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Artigo: ‘Marchemos!’

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“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”

Por Marcello Escorel em 24/04/2021 às 07h

Hoje a luz vem de um tradutor, ensaísta e poeta, que durante quatro décadas se dedicou para nos dar uma nova visão do Antigo Testamento e dos Evangelhos: André Chouraqui. Um argelino de família sefaradi (judeus orientais), que fez parte da Resistência na França durante a Segunda Guerra Mundial e depois migrou para Israel, onde, desde 1957, trabalhou incessantemente a favor da reaproximação das comunidades espirituais.

Vamos ver o que ele tem a nos dizer sobre uma das passagens mais belas dos Evangelhos: o Sermão da Montanha, capítulo 5 do Evangelho de Mateus.

 “A primeira palavra do Sermão da Montanha constitui-se no principal obstáculo à compreensão das palavras de Jesus. Felizes, bem aventurados, repetem todos os tradutores de todas as línguas e dialetos de todos os séculos, exemplo típico de uma interpretação em uma única palavra supostamente conhecida num sentido diferente daquele que tinha originalmente. Porque Jesus não diz a palavra ‘makarioi'(grego), bem aventurados ou felizes, ele pronuncia a palavra ‘ashréi’. Mateus, imperturbavelmente fiel às traduções do judaísmo helenístico, traduz ‘ashréi’ por ‘makarioi’. ‘Ashréi’ repete-se 43 vezes na língua hebraica. Essa exclamação tem como radical ‘ashar’, que não evoca uma vaga felicidade, mas implica uma retidão (yashar) do homem marchando na estrada que leva ao Reino de Deus. Todos os dicionários do hebraico bíblico dão como primeiro sentido ao radical  ‘ashar’ o de marchar, ser feliz é um efeito secundário e tardio. O sentido fundamental de ‘ashar’ é andar. Jesus não tem a crueldade de declarar felizes a multidão de deserdados, de opositores condenados pelas legiões romanas, por qualquer coisa que digam ao suplício da cruz, ou, na melhor das hipóteses, à escravidão nas galés ou nos bordéis do Império. Não se chamam de felizes os homens enviados às torturas, aos massacres ou aos genocídios deste mundo. Jesus convida esses homens a se porem em marcha na direção do Reino de Deus, do qual ele lhes traz a esperança e lhes abre a porta, introduzindo em seus corações a exigência e a dinâmica da salvação universal. Sim, porque falar de bem aventurança ou felicidade na hora da partida equivale a se condenar à inação, a nunca se por a caminho do objetivo desejado – o Reino de Deus – o único lugar de toda felicidade e de todas as bem aventuranças do homem vivo e de pé, marchando na retidão do coração dedicado a Deus, à espera do Reino de Deus.”

Fica assim então a tradução de Chouraqui:

“Em marcha, humilhados do Espírito Santo!

Sim, deles é o reino dos céus!

Em marcha os enlutados!

Sim, eles serão reconfortados!

Em marcha os humildes!

Sim, eles herdarão a Terra!

Em marcha os famintos, e os sedentos por justiça!

Sim, eles serão saciados!

Em marcha os corações puros!

Sim, eles verão a Deus!

Em marcha os pacificadores!

Sim, eles serão chamados filhos de Deus!

Em marcha, os perseguidos por causa da justiça!

Sim, deles é o reino dos céus!

Em marcha, quando vos insultam e vos perseguem, e mentindo vos acusam de todo crime, por minha causa.

Regozijai-vos, exultai! Vossa recompensa é grande nos céus!

Assim também perseguiram os inspirados, os que vieram antes de vós.”

André Chouraqui, advogado e escritor

Para Jesus é desaconselhável que os pobres oprimidos e marginalizados, fiquem inativos sendo continuamente reprimidos numa espera beatífica de recompensas que só virão quando Deus aprouver ou exclusivamente no pós morte. Ele é, por assim dizer, o fundador de uma dinastia em que se incluem personalidades como Martin Luther King, Nelson Mandela e Ghandi, entre outros. O Evangelho não prega tão somente a não violência, mas também a desobediência civil contra todas as leis e comportamentos injustos perpetrados pela elite política, econômica e religiosa de sua época. Seu protagonista talvez fosse apenas preso ou assassinado e não crucificado se não vivesse em tempos mais bárbaros.

Lembro-me de uma música do saudoso Festival da Canção da extinta TV Tupi que poderia ser considerada uma descendente da milenar canção que Jesus entoou na montanha: “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, que consagrada pelo público, se tornou um verdadeiro hino da resistência contra os opressores da ditadura militar.

Jesus, como Vandré, nos incita à marcha “caminhando e cantando e seguindo a lição” do Evangelho, “aprendendo e ensinando” sua “nova lição”: o avento do Reino para aqueles que tem a certeza de que “esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Portanto, marchemos! Marchemos!

Foto: Rodrigo Castro
Marcello Escorel é ator e diretor de teatro há mais de 40 anos. Paralelamente a sua carreira artística estuda de maneira autodidata, desde a adolescência, mitologia, história das religiões e a psicologia analítica de Carl Gustav Jung

Ronda Maré de Notícias: Em mais uma semana, cidade do Rio segue com medidas restritivas

Prefeitura, no entanto, flexibiliza em alguns pontos e amplia o horário de funcionamento de restaurantes

Por Andressa Cabral Botelho, em 23/04/2021 às 19h45

Por mais uma semana, a Prefeitura prorrogou as medidas restritivas para reduzir circulação do vírus pela cidade. O decreto com as novas medidas vai de 24 de abril até 03 de maio e traz algumas alterações, como a ampliação do horário de funcionamento de algumas atividades.

Restaurantes, museus, cinemas, teatros, clubes esportivos, casas de festas e outros, poderão funcionar até as 22h. A partir desse horário, estabelecimentos deverão funcionar com a modalidade de drive-thru e delivery. Atividades essenciais podem funcionar sem horário definido, porém respeitando o limite de público – 40% em locais fechados e 60% em abertos -, além de garantir o distanciamento mínimo de 1,5 metro entre as pessoas e não permitir aglomerações em filas.

A permanência na rua entre 23h e 5h segue vetada, assim como a permanência e o comércio nas praias nos sábados, domingos e feriados. O funcionamento boates, a realização de shows, festas e rodas de samba, em áreas públicas e particulares seguem proibidos.

“É importante que os cariocas usem as áreas de lazer, com responsabilidade, para se exercitarem ao ar livre. Em relação aos bares e restaurantes, as fiscalizações continuarão a pleno vapor, portanto, não serão toleradas aglomerações”, explicou o secretário Pedro Paulo durante a coletiva de lançamento do 16º Boletim Epidemiológico.

Números da covid-19

As médias móveis de casos confirmados e de atendimentos de síndromes gripal e respiratória aguda grave (SRAG) nas unidades de urgência apresentaram queda e a média móvel de óbitos apresentou estabilidade, de acordo com o boletim da Prefeitura. Entretanto, nesta semana o estado do Rio bateu recorde na média móvel de mortes diárias por covid-19: 280 pessoas perderam as suas vidas em 24h no estado. Desde junho que o Rio de Janeiro não tinha números tão altos de morte como agora. Nesta sexta-feira (23), foram registrados 4.646 novos casos e 272 mortes, totalizando em 720.749 pessoas que testaram positivo e 42.634 que morreram.

A cidade do Rio, assim como a maioria do estado, está na bandeira vermelha, de risco alto para a covid-19. São 251.825 casos confirmados e 23.095 mortes na cidade, de acordo com o painel da Prefeitura.

As favelas ultrapassaram as 4 mil mortes, de acordo com o Painel Unificador Covid-19 Nas Favelas do Rio. Entre os casos, as favelas registraram 44.745 pessoas que tiveram covid-19. A Maré lidera em número de casos. De acordo com o boletim Conexão Saúde: De Olho na Covid, o conjunto de favelas tem até o momento 2.140 casos positivos testados pelo Dados do Bem. Nos últimos 14 dias houve um crescimento 3% no número de óbitos, que passou de 173 para 178.

Vacinação

Embora a vacinação já esteja em andamento em diversos países do mundo, o mundo bateu um novo recorde diário de novos casos, devido, principalmente, em relação à Índia, que entrou em colapso, com falta de leitos, oxigênio e remédios nos hospitais. O país asiático registrou nas últimas 24h 332 mil novos casos, sendo, agora, responsável por 37% dos casos do mundo. No mundo, foram 889 mil novos casos na quarta e 899 mil na quinta, segundo o Our World in Data. No mundo são 973 milhões de pessoas vacinadas até o momento, com mais de 35 milhões de doses no Brasil, o 5º país no total de doses aplicadas.

Nesta sexta-feira (23), dia de vacinação de homens com 60 anos, a cidade alcançou a marca de 90% de idosos vacinados. Aqueles que tem a partir de 60 anos e ainda não tomaram a primeira dose do imunizante, pode comparecer em qualquer unidade de saúde. Para os que já tomaram, é importante prestar atenção na data do cartão de vacinação para que possa tomar a segunda dose para que a imunização esteja completa.

Até o momento, 1,3 milhões de pessoas já foram vacinadas na cidade; destas, quase 395 mil pessoas receberam a segunda dose. Na Maré, 14.458 pessoas já receberam a primeira dose da vacina, mas somente 2.540 receberam a segunda dose.

Como resultado, as notificações de surtos de covid-19 em instituições de longa permanência, como asilos de idosos, chegou a zero até o momento, comprovando a eficácia da vacina contra a doença.

14° Festival de Música e Cultura de Rua de Bangu

Neste sábado, a partir das 18h será transmitida a 14ª edição do Festival de Música e Cultura de Rua de Bangu, com muita música, poesia, dança e performances locais. O festival foi gravado no Espaço Cultural Gastronômico Marcio Conde, ponto de cultura de Padre Miguel. Além das apresentações, o momento será de apoiar a Frente ZO Fome Zero, ajudando em arrecadação de alimentos não-perecíveis e distribuição de cestas básicas pela Zona Oeste do RJ. É possível assistir ao festival pelo Facebook e canal do YouTube.

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Segunda-feira (19)
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Sexta-feira (23)
Um guerreiro chamado Jorge, por Hélio Euclides. Leia mais.
Rio chega a 91% dos idosos vacinados para covid; primeira dose para esse grupo será concluída neste sábado, por Eduardo Pierre, G1 Rio. Leia mais.

Rio chega a 91% dos idosos vacinados para covid; primeira dose para esse grupo será concluída neste sábado

A partir de segunda-feira (26), município passa a imunizar pessoas com comorbidades abaixo de 60 anos. Secretário de Saúde afirma que fila de espera está quase zerada.

Por Eduardo Pierre, G1 Rio, em 23/04/2021 às 9h25

Até esta sexta-feira (23), o Município do Rio aplicou a primeira dose da vacina da Covid em 1.333.223 pessoas, chegando a 91,2% dos idosos cariocas e a 19,8% da população geral.

Os números foram apresentados no 16º boletim epidemiológico da Prefeitura do Rio, que também afrouxou algumas restrições — como a liberação das praias nos dias úteis.

Neste sábado (24), o Rio conclui a aplicação da primeira dose para quem tem 60 anos ou mais. A partir de agora, essa faixa etária não precisa mais esperar um dia específico para tomar o reforço — basta retornar a qualquer posto na data anotada na caderneta de vacinação.

Um guerreiro chamado Jorge

Santo é adotado pelo povo carioca como símbolo de luta

Por Hélio Euclides, em 23/04/2021 às 5h
Editado por Andressa Cabral Botelho

“Vou acender velas para São Jorge. A ele eu quero agradecer. E vou plantar comigo-ninguém-pode. Para que o mal não possa então vencer” Esse refrão da música Pra São Jorge, de composição de Pecê Ribeiro e cantada por Zeca Pagodinho, é uma das dezenas de canções feitas para o santo guerreiro. São milhares de pessoas que matam um dragão todo dia e, com fé, pedem para estar vestidos com as roupas e as armas de São Jorge.

Devido ao apelo popular, em 2001 a data virou feriado municipal carioca. Mas o dia do santo que derrubou até dragão só foi reconhecido como feriado estadual pela Lei nº 5.198, de 2008. Posteriormente, em 2019, com a Lei nº 8393, São Jorge e São Sebastião, os dois soldados guerreiros, foram oficializados como padroeiros do Estado do Rio de Janeiro. Apesar da comemoração ser apenas no dia 23 de abril, é crescente a fé no santo também ao longo do ano, com mais e mais adesivos em carros, estampadas em roupas e tatuagens são vistos pelas ruas da cidade. 

Hoje, existe no Rio um mercado próprio em torno do santo. As vendas acontecem ao longo do ano, mas ganha força no dia 23, principalmente nas redondezas das igrejas cujo santo é padroeiro. É possível encontrar de tudo: toalhas estampadas, camisetas, chapéus, quadros, todas tendo como base as cores vermelha e branca, além das medalhinhas, santinhos de papel e estatuetas. Tudo para reforçar a fé em São Jorge. Sem esquecer das comidas. Além da tradicional feijoada, é possível encontrar barracas vendendo doces, pasteis e churrasquinho.

O santo é tão popular que virou nome de novela, sendo invocado pelos devotos também como protetor dos animais domésticos. São Jorge é cantado por grandes nomes como Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, Seu Jorge, Maria Bethânia, Alceu Valença, Jorge Vercillo, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Alcione, e Racionais MC’s, entre outros. Músicas para todos os gostos, são inúmeras, como Pra São Jorge, Chuva de Cajus, Jorge da Capadócia, Medalha de São Jorge, Líder dos Templários, Espada do Dragão, Alma de Guerreiro, Lua de São Jorge, Ogum/Oração de São Jorge, De Lá, São Jorge Guerreiro, São Jorge, Cavaleiro de Aruanda, Guerreiro de Oxalá, Depois do Temporal, Domingo 23 e Cavaleiro do Cavalo Imaculado.

“São Jorge é o Santo de quem anda na noite , dos sambistas , dos guerreiros . É  o Santo que nos protege dos perigos. Este ano, assim como no ano passado, a festa de São Jorge terá que ser feita em casa, por causa da saúde, esperando uma melhora pro mundo. Vamos todos nos cuidar para que em breve possamos fazer um festão para São Jorge e para todos os santos do Rio de Janeiro e do Brasil”, destaca Zeca Pagodinho, que sempre reforça a sua fé em Jorge nas suas músicas.

Mas não é só o Rio de Janeiro que caiu nas graças do santo. O Corinthians adotou o santo porque, em 1926, inaugurou sua sede no Parque São Jorge, que fica no bairro do Tatuapé, em São Paulo. No Rio, a partir dos anos 1970, o santo passou a estar presente nos desfiles de carnaval. Não há uma pesquisa, mas o que se observa é que a cada ano aumenta o número de seguidores de Jorge. “Com o tempo observei que o santo guerreiro é reverenciado com diversidade. Acredito que o sincretismo que essa data representa é maior que tudo que podemos questionar”, avalia Inês Nogueira, professora que já atuou na Maré. Antes da pandemia, ela fazia a tradicional feijoada para amigos e familiares no dia do padroeiro. 

Uma festa regada a fé e feijoada 

Feijoada de São Jorge na quadra do Boca de Siri. Foto: Elisângela Leite

Assim como a professora, muitos realizam feijoadas em vários locais da cidade. Alexandre de Mello, mais conhecido como Dão, do Grupo Nova Raiz, relembra os festejos. Já fizeram duas edições, nos anos de 2018 e 2019. “Decidimos colocar o nome da nossa feijoada de Guerreiros do Samba em alusão a nossa guerra diária para manter o samba vivo dentro de nossa comunidade. Ano que vem vamos retornar com muita energia essa festa que virou tradição na Maré”, afirma.

Dão explica que o santo é invocado em tantas músicas pela proporção de número de devotos que tem. “Música é inspiração, tanto no momento em que se está deprimido, como em uma oração para se livrar dessa fase, ou quando estamos alegres, para agradecer. Ele é uma divindade que liga religiões, por meio do sincretismo. Ele se confunde entre Jorge e Ogum, na igreja ou no gongá, como diz a música Filhos de Jorge, de Juninho Thybau, Ronaldo Camargo e Jorjão. Quem é devoto consegue flutuar no meio de duas religiões”, diz. O músico percebe que a representatividade vem da população brasileira, que é guerreira. “É um povo que supera as guerras, como essa que estamos passando, não apenas a do vírus. Uma multidão que se apega à força do santo guerreiro para poder se manter de pé”, comenta.

Pelo segundo ano seguido, os fiéis vão precisar se manter em casa e ter fé no santo guerreiro para vencer mais essa demanda até a vacinação chegar a todos. A tradicional festa, que costuma atrair cerca de 1,5 milhões de pessoas em Quintino, na Zona Norte, e 150 mil pessoas no Centro, pode ser transferida para 23 de outubro. Entretanto, para que aconteça, a maioria da população precisa estar vacinada contra o coronavírus. Tanto a igreja de Quintino quanto a do Centro ficarão de portas fechadas para evitar aglomerações. 

Duas missas sem público estão programadas para acontecer às 10h e às 18h nesta sexta-feira e serão transmitidas pelo canal Rede Vida e pelas redes sociais da Igreja de São Jorge de Quintino. A igreja da Praça da República também fará três missas às 7h, 15h e 18h para celebrar a data. 

Igreja de São Jorge da Praça da República. Foto: Andressa Cabral Botelho

História de um guerreiro

Jorge nasceu no século III na Capadócia, região da atual Turquia, mas viveu na Palestina, onde foi capitão do exército romano. Ao enfrentar o imperador Diocleciano ao afirmar ser cristão, foi degolado. Depois de morto, tornou-se padroeiro de Portugal, além de outras diversas cidades, como: Londres, Genova, Moscou e Barcelona. Pelo século V, São Jorge era inscrito entre os maiores santos da Igreja Católica. Com a reforma do calendário litúrgico, realizada na década de 1960, a observância do dia de São Jorge tornou-se facultativa, por não haver documentação histórica, mas apenas relatos tradicionais. Ele foi rebaixado a santo menor, de terceira categoria. Por pressão popular, ocorreu a sua reabilitação como figura de primeira instância em 2000, quando a igreja conferiu nova relevância a São Jorge.

Para devotos, é mais uma das histórias que exaltam mais ainda a admiração pelo guerreiro. “Eu me identifico com São Jorge por ser um santo que teve a coragem de lutar contra o império romano, a favor dos cristãos e defender sua fé. Me impressiona a figura do dragão, entendo que representa o mal. Peço a intercessão dele nos combates do dia a dia”, comenta Vinícius Gama, morador da Vila do João. Ele sempre faz questão de participar de celebrações no dia destinado ao santo, como outros inúmeros cariocas.

Além do catolicismo, o dia 23 também é celebrado pelos umbandistas, que aqui no Rio São Jorge é sincretizado com Ogum. Essa aproximação pode ser historicamente reconhecida na Guerra do Paraguai, quando vários negros participantes do conflito professaram que a vitória na Batalha de Humaitá teria sido fruto da proteção do orixá. 

Ogum é o guerreiro, general destemido e estratégico, é aquele que veio para ser o vencedor das grandes batalhas, o desbravador que busca a evolução. Defensor dos desamparados, Ogum andava pelo mundo comprando a causa dos indefesos, sempre muito justo e benevolente. Ele era o ferreiro dos orixás, senhor das armas e dono das estradas. Irreverente, pois é um orixá valente, traz na espada tudo o que busca.

Esse orixá tem energia masculina, o que o faz buscar vibrações femininas na Lua. Essa relação tem influência da cultura africana. A tradição diz que as manchas apresentadas pela Lua representam o seu cavalo e sua espada, pronto para defender aqueles que buscam sua ajuda. 

A lenda do dragão

Há algumas versões sobre a lenda da morte do dragão. A mais conhecida retrata que às margens de um grande lago na Líbia escondia-se um enorme dragão que aterrorizava a população local. O dragão tinha o hálito venenoso que podia matar toda uma cidade. Uma princesa serviria de oferenda, para conter a fera. Ao passar pelo local e ver a jovem princesa chorando às margens do lago, Jorge subiu no seu cavalo e partiu para cima do dragão, que rosnava tão alto quanto o som de trovões. Mas Jorge não teve medo e enterrou sua lança na garganta do monstro, matando-o. Depois disso, São Jorge virou um símbolo de força e fé.

Jovens e adultos são os que mais devem temer à covid-19, segundo Fiocruz

Na Maré, assim como na cidade e estado do Rio, a maioria dos casos encontra-se na faixa de 20 a 59 anos; pessoas nessas faixas etárias ainda terão que esperar para serem vacinadas

Por Andressa Cabral Botelho, em 22/04/2021 às 19h15

Leandro Marques era um homem saudável, morador de Campo Grande, na Zona Oeste, e estava a três meses de completar 39 anos quando descobriu que estava com covid-19, em setembro do ano passado, quando o número de casos e mortes começava a diminuir. As notícias do seu estado de saúde chegavam pelo grupo da família, onde informaram das duas internações e pediram orações pela sua saúde, mas cerca de 15 dias após testar positivo, ele faleceu. Nos primeiros meses da pandemia, essa história poderia ser uma exceção. Hoje, parece ser uma regra. Dados recentes apontam para um crescimento vertiginoso dos casos entre os mais jovens, que são os últimos da fila da imunização.

Embora a covid-19 ainda apresente letalidade significativa para a população a partir dos 60 anos, as faixas etárias que apresentam os maiores números de casos pela doença compreendem pessoas de 30 a 59 anos. Na cidade do Rio, Leandro encaixava-se justamente na faixa etária que mais tem casos confirmados da doença: 50.275 pessoas entre as 248.600 tinham de 30 a 39 anos até a noite dessa quarta-feira (21). Juntando as três faixas, pessoas de 30 a 59 anos representam 56% dos casos na cidade, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Quanto à juventude, engana-se que por eles serem mais novos que correm menos riscos. Embora os casos sejam mais expressivos entre pessoas de 30 a 69 anos, até o momento a cidade registrou 29.769 casos e 219 mortes confirmadas, totalizando em 12% dos casos do Rio. E mesmo que o número de mortes de jovens seja bastante inferior se comparado a outras faixas etárias (6.001 pessoas entre 70 e 79 anos morreram – é a faixa etária que mais pessoas morreram), ainda é importante não se descuidar.

Entre janeiro e março, o número de mortes aumentou 419% na faixa etária dos 40 a 49 anos e 353% entre pessoas de 30 a 39 anos, segundo Boletim Observatório da Covid-19, da Fiocruz. Caso não haja medidas restritivas para tentar minimizar a circulação do vírus na cidade, como consequência desse aumento pode-se esperar o aumento da fila de leitos de UTI e a impossibilidade de se realizar transferências para outros municípios. O estado, como um todo, tem uma taxa de ocupação de leitos em 87,1%, mas há municípios, como Itaguaí, que tem 100% de ocupação dos leitos de covid-19.

Maré segue a regra da cidade

Assim como no Rio, moradores da Maré que tem de 30 a 59 anos devem ficar atentos aos números, tendo em vista que representam 45,9% da população, segundo o Censo Maré de 2019. Dos 2.140 casos positivos no bairro, 1.163 são de pessoas que estão na faixa etária mencionada. De acordo com dados do boletim Conexão Saúde – De Olho na Covid, pessoas entre 40 e 49 anos são as mais afetadas (22,3%), seguidas por aqueles na faixa etária entre 30 e 39 anos (17,5%), seguidos por quem está entre 50 e 59 anos (14,4%). Num total, as três faixas etárias representam 54,3% dos casos da Maré. Os mais jovens, na faixa de 20 a 29 anos (18,8% da população do conjunto de favelas), também são um número expressivo de casos: foram 310 testes positivos em pessoas dessa idade desde que o programa de testagens começou na Maré, em agosto.

Paulo Barros (33) ficou por meses isolado por medo e por não aparecer nenhum trabalho de audiovisual. Desde janeiro, ele tem saído algumas vezes para fazer alguns freelas fotografando ou filmando em áreas abertas e criou um hábito: dias após fazer os trabalhos, o fotógrafo agendava uma testagem pelo aplicativo da Dados do Bem. Em um desses testes, no final de março, descobriu que contraiu covid-19, porém estava assintomático. Avisou aos familiares – ele mora com a mãe de 59 anos e a avó de 92, que já recebeu a primeira dose da vacina AstraZeneca – e às pessoas com que teve contato durante o trabalho para que também fizessem o teste, mas todos deram negativo. Ficou cerca de 15 dias em quarentena e após esse tempo, fez um novo teste para saber se poderia voltas às atividades.

Ele é um entre as 250 pessoas que testaram positivo na Maré entre 23 de março e 05 de abril, período em que o bairro apresentou um crescimento nos números de novos casos. Neste intervalo de 15 dias, houve um aumento de 89% de casos em relação às duas primeiras semanas de março. No decorrer do mês passado, Paulo percebeu um movimento grande de pessoas nas ruas próximas à sua casa, na Baixa do Sapateiro. Em um mesmo dia, foram três festas com cerca de 30 pessoas cada.

Resultado do superferiado e vacinação

Acompanhando os últimos boletins Conexão Saúde: De Olho na Covid, é possível perceber desde fevereiro, um aumento de novos casos confirmados na Maré, chegando em um pico na semana de 23 de março a 05 de abril, registrando 250 novos casos. A última análise, que compreende dos dias 06 a 19 de abril, aponta para uma queda de 24% no registro de novos casos – foram 152 novos casos nos últimos 15 dias. A análise foi feita justamente nas duas semanas seguintes do superferiado da cidade do Rio, expondo que, pelo menos na Maré, houve uma diminuição da circulação do vírus, que se reflete na redução de números de novos casos.

Dessa forma, o ideal é seguir respeitando as medidas de restrição para que os casos possam reduzir gradativamente, assim como seguir com o uso da máscara e respeitando o distanciamento social sempre que possível enquanto a vacina não está acessível a todos.

A partir do dia 26 de abril, pessoas abaixo dos 60 anos que tem comorbidades começam a ser vacinadas. Entretanto, para muitos ainda há uma longa espera até a chegada da imunização. O site Quando vou ser vacinado? faz uma estimativa de quando as pessoas serão imunizadas, utilizando como base o calendário de vacinação do estado de cada pessoa. Para quem está próximo da terceira idade, mas não possui nenhuma comorbidade, o momento é de espera, já que a vacinação que começa nesta segunda-feira ainda não irá beneficiá-lo. De acordo com o site, uma pessoa de 56 anos receberá a primeira dose do imunizante daqui a quatro meses.

Já aqueles que estão de saída da juventude e entrando na vida adulta, aguardar a vacinação é praticamente uma gestação. Para quem completa 30 anos em 2021, a expectativa de ser imunizado é daqui a 10 meses. 

Operação policial na Maré impede retorno às aulas presenciais e entrega de cestas básicas

Por Redes da Maré, em 22/04/2021 às 16h54

Moradores das favelas Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Bento Ribeiro Dantas e Nova Maré relataram a presença de cinco carros blindados e dois helicópteros sobrevoando muito próximo as casas a partir das 6h30 da manhã desta quinta-feira (22/04). Os relatos afirmam que, com a proximidade do helicóptero, vidros das janelas e telhas de algumas casas foram danificados. Apesar de um dos helicópteros estar identificado como sendo da Polícia Militar, a assessoria de comunicação da PM negou qualquer tipo de ação na região.

Já a Polícia Civil informou à Redes da Maré que policiais civis da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme), em conjunto com a Subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil (SSINTE) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) realizaram operação policial com objetivo de desarticular a facção que atua na região.

Após cerca de um ano da suspensão das aulas presenciais por conta das medidas de isolamento social impostas pela pandemia de Covid-19, o município do Rio de Janeiro noticiou a abertura das escolas de ensino fundamental para os dias 21 e 22 de abril. No entanto, as crianças da Maré não tiveram a oportunidade de retornar às aulas por conta de uma operação da Polícia Civil realizada na data de hoje, que atingiu pelo menos quatro favelas e impediu o funcionamento de 46 escolas entre ensino fundamental e Espaço de Desenvolvimento Infantil.

O projeto “Maré de Direitos” coletou depoimentos de moradores sobre diversos tipos de violações de direitos, como invasão à domicílio e dano ao patrimônio. Uma moradora da região relatou à equipe que policiais escalaram sua parede e entraram pela janela do quarto, ela estava nua na cama com seu namorado. Carros e motos que estavam na rua tiveram vidros quebrados e pneus furados. Um morador denunciou ainda que seu carro foi totalmente danificado pela passagem de um blindado na Baixa do Sapateiro.

A Polícia Civil informou que três pessoas morreram em confronto. Segundo relato dos moradores, uma das vítimas teria sido esfaqueada por um policial e o corpo foi retirado pela defesa civil. Até o fechamento desta matéria não tivemos notícia da realização de perícia no local para apurar o homicídio. Os outros dois mortos também não foram identificados. A Polícia Civil também informou que Rubens Ricardo da Silva, conhecido como “Rubinho do Aço”, foi preso na ação.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a SMS, devido à instabilidade na região da Maré, as unidades de saúde acionaram o protocolo de acesso mais seguro e, para segurança de usuários e profissionais, não abriram nesta manhã. A Coordenadoria Geral de Atenção Primária (CAP) afirmou que, até o dia 19/04, 14.458 pessoas foram vacinadas contra Covid-19 nas unidades de saúde da Maré. Por conta da operação policial desta quinta-feira, cerca de 200 pessoas deixaram de ser vacinadas.

É importante destacar que a proibição das operações policiais em favelas do Rio de Janeiro no período de pandemia decretada pelo ministro do STF em junho de 2020, tem como principal fundamento não causar impactos mais negativos do que os já trazidos pelo cenário imposto pela Covid-19. A decisão do ministro permite operações somente em “hipóteses absolutamente excepcionais”, no entanto, a polícia civil não soube informar qual a excepcionalidade que justifica a realização de uma operação policial que impactou na suspensão de mais um dia de aula e da vacinação na Maré.

Ressaltamos que, com a operação, a entrega das cestas básicas da campanha Maré Diz Não Ao Coronavírus, organizada pela Redes da Maré, não pôde ser realizada nas favelas onde houve operação.