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Prefeitura do Rio prorroga medidas de proteção à vida até 22 de março e estabelece novas restrições para combater a Covid-19

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Por Redação, em 11/03/2021 às 15h

Com o objetivo de prevenir a disseminação da covid-19 e dar fim às aglomerações, a Prefeitura do Rio publicou no Diário Oficial desta quinta-feira, 11/3, um decreto que prorroga até o dia 22 de março as medidas de proteção à vida instituídas na semana passada. O texto estabeleceu algumas modificações em relação ao documento anterior, como os horários escalonados de funcionamento de comércio, serviços e administração pública, para melhor distribuir o fluxo diário de passageiros nos transportes públicos e, assim, evitar as aglomerações. Além disso, quiosques e ambulantes poderão voltar a atuar nas praias com horários específicos.

De acordo com a decisão, o setor de serviços poderá funcionar de 8h às 17h; a administração pública de 9h às 19h; e  o comércio em geral, de 10h30 às 21h. Os estabelecimentos dentro de shoppings e centros comerciais deverão seguir, obrigatoriamente, esse horário escalonado. Essas medidas foram discutidas com as entidades empresariais.

– Respeitem as regras! Esses horários não são facultativos, são compulsórios. Identificamos que os principais vetores de contaminação (do vírus) são o transporte público, estabelecimentos de bares e restaurantes, e eventos. Agora tem neste decreto também que, se não respeitar, nós vamos agir com muito rigor e podemos fechar por 15 dias ou até definitivamente – disse o prefeito Eduardo Paes, lembrando que o setor de bares, quiosques e restaurantes agora poderá funcionar até as 21h, enquanto ambulantes e barracas fixas nas praias poderão trabalhar até as 17h.

Está mantida a proibição da permanência de pessoas em vias públicas das 23h às 5h. O prefeito voltou a fazer um apelo à população para que respeite as novas medidas, além das regras sanitárias já amplamente divulgadas.

– É importante que se entenda isso. Se as pessoas não usarem máscara, não mantiverem o mínimo de distanciamento social, se não usarem álcool em gel vão transmitir a doença, vão adoecer e vão colaborar para a superlotação dos hospitais. Essa pandemia é a coisa mais anticarioca que existe, somos uma cidade que gosta de abraçar e aglomerar, mas nesse momento específico isso não é adequado. Por isso a restrição. Evitar agora para não ter que ficar chorando a morte de ninguém depois – disse o prefeito, durante a divulgação da 10ª edição do Boletim Epidemiológico da Covid-19, nesta quinta-feira, no Centro de Operações Rio (COR), na Cidade Nova.

Entre as sanções para quem descumprir as medidas, está uma multa gravíssima, cujo valor varia de R$ 14.060,74 a R$ 56.242,92. Prevista no Código Sanitário em vigor, ela será aplicada em casos reincidentes.

– A tolerância vai ser zero. Não vai ser tolerado nenhum tipo de aglomeração. Se descumprir, se aglomerar, o bar será fechado por 15 dias. Está todo mundo mais do que avisado, a gente já comunicou diversas vezes, principalmente à associação de bares e restaurantes – alertou o secretário Municipal de Saúde, Daniel Soranz.

O município do Rio totaliza, desde o início da pandemia, 211.075 casos de Covid-19, com 19.207 óbitos. No ano passado, a taxa de incidência da doença foi de 2.863,6 por 100 mil habitantes, com letalidade de 9,3% e taxa de mortalidade de 267,1/100 mil. Já em 2021, a incidência está em 305/100 mil, a letalidade em 7% e a mortalidade, em 21,2/100 mil. Os óbitos mantêm a tendência de queda, porém os atendimentos de casos suspeitos nas unidades de urgência e emergência aumentaram, o que contribuiu para a decisão da Prefeitura em prorrogar as novas medidas restritivas.

Apesar de o panorama da cidade continuar a apresentar tendência de melhora, algumas circunstâncias mantiveram o Centro de Operações de Emergências (COE COVID-19 RIO) em alerta. Entre elas, o crescente número de casos de novas variantes do Rio detectadas na cidade, que chegou a 43 nesta semana, o Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 Fiocruz/Ministério da Saúde, de 2 de março, que verificou o agravamento simultâneo de diversos indicadores no país, e a sobrecarga da rede pública de saúde, com o aumento de casos de síndrome gripal e de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

Principais medidas restritivas e fiscalização

As ações de fiscalização na cidade estão intensificadas para garantir que as normas restritivas de proteção à vida sejam cumpridas. Ações integradas desde o dia 15 de janeiro entre a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), o Instituto de Vigilância Sanitária (Ivisa-Rio), a Guarda Municipal e a Defesa Civil já passaram por 58 bairros, contabilizando 769 inspeções em estabelecimentos, 482 infrações sanitárias e 135 interdições.

Confira abaixo as novas medidas restritivas:

Horários escalonados de funcionamento:

  • Serviços: 8h às 17h
  • Administração pública: 9h às 19h
  • Comércio em geral: 10h30 às 21h

OBS: Os estabelecimentos dentro de shoppings e centros comerciais deverão seguir, obrigatoriamente, o horário estipulado para a natureza da atividade.

Estão proibidos:

  • Permanência de pessoas em vias públicas das 23h às 5h
  • Eventos e festas em áreas públicas e particulares, incluindo rodas de samba
  • Funcionamento de boates e casas de espetáculos
  • Exposição à venda ou comercialização de bebidas alcoólicas em bancas de jornais e revistas

Regras de funcionamento:

  • Bares, lanchonetes, restaurantes e quiosques podem funcionar até as 21h.
  • Após esse horário, é permitida entrega em domicílio, drive-thru, entrega rápida com retirada no estabelecimento.
  • Não é permitido o consumo nos locais.
  • Serviço nas praias e na orla marítima, inclusive comércio ambulante fixo e itinerante: podem funcionar até 17h
  • Todas as atividades econômicas com atendimento presencial deverão respeitar a lotação máxima de 40%

Exceções:

Estão dentro do artigo nº 11, que diz que estão excluídos da resolução e devem seguir as regras da resolução SES/SMS – 871 de 12/01/21:

Academia

Piscina de condomínio

Consultórios

Farmácias

Posto de gasolina e conveniência

Padarias

Sanções previstas:

  • Valor máximo da multa individual: R$ 562,42 (Ex: pessoas sem máscaras, aglomerações e outros)
  • Apreensão de mercadorias, produtos, bens, equipamentos, instrumentos musicais, entre outros
  • Interdição do estabelecimento
  • Multa gravíssima: de R$ 14.060,74 a R$ 56.242,92

O que você precisa saber sobre a vacinação no Brasil

Após primeiro ano da pandemia, cenário para imunização é de incertezas

Por Edu Carvalho e Thaís Cavalcante em 11/03/2021 às 15h. Editado por Edu Carvalho

Com o início tardio de um plano para combater a pandemia do novo coronavírus, o Brasil desponta como um dos países que mais negligenciaram a campanha de imunização e os protocolos de saúde. Ao longo dos últimos meses, representantes políticos deslegitimaram não só o vírus, como a única solução possível para frear a disseminação e o contágio deste inimigo invisível: a vacina. Na figura do presidente da república Jair Bolsonaro (sem partido) e com aval do Ministério da Saúde e do encarregado da Pasta Eduardo Pazuello, o incentivo para o uso de medicamentos com ineficácia comprovada, apostando em atitudes que confundem a população.

O retrato da crise cada vez mais agravada é a capital amazonense, que em seu pior momento, vê o sistema público de saúde colapsar pela falta de leitos e de oxigênio. E mais: uma nova cepa, já presente em 91% das amostras de vírus sequenciadas no Amazonas, e que pode ter sabotado a imunidade coletiva de Covid-19 que existia na cidade.

Entre mandos e desmandos, já contabilizamos mais de onze milhões de casos confirmados e 270 mil mortes desde o começo da pandemia. Um dia antes de completar um ano de pandemia, o Brasil registrou a maior médica diária de mortes: 2.349.

Com liberação emergencial para duas vacinas, como está o panorama em relação ao processo de vacinação no país? Como têm se organizado o governo em relação às doses? O Maré de Notícias Online traz nesta matéria especial algumas das informações mais importantes para você saber nesse momento sobre o assunto.

Apesar da ‘guerra’, temos vacinas

Em meio a politização acerca das vacinas pelo governo federal, a vacinação contra o coronavírus começou no Brasil em 17 de janeiro, no mesmo dia em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, aprovou o uso emergencial da CoronaVac e da vacina de Oxford. A campanha de imunização foi iniciada com seis milhões de doses da CoronaVac, distribuídas proporcionalmente para os 26 estados e o Distrito Federal.

Durante reunião realizada no dia 8/3, com a presença do Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, do governador do Piauí e representante do Fórum Nacional de Governadores, Wellington Dias, e do Secretário de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Chaves, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou o início da produção em larga escala da vacina Covid-19.

A previsão de entrega é de 3,8 milhões de doses para o mês de março, com funcionamento da produção e os esforços que vem sendo realizados para a importação de vacinas prontas e junto à Anvisa para a aceleração de entrega dos lotes produzidos.

A primeira linha em funcionamento hoje está produzindo cerca de 300 mil doses por dia e a expectativa é chegar até o final de março, com as duas linhas em funcionamento, com uma produção de cerca de um milhão de doses por dia.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, declarou ontem, 10, que o sistema de saúde brasileiro “não colapsou, nem vai colapsar”. A fala foi proferida no mesmo dia em que o país perdeu 2.349 vidas para a covid-19, o maior número de mortes em 24h desde o início da pandemia.

Pazuello também afirmou que o Brasil receberia, neste mês, de 22 a 25 milhões de doses de vacinas, “podendo chegar a 38 milhões”. A quantidade é menor do que a última previsão divulgada pelo Ministério da Saúde no inicio de março, quando se estava previsto para se chegar 30 milhões de doses. Essa é a quinta redução de doses a serem entregues.

Até o momento, o Brasil aplicou 9 milhões de doses de vacina – o equivalente a 11,7% da população em grupos prioritários. Só 3,1 milhões de pessoas receberam ambas as doses de algum imunizante.

A vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório Sinovac BiotechImagem: Aloisio Mauricio/ESTADÃO CONTEÚDO

Demora na compra de doses por ‘’frustração’’

Nós já poderíamos ter começado a vacinação antes de janeiro. Em comunicado, a farmacêutica Pfizer disse ter apresentado em agosto de 2020, uma carta de intenção ao governo brasileiro para venda das vacinas. Na primeira proposta para aquisição de imunizantes, a entrega das doses estava prevista para dezembro. 

O Ministério da Saúde informou que o número de doses contra a covid-19 oferecidas pela farmacêutica seria insuficiente para atender a demanda do país. A previsão inicial do laboratório, segundo a Pasta, incluía dois primeiros lotes de 500 mil doses e um terceiro lote de 1 milhão de doses, totalizando dois milhões de doses.

“Para o Brasil, causaria frustração em todos os brasileiros, pois teríamos, com poucas doses, que escolher, num país continental com mais de 212 milhões de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem a vacina”, destacou o ministério, por meio de nota. O governo brasileiro cita ainda cláusulas abusivas estabelecidas pela farmacêutica.

Mas na última semana as coisas mudaram e houve anúncio da compra de 14 milhões de doses da vacina produzida pela farmacêutica, com previsão de entrega ao país em maio e junho. O imunizante da Pfizer é, até o momento, o único que possui o registro definitivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e já vem sendo aplicado em diversos países do mundo.

Hoje, 11/3, o chefe da Saúde garantiu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que assinaria o contrato firmar acordo com o laboratório. A estimativa seria trazer 100 milhões de doses da vacina.

Dose da vacina da Pfizer/BioNTech.
Reprodução: AFP

Para todo mal, há cura

Até o balanço de ontem, 10, feito às 22h, foram vacinadas mais de 328.77 milhões de pessoas no mundo, de acordo com o panorama divulgado pela Our World Data. No Brasil, o total de é de 9.013.639 pessoas, segundo dados divulgados pelas secretarias estaduais de saúde até as 20h. A informação é resultado de uma nova parceria do consórcio de veículos de imprensa, formado por G1, O Globo, Extra, O Estadão de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL.

A população vacinada no Município do Rio de Janeiro está sendo contabilizada em tempo real pelo portal online Vacinômetro que hoje, 11/3, registrava 723.402 mil pessoas vacinadas. Outros estados do país também aderiram ao portal, que informa o número e não expõe nenhum dado sobre onde, quanto ou quem está neste mapeamento.

Para Geraldo Fonseca, aposentado e morador da Nova Holanda, na Maré, tomar vacina será como um presente de aniversário. Exatamente uma semana depois de completar seus 75 anos, ele será vacinado. “Eu fico muito grato por isso. Se vacinar é como uma segurança de vida, eu gostaria que todo mundo pensasse assim. é para o bem da gente. Sem isso, é como se a gente estivesse sem os chinelos, que fica fácil machucar os pés”, admite.

O conjunto de favelas continua sendo líder em número de casos de covid-19, se considerarmos os territórios populares do Rio de Janeiro. São mais de 3 mil casos, segundo o Painel Unificador das Favelas. Para Geraldo (pai da repórter Thais Cavalcanti), a vacina e o isolamento social são formas de melhorar esse cenário. “A gente deve se prevenir e resguardar. Muitas coisas ruins estão acontecendo no meio do mundo e quem trabalha quer mais é saúde”.

No Plano de Vacinação carioca também há orientações para que a população prefira o horário da tarde para se vacinar, leve a caderneta de vacinação se tiver, dê preferência para a unidade de saúde que frequenta e é necessário guardar o comprovante da primeira dose para tomar a segunda. 

Estados preparam informações sobre quando devem vacinar
Em Recife, o sistema utilizado para organização é o site Conecta Recife, que também tem aplicativo no Google Play e App Store. Nele, o cidadão pode fazer o agendamento nos postos de vacinação específicos. 

Reprodução: governo estadual de Recife


Já o estado de São Paulo criou o site #VacinaJá, onde a população pode preencher os dados pessoais e aguardar o momento exato em que o grupo que lhe cabe será chamado.

Interface do site Vacina Já, desenvolvido pelo governo de São Paulo para acelerar vacinação no Estado. Divulgação

Aposta do governo brasileiro para monitorar vacinação é o ConecteSUS

Uma caderneta digital, disponível no seu celular, pode ajudar a identificar quando deve se vacinar pela primeira vez e a voltar ao posto para uma segunda dose. Para isso, a aposta do governo federal e do Ministério da Saúde é o Conecte SUS. Ele registra toda a trajetória de quem busca atendimento nas unidades do Sistema Único de Saúde e disponibiliza, entre outras ferramentas, a Carteira Nacional Digital de Vacinação.

A ferramenta já está disponível gratuitamente nas lojas de aplicativos – Google Play e App Stores. Depois de baixar, basta informar o número do Cartão Nacional de Saúde – também chamado de Cartão SUS – ou do CPF. Se você já tiver cadastro nos sites do governo federal, com o CPF, provavelmente poderá usar a mesma senha. Se não tiver, é só preencher o formulário. 

Até o momento, não há no site, tampouco no aplicativo, nenhuma atualização sobre as vacinas contra o coronavírus.

Reprodução: Ministério da Saúde

Pelo mundo, a organização frente às campanhas de vacinação acontece de maneira ordenada. Em Portugal, que começou a vacinar no final de dezembro, o governo envia avisos, por SMS. “COVID19: Vacinação começa Aguarde contacto do SNS”, diz a mensagem, citando o Serviço Nacional de Saúde. No Reino Unido, primeira nação a iniciar a imunização, os alertas são disparados por e-mail de que. As vacinas utilizadas tanto em Portugal quanto no Reino Unido são as das farmacêuticas Pfizer e BioNtech

Quais são as diferenças entre as vacinas CoronaVac e Oxford?

No Brasil, temos duas vacinas sendo possibilitadas à população: a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês SinoVac em parceria com o Instituto Butantan do Brasil, e a vacina Oxford/AstraZeneca, com compartilhamento através da Fundação Oswaldo Cruz. 

A segunda dose da CoronaVac precisa ser tomada num intervalo de 14 a 28 dias; e a segunda dose da vacina de Oxford, em 12 semanas. Com o número ainda bem reduzido de vacinas no Brasil, os médicos alertam sobre a importância de garantir a aplicação da segunda dose no prazo certo para uma imunização completa.

Ontem, o governador João Doria (PSDB) disse que a vacina CoronaVac é eficaz contra as três variantes do coronavírus – a britânica (B.1.1.7), a brasileira (B.1.1.28) e a sul-africana (B.1.351) – em circulação no Brasil.

De acordo com Doria, a eficácia da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan e pelo laboratório chinês Sinovac foi verificada em um estudo preliminar feito em parceria com a Universidade de São Paulo (USP).

Como neste momento a primeira fase da campanha as vacinas são aplicadas in loco, o controle das datas para receber a segunda dose é mais fácil de administrar, mas isso deve mudar quando tivermos disponíveis um maior número de doses e mais grupos puderem ser imunizados. Será necessário que o próprio indivíduo procure serviço, no posto de vacinação mais próximo. Caso atrase ou esqueça de voltar, essa dose será aplicada do mesmo jeito, porque está contabilizada no cálculo.

Glaucia Paula é técnica de laboratório e foi vacinada contra a covid-19.
Foto: Arquivo pessoal.

Tomar vacina, um ato pela saúde do outro

Glaucia Paula, técnica de laboratório em duas unidades de saúde e nascida no Parque União, foi vacinada na semana em que a CoronaVac chegou à cidade do Rio de Janeiro. “No momento da vacina eu senti alívio e esperança. Alívio, pois mesmo tendo contraído a doença em maio e ficado bem e sem sequelas, ainda temo pelos meus familiares que são do grupo de risco”.

Seu dia a dia de trabalho era uma realidade vivida em todo o país. “Há um desgaste emocional muito grande em estar à frente na assistência. Desde o início da pandemia, os plantões foram caóticos: no início, pela falta de equipamentos de proteção individual, depois a questão da higienização e da paramentação, que exigem cuidado e fazem com que os processos fiquem mais lentos. Também foi exaustivo lidar com o afastamento de colegas contaminados”, afirma.

A notícia de que foi uma das escolhidas para ser vacinada chegou em uma lista por e-mail e, priorizaram aqueles que tivessem um contato mais direto com o paciente. É o caso de Glaucia, que faz coletas de sangue também em pacientes no CTI COVID-19. A organização foi feita pela equipe de enfermagem e durou cerca de 15 minutos, sem aglomeração. Nem todos do laboratório foram vacinados, mas foi prometido que, conforme mais doses forem adquiridas, todos serão beneficiados.

No e-mail, além do nome dos beneficiados, ela conta que também foi informada qual era a vacina e que seria imunizada com a primeira dose e em breve, com a segunda. “Pediram para que levássemos o cartão de vacinação do adulto e o crachá da instituição. Na hora da vacinação, passamos por uma avaliação sobre o estado de saúde e fomos orientados sobre a importância de levar o cartão ou comprovante de vacinação para segunda dose, pois é necessário para a conferência do lote”.  

Sobre o movimento anti-vacina, ela reforça que tomar vacina é um ato sanitário e um pacto social, não uma atitude individual – é pelo bem de toda a população. “A saúde é movida por dados científicos, por trás dessa vacinação existem profissionais muito qualificados e gabaritados que pesquisaram e estudaram para que hoje tenhamos esperança”.

De acordo com informativo publicado pela Associação Médica Brasileira e a Sociedade Brasileira de Infectologia, a vacinação e o tratamento farmacológico preventivo, as fake news continuam como uma grande inimiga neste período em que a vacinação chega aos estados brasileiros. “A desinformação dos negacionistas que são contra as vacinas e contra as medidas preventivas cientificamente comprovadas só pioram a devastadora situação da pandemia em nosso país. As principais sociedades médicas e organismos internacionais de saúde pública não recomendam o tratamento preventivo, inclusive a ANVISA”.

Além de alertar e apresentar a situação atual, as entidades também mostraram orgulho e apreço pela ciência. “Parabenizamos todos os pesquisadores que participam dos estudos clínicos das vacinas contra COVID-19, o Instituto Butantan e a Fiocruz, instituições públicas que orgulham os brasileiros”.

Às mortes – 1 ano de pandemia

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Por Jéssica Moreira, blog Morte Sem Tabu – Folha

A morte sempre foi assunto presente nas periferias e favelas. Muitas vezes, na surdina, porque é proibido dizer quem matou, quem mandou matar. 

Segundo o Atlas da Violência 2020, 75,7% das vítimas de homicídios são pretas e pardas. Entre 2008 e 2018, as taxas de homicídio apresentaram um aumento de 11,5% para os negros, enquanto para os não negros houve uma diminuição de 12,9%. 

Outras tantas vezes, a morte é esquecida, como se a gente não tivesse existido nem em vida. Até pra morrer há privilégios. Quem sobe o morro para recolher corpos mortos? 

A morte nos ronda das mais diversas formas e, em muitos casos, chega antes da hora. No hospital não construído, no aperto diário do ônibus ou trem, no prato vazio em meio a uma crise sanitária e social.

Há um ano, a morte também bateu invisivelmente no portão. Diziam que bastava lavar as mãos. Mas quem tem água potável em casa? Disseram que bastava trabalhar de casa. Mas quem tem essa opção? Disseram que era uma gripezinha.

Batemos a triste marca de dois mil mortos em um único dia. A cada 100 mil mortos, um milhão de pessoas seguem em luto. Já somamos mais de 270 mil óbitos, mais de 2 milhões de enlutados no Brasil. Gente que também precisa de cuidado.

A morte sempre me arrebata. Uma ou mil. Uma ou duas mil. Por minuto, por hora ou por anos. Ela não me deixa ignorar o medo, a raiva e também a agressividade de quem assina dia após dia novos protocolos de morte. 

Mas disseram que precisamos parar de ‘mimimimi’, enquanto no dia seguinte o sistema de saúde continua em colapso. 

Há muito a gente vem morrendo. De uma morte prematura carimbada pela ausência, essa morte de tudo. Moro num país tropical desgraçado pela mão de um homem que mata.

Como convencer a usar máscara e manter o distanciamento a quem sequer tem teto?

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Por Leo Motta em 11 /03/2021 às 9h

Novos rostos e histórias chegaram nesse período. Triste realidade. Se sair dessa situação sozinho é quase que impossível, imagina com uma pandemia? No primeiro momento veio  uma chuva de solidariedade. Porém hoje, após um ano, muita coisa mudou. A ajuda vista no começo já não é a mesma, e a cada dia parece que a coisa fica mais difícil.

Convencer quem não tem um endereço a usar máscara, muito menos fazer distanciamento é complicado. Para quem só sobrevive tendo como companheira a dureza da calçada e a frieza de um papelão, os cuidados nem sempre conseguem ser os primordiais. As urgências são outras. A rua é casa de muitos, mas deveria ser mesmo de ninguém. 

Os projetos sociais que permanecem passam por dificuldade, inclusive o meu, criado em 2019, o qual batizei com o que eu acredito. Aos sábados, atendemos 150 pessoas em situação de rua. Além de pessoas, encontro também incertezas. Com uma piora e aumento de contágio, medidas restritivas, a situação só pode agravar. Sem ter direito ao Auxílio Emergencial, pois muitos não têm sequer documentos, como vão comer? 

A preocupação maior agora é com a vacina. Não se tem relatos específicos da população de rua que fez testes, de casos confirmados, muito menos de óbitos. Será então agora que vão lembrar de quem está na calçada? A imunização vai chegar?

Da criança ao jovem, de homens, mulheres e trans; de idosos, gestantes a dependentes químicos e alcoólicos, além dos que têm transtornos mentais. Essas pessoas merecem acolhimento, não o sentimento de que o mundo não é para elas. Elas também merecem e devem receber a dose, assim como alimento e moradia.


Leo Motta fez parte da população em situação de rua e é escritor

Entrevista exclusiva Mandetta: ‘’Se não parar, em 15, 20, 30 dias, o Sudeste vai estar em calamidade’’.

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Por Edu Carvalho

Primeiro de três ministros a ocupar a pasta da Saúde durante o ano um da pandemia, o médico ortopedista e político Luiz Henrique Mandetta estava na linha de frente. Foi sob sua gerência que os brasileiros tiveram os primeiros relatos desta que seria a maior crise sanitária da história. Chefe do Ministério da Saúde no primeiro mês do decreto global, organizou a retirada de ex-patriados em Wuhan, nascedouro do vírus; além de avatarizar nacionalmente todos os cuidados preconizados no enfrentamento da covid-19, aflorando sentimentos contrários a partir do chefe da nação, o presidente Jair Bolsonaro. 

Em entrevista exclusiva ao Maré de Notícias, concedida na última quinta-feira, 4/3, o ex-ministro remonta as lembranças de um passado não muito distante, evidenciando os principais erros e aquilo que poderia ter sido feito – e não foi.  

Maré de Notícias: O senhor era ministro da saúde e viu nascer a disseminação do vírus. Qual era o seu sentimento naquele momento?

Luiz Henrique Mandetta:  Era da total necessidade de preparar o sistema para o vírus que, embora desconhecido, vinha mostrando uma cara. Primeiro na Península Asiática, depois Europa e depois Estados Unidos, numa velocidade altamente transmissível. Você pode ter direito na Constituição de atendimento à saúde, ter plano de saúde, ter dinheiro, mas se não existe o sistema para te atender, a morte é a consequência. A gente precisava expandir o sistema de saúde de maneira rápida e organizada, num momento de muita angústia porque a Ciência não tinha nenhum tipo de solução para apresentar, a não ser soluções muito antigas de distanciamento e higiene. Era uma sensação angustiante para um país que precisava fazer tudo. 

Maré de Notícias: A Organização Mundial da Saúde – OMS – e seu diretor-geral, Tedros Adhanom, diziam, naquele momento,  que o vírus se restringia apenas e somente a China. Mas precisou que o sistema de saúde colapsar na Europa para que um aviso de pandemia global pudesse ser feito…

Mandetta: Era uma coisa que eu criticava. Fui um dos primeiros ministros no mundo a dizer que estávamos sobre uma pandemia, e no dia seguinte que eu fiz esse alerta mundial ele [Tedros] veio a público dizer que não era. O começo foi muito dúbio. Quando entrou no mundo ocidental e o primeiro caso do Brasil foi dia 26 de fevereiro, uma Quarta-Feira de Cinzas, me lembro até da roupa que eu estava. Nesse mesmo dia a Itália falou assim: ‘Meu sistema acabou, lockdown geral, fechou tudo’. Depois foi caindo em cascata e o mundo falou ‘’Opa, quer dizer então que aqui no mundo ocidental é diferente’’. Caiu o sistema de saúde na Inglaterra, França, Alemanha, que são sistemas que eu conheço e fortes.

E lembrando que a doença no Brasil entrou pela classe média alta. No Rio de Janeiro começou por Ipanema, Leblon, Barra, um pessoal que tinha ido para a Europa. Minha preocupação era que na hora que chegasse nas comunidades, na massa, o Sistema Único de Saúde não estaria preparado. Seguramos ao máximo naquele momento, para dar tempo de montar equipamento, equipe médica, o que você não faz com um estalar de dedos. Na Inglaterra, as enfermeiras estavam usando saco de lixo porque não tinham equipamento de proteção individual. Aqui, não tínhamos máscara nem respirador. 

Maré de Notícias: O senhor lembra que o primeiro caso foi na Quarta-Feira de Cinzas. Se soubesse antes como se daria a transmissão, teria brigado para o Carnaval não ter acontecido? 

Mandetta: A primeira mensagem passada era que um vírus era lento estava só em Wuhan. Nisso, o mundo manteve os voos abertos, a China com toda sua economia, os Estados Unidos, outros países mantendo trânsito de pessoas para lá e para cá, fazendo negócios, fábricas, produtos. A gente montou uma vigilância na hora que a gente recebeu o primeiro caso, um homem de São Paulo. Ele tinha voltado da Itália, chegou em São Paulo na sexta-feira de carnaval, a mulher foi buscar no aeroporto. No dia seguinte ficou em casa, não saiu, mas no domingo recebeu 32 pessoas da família para um churrasco. Segunda-feira ele teve mal-estar e na terça fizeram um teste no Albert Einstein. Deu positivo. Na Quarta de Cinzas a gente fez a rechecagem no Adolfo Lutz e fomos atrás dos primeiros 32 que tinham estado com ele na casa, para botar todo mundo em monitoramento. 17 tinham se contaminado, e esses 17 sete contaminaram mais cento e poucas pessoas. 

Ali no caso de São Paulo a gente conseguiu acompanhar, tentando bloquear até a quinta passagem. Mas depois já foi um caso no Rio, em Belo Horizonte, em Santa Catarina. Brasileiro é um povo muito próximo, encontra uma pessoa e dois beijinhos, tem lugar que você dá até três e abraça. Se a gente soubesse que era um vírus de alta transmissão, mas não, tínhamos o conceito de que era um vírus leve. Isso teve um peso em todo mundo ocidental. 

Maré de Notícias:Tendo sido ministro que estava ali, ‘in loco’, no momento que acontecia, quais foram os maiores erros no combate à pandemia no Brasil?

Mandetta: Essa doença é coletiva, não é uma doença individual. 85% das pessoas que contraem têm quadro leve, não vão precisar do hospital. Mas 15% vai, e o problema é que esse quantitativo vai em paralelo para o hospital com o cara que teve um infarto, um derrame, um AVC, com a mulher que teve um parto prematuro e o hospital está com a porta saturada, não consegue atender. Como é uma doença coletiva, ela ataca não só a saúde,  ela ataca educação, cultura, entretenimento, toda sociedade. 

E só tem uma maneira de você enfrentar coletivamente: é você ter uma posição coletiva. É o ‘Vamos enfrentar isso aqui juntos, vai ser duro, mas é o que a gente pode fazer’. Quando o presidente coloca que não, que essa doença é uma ‘gripezinha’, com ‘toca a vida, toma cloroquina’, faz com que as pessoas falem ‘Ah cara, eu já tenho anticorpos, já peguei e nem senti nada’. O jovem então ele fala ‘Pô, eu sou um super-herói, eu já tenho anticorpos, nem senti dor, devo ter pego de alguém’. Mas quando você vai aumentando a idade, você vai massacrando a turma de 50, 60, 70, 80, você vai perdendo, vai perdendo, vai perdendo. E de repente o hospital lotou, e a sua consciência mesmo começa com ‘Pô, eu vou ser um vetor pró-vírus ou eu vou tentar segurar a onda desse drama?’.Perdemos a unidade, para prevenir a gente ficou confuso na parte de atendimento às pessoas porque falaram ‘Toma esse remédio aqui’. As pessoas saíram comprando cloroquina, ivermectina e ninguém sabia o efeito colateral. Quando a gente teve a porta de saída da crise, que ou seria um remédio ou a vacina, que foi o caso, era a hora da gente falar ‘Vamos aonde a ciência optar’. 

Veio uma eleição municipal, depois Natal, Réveillon, os números começaram a subir. Entrou janeiro, verão, sol, praia e o vírus adorou. Quando você tem uma cidade como Manaus, que teve muitos casos na primeira onda, o vírus se apresentou de outro formato. Lá, tinha muitos anticorpos, a cepa tinha que mudar bastante, e ela mudou, ficou nova. Nós plantamos uma mudinha em Manaus, e ela veio com força, o Ministério da Saúde foi lá e disse ‘Aqui tá tão ruim que eu vou tirar esse povo daqui’, e mandou gente para cada capital brasileira como no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, São Paulo, no Rio, em todos os lugares do Brasil. 

Maré de Notícias: Nesse sentido o Brasil virou Manaus? Há como reverter o quadro?

Mandetta: Eu acho que o Brasil que temos, de intensidade de transmissão, está virando a mesma intensidade de Manaus. Agora em Manaus o sistema de saúde é mais frágil do que em outros lugares, lá acabou o oxigênio, e a morte por falta de oxigênio é a morte mais cruel, é você colocar o saco plástico na cara da pessoa e a pessoa tentar puxar o ar e não conseguir. Eu não acho que isso vai se repetir em todas as cidades brasileiras, porque em Manaus foram muito negligentes no enfrentamento. 

Agora no Rio Grande do Sul, no Paraná, em Santa Catarina, no Nordeste, como Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia está super complicado. E o sudeste, que é Rio, Minas, São Paulo e Espírito Santo, ou seja, metade do Brasil, a coisa também está começando a subir. Ou você acelerara a vacina, do tipo ‘vamos vacinar dentro do Maracanã, Maracanãzinho, no pedágio, na rua’, se a gente tiver todas as vacinas é possível segurar um pouco. Se não parar, daqui a 15, 20, 30 dias, o Sudeste vai estar passando essa situação de calamidade, com pessoas morrendo sem assistência. 

Maré de Notícias: O senhor tem algum sentimento de culpa?

Mandetta: Não. Eu acho que na vida a gente não escolhe desafio, o que eu fiz foi me atentar aos valores que eu fui educado, que fui criado, que estudei. Entre vida e morte, eu sou ‘Vida Futebol Clube’. Me vi na obrigação de falar com a imprensa, com as comunidades, rádios comunitárias, blogs.

Outro dia veio a Orquestra Maré do Amanhã aqui no Pantanal. Naquele momento a pauta era outra, mas tinha o contexto da pandemia. Um cara que estava lá falou para mim ‘Mandetta, eu escutei você falando no rádio, vi você na televisão. Eu consegui arrumar um jeitinho para minha mãe se proteger com meu pai’. Eu comprei um papel naquele momento que era levar informação, fiz o máximo que eu podia fazer ali. E disse ao presidente: ‘Eu só vou sair daqui quando o senhor me mandar embora, médico não abandona paciente, eu vou ficar até o limite da paciência e a mensagem que eu vou passar é de proteção à vida’. 

Maré de Notícias: O senhor acredita que se fosse outro presidente, como Fernando Haddad, nós estaríamos com esse cenário?

Mandetta: Talvez sim, talvez não. Talvez se fosse outro ministro, se não fosse o Mandetta e a Margareth Dalcolmo, se nós estaríamos nesse cenário, não sei. Essa doença é uma doença que afeta a sociedade, que afeta o conjunto. Ela vem para desafiar o ser humano. 

Se todos nós tivéssemos falado a mesma língua, teríamos passado por isso com menos perdas, e as perdas que tivéssemos, lamentaríamos.

Ele [o vírus] é suprapartidário, não quer saber se o cara é do PT, se o cara é Bolsonaro, se é torcedor do Botafogo como eu, ou Flamengo. O vírus só quer simplesmente pegar carona onde puder. O líder faz sim, muita diferença, mas se não conquistar a sociedade, se não mostrar a mensagem, o resultado é igual.

Maré de Notícias: Há um certo tipo de clamor pelo impeachment. Você é a favor?

Mandetta: Há crimes de saúde pública em vários momentos, quando ele propõe um remédio que induz as pessoas a automedicação, é crime. Quando você coloca medo na vacina, que a única saída que a gente tem, e que se você tomar você vai virar um jacaré, isso é crime. Quando você sabe que tem uma doença infecciosa transmitindo e você não usa máscara, provoca aglomeração, contágio, coloca na sua mídia social para falar que esse é é o caminho, isso é crime contra saúde pública. Razões existem. 

Agora o processo de impeachment não é só um processo jurídico, é um processo político. 

A presidente Dilma Rousseff quando sofreu o impeachment, só ocorreu, porque o próprio PT na época deu as condições. Este presidente não dá as condições políticas, ele divide a sociedade, faz com parte dela dê suporte às suas colocações, porque todo mundo quer voltar à vida. Eu ainda acho que o melhor caminho é deixar mais claro qual é o tipo de liderança que temos nesse momento. Será que esse líder, que liderou tão mal a crise pela vida, vai ter condições de liderar uma reconstrução, uma conciliação nacional? É essa pergunta que vai estar no cardápio do país em 2022, ano eleitoral. Teremos muito material para refletir, para saber apontar o rumo para o que a gente deseja. O final disso vai ser a urna.

Maré de Notícias: Favelas e periferias, que têm o contingente de pessoas que precisam trabalhar, estão em situação de vulnerabilidade, não recebem o Auxílio Emergencial, qual é a recomendação?

Mandetta: Proteção, usa máscara, até duas. Não cumprimenta ninguém, não pega na mão, evite tocar, só mesmo se for inevitável. O transporte público é inevitavelmente uma aglomeração, morei no Rio de Janeiro durante dez anos, conheço muitas regiões, inclusive as comunidades. Procure sair um pouco mais cedo, para não pegar horário de pico. Faça o possível para que as pessoas mais idosas da sua família, da sua comunidade, vacinem. 

Evite o baile, o evento, a aglomeração. Essa liderança tóxica não vai levar você a lugar algum. Eu sei que a vida é dura, que está difícil, mas uma corrente de solidariedade ainda existe e resiste. Agora é a hora de ser solidário, vamos atravessar esse momento e depois que essa essa situação tão crítica passar, a gente vai precisar de todo mundo forte para reconstruir o Brasil. 

Maré de Notícias: O que você diria para os familiares que perderam seus entes queridos para a covid-19?Mandetta: Eu não sou diferente, minha tia e madrinha faleceu há uns 20 dias. Essa doença não faz nenhuma distinção de classe, não tem nenhuma família que não tenha um ente ou amigo próximo que faleceu. Não tivemos essa, que é uma das maiores coisas da natureza humana, que é poder ir lá chorar. Esse momento do choro está engasgado na garganta. Vamos ter fé. Minha solidariedade, nós estamos juntos. Eu sou devoto de Nossa Senhora Aparecida, rezo pedindo para que leve conforto às famílias, tenho esperança de que amanhã vai ser um outro dia. A gente vai sair dessa melhor, eu acredito na nossa capacidade de sair um pouco melhor desse momento.

Histórias dos mareenses vítimas da covid-19

Relatos da dor e da saudade de quem perdeu familiares para covid

Por Hélio Euclides em 11/03/2020 às 6h, editado por Daniele Moura

Um ano de pandemia trouxe resultados catastróficos no Brasil. Foram mais de 11 milhões de brasileiros infectados e mais de 260 mil mortes por covid-19.  Para os que perderam seus familiares, um misto de dor, tristeza, saudade, raiva e  perplexidade. “Gente merece existir em prosa”, diz Edson Pavoni, coordenador do Inumeráveis, um site-memorial que faz uma homenagem aos brasileiros que morreram por coronavírus. 

Raquel Casimiro perdeu familiares de duas gerações para o covid: o avô Isidorio do Espírito Santo, de 79 anos, e a mãe de consideração Angélica de Paula, de 31 anos. Ambos tinham comorbidades. “A morte do meu avô foi gradativa, ele já estava bem mal por causa da diabetes; foi para o médico e lá pegou covid e depois de uns dias veio a óbito”, diz Raquel ao lembrar que  seu avô gostava de ir a igreja, mas pela diabetes, não conseguia mais participar dos cultos na Baixa do Sapateiro, uma das favelas da Maré.

A mãe, Angélica, era moradora do Morro do Timbau e não conseguiu seguir com o sonho de trabalhar com pedagogia,  curso que havia acabado de terminar. “Por mais que ela já tivesse doente, por conta dos rins parados e por isso fazia hemodiálise semanalmente, era uma mulher jovem e forte. Quando recebi a notícia do seu falecimento, fiquei sem acreditar, me bateu uma tristeza muito grande. Há uma saudade de um avô que tinha muita fé e de uma mãe e amiga que era extremamente generosa e divertida”, conclui Raquel. 

Eliane Laia Oliveira lembra com carinho da prima Roberta Ferreira da Costa, de 45 anos, que deixou uma filha de 26 anos. Uma pessoa que vivia intensamente. “Morava na Maré desde quando nasceu. Uma mulher muito alto-astral, batalhadora, sempre trabalhou desde os 14 anos como costureira. Estava perto de se aposentar por tempo de serviço. Criou a filha sozinha, ao se separar com apenas 18 anos. Voltou para casa da mãe e quando comprou a casa própria no Parque União, a levou junto”.

Roberta Ferreira da Costa. Arquivo pessoal

Roberta estava triste e abalada com a morte da irmã, em abril de 2020, por diabetes e infecção pulmonar. Um dia chegou do velório e o outro foi para o hospital, ficando 22 dias e não voltando mais. Na tomografia, o diagnóstico do coronavírus. “Foi muito difícil para mim. Até hoje sinto muita saudade dela, me abalou muito, fomos criadas juntas, era como se fosse uma irmã para mim. Era muito divertida. Muita gente gostava dela, tinha muitas amizades. Passou por vários obstáculos na vida dela, mas superou todos. Saía muito com a filha, pois eram muito amigas”, comenta. Roberta resume que a prima era uma mãezona e uma filha maravilhosa.

Tatiara Fortunata do Valle se emociona ao falar da mãe, Ramilde Fortunata Maurício, que faria 77 anos. “Minha mãe morava em Itaboraí e todos os finais de semana eu subia para vê-la. Ela sofreu uma queda, quando fraturou o fêmur esquerdo. Dessa forma, a  trouxe para a Nova Holanda, por ter mais recursos”.  

Ramilde Fortunata Maurício. Arquivo pessoal

Um dia, Ramilde começou com tosse e não ter apetite. Ela passou a ser assistida pela Conexão Saúde, projeto da Redes da Maré com outras organizações que oferece testagem, telemedicina e isolamento seguro com doações de cestas de alimentação e kit de limpeza. “O problema foi que no final do ano minha mãe levou outra queda onde fez um corte na testa. Eu e meu irmão a levamos para o hospital. Foi feito o teste da covid, que deu negativo. Também foi realizada uma tomografia devido ao tombo. Ela ficou oito dias no CTI não covid. No oitavo dia, recebemos a ligação informando que o novo teste de covid tinha dado positivo e que ela tinha falecido. Era uma pessoa forte, guerreira e batalhadora”, conta Tatiara. Ramilde deixou cinco filhos, sete netos e quatro bisnetos.

Ariolando Pereira, mais conhecido como Ary da Maré, de 52 anos, faleceu no final de 2020. Foi um líder comunitário popular no território e articulador da Light na Maré e morreu por uma parada cardíaca, com suspeita de covid. “Meu pai me ensinou tudo que pode. Para a família ele sempre vai existir em nossos corações”, diz Leonardo da Costa Pereira, um dos quatro filhos de Ary, que também deixou quatro netos.

Ary da Maré e seu filho Leonardo da Costa Pereira

Ary concorreu à vice-presidência da Associação de Moradores da Nova Holanda e se candidatou a Deputado Estadual pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN) em 2018. “Era uma pessoa que não tinha limites, quando queria algo conseguia. Uma pessoa que faz muita falta. Ninguém vai chegar perto de tudo que ele fez pela Maré. Era um cara que não tinha hora para ajudar as pessoas. Olhava muito para os moradores, às vezes, esquecia de cuidar dele mesmo. Pensava sempre nas pessoas que precisavam deles. Ao andar pelas ruas falava com todos, quem conheceu meu pai sabe disso”, lembra com  saudades o filho Leonardo.

Nívia Chavier lembra de sua tia com afeto, moradora do Parque Maré, Joaquina Lopes Rodrigues. Mais conhecida como Tia Quênia, estava na faixa dos 70 anos, e apesar dos sintomas, no início da pandemia, não conseguiu realizar o exame para confirmar a covid. Com medo do preconceito, alguns familiares negam a suspeita. “Era uma pessoa que fazia de tudo, em todos os aspectos. Trabalhou como doméstica para pagar a escola dos filhos. Lembro dela deixar sempre a casa limpa. Hoje o marido arruma a casa como se estivesse esperando por ela”. Joaquina deixou uma filha e o marido.

Joaquina Lopes Rodrigues com o marido

Thayná Lacerda, moradora da Nova Holanda, ainda chora pela morte de seu primo Paulo Sérgio dos Santos, de 42 anos, que faleceu no dia 1º de março deste ano. “Primeiro ele pegou um resfriado, se sentiu mal e foi para o hospital. Lá o médico fez os procedimentos injetando coagulantes na barriga e injeção de antibióticos. No outro dia, o quadro piorou e de Itaboraí, foi transferido para o Rio de Janeiro, com 50% do pulmão comprometido e ficou recebendo oxigênio. Ocorreu uma melhora, voltou a se alimentar mais teve uma recaída e ficou com 75% do pulmão comprometido, foi para intubação com parada cardíaca e não suportou. Era um cara muito alegre e onde chegava era festa e sorrisos. Estávamos sempre juntos, em confraternizando em família. Está sendo muito difícil entender porque isso aconteceu, por ser uma pessoa que tinha tanta vontade de viver”. Paulo deixou a esposa e um casal de filhos.

Paulo Sérgio dos Santos. Arquivo pessoal

Até o dia 8 de março foram 167 mareenses que morreram de covid-19.