a pandemia?

  • Ter somente um acompanhante, com menos de 60 anos, se possível. O acompanhante não poderá ter sintomas de resfriado ou gripe;
  • Tentar manter distância de outras pessoas, mesmo da equipe de saúde;
  • Não ficar próximo de outros pacientes;
  • Evitar circular pelo hospital;
  • Não ficar no local de tratamento por mais tempo do que o necessário;
  • Manter as recomendações de prevenção como lavar as mãos com água e sabão, na sua ausência, usar álcool em gel; cobrir nariz e boca com lenço ao tossir ou espirrar – se não for possível, deve usar o antebraço como barreira e não compartilhar objetos pessoais.

Fonte: Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Outubro Rosa e Novembro Azul na Maré

As iniciativas globais de cuidado com a saúde da mulher e do homem são discutidas em todo o mundo e também aqui na Maré, demonstrado o cuidado com os moradores através de ações dos equipamentos de saúde e seus profissionais. Mas com o cenário em que o distanciamento social é a atitude mais indicada, essas ações de prevenção e cuidado na favela precisaram ser repensadas.

Débora Chaves, enfermeira e coordenadora de enfermagem do UPA24h da Maré, acredita na importância dessas ações. “Realizamos campanhas de saúde em consonância com o calendário de atividades do Ministério da Saúde, através de ações preventivas, nos meses definidos por cores. Elas buscam chamar a atenção e conscientizar as pessoas sobre a importância do autocuidado. Nossa dinâmica baseia-se na orientação da prevenção, através de abordagem objetiva e ações direcionadas para a detecção precoce de doenças oncológicas e demais comorbidades”, declara.

Sobre as campanhas Setembro Amarelo (depressão e suicídio), Outubro Rosa (câncer de mama), Novembro Azul (câncer de próstata) e Dezembro Vermelho (HIV), ela completa: “O cronograma das unidades é elaborado com a participação de palestrantes que possuem domínio e conhecimento dos temas”. A UPA24h da Maré é uma Unidade de Pronto Atendimento 24 horas, vinculada à Secretaria de Estadual de Saúde e sob gestão da Organização Social de Saúde Viva Rio. Sendo referência em atendimentos de urgência e emergência de baixa e média complexidade. Por isso, suas ações em campanhas de prevenção são adicionais àquelas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Este ano, as ações da SMS na campanha Outubro Rosa se intensificam em outubro com a prática do acolhimento, orientação e conscientização da saúde da mulher sobre o câncer de mama e de colo do útero. Praticadas diariamente em Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde, foram interrompidas no primeiro semestre por causa da pandemia, mas retomadas em julho e reforçadas neste mês. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro também desenvolve ações em seus hospitais para prevenir e detectar desses tipos de câncer nas mulheres. Seja com a iluminação de prédios públicos como alerta, a disponibilização de material impresso e digital sobre o tema, discussão sobre violência contra a mulher e webinar.

Campanhas de prevenção virtuais

Conheça as campanhas virtuais que apresentam depoimentos, orientações, encorajamentos e informação sobre prevenção e cuidados, além de alertar a sociedade sobre os riscos  de se adiar o cuidado com a saúde, deixando de realizar exames e tratamentos oncológicos em geral. 

  • Campanha “Câncer não faz quarentena”: parceria entre a Femama, Instituto Oncoguia e Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. www.pfizer.com.br/cancernaofazquarentena.
  • Campanha “O Câncer não espera. Cuide-se já.: parceria entre o Instituto Oncoclínicas e com sociedades de especialidades médicas. www.ocancernaoespera.com.br

Doação de sangue 

Por causa da pandemia, os bancos de sangue da cidade do Rio de Janeiro diminuíram, mas o número de pacientes que precisa, não. No INCA, houve queda de quase 50% na doação de sangue e plaquetas. A população tem um papel fundamental para mudar isso. Algumas das soluções encontradas para minimizar esse impacto foi o uso de carro móvel para doação, a campanha “Hemorio em casa” e a ação de desconto em aplicativos de transporte particular.

UNIDADE DE COLETA E TRANSFUSÃO DO HOSPITAL FEDERAL DE BONSUCESSO

Endereço: Avenida Londres, 616 (Bonsucesso – RJ)

Dias e horários: Segunda a sexta, entre 7h30 e 12h

Telefone: (21) 2561-3473

SEDE INCA

Endereço: Praça Cruz Vermelha 23, segundo andar (Centro – RJ)

Telefones: (21) 3207-1021 ou 3207-1580, entre 8h e 15h

HEMORIO

Endereço: Rua Frei Caneca 8, (Centro – RJ)

Dias e horários: Segunda a domingo, entre 7h e 18h

Telefones: (21) 2332-8611 ou 2332-8612 ou 2332-8613 

NÚCLEO DE HEMOTERAPIA DO HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO

Endereço: Rua Sacadura Cabral, 178 (Centro – RJ)

Dias e horários: Segunda a sexta, entre 7h30 e 12h30

Telefones: (21) 2291-3287 ou 2291-3804

NÚCLEO DE HEMOTERAPIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO

Endereço: Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco 255, 3º andar (Ilha do Governador – RJ)

Dias e horários: Segunda a sexta, entre 7h30 e 13h30

Telefone: (21) 3938-2312

Estamos chegando no jogo, lutando para ganhar

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Maré de Notícias #117 – outubro de 2020

Por Joelma Sousa em 10/10/20 às 10h05

Mulher, preta, favelada, cria da favela da Maré, formada pela Escola de Serviço Social – Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-graduanda na Escola Sérgio Arouca – FioCruz ENSP.

Durante todo o período de escravismo em nosso país, que se inicia no Século XVI, o escravo negro foi aquele trabalhador presente em todos os ofícios, por mais diversificados que eles fossem. Sua força de trabalho era distribuída em todos os setores de atividade. Isso nos mostra que, durante toda sua existência, a sociedade escravocrata atuou como mecanismo equilibrador e impulsionador do trabalho negro escravo. No final do século XIX, a sociedade brasileira passou por uma reestruturação, adotando o trabalho livre como forma fundamental de atividade. Esse foi um período marcado por um movimento de construção da ideia de inferioridade do negro e da sua incompatibilidade para assumir o trabalho assalariado. 

O racismo estrutural é uma característica histórica do nosso país, que afeta as relações de trabalho, desde à contratação até os conflitos judiciais. A iniciativa da Empresa Magazine Luiza, juntamente com o ID_BR – Instituto de identidades do Brasil, de criarem uma  seleção exclusiva para negros nos cargos de liderança abre possibilidades para a ascensão dessas pessoas no mercado de trabalho, algo importante e fundamental para reparar historicamente as enormes perdas. Pessoas que sempre estiveram à margem dos processos seletivos podem, a partir de experiências, como a do Magazine Luíza, ocupar vagas que sempre foram destinadas ao trabalhador branco, como modelo de qualificação, larga experiência e com a velha e “boa aparência”. Porém, infelizmente, a iniciativa gerou uma enorme repercussão. E não foi boa. 

As ações afirmativas nos espaços de trabalho consistem em políticas voltadas para a aceleração de oportunidades, cujo projeto pioneiro realizou-se nos Estados Unidos, em 1964. Esse é um processo conhecido no Brasil pós-escravidão, que  implementou a entrada de imigrantes, ofertando políticas de distribuição de terras, aberturas de escolas, pagamentos de passagens etc. O que diferencia é o preconceito de cor, pois as políticas afirmativas eram baseadas na origem dos indivíduos, acreditando-se na existência de uma raça superior, a chamada eugenia, ainda presente no Brasil e fomentada pelo atual Estado brasileiro. Talvez, seja por isso, a indignação de muitos com a iniciativa do Magazine Luiza, vez que o racismo sempre existiu. Segundo estudiosos, o racismo é a essência do capitalismo, pois, quando se fala em emprego para os negros, toma-se por referência o subemprego,  a precarização, o  desemprego e a desigualdade salarial. Dados do IBGE revelam que 76% dos negros brasileiros têm a renda mais baixa do país. 

A sociedade em que vivemos é marcada por um sistema de opressão da população negra, edificado na dinâmica da escravidão. Temos vivido num mundo e num sistema que não é feito para nós, pretos, que não nos deixam ganhar. O que nos resta é a luta pela sobrevivência, e, em muitos casos, a morte. Além do desemprego e do subemprego, o racismo tem-nos esmagado e assassinado nossos corpos todos os dias, horas, minutos e segundos. O sociólogo Clóvis Moura já nos chamava a atenção sobre a herança da escravidão, cuja herança não está no corpo negro, mas sim, na consciência da classe dominante, criadora de valores discriminatórios, para impossibilitar o negro de ascender seja no nível econômico, social, cultural ou existencial. Clóvis reclamava, também, a emergência de uma consciência negra crítica.

Resistir para avançar

Temos lutado pela garantia dos nossos direitos dia após dia, tivemos grandes avanços com a conquista das ações afirmativas nas Universidades públicas, na primeira década dos anos 2000. Espaços, antes, reservados para os brancos considerados gênios, agora, ocupados por nós, pretos, pardos e indígenas. Estamos proporcionando um crescimento teórico e metodológico nesses espaços, pois as discussões ficaram muito mais acessíveis, com estudos que trazem dados sobre a importância da nossa inserção nas Universidades, e avançado para discussões acerca dos espaços de trabalhos e de lideranças. 

A Casa Preta da Maré propõe implantar discussões sobre as questões raciais e suas intersecções, com questões de gênero e de outros temas, no território da Maré. Assim, pode-se desenvolver ações culturais e de cunho formativo que proporcionem mudanças políticas e sociais para homens e mulheres negras, de forma a contribuir para eliminar a forte combinação existente entre gênero, raça e pobreza na sociedade brasileira. Não apenas na Maré, mas em diversos territórios, é extremamente importante promover debates que fomentam pensamento crítico e recuperação de memória. Afinal, somos geniais e brilhantes!

Ronda Coronavírus: Após o fim da corrupção, mais corrupção

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Uma semana após anúncio do fim da operação Lava Jato, senador é apreendido com dinheiro na cueca

Uma semana após o presidente Jair Bolsonaro ter anunciado que operação Lava Jato acabou porque não há corrupção no Brasil, o senador Chico Rodrigues (DEM), vice-líder do governo no Senado, foi pego nesta quarta-feira (14) com mais R$33 mil na cueca. O delegado encarregado pela operação da Polícia Federal (PF) percebeu um “volume estranho na traseira da roupa do político” durante investigação de desvio de verba destinada ao combate à pandemia da Covid-19 em Boa Vista, capital de Roraima. O parlamentar faz parte da comissão do Congresso Nacional criada para monitorar o uso do dinheiro público no combate à pandemia.

Na investigação da PF que levou até Rodrigues, foi identificada uma fraude no processo de licitação para contratar empresas que atuariam no combate à pandemia para a Secretaria Estadual de Saúde de Roraima (Sesau). A Controladoria Geral da União (CGU) – que também atuou na operação – detectou desvios de cerca de R$ 20 milhões, acarretando em superfaturamento na compra de equipamentos de proteção individual (EPI) e testes rápidos de covid-19.

Na semana anterior, em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente afirmou que deu por encerrada a operação Lava Jato, iniciada em março de 2014, pois em seu governo não existe mais corrupção a ser investigada. Durante a sua campanha política, Bolsonaro teceu elogios à operação, o que o motivou a indicar o juiz Sérgio Moro, que atuava na Lava Jato, a compor o seu grupo de ministros, como Ministro da Justiça e Segurança Pública. O rompimento de Moro em abril dste ano se deu justamente por Bolsonaro tentar interferir politicamente na PF, incluindo na mudança do diretor-geral da corporação responsável pelas operações como a Lava Jato.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, determinou o afastamento do senador por 90 dias. Mas senadores reagiram à decisão  e querem levar o caso ao Conselho de Ética de o Senado. Eles alegam “usurpação de poder”, quando um poder passa por cima de outro. 

Números da covid-19

Enquanto o país lida com os altos e baixos da corrupção, a média móvel de mortes subiu nas últimas 24h, chegando a 510. Apesar de o número apresentar uma queda em comparação há 14 dias, houve um aumento em relação à média de quinta-feira, que foi de 500. Nas últimas 24h foram registradas 754 mortes e 30.914 novos casos de covid-19, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Desde o início da pandemia foram 5.200.300 casos confirmados e 153.214 mortes.

No Rio de Janeiro foram registrados 289.440 casos e 19.654 mortes por coronavírus, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde. A cidade do Rio tem 113.512 pessoas infectadas e 11.582 vítimas fatais pelo vírus. As favelas somam 15.968 casos e 2.064 mortes, entre confirmadas e suspeitas, sendo a Maré com o maior número entre as favelas listadas: 1.838 casos e 156 mortes de acordo com o Painel Unificador das Favelas. Já de acordo com o levantamento feito pela prefeitura, a Maré tem 732 casos confirmados e 126 mortes até esta sexta-feira (16).

Possíveis casos de reinfecção no Brasil

Na última segunda-feira (12), foi notificada o quinto caso de reinfecção pela covid-19 no mundo, como notificado na Ronda Coronavírus de 13 de outubro. Em pesquisa realizada em agosto pela Universidade de São Paulo (USP) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), havia 20 possíveis casos de reinfecções no Brasil, 16 em São Paulo e quatro no Rio de Janeiro. Os estudos brasileiros começaram com o caso de uma enfermeira de 24 anos que testou positivo em maio, 38 dias após ser considerada curada. Em 27 de junho, a jovem acordou sentindo sintomas da doença e ao realizar um novo teste, foi constatado resultado positivo. Até o momento, o Ministério da Saúde não confirmou casos de reinfecção e afirma que se reinfectar é “um evento raríssimo, que precisa ser investigado com a máxima cautela”.

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) tem investigado 160 pacientes que testaram positivo para covid-19 duas vezes em um intervalo superior a 21 dias. De acordo com a coordenadora da Vigilância Epidemiológica e Prevenção da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), Ricristhi Gonçalves, é preciso estar atento na investigação para conseguir entender se a pessoa teve contato com o vírus e adoeceu mais de uma vez ou se ela teve contato uma única vez e os sintomas se estenderam por um período maior que 21 dias. Os pacientes recebem acompanhamento de um grupo de infectologistas e epidemiologistas ligados universidades do estado e à Sesa. 

Dia D da multivacinação

Amanhã, (17) cerca de 1.500 unidades de saúde de todo o estado do Rio estarão abertas para atualização das cadernetas de vacinação de crianças e adolescentes. O Dia D da Campanha Nacional de Multivacinação é uma ação conjunta entre Ministério da Saúde, Secretarias de Estado de Saúde e Secretarias Municipais de Saúde e tem como objetivo aumentar a cobertura de vacina da BCG para 90% e outras vacinas em 95% até o final do ano.

Todas as vacinas presentes nos calendários da criança (de 0 a 10 anos) fazem parte da campanha, como BCG, Hepatite B, Penta (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e poliomielite), Pólio inativada, Pólio oral, Rotavírus, Pneumo 10, Meningo C, Febre Amarela, Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), Tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela), DTP (tríplice bacteriana), Hepatite A e Varicela. Para os adolescentes até 14 anos há os reforços de vacinas, como Hepatite B, Febre Amarela, Tríplice viral, Difteria e tétano adulto, DTPa, Meningocócica ACWY, HPV quadrivalente e Varicela.

Além dessas vacinas, também será oferecida a vacina de sarampo para pessoas de 6 meses a 59 anos.

Maré em tempos de coronavírus

Na 16ª edição do podcast da Redes da Maré, Eliana Sousa aborda o impacto da pandemia na alimentação de crianças e jovens, que em período escolar, se alimentavam nas escolas e creches e a dificuldade de famílias em garantir alimentação básica neste momento. O assunto também foi abordado no último boletim De Olho no Corona!, também disponível para leitura clicando aqui. De acordo com o documento, 17.577 famílias foram beneficiadas com a entrega de cestas de alimento e kits de higiene pessoal e de limpeza ou com oferta de cartão com crédito no valor equivalente ao da cesta básica. 

Telemedicina e saúde mental

Setembro amarelo passou, mas sempre é importante cuidar da saúde mental. Além de atendimento médico, o SAS Brasil tem realizado atendimento psicológico gratuito a moradores e moradoras da Maré de todas as idades. Basta mandar uma mensagem para (21) 99271-0554 e aguardar o retorno do especialista. O acompanhamento é feito pelo telefone, então não é preciso ir a nenhuma unidade de saúde.

Nenê do Zap

Incentivar os nenês a fazer tarefas de casa, como guardar os seu brinquedos, ajudam em seu desenvolvimento, além de ser importante na interação entre os pequenos e os seus responsáveis. Confira quais atividades podem ser feitas com os nenês na dica de hoje.

Kinder Ovo e Salsa: duas histórias de sofrimento por moradia

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Habitação digna vira dilema permanente na vida de moradores da Maré

Hélio Euclides

Em 1996, tempestades causaram deslizamentos e alagamentos que mataram 200 pessoas e deixaram mais de 30 mil desabrigadas na cidade do Rio de Janeiro. Historicamente, os pobres foram e são os que mais sofrem com a falta de uma política pública de Habitação e Saneamento Básico – e serviços essenciais, como escoamento das águas pluviais, coleta de lixo e abastecimento de água potável. Alguns dos desabrigados foram alocados num terreno em torno do Ciep Ministro Gustavo Capanema, na Vila dos Pinheiros, uma das 16 favelas da Maré.

Para assentar essas pessoas, foram utilizadas barracas do Exército e logo depois veio a construção de alojamentos provisórios. Esses espaços construídos pelo Governo Municipal foram apelidados de Kinder Ovo –  uma alusão ao ovo de chocolate muito pequeno e popular naquele período. Cada alojamento reunia 25 famílias, com apenas um banheiro e com infraestrutura precária. 

Inaugurado em início de 2000 como um desses espaços para assentar essas famílias do Kinder Ovo, o Conjunto Novo Pinheiro foi logo chamado de Salsa e Merengue numa referência a uma novela da época. Mas o espaço não conseguiu oferecer moradia para todas as famílias desabrigadas, a maioria foi para Nova Sepetiba e outras ficaram nos alojamentos à espera da construção de novas casas  – que seriam construídas atrás do Ciep Ministro Gustavo Capanema, na Vila dos Pinheiros. 

No dia 26 de junho de 2000, a Polícia Militar derrubou os últimos alojamentos provisórios restantes por determinação da Prefeitura, com justificativa de dar fim às invasões que vinham ocorrendo no Kinder Ovo. As  famílias receberam aluguel social por quatro anos até a construção das casas, aquelas que foram construídas atrás do Ciep, que ficaram conhecidas como Marrocos. 

Marrocos, Salsa e Merengue na Maré e Nova Sepetiba, na zona Oeste, foram os novos endereços das famílias desabrigadas pela chuva de 1996.

É preciso moradia e saneamento básico

Mônica Cândido mora há 16 anos em umas das 1.850 casas da favela Salsa e Merengue, na Maré, numa localidade conhecida como Vila dos Idosos. “A Vila era um local onde duas casas dividiam o mesmo banheiro, os moradores acabaram com isso. Aqui no Salsa falta saneamento básico, com o improviso de esgoto no canal de águas pluviais. O resultado é quando chove transborda tudo, volta a água pelo ralo do banheiro”, diz. 

Quando o Salsa e Merengue foi construído havia várias praças, mas com a construção das escolas municipais e ocupações, os espaços de lazer sumiram. Apesar de ser construído pelo Governo Municipal, o Salsa e Merengue não é legalizado por falta de autorização da Marinha, pela proximidade com a Baía de Guanabara. Isso é contado por Washington Luiz da Silva, de 59 anos, liderança local. “O Salsa nasce do projeto Rio Cidade, com o aterramento do mangue. Veio gente das favelas da Galinha, Beira Rio e Varginha”, expõe. O morador reclama que o local sofre com a falta de carteiro e com o esgoto a céu aberto, devido à tubulação ser pequena para comportar a  população.

Washington é taxativo quando se fala do direito à moradia. “Temos a Caixa Econômica, que deveria estar ao lado do povo, e virou uma agiota federal. Moradia virou um bom negócio. O banco dá a carta de crédito com juros altos e a pessoa não consegue pagar, perde a casa e volta para a favela”, conclui.

Números da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostram que o déficit de moradias cresceu 7% de 2007 a 2017, tendo atingido 7,78 milhões de unidades habitacionais no país. Já na cidade, a Defensoria Pública do estado do Rio de Janeiro aponta que pelo menos 15 mil pessoas estão em situação de rua. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio de Janeiro é a cidade brasileira com o maior percentual de sua população vivendo em favelas: dos 6.323.037 de habitantes, 22,03% moram em favelas, ou seja, mais de 1,3 milhão de pessoas.

O que dizem os órgãos públicos

A Companhia Estadual de Habitação do RJ (CEHAB) informou que a questão habitacional é de responsabilidade da Prefeitura, mas que oferece suporte quando necessário. 

A Secretaria Municipal de Infraestrutura Habitação e Conservação (SMIHC) informou que atua com políticas habitacionais que tragam condições dignas de moradia. Existe na Prefeitura do Rio um programa que visa combater o déficit habitacional da cidade, que é o Minha Casa, Minha Vida, que entregou nessa gestão cerca de 15 mil unidades habitacionais. Declarou que a Prefeitura do Rio aguarda a liberação de recursos por parte do Ministério do Desenvolvimento Regional para o início da construção de outros 2.360 imóveis do Minha Casa, Minha Vida. Os imóveis serão destinados ao reassentamento de pessoas que viviam em condições precárias e que hoje encontram-se no Auxílio Habitacional Temporário, ou para contemplar as famílias que se inscreveram e foram sorteadas no programa.

A SMIHC ainda disse na nota que a gestão municipal beneficiou mais de 8 mil famílias do programa com o Registro Geral de Imóveis, permitindo o acesso à escritura registrada, com valor de mercado e direito de herança. A previsão é de que esse número supere 12 mil famílias. Além disso, há o Favela-Bairro, que, desde 1994, urbaniza as comunidades da cidade e está em sua terceira fase – com mais de 60% das comunidades já atendidas. Sobre a Maré, a SMIHC não confirmou se será contemplada na próxima fase do Favela-Bairro, pois ainda está em estudos, não tendo qualquer definição sobre locais que atenderá. 

O Ministério do Desenvolvimento Regional não respondeu aos nossos questionamentos.

O Núcleo de Terras e Habitação, da Defensoria Pública (NUTH) afirmou que o direito à moradia está ligado ao básico existencial, garantia mínima de vida razoável. Além de inexistir uma política pública que contemple a todos na efetivação desse direito, também encontramos diversas violações por parte do poder público. Teoricamente, o Estado deveria prover os meios necessários para que todos pudessem viver com dignidade. E viver com dignidade consiste em gozar do direito à moradia, uma moradia digna. 

O NUTH acredita que em decorrência da omissão estatal, as pessoas foram buscando soluções para a questão da moradia. As favelas são a resposta social construída popularmente diante da falta de efetivação do direito à moradia. E no Rio de Janeiro, com a especulação imobiliária, com a seletividade existente no oferecimento dos serviços públicos essenciais, foi a solução empregada por inúmeras pessoas para atender suas necessidades. Nesse sentido, além da ausência estatal na implementação de políticas públicas, também há um movimento estatal de remoções nas comunidades, sem a apresentação de soluções definitivas de moradias e, muitas vezes, sem a observâncias das diretrizes legais.

Assim, no Município do Rio de Janeiro, muitas comunidades passam por esse processo de luta para evitar remoções e demolições. O NUTH realiza o atendimento de diversas comunidades, realizando acompanhamento extrajudicial e judicial. Em muitos casos, há ameaça de remoção, realizando-se a análise da situação com o auxílio da equipe técnica e construindo, com diálogo com a comunidade, as melhores estratégias a serem adotadas. Especificamente na Maré, não possuímos nenhuma coletividade em atendimento.

A Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) declarou que não há como ter precisão da quantidade de pessoas em situação de rua na cidade. Explicou que a Prefeitura do Rio, por meio da parceria entre a SMASDH e o Instituto Pereira Passos, tem programada a realização de um censo para apurar melhor estes dados, que deverá começar no próximo mês. O levantamento estava previsto para iniciar em março deste ano, mas por conta da pandemia, foi adiado e a previsão é que seja retomado agora em outubro. Ressaltou que pesquisas anteriores não estão sendo consideradas por conta do uso de diferentes metodologias, o que impede a comparação das informações. Além disso, os censos anteriores não levaram em conta certas peculiaridades da população em situação de rua.A 30ª Região Administrativa explicou que o saneamento é de responsabilidade do Governo Estadual, mas que realiza trabalhos quando necessário, como atualmente na Vila dos Pinheiros. Adiantou que funcionários da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE) já se encontram em fase de medição das ruas da Maré para a realização de uma grande obra de esgotamento.